Revista NANU! 9

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sempre as horas “eu sou a moda” identidade genuína cidade conceito alexandre herchcovitch recorta e conta inexorável the beauty closet uma nova moeda atemporal tudo ao mesmo tempo i’m with the band skull days empty pool, heavy skull jeanne trilha ensolarada o rei do cool domadores do tempo batalha tarantinesca la festança! provocação do imaginário sem tempo e espaço la toute première moderno e démodé ativista gastrônomico um traço no infinito glamour sob encomenda celebrations & partys

JEANNE, ` DONZELA DE ORLEANS A heroína Joana D’Arc inspira um ensaio de atmosfera medieval

em vermelho e azul turquesa:

EMPTY POOL, HEAVY SKULL

EUR 3,50 R$ 10,70

1984-6711

ANO 2 - 9/10 2009 - EDIÇÃO 8

ISSN 1984 - 6711

BRAZIL

KIKI HOFFMANN a empresária de moda e beleza para o tempo como a não modelo da edição


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A proposta da NANU! é tirar da cena comum pessoas, imagens e ideias, questionando e conectando os diversos conceitos do mundo contemporâneo.

iniciativa LOOSHstudio Fotografia e Design SS

NANU!! #9 Novembro . Dezembro 2009 acesse a versão virtual www.nanu.com.br editora chefe

Susana Pabst susana@nanu.com.br diretor de planejamento

Guilherme Bauer

guilherme@nanu.com.br jornalista

Caroline Passos . DRT/SC 02251 caroline@nanu.com.br design e arte

Fernando Denti

fernando@nanu.com.br

Gabriela Schmidt

gabriela@nanu.com.br designer assistente

Fabiúla Cenci

fabi@nanu.com.br tratamento e finalização

LOOSHstudio Fotografia e Design SS

capa modelo

comercial

Priscila Figurski

priscila@nanu.com.br

Sandro Spergort

Kiki Hoffmann vestido Caviar for Ladies fotografia

conselho editorial

Guilherme Bauer e Susana Pabst

Susana Pabst edição

Agradecemos a todos os nossos colaboradores de texto, arte e fotos: Alan Pires, Adriana Nunes, Alisson Corrêa, Anderson Lourenço, Camila Martins, Carlos Eduardo “Ado” Silva, Douglas de Souza, Douglas Dwight, Eduardo Kottmann, Ford Models, Frederico Flores, Gabriela Paludo, Gabriela Telles Moreira, Godofredo de Oliveira Neto, Helena Schürmann, Ike Gevaerd, Jaqueline Nicolle, Joice Simon Alano, Juliana Gevaerd, Kiki Hoffmann, Leon, Leo Laps, Marina Melz, Miguel Estelrich, Nilma Raquel, Pedro Hering, Priscila Figurski, Sávio Abi-Zaid, Solange Kurpiel, Talita Hoffmann; também aos anunciantes, pontos de distribuição, e a todos que, direta ou indiretamente, contribuem para concretização da NANU!, e que desde sempre apoiaram nosso projeto. Muito obrigado! Todos os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião dos editores.

LOOSHstudio Fotografia e Design SS periodicidade . Bimestral impressão . Impressora Mayer distribuição . Principais bancas do Vale do Itajaí, região norte e litorânea do Estado de Santa Catarina, Banca Shopping Iguatemi em Florianópolis, Livrarias Cultura de São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Recife, e Haddock Lobo Books & Magazines, São Paulo. Internacionalmente a revista é distribuída em Berlim por A Livraria, especializada em publicações brasileiras, e por Do You Read Me!?

contatos endereço Rua 2 de Setembro, 1618, sala 7, Itoupava Norte, Blumenau, Santa Catarina, Brasil, CEP 89052-000 telefone 55 47 3234 0772 revistananu.blogspot.com twitter.com/revistananu comunidade no orkut Revista NANU!

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Shopping Neumarkt 2ยบ piso - Tel.: (47) 3035 1685 NANU! 9


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C O L A B O RADORES

Adriana Nunes Direto de Berlim, a jornalista fala sobre a carreira e a exposição Paraíso Tropical do fotógrafo Paulo Greuel AHA Estilo O power trio Helena Schürmann, Alisson Corrêa e Gabriela Paludo produziu o editorial da capa Atemporal. Alan Pires O maquiador cuidou dos cabelos e do make da não modelo no editorial Atemporal Carlos Eduardo “Ado” Silva Mostra como o U2 e o Kiss continuam conquistando fãs de todas as idades

Douglas Dwight O roteirista e dramaturgo indica festas de Hollywood para ocasiões da vida real Douglas vs Duh A dupla mostra que não há cemitério no tempo para as camisetas de banda Eduardo Kottmann e Gabriela Telles Moreira Os superprodutores encararam a produção do editorial Empty Pool, Heavy Skull Frederico Flores Fugindo do óbvio, o produtor musical escolhe as melhores músicas do ano para o verão Godofredo de Oliveira Neto A atemporalidade na literatura nas palavras do renomado escritor

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Ike Gevaerd O empresário convida à uma visita ao Vale da Morte nos EUA Jaqueline Nicolle Toda a criatividade e exotismo do estilista Bernhard Willhelm inspiram a fashionista Joice Simon Alano A consultora de moda escreve como Chanel sobreviveu ao tempo e se tornou ícone da moda Juliana Gevaerd Fala sobre o “contador de histórias”, o designer Flammarion Vieira

Kiki Hofmann Estreia nesta edição abrindo seu Beauty Closet e como a não modelo no editorial Atemporal

Talita Hoffmann A designer e ilustradora portoalegrense mostra seus traços nas Janelas

Leon Conversa com Iury sobre Tony Bennett, o crooner que teve Sinatra como mestre e amigo

Sávio Abi-Zaid Analisa a obra-prima de Tarantino, Bastardos Inglórios, e faz uma análise da carreira do diretor

Marina Melz Escreve desde que se entende por gente e assina a parte literária das Janelas. Miguel Estelrich Mostra a coleção Jeanne Donzela de Orléans e, em Empty Pool, Heavy Skull, fez make das ruivas no editorial Nilma Raquel Para a jornalista, a autoestima tem que ser prioridade na batalha conta as rugas

Pedro Hering A cobertura dos top eventos pelo jornalista em Transitando Solange Kurpiel A jornalista leva a um passeio pelo Palácio Real, o vizinho ilustre do Louvre em Paris



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- N O V E M B R O / DE Z E M B R O

SUMÁRIO

Inbox Editorial “eu sou a moda” identidade genuína cidade conceito “continuo fazendo aquilo que acredito” Recorta e conta Inexorável the beauty closet uma nova moeda eu, modelo ATEMPORAL tudo ao mesmo tempo PRA FAVORITAR I’m with the Band SKULL DAYS Empty Pool, Heavy Skull 12 NANU!

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JEANNE TrILHA ENSOLARADA o rei do cool DOMADORES DO TEMPO BATALHA tarantinesca LA FESTANÇA! PROVOCAÇÃO DO IMAGINÁRIO SEM TEMPO E ESPAÇO La toute première MODERNO e DÉMODÉ Ativista gastrônomico TOY um traço no infinito GLAMOUR sob ENCOMENDA CELEBRATIONS & PARTYS hype SOCIETY ls&d


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- N O V E M B R O / DE Z E M B R O

I N B OX

NANU! # 8

140 caracteres

Brilhante evolução! Parabéns! Essa #8 conseguiu reunir uma série de pequenos detalhes que fazem toda a diferença. E se, como diz o ditado, Deus e o diabo disputam a sombra desse espaço, então, quanto não vale cada mísero detalhe? Cito três: 1) Fotos com a Sang Soon Kim - o que é isso? Absurdamente bem produzidas, todas elas! 2) Projeto Gráfico pequenos toques que lapidaram um trabalho que já estava bom. 3) Foto 8 da página 116: o ponto alto da revista!!! (risos). Agradecemos o carinho de vocês. Roger, Daniel e Simone, Blumenau

Comprem a @revistananu ... Vou feliz lendo a minha no ônibus lotado. Auriely Furtado, Recife, via Twitter

Adorei a revista!!!! Legal mesmo! Está tudo legal, o design gráfico, as fotos, as produções.... TUDO! Show! Parabéns! Renata Moura, Curitiba

Blog

Ganhei duas edições da revista do evento da Tecnoblu, e ambas estão muito interessantes. Parabéns! Mirella Melo, Blumenau, via Twitter A festa foi ótima, como todas as festas da NANU!. A Revista está muito bacana! Parabéns a todos!!! Paty Cardoso, via Twitter

Ops! Um dos blogs de Claúdia Vetter saiu errado nas Janelas da edição 8 da NANU!. Os endereços certos são personificando.blogspot.com e riot-act.blogspot.

Em São Paulo encontro a NANU! em qualquer Livraria Cultura? Vocês são ótimos, parabéns pelo trabalho! Sou a 100ª follower no Twitter da @revistananu. Daiane Nicoletti, São Paulo

Cartas

Olá, Daiane. Sim, a NANU! está em todas as unidades da Livraria Cultura. Em São Paulo, a Haddock Lobo Books & Magazines também faz a distribuição. Valeu por nos seguir!

Envie sugestões, opiniões, comentários ou críticas para a gente através do contato@nanu.com.br ou pelo twitter.com/revistananu. As cartas podem ser publicadas neste espaço.

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EDITORIAL SUSANA PABST

S empre as horas

O tempo não existe. Me dei conta disso, mais uma vez, ao assistir As Horas, filme baseado na obra de Michael Cunningham, com a soberba e indefectível trilha sonora de Philip Glass. Três mulheres, uma delas Virginia Woolf, vivem em diferentes períodos de tempo - início, meio e fim do século. Apesar da evolução e de todo o progresso, aquelas mulheres eram iguais. O amor, a dor, a dúvida. Nelas estava presente aquele singelo sentimento sobre a vida e a condição humana, sempre tão sutil e delicado. Nós criamos a ilusão do tempo - por uma questão organizacional e vivemos em função dele. Mas se observarmos a vida sem esse vínculo já tão arraigado em nossos genes, percebemos a assombrosa atemporalidade do universo, a constante repetição dos ciclos. Que somos como um rio que corre sem parar, mas que está sempre ali, estável e perene. Aquilo que atravessa o tempo e ainda assim permanece é que tem real importância. Esqueçamos a troca dos anos, e vamos comemorar o que é atemporal. Por isso, a NANU! 9 se inspira na beleza daquilo que poderia ser passado, presente ou futuro. Sem modismos, sem tendências. No ensaio principal, Kiki Hoffmann se entrega àquilo que desde sempre amou: o mar, o vento e a liberdade. Vê-se no resultado que a simplicidade das coisas belas dispensa maiores produções. Já em nosso editorial de moda piramos um pouco mais, e acabamos dentro de uma piscina... vazia. Ficamos felizes também pela oportunidade de fotografar e publicar nessa edição o resultado da pesquisa de Miguel Estelrich e Carvalhoneto sobre Joana D’arc. A atemporalidade está ainda na arte de Talita Hoffmann, ilustradora das Janelas, ela que foi selecionada na 2a mostra Novíssima do Museu do Trabalho de Porto Alegre. Na mesma seção, a estudante

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de jornalismo - já atuante na área - e escritora Marina Melz imprime seus pensamentos sobre o tema dessa edição. E claro, contamos com a participação de nossos colaboradores, que deixam essa edição super especial. Falando deles, Kiki Hoffmann, nossa não modelo e empresária de moda e beleza, passa a integrar esse time bom com a nova coluna Beauty Closet, com dicas poderosas e, segundo ela, infalíveis. Mais uma novidade bacana é a mudança do formato de nossa revista, que a partir dessa nona edição cresce ainda mais. Vale avisar que, ao menos no tamanho da forma, vamos parar por aí (apesar de loucos, não somos maníacos). No resto, queremos sempre crescer pois, iludidos ou não, nosso objetivo é atravessar o tempo - ora correndo contra ele, ora correndo a favor. Falando em tempo, chegou a hora da minha deixa para encerrar mais um editorial, me permitindo usar as palavras de Virginia: sempre os anos entre nós... sempre o amor... sempre a razão... sempre o tempo... sempre as horas. E beijos a todos.


