NEBletter Dezembro 2023

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NEBLETTER

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GRANDE ENTREVISTA Diogo Velez, Henrique Alves e Maria Paixão Editado por Hugo Ramalho

João Canário Nesta edição da NEBletter, damos-te a conhecer João Canário, professor e investigador do Instituto Superior Técnico. Lê e descobre mais sobre as suas expedições ao Ártico e Antártida! o doutoramento fui para o Canadá, onde vivi 2 anos e fiz o Pós-doc no Environment Canada em Montreal, que atualmente se chama Environment and Climate Change Canada. O que o levou a perseguir o ramo da pesquisa científica? Como referi, sempre gostei de química, e não deixei de gostar durante o curso, mas achei que uma vida de químico clássico, que é estar num laboratório, seria um pouco aborrecido, não me estava a ver no futuro a passar semanas e dias inteiros num laboratório a fazer aquilo a que eu chamo a “química do copo”. Comecei a ter algum interesse na área do ambiente no meu último ano, porque tive uma cadeira de Química Ambiental, que dava a possibilidade de trabalhar no campo. Descobri posteriormente, como referi anteriormente, o mestrado de Química Marinha que me fez enveredar totalmente pela investigação. Quais são os atributos que acredita que um aluno do Técnico deve ter?

Antes de mais, apresente-se rapidamente aos nossos leitores. Eu sou o João Canário, sou investigador e professor no Instituto Superior Técnico, estou ligado em termos de investigação ao Centro de Química Estrutural e em termos de ensino ao Departamento de Engenharia Química. Pode descrever-nos o seu percurso académico? Quando acabei o décimo segundo ano queria seguir química, mas não engenharia. Tirei, por isso, a licenciatura em Química Tecnológica na Faculdade de Ciências, quando ainda era o antigo curso de 5 anos. Depois, fiz o mestrado em Química Marinha, até porque já fazia mergulho. Gostava muito de coisas relacionadas com o mar, pelo que continuei a desenvolver trabalho nessa área e fiz o doutoramento em Ciências do Ambiente, Química Ambiental. Quando acabei 2

Dado que já são bons alunos de origem, diria que os atributos mais relevantes são a capacidade de organização e trabalho, e a resiliência à adversidade. Com a sua vasta experiência neste ramo, que qualidades acredita serem mais importantes para um bom investigador? Em primeiro lugar é saber fazer as perguntas certas, saber questionar, não dar nada como adquirido. Uma resposta que é verdadeira hoje daqui a um ano pode já não ser. No entanto, obviamente, não se deve viver uma vida inteira com o sufoco de achar que nunca se chegou ao fim de coisa nenhuma, mas é importante ter sempre a mente aberta, que aquilo que realmente assumimos como sendo verdadeiro até pode, em certas condições, não ser. Depois é preciso gostar, claro. Mas sobretudo saber formular hipóteses, arranjar uma forma experimental de ver como é que o determinado sistema se comporta e chegar a uma conclusão.


da Genética, da Biologia Molecular, para tentar perceber que microrganismos degradam a matéria orgânica, e com colegas da Geografia, em particular de Sistemas de Informação Geográfica, de forma a utilizar dados de deteção remota, drones, satélites, etc. para nos ajudar na investigação. Por exemplo, uma das coisas que nós estamos interessados são os lagos resultantes da degradação do solo gelado, e no Canadá há milhares destes. É impossível amostrá-los todos, então o que os satélites fazem é agrupar os lagos por características semelhantes, clusters, e depois vemos do ponto de vista químico se realmente são semelhantes. Na Antártida começámos outra linha de trabalho com uns colegas espanhóis relacionada com o impacto das bases científicas no ambiente.

Pode elaborar um pouco sobre o conteúdo da sua pesquisa? Quais os temas que normalmente são abordados na pesquisa que faz? Eu comecei pelo mar, como estava a dizer, mas depois o Canadá mudou-me os horizontes. Tive um convite para ir para o Ártico e fui. Há bocado quando eu disse que o Canadá mudou radicalmente a minha vida profissional é verdade, foi naquela ida ao Ártico que decidi que era aquilo que queria fazer, e que tenho feito até hoje. Na altura, estava a discutir-se qual era a forma como os contaminantes chegavam ao Ártico, como é que eles se comportavam no Ártico, e por aí fora. Então começámos a estudar um sistema natural que é o permafrost, que é solo que pode ter estado gelado por milhares de anos, desde a última grande glaciação, e agora com o aumento da temperatura global, e consequente aumento da temperatura do solo, tudo o que estava gelado começa a descongelar. Desta forma, todo o material que compõe o solo e que estava “inerte” começa a estar disponível para circular no meio ambiente. No Ártico, estamos mais concretamente a trabalhar na matéria orgânica do solo que, ao contrário da Antártida, é muito rico em matéria orgânica de origem vegetal. Quando os microrganismos começam a degradar este solo libertam-se gases de efeito estufa. Isto é um dos aspetos, outros aspetos têm a ver com contaminantes, nomeadamente o mercúrio, porque se sabe que o permafrost no Ártico é um dos grandes reservatórios de mercúrio. Mais recentemente, temos vindo a trabalhar com colegas na área da Microbiologia,

Como disse, já fez parte de expedições ao Ártico e à Antártida, como é que apareceu o interesse pelas regiões polares? Como eu disse foi um bocado o Canadá. Eu sempre trabalhei na poluição por mercúrio, muito aqui no Tejo e na zona costeira, e um dos aspetos do ciclo do mercúrio no ambiente é o transporte atmosférico. E não havia, e ainda não há, em Portugal, alguém que estudasse mercúrio atmosférico. E então eu conheci um investigador numa conferência, um canadiano, um dos maiores experts em mercúrio atmosférico, e disse que gostava de fazer pós-doc com ele. Ele aceitou, consegui uma bolsa e fui. Houve uma expedição em que um colega que estava a fazer doutoramento teve de regressar a Montreal porque apanhou um frostbite, uma queimadura de frio na cara. Foi um drama e ele desistiu do doutoramento. E o meu orientador disse "João, queres ir?" e eu disse "Claro". E adorei. Adorei aquele ambiente gelado, o contacto com 3


as pessoas, o tema em si, o solo gelado… foi fantástico. Depois saí do IPMA para o Técnico em 2013 e dediquei-me totalmente a esta área.

e que começam a aparecer no Ártico. E houve algo que aprendemos no ano passado e me deixou pasmado. Nós trabalhamos numa zona de floresta densa, que nós chamamos de floresta boreal. Sempre que lá fui era sempre a mesma coisa, sempre floresta, mesmo densa. E o ano passado ao falar nisso, o guia, que é uma pessoa da comunidade, disse-nos "Vocês falam das árvores, mas há uma geração atrás não havia nem uma árvore!”. Estamos a falar de que há 30, 40 anos aquilo era tundra, sem nenhuma árvore, e numa geração formou-se uma floresta. E isto é um dos sinais que nós vemos que o solo está a degradar-se. Porque reparem, nós temos o solo gelado e depois temos uma camada em cima de solo que está em contacto com a atmosfera e quando chega o verão derrete e fica solo normal. Esta camada é aquilo que nós chamamos de camada ativa. Por que é que aqui na Gronelândia não há árvores? Porque a camada ativa que congela e descongela é muito pequena e, como é muito pequena, é muito pouco profunda e não tem sustentabilidade para as raízes. O que vai acontecer é que quando o solo gelado começa a degradar, esta camada ativa aumenta e já é capaz de criar raízes que podem sustentar árvores. Isto são sinais demasiado evidentes… os céticos deviam ir lá um dia para ver.

