O reencantamento do mundo na visão de max weber

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA E DIREITO

O CONCEITO DE DESENCANTAMENTO DO MUNDO, DE MAX WEBER, E A VISÃO DE REENCANTAMENTO DO MUNDO EM DOIS DE SEUS MAIORES INTÉRPRETES: ANTÔNIO FLÁVIO PIERUCCI E WOLFGANG SCHLUCHTER Aluna: Nathalia Thami Chalub Prezotti* (natchalub@gmail.com) Crítica Sociojurídica I: Mundo desencantando e mundo desengajado – Modernidade e panoramas institucionais da contemporaneidade Professor: Luis Carlos Fridman

Resumo: Como bem ressalta Antônio Flávio Pierucci, Weber afirmava não ter “ouvido musical” para religião. Com base nessa “inabilidade”, foi capaz de, com maestria, fazer um criterioso estudo sobre as religiões orientais e ocidentais, sobre a relação do protestantismo e o capitalismo e sua influência na modernidade, criando mais que um conceito, um verdadeiro sintagma: o “desencantamento do mundo”. Alguns de seus intérpretes, contudo, vislumbraram uma possível visão de “reencantamento” nos escritos de Weber. Autoengano ou fato? É justamente essa questão que pretendemos analisar, especialmente nos textos de Antônio Flávio Pierucci (O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber) e Wofgang Schluchter (O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber; capítulo I). Palavras-chave: Max Weber. Desencantamento do mundo. Reencantamento do mundo. Abstract: As well underscores Antonio Flavio Pierucci, Weber said he did not have “ears of a musician" for religion. However, just because of this "inability", he was able, to do a thorough study on the relationship between the religions from both sides of the world, about the conection of Protestant Christianity with the emergence of Capitalism, and with mastery, created a concept, more than that a conception: the "disenchantment of the world". Some of his interpreters, however, devised a possible vision of "enchantment" in his writings. A self misundestanding or fact? It is precisely this issue that we intend to analyze, especially in the texts of Antônio Flávio Pierucci and Wolfgang Schluchter. Keywords: Max Weber. Disenchantment of the world. Enchantment of the world.

2015 Niterói (RJ)

* Mestranda em Sociologia e Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense


SUMÁRIO 1.

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 3 Conceito de desencantamento do mundo em Weber..........................................................................................3 2. DESENCANTAMENTO DO MUNDO ........................................................................................................... 4 Desencantamento religioso............................................................................................................................... 4 Desencantamento científico...............................................................................................................................7 Desencantamentos e reencantamento............................................................................................................. ..9 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS. ........................................................................................................................ 11 (Re)Encantando o mundo com Pierucci e Schluchter.................................................................................... 11 (Des)Encantando o mundo com Weber...........................................................................................................13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 16


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1. INTRODUÇÃO Max Weber criou um novo conceito para a palavra “desencantamento” ao tratar da entrada da sociedade na era moderna. O termo ganhou vida própria e alçou voos na imaginação dos curiosos que estudam o autor, mas também veio a ocupar lugar de destaque na linguagem científica das mais variadas áreas do conhecimento humano. Logicamente a propagação que levou o termo a ser usado como jargão pelos mais diversos estudiosos não poderia ter tamanho impacto não fosse a dubiedade de seu sentido, ou melhor a possibilidade de infinitas interpretações. Infelizmente, nem todas tão precisas ou com base científica. Fato é que o intrigante conceito com que Max Weber vislumbrou o quadro perfeito para o surgimento de uma nova era, aguçou em alguns estudiosos a visão de um conceito diverso, que se sucederia ao conceito de “desencantamento” e que se daria sob nova perspectiva, qual seja o do “reencantamento”. Não foi diferente com Antônio Flávio Pierucci ao pesquisar aprofundadamente o conceito de desencantamento, em estudo que resultou na sua tese de livre-docência em Sociologia, no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em junho de 2001 e que levou o título de “O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber” (São Paulo, Editora 34, 1ª edição de 2013). A despeito de ser sociólogo da religião, Pierucci estudou Weber sob a ótica do processo de racionalização ocidental na modernidade. E Weber, a despeito de não ser sociólogo da religião, estudou a sociologia das religiões e sua repercussão econômica no mundo ocidental capitalista, produzindo, segundo Pierucci “uma dupla macrossociologia: uma sociologia geral da mudança social como inevitável racionalização da vida, e uma sociologia específica da modernização ocidental” (PIERUCCI, 2013. p. 18). A eterna atualidade do tema mantém povoada a literatura científica acerca do pensamento e obra de Weber. Conhecendo o passado, podemos traçar um futuro melhor. Entender o passado ajuda a prever o futuro... E Pierucci faz o estudo detalhado e completo, tanto quanto complexo, de todos os usos que Weber deu ao termo “desencantamento do mundo”, entendendo-o mesmo como um sintagma, tamanha sua importância; um verdadeiro “conceito”, com dois conteúdos semânticos, nitidamente demarcados e concomitantes (um sentido não é a “evolução” do outro),