COLETIVO NANU! | miscel창nea

Talita Hoffmann

talita.hoffmann@gmail.com flickr.com/photos/litsy NANU! 17


a não história

A música que você não fez sobre o nosso amor que nunca existiu foi minha trilha sonora todo o dia. Senti uma saudade quase louca de todas as noites que eu não passei olhando você dormir e da sensação de paz que nunca senti ao teu lado. Vi as fotografias que não tiramos das viagens que não fizemos e senti saudades do cheiro da sua nuca. Lembrei daquela festa bacana que nós não fizemos. Os amigos que não tivemos, o som que não ouvimos juntos e os cafés bacanas que nunca concretizamos. E aquele casamento? Acho que a festa do casal de melhores amigos que nunca tivemos foi à festa mais divertida da nossa falta de história. Sua gravata e meu vestido, que nunca existiram, combinavam tanto quanto o seu gosto musical e o meu. A cara que você não fez no primeiro dia que você acordou na minha casa que nunca existiu não poderia estar de fora dessas lembranças. Aquele dia das horas se espreguiçando que nunca existiram, da guerra de travesseiros que não tivemos e da decisão que não tivemos de assistir a um dos filmes que nunca compramos comendo um dos brigadeiros que você nunca fez. Impossível esquecer também aquele show que você não fez. A sua declaração de amor de que nunca existiu seguida dos versos que você nunca cantou e o público, aquele público que nunca esteve em lugar algum, aplaudindo quando eu disse sim ao seu pedido que não existiu. Aí eu lembrei sabe do quê? Daquelas pegadas que não ficaram na areia no dia que nós não trocamos alianças do nosso jeito, sozinhos e com todo amor do mundo, que nunca sentimos. Eu lembro perfeitamente dos quadros que nunca tivemos dos nossos ídolos misturados com os discos, filmes e livros que eu nunca soube se eram meus ou teus, e que no final nunca foram de ninguém. A nossa vontade que nunca existiu de aproveitarmos o nosso final de semana em casa recebendo amigos, comendo pizzas assistindo as comédias nacionais que nunca vimos. E aí, quando me bateu um medo violento do mundo, seu abraço que nunca existiu era o único capaz de conseguir me fazer acreditar. O jeito intenso de me fazer perceber que você sempre estaria ali nunca foi sua marca mesmo. E eu levava o computador para a cama grande que nunca tivemos e nós escrevíamos juntos aqueles textos bonitos que nunca existiram. Lembro exatamente do dia em que eu não descobri que você seria o homem perfeito pra mim. Quando eu não peguei na sua mão, nem olhei no fundo dos seus olhos que não pareciam ainda mais azuis, e não disse que te amava. De quando você não me pediu perdão por ter medo de amar, mas não falou que mesmo assim não queria mais viver longe de mim. Nossa história é aquela que nunca existiu. É uma quase não história. Mas eu vivi na cabeça tantas vezes cada um desses momentos, que eu até esqueço que só aquela que eu não fui, acompanhada daquele que você nunca foi, seriam capazes de viver um conto de fadas de verdade.

marina melz

marinamelz@gmail.com marinamelz.wordpress.com


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FASHION

JOICE SIMON ALANO

“eu sou a moda” 20 NANU!

fotos: divulgação

Criada em orfanato e recusada pela alta sociedade da década de 20, Coco ousou e inventou o significado para o que se chama hoje de estilo próprio

Às vezes me pergunto se em algum momento da vida pessoas brilhantes como Madonna, Michael Jackson ou Barack Obama, por exemplo, se deram conta de que um dia fariam tanto sucesso. Sucesso este que nem o tempo nem a tempestuosa mente humana seriam (ou serão) capazes de apagar. Quem nunca, em um momento fálico de narcisismo, se olhou no espelho e desejou um pouquinho de sucesso? Algum momento de brilhantismo capaz de trazer a possibilidade, mesmo que temporária, de fazer parte de alguma página de sucesso? Obstinação. Acredito ser esta a característica fundamental para quem deseja um dia não ser apenas mais um em meio a multidão. E é evidente que, para os olhos alheios, o sucesso alcançado pelos outros sempre parece ter sido mais fácil do que realmente foi. Ando estudando a trajetória de Chanel por saber que será lançado ainda este ano aqui no Brasil um longa sobre sua história – Coco antes de Chanel, estrelado por Audrey Tautou, a adorável Amélie Poulain – e não quero assistir ao filme sem saber exatamente quem foi esta eloquente mulher. Para os que se animam por moda, dizer que Chanel está entre os mais célebres estilistas de todos os tempos não é novidade. As razões para isto? Poderia listar no mínimo uma dezena, mas pretendo firmar estas linhas exaltando sua rígida postura e a forma como construiu sua brilhante trajetória. Chanel não nasceu em berço esplêndido, ao contrário, logo jovem perdeu sua mãe vítima de tuberculose e se viu abandonada em um orfanato da província onde vivia, juntamente com suas irmãs. Talvez deste convívio com freiras tenha surgido sua austera postura, e a reticente forma com a qual ocultava suas origens. Com 20 anos começou a trabalhar em uma loja e anos depois procurou emprego em teatros, mas nunca obteve muito sucesso. Em uma destas oportunidades Chanel tentou cantar, mas não gostaram muito de sua voz. Foi também nesta época que lhe puseram o apelido de Coco por saber apenas duas músicas, Ko-Ko-Ri-Ko e Qui Qu’a vu Coco. Chanel foi galanteada por alguns homens, e se rendeu a algumas paixões. Seus relacionamentos foram sempre com homens de posses e com alguma posição social - o que a impossibilitou de, durante a juventude, alcançar destaque social foi justamente sua origem humilde. Infelizmente a sociedade na qual vivia não acompanhou sua visionária forma de enxergar o mundo. No entanto, foi um grande apaixonado, Arthur Capel, que tornou possível a vontade de Chanel iniciar um comércio criando chapéus - que mais tarde a fariam ser reconhecida como uma novo expoente na moda local. Gabrielle Chanel impunha uma postura divergente de tudo o que era comum, ou pelo menos, aceitável pela sociedade do início do século 20. Por vezes, se trajava de homem para divertir a si mesma com a cara de reprovação das outras pessoas. Em 1910, após fazer chapéus em um endereço pouco conhecido, Chanel mudou-se para outro lugar onde se sentiu à vontade para fazer florescer ainda mais suas invenções. As clientes não paravam de chegar querendo conhecer a jovem criativa. Em 1912, a publicação mais influente de Paris, Les Modes consagrou com entusiasmo o talento desta nova modista: Gabrielle Chanel. Dez meses antes do início da Primeira Guerra Mundial, Chanel, ainda financiada por Capel, abriu uma nova loja na Rue Gontaut-Biron, um endereço chique de Paris. Em pouco tempo, Chanel incluiu blusas estilo marinheiro, o que chamamos hoje na moda de estilo nave, em sua loja. E tornou possível um pouco mais de conforto às mulheres para deixá-las mais à vontade em eventos sem tanta formalidade. Por volta de 1914 Chanel ficou reconhecida socialmente - e imaginem a que se atribuía tal reconhecimento? À sua simples atitude diferente de tudo o que havia na época. Chanel não parecia com ninguém, e entende-se por isso não apenas sua moda como também sua postura. Neste mesmo ano, ela ousou mais que nunca, e a partir de um suéter capturado do armário de um amigo criou o casto traje de banho. Aliás, os guarda-roupas de seus amantes sempre se tornariam referências para suas criações. Graças à Primeira Guerra Mundial e sua decisão de não fechar a loja, Chanel alcançou finalmente o respeito social e admiração da sociedade aristocrata da época. As mulheres tinham que se movimentar rapidamente e precisavam de trajes mais soltos sem maiores estorvos, tais como o próprio espartilho causava. Palavras da própria Chanel constatam esta mudança: “Um mundo terminava, um outro ia nascer. Eu estava ali; uma chance se oferecia e aproveitei. (...) Quando ia ao hipódromo, eu não duvidava que estava assistindo à morte do luxo, ao falecimento do século XIX, e também ao fim de uma época”.


Em 1916, a estilista alcançou sua independência máxima, e com cerca de 300 empregadas conseguiu finalmente devolver o investimento de Capel. Chanel teve seu primeiro modelo estampado na Harper’s Bazaar, era um vestido seco e reto, sem cintura e sem corpete, chamado pela revista de “a charming chemise dress”. Ela vestia mulheres da mais alta sociedade, e sua liberdade permitiu que a partir de então pudesse realizar tudo o que sempre quis. As inovações que Chanel propôs permitiram à moda finalmente mudar seus padrões completamente. As mulheres puderam se sentir livres em roupas soltas que não lhe prendessem e não marcassem mais suas curvas e busto. Com sua atitude avant-garde, permitiu não apenas a liberdade de escolha das mulheres, mas sim que pudessem ir e vir sem permissão. Pela primeira vez puderam andar pelas ruas de Paris sozinhas e a pé. A maturidade apenas permitiu mais sucesso a Chanel, no entanto, a concorrência apareceu naturalmente, e ninguém foi mais nociva à ela que Elsa Schiaparelli. Mas Chanel soube se cercar de muitos fotógrafos que capturavam seus melhores momentos e, assim como todos que a rodeavam, se apaixonaram pela sua postura e traços finos. Em decorrência da guerra, Chanel fechou as portas de sua maison, ao contrário de outros costureiros, e ficou fora do mercado por 15 anos. O esquecimento a constrangeu. Para piorar, um novo visionário subverteu completamente todo o vestuário: Christian Dior, em 1947, apresentou o que ficou conhecido como New Look a uma plateia estupefata. Os padrões foram novamente realinhados, ombros colocados e arredondados, cinturas marcadas e comprimidas, o busto voltou a ser valorizado e tornou-se provocante, bem como os quadris. As saias usadas durante o dia chegaram a ter 15 metros de tecidos, e vestidos de festa mais de 25 metros. A moda passou então à mão de homens como Balenciaga, Piguet, Fath e o já mencionado Dior. Em 1954, com então 70 anos, Chanel decidiu voltar e reabrir sua maison. Porém, a crítica não poderia ter sido mais controversa à sua vontade. De ingleses a americanos, as opiniões foram as piores possíveis.

Chamaram-na de atrapalhada, zombaram de sua idade e questionaram como puderam tê-la admirado tanto em outros anos. Entretanto, ao contrário de todas as expectativas, seus trajes tão mal interpretados venderam mais do que se imaginava. Assim como seu perfume Chanel Nº5, sua grande criação que lhe rendeu fortunas. A segunda coleção marcando seu retorno foi apresentada como Life. Em Nova York, compradores da 7ª Avenida começaram a chamá-la novamente pelo íntimo apelido Coco. Chanel reinou bravamente entre seus 79 e 88 anos, seus tailleurs eram incontestavelmente desejados por mulheres da Europa e EUA. Novamente Chanel modificou a moda e impôs sua vontade alfinetando ainda os costureiros masculinos em contraversão ao New Look: “Ah! Decididamente, os homens não são feitos para vestir as mulheres”. Muitos atributos podem resumir Chanel e o sucesso de sua trajetória: visão atemporal, atitude, rigor, talento. No entanto, sempre vai parecer faltar algo que defina o segredo para seu toque de Midas no que tange seu brilhante caso com a moda. A trajetória dela é a prova de que o sucesso depende, dentre outros fatores, da obstinação em alcançar algo que se acredita muito. No caso desta excepcional mulher, a liberdade feminina e a visão de uma vida moderna onde a roupa complementa os desafios diários de uma mulher ativa e apaixonada, antes de tudo por ela mesma. Gabrielle Chanel construiu a moda a partir de sua própria necessidade e com a ajuda de seu sucessor, Karl Lagerfeld, se mantém no apogeu máximo da moda mundial. Incontestável e desejada por personalidades das mais célebres a anônimos apaixonados pela moda. O estilo Chanel é tão forte que parece ter vida própria. Adoramos o corte de cabelo Chanel como se fosse de “ontem”, reconhecemos o marcante toque do perfume Chanel Nº5 e desejamos uma bolsa 2.55 mais do que qualquer outra. Chanel conseguiu ser mais do que atemporal, ela criou significado para o que chamamos hoje de estilo próprio.

um pouco mais... Coco Antes de Chanel não é o primeiro o filme que conta a história da estilista. Há também o curta-metragem de 10 minutos, dirigido por Karl Lagerfeld - atual diretor criativo da marca. O filme é mudo e conta com a participação de amigos próximos e fala sobre a vida de Gabrielle antes de a marca se firmar no mercado. Outro filme é Coco Chanel & Igor Stravinsky, do diretor Jan Kounen, que narra o possível caso entre a estilista e o compositor russo. Existe ainda a filmagem de George Kaczender, Coco Chanel, com Marie-France Pisier no papel principal. Para os que preferem documentários, a dica é Gabrille Chanel, Uma Estrela Imortal, uma produção francesa de 52 minutos dirigida por Gilles Nadeau, que traz entrevistas, fotos e vídeos sobre a vida de Coco. Cenas do curta de Karl Lagerfeld

Cartaz do filme de George Kaczender

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FASHION

JAQUELINE NICOLLE

identidade genuína

PARA Bernhard Willhelm, o mais importante NA criação é se libertar

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fotos: Lina Scheynius

A moda é transitória, um movimento vivo, que está sempre se modificando, um processo contínuo, que desafia todos os limites de tempo e espaço. Assim, a busca por atemporalidade na moda é um desafio. Para esta edição da NANU!, foquei minhas pesquisas em algo que, a meu ver, ultrapassa gerações: a identidade cultural. Existem pessoas que acreditam na busca por uma identidade nacional ou regional, a fim de caracterizar e proporcionar a distinção dos produtos de diferentes localidades geográficas. Com muito custo, levei certo tempo para formular uma opinião que, com alegria, é partilhada por muitos outros designers como eu. Não existe uma regra ou um conjunto de características que sejam perfeitamente comuns na linguagem de membros de uma mesma nacionalidade. A cada um pertence uma essência que é influenciada pelo ambiente em que se vive e pessoas com as quais se tem contato - que moldam os seres de acordo com a sua cultura e crenças - e, por consequência, se reflete em modos de expressão como na moda. Portanto, foi inevitável escolher Bernhard Willhelm. Em uma entrevista à Hint Fashion Magazine, ele afirmou que nunca acreditou em uma identidade nacional. Nativo alemão, residente na Bélgica, confessou que não decidiu se mudar para estudar moda, mas porque se apaixonou por alguém de Antuérpia, onde graduou-se em 1998. Bernhard começou a se apresentar nos desfiles de moda de

Paris em 1999 com uma coleção feminina e criou suas primeiras peças masculinas em 2000 - que só foram apresentadas três anos depois na Menswear Fashion Week. Possui uma marca própria há 10 anos - em sociedade com Jutta Klaus -, uma linha de calçados, e foi ele quem criou o White Wild Bunch online, uma linha de roupas que só está disponível na yoox.com. Seu talento foi comprovado por nomes como Walter Van Beirendonck, Dirk Bikkembergs, Alexander McQueen e Vivienne Westwood estilistas dos quais Bernhard foi assistente. Em 2002, estabeleceu-se em Paris e, paralelamente à suas coleções de 2002 a 2004, dirigiu a casa italiana Capucci onde lançou sua primeira coleção prêt-à-porter. Para os novos integrantes do mundo da moda, é interessante saber que Bernhard acredita que, quando se inicia uma coleção, o mais importante é trazer uma ideia muito clara - ele diz que seu processo de criação tem muito a ver com acidentes - e libertar-se para seus reais desejos. Atitude que lhe rendeu o prêmio ANDAM, como um dos mais promissores talentos da cena criativa. O estilista explica que o desenho serve para se expressar e que sempre perseguiu o exótico por ter a sensação de estar em uma prisão. Talvez por este motivo suas coleções já foram baseadas em temáticas surpreendentes, como a indústria automobilística japonesa. Bernhard admite ser preguiçoso e que precisa ser obrigado a trabalhar - já que se define através de seu trabalho - e, se não o faz, sente-se culpado. Gosta quando as pessoas fazem esforços, por ser uma atitude tão rara entre os seres humanos. Condena a ideia de moda como um símbolo de status. Afirma que não compra para parecer rico, e que não tem respeito nenhum por este tipo de comportamento. Conclui que a moda ligada ao status e ao dinheiro é óbvia e falsa, mata a criatividade e a personalidade de uma pessoa. Sensível e observador, Bernhard elucida que as coisas são vistas de maneiras diferentes quando se está longe de sua própria pátria. Com espírito vivaz, acredita que a melhor coisa sobre a vida é que se tem a possibilidade de mudá-la todos os dias, e que a beleza não é importante, já que beleza tem muito mais a ver com emoção do que com qualquer outra coisa. Bernhard é a prova de que quando uma pessoa se liberta e expressa suas verdadeiras aspirações e desejos contidos dentro de si a genuína identidade se revela através das ações e dos produtos finais.


