Dança em Sergipe: dez anos em três

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - JUNHO-AGOSTO 2009

CONTEXTO

12 Cultura

Dança em Sergipe: dez anos em três 4-3-2-1! Apesar de quase sempre silenciosa, essa contagem inicial de toda e qualquer dança ressoa agora como importante indicador de um novo cenário no Estado. Mas qual seria o estopim? Natália Vasconcellos ................................................. nataliavasconcellos.86@gmail.com

foram em torno de 1500 pessoas, enquanto neste ano, 2500 prestigiaram.

basicamente de mostra. No entanto, Lindolfo Amaral, diretor do Teatro Tobias Barreto e organizador da SSD, pontua que pelo menos duas companhias surgiram com a mostra, a Cubos e a Espaço Liso. Além disso, Rodolpho Sandes admite que a Semana possibilita a demonstração pública de pesquisas em forma de trabalhos coreográficos de grupos já existentes. E o melhor é que, a cada ano, o público se estende.Em 2008,

FOTO: ARQUIVO PESSOAL LÚ SPINELLI

Contudo, é certo que os indícios estão surgindo direta ou FOTO: DINHO DUARTE indiretamente dos governos estadual e federal. Há quem diga que outros tempos foram melhores, mas o que se espera é que se perpetuem políticas culturais de fomento à dança, como a contemplada pela Cubos. Com o espetáculo Reverso, a companhia recebeu o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2008, do Ministério da Cultura, que através da Petrobras patrocina montagens coreográficas originais. Outras práticas de apoio do Estado são o lançamento do Edital César Macieira de Artes Cênicas, para circulação de obras prontas em teatro, dança e circo, e o convênio entre a UFS e a Academia Sergipana de Letras, de incentivo ao conhecimento sobre dança, promovendo palestras e ciclos de estudo. Carolina Naturesa sugere: “para o desenvolvimento de políticas culturais para a dança no Estado, é preciso que os segmentos que se sentem prejudicados formem algum tipo de representação e reivindiquem a criação dessas políticas culturais, por indicações, sugestões e pedidos da própria classe da dança, não só esperando que o Governo diga como quer e pode criar estas políticas”.

Pensando a dança... A bailarina Renata Carvalho, da Cia Rosa Negra, lamenta: “viver de dança não traz retorno. Não é rentável, não é lucrativo”. De fato, mesmo com a visível abertura, a dança em Sergipe ainda não pode ser caracterizada como mercado e se enquadra mais no campo do entretenimento e menos como área artística, área de conhecimento. Entretanto, essa conjuntura está se modificando desde a implantação da Licenciatura em Dança da UFS, em 2006. “Numa academia, as pessoas fazem dança. Na universidade, as pessoas estudam a dança”. As palavras de Carolina Vaz, estudante da citada graduação, resumem bem.

o curso não foi criado com estrutura adequada, e que enfrentaram situações delicadas devido à falta de segurança e de iluminação antes da inauguração do Campus das Artes, em Laranjeiras (ver pag.13). Houve semestres em que algumas disciplinas não puderam ser cursadas por falta de professor, atrasando o andamento do curso. Este ano, três novas professoras passaram a integrar o corpo docente efetivo do curso de Dança: duas com formação em Educação Física e uma em Artes, todas doutoras com trabalhos direcionados a dança. Ana Angélica Góis é uma delas. Graduada, mestre e doutora em Educação Física dirigida à dança, ela é bastante otimista: “as possibilidades de mudanças são de nossa responsabilidade, e já começamos com a alteração da grade curricular, pois as ideias entre licenciatura e bacharelado estavam muito confusas. Temos que focar aspectos de licenciatura”. Ela destaca que todos que fazem parte do curso estão cientes de que tem de mudar, com contribuições. Ela explica que os alunos, principalmente os da primeira turma, ainda têm um referencial muito negativo do curso, enquanto os novos já vivem outra fase. Sem dúvida, Laranjeiras é um espaço destinado às artes e à dança enquanto linguagem profissional no nosso Estado que está funcionado. “É um marco!”, vibra Ana.

Naturesa também é docente substituta desta faculdade. Para ela, o curso é “um divisor de águas entre a atuação de leigos como professores de dança e realmente quem está habilitado a ser professor de dança em escolas e nos demais espaços artísticos, educacionais e sociais”. E frisa: “sou professora efetiva de Artes na rede estadual de educação e sei o quanto é importante ter pessoas realmente qualificadas e habilitadas para atuarem na área”.