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com significação própria, ora o desencantamento do mundo pela religião, ora o desencantamento do mundo pela ciência. Em suas obras Weber usou o termo “desencantamento do mundo” com o sentido de “desmagificação” por nove vezes; quatro vezes como “perda de sentido” e em outras quatro vezes nas duas acepções. Gabriel Cohn, ao fazer o comentário a obra de Pierucci, que vai na “orelha” da terceira edição do livro, de 2013, colocou com clareza que o conceito em questão foi construído por Weber para ajudar a explicar o mundo e não para lamentá-lo. Conceito este que não se entende sozinho, que encontra seu lugar na estrutura analítica e forma uma teoria: a teoria sociológica de Weber. Teoria esta também estudada em detalhes por Wolfgang Schluchter, em seu livro “O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber” (Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2014), dentre outros, no qual, igualmente, mergulhou no conceito de Weber de “desencantamento do mundo” e modernidade, solidificando o entendimento de que desencantamento do mundo em Weber nada tem a ver com decepção, desilusão, lamúria ou lamento. Vejamos, pois, do que se trata este “sintagma”.

2. DESENCANTAMENTO DO MUNDO Para Weber, afirma Pierucci, a magia representava o momento anterior da religião, quando a humanidade estava imersa em um mundo cheio de espíritos, povoando um universo próprio, com poderes para influenciar a vida mundana, na qual todos coabitavam e onde tudo o que existia tinha uma “alma”, ânima, animação; um mundo animado, um jardim encantado. Magia era a coerção do sagrado; religião seria respeito, prece, culto e doutrina. A modernidade foi marcada pela intelectualização da religião, que impôs regras racionais de conduta, trocando o tabu pelo pecado e a fraternidade mal garantida por tabus por uma de amor fraternal; orientada por convicção em princípios. Esse processo histórico religioso teve seu embrião na religião judaica, dos profetas que ditavam a regra de conduta de acordo com a vontade do Deus todo poderoso, inalcançável e onipotente, avesso a “negociações”. O protestantismo ascético, através da racionalização religiosa, criou um processo de moralização, um código ético no qual não se incluíam as barganhas com os espíritos; com um


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Deus único que, tal como na era de Moisés, não negociava com os humanos. Essa religiosidade monoteísta e racional diferia daquela em que vários deuses, passíveis das paixões humanas, sujeitos a fúrias ou predileções, atendiam à vontade dos homens, mediante condições que impunham; exigências totalmente mundanas. O mundo mágico que era coabitado pelos homens e pelos espíritos foi substituído por dois mundos: um, o mundo dos homens e o “outro mundo”, superior, sujeito à racionalização ética e à intelectualização sublimante pelos profissionais da religião. O dualismo religiosamente intelectualizado produzido pelos intelectuais da religião pôs-se a separar “este mundo” do “outro mundo” e a afastar o “além” do “aqui embaixo”. A “Providência” foi a racionalização consistente da adivinhação mágica e, apesar disso e por isso, antagonista de toda magia, tornando-se essencial ao “desencantamento do mundo”. E nesse sentido, desencantamento equivale a descentramento (do mundo). Desde então a religiosidade se intelectualizou e, de cima para baixo na estratificação religiosa, moralizou. Foi a saída do mundo incapaz de sentido e o ingresso em um mundo ordenado pelas ideias religiosas, cheio de sentido. À magia faltava a percepção e a concepção de um poder superior que salvasse por amor e não pelo conjuro dos deuses ou pela execução à risca de formulas rituais. A religião intelectualizada, ética, propôs a salvação através da conduta ética, da devoção obsequiosa, da piedade filial, da obediência e da submissão. A magia implicava em vontade de subordinar os deuses, o oposto do proposto pela religião eticizada (PIERUCCI, 2013. p. 74). Jesus não fazia magia. Jesus operava milagres. Conforme a história evoluiu e o homem deixou o campo, a religião eticizada ganhou espaço, pois as leis econômicas do mercado não eram suscetíveis de barganha com os deuses, como o eram as forças da natureza que regiam a vida campesina. Os interesses mágicos eram voltados exclusivamente para este mundo em que viviam todos os homens e os deuses; toda ação mágica tinha um objetivo pragmático, claro e bem definido e seus resultados eram esperados para o “aqui e agora”. Por isso, a magia não incentivava ou cultivava no indivíduo uma conduta de vida, um estado duradouro. Assim é que, para Weber, a magia era incapaz de vida cotidiana. A eticização da religiosidade foi a contraface do desencantamento do mundo e dela resultou a moralização da conduta.