A sua expedição mais recente ao Ártico teve o intuito de estudar os efeitos do aquecimento global. Quais são os seus pensamentos sobre a crise climática e acha que a humanidade conseguirá revertê-la? A primeira vez que fomos à Gronelândia foi este ano, mas ao sub-Ártico canadiano já vamos desde 2008 e é incrível vermos como muda de ano para ano. Vemos zonas que num ano eram solo e no outro já são lagos… O solo abate e degrada-se. Muitas vezes ouvimos dizer que o gelo se forma cada vez mais tarde e desaparece cada vez mais cedo. Eu lembro-me da primeira vez que fui para um dos sítios onde nós trabalhámos no final de Abril e havia muito gelo. O rio que passa ao pé e o mar em frente estavam congelados. E não sei se foi em 2020 ou 2019, mas o rio em fevereiro já estava a descongelar. Isto são alterações que nós vemos. Depois, uma das coisas que eu gosto muito do Ártico é que temos a possibilidade de falar com as pessoas que lá vivem. E as pessoas que vivem lá têm uma vivência daquilo que se passa todos os dias. Eles são caçadores e pescadores e dizem que as rotas migratórias dos animais que caçam já não são as mesmas. Eles já não sabem para onde é que hão de ir para a caça. Vêm espécies novas a aparecer, espécies que são características de latitudes mais baixas 4

Toda a gente sabe que isto tem a ver com a emissão de gases com efeito de estufa e aquilo que é mais comum é dizermos que se isto tem a ver com a emissão de GEE, o que temos que fazer é reduzir as emissões, fazer a descarbonização, etc. Qual é


o grande problema? O grande problema é que mesmo que se hoje decidíssemos parar a emissão de GEE por completo as coisas não mudariam nem amanhã, nem para a semana, nem para o ano. A Terra teria que se adaptar e levaria décadas até o planeta se readaptar, e mesmo assim não há garantias que ficaria como está agora. O futuro que eu prevejo para resolver este problema passa pela redução das emissões, mas essa redução nunca poderá ser feita em tempo útil. Uma dos aspectos que se que se começa a falar agora é soluções de geoengenharia, processos criados por nós que possam atuar num sistema climático de forma a reduzir os seus efeitos, por exemplo, a redução de carbono pode ser feita de outra forma: não sei se foi no Norte da Europa ou no Sul da América do Sul que adicionaram ferro ao oceano, a chamada fertilização com ferro, porque o ferro é o reagente limitante para a produção primária, para criar fitoplâncton e esse fitoplâncton acumulou carbono da atmosfera. Teoricamente, se deitarmos muito ferro para o oceano irá formar-se mais fitoplâncton, que vai absorver mais dióxido de carbono, que vai morrer e depositar-se no fundo dos oceanos, que fica então como reservatório de carbono que antes não existia. Tal foi feito e resultou, mas não se sabe quais os efeitos e impactos que isto tem. Isto é um exemplo de solução de geoengenharia. Outro exemplo seria colocar aerossóis na alta atmosfera que consigam refletir a luz solar, que em vez de chegar à atmosfera terrestre era refletida, quase como uma espécie de espelhos que refletisse a luz de volta para o espaço.

colegas de engenharia, e não só de Biológica, acham esta área interessante, mas tirando os de Ambiente que não têm este problema, acham que não têm formação para ter um futuro nesta área, o que não é verdade. Este ano levei pela primeira vez um aluno de Engenharia Biológica ao Ártico. Foi fazer a tese pela vertente da Microbiologia e Microbiomas. Tenho ainda uma outra aluna, do Minor em Ambientes Extremos, que quer fazer uma tese relacionada com as Regiões Polares e soubemos recentemente que vamos ter dinheiro para no próximo ano levar mais dois alunos de mestrado, não necessariamente de um curso específico. E para além de tudo isto, sigam os vossos sonhos. Parece aquela conversa típica de pai, “don’t do drugs and stay in school”, mas na verdade o que quero dizer é que se isto tiver de dar uma volta, terá de ser a vossa geração. Eu costumo sempre dizer aos alunos que uma coisa é falar das coisas, mas outra é ver com os próprios olhos o que está a acontecer. Por exemplo, saber os motivos pelos quais está a haver degradação do permafrost e que os lagos libertam metano e dióxido de carbono e até provar as equações que explicam essas reações é uma coisa, mas ir ao Ártico é totalmente diferente de fazer um buraco no gelo, atirar para lá um fósforo e ver “o lago a arder”.

Passando para algo não tão sério: prefere o gelo do Ártico ou da Antártida? Teoricamente são ambos o mesmo, água gelada. Mas prefiro ir ao Ártico, apesar de não ter explicação lógica para isso. Há, no entanto, uma coisa que fazemos muito com o gelo da Antártida que não podemos fazer com o do Ártico, que é mais sujo pela maior quantidade de matéria orgânica: apanhar icebergs pequeninos, de gelo azul, partir aos bocadinhos e fazer cocktails com esse gelo. Podem achar que é a mesma coisa, mas é algo completamente diferente. Então, para bebidas, posso dizer que prefiro o gelo da Antártida. Para terminar: que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores, estudantes universitários? Uma coisa que posso dizer, como já referi anteriormente, é que não tomem tudo como certo, tenham sempre a capacidade de duvidar e questionar, saber fazer as perguntas certas e não assumir uma resposta como final, porque uma resposta final hoje pode já não o ser amanhã. Nós falamos na geoengenharia e muitos dos vossos

A foto que estão a ver acima foi tirada na Gronelândia, um lago extremamente recente, com meia dúzia de anos e que tem várias zonas a abater. Na realidade, eram dois lagos que agora se estão a juntar por conta disso. Nós entramos dentro do lago e com uns passos sentimos o fundo como se fosse cimento, o solo gelado que ainda existe muito a norte. Sempre que posso faço questão de levar alunos tanto ao Ártico quanto à Antártida para verem aquilo de que falamos. Fazer uma manifestação com conhecimento de causa de ter visto realmente as coisas a acontecer é diferente e é isso que tento fazer sempre. 5