Coreografia: Mestiçagem FOTO : LUCIANA R:IBEIRO A RQUIVO PESSOAL LÚ SPINELLI

fadado a problemas FOTO: estruturais. Alguns L UCIANA R IBEIRO graduandos afirmam que

Cia. de Dança Cubos, em ‘Multipleto’, seu 2º trabalho

Nos últimos três anos, desde o A Mostra Dança Cultart também surgimento de algumas mostras como a começou em 2007 e já teve três edições Semana Sergipana de Dança e a Mostra aperiódicas. Comandada pela bailarina e Cultart de Dança, e do curso de professora Janaina Veloso, essa iniciativa Licenciatura em Dança na Universidade oferece, desde a segunda edição, uma Federal de Sergipe (UFS), é notável a oficina com participação de profissionais ampliação de produções coreográficas de outros Estados. O evento, apesar de independentes no Estado. Não que antes não ser realizado em um grande palco, não existissem. Afinal, o Faz Dança conta como mais um potencial formador completou 12 edições em 2008 e o de público. Festival de Artes de São Cristóvão (FASC) Ainda, houve, em junho passado, é quase quarentão. No entanto ‘salta aos no Teatro Tobias Barreto, o 1º Festival olhos’ o aumento de público nesses Nacional de Dança de Aracaju, produzido eventos. O número de escolas e pelos bailarinos e professores de balé academias foi o primeiro a crescer. Assim Júnior Oliveira e Klely Perelo. Ela, que como se passou a perceber e buscar mais desde junho de 2008 compõe o corpo apoio junto aos governos estadual e docente de substitutos no curso de federal, que só podem desenvolver a Dança-Licenciatura da UFS, revela o dança através de políticas culturais locais quanto o vínculo com a Universidade e visíveis. Maíra Magno, professora e contribuiu para concretização do festival. bailarina profissional de danças árabes “Íamos fazer somente uma oficina, há 12 anos, resume: “evoluímos 10 anos depois passou para mostra, até em três”. resolvermos montar o concurso”. O Desde a inauguração Foto: Lúcio Telles festival funcionou como mostra do Teatro Tobias Barreto, competitiva, com direito a em 2002, a dança premiação, e paralelamente os apresentada em Sergipe, workshops de balé clássico, seja do Estado ou de fora, dança contemporânea e jazz. ganhou um local próprio e condizente com o que Todas essas mostras danças acadêmicas bem existem, a princípio, pela elaboradas exigem. A necessidade que os possibilidade de trazer artistas têm de montagens coreográficas demonstrar publicamente nacionais e internacionais seus trabalhos coreográficos. ampliou-se e, com isso, Carolina Naturesa, mestranda estimularam-se as em Dança pela UFBA, extrai ambições acerca do que se uma conclusão de sua produzia por aqui. Os pesquisa: “hoje em dia, Ewertton Nunes e espetáculos das escolas e vários grupos de danças Raquel Leão: Cia. academias de balé e de folclóricas só se Espaço Liso outras danças se apresentam com aprimoraram em qualidade pagamento de cachê, ao técnica e artística, algumas contrário destes outros chegando a apresentar adaptações de grupos e companhias, em que eles repertório clássico semi-profissionais, mesmos produzem seus espetáculos, outras utilizando muito mais da pagando figurinos, cenários, luz, criatividade, que antes se restringia pelo equipamentos, etc, e dançado muitas meio físico. Para Rodolpho Sandes, diretor vezes de graça, perpetuando a e bailarino da Cubos Cia. de Dança, “os impressão de necessidade de profissionais puderam conhecer algumas escoamento, já que quase inexiste um técnicas, conceitos e práticas coreográficas, mercado que acolha toda essa produção ampliando seus vocabulários corporais”. independente”. Porém, toda produção ainda era muito fechada às mostras de fim de ano das O governo e os independentes escolas. Existiam poucas produções de Segundo Lindolfo Amaral, a SSD foi grupos e companhias independentes, e criada com base na constatação da o que eles faziam não era muito visto. dificuldade dos grupos em se Eram as pequenas intenções de apresentarem no TTB, devido ao custo e profissionalização artística. à disponibilidade das pautas. A partir As mostras: o grande estopim disso, a idéia foi colocada em prática por meio do apoio governamental da A Semana Sergipana de Dança Secretaria de Estado da Cultura. Para a (SSD) teve início em 2007 com o objetivo delegada-representante de Sergipe no de reunir grupos para reflexão e Conselho Brasileiro de Dança, Lú Spinelli, construção do movimento dessa arte no “é dever do Estado trazer políticas Estado e para estimular a melhoria da sua públicas de cultura para a sociedade. A qualidade técnica. A proposta é

mostra (SSD) é obrigação. Deveriam existir também políticas de manutenção de grupos”. Spinelli, que já manteve o grupo profissional Studium Danças, na década de 1980, sabe bem como é o mercado local.

Entretanto, a faculdade é uma proposta incipiente, o curso é novo, por conseguinte está

FOTO: LUCIANA RIBEIRO


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