Fotos de Lina Scheynius para a coleção outono/inverno 08/09 de Bernhard Willhelm

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FASHION

NANU!

fotos: Leo Laps

cidade conceito Desfile Arqueologia Urbana, produzido pelos alunos de Estlismo do Senai, mostrou Blumenau em três tempos

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Presente, passado e futuro. O desfile Arqueologia Urbana, desenvolvido por alunos do curso técnico em Estilismo do Senai, mostra Blumenau em três perspectivas. A coleção, totalmente conceitual, foi apresentada em outubro, no Teatro Carlos Gomes, paralelamente ao lançamento do Caderno Perfil - Inspirações e Tendências. Divididos em três grupos, duas turmas de alunos do terceiro semestre pensaram nos modelos de acordo com pesquisas sobre a cidade em cada época. A primeira equipe foi até a cidade em construção, com uma proposta clássica. O segundo grupo viu Blumenau agora. O Parque Vila Germânica, a Ponte Metálica, as flores e outras características do presente transformaram-se em inspiração. Pra encerrar, uma projeção de 50 anos na história da cidade. Com base no projeto que prevê a estrutura urbana de Blumenau daqui cinco décadas, os estudantes mostraram modelos futuristas, em uma estética clean e minimalista.


B R A S I L E I R I S S I M A . C O M

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FASHION

CAROLINE PASSOS | entrevista

“Continuo fazendo aquilo que acredito” As influências, criações, história e timidez do estilista Alexandre Herchcovitch

Com seu 1,78 m de altura, tênis Nike verde e amarelo, calça jeans e jaqueta preta, Alexandre Herchcovitch se encolhe na poltrona instalada no centro do palco do Teatro Carlos Gomes (TCG). Além dos holofotes, flashes insistentes vindos da plateia iluminam o rosto do estilista. Ao invés de se dirigir ao público, Herchcovitch prefere “conversar” com Cristiano Buerger, diretor de criação e inovação da Tecnoblu - e um dos fornecedores do estilista -, que divide o palco com ele durante o Tecnoblu Note. A “entrevista” ao invés do monólogo pode ser um recurso para superar sua característica mais conhecida, porém pouco compreendida: a timidez. Naquele dia, um atraso no voo prejudicou seus planos e o fez correr da avalanche de estudantes de estilismo que em poucos segundos invadiu o palco após a palestra. Ele tinha uma reunião marcada na Marisol, em Jaraguá do Sul, dali uma hora. Não parou para dar entrevista, mas prometeu retornar o e-mail no dia seguinte. Na sexta-feira, dois dias depois, as respostas chegaram. Um atraso compreensível para quem é chamado de “gênio da moda” e tem a agenda cheia. O contato de pouco mais de uma hora com Herchcovitch confirmou um pouco do que se lê em entrevistas e matérias sobre ele. Mostrou, por exemplo, o quanto é uma figura pop. Deu para observar isso quando ele entrou no palco do TCG ao som de Bizarre Love Triangle, do New Order, e as palmas de uma plateia em estado de êxtase superaram a música, como se aquele fosse o momento mais aguardado da manhã. Momentos antes, vestindo blusa vermelha, calça com brilho e uma echarpe luminosa, o consultor de moda Robi Spatti, um dos palestrantes do dia, havia brincado: “perto de Herchcovitch eu tinha que caprichar no figurino para aparecer”. Outra prova? As dezenas de pessoas pedindo autógrafos e fotos no final do evento.

Imaginário “herchcovitchiano” Aos 38 anos de idade, Alexandre Herchcovitch fez em pouco tempo o que muitos demoraram décadas para conseguir. Começou mostrando estilo próprio já no desfile de formatura, em 1993, a ponto de, um ano depois, ser convidado para integrar o time de jovens estilistas do Phytoervas Fashion - uma das origens de São Paulo Fashion Week. Dezesseis anos se passaram e o nome dele já esteve veiculado

de roupas, sapatos, móveis a isqueiros. Passou por grandes marcas como Ellus, Zoomp (uma curiosidade: seu grande sonho era trabalhar lá. Durante a palestra em Blumenau, contou que tinha várias calças da Zoomp e é capaz de lembrar dos detalhes de todas até hoje), Cori, Rosa Chá (pertencente ao grupo Marisol). Além disso, abriu uma marca própria, a Alexandre Herchcovitch, com uma loja filial no Japão aberta em 2007; e hoje integrada ao conglomerado InBrands - o mesmo que agrega as marcas Ellus, Isabela Capeto e São Paulo Fashion Week. Apesar de ter se transformado em uma figura pop, o estilista se encontrou no universo underground. Na adolescência, descobriu em Boy George, vocalista do Culture Club, uma influência que o guia até hoje. A mistura entre masculino e feminino, como a do cantor dos anos 80, sempre rendeu frutos no imaginário “herchcovitchiano”. Tanto que fez de Márcia Pantera, a mais famosa drag queen do Brasil, sua primeira modelo. Foi neste universo que abriu seus conceitos, derrubou limitações de estilo e inventou suas marcas. As interferências também vinham de seus dois criadores preferidos: o fetiche nos trabalhos da japonesa Rei Kawakubo, da Commes des Garçons, e a sexualidade nas produções do francês Thierry Mugler.

Origens O talento em criar foi incentivado desde o início. Filho de judeus não praticantes, estudante de escola ortodoxa, o estilista sempre teve apoio da família. Com 10 anos começou a dar pitacos nas roupas da mãe Regina e, aos 16, aventurou-se na máquina de costura que ganhou de presente dos pais. A confecção de lingeries da mãe foi uma escola. Regina é uma musa constante e até ano passado cuidava da produção na grife do filho mais velho. Os pais têm caveiras de Herchcovitch tatuadas, e junto com o irmão Artur e mãe o estilista fez a primeira de sua tatuagens aos 16 anos. Os desenhos são uma marca da forte ligação entre eles. Depois que aprendeu a costurar, ele sabia que seu caminho estava traçado a se expressar. Achou que a fotografia era um caminho. Chegou a trabalhar na área no Jornal da Tarde quando tinha 17 anos. Quando descobriu que havia um curso de moda na Faculdade Santa Marcelina largou o de artes plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado. Depois não parou mais.

- Os amigos que são inspiração: Johnny Luxo, David Pollak, Marcelo Ferrari (a Marcelona) e Geanine Marques - que, no desfile no São Paulo Fashion Week em 2003, cantou ao vivo músicas dos anos 50. Em comum, o gosto pela música, moda e a noite, coisas que Herchcovitch não separa e transforma tudo em moda; - Fez aulas de caligrafia e matemática, duas de suas paixões; - Considera 1993 o seu ano essencial, quando fez confirmações pessoais e profissionais; - Seu primeiro vestido foi um cor-de-laranja feito em organza de seda com bolas de pinguepongue costuradas na barra. Neste primeiro modelo, já demonstrava a preocupação com o caimento, uma de suas principais características. Ele jogou fora o vestido, mas sua mãe conseguiu resgatá-lo do lixo.

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+ www.myspace.com/geaninemarques www.boy.george.net www.thierrymugler.com en.wikipedia.org/wiki/Rei_Kawakubo www.discoverybrasil.com www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/index.shtm Cartas a um Jovem Estilista: A Moda como Profissão - De Alexandre Herchcovitch, Editora Elsevier, 160 páginas, R$ 35 (em média).

ilustração: LOOSHstudio/ fotos: Márcio Madeira

mais sobre HERCHCOVITCH


NANU! - Você fez o figurino dos filmes À Deriva, de Heitor Dhalia, e Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins - o Zé do Caixão. Como é o processo de escolha do que será usado nos filmes? É muito diferente de criar uma coleção? Sim, é bem diferente. Ao fazer uma coleção temos que pensar que ela vai ser vendida, um figurino não. Isso faz toda diferença. NANU! - Na palestra em Blumenau e no livro Cartas a um Jovem Estilista você comenta suas influências da década de 90. O que te influencia atualmente? O dia a dia, as pessoas que me cercam, a construção das roupas, os próprios tecidos e o que consigo fazer com eles além da própria história de marca. NANU! - Seus trabalhos são muito ligados à cultura popular e pop. O que você tem lido, assistido ou ouvido ultimamente? Como isso aparece nas suas coleções? Tudo o que faço aparece de maneira sutil. Tenho assistido a muito programas de animais na TV, programas de culinária e desenhos como Family Guy. Adoro folhear atlas, dicionários e guias de cidades do mundo. NANU! - Como foi a experiência de criar uma coleção de praia? A experiência está sendo muito boa, estou aprendendo dia após dia como é vestir e despir o corpo da mulher, o que esconder e o que mostrar sempre na medida certa. NANU! - Você comentou na palestra que com a experiência na Rosa Chá está a ponto de compreender a mulher brasileira e o mercado. O que te falta pra entender o mercado de moda brasileiro? A cultura brasileira é um tanto mutante, recebemos influências diárias de lugares diversos pois somos um povo aberto. Esta movimentação que é extremamente interessante faz com que tenhamos que entender um novo mundo a cada dia. NANU! - Suas relações com a indústria de moda catarinense estão se intensificando? Quais são estas ligações? Trabalho numa marca do Grupo Marisol, desenvolvo as malhas na malharia Dalila, estampo tecidos na Lancaster e a Tecnoblu tem papel importante na finalização de meus produtos pois oferece sempre o que há de mais atual em tecnologia. NANU! - Você acredita que a moda está cada vez mais democrática? Como isso interfere no seu trabalho? Penso sempre em como desenvolver produtos para todos e não mais para um único grupo de consumidores. A informação está para todos e todos querem consumir marca, design e qualidade. NANU! - Quanto o fato de ser uma figura pop e reconhecida pelo público influencia no seu trabalho? Não, jamais influenciaria. Continuo fazendo aquilo que acredito. NANU! - Como você faz para manter a criatividade ao passear por tantas plataformas (moda, cinema, design de móveis...)? Sou fiel ao meu gosto, ao meu público. Procuro ser aberto a novas ideias, ouço muito as ideias daqueles que confio e as mesclo com as minhas. NANU!- Há cerca de dois anos você escreveu Cartas a um Jovem Estilista. Hoje mudaria alguma coisa do que escreveu? De dois anos para cá as coisas mudaram... Minha marca não foi comprada pelo grupo I’M e sim pela Inbrands, estou na Rosa Chá, porém as dicas aos novos estilistas permanecem as mesmas.

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FASHION

JULIANA GEVAERD

Recortes de revistas ou de outro material gráfico que ache interessante colados e tratados sobre a madeira, crina de cavalo, fios de espinhos de coco, couros, pedras, ouro, prata e pérolas. A combinação de materiais tão diversos causa um resultado surpreendente em suas peças. Usa o figurativo como expressão de arte e adora modificar ícones ou relacioná-los com outras figuras e formas. Vem daí sua paixão em fazer colares, pois em peças maiores sempre se pode contar uma história... O artista faz sucesso também no exterior. Tem entre seus fãs a badalada designer francesa Andrée Putman e seu filho Cyrille. Madame Putman resume: “Atemporal e exclusivo: a mágica do Trompe L’oeil”. Flammarion conta como cria: “Sempre fui impetuoso, é assim meu processo de criação. Penso, desenho sobre a chapa, recorto e vou atrás de figuras e outras coisas bacanas para poder fazer com que este pensamento se transforme imediatamente em um adorno“. O artista pontua seu trabalho, classificando-o como wearable art jewelry. (algo como joias de arte para usar).

recorta e conta Admirado pela designer francesa Andrée Putman, o artista e designer Flammarion Vieira produz peças únicas e exclusivas com materiais inusitados Nesta edição “capturei” e apresento para vocês o “contador de histórias“. O artista/designer gaúcho, Flammarion Vieira, que já morou muitos anos em Brasília - onde começou a trabalhar com joias -, hoje vive em São Paulo e cria para Paris, Nova Iorque e, claro, São Paulo e Rio de Janeiro. Flammarion faz peças únicas, exclusivas e impregnadas de arte e conceito, com muita ousadia e bom humor. Aqui no Brasil, famosas como Ana Maria Braga, Maitê Proença, Mônica Waldvogel, Márcia Tiburi e Luciana Gimenez usam suas joias.

fotos: divulgação

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FASHION

NILMA RAQUEL | glamour

O ideal seria investir na vaidade pensando em conservar a autoestima e a confiança sem comparações nem angústia

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arte: LOOSHstudio

inexorável

“Bonita sou eu”. A Carin, que cuida do meu cabelo desde que eu cheguei a Blumenau, há dois anos, dá risada e diz que já adotou essa filosofia de vida. Costumo dizer isso quando alguém solta uma frase do tipo “Fulana é maravilhosa, como ela consegue?”, referindo-se a alguma celebridade que estampa as revistas que a gente costuma folhear nos salões de beleza, com o cabelo cheio de papelotes de tinta que fazem a gente parecer ainda mais bruxa perto da lindona que está na página. Assim como a maioria das mulheres que conheço, trabalho pra caramba, produzindo celulites em frente a um computador, sou motorista de duas crianças em outra parte do dia, e realizo mais uma lista interminável de tarefas que quem é casada e mãe conhece bem. Tempo para cuidar da minha beleza? Sobra pouco. Claro que eu visito o salão semanalmente, uso meus creminhos, tratei de perder uns quilos que não me deixavam desde a minha segunda gravidez e aderi recentemente ao Pilates, maravilha das maravilhas. Por que digo “bonita sou eu”? Porque eu acho que a Luiza Brunet - e outras celebridades congêneres - que vive da estampa e dedica a maior parte do seu tempo a mantê-la em ordem não faz mais do que a obrigação de estar inteiraça aos 40 e tantos. E aí pergunto de novo. Com todo o cuidado dispensado, ela tem cara de 25 anos? Assim como eu, não tem e pronto! (Apesar de obviamente eu não ser alucinada a ponto de dizer que estou melhor que ela). Ou seja, o tempo é implacável. Você pode malhar, massagear e esticar, mas não recupera nada, apenas dignifica, oxigena e empresta elegância. O frescor do tempo em que seu corpo ainda produzia colágeno é irrecuperável. “Ui, mas que amargor!”, observa você, que chegou até aqui... Não! Estou sendo assim tão direta em favor de nós mesmas, mulheres comuns – mesmo as que ainda não passaram dos 25 – que não podemos malhar três horas por dia (ou você pode?) e produzimos toneladas de angústia por querer competir com imagens que não correspondem à realidade. O último bastião do formol caiu para mim outro dia, ao assistir a Madonna conversando com o David Letterman (entre no YouTube e digite o nome dos dois para ver). Madge está ó-te-ma, sem dúvida. Mas, decepção das decepções, está com uma boca botocadíssima que a deixa com cara de uma mulher de... 50 anos! E não é essa a idade dela? Por isso acho que o legal seria que a gente alcançasse o nirvana de trabalhar por um corpo saudável e flexível, com atividades que nos dessem prazer, e investir – sim! - na vaidade, mas pensando em conservar a autoestima e a confiança decorrente dela. Sem comparações e sem angústia. Porque o tempo é inexorável. Para todos.