HUMANS OF NEB Gonçalo Ribeiro e Diana Ramos

Editado por Gonçalo Ribeiro e Diogo Velez

Clara Rodrigues Para esta edição da NEBletter, damos-te a conhecer Clara Rodrigues, aluna de mestrado e ExPresidente da Comissão de Praxe, que nos contou um pouco sobre si. Desde um primeiro ano atribulado até agora ao quarto ano já passaste por muito neste curso. Como tem sido esta jornada? E o que vês daqui para a frente? Eu era uma caloira que entrou com imensa vontade de estar na faculdade, então tive a necessidade de participar em tudo o que me aparecia à frente, pois era a única maneira que tínhamos de conhecer pessoas. Entrámos a meio da pandemia, então raramente tínhamos aulas presenciais. Conseguimos ultrapassar isto graças aos Núcleos, Clubes e principalmente à Praxe, porque a Praxe era o momento em que conseguíamos darmo-nos a conhecer. Isto mantinha-nos um pouco sãos no meio do Técnico, onde acabava por ser muita responsabilidade com falta de diversão. Desde o segundo ano que isto melhorou bastante, mas acho que o meu futuro continua a ser incerto. Praxe online é inimaginável, mas foi algo que viveste enquanto caloira. Como foi e o que te atraiu mais? Quando entrei já sabia que queria ir à Praxe. A ideia de estar à frente do computador a falar com desconhecidos que querem gritar contigo não é muito atrativa, mas pensei que alguém estava a tentar que nos conhecêssemos, e lá fui eu. Muita gente desistiu porque éramos muitos na apresentação e acabava por ser aborrecido, já que só estávamos ali a ouvir o que cada um tinha para dizer. Depois eram feitas salas Zoom para cada equipa com jogos e, como não era algo

tão físico, os doutores preocupavam-se com que nos aproximássemos. Pode não parecer muito interessante, mas na altura era espetacular, especialmente quando era à noite: quando acabava a atividade, os doutores deixavam-nos ficar na sala. Era aí que eles se começavam a destrajar, e nós ouvíamos factos sobre o Técnico e as fofoquices todas, podíamos falar com eles sem o “Excelentíssimo Digníssimo Doutor” e isso, no fundo, fez com que acabássemos por ficar mais próximos deles do que dos restantes caloiros. Pode ser estranho, mas é a nossa realidade. Depois desse ano, entraste na Comissão de Praxe e, no ano passado, foste até Presidente. Como foi essa experiência e o que tiraste dela? Entrei na Comissão de Praxe porque não queria deixar de ter Praxe, já que era a minha parte preferida da faculdade. Foi por isso que eu, a Inês, o Afonso, o Francisco e a Matilde fomos para Caloiros da CP. Nesse ano aprendi, de facto, a praxar, e foi muito giro e intenso para alguém que não fazia ideia o que era a Praxe de Biológica real, mas era difícil andar a correr por todo o lado a tentar conciliar aulas com a Praxe. Mesmo assim, adorava a experiência e nós os cinco acabámos por ficar super próximos, e levou-me a continuar no ano seguinte como Presidente. É um sentimento muito diferente fazer parte da Direção da CP: passa-se o verão inteiro a idealizar as atividades do próximo ano, os mecanismos para cativar os caloiros, novas atividades e colaborações… e isso dá imenso trabalho! Estamos sempre a pensar “O que há a seguir?”, “O que falta combinar?” ou “Jantar de Curso? Onde? Quando?”. É gerir várias pessoas, dentro e fora do curso, tudo ao mesmo tempo. No entanto, vale a pena, e no final os caloiros agradeciam-nos imenso pelo esforço ao perceberem que nós não tínhamos tido a Praxe que lhes estávamos a dar. Também fizeste parte do NEB ao longo destes anos. Como foi o teu percurso? Comecei no meu primeiro ano como colaboradora do Departamento de Comunicação. Se sabia para onde ia? Não. Mas pareceu-me um Departamento dinâmico e na altura eu só queria conhecer pessoas e não tinha oportunidade

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técnicas, como pastel seco, carvão, pastel de óleo, aguarelas, tinta a óleo, tinta acrílica, gravuras em metal e tudo o que me aparecia à frente. Ainda hoje gosto disto, é algo que não quero perder e gostava de conseguir conciliar um pouco a arte com ciências. Também quero dar um pouco de incentivo às pessoas para continuarem a tentar conciliar o vosso hobby e não os deixarem morrer. Para terminar, o que gostarias de dizer aos nossos leitores? para isso. Acabei por me sair bem e fiquei como coordenadora e vogal da Direção no ano seguinte. Já no ano passado, fui 2ª Secretária da Mesa da Assembleia Geral (ou “banco dos reformados”, como eu lhe gosto de chamar [risos]), e hoje sou Presidente deste órgão. Acho super importante termos este Núcleo, e tem sido um pouco desvalorizado nestes últimos 2 anos por muita gente. Faço então um apelo a quem está sempre a descartar o NEB, porque toda a gente sabe o quão bom é termos aquele repositório, termos atividades, não há Summer Internships sem o NEB, as formações podem não vos parecer úteis agora, mas no próximo ano pode haver uma que seja. Tenho imenso orgulho em fazer parte disto e não quero sair! Já viajaste bastante! Qual foi o teu melhor destino e onde gostarias de ir a seguir? Para mim, a viagem mais marcante que fiz foi ao Vietname. A cultura é incrível, tem animais diferentes, todos os tipos de frutas exóticas que dão gosto só de ver, tem imensos templos e pagodas e as pessoas lá são super amigáveis. Acho que gostei muito dessa viagem porque consegui falar com alguns vietnamitas e estar um pouco inserida. Já na Europa, andei um pouco por todo o lado, mas acho que a viagem que mais gostei foi a Praga, porque é uma cidade super dinâmica e jovem! Também adorei porque foi a minha viagem de finalistas, então fui num espírito de me divertir e apanhei mais da parte noturna, a qual achei ótima e barata. Para o futuro, a minha viagem de sonho é mesmo ir ao Japão, e gostava de a fazer talvez no final do mestrado, se tiver disponibilidade para isso. É uma cultura muito diferente da do Vietname, apesar de serem ambos na Ásia.

Estou no quarto ano e já me sinto um pouco velha [risos]. Gostava de transmitir que estes anos passam muito rápido e muitas vezes nós deixamo-nos ser um pouco dominados pelo medo que temos de não conseguir cumprir os nossos objetivos, quer sejam de estudos, quer sejam mais pessoais, quer seja um workshop que até querias ter ido, aquele dia de Praxe que querias ter ido para conhecer mais pessoas, mas não foste porque tinhas aquela pressão de estar a par de toda a matéria quando se calhar não valeu a pena. Com isto eu queria só reforçar que não podemos deixar que o medo nos faça perder experiências na nossa vida porque é importante tê-las. Há aquela frase que diz “Temos de conhecer os nossos limites”… ok, é verdade, mas muitas vezes nós não podemos conhecê-los se não os testarmos. Acho que a faculdade serve para isso, é um percurso de aprendizagem para nos conhecermos e descobrir quais são as nossas limitações, forças e tentar melhorar ao máximo. Portanto, experiência não tem preço!

