Nos limites da epistemologia analítica

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dizer, são mais achatados, ou menores, etc., do que ele os vê. A visão que o homem com deficiência visual tem do mundo pode, assim. ser corrigida ou melhorada através do testemunho daqueles que vêem o mundo sem qualquer distorção. Além disso. ele pode usar algum tipo de óculos especiais ou lentes de contato para compensar suas ürnitações. Suponhamos agora que uma deficiência como essa atingisse para todos os demais órgãos dos sentidos. Do mesmo modo. suponhamos que todos sofrêssemos de dessa defióência sensorial generalizada. Nesse caso. não haveria ninguém a quem pudéssemos recorrer, ninguém que pudesse captar o mundo de modo claro e genuíno (ou nãodistorcido) e, 1pso facto. não haveria nenhuma maneira de corrigir nossas experiências visuais defomtadas dos objetos e>.1:ernos. Num discurso mais filosófico, essa deficiência coletiva pode ser equiparada às nossas capacidades cogmtivas, isto é. às nossas condições sensíveis e conceituais unicamente através das qua1s adquirimos conhecimento dos objetos. Nesse caso, estaríamos falando de dois mundos: um que se constrange aos nossos recursos cognitivos; c um outro. como que escondido atrás do primeiro, completamente à parte do nosso ponto de vista. O objeto externo. então. não seria essa impressora que agora vejo - porque ela está dentro de meu campo visual distorcido-. mas algo que só pode ser descrito a partir de seu próprio ponto de vista. isto é. a partir de um ponto de vista no qual o objeto é observado como ele realmente é sem nossas limitações. Em suma. o objeto externo seria a co1sa em si mesma, isto é, a coisa tal como ela seria vista ou percebida para além de nossas condJções sensíveis e intelectuais de experiência. Tomemos como exemplo esta mesa diante de mim. Vamos abstrair de suas três dimensões, sua permanência em diferentes momentos de tempo, sua cor, sua impenetrabilidade, etc. O que sobra é apenas um "algo" cujas propriedades são completamente independentes da mente, mas à qual a mente deve chegar de algum modo a fun de adquirir conhecimento dos objetos "reais''. A doutnna segundo a qual a realidade tem um caráter que é completamente independente de nosso aparato cognitivo é o princípio basilar do que se convencionou chanmr de realismo metafisu:o. Entendido nesse sentido, o proJeto realista metafistco em dueção ao conhecimento


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