FASHION KIKI HOFFMANN

the beauty closet

Shining Summer Nas mãos mais hypadas do verão europeu, os tons de laranja, rosa e gold se destacaram! A Paul & Joe lançou uma série limitada de esmaltes próprios para a estação mais quente do ano com tripla ação em uma única aplicação: base + esmalte + brilho. O esmalte pode ser encontrado em três cores: Sommeil Precieux, Goldfinger e Rose Givre

Bye bye celulite

Aloe vera

Up Radical

O aloe vera é um regenerador celular, que renova células e fortalece o sistema imunitário, dando ao organismo o que ele necessita para estar devidamente equilibrado, permitindo assim que o próprio corpo combata os problemas que eventualmente tenha. Pode ser consumido em formato de suco, como o OKF Aloe Vera Juice. Tem imensos benefícios, como evitar enxaquecas, estresse, ansiedade e cansaço, baixar os níveis de colesterol, purificar o sangue do fígado, cicatrizar úlceras, tratar gastrites e regular o funcionamento dos intestinos, inibir a dor, melhorando dores crônicas de artrites, artroses e reumáticas, ajuda a fortalecer, regenerar e revitalizar o cabelo, ativa toda a circulação do corpo, desintoxica o organismo, elimina a retenção de líquidos, contribui para o combate de diabetes, hemorróidas, celulite e problemas da próstata, evita o cansaço das pernas, entre outros.

À base de resveratrol, estas cápsulas oferecerem à pele uma extra proteção contra os radicais livres (48%), ajudam a reduzir as rugas profundas e restauram a densidade da derme. Indicado para todas as peles cansadas, desvitalizadas e sem brilho, as Vinocaps da Caudalíe prometem ser milagrosas. Na sua composição, polifenóis de pepita de uva, resveratrol de videira, azeite de pepita de uva, antocianidinas extraídas da uva.

Para acabar de vez com a celulite e a flacidez, aposte no VelaShape. Sucesso no mundo todo, tem como adeptas Madonna e outras famosas. É o único aparelho eficaz e aprovado pela FDA (agência americana que regula produtos farmacêuticos) no combate contra a celulite. Reúne quatro tecnologias diferentes: massagem por rolamento (estimula a circulação e drena líquidos), infravermelho (melhora a oxigenação das células), sucção (favorece os fluxos sanguíneo e linfático, eliminando toxinas), radiofrequência (aquece a derme, provocando a quebra e a eliminação de gordura e auxilia a formação de fibras de sustentação). São necessárias no mínimo 12 sessões duas vezes por semana.

Power Plate

fotos: divulgação

É uma ótima alternativa para as pessoas que não têm muito tempo e nem paciência de ficar horas na academia. Os exercícios com a tecnologia Acceleration Training fazem o corpo trabalhar com até nove vezes mais intensidade que o normal. Apenas 20 minutos no aparelho são equivalentes a uma hora de musculação convencional. Foi criado para acelerar o ganho de massa muscular e reverter a perda óssea de astronautas quando voltavam do espaço. Depois, passou a ser usado na reabilitação de atletas e idosos por diminuir o tempo de fisioterapia. Com o tempo, percebeu-se que ele trazia benefícios extras, principalmente para as mulheres: a vibração estimulava uma espécie de drenagem linfática, melhorava a circulação do sangue, diminuía a flacidez e fortalecia a musculatura em tempo recorde

Bronze hi-tech Anthology A nova linha de perfumes da D&G chamada Anthology é inspirada em diferentes cartas de tarô. São cinco fragrâncias à disposição. Cinco supermodelos - Claudia Schiffer, Eva Herzigova, Naomi Campbell, Noah Mills e Tyson Ballou - foram fotografados nus por Mario Testino para a campanha, considerada uma das mais sensuais da marca.

A MagicTan traz o que há de mais moderno em bronzeamento livre de raios UV. Não é a jato e não deixa a pele com aquele tom alaranjado. O segredo está no uso de uma cabine computadorizada que aplica em apenas 30 segundos uma fórmula autobronzeadora exclusiva, contendo derivados de cana-deaçúcar, aloe vera, vitamina A e DHA, que reagem nos aminoácidos e proteínas na epiderme. Precisa apenas de uma única aplicação e a secagem é instantânea. Além disso, o bronzeamento à cabine traz tratamentos de hidratação e rejuvenescimento da pele. Gisele Bündchen, Paris Hilton e Charlize Theron são adeptas do bronze.

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FASHION

CAROLINE PASSOS | perfil

fotos: Susana Pabst

uma nova moeda

O estilista e empresário Renato Kherlakian, fundador da Zoomp, volta ao mercado da moda apostando no jeans premium

Renato Kherlakian é um mito no mundo da moda. Foi ele quem construiu a marca de jeans mais desejada entre as meninas do meu colégio - e de todos os outros no país - quando eu tinha 15 anos. É um homem elegante e discreto - veste-se apenas de preto, inspirado no estilista japonês Yohji Yamamoto -, tanto que seu nome só badalou muito mais do que o símbolo bordado nas etiquetas daquelas calças quando veio a público a crise financeira da Zoomp, que quebrou as pernas em uma negociação azarada em 2006. Foram 32 anos de prestígio até que o grupo I’ M comprou de Kherlakian os direitos sobre o “raio”. Desde então, a Zoomp nunca mais foi a mesma. O empresário e estilista, ao contrário, continuou firme e paciente, seguindo a linha que o fez emergir entre tantos outros produtores de jeans que surgiram depois. Tudo o que ele tinha que fazer era esperar mesmo diante da probabilidade de a marca falir (o que de fato aconteceu em fevereiro deste ano. Porém, meses depois, em setembro, a atual gestão da Zoomp recorreu da decisão judicial e conseguiu manter as portas abertas, levantando, inclusive, a possibilidade de revender os direitos da marca). Três anos depois do episódio a paixão pelo tecido índigo resistiu à decepção da derrocada da Zoomp. Hoje, Kherlakian viaja o país divulgando a recém lançada RK Denim, linha premium de jeanswear - feita para quem

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é preocupado com sofisticação e qualidade, como ele definiu em entrevista à NANU! quando esteve em Blumenau durante o Tecnoblu Note. “A ideia da marca é dar um novo peso, uma nova medida, um outro valor ao denim nacional, prezando muito esse aspecto da qualidade principalmente pelo jeans ser um produto muito receptivo por parte do consumidor”, conta. Ele havia aproveitado o intervalo para pesquisar a nova silhueta da mulher, matéria-prima e aviamentos.

Do avesso Os detalhes fazem toda a diferença para Kherlakian. Ele sempre recomenda que as pessoas virem as peças da RK Denim do avesso para saber do que se trata um jeans premium. O acabamento é o teste final quando se fala de qualidade. Peças de aviamentos como “etiquetas de couros hidrofugados”, “rebites besuntados”, “fios de cordunê” estão entre as palavras mais pronunciadas pelo empresário na divulgação quase didática da nova marca. Escolado e com nome forte, Kherlakian desceu sem problemas do pedestal onde o sucesso da Zoomp o colocou para ir direto ao cliente, visitando lojas multimarcas e dando palestras e entrevistas, ou seja, ligando seu nome diretamente à qualidade da RK. A Zoomp, neste ponto, vira quase um prefácio ao invés de perturbá-lo como um fantasma na história. O estilista conta ter percebido um fenômeno no mercado para dar início à RK: a vontade de consumir o novo. “Não é só um novo produto, uma nova ideia, um novo estilo, mas também a possibilidade muito marcante no mercado nacional é essa chance e oportunidade do ingresso de novas marcas, não só em moda, mas também em todos os segmentos”. Para Kherlakian, os detalhes é que podem fazer com que os jeans assinados por ele conquistem o consumidor. Destaca que as pessoas querem é comprar produtos “politicamente corretos e organicamente aperfeiçoados“. Por isso, investiu em embalagens e aviamentos discretos, porém exclusivos da marca. Tudo pensado antecipadamente. Como a novidade é o que o público quer, Kherlakian não para de imaginar o futuro. Por isso, enquanto divulga as primeiras peças pelo país, o próximo passo já está traçado: o lançamento em novembro de uma linha masculina.


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EU, MODELO

CAROLINE PASSOS

“tem

tudo a ver comigo”

fotos: Gabriela Schmidt

Depois de dias nublados, o sol abriu naquela manhã de sextafeira logo cedo. O dia está ideal para uma sessão de fotos na praia. No bar do Recanto das Águas SPA & Resort, em Balneário Camboriú, de frente para o mar, a não modelo está pronta para ser maquiada. Kiki Hoffmann está bem-humorada e descontraída, conversa com os produtores de moda do AHA Estilo e se diverte com o fato de Susana Pabst ter trazido um cachorro para acompanhá-la nas fotos. A escolha de Kiki para ser a não modelo desta edição veio antes do tema. Fazia algum tempo que Susana havia pensado nela para o editorial da edição de verão. Caminhando na praia durante as fotos, Kiki mostra o quanto está à vontade com o cenário, o que revela que a escolha foi acertada. Kiki tem paixão pelo mar. Não é a toa que encontrou na moda praia o seu porto-seguro. Estilista, designer de acessórios e empresária, inspira-se na beleza do litoral para criar. “Quando fiquei sabendo que seria

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para a edição de novembro e dezembro, em pleno verão, amei mais ainda, pois tem tudo a ver comigo! Sol, praia, céu e mar...”, conta. Durante as quatro horas de sessão, ela manteve o bom humor de quando chegou. Ficar trocando de pose e roupa, caminhar e até correr na praia em um dos dias mais quentes até então exigiu disposição da não modelo. Sem falar nas vezes em que esperou paciente Basquiat - o cachorro da Susana que está nas fotos - parar na posição certa. O momento mais difícil? “A lambida que o Basquiat me deu no rosto!”, diverte-se. Foi a primeira vez que Kiki atuou como modelo. A descontração, no entanto, disfarçou a ansiedade inicial. Criou poses e aceitou as instruções da Susana. “Já desfilei a convite de amigas que trabalham com moda, esses dias fiz um lookbook para outra, que tem uma marca de roupa em São Paulo, mas sempre é uma brincadeira divertida. Um super editorial de revista foi a primeira vez. Fiquei um pouco tímida no começo, mas a equipe toda logo me deixou super à vontade e a Susana é o máximo!” e


conclui: “fiquei super animada quando vi o resultado final das fotos....E foram mil fotos em quatro horas!”. Kiki nasceu em Blumenau, mas mudou durante infância para Balneário Camboriú. Morou em São Paulo, onde concluiu a faculdade de Negócios da Moda e trabalhou na marca Les Filós e foi assistente da estilista Cris Barros. Lá, ajudou algumas amigas a montarem suas marcas até que resolveu voltar e montar um showroom de roupas e acessórios criados por ela. Foi o passo inicial para o nascimento da Kiki Hoffmann Holiday Boutique, que mistura moda e spa e fica em Balneário Camboriú.

Um pouco sobre Basquiat Com a pelagem toda branca, o pastor branco suíço que você vê nas fotos ao lado de Kiki Hoffmann ficou com receio de pisar na areia a princípio. Bastaram poucos minutos, no entanto, para que ele se

esbaldasse no mar, comprometendo o banho do dia anterior. Para Basquiat, aquele era um dia de lazer. Há cerca de cinco anos, ele deixou Petrópolis para morar com a família da Susana. Fofo e branquinho parou o aeroporto quando chegou ainda filhote. Na casa, Basquiat é chamado de “João Grandão”. O nome combina. Com todo aquele tamanho, se esparrama quando Susana faz carinho em sua barriga. Aliás, ele não a deixou em momento algum durante as quatro horas de sessão. Susana conta que o nome dele é uma referência ao artista plástico nova-iorquino Jean-Michel Basquiat, um dos preferidos dela. O artista começou como grafiteiro até ter o trabalho reconhecido e definido como neo-expressionista. Foi o amigo Andy Warhol um dos seus principais incentivadores. Basquiat morreu aos 28 anos, em 1988, vítima de overdose e é influencia até hoje a arte contemporânea.