Sabemos que é raro, mas às vezes até temos tempos livres. O que fazes para ocupá-los? Os meus tempos livres são ocupados com faculdade [risos]. Mas fora o tempo que dedico à Praxe e ao NEB e etc, tenho uma variedade de hobbies muito estranha, mas o meu preferido é pintar e desenhar. Isto veio um pouco da minha escola, que era muito ligada às artes. Assim, tive a oportunidade de experimentar imensas 7


Alice Coimbra Para esta edição também entrevistámos a Alice Coimbra, aluna do 1º ano de mestrado em Engenharia Biológica, ávida praticante de surf e antiga delegada do 3ª ano de licenciatura. Começaste agora o mestrado em Engenharia Biológica, mas ainda ponderaste muito sobre mudar. Por que é que acabaste por decidir ficar em Biológica? Bem, eu sempre fui um bocado indecisa, desde a decisão de ter ido para Ciências no secundário, até esta decisão de ter ficado no mestrado, foram todas decisões muito complicadas. Eu não sabia muito bem o que queria fazer, mesmo quando vim para Biológica, na licenciatura, não sabia se era o curso certo, vim também pela mesma razão que muitas pessoas vêm, que é gostar de matemática e biologia. Então vim para Biológica, e não é que não tenha correspondido às minhas expectativas, porque eu não tinha expectativas, mas na altura ainda pensei que se calhar haveria algum outro curso que eu gostasse mais, mas não encontrei nada e então decidi ficar.

haver uma opção de que toda a gente goste e nós temos de ir pela maioria. Por outro lado, também há pessoas que não podem mesmo numa determinada ocasião, então tem de se acomodar muitas coisas, e as pessoas depois ficam chateadas comigo e, para mim, foi um bocado difícil lidar com isso. Mas pronto, eu estava a fazer o melhor que podia e a tentar chatear o menor número de pessoas. Outra coisa é que o trabalho tende a concentrar-se mais por volta da época de exames, ou em alturas em que estás menos disponível, e isso às vezes é um bocado chato porque estás a tentar estudar para os exames, mas depois também tens outras coisas para lidar. Mas, dito isto, acho que gostei da experiência, foi interessante, também interages mais com os professores. Ah, e és sempre a primeira pessoa a saber de tudo, e isso é bom. É certo que não são segredos, eventualmente há de se saber, mas é bom estar logo informada. Sempre estiveste em zigzag entre o Luxemburgo e Portugal. Queres-nos contar mais sobre isto? Sim, os meus pais são portugueses, nasceram cá e sempre viveram cá, mas a certa altura decidiram ir trabalhar para o estrangeiro e acabaram por ficar no Luxemburgo. Eu nasci lá e vivi sempre lá até aos 18 anos, ou seja, até ter vindo para a faculdade. Mas eu vinha sempre cá nas férias, temos casa cá, portanto sim, eu sempre disse que era portuguesa, apesar de viver no Luxemburgo. Praticas imenso surf e tiraste até um curso de instrutora. O que é que te cativa tanto neste desporto e como foi a tua experiência como instrutora?

No ano passado, foste delegada do terceiro ano de licenciatura. O que foi mais desafiante e o que é que gostaste mais? Acho que o mais difícil é mesmo ter de lidar com pessoas que são pouco tolerantes, ou que querem as coisas muito à sua maneira. Nunca vai 8

Como eu já tinha dito, nós vínhamos cá sempre nas férias de verão e passávamos muito tempo na praia. Desde pequeninos que os meus pais nos puseram a mim e ao meu irmão no bodyboard para nós descarregarmos energias. Passados uns anos decidi experimentar surf e gostei muito. Quando vim, sabia que era uma coisa que queria fazer regularmente e comecei a ter treinos mais a sério durante a semana numa escola de surf. Há dois anos já estava num ponto em que as aulas que eles podiam oferecer já não eram muito interessantes para mim e eles estavam a precisar de treinadores, então diziam-me que eu devia ir tirar o curso para os ir lá ajudar. Desde então, dei dois verões de aulas e é uma coisa


que eu gostei imenso. É mesmo giro ver quando conseguem fazer alguma coisa pela primeira vez, eu lembro-me de sentir isso também. Quer seja com miúdos ou com adultos, tenham eles mais ou menos habilidades, ficam com um sorriso na cara com as pequenas conquistas.

Para terminar, caloiros?

que

conselhos

darias

aos

Não se concentrem só no Técnico. Sim, o Técnico é difícil. Sim, têm de estudar. Mas não é tão difícil, conseguem ter coisas para além do Técnico, aliás, devem ter coisas para além do Técnico. Quer seja fazer um desporto ou estar num clube qualquer, o que quiserem. Mas tem que se arranjar alguma coisa porque às vezes só estamos fartos do Técnico e estarmos a fazer outra coisa que nos liberta um bocado, que nos deixe um bocadinho mais relaxados, porque senão vocês vão entrar em transe. Organizem-se que dá tempo para tudo. E façam o que gostem, se gostam de ir aos churrascos, vão aos churrascos, se não gostam não vão, não têm que ir. Se gostam da Praxe, vão à Praxe, se não gostam não têm que ir. Façam o que quiserem, ninguém vos vai julgar por estarem a fazer isto ou aquilo.

E também é giro ver as outras pessoas a cair… Sim, já é giro quando tu próprio cais, mas quando vês as outras pessoas a mandar uma espeta é muito engraçado. As crianças normalmente têm mais facilidade porque têm mais mobilidade, a maior parte dos adultos são muito desajeitados mas os dois são engraçados [risos]. No próximo semestre vais de Erasmus para a Dinamarca. O que é que te deixa mais entusiasmada? Desde que vim para o Técnico comecei logo a pesquisar que acordos havia com outras faculdades. Desde sempre quis ir para outro país pelo menos durante um semestre, gosto de experimentar coisas novas. Eu já estou meio deslocada, ou seja, não estou a viver com os meus pais então já tive um pouco essa experiência, mas noutro país é diferente, não falam a mesma língua, não conheço quase ninguém... Acho que é um desafio, mas vai ser interessante e uma boa experiência de vida. Escolhi a Dinamarca principalmente porque vi que tem uma boa faculdade e também porque oferecem muitas cadeiras de áreas diferentes que me interessam.

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E agora?