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E foi nesse sentido que o “desencantamento do mundo” significou a saída de um mundo incapaz de sentido, mágico, e o ingresso em um universo significativamente ordenado pelas ideias religiosas e, assim, cheio de sentido. Foi em a “Introdução” à Ética econômica das religiões mundiais que Weber enunciou de forma explícita e sucinta a correlação direta entre o desencantamento do mundo e o protestantismo ascético (PIERUCCI, 2013. p. 90). Seria através da ascese intramundana que se alcançaria a salvação, a intelectualização da religiosidade e a moralização religiosa que viriam a desencantar o mundo ocidental, criando uma afinidade eletiva da qual decorreria o estabelecimento do capitalismo como regime econômico dominante no mundo ocidental - uma causalidade não esperada. Tal como acontecera no judaísmo e seus profetas, o protestantismo forjou a ideia segundo a qual os destinos dos homens neste mundo e no Além dependeria essencialmente da observância dos preceitos éticos ditados por Deus. Agora o homem deveria compreender-se a si mesmo como o instrumento de Deus agindo nesse mundo, corroborando sua predestinação. A desmagificação puritana se fez acompanhar de uma atitude de desvalorização do mundo, mundo corrupto ao qual os protestantes deviam renunciar, mediante uma conduta ascética intramundana, agindo positivamente de modo racional nesse mundo, como sinal ou prova de sua salvação: desprezou toda “erótica divinizadora da criatura”, considerando como “vocação” desejada por Deus a “procriação desapaixonada de filhos dentro do matrimônio; desprezou a violência do indivíduo contra outro, por paixão ou vingança e outros motivos pessoais; racionalizou sua conduta de vida pessoal e rejeitou tudo o que fosse eticamente irracional, como as artes e anseios pessoais. A meta específica era o domínio metódico, “vigilante”, da própria conduta de vida. Só então a atividade ético-ascética do trabalho vocacional se valorizou por si mesma e se afirmou “separada de todos os meios mágicos de salvação”: seria trabalhando com afinco e vivendo sem prazer que o protestante ascético se autoafirmaria como salvo, santo ou eleito “instrumento de Deus” no mundo. E sua religiosidade devia ser o mais possível despojada de ritos e sacramentos, pois era racional e ética. A religião foi desmagificada. A ascese intramundana implicou em uma vigília constante, em um domínio metódico “desperto” da própria conduta de vida. Pierucci ressalta que a noção de desencantamento do mundo era restrita ao espaço da


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esfera religiosa no qual despontavam os antagonismos entre religião e magia (ou religiosidade ético-ascética com a religiosidade mágico-ritualista) e que se encontravam geograficamente delimitados no Ocidente e no Oriente, respectivamente, pois o Ocidente rompeu com a tradição e seu formalismo, seu ritualismo (“tradicional”); quebrou o feitiço da religião, removendo os óbices ao desenvolvimento do capitalismo, como causalidade adequada, consequência não prevista. E é a esta altura que Pierucci fala textualmente em “reencantamento”:

[...] É básico para um cientista social que pretende se especializar no estudo das religiões entender, por exemplo, que desencantamento em sentido técnico não significa perda para a religião nem perda de religião, como a secularização, do mesmo modo que o eventual incremento da religiosidade não implica automaticamente o conceito de reencantamento, já que desencantamento em Weber significa o triunfo da racionalização religiosa: em termos puramente tipológicos, a vitória do profeta e do sacerdote sobre o feiticeiro: um ganho em religião moral, moralizada, isto é, expandida em suas estruturas cognitivas e fortalecida em sua capacidade de vincular por dentro os indivíduos. (PIERUCCI, 2013. p. 120)

Por isso Weber tinha o monoteísmo judaico-cristão como o detonador histórico do desencantamento religioso do mundo, num processo milenar que acabou por desaguar no protestantismo ascético. Mas não fica por aí essa questão. Weber, em “Consideração Intermediária” atribuiu um segundo sentido ao “desencantamento do mundo”, agora, não pela religião, mas pela racionalização cultural do Ocidente, à qual se referiu como um “politeísmo de valores”, dissecando em termos de diferenciação, autonomização e institucionalização das diferentes ordens de vida, como a esfera doméstica e a economia, a política e o direito, a vida intelectual e a ciência, a arte e a “erótica”, todas independentes das fundamentações axiológicas religiosas (PIERUCCI, 2013. p. 137). Neste momento o “politeísmo” passou a ser de valores e não de deuses e o mundo se desencantou igualmente pela moderna atitude científica, que teve seu embrião na cultura científica helênica. Associado à ciência moderna, o conceito weberiano de desencantamento se referia inescapavelmente à “perda de sentido” do mundo. Objetivo era o conhecimento científico; o sentido era subjetivo. Mas a ciência tinha (e continua tendo) seus próprios limites, intransponíveis, pois é impotente para arbitrar entre tomadas de posição valorativas diferentes e