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Fotografia Susana Pabst Styling Aha Estilo Beleza Alan Pires Conceito e Tratamento LOOSHstudio

Ilustração: LOOSHstudio

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Agradecimentos: Allez!, Caviar for Ladies, Dondoca, Kiki Hoffmann Holiday Boutique e Recanto das Ă guas Resort & Spa e Basquiat NANU! 57


COLETIVO NANU! | miscelânea

tudo ao mesmo tempo A gente mostra o que rolou no Pixel Show 2009 em São Paulo

A NANU! viajou até São Paulo conferir o Pixel Show, conferência que reúne designers e artistas de todo o país. É o primeiro evento do Brasil criado para discutir criação e tecnologia e serve de referência para quem trabalha com qualquer atividade que exija um pouco de criatividade. Este ano, o evento rolou no espaço Fecomercio nos dias 10 e 11 de outubro. As palestras reuniram nomes importantes de diversas áreas, como os brasileiros Rico Lins e Nelson Balaban, entre outros. E os internacionais, David Rosenbaum, Molly Crabapple e MusaWorkLab. O Pixel Show é um dos projetos da revista Zupi. Criada em 2005, a conferência foi crescendo aos poucos. De lá até hoje o público aumentou de 280 para 5 mil pessoas, este número contando com mais o pessoal que passou pela Feira de Arte, Design, Tecnologia e Moda - que ocorre paralela às palestras há dois anos. Na feira, empresas e profissionais ligados a diversos setores apresentaram seus produtos e trabalhos. Pelo sucesso de público nos anos anteriores, em 2009, foram duas edições do Pixel: uma em Salvador, em maio, e outra em São Paulo, em outubro.

Zupi Nasceu como estúdio de design em 2001, criada pelo artista gráfico Allan Szacher. Seus projetos sempre tinham algo de inovador na maneira de comunicar. Com o tempo, novas ideias foram surgindo e foram inventados o Pixel Show, o Onesto, a Zupi Erotika, revista Voxel e o livro Estética Marginal entre eventos e mostras de arte e design. Em março de 2002 surgiu a revista eletrônica Zupi (www.zupi.com.br), onde são publicados trabalhos de designers brasileiros e internacionais. O objetivo é apresentar criações novas e divulgar trabalhos de artistas. Além da versão virtual, em 2005, foi criada a Zupi impressa. Com periodicidade trimestral, é a primeira revista brasileira reconhecida pelo International Council of Graphic Design Associations.

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Onesto

Zupi Erotika

Estética Marginal

É o primeiro livro de arte editado pela Zupi. Conta a história do pintor, escultor e artista multimídia Alex Hornest. A editora publica livros de arte contemporânea através da biografia de artistas e designers brasileiros e internacionais.

Em setembro, a Zupi lançou a primeira edição da revista voltada à arte erótica. Foram convidados a colaborar artistas como Carlos Zéfiro, conhecido por suas tiras cheias de erotismo, e o ilustrador Shiko, que desenhou a capa e o verso da edição.

Primeira coleção de livros da Editora Zupi reúne a trajetória de dez artistas e discute o graffiti como expressão de arte. Ao todo são cinco livros e um documentário sobre a cena entre os anos 2006 e 2008.

fotos: Revista Zupi/divulgação e Gabriela Schmidt

Revista Zupi #15 e a nova revista Voxel em sua segunda publicação

Pessoal no Pixel desenhando nos painéis


MusaWorkLab De Portugal, o grupo já fez exposições, livros de design gráfico e campanhas internacionais. É considerado um dos 40 coletivos de referência pela revista I-D. Entre os trabalhos, estão ações culturais para empresas como Playstation, Miss Sixty e Moët&Chandon. Outras campanhas em www.musaworklab.com.

Molly Crabapple A desenhista, ex-modelo e dançarina burlesca americana idealizou o projeto Dr. Sketchy’s Anti Art School, que mistura escola de arte e cabaré. Ela já ilustrou páginas do New York Times, Marvel Comics e assinou uma das capas da Zupi. Veja mais no site: www.mollycrabapple.com

David Rosenbaum Ele foi o cara que deixou Brad Pitt velho no filme O Curioso Caso de Benjamin Button, trabalho que lhe rendeu seu primeiro Oscar de Efeitos Especiais. Aos 28 anos, começou como estagiário e, em seis anos, chegou ao cargo de diretor de criação. Hoje está à frente da empresa de animação Digital Domain, uma das mais modernas na área. O site da empresa: www.digitaldomain.com.

Rico Lins É conhecido por misturar técnicas, como com colagem e gravuras e técnicas digitais, trabalhar com tranquilidade em mídias diferentes e por ver o designer como uma forma de arte. Trabalhou nos últimos 30 anos em cidades como Nova Iorque, Paris, Rio de Janeiro e São Paulo. No portfólio tem trabalhos variados como páginas do New York Times e Washington Post a vídeos para a MTV e Nickelodeon. Saiba mais: www.ricolins.com.

Nelson Balaban Ele tem apenas 20 anos e é considerado prodígio e trabalha como diretor de arte, ilustrador e designer. Seu trabalho é marcado pelo surrealismo e experimentalismo. Entre os clientes, nomes grandes como Adidas, Coca-Cola, Lobo e Nike. Mais sobre: www.xtrabold.net.

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COLETIVO NANU! | clica

PRA FAVORITAR Dicas de sites de ilustração para se inspirar

Pedro Gutierres

www.flickr.com/photos/pedrogutierres

Formado em design, Pedro Gutierres é gaúcho e tem o trabalho marcado por traços fortes. Suas obras vão desde ilustrações para revistas, ao grafitti, moda, publicidade, street art e design.

Thais Beltrame

www.flickr.com/photos/thais_beltrame

ilustrações: reprodução

Galeria dos trabalhos da ilustradora Thais Beltrame. Integrante do grupo de artistas Famiglia Baglione, seus trabalhos são delicados em preto-e-branco, geralmente a temática é infantil.

Daniela Hasse www.danielahasse.com Nascida no Rio de Janeiro, Dani Hasse passou a maior parte da vida na região do Vale do Itajaí. De Blumenau, mudou-se para São Paulo. A ilustradora já fez trabalhos para grandes marcas.

Jorge Galvão

www.flickr.com/photos/jorgegalvao De Curitiba, Galvão trabalha como diretor de arte, com publicidade e também lançou o livro Tempos Difíceis, com Daniel Barbosa. Seus desenhos remetem à arte de rua e estampam, além de camisetas, muros de Curitiba e São Paulo.

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Outubro de 2059

marina melz

marinamelz@gmail.com marinamelz.wordpress.com

trinta dedos enrugados

Estou enfraquecendo. Ontem conversei com o médico. Acabamos fazendo uma consulta por webcam. Sabe, essas tecnologias têm um sério problema: quando a câmera está na sua cara, não há como disfarçar. Ele sabe e eu sei: não vou longe. Deixei de lado o computador e peguei meu maço de cigarros. Nem o Marlboro nem o café me abandonaram nesses últimos anos de solidão. Mais irreversível que a doença é a saudade. Todos os dias lembro do meu avô. Homem bom. Fumava palheiro. Me deixava enrolar a palha quando meu pai não estava por perto. Consigo sentir o cheiro que ele deixava nas minhas mãos. Aliás, ele sempre dizia que eram parecidas com as mãos dele. Um dia eu perguntei por que as pontas dos dedos dele estavam enrugadas e ele sorriu. Me levou até uma torneira, deixamos minhas mãos de molho. Lembro de como os olhos dele brilharam quando ele disse que quando meus dedos também enrugassem, eu não me assustasse: era só água, a água da vida. Um dia ele desapareceu. Ninguém me explicou por quê. Sempre que eu sentia saudades dele, ia até o banheiro, enchia a pia de água e deixava meus dedos enrugarem. A fumaça do cigarro é a desculpa perfeita pra um choro disfarçado. Finjo que me afogo, minha esposa – tão cuidadosa, minha Teresa – vem me acudir e eu peço um abraço. Choro como quando eu tinha seis anos e meu avô cuidava de mim. Peço um café e ela vai. O café é herança do meu pai, meu avô não era muito chegado, não. Mesmo com gastrite, meu pai nunca esquecia de deixar que o cheiro do café invadisse nossos quartos e nos desse bom dia. Era a certeza de que mais um dia chegaria e ele estaria ali. Um dia meu filho, neto dele, tomava café conosco e perguntou ao pé do meu ouvido porque as mãos do meu pai eram enrugadas. A cena me pareceu tão familiar e tão bonita, que eu não consegui explicar e disse que ele voltasse para o videogame. Quando a gente não consegue responder aos nossos filhos, é porque teme os nossos próprios sentimentos. Quando meu pai faleceu, há uns 20 anos, eu e meu filho paramos ao lado do caixão. Eu segurei a mão dele e o levei para o banheiro. Com as mãos enrugadas, nos despedimos do melhor homem que esse mundo já viu: meu pai. Entre lágrimas rolando no meu rosto, eu sorri. Estávamos iguais. Sempre seríamos iguais. Ontem meu neto veio aqui. Chegou com as mãos molhadas e enrugadas. Sentou ao meu lado e tomou café comigo, enquanto fingia fumar com uma caneta. Mudaram as coisas. Não sinto mais o cheiro dos livros, não sujo mais minhas mãos com jornal. Mas é na ponta dos meus dedos que está a prova que o tempo sempre passa e que tem coisas que não mudam. Nunca.


Talita Hoffmann talita.hoffmann@gmail.com flickr.com/photos/litsy

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as coisas tão lindas

Me carinha as costas. Teu sorriso de cansaço é tão lindo que eu queria te fotografar. É a imagem mais bonita do mundo. Não sei onde começam meus braços, nem onde começam os teus. O mesmo calor que me amortece as pernas é o frio que me arrepia os braços. Chega mais perto, fica junto de mim. A cama é grande. Deixa minha solidão dormir ao nosso lado, abraçada com a tua: sei que posso tocá-la, mas não preciso: me bastas. Ri da minha cara, brinca com o meu nariz. Me abraça. Faz frio aqui dentro: me esquenta. Deixa eu sentir teu peito nas minhas costas, teu braço entre meus seios. Deixa eu sentir as pontas dos teus dedos pintando meu rosto de uma felicidade que só tu me poderias oferecer. Escolhe as cores. Escolhe uma música pra ser nossa. Canta. Baixinho. Sussurra já que és canção. Desliga o celular, apaga a luz. Tua energia é mais forte e mais brilhante. O teu azul não é mar revolto: é céu de inverno. Enrosca teus pés nos meus, me beija de leve o pescoço. Não me deixa tentar entender porque eu não quero conseguir. Faz piada, deixa meu sorriso se espalhar. Me beija a boca com paixão e a pálpebra com ternura. Deixa o dia nascer, deixa o sol se pôr. Deixa o mundo. Só não me deixa. Perde teu tempo pra me ganhar. Me abraça a cintura e deixa meus dedos se perderem nos teus cabelos. Escuta meu coração batendo leve, porque tua suavidade me encanta. Beija minha barriga, morde minha orelha, coloca a mão no meu pescoço. Me arrepia, me faz careta. Dorme e me deixa com a paz do teu sono. Me deixa ser teu sonho. Deixa eu me perder nos teus olhos fechados, deixa eu te invadir. Deixa eu sorrir e sentir pena de tudo que há do outro lado da porta e não pode te ver. Me acoberta com o jeito de viver o amor por uma hora, um dia ou uma vida inteira. E só não é mais eterno do que o toque da tua pele na minha que fervem a alma e congelam o tempo. Não levanta, não vai. Deixa eu fazer manha, ser tua manhã. Deita, deita. Fica que eu já volto. Deixa as roupas no chão, não arruma a cama. Me abraça. Me carinha as costas. Sente o nosso cheiro: o café ficou pronto.

marina melz

marinamelz@gmail.com marinamelz.wordpress.com


Cabelo e Arte

Rua Gertrud Hering, 97 . Bom Retiro . Blumenau . 47 3322 0048


COLETIVO DOUGLAS VS DUH | vida urbana

I’m with the Band Quem não tem (ou nunca teve) uma camiseta de banda no armário que escute o primeiro rock!

Mesmo com dados incertos sobre a origem da camiseta, sabese que a disseminação da peça começou com os militares em meados de 1880 e que nas duas guerras mundiais tornou-se uniforme obrigatório dos soldados. Elvis Presley foi quem começou o culto e um caminho sem volta às camisetas de banda. Usada para promover Heartbreak Hotel, foi distribuída para os fãs pelo empresário do astro na época. Desde então, a camiseta, que surgiu com o papel de promover o artista/banda, se tornou também peça chave de qualquer guarda-roupa contemporâneo. Agora, além de funcionar como manifestação cultural e artística, as camisetas de banda transcenderam ao status de item de fã para democratizar e até popularizar a música de cada artista. De Beatles a Madonna, de Kiss a Stephany Absoluta, cada um é livre para escolher aquela que mais agradar, sem necessariamente gostar da banda em si - o que pra muitos é um verdadeiro insulto, para outros é simplesmente uma imagem que agrada mais do que a musicalidade. Isto, para nós, não é nenhum problema. Não precisa ser fã do Ramones para usar uma camiseta da banda - afinal, quem nunca ouviu I Wanna be Sedated? Não é o suficiente para ostentar uma estampa clássica com os nomes dos integrantes? Para promover a atemporalidade desse ícone que é a camiseta de banda, nosso photo-shooting desta edição aconteceu em esquema flash mob (movimento que foi explicado na coluna Miscelânea da última edição da NANU!) - chamamos via Twitter pessoas para participar das fotos vestindo, claro, camiseta de banda. Quem participou com a gente foi Guilherme Reddin, Camilla Pedrosa, Lara Albrecht, Luiz Hadlich, Ana Fukakusa e Gabriela Telles. Há duas publicações sobre a história das camisetas de banda que achamos bem completas: The Art of Band T-Shirt de Amber Easby e Henry Oliver, da editora Simon Spotlight Entertainment; e também Rock Tease: The Golden Years of Rock T-Shirt de Ed Chalfa, Erica Easley, Wayne Kramer e Richard Hell, da editora Abrams Image. Os dois livros mostram várias camisetas separadas por décadas e artistas. Dá vontade de ter todas. Sempre lembrando que quanto mais velha melhor.

