8 Um dos Vivos
Simon acordou com a luz do sol refletindo em um objeto que tinha sido jogado por entre as grades da janela. Levantou-se, com o corpo dolorido de fome, e viu que se tratava de um frasco de metal, mais ou menos do tamanho de uma garrafa de merendeira. Um papel enrolado tinha sido amarrado na ponta. Pegando-o, Simon desenrolou o bilhete e leu:
Simon: isso é sangue de vaca, fresco do açougue. Espero que esteja bom. Jace me contou o que você falou, e quero que saiba que acho muito corajoso. Aguente firme, daremos um jeito de tirá-lo daí. BJSSS Isabelle.
Simon sorriu para os BJSSS na parte de baixo da folha. Era bom saber que o afeto exagerado de Isabelle não tinha sofrido pelas circunstâncias. Ele abriu a tampa do frasco e já tinha engolido diversos goles antes da sensação aguda de formigamento entre as omoplatas fazê-lo virar. Raphael estava de pé no centro da cela e parecia tranquilo. Estava com as mãos para trás, com os ombros firmes. Vestia uma camisa branca e um casaco escuro. Uma corrente de ouro brilhava em seu pescoço. Simon quase engasgou com o sangue que estava bebendo. Engoliu, ainda encarando. — Você... você não pode estar aqui. O sorriso de Raphael de algum jeito conseguiu transmitir a impressão de que estava com as presas à mostra, apesar de não estarem. — Não entre em pânico, Diurno. — Não estou em pânico. — Não era exatamente verdade. Simon sentiu como se tivesse engolido algo afiado. Não via Raphael desde a noite em que se arrastara, sangrando e ferido, para fora de uma cova precariamente cavada em Queens. Ainda se lembrava de Raphael jogando pacotes de sangue animal nele, e da maneira como os tinha rasgado com os dentes, como se ele próprio fosse um animal. Não era algo de que gostava de se lembrar. Teria ficado