PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA, EDUCAÇÃO E REVOLUÇÃO: 100 ANOS DA REVOLUÇÃO RUSSA.

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formato, o movimento ganha outra dimensão e pode inserir em suas fileiras, outros setores e frações de classes sociais organizadas. No entanto, diante das necessidades, interesses particulares e desejo de garantir algumas conquistas, os movimentos reivindicatórios passam a cultuar as pequenas conquistas como o melhor dos cenários. Neste caso, os interesses econômicos pesam sobre as decisões políticas a serem tomadas e isto leva a confundir o papel das instituições, do Estado, dos partidos políticos e dos movimentos populares. A natureza conciliadora dos movimentos populares, de certa forma, é a mesma do movimento sindical: ter de negociar as soluções. As negociações geralmente estão submetidas a dois elementos: a) ao potencial do jogo de forças e b) à capacidade das ideias de pensar as próximas jogadas. Na medida em que o potencial de cada força em movimento apresenta limitações, o que tem de imediato é o desejo de negociar e parar a luta. Justifica-se tal atitude, por diferentes razões, mas no fundo, a paralisação é a incapacidade de combinar a luta imediata com o projeto político de construção da alternativa de poder. A negociação é a representação de que a capacidade das ideias de recolocar as forças de outra forma está esgotada. O recuo então se faz necessário para não se destruir o que foi construído. Este dilema, o filósofo Hegel já o apontara para outros fins, quando tratou do senhor e o escravo, dizendo que: "O senhor é a potência que está acima desse ser; ora, esse ser é a potência que está sobre o Outro; logo, o senhor tem esse Outro por baixo de si: é este o silogismo da dominação" (HEGEL, 2002, p. 147)10. Essa potência que está acima, nada mais é do que a reconhecida dependência de quem está embaixo e que permanecerá embaixo enquanto negociar com ele as condições de sua existência. O "Outro" ao ser reconhecido, tem a sua existência como sujeito, não ignorada, mas isto não dá a ele outra condição senão a legitimação de que, diante do senhor, como sujeito ativo, é um fraco e dependente sujeito passivo. A relação então se naturaliza: para que um exista, depende da existência do outro; daí fica fácil de justificar o funcionamento da ordem democrática, porque nela estão presentes as forças da situação e da oposição, sem, contudo, considerar qual delas é a "potência" que está acima e qual é o "Outro" que está e ficará embaixo. Ou como se constrói relações que colocam os movimentos, sindicatos e partidos políticos sob a dominação das instituições estatais. A falta do projeto político é também a falta de consciência do processo político. O processo é mais amplo, nele cabem as diferentes formas de relações. O projeto é o eixo condutor de um ponto presente a um ponto futuro. Este eixo condutor é que atrai para si todos os esforços, para fazer deslizar so-

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do espírito. Petrópolis, 2002, p. 147.

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