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fotos:Gabriela Schmidt

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COLETIVO CAMPARI JOY | nonsense

ilustração: LOOSHstudio

SKULL DAYS

Maldição, mau agouro, perigo, morte. Essas são as primeiras impressões que a imagem de uma caveira, um crânio humano, desperta no imaginário coletivo. Signo utilizado como aviso na identificação de produtos tóxicos e tudo o que se relacione ao perigo e ao mórbido, caveiras também são utilizadas como elementos da cultura pop quando a intenção é dar um toque obscuro ao conceito, seja ele de moda, arte ou comportamento. Sob a ótica do misticismo, uma cabeça humana desprovida de pele revela o caráter transitório e perecível da existência física - os alquimistas já utilizavam o símbolo da caveira como um emblema da transmutação da vida física para a eterna, na tentativa de aliviar um pouco a angústia da humanidade sobre um dos seus maiores mistérios: a Morte. Caveiras são símbolos explícitos de nossa consciência sobre a obviedade da morte e a fragilidade de nossa existência. No campo da história da arte, caveiras surgem nas representações vanitas, carregadas de mensagens sobre a conflituosa relação humana com a morte, e no memento mori (expressão latina que pode ser traduzida como “lembra-te que morrerás”), corrente de pensamento muito utilizada na literatura barroca. Ambas serviram enquanto expressão artística para nos lembrar sobre a vaidade efêmera e vazia de todo o hedonismo que nos cerca na vida terrena, de onde um dia voltaremos a ser pó.

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Para mim, caveira é sinônimo de inconformismo, rock, força e contravenção. Na verdade, é difícil conseguir explicar o significado individual de um símbolo tão comum à nossa cultura e que faz tanto sentido na minha prateleira de ícones – parece que, por ser a caveira um símbolo universal, seu significado tem sido assimilado pela minha percepção desde muito tempo atrás e o impacto da sua imagem já se tornou para mim intrinsecamente agradável, não preciso mais de razões nem justificativas. E não é questão de querer ser nefasta, embora a Morte e toda a sua aura me fascinem muito mais do que anjos cantando. Não sou a favor de nada que possa ser relacionado ao medo, sofrimento ou punição humana por não estar de acordo com os delicados requisitos que nos tornarão merecedores da vida eterna, mas caveiras são elementos constantes dentro de nossa cultura e todo o mistério e força que emanam disso tem relação direta ao que agrada o meu senso estético e ao modo como eu enxergo as coisas (e também a mim mesma, às vezes). Sendo atemporal o que transcende o tempo, sobrevive, persiste e perpetua adaptações variadas ao seu significado sem alterá-lo, mesmo que adote características transitórias por um período, o ícone do atemporal no meu universo é a caveira – é o eterno, o sinistro, o transgressor. De uma maneira poética, a caveira é o que torna a raça humana uma “fraternidade”, é o elemento mais comum a todo ser humano - nossa cabeça é formada e protegida por essa caixa de ossos e, fazendo uma analogia à nossa “aldeia global”, o crânio é o que nos torna ainda mais semelhantes e próximos uns dos outros, dentro da proposta que não há raça, cor ou crença que nos diferencie tanto assim, nossa essência, constituição e necessidades primárias são as mesmas (e geralmente as necessidades secundárias também!). E eu, que fico maravilhada com as coisas que não consigo controlar nem compreender, coisas que me surpreendem, sigo fascinada pelo peso e pela força desse símbolo, que para mim é tão sedutor quanto enigmático. Fascínio pelo mistério.


Exclusividade de verdade!

Fashion design

RUA ROLF COLIN • SALA 09 CONDOMÍNIO PARCO PERINI • JOINVILLE/SC

(47)3026-6276


EMPTY POOL, HEAVY SKULL Fotografia Susana Pabst Produção de Moda e Styling Eduardo Kottmann e Gabriela Telles Moreira Beleza Miguel Estelrich Tratamento Looshstudio Modelos Jacqueline Tomazeli (Ford Models) e Ingrid Bernhardt (Ford Models)

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na página anterior Ingrid veste Bandage Dress Lolitta para Chemise, Scarpin Raphaela Booz, Acessórios M.Schuffer. Jacqueline veste Maiô Club Bossa para Kiki Hoffmann Holiday Boutique, Saia Bandage Lorane para Alameda 40, Scarpin Raphaela Booz, Bracelete Arezzo, Brincos M.Schuffer

Ingrid veste Maiô Acquadelic para Kiki Hoffmann Holiday Boutique, Colete Belart para Allez!, Braceletes Vania Nielsen para Kiki Hoffmann Holiday Boutique, Sandália Schutz para Maria Rita Calçados. Jacqueline veste Maiô Lygia & Nanny para Secret Glam, Bracelete e cinto Vania Nielsen para Kiki Hoffmann Holiday Boutique. Saia Etnafele para Couture. Sandália Schutz para Maria Rita Calçados.

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Ingrid veste Maiô Brasileiríssima, Blazer Cori para Chemise, Peep Toe Alamanda Sapataria, Colar Arezzo, Óculos Marc Jacobs para Relojoaria e Ótica Celso, Bolsas Arezzo, Anel M.Schuffer Jacqueline veste Maiô Jo de Mer para Kiki Hoffmann Holiday Boutique, Blazer Cori para Chemise, Peep Toe Alamanda Sapataria, Óculos Marc Jacobs para Relojoaria e Ótica Celso, Bolsas Arezzo, Anel M.Schuffer

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Ingrid veste Vestido Caviar for Ladies, Cinto Corbella para Maria Rita Calçados, Relógio Guess para Relojoaria e Ótica Celso, Brincos e Broche M.Alícia, Peep Toe Maria Rita Calçados Jacqueline veste Maiô Club Bossa para Kiki Hoffmann Holiday Boutique, Saia Lafort para Chemise, Cinto Corbella para Maria Rita Calçados, Relógio Guess para Relojoaria e Ótica Celso, Brincos e Broche M.Alícia, Peep Toe Maria Rita Calçados

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Ingrid veste Vestido Lafort para Chemise, Colar Arezzo, Anéis M.Schuffer, Brincos M.Alícia, Sandália gladiadora Raphaela Booz Jacqueline veste Vestido Lafort para Chemise, Colar Arezzo, Anéis M.Schuffer, Brincos M.Alícia, Sandália gladiadora Raphaela Booz.

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Ingrid veste Mai么 Dibikini para Kiki Hoffmann Holiday Boutique, Bolero Folic para Chemise, Colar M.Schuffer, Brincos M.Al铆cia, Scarpin Raphaela Booz Jacqueline veste Mai么 Club Bossa e Bolero Thorr茅 para Kiki Hoffmann Holiday Boutique, Colar Arezzo, Pulseira M.Schuffer, Scarpin Raphaela Booz

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Jacqueline veste Jeans Levi´s 501, Brincos M.Alícia, Sandália Gladiadora Raphaela Booz, Bracelete Arezzo e Bracelete com Druza M.Schuffer, Bolsa Alamanda Sapataria

iNGRID VESTE Vestido Regina Salomão para Chemise, Brincos e pulseira M.Schuffer Jacqueline veste Macacão Regina Salomão pra Chemise, Bracelete Arezzo e Bracelete com Druza M.Schuffer, Brincos Allez!

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produção Miguel Estelrich e Carvalhoneto fotografia Susana Pabst tratamento Looshstudio

Jeanne


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A coleção Jeanne, Donzela de Orléans surgiu da pesquisa de Miguel Estelrich sobre a francesa Joana D’Arc. Para chegar às peças, Miguel colheu informações no Museu do Louvre, em Paris, e no Museu de História de Amsterdam, além de viajar para a Europa em busca de referências. Foi um ano de estudo até chegar, em parceria com o figurinista Carvalhoneto, ao resultado que está nestas páginas. A escolha pela heroína partiu da figura de Joana D’Arc - mistura entre traços femininos e masculinos que escapa, entretanto, do estereótipo da androgenia. Outro fator importante para a opção foi a estética medieval relacionada à personagem. A coleção foi apresentada em outubro no Intercoiffure Day em Santiago no Chile. Chamada também de Jeanne, Joana D’Arc nasceu na aldeia de Domrémy durante o século XIV, conturbado pela Guerra dos 100 Anos. Não sabia ler ou escrever, mesmo assim, conquistou a confiança do povo francês. Devota, afirmava ouvir vozes divinas desde os 13 anos e ter sido orientada por elas a lutar pela coroação de Carlos VII ao reino da França e, assim, conquistar a paz e libertar o país do comando da Inglaterra. Em Orléans, conseguiu a primeira vitória, surpreendendo o futuro rei. Depois de vencer batalhas e coroar Carlos VII, Joana foi vendida aos ingleses e julgada e condenada por bruxaria e heresia. Ela morreu queimada na fogueira aos 19 anos no ano de 1431. Agradecimentos: Marcenaria Moretto, Ford Models BC, Centro Equestre União, Matheus Leonardo Tafner, Toby Blue 92 NANU!



CULT

FREDERICO FLORES | música

TrILHA

ENSOLARADA

Cinco músicas e um álbum que são capazes de aquecer antes mesmo de o verão chegar

O verão é talvez a mais atemporal das estações. Os dias são mais longos ao mesmo tempo em que parecem passar mais rápido. Também é tempo de extremos: dizem que é a época em que mais chove, mas é nos seus dias que se aproveita mais intensamente o sol - alguns milhares de quilômetros mais próximo de nossas cabeças. Época para terminar e começar um namoro. E, com certeza, é tempo de ouvir muita música. Uma das coisas que ficam na memória de um verão que passa é a trilha sonora. Selecionei uma lista de cinco músicas lançadas este ano que, acredito, são capazes de despertar um sentimento ensolarado, boas para ouvir antes, durante e depois da estação que se aproxima.

1. You Can Tell It To Everybody Air - Love 2 (2009) O álbum Love 2, lançado pela dupla francesa Air, foi gravado durante o suave verão europeu - o que é possível de perceber em suas músicas de melodias doces e batidas preguiçosas. O título da música, que também é o refrão, diz respeito ao típico amor de verão: “Você pode contar para todos que existe algo acontecendo entre nós”

2. Sun is Shining

3. June Evenings

Bebel Gilberto - All In One (2009) Em seu último disco Bebel Gilberto faz uma releitura para Sun is Shining, do eterno astro Bob Marley. Com a sua típica roupagem de bossa nova com texturas eletrônicas, ela canta “o sol brilhando e a manhã chamando, te envolvendo até as pontas dos pés” e o resultado é pura insolação.

Air France - No Way Down (2009) Aqui a dupla sueca Air France celebra os fins de tarde de junho, época em que é possível passear de camiseta e brincar sem frio nos parques da península escandinava, com vozes cheias de ar e paisagens sonoras ofuscantes.

2 - Sun is Shining

4. Note I Love You + 100 Lindstrøm & Prins ThomasII (2009) Também dos países nórdicos a dupla de DJs e produtores de música eletrônica Lindstrøm & Prins Thomas entrou no estúdio para fazer um álbum extremamente instrumental e progressivo. O resultado foram músicas com mais de 10 minutos de duração que causam um efeito de suspensão do tempo no ouvinte. É muito presente o clima de improviso, uma mesma música possui vários temas e este disco poderia muito bem ter sido lançado em outro verão, o de 1968...

5. Can’t Stop Now Major Lazer - Guns Don’t Kill People... Lazers Do (2009) Aqui o polêmico DJ Diplo deixa de lado o seu experimentalismo para atacar com simplicidade. Um reggae antigo tocando em disco de vinil, em que a agulha insiste em pular repetindo a música, enquanto Jovi Rockwell e Mr. Vegas cantam sobre essa base.

Ouça também Dave Brubeck Time Out (1959)

+ Na foto, The Dave Brubeck Quartet ao vivo em 1967

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fotos: reprodução

Um disco de 50 anos, mas que talvez seja o mais atemporal de todos. Por causa do título, do uso de compassos assimétricos, mas principalmente pelas músicas que estão acima de qualquer classificação e época. Só ouvindo para saber do que se trata este clássico ainda hoje à frente do tempo. Melhor ainda se for apreciado através da recente edição remasterizada em vinil de 200 gramas.



CULT

LEON | música

o rei do

cool

Beijo, Iury

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From: Leon To: Iury Subject: Tony Bennett

Sempre gostei mais do Tony que do Frank. Sei que, como me conheces, isso não deve parecer estranho, pois sempre gostei mais do que não é comercial, daquilo que não é unânime. Sinatra foi uma unanimidade. Não sei quantos discos do Tony Bennett eu tenho em casa. São muitos. Uma coleção quase tão grande quanto a discografia que tenho do Chet Baker. Não é para menos, Bennett gravou mais de 70 discos. Nasceu em Nova Iorque (1926), mais precisamente em Astoria, Queens. Filho de pai italiano, seu nome verdadeiro é Anthony Dominick Benedetto. Comecei a gostar dele justamente na fase em que ele estava relegado ao esquecimento: anos 80. Assim como muitos outros músicos de jazz, os anos 70 e 80 foram os anos da decadência, acompanhada de muita droga (no caso do Tony, a cocaína). Quase morreu de overdose e bateu no fundo do poço no final dos anos 70. A grande volta à mídia veio com o sucesso do álbum Astoria: Portrait of the Artist (1989). Astoria ganhou o Grammy em 1990. O primeiro Grammy de Bennett após 28 anos. É um disco belíssimo. Entre outras, tem a música Antonia (homenagem à filha – a mesma que fez a abertura dos shows aqui no Brasil em outubro deste ano) e a minha favorita The Folks Who Live on The Hill, uma obra prima da dupla Hammerstein/Kern (e que eu já havia comentado em um e-mail anterior). A consagração veio com o MTV Unplugged (que lhe rendeu o Grammy e um disco de platina), o maior sucesso comercial da carreira do músico. Inegavelmente um bom álbum. Cito outros dois (ou três) que adoro: Tony Bennett/Bill Evans Album, gravado em 1975, e o outro disco da dupla, gravado em 77, chamado Together Again; ambos imperdíveis - assim como o sensacional Bennett/Berlin, no qual interpreta música de Irvin Berlin e é de 1987. É legal ver o reconhecimento que está sendo dado ao Tony. Ao todo, ele ganhou 15 Grammys: os dois primeiros são dos anos 60 e os seguintes a partir do Astoria. Como curiosidade, segue o link da história da primeira gravação do Bennett. Foi em abril de 1949 e ele usava o nome artístico de Joe Bari. (http://www.steve-albin.com/Artists/Bennett/bari/index.html) Last but not least, não posso deixar de comentar a tua recomendação da música New York State of Mind, Iury. O autor é o Billy Joel, aquele que o Ado acha a cara do teu pai.