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não raro conflitantes. A ciência destronou a religião do reino do racional, com toda sua intelectualização, e a deixou às margens da “antirracionalidade”. Como bem salienta Pierucci, Weber empregou o verbo “desalojar” para ambos os processos de desencantamento do mundo. O primeiro, “desalojou” a magia da religião e a entregou o mundo natural desdivinizado, dando-lhe um sentido metafísico total, unificado; o segundo, que por meio da ciência empírico-matemática desalojou essa metafísica religiosa, entregando um mundo ainda mais reduzido a um mecanismo causal, totalmente analisável e explicável, incapaz de qualquer sentido objetivo, muito menos uno e total, mas tão somente de nexos causais inteiramente objetivos mas desconexos entre si, incapazes de qualquer totalização. A ciência obrigou a religião a abandonar sua pretensão de propor a racionalidade metafísica ao homem (PIERUCCI, 2013. p. 145). E não foi só o pensamento teórico que desencantou o mundo, mas foi precisamente a tentativa da ética religiosa de racionalizá-lo no aspecto prático-ético que levou a este curso; não foi a ciência e o racionalismo científico, muito menos o racionalismo teórico, mas sim o racionalismo prático-ético, a racionalização ético-ascética da conduta de vida. Esse o ponto nodal da teoria sociológica de Weber. Afirma Pierucci que “tudo se passa como se para Weber a ‘falta de sentido empírico do acontecer natural’ fosse de longe a maior descoberta da ciência moderna – o grande desvelamento” (PIERUCCI, 2013. p. 153): [...], a atitude científica experimental abre mão sempre-já da “pretensão de que o acontecer do mundo seja um processo com sentido”; e, prodigamente relega para as visões de mundo esse pleito indomável, de resto sem base científico-racional. Isso cabe a elas, sejam elas religiosas ou filosóficas, metafísicas, holísticas, ideológicas. (PIERUCCI, 2013. p. 155)

O conhecimento científico progride sem parar, prolongando-se ao infinito. O processo de investigação é aberto, tudo pode ser cientificamente explicado por nexos causais isolados e apenas parcialmente encadeados, jamais esgotados ou totalizantes. A questão do sentido deveria parar por aí, no sentido subjetivamente partilhado entre os sujeitos. E Pierucci fala então, novamente, em “reencantamento”:

Hoje, na medida em que nossa própria capacidade de suportar a condição humana foi ela própria desencantada e nosso próprio proceder diante de escolhas a fazer


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foi “despojado da sua plasticidade interior” (WL:604), o mundo real, a realidade do mundo em si mesmo, o mundo que criamos com o trabalho, a ciência e a tecnologia, resiste bravamente a todo projeto de reencantamento metafísico da Totalidade. (PIERUCCI, 2013. p.159)

Até porque se tal acontecesse, seria mediante o “sacrifício do intelecto” em que implicava toda fé religiosa. A ciência desencantou porque o cálculo desvalorizou os incalculáveis mistérios da vida. Mesmo as esferas mais promissoras de sentido, como a estética e a “erótica”, se desconectaram do Todo, se dispersaram do Uno e procuraram cada qual atrair com seus próprios valores vitais. Para Weber o desencantamento científico do mundo foi muito mais fatal e definitivo do que a desmagificação da prática religiosa e veio a caracterizar uma nova era, um novo estágio do conhecimento humano; porquanto seu progresso seria infinito e contínuo, desencantando-se a ciência a si mesma, num processo sem limite, sem fim. Assim é que Pierucci denomina o desencantamento religioso do mundo como desencantamento strictu sensu e o desencantamento do mundo pela ciência como desencantamento lato sensu. Resumidamente, portanto, foi o desencantamento strictu sensu, com a desmagificação ativa da religiosidade que o antigo judaísmo pôs em movimento, que semeou o solo para o capitalismo ocidental. Foi uma causa não prevista, pois a dominação da magia, fora do âmbito do cristianismo, era um dos mais pesados entraves à racionalização da vida econômica, o que só foi possível mediante a sanção psicológica que o protestantismo deu a seus fiéis, através de um modus vivendi de trabalho racional in majorem Dei gloriam, que não dava espaço ao lazer, ao prazer e, consequentemente, acabou por gerar acúmulo de riqueza, como consequência não prevista. Essa capacidade, essa vontade, essa determinação dos protestantes em trabalhar incansavelmente como servos de Deus, deu-se pela a desmagificação da religião, do rompimento com o tradicionalismo da magia e sua substituição por uma disposição ética internalizada de levar uma vida metódica de trabalho racional. A partir da profecia emissária do povo judeu, inicialmente e, depois, com a profecia exemplar dos puritanos, o poder salvífico se deslocou para a conduta reta, santa; encontrando-se, aí, a gênese da cisão intelectualizada e racionalizadora entre o “ser” e o “dever ser”. Foi o triunfo da religião eticizada sobre a religião ritual-sacramental, mágica.