Diogo Velez, Henrique Alves e Maria Paixão Editado por Henrique Alves

Acabou o curso! Finalmente! E agora? Descobre o que três recém mestrados de Engenharia Biológica têm para contar acerca do seu percurso e dos planos que têm para o futuro. João “Rocky” Batista Sou o João, Rocky como muitos me conhecem, sou de Santarém, onde cresci e desenvolvi um forte amor por pampilhos e xadrez, este segundo nada a ver com Santarém. Vim para a faculdade, sofrer com este grande grupo de alunos, colegas e amigos. Aprendi imenso, tanto sobre engenharia como sobre a minha pessoa. Tentei envolver-me o mais possível na Praxe, desde o primeiro ao “sexto” ano, tendo conhecido muitos de vocês neste processo de integração. Sem estes momentos sei que a minha vida no Técnico seria tremendamente diferente. A NEBletter, para a qual escrevo, foi também uma grande parte do meu percurso. O meu querido Kiko, as muitas peças que escrevi ao longo dos anos, as edições atrás de edições e as reuniões longas e deambulantes, todas estas memórias ganham relevância com o tempo que passa. A coordenação deste departamento, juntamente com as fantásticas Diana e Leonor, e as reuniões longas e hilariantes cheias de partilha e disparates, são algo que valorizo imenso. Erasmus na Bélgica mantém-se um forte arrependimento, apesar das muitas coisas interessantes que aprendi (até cadeiras de economia, por exemplo) e das experiências interessantes que tive (comer sopa dinamarquesa e longos passeios de bicicleta), nada do que ganhei valeu a pena para o quão sofrido foi. A minha tese no iBET foi uma experiência única. Foi uma tese maioritariamente laboratorial a cultivar e monitorizar microalgas com um paralelo de computação e análise de dados para dramaticamente simplificar o controlo dos cultivos. Foi uma experiência dura, difícil e desafiante, que, em última instância, chegou a um resultado satisfatório. Foi uma nova experiência de aprendizagem, quer pessoal quer profissional. Entrei na tese com a ideia de que ia fazer um trabalho excelente, a aplicar tudo o que nos foi ensinado durante anos. Não tardou muito a perceber que de facto foi um disparate e que não tinha nem de perto o conhecimento necessário para o endeavour que me propôs a completar. Muitos, muitos, muitos, muitos erros depois, sinto que consigo dizer que odeio o trabalho de laboratório e desejo uma vida sedentária fechado numa cave em frente ao PC a olhar para números infinitos sem nunca ter de trocar palavras com outros seres humanos. Dou liberdade aos leitores para qualquer julgamento face à minha sanidade mental (ou à falta dela). Agora almejo continuar o processo de crescimento e desenvolvimento pessoal que foi a minha vida no Técnico e no iBET. Explorar oportunidades, perceber como me enquadro no mercado de trabalho, perseguir potenciais hipóteses tanto no âmbito empresarial como laboratorial. Paulo Mendonça Olá Biológica, sou o Paulo Mendonça, e concluí recentemente o meu percurso no Instituto Superior Técnico este ano. Foram 5 anos cheios de altos e baixos, alguns que já conhecem e outros que vão conhecer. Contudo, os altos, os amigos, os professores, os convívios do curso, e tudo o que a vida académica deu superam e compensam tudo. Tive a sorte de ingressar imediatamente no curso que desejava quando entrei na faculdade. Apesar de ter alterado os meus interesses ao longo do tempo, a Engenharia proporcionou-me diversas ferramentas e transformou significativamente a minha abordagem ao trabalho e ao pensamento. Para mim, fazer engenharia significa realizar tarefas da maneira mais eficiente e eficaz possível, ou seja, fácil e rápido.

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Durante estágios vinculados à disciplina de química-física, concentrei-me no desenvolvimento de sensores duais para deteção de células tumorais e no último ano da licenciatura, percebi que procurava algo mais além do âmbito do curso. Decidi participar num curso de verão em Biotecnologia e Genética, em Cambridge, com o intuito de aprofundar o meu entendimento sobre o que realmente desejava. Contudo, foi no mestrado, especialmente nas disciplinas opcionais, que percebi que as áreas de Medicina e Programação são os tópicos em que mais me sinto motivado a trabalhar. Entendendo isto, realizei um minor em Machine Learning e desenvolvi a minha tese em Bioinformática. Atualmente, tenho a intenção de continuar a minha trajetória profissional nesta área, procurando realizar um doutoramento em Bioinformática. No futuro, ambiciono contribuir para a área da saúde, utilizando ferramentas computacionais para uma compreensão e tratamento mais avançados de doenças.

Pedro Agostinho Olá! Sou o Pedro, entrei no curso em 2018 e posso orgulhosamente dizer que o acabei em 2023. Feliz por me ver livre do Técnico, mas também nostálgico por todos os momentos que passei com os meus amigos. Sinto-me completo porque sei que por onde passei; deixei um pouco da minha alegria e boa disposição. Fiz parte do NEB, tendo passado pela NEBletter como colaborador e coordenador, numa altura de pandemia onde pude usar as minhas ideias tontas e imaginação para a capa da revista. Depois disto, fui ainda coordenador das Relações Externas, outro grande desafio por ser um departamento bastante afetado pelo COVID. Foram três anos a dar de mim ao NEB, mas senti que o mundo também precisava de um pouco de “Pedro” nas suas vidas. Fui de Erasmus no quarto ano, para Milão, e sem dúvidas que adorei, conheci imensas culturas e backgrounds diferentes e fiz imensos amigos, muitos deles já me vieram visitar e eu ainda hei de visitar alguns. No meio de tudo isto, surgiu-me a oportunidade de realizar o meu trabalho de tese no laboratório de células estaminais do IST no Taguspark, num grupo de investigação do IBB, o SCERG. Metime neste desafio por o meu tema ser muito diferente daquilo a que estamos habituados. O meu objetivo era estudar Células Mesenquimais Estromais presentes no cordão umbilical bovino, para as caracterizar e otimizar o seu crescimento com vista ao desenvolvimento sustentável de carne cultivada. Tendo defendido a tese, o futuro ainda está incerto. De momento, gostava de ter uma pausa da academia e começar a trabalhar numa empresa, apesar de ter gostado muito da experiência laboratorial. Sinto que é a melhor altura para explorar coisas novas visto que ainda não estou vinculado a nada. A indústria farmacêutica atrai-me muito, e também não me importava de trabalhar fora de Portugal, mas vamos ver que oportunidades me surgem… Talvez um dia as tenha o prazer de partilhar nas alumni talks! Não sou de despedidas, por isso para todo o curso só digo: Até já! Hoje sou eu neste papel de recémmestre desempregado, mas daqui a uns tempos serão vocês.

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A NÃO PERDER... Maria Paixão

Editado por Maria Paixão

Espaço Académico MasterTalk do Técnico – Departamento de Bioengenharia É já dia 14 de dezembro que se realiza a MasterTalk do Departamento de Bioengenharia! Este evento irá contar com uma palestra da professora Patrícia Figueiredo, vice-presidente do DBE, sobre a relevância da engenharia biomédica na compreensão, diagnóstico e tratamento de perturbações cerebrais. O evento realizar-se-á a partir das 17h15, no Centro de Congressos do Pavilhão de Civil, e poderás também conhecer os mestrados deste departamento e conversar com alunos e professores, bem como conhecer oportunidades com estágios e bolsas de estudo. Podes inscrever-te gratuitamente até ao próprio dia, no site do Técnico.

Ciclo de Conferências sobre os Futuros da Educação - António Damásio No âmbito dos trabalhos da Cátedra UNESCO – Futuros da Educação, será realizado um Ciclo extraordinário de conferências, no qual participarão alguns dos nomes principais do debate educativo no mundo. Dentro destes, está o do neurocientista e professor António Damásio, que marcará presença no dia 23 de fevereiro pelas 15h. As sessões decorrerão presencialmente e online, no canal de Youtube da UNESCO Brasil e as inscrições poderão ser feitas através do site do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, onde se encontrarão mais detalhes.