Bj, Leon

ilustração: LOOSHstudio

From: Iury To: Leon Subject: Tony Bennett Muito se falou sobre uma suposta rivalidade entre Tony Bennett e Frank Sinatra. Creio que não houve. Apesar da semelhança de estilos, tocavam para plateias diferentes. O Frank sempre foi mais Main Event. Os dois eram amigos e, mais do que isso, ligados. Quando Frank Sinatra morreu, em abril de 1998, a Life Magazine publicou uma edição belíssima com dezenas de fotos, algumas exclusivas. O Tony Bennett abriu a edição, com uma carta de despedida ao Frank. Na carta, Tony reforça a palavra Lealdade como a que mais identifica Frank Sinatra - quando ele gostava de alguém, gostava com todas as forças. E cita uma passagem interessante: “Uma noite minha mãe e eu estávamos assistindo Sinatra na TV fazendo o Main Event (show de 1974 no Madison Square Garden). Ele sabia que minha mãe estava morrendo, e ele se virou para a plateia e disse que o Tony Bennett era o seu ‘cara preferido’ em todo o mundo. O rosto da minha mãe brilhou como se fosse uma árvore de natal - e esta imagem eu vou levar comigo enquanto eu viver. Era o tipo de coisa pequena que ele fazia, e que fazia uma grande diferença.” Em outra ocasião Tony estava fazendo um show no Waldorf Astoria, e Judy Garland tinha apanhado numa discussão em casa e ligou chorando e pedindo ajuda. Tony estava prestes a entrar no palco e pediu ajuda para Sinatra, que estava em Miami, a milhas dali. Frank disse para ele fazer o show, que ele daria um jeito. Ao final da apresentação, Judy ligou: “Eu pedi ajuda, mas isto é ridículo. Tem cinco advogados na minha suíte (ela estava no Hotel St. Regis) e 900 policiais lá fora na rua“. Coisas de Frank Sinatra. Acabo me alongando demais, e puxando a brasa para a sardinha do Frank, enquanto o que eu queria era falar do Tony Bennett. Mas foi bom porque são dois dos três crooners daquela época que eu mais gosto - sobre dElla eu falo outra hora. Lembra quando criticamos o disco do Tony Bennett cantando Billie Holiday, Leon? Realmente é muito ruim. Mas vou falar de outros três, com estilos completamente diferentes. O primeiro é Hot & Cool - Bennett Sing Ellington -, disco de 99 que tem o Wynton Marsalis numa interpretação magistral de Chelsea Bridge - o Tony nem se arrisca a cantar. Deste disco eu escolheria In a Sentimental Mood, que ficou linda. E Sophisticated Lady não fica muito atrás, além de contar com um ótimo acompanhamento de violino de um tal Joey Smirnoff, que àquela altura já devia ter tomado várias. Depois temos Playin’ With My Friends - Bennett Sings the Blues por sinal produzido pelo Phil Ramone - em que ele canta com o Ray Charles, Stevie Wonder, B.B. King, entre vários outros. Recomendo New York State of Mind, em que ele canta com o autor. Tenho certeza que vão adorar. E finalmente temos 16 Most Requested Songs, disco de 86 que, apesar de ser compilação, é imbatível. Eu gosto de TODO o disco. Tem For Once in My Life, que é uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos. Além dessa, apostaria em I Wanna be Around, principalmente pela letra, puta dor de corno. Quem não é viciado no cara provavelmente vai gostar de Who Can I Turn To (When Nobody Needs Me). É simplesmente impossível uma mulher ouvir esta música inteira do teu lado e não se apaixonar. Pelo Tony Bennett. Mas, pensa bem, já é um começo.


UM ESTILO INCONFUNDÍVEL

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CULT

CARLOS EDUARDO “ADO” SILVA | música

DOMADORES DO

TEMPO

U2 e Kiss são a prova de que existe rock com idade para todas as faixas etárias

98 NANU!

ilustração: LOOSHstudio

Com todos os gêneros e apetrechos, o rock destaca e dá certa preferência aos atemporais. Beatles e Rolling Stones são atemporais, sem dúvida. Já os Beach Boys, apesar de maravilhosos, ficaram pregados a uma época. O Jimi Hendrix e a Janis Joplin são completamente late 60’s e por isso é que têm gente que os acha chatos – não concordo, mas respeito. Don’t Stop Believing, do Journey, por exemplo, é atemporal. Minha filha de 8 anos me pediu pra comprar a música no iTunes. Quando falei pra ela que eu escutava essa música quando tinha 13 anos ela não acreditou, pois é uma música com uma apelo constantemente atual e não uma “música pra ti”, como ela me falou. Acabo de sair de um show de uma banda “sobre-atemporal” talvez a verdadeira “maior banda de rock do mundo”: o U2. Me mandei pra Tampa para ver o show da 360˚Tour. “Nababesco” é o primeiro adjetivo que me vêm à mente – um palco ENORME, no formato de uma garra, no centro do estádio, possibilitando uma visão total. Simplesmente impressionante.

O mais importante: o Raymond James Stadium estava lotado de pessoas de todas as idades. Tinha desde crianças aos avós delas. Este é o grande mérito do U2. É uma banda que dá um SHOW. Eles gravam novos CDs como argumento de montar excursões e performances maravilhosas – no princípio básico da música, tocar ao vivo. Como dizia o Milton Nascimento: “todo artista tem que ir aonde o povo está”. Eles fazem isso com estilo. Como o foco do U2 acaba sendo sua performance ao vivo, suas músicas não têm idade, pois acabam renascendo a cada show. Em Tampa, eles tocaram a maravilhosa Unforgetable Fire (do CD de mesmo nome de 1984). A música parecia ter sido escrita naquela hora, pronta pra download no iTunes. É fácil defender o U2. Outra banda atemporal? O Kiss. Qual é o problema? Eu gosto do Kiss e não escondo. Neste caso, não se trata dos atributos musicais e técnicos – o Kiss é pura diversão e performance. Por isso são também perfeitos domadores do tempo. Tanto que, no final do mês, eu irei assisti-los junto com minha esposa e meus filhos - eles adoram o Kiss, e somos uma das muitas famílias que vão estar por lá. Nessa tour estão sendo comemorados o 35 anos do lançamento do primeiro disco ao vivo deles, o Alive, – o cúmulo do atemporal. Alguns podem gritar: é nostalgia! Não! O Kiss é atemporal sim! Como é que vocês explicam eu, querendo dormir, e o meu filho, de quatro anos, brincando ao meu lado, com Playmobil (muuuuito atemporal) e cantando Rock & Roll All Nite, inteirinha, de cabo a rabo? Põe atemporal nisso! Viva o Kiss!



CULT

SÁVIO ABI-ZAID | cinema

BATALHA

tarantinesca COM BASTARDOS INGLÓRIOS O DIRETOR USA TODAS AS ARMAS E CONQUISTA O OLIMPO DE HOLLYWOOD

100 NANU!

Filmes da 2ª Guerra Mundial, de maneira geral, tendem a tratar a história de maneira sagrada, buscando sempre a maior precisão possível. Começamos a assisti-los partindo do pressuposto de que sabemos como a história vai terminar. Sem suspense, e sem espaço para ambiguidades. Em sua obra-prima, Tarantino inverte isso: suprime totalmente o rigor histórico e cria um faz-de-conta, claramente anunciado no título do primeiro capítulo – Era uma vez na França ocupada pelos nazistas. Como diz um dos personagens, em um dos inesquecíveis diálogos: “Fatos podem ser muito enganadores“! E assim se cria uma magnífica fábula sobre a 2ª Guerra Mundial. É uma versão alternativa de Tarantino, sem dúvida. Sim, o sangue está lá, mas em pouca quantidade, e a violência está contida - se não de maneira geral, contida em algumas cenas, pelo menos. É menos o diretor de Kill Bill, e mais um diretor autoral, um dos que vivem no Olimpo do cinema. Os confrontos são, em sua maioria, verbais. São pesados, alongados para o prazer do seu condutor, que sabe ou demonstra parecer saber onde tudo vai acabar, sem nunca deixar isso absolutamente claro, para o desespero do seu interlocutor e da plateia. Tarantino se delicia com a tensão quase palpável destes confrontos, que são recheados com sutilezas e detalhes que beiram o absurdo. Em um deles, por exemplo, close-ups de cremes, strudels, movimentos de câmeras e cortes complexos, tudo só está lá para aumentar a tensão do diálogo. O pedido de um copo de leite faz ferver o sangue e

ilustração: LOOSHstudio

Ele já havia rompido barreiras no cinema há um bom tempo. Em 1992, marcou a história do cinema com Cães de Aluguel, uma das melhores estreias de um diretor até hoje. Não se acreditava que fosse vingar. Como se superar depois de uma entrada assim? Dois anos mais tarde, mostrou como: Pulp Fiction. Não só mostrou algo ainda melhor como começou a deixar claro que seus filmes faziam parte de um universo todo seu, hermético e absurdamente recheado de referências de sua infância e juventude. Como que para deixar os comentários fortalecerem, lança em 1997 um filme mediano, nada que possa ser comparado ao que já tinha feito, Jackie Brown. A fonte secou dizem os críticos. Mera ilusão. Nove anos depois de Pulp Fiction, Tarantino lança Kill Bill Vol. 1. Nova sagração. Embora não possa ser alçado - a não ser pelos fãs mais afoitos - a um dos seus melhores filmes, é uma nova ruptura no cinema ocidental. Causa choque e frisson, na mesma medida, e faz com que as plateias aguardem, ávidas, a conclusão do filme Kill Bill Vol. 2, lançado um ano depois. Quinze anos depois de Pulp Fiction e seu Oscar, Quentin Tarantino lança agora mais uma obra digna de seu nome, e apta a se postar no ponto mais alto de seu pódio cinematográfico. Bastardos Inglórios é a obra-prima de seu criador. Quarenta e seis anos de referências cuidadosamente armazenadas e uma década para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do roteiro, de forma a dar vazão às suas mais bem quistas lembranças do cinema e da música do passado.


ouriçarem-se os pelos. Sua verve de escritor se sobrepõe à de diretor, e de maneira magistral. A tensão e o drama surgem por meios de sorrisos forçados, de sussurros, e de comunicação truncada, dura. O desempenho de Christoph Waltz, como o Coronel Hans Landa, é excepcional e perfeito para estes embates verbais. Sua explicação sobre a distinção da forma de pensamento alemão e judeu, pelas metáforas utilizadas, é eletrizante. Ele mantém o sorriso manso o tempo todo, como se discorresse sobre uma variedade de rosas ou chás. Mas como podemos esperar menos que isso de um diretor que ganhou um Oscar por um filme com um monólogo que versa sobre um relógio escondido em um reto? E não é nada menos que excelência o que ele nos entrega. Outras marcas do diretor também estão presentes. Longos planos, como o em que a garota judia entra na estreia cinematográfica, e aquele que se desenvolve cuidadosamente até chegar ao coronel nazista dando seu bote na espiã alemã e seus convidados “italianos” são primorosos e característicos do universo de Tarantino. Assim como pés descalços, câmeras com ponto de vista de cadáveres, e por aí vai. Seu amor aos clássicos também está evidente, e o homenageado desta vez é o diretor italiano Sérgio Leoni e seus os westerns spaghetti, como Era uma Vez no Oeste e O Bom, o Mau e o Feio. O primeiro capítulo, do início ao fim, tem seu dedo. Da trilha inicial, algo como Pour Elise arranjada por Ennio Morricone, passando pelo cenário, verde, mas árido

em sua essência, às roupas de La Pedite, à casa... Estamos de fato nos anos 60, num grandioso faroeste europeu, dirigido, com toda a reverência necessária, por um americano, com a iconografia da 2ª Guerra. Nos capítulos seguintes, de novo as trilhas e as cenas de câmera lenta, que prenunciam os “duelos”, também remetem diretamente ao velho oeste no estilo europeu. Algo novo e notável que, possivelmente, só Tarantino poderia fazer sem ferir os egos americanos, é o fato de os diálogos se darem todos, com uma exceção justificável, na língua original dos personagens, o que faz dele, essencialmente, um filme em língua estrangeira, uma vez que o francês e o alemão são usados com mais frequência do que o inglês. Se fosse outro, seria excomungado pela plateia e pela academia; sendo Tarantino, passa a ser arte. Vale entretanto ressaltar que também aqui ele pode estar fazendo uma referência: O Mais Longo dos Dias, de 1962, épico sobre o dia D, já havia se utilizado do mesmo recurso, com as mesmas línguas. Mas é no contexto geral que o filme salta aos olhos. Sim, para alguns, o filme contém violência em excesso. Para outros, a verborragia tarantinesca é excessiva. Não importa. O filme é uma obra de arte, atemporal, e nisso mesmo seus detratores deverão concordar, sob o risco de verem suas críticas esmagadas pela força do tempo.

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CULT

DOUGLAS DWIGHT | cinema

O cinema já produziu todo tipo de festa e pode ser uma fonte inesgotável de ideias para badalações. Se para alguns cineastas incluir esse tipo de cena na trama significa apenas a garantia de belas imagens, para outros as comemorações ganham desdobramentos dramáticos inusitados, divertidos e com toques de originalidade. De uma forma ou de outra, as farras atraem o público e muitas vezes a expressão “festa de cinema” é utilizada para se falar do sucesso de um evento. Alguns filmes podem servir como referência na hora da escolha do tema da recepção. Se a festa for dançante, a seleção da trilha sonora é ponto chave para manter o clima animado. É fundamental sintonizar a escolha do repertório com o perfil dos convidados.