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Desse modo, o ponto de partida do “sintagma” em sentido estrito é o profetismo israelita, oito séculos antes de Cristo e o ponto de chegada, o protestantismo ascético, em um percurso de aproximadamente três milênios. Daí para frente, a ciência empírica moderna se encarregou de “determinar-lhe novos desdobramentos, mas também novas direções, ao reduzir o mundo, já desmagificado sob o modo da moralização religiosa, a um mero mecanismo causal sem totalidade possível e sem mais nenhum sentido objetivo.” (PIERUCCI, 2013. p. 200): Era necessário antes de mais nada – momento de anterioridade lógica a desdobrar-se vagarosamente num vasto processo histórico de longuíssima duração – desencantá-lo. Desdivinizá-lo para dominá-lo. Naturalizá-lo para poder melhor obejtivá-lo, mais que isto, objetificá-lo. Quebrar-lhe o encanto era indispensável para poder transformá-lo. Não à toa, o desencantamento não havido explica para Weber o atraso do mundo asiático. (PIERUCCI, 2013. p. 207)

É o que Weber chamava de “causalidade histórica necessária”. O desencantamento do mundo foi a conclusão de um processo histórico-religioso, mas no que tange à ciência, esse é um processo infinito, iniciado com a ciência da cultura helênica. É, em suma, um conceito históricodesenvolvimental em que os significados são coexistentes, não sucessivos, mas coextensos e às vezes superpostos parcialmente. Essa a colocação de Pierucci no decorrer de toda sua tese de licenciatura. Contudo, ao cerrar das cortinas, às folhas 219 do livro anteriormente mencionado, afirma que Weber, ao tratar das religiões asiáticas, em sua obra “Consideração Intermediária” - ensaio sobre as religiões da China e ensaio sobre as da Índia, que teve três versões sucessivas, sendo que só as duas últimas receberam este título, sendo a versão definitiva datada de 1920, e que figura nas últimas páginas do volume I dos Ensaios reunidos de Sociologia da Religião; o único totalmente preparado por Weber ainda em 1920, logo antes de seu falecimento – em uma seção dedicada à esfera erótica, havia usado o verbo “encantar”, assim como o “sintagma completo”, ao falar em “encantar todo o mundo”, referindo-se ao amor sexual e à euforia do amante feliz e “tudo isso para aludir a esta via modernamente disponibilizada de encantamento do mundo, da vida e do mundo da vida, que é o erotismo” (PIERUCCI, 2013. p. 220). O texto ao qual Pierucci se refere é o seguinte: [...] A euforia percebida como "bondade" por aquele que é feliz no amor, com sua simpática necessidade de compor para o mundo versos que expressem alegres fisionomias ou de encantá-lo com um inocente ardor para agradar, depara assim


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sempre (aí se enquadram, por exemplo, as mais coerentes - do ponto de vista psicológico - passagens nas obras iniciais de Tolstói) com o frio escárnio da ética da fraternidade radical, de fundamentação genuinamente religiosa. [...] (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 538)