Workshops de Teatro O Grupo de Teatro do Instituto Superior Técnico (GTIST) está a realizar workshops de teatro de dois dias, vocacionados para os mais curiosos e para quem quer aprimorar o seu talento na representação. As aulas, lecionadas pelo ator e encenador Pedro Gil, decorrerão nos dias 6 de janeiro, entre as 10h e as 13h, e 7 de janeiro, das 14h às 17h, na Sala de Teatro/Sala Estúdio da AEIST. As aulas têm um custo de 30 euros para estudantes do IST e as inscrições podem ser feitas no site do GTIST.

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Espaço Cultural Exposição - Japão: Festas e Rituais Até 31 de maio, no Museu do Oriente, é possível viajar até ao Japão. Através de mais de 1500 peças, são dadas a conhecer festas e rituais tradicionais nipónicos. A exposição está aberta de terça a quinta e sábado e domingo, das 10h às 18h, e sextas, das 10h às 20h.

Síndrome de Lisboa, de Carlos Coutinho Vilhena e Catarina Rebelo

Sem solução para as constantes ameaças autodestrutivas de um amigo, Carlos é aconselhado a fazer terapia contra a sua vontade. Torna-se assim no último paciente de uma terapeuta que pretende deixar de o ser. Esta é a sinopse da nova peça do humorista Carlos Coutinho Vilhena, desta vez acompanhado pela atriz Catarina Rebelo. A última sessão acontece no CCB, dia 21 de dezembro, e os bilhetes podem ser adquiridos no site Ticketline.

Mozart Concertante, pela Orquestra Metropolitana de Lisboa

Caso sejas fã deste génio austríaco, terás a oportunidade de ouvir a Sinfonia Concertante, a KV 364 e a Sinfonia Nº39 pela Orquestra Metropolitana de Lisboa no Teatro BBVA, no dia 22 de janeiro. A orquestra promete transportar-nos numa viagem emocionante ao mundo de Mozart, “onde cada nota é um portal para a sua alma criativa e cada acorde nos leva mais fundo na majestosa sinfonia da vida”. Os bilhetes podem ser adquiridos no site Ticketline.

Renaissance: A Film by Beyoncé Se (infelizmente) não tiveste oportunidade de assistir à última digressão da famosa cantora pop, poderás agora ver este filme-concerto nos cinemas, que contará também com partes do documentário que acompanhou Beyoncé durante a gravação de Renaissance e preparação da digressão. Se te convencemos, podes já ir a um cinema NOS ou UCI.

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CIÊNCIA EM PERSPETIVA Rita Geraldes

Editado por Gonçalo Ribeiro

No “Ciência em Perspetiva” apresentamos o resumo de dois artigos científicos, para enriquecer o teu conhecimento. Se quiseres aprofundar mais o tema, podes sempre encontrar o respetivo artigo seguindo as referências! Os olhos azuis não existem. Então por que é que os vemos dessa cor? Ao contrário dos olhos castanhos, os olhos azuis não contêm nenhum pigmento que os torne desta cor, tratando-se de um efeito de dispersão de luz, tal como o que se observa no céu ou no mar. O tom azul deve-se ao comportamento da íris, face à incidência de luz, em que os comprimentos de onda correspondentes aos azuis não são absorvidos, pelo que se refletem, dando a impressão de os olhos serem de facto azuis. A íris é composta por duas camadas principais: epitélio pigmentar e estroma, contendo a primeira uma certa quantidade de melanina, de pigmento castanho, e sendo a segunda, o estroma, responsável pela tonalidade do olho, constituída por uma série de fibras sobrepostas e células especializadas. Se o estroma não for pigmentado, as fibras estão dispersas por toda a íris, que irá refletir a cor azul. Em casos em que o estroma é pigmentado, a sua sobreposição com o epitélio pigmentar irá levar a uma tonalidade castanha. Deste modo, as pessoas de “olhos azuis” têm, na verdade, uma íris predisposta à reflexão deste tom. Freire, N. (2023, October 27). Os olhos azuis não existem. Então porque é que os vemos dessa cor? www.nationalgeographic.pt. https://www. nationalgeographic.pt/ciencia/olhos-azuis-naoexistem_4174

Desenvolvida bactéria que transforma garrafas de plástico em matéria prima Como resposta ao grande problema do plástico, foi desenvolvida uma potencial solução para a redução deste no planeta, que parte da modificação de Escherichia coli para ser capaz de se alimentar de plástico. Esta bactéria modificada foi então capaz de transformar os resíduos de polietileno tereftalato (PET) presente em muitas garrafas de plástico em ácido adípico, que é utilizado para fabricar materiais de 'nylon' mas também bastante presente em sumos de fruta. Esta foi uma descoberta bastante importante já que este componente é, maioritariamente, obtido através de combustíveis fósseis, com grande gasto de energia. Adicionalmente, foi arranjada uma forma de converter o PET num composto com sabor a baunilha. Assim, degradando o plástico com microorganismos, há o aproveitamento deste material para a formação de produtos que seriam obtidos de formas pouco sustentáveis. DN/Lusa. (2023, November 1). Investigadores desenvolvem bactéria que transforma garrafas de plástico em matéria-prima. DN. https:// www.dn.pt/ciencia/investigadores-desenvolvem-bacteria-que-transforma-garrafas-de-plastico-em-materia-prima-17265727.html

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PRESENTE SUSTENTÁVEL Diogo Velez

Editado por Henrique Alves

O Presente Sustentável é o espaço da NEBletter que te apresenta pequenas dicas de como podes tornar a tua vida mais sustentável. Natal, a melhor época do ano, altura de estar com a família, beber chocolate quente e… muitos presentes! É fácil esquecer a sustentabilidade e cair nas armadilhas do consumismo, por isso deixamos-te aqui algumas dicas de como tornar a época Natalícia um pouco mais amiga do ambiente.

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TAKE A BREAK! Sugestões Editado por Hugo Ramalho

Seleção exclusiva do melhor entretenimento para te acompanhar este mês!

O que aconteceria se o protagonista de um filme de ação americano acabasse numa aldeiazinha inglesa sem crime nenhum? O resultado é um dos melhores filmes de ação/comédia deste milénio, Hot Fuzz, onde acompanharás o sargento de polícia Nicholas Angel, à medida que ele, com a ajuda de uma delegacia de polícia completamente inepta, descobre os acontecimentos sinistros (e ridiculamente engraçados) da aldeia de Sandford.

O que farias se te dissessem que a pequena aldeia onde moras está amaldiçoada, e que várias pessoas irão morrer nos próximos dias? Rias-te? No anime When They Cry, a maldição parece ser real, e testemunharás loucura, assassinatos, brutalidade,... será uma assassino em série, algo que os locais consomem, um plano sádico dos mais ricos, ou alguma força sobrenatural? Seja o que for, fica atento ao choro das cigarras.