Essa “descoberta” não é, contudo, como visto, o cerne da tese defendida por Pierucci para sua livre-docência em Sociologia, mas tão somente um “treat” intrigante para seu leitor.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS “Delicious treat” diríamos, pois as discussões acadêmicas a respeito do “reencantamento do mundo” são inúmeras, denotando seu inebriante sabor. Basta uma simples busca em sítio próprio, na “internet” e ter-se-á inúmeros verbetes a respeito (artigos, teses, dissertações, livros, etc.). Muitos, muitos mesmo, vêem a própria religião como fonte de reencantamento do mundo, o que explicaria a expressiva disseminação de igrejas neopentecostais e movimentos carismáticos por todo o mundo, por exemplo. Alguns se especializaram no tema, como Hartmut Lehmann e Alkis Kontos, além do próprio Pierucci e Nicholas Gane. Há quem fale do “desencantamento” sob a falsa visão de “desilusão” e para esses, o reencantamento seria uma nova era de luz, otimismo e fraternidade, sob novos valores e conceitos ainda de fundo não só religioso, mas também científico e até mesmo ecológico, dentre outros. A menção à erótica como forma de reencantamento do mundo tornou-se a tônica específica de Pierucci. Wolfgang Schluchter, sociólogo da religião, um dos maiores estudiosos de Weber, em seu livro “O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber”, também afirmou que “Weber não descreve, naturalmente, qualquer desenvolvimento linear, porém um processo em que o progressivo desencantamento religioso do mundo e seu contínuo reencantamento permanecem entrelaçados.” (SCHLUCHTER, 2014. p. 39). Não apontou, nem explicou, contudo, onde e como seria esse processo de reencantamento. Mais adiante, volta Schluchter a afirmar que “[A]parentemente, o desencantamento do mundo produz com ele a necessidade de seu encantamento.” (SCHLUCHTER, 2014. p. 44) e em


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seguida reafirma que o desencantamento do mundo “[...] Trata-se de um longo processo, conduzido, principalmente pela religião de salvação judaico-cristã e pela ciência grega e moderna, no qual o desencantamento e o reencantamento estimulam-se mutuamente, [...]” (SCHLUCHTER, 2014. p. 46). Com efeito, o protestantismo ascético, especialmente o calvinista pregou a doutrina da predestinação, segundo a qual uns eram agraciados pela glória, outros condenados ao malogro, criando um sentimento de infinita solidão interior nos indivíduos, pois somente os “eleitos” eram capazes de compreender a palavra de Deus, e não havia qualquer salvação eclesiásticosacramental que o pudesse salvar. Só a consciência protestante ascética conseguia conter, parcialmente, os conflitos entre as esferas mundanas de ação e a religião. A certeza da salvação não era confirmada por meio de obras meritórias isoladas, mas por uma conduta de vida racionalizada de ponta a ponta, sóbria e distantes das vicissitudes mundanas, porquanto o trabalho intramundano era entronizado como meio para o aumento da glória de Deus na terra, propiciando aos crentes o alívio de que seu comportamento não só era benquisto por Deus, mas, “fruto direto da ação divina”. Sob o prisma do protestantismo ascético, pois, as esferas irracionais da vida, a artística e a erótica, foram, igualmente, “racionalizadas”. A ascese sexual despojou o sexo de seus elementos eróticos, desencantando-o, reduzindo-o aos fins reprodutivos. Quaisquer traços de lascívia e luxúria eram condenados, sendo as relações conjugais eroticamente motivadas execradas. Só a férrea consciência puritana conseguia apascentá-lo. A ética religiosa da fraternidade, típica das religiões de redenção, encontrou uma profunda tensão com “a maior força irracional da vida”: o amor sexual. Daí cremos poder Schluchter asseverar que há um “reencantamento” que retroalimenta o desencantamento tanto religioso como científico, pois, se por um lado a força sexual é irracional e poderosa, por outro lado, diariamente a ciência quebra um tabu, uma magia e nos remete de volta àquele mundo sem significação subjetiva, duro, corrompido, desprezível e no qual os desejos sexuais são reprimidos. Toda vez que vêm à tona, por meio das novas descobertas da ciência (tecnologia, por exemplo, que traz a lascívia para o âmago da vida das pessoas, através dos meios de comunicação), a ascese cala os impulsos sexuais luxuriosos. Vemos aqui o momento em que o pensamento desses dois eminentes estudiosos de Weber se encontram. Schluchter deixou um espaço no qual onde podem se encaixar as ponderações de


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Pierucci no sentido de que, como já citado:

O desencantamento do mundo pelo monoteísmo ético atravessa como um vetor o Ocidente no bojo da milenar dominância cultural de uma imagem de mundo metafísico-religiosa crescentemente unificada e internamente sistematizada, que terminou por se impor como fundamento legítimo da ordem social como um todo. Com o advento da modernidade e a ruptura dos laços tradicionais por uma série de fatores, inclusive no plano cultural e no da personalidade, Weber diagnostica uma importante inflexão no processo de racionalização ocidental: agora é possível conceber a esfera doméstica e a economia, a política e o direito, a vida intelectual e a ciência, a arte e a erótica, independentemente das fundamentações axilológicas religiosas. Cada esfera de valor, ao se racionalizar, se justifica por si mesma: encontra em si sua própria lógica interna – uma legalidade própria [...] – que a leva a se institucionalizar autonomamente e a se consolidar e se reproduzir socialmente pela formação de seus próprios quadros profissionais, encarregados de garantir precisamente sua autonomia. (PIERUCCI, 2013. p. 138)

Não podemos afirmar que Schluchter e Pierucci estivessem falando do mesmo “reencantamento”. Mas é fato que ambos trataram do assunto como sendo produto da obra do próprio Weber. Na verdade, o “treat” com que Pierucci brinda o leitor de sua tese já era objeto de sua curiosidade científica desde 1998, quando escreveu “O sexo como salvação neste mundo: a erótica weberiana nos ensaios reunidos de sociologia da religião”:

Como se pode ver é deveras muito alto, altíssimo, o nível teórico alcançado pela reflexão weberiana em torno do erótico nos últimos anos de sua vida. Impressiona como é elevado, grandioso, extremado: alleräusserst. E aqui, neste ensaio metodológico [Pierucci refere-se ao ensaio weberiano sobre o sentido da “neutralidade axiológica” nas ciências sociais, que é de 1917], ele alça este ligeiro, porém altaneiro vôo para logo em seguida concluir o parágrafo reatando a erótica com suas considerações sobre o método científico, tema central do ensaio: “Qualquer que seja a posição por nós assumida perante tal pretensão, ela em todo caso não pode ser provada ou refutada com os meios de nenhuma ciência. [...] Novamente, a separação das esferas de valor como chave mestra. (PIERUCCI, 1998. p. 7)

Em Weber, segundo o próprio, a relação erótica: [...] Situada de modo tão radical quanto possível em oposição a tudo o que é objetivo, racional, genérico, a ilimitação da entrega direciona-se nesse caso ao único sentido que o ser individual, em sua irracionalidade, tem para aquele - e apenas aquele - outro ser individual. Da perspectiva do erotismo, entretanto, esse sentido (e, com ele, o valor contido na própria relação) reside na possibilidade de


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uma comunhão sentida como um completo tornar-se um [Eins-Werdung], como um desaparecimento do "outro", e que, de tão avassaladora, é interpretada "simbolicamente" como sacramental. Precisamente aí - na injustificabilidade e na inesgotabilidade da vivência própria (não comunicável por nenhum meio), que nisso se equipara à do "ter" místico, em não só graças à intensidade de seu modo de vivenciar e sim segundo a realidade imediata possuída - o indivíduo que ama se sabe implantado no cerne de algo verdadeiramente vivo e para sempre inacessível a todo esforço racional, tão inteiramente escapado das mãos frias de esqueleto das ordens racionais quanto do embotamento do cotidiano. [...] (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 536)

É, pois, compreensível a obstinação de Pierucci em relação à erótica em Weber, ao final de sua tese de licenciatura, em especial se considerarmos que Weber foi casado com Marianne Weber uma das alunas pioneiras na universidade alemã que integrava grupos feministas de seu tempo. Uma mulher avançada para o seu tempo. Talvez luxuriosa... Também é digno de nota que, como biógrafa do marido Marianne se calou quanto à vida amorosa mantida fora do matrimônio por seu amado: Else Jaffé e Mina Tobler nunca foram mencionadas como amantes na biografia feita por Marianne. Ou seja, esposa “moderna” e vida extraconjugal habitavam as ponderações de Weber. Contudo, se a objetividade biográfica de Marianne patinou diante do fulgor erótico do marido, entendemos que Weber não o tenha feito em sua "Reflexão intermediária". Se às folhas 538 citada acima, do livro de Botelho, falou em encanto; às folhas 540 voltou a tratar do "desencantamento do mundo" ao discorrer: Mas é certo que em sua forma mais ampla e fundada em princípios a tensão consciente da religiosidade acaba por se tornar o reino do conhecimento intelectual. ... Porém, onde quer que o conhecimento racionalmente empírico tenha executado de modo coerente o desencantamento do mundo e sua metamorfose num mecanismo causal, ficou evidente a tensão contra as reinvindicações do postulado ético de que o mundo seria um cosmo organizado por Deus, mas de algum modo orientado em termos eticamente dotados de sentido. [...] (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 540)

Fato é que, Weber sempre foi cético em relação à luta por um modo de vida que buscava escapar do mundo e advertia contra os falsos profetas. Ele nunca admitiu qualquer chance de sucesso ao desejo deles de realização da bondade e do amor fraterno, num mundo alheio aos impulsos animais ainda imanentes à natureza humana, e da racionalização da religião e dos sentimentos.


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Weber tratou em sua "Reflexão Intermediária" das várias tensões permanentes entre as religiões de profetas e salvadores e as ordens do mundo, seja na erótica, seja na política, na comunidade natural do clã, na economia e na própria ação racional e no conhecimento intelectual, concluindo que "a busca especificamente intelectualista, mística, da redenção diante das tensões também caiu, ela mesma, vítima da dominação do mundo pela desfraternidade." (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 549).