O quarto álbum de Doja Cat, Scarlet, lançado em setembro de 2023, desvia-se notoriamente do resto da obra da cantora e compositora americana, abandonando a sonoridade pop e focando-se, em oposição, no hip hop e R&B. Incluindo singles como “Paint the Town Red” e “Attention” o álbum chegou ao top 5 na US Billboard 200 e tem vindo a ser bem avaliado pelos críticos.

Sem dúvida que um dos álbuns mais bombásticos e aclamados deste ano é SCARING THE HOES, uma colaboração de hip hop experimental entre os artistas JPEGMAFIA e Danny Brown. Queres ser surpreendido com músicas de produção incrível e estrutura completamente imprevisível, letras mordazes e cómicas e performances vocais energéticas? Então não deixes este projeto musical passar ao lado!

Anne with an E: Remontando a uma vila do Canadá do século XIX, Anne, órfã, é adotada por dois irmãos. Ao envolver-se na comunidade, percebe que tem uma perspetiva muito diferente dos que a rodeiam, principalmente ao nível do papel que a mulher deve ter na sociedade. Esta série tem 3 temporadas e reflete sobre temas como racismo, homofobia, igualdade de género e liberdade de expressão.

Conceptualizado como uma trilha sonora para um filme que não chegou a ser feito, Windswept Adan, da guitarrista japonesa Ichiko Aoba, leva-nos numa serena e encantadora viagem pelo oceano. Ao contrário da sua prévia abordagem minimalista, de só voz e guitarra, Windswept Adan floresce das flautas, harpas e quartetos de cordas, que em conjunto com os feéricos vocais de Ichiko e ocasionais sons da Natureza tornam este disco verdadeiramente mágico.

Diogo Velez

Gonçalo Ribeiro

Hugo Ramalho

Diana Ramos

Rita Geraldes

Henrique Alves 16


Review Maria Lima

Editado por Henrique Alves

Bad Samaritan Sabem aquele tipo de pessoa que enfia tudo para dentro de uma gaveta ou armário em vez de as arrumar? É a melhor comparação para descrever o que os realizadores fizeram com o filme Bad Samaritan, que não passa de uma grande pilha de más ideias. Só que neste caso, quando vês o filme, são bombas, corpos e até pessoas vivas que saltam, não só de armários, como também de sepulturas e fornos. Dois arrumadores de carros desenvolvem um esquema inteligente para assaltar as casas de clientes do restaurante em que trabalham. As coisas correm bem até que um deles, Sean Falco (interpretado por Robert Sheehan), assalta o cliente errado, Cale Erendreich (David Tennant). É na casa do segundo que descobre uma mulher ferida, acorrentada e amordaçada. Com medo de ser preso, deixa a mulher onde a encontrou, e liga para a polícia, que não encontra nada quando investiga. Isso desperta a fúria do raptor que, a partir desse momento, faz de tudo para arruinar a vida de Sean, que tenta desesperadamente encontrar e resgatar a mulher aprisionada que deixou para trás. Uma das coisas que mais me incomoda neste filme é a forma como as mulheres são retratadas. A namorada de Sean, que é basicamente irrelevante para a ação, tem como principal função ser brutalmente agredida pelo vilão, levada para o hospital e completamente esquecida. Se Sean fosse um solteiro recentemente abandonado, o seu esforço de salvamento seria uma espécie de ímpeto galante-romântico. Mas nem isso. Ele quer apenas salvar uma mulher quase muda e amarrada. Isto, no entanto, leva-me a falar de algo positivo. Durante a duração do filme, foi-me impossível parar de pensar nas motivações pouco sensatas desta personagem. Estranhamente, o antagonismo entre as personagens de Sheehan e Tennant é um grande atrativo. A estranha necessidade de Cale de perseguir Sean é muito mais tentadora pelo seu calculismo e história de vida bizarra. É das formas mais ridículas e agressivas que Erendreich destrói a vida de Falco. Nada, à exceção de um kit de ferramentas impecavelmente montado, pode ser classificado como seguro ou intocável, nem empregos, nem contas de Facebook, nem a apresentação oral da namorada na faculdade.

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DEITA CÁ P'RA FORA Henrique Alves

Editado por Diogo Velez

Música à distância de um clique E se pararmos para pensar nas plataformas de streaming de música? Creio que a grande maioria de nós ouve música de uma forma mais casual. Seja a estudar, nos transportes públicos ou até mesmo a tomar banho, a música está sempre lá. Mas e se não tivéssemos música à distância de um clique? Ficaríamos sujeitos à monotonia sonora do dia a dia? Voltaríamos nós à era dos CDs, vinis e cassetes? Não sei quanto a vocês, mas a mim parece-me que tudo se tornaria mais maçador… Mas parando e refletindo, pergunto-me também se ao ter menos música disponível, ou numa forma não tão facilmente acessível, se não acabaríamos por valorizá-la mais, se não desfrutaríamos mais o pouco que tínhamos. Música é arte e não existe uma maneira certa de a desfrutar, mas pergunto-me se um acesso tão facilitado e banal, como nas plataformas de streaming, não nos desvia a atenção ao facto de estarmos a consumir um pedaço de arte e o trabalho de alguém. Outro aspeto que tenho notado nos últimos anos é a TikTok-ificação das músicas nos tops das plataformas de streaming. Ignorando raridades como a versão de 10 minutos de All Too Well da Taylor Swift e clássicos como Running Up That Hill (A Deal With God) da Kate Bush (obrigado, Stranger Things), a maioria dos tops é composta por faixas relativamente curtas e formulaicas, o que realmente não me surpreende; com o surgimento do TikTok, Reels e afins, todo o conteúdo é hipercondensado e produzido de modo a ser o mais partilhável possível. Logicamente, o mesmo efeito transpassou para a música: quanto maior for o valor de replay de uma faixa, mais streams atingirá e mais dinheiro o artista (ou a gravadora…) ganhará. E é claro que faixas curtas e formulaicas não têm nada de inerentemente mau; o mal está, creio eu, na pressão que as gravadoras exercem aos artistas para estes produzirem este tipo de músicas “da moda”, cada vez mais virais e mais TikTokizadas, o que acaba por limitar a sua visão artística e originalidade. Mas nem tudo é mau, quantos de nós estaríamos dispostos a pagar para ouvir um disco que nem sequer sabemos que vamos gostar, como antes se fazia? Quantos de nós não teríamos descoberto novos artistas se não fosse pelo Spotify? As plataformas de streaming podem trazer algumas desvantagens, mas acredito que se formos conscientes quanto à forma de as usar, existem vantagens para ambas a partes, nós e os artistas. Nós, público, ganhamos com o facto de descobrirmos nova música de forma totalmente conveniente. Os artistas, por outro lado, conseguem chegar a um maior público e, com isso, ganhar novos fãs. Também ganham dinheiro, claro, mas é importante perceber que a quantidade de dinheiro gerada nestas plataformas é escassa. Atualmente, a melhor forma de apoiar monetariamente artistas é ir a espetáculos, comprar merch ou usar plataformas mais eticamente responsáveis, como o Bandcamp. Porém, a meu ver, mais ainda que apoio monetário, porque nem todos nos podemos dar ao luxo de ir a espetáculos e comprar merch, o mais importante que podemos dar aos artistas é um par de ouvidos atentos; genuinamente ouvir aquilo que estes têm para dizer e fazer com que pelo menos o seu trabalho tenha valido a pena. Numa época obcecada com rapidez e eficiência, é útil parar e refletir sobre o nosso dia a dia, em particular sobre as coisas que o exponencialmente melhoram, em particular a música. É importante relembrar que as plataformas de streaming são uma forma excelente de descobrir nova música de forma conveniente, mas há que ter noção do modo como isso influencia a maneira como pensamos na música e nos artistas.

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SEM DESTINATÁRIO Hugo Ramalho

Editado por Maria Paixão

Deduções lógicas e conclusões a serem tiradas Como é que nós distinguimos entre facto e ficção? Como é que conseguimos atingir um processo de pensamento que nos leva consistentemente a conclusões corretas? Existe uma ferramenta, conhecida por muito poucas pessoas, que nos ajuda imenso na busca pela verdade, chama-se “lógica”. Existem dois principais tipos de lógica, dedutiva e indutiva: Lógica dedutiva serve para concluir o óbvio, por exemplo: “Todos os homens pensam. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates pensa.” Ou: “Tu és parvo. Argumentos que vêm de parvos são maus. Logo, os teus argumentos são maus.” … Calma. Isso não era alguma falácia ou assim… Meh. É importante compreender que o raciocínio dedutivo permite obter conclusões que estão certas se as premissas estiverem certas. Então, como é que obtemos premissas factualmente corretas? … Sei lá, eu não sou omnisciente. Entretanto, podemos utilizar raciocínio indutivo para tentar obter certas conclusões prováveis, mas não certas. Por exemplo: “A maioria das aves voam. Patos são aves. Logo, patos (provavelmente) voam” ou: “Às vezes esta fonte de notícias respeitáveis com um viés político do qual eu não gosto faz reportagens com erros factuais, ou simplesmente narrativas ligeiramente erróneas. Esta fonte de notícias reportou uma notícia que não me convém. Logo, esta notícia é (claramente; certamente; absolutamente; 100%) Fake news.” … Calma… Esta última não me pareceu assim muito lógica… O que está a acontecer aqui? Bem, vamos ignorar o último suposto “silogismo” porque é só disparatado, mas problemas com a lógica utilizada no dia a dia não se limitam à utilização de premissas falsas. Vamos então observar mais um exemplo: “Tudo aquilo que é interpretado neste livro está correto. Eu interpreto, a partir deste livro, que o mundo vai acabar dentro de dois anos. Logo, o mundo vai acabar dentro de dois anos.” Mas esta lógica leva a contradições, pois diferentes pessoas irão obter diferentes interpretações, por exemplo: “Tudo aquilo que é interpretado neste livro está correto. O meu irmão interpreta, a partir deste livro, que o mundo não vai acabar dentro de dois anos. Logo, o mundo não vai acabar dentro de dois anos.” Qual é o problema? O mesmo sistema de lógica, a partir de três premissas não contraditórias levaram-nos a duas conclusões contraditórias. Isto é, obviamente, INACEITÁVEL, por isso qualquer sistema de lógica minimamente decente não pode permitir a obtenção de conclusões contraditórias a partir de premissas não contraditórias… Mas calma, porque é que este acontecimento é INACEITÁVEL? Simples: o princípio da explosão, que é um princípio lógico real (google it) que nos diz que, quando contradições são possíveis num sistema lógico, é possível obter qualquer conclusão a partir deste. Por exemplo, utilizando o mesmo sistema de antes podemos obter: “Tudo aquilo que é interpretado neste livro está correto. Eu interpreto, a partir deste livro, que 1=2 e 2+2=1017. Logo, 1=2 e 2+2=1017.” Moral da história: se o teu método de pensamento te permite obter qualquer conclusão que te apeteça obter, faz o seguinte: 19


JOGO DO MÊS Maria Lima

Editado por Henrique Alves

Parece que ainda agora as aulas começaram, mas na realidade já estamos em dezembro. E o que há de melhor para entrar no Espírito Natalício do que uma sopa de letras com palavras que te fazem lembrar o Natal? A primeira palavra já está destacada na sopa de letras, encontra as restantes nove enquanto relacionas cada letra a um número. A. B. C. D. E. F. G. H. I. J.

N1 A2 T3 A2 L4 __5 __6 __7 __8 __9 __6 __10 A2 __9 __11 N1 __12 __11 A2 __13 A2 __6 __12 T3 __7 __6 L4 A2 __14 A2 __9 A2 L⁴ __15 A2 __8 A2 __7 __16 __11 __7 __6 __17 A2 __18 __10 L4 __10 A2 __9 __6 L4 __6 __14 __7 A2 __7 __9 __11 N1 __17 __7 A2 T3 __6 __7 N1 __10 __19 A2 __7 Soluções (por ordem da lista): NATAL, PERÚ, CEIA, CONSOADA, ESTRELA, BACALHAU, ÁRVORE, FAMÍLIA, CELEBRAR, CONFRATERNIZAR

DICAS FANTABULÁSTICAS Diogo Velez, Gonçalo Ribeiro e Hugo Ramalho Editado por Diogo Velez

Ho ho ho! O Natal está quase a chegar! Como manda a tradição da nossa amada NEBletter, os nossos Mestres estão cá para te ensinar sobre família, amor, esperança,… e arruinar ceias alheias.

Todos os vilões precisam de um plano com um certo final. Nestas dicas daremos o plano ideal para a conquista!... Calma… afinal o plano é só arruinar o Natal (não há budget para painéis sobre conquista mundial).

“Coisas boas e eletrónicas esta família não terá, de lamechices a sua vida se encherá!” O pensamento malvado do vilão, que troca literalmente os presentes. Mas o seu plano será em vão, pois o Natal apenas melhorará.

Que árvore XPTO: branca, cheia de luzes e até com um falso nevar. Quando todos estiverem a fazer oó, é então que a vou trocar... A tia-avó cheia de dó vai ficar, quando olhar vai estar uma simples árvore só.

Pensam que têm a receita para a ceia perfeita, com comidinha feita pela Uber Eats, Bolt ou Glovo. Mas vão ter de fazer um jantar novo (provavelmente só vão comer ovo >:) quando descobrirem esta desfeita.

Mas o plano saiu falhado pois havia um peruzinho congelado. E assim, com muito carinho, alguma ajuda do vizinho (e algum cuidado para não ficar demasiado salgado) foi tudo cozinhado e ficou o jantar concertado!

O plano que o vilão armou falhou, quem diria? A perda da extravagância capitalista não estragou o Natal, mas ao invés levou à melhoria dos laços desta família. :0

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