Quem a cumpriu, em essência, com total consistência foi a crença na predestinação. A reconhecida impossibilidade de medir os desígnios divinos com parâmetros humanos significou, com uma clareza que desconhece o amor, a renúncia à acessibilidade de um sentindo do mundo para o entendimento humano, uma renúncia que, com isso, também pôs fim à problemática dessa espécie. (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 551)

Por tudo quanto foi dito, não nos convencemos de que a idéia de “reencantamento” do mundo preconizada pela erótica esteja nos textos de Weber; nem mesmo de que o reencantamento por si só povoasse as ideias de Weber. Ou de que Schluchter tenha entrevisto nas palavras de Weber uma teoria sobre o “reencantamento” do mundo. Verificamos, sim, que a controvérsia a respeito da “erótica” na teoria de Weber data da época mesma em que o autor ainda era vivo. Fruto das divagações de seus intérpretes e críticos, mas não do próprio autor. Este, dedicou-se à “erótica” em seus estudos, tanto quanto às demais “tensões permanentes” da religião de profetas e salvadores com as diversas ordens do mundo. Não lhe deu maior ou menor atenção do que às demais ordens do mundo, tais como à política, à economia, ao racionalismo, à ciência, etc. É o que se nos dá conta o excelente e esclarecedor artigo de Wolfgang Schwentker, historiador alemão que também se debruçou com afinco sobre as obras de Weber, e que consta dos anais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), cujas palavras transcrevemos para finalizar este breve estudo de uma forma esclarecedora e provocante: O tema que perpassa essas discussões foi desenvolvido por Weber no contexto de uma sistemática investigação em história e sociologia da religião, sobretudo na parte que trata da sexualidade e do erotismo, no capítulo “Ética religiosa e o mundo” de Economia e sociedade e, na mesma linha, no tópico “A esfera erótica” de Reflexões intermediárias: rejeições religiosas do mundo e suas direções. Aqui


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ele se afasta bastante das referências históricas reais e das experiências de vida pessoal e, livre das reflexões psicologizantes (tais como as que Otto Gross ainda tinha em mente), se concentra antes num modelo de processo “típico-ideal”. Nessas passagens, Weber apresenta o erotismo como uma daquelas ordens de vida que existem em tensão entre uma orientação ética de cunho religioso, mais estritamente de renúncia ao mundo, e as demandas objetivas do mundo moderno. Ele descreve a relação original entre a sexualidade e a ética da salvação como extremamente íntima nos primórdios. Exemplares são as práticas orgiásticas de magia, nas quais a paixão, elevada até o êxtase, é consumada como um ato de culto. Foi somente a regulamentação da sexualidade em favor do casamento que iniciou o processo que levou, por sua vez, a uma dissolução permanente da relação originalmente íntima e, numa segunda fase de diferenciação, favoreceu a sublimação da sexualidade em “erotismo”, no sentido de “uma esfera conscientemente cultivada para além de toda rotina da vida.” Weber associa, assim, a desnaturalização da sexualidade a “padrões universais de racionalização”, mas a seu ver isso não elimina de forma alguma a natureza totalmente ambivalente do erotismo. Ao contrário, precisamente por que isto é experimentado como um gozo consciente, ao mesmo tempo que assume uma natureza sensitiva e fortemente emocional, abre caminho “para o âmago mais irracional e, portanto, mais real da vida, em contraposição aos mecanismos da racionalização”.a

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PIERUCCI, Antônio Flávio. O sexo como salvação neste mundo: a erótica weberiana nos Ensaios Reunidos de Sociologia da Religião. São Paulo: VIII Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina, 1998 PIERUCCI, Antônio Flávio. O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber. 3º edição. São Paulo: USP, Programa de Pós-Graduação em Sociologia da FFLCH-USP/Editora 34; 2013. SCHLUCHTER, Wolfgang, O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; 2014. SCHWENTKER, Wolfgang. A paixão como um modo de vida: Max Weber, o círculo de Otto Gross e o erotismo. Disponível em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_32/rbcs32_10.htm. Acesso em 04/02/15. WEBER, Reflexão intermediária: teoria dos níveis e direções da rejeição religiosa do mundo in Botelho, André. Essencial sociologia, 2013. Penguin Companhia das Letras, São Paulo, 2013.

a SCHWENTKER, Wolfgang. A paixão como um modo de vida: Max Weber, o círculo de Otto Gross e o erotismo. Disponível em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_32/rbcs32_10.htm. Acesso em 04/02/15.


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