Bailes Se a opção for por um baile nos moldes dos anos 40 e 50, movido a orquestra e roupas elegantes, várias fitas podem servir de referência. Em High Society, os cenários são as belas e ricas mansões de Rhode Island nos Estados Unidos. Grace Kelly, em sua última aparição no cinema, interpreta Tracy Samantha, uma jovem que, prestes a se casar pela segunda vez, fica balançada pelo assédio do ex-marido (Bing Crosby) e a sedução de um repórter (Frank Sinatra), encarregado de fazer uma matéria sobre o casamento. A grande atração é a despedida de solteiro que acontece na véspera da cerimônia. Grace Kelly e Sinatra dançam embriagados no jardim, se beijam num clima de total sedução e acabam tomando um banho de piscina ao luar. Num diálogo musicado, Sinatra e Crosby, enquanto bebem champanhe francesa, comentam sobre o requinte, a beleza e a alegria da festa embalada pelas canções de Cole Porter.

Festas dançantes e reencontros Se o clima escolhido for os anos 60, Grease - Nos Tempos da Brilhantina é uma das recomendações. Nele, John Travolta de jaqueta de couro e Olivia Newton Jonh de saia rodada e meia soquete dançam ao som das baladas românticas e do rock and roll. O mesmo Travolta pode servir de inspiração em Os Embalos de Sábado à Noite, caso se queira reviver a época das discotecas e seus ritmos alucinantes. Para comemorar o reencontro da turma do colégio ou da faculdade, vale à pena assistir a filmes como Peggy Sue - Seu Passado a Espera, de Francis Ford Coppola, O Reencontro, de Lawrence Kasdan. Caso a ideia seja promover um luau à beira mar, regado a frutas tropicais e serenatas, nada melhor do que assistir às comédias românticas de Elvis Presley que se passam em praias do Havaí e do México.

LA

INSPIRE-SE NOS filmes clássicos para fazer festas DE ARROMBA na vida real

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Na hora de escolher um cardápio para uma festa, vale dar uma consultada em filmes que fazem da gastronomia um de seus pontos de destaque. Em Festa de Babete, um típico jantar francês faz os moradores de uma aldeia dinamarquesa, de padrões religiosos rígidos, renderemse aos prazeres da gula e saborearem sofisticadas iguarias preparadas por uma cozinheira que chega ao lugarejo. Seguindo os ensinamentos da cozinha mágica de Tita, em Como Água para Chocolate, é possível servir pratos com temperos especiais e provocar emoções fortes e inusitadas nos convidados. Em Comer, Beber e Viver, de Ang Lee, deliciosas atrações da culinária chinesa desfilam pela tela provocando no espectador o desejo de sair direto da sala de exibição para um bom restaurante.

ilustração: LOOSHstudio

FESTANÇA!

O cardápio



CULT

ADRIANA NUNES | arte

fotos: Paulo Greuel

PROVOCACÃO DO

IMAGINÁRIO

Fotógrafo Paulo Greuel inaugura a exposição Paraíso Tropical no Museu de Arte de Joinville e mostra um reflexo calmo do seu mundo interior

Foi em Blumenau, Santa Catarina, que Paulo Greuel desenvolveu suas primeiras experiências com uma máquina fotográfica, e um laboratório para revelar estes experimentos que decidiriam seu futuro no exterior. Partiu da cidade em 1975 e foi residir em Düsseldorf na Alemanha, para prosseguir os estudos e experimentações na fotografia. O que vê um fotógrafo brasileiro, ao regressar ao seu país, após quase três décadas vivendo e trabalhando na Europa? O que o seu corpo sente, o que capta a sua mente, depois de inacabáveis invernos düsseldorfianos, com seus dias curtos e cinzentos? Um universo onírico, explosão de cores, cotidiano de abstrata beleza, um Paraíso Tropical!

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Mas não o paraíso dos clichês tropicais da mídia internacional, e sim um reflexo calmo do mundo interior do artista, que, longe de ser ingênuo, ainda assim recusa em sua obra a entrada do desespero e da dor. A visão virtual de Paulo Greuel proporciona alívio e conforto visual, ao mesmo tempo em que dissolve as fronteiras entre o sonho e o real. Ou como afirma o curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Diógenes Moura: “O mundo que Paulo Greuel construiu para o seu Paraíso Tropical cabe inteirinho na idéia de uma fotografia de silêncios. [...] Ao retirar de seus “quadros” quase abstratos a idéia da violência que a vida cotidiana enfrenta, desde o momento em que desperta para um outro dia, as imagens do fotógrafo nos trazem aquela paisagem do Campeche – não como paisagem -, muito mais como a epígrafe de um poema de Lúcio Cardoso, quando o poeta escreve:

“Surjo, insurjo-me, à teia da bruma espuma: sei que cresço – respondeço em azul de noturno mar”.


Imagens quase miragens, em desfoque. Vinte e duas fotografias que completam a trilogia iniciada com Sonho Tropical, em 2004, Fotografia Tropical, em 2006 e Paraíso Tropical, em 2008. Paraíso Tropical é uma proposta de entendimento entre as cores e a forma como elas são apresentadas. É também resultado de muita pesquisa e experiência com novas técnicas, desenvolvidas já desde a época em que o catarinense vivia em Düsseldorf, na Alemanha. “O trabalho de Paulo Greuel vem do sistema de procura onde o fotógrafo, a partir de uma imagem realisticamente visceral, invade um mundo que ultrapassa toda essa questão virtual, para se estabelecer no mundo dos sonhos.” (Diógenes Moura) Depois de uma carreira bem-sucedida como fotógrafo, onde ganhou vários prêmios pelos diversos trabalhos publicados em revistas renomadas como Donna, Mondo Uomo e Vogue de Milão, Táxi New York, Max de Hamburgo, Paulo Greuel decidiu dar continuidade a sua pesquisa fotográfica e se dedicar à fotografia de arte. Seu trabalho foi imediatamente reconhecido na Alemanha. O diretor de fotografia e vídeo do Museu Ludwig de Colônia Reinhold Misselbeck descreveu assim a obra do artista de Blumenau: “As fotografias de Paulo Greuel são claramente reconhecidas como produto da imaginação. Ele constrói seu próprio Theatrum Mundi, distanciando-se do registro da realidade pré-estabelecida.” Após exposições de sucesso em Düsseldorf, Gênova e Berlim, Paulo Greuel foi convidado em 2000 por Emanoel Araújo para participar da

mostra Brasil + 500, Mostra do Redescobrimento, módulo Negro de Corpo e Alma, na Fundação Bienal de São Paulo. Retornando ao seu país em 2002 para a exposição Bildnis=Retrato na Pinacoteca do Estado de São Paulo, com curadoria de Diógenes Moura, Paulo Greuel se estabeleceu no Campeche Beach, em Florianópolis, onde seria seu daylight estúdio ou Tropical Flash Studio e de onde tem retirado inspiração para seus atuais trabalhos. Desde então suas fotografias percorrem o país em exposições importantes como a Foto 90, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), e Um Século de Arte Brasileira – Coleção Gilberto Chateuabriand, no Museu de Arte de Santa Catarina. Paulo Greuel que conta atualmente com 22 fotografias na Coleção Gilberto Chateaubriand inaugura a exposição Paraíso Tropical no Museu de Arte de Joinville em 24 de novembro de 2009 que poderá ser visitada até 10 de janeiro de 2010. A exposição teve o incentivo do Governo do Estado de Santa Catarina, através da Secretaria de Estado do Turismo, Esporte e Cultura e da Fundação Catarinense de Cultura. Mais do que um retorno ao Brasil real, palpável, pode-se dizer que o reencontro de Paulo Greuel com sua terra de origem foi o fortalecimento do seu universo interior, a libertação total do seu olhar de todas as amarras e condicionamentos. Ou para citar um trecho do romance Sob Céus Estranhos, da escritora alemã Ilse Losa: “O regresso, Nils, está dentro de nós e o resto é mutação ininterrupta”.

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CULT

GODOFREDO DE OLIVEIRA NETO | literatura

ESPAÇO

nanu! lê

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Histórias que os Jornais Não Contam Moacyr Scliar

Cadernos de Literatura Brasileira Mário Quintana

Lonely Hearts e Lost Constallations Tara McPherson

O escritor dá uma visão ficcional e fantástica às notícias dos jornais. São 54 crônicas carregadas do bom humor e linguagem característica de Scliar. Os temas vão de viagens de avião, corrupção e até macacos pintores. Editora Agir, 184 páginas, R$ 29.

O Instituto Moreira Sales dedica a 25a edição do Cadernos de Literatura Brasileira ao poeta gaúcho Mário Quintana. O livro traz entrevistas, depoimentos, fotografias, manuscritos e inéditos. Editora Instituto Moreira Salles, 156 páginas, R$ 60.

A artista lança Lonely Heart e Lost Constallations, com desenhos feitos a lápis, esculturas e pinturas. Tara produz em uma linguagem pop e surreal. Ela também trabalhou na produção da série Futurama. Dark Horse Comics, 112 páginas, R$ 25 e R$ 26, respectivamente.

ilustração: LOOSHstudio/fotos: reprodução

SEM TEMPO E

Baudelaire já escreveu com mestria em Ideal o peso do tempo, “esse obscuro inimigo que nos corrói o coração”. Mas o poeta sabia muito bem que a arte (além da religião) logra neutralizar o tempo. Ela ignora o espaço e a morte. O combate pela eternidade terá um final exitoso se houver uma verticalização na vida, um mergulho na alma, ali onde, justamente, nasce a arte. Os escritores não ignoram que ao encontrar a “voz interior” o texto sai com mais densidade e literariedade. A partir desse momento, não é mais propriamente o autor, aquele com o nome na capa do livro, a escrever; antes um narrador travestido de autor, agora o novo dono da caneta ou das teclas do computador. Uns vão chamar isso de concentração, outros de encontro com a alma, outros de encontro com o divino, outros ainda de “possessão” por um escritor já desaparecido, outros, simplesmente, de técnica inerente ao ofício de escritor. Todos têm consciência, porém, que o resultado daquele esforço cognitivo será atemporal. Equacionar o conflito entre razão e emoção alojado na nossa mente é encontrar o humanismo. Se não houver o freio da razão só viceja a animalidade. A emoção deve sair dosada, como passando por um magnífico giclê dosador; demais afoga, de menos não pega. Ao artista traçar essas linhas demarcatórias! (Linhas que têm um jogo de cintura de artista para artista). A arte bamboleia sobre essa demarcação. Para esse traço não há tempo nem espaço. Quando Thomas Morus escreve, em 1516, o seu Sobre o Melhor Estado e Sobre a Nova Ilha Utopia, ele cria um lugar diferente daqueles conhecidos por seus leitores, uma ilha onde não há desequilíbrios sociais e onde reina a igualdade (Morus retoma o estado ideal de Platão). A fabricação de um outro mundo basta para revelar os poderes incomensuráveis da arte (e, por tabela, do homem). A fabulação de Morus é atemporal. No Sítio do Picapau Amarelo não se vê um patriarca a dar ordens. A personagem principal é Dona Benta. Não havia (e nem há! É pena!) sociedade assim estruturada, pouco importa, vale a imaginação de Monteiro Lobato. Machado de Assis trabalha bastante essa ansiedade advinda das limitações do homem diante do tempo. É que descobrir o real e a verdade equivale a achar um passaporte para a eternidade, por isso a fixação em relógios e olhares. Em Dom Casmurro, por exemplo, a busca da verdade ou do real levam o narrador a sobrevalorizar os olhos da Capitu na esperança de que eles sejam objetivos e frios (mas eles são armas da emoção, por isso mentirosos). Lembremo-nos que o olhar da Capitu era “oblíquo e dissimulado”. E até no enterro do “amante” (versão de Bentinho): “Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas”. O tempo também poderia desvelar a verdade. Daí que o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas, do mesmo Machado, não seja “propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço”, como se lê no primeiro capítulo do genial romance que, para os historiadores da literatura, iniciou a fase realista do fundador da Academia Brasileira de Letras. Ora, para rever a sua vida com objetividade, o narrador se posicionou fora do tempo e do espaço. Porque ambos, tempo e espaço , relembram com dureza aos seres humanos a sua finitude. Como sair então desse impasse angustiante? Lendo o Dom Casmurro, por exemplo. É que através da arte leitor e autor são atemporais, logo, eternos.


Talita Hoffmann

talita.hoffmann@gmail.com flickr.com/photos/litsy

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formigueiro

Horário marcado, bom dia minha senhora, posso pegar a escada ali, essa altura pode ser, posso lavar a mão, são 120 reais, obrigada, deixo meu cartão. Vidinha imbecil essa. Prédio 1250. Moça estranha. Tinha uma coisa meio esquisita no olhar, acho que era sono. Oito da manhã é pra dar sono mesmo. Mal sabe ela que eu acordo cinco e meia. Levar as crianças na escola e aquela coisa toda. Mas a moça não parecia ter filhos, não. Olho inchado. Moça estranha. Me ofereceu café. Até aceitei, com açúcar e tudo. Será que a moça sabe que lá em casa as formigas invadem o açucareiro? Moça, toma cuidado com formiga, bicho tinhoso. Sorriso bonito da moça. Ela é pequena e ri grande. Moça bonita. Bolo formigueiro e margarina, quero, sim. Gentil a moça. Diz que dessas formigas não têm medo, não, e ri com o olho inchado pequenininho. Moça, desculpa a intromissão, mas a senhorita precisa de ajuda? O sorriso da moça não brilha e até parece meio deselegante e ela diz que tem mais medo de gente do que de formiga. Moça estranha. Se precisar, moça, tem uns vizinhos que dão uma boa lição em quem faz malcriação com moça direita tipo a senhorita. A moça disse que não é caso de surra, não. Ah, moça, mas uns tapas sempre ajuda. Ela diz obrigada, moço, e insiste que não é caso de surra, não. A moça levanta e pede licença. Moça educada. Falta só enganchar as persianas. Em cima tem uns papéis da moça. Não é xeretar, mas a senhorita escreve bonito que só, moça. Ela sorri bonito de novo. Sorriso de verdade, que brilha. Não sei o que a moça queria dizer com aquele monte de palavra complicada, mas ela tem medo de gente, a moça. São 120 moça. 150 e não precisa devolver o troco? Moça gentil. Não posso aceitar, sabe como é, empresa não gosta de gentileza com peão. A moça sorri bonito e diz pra comprar caderno pras crianças. Quem dera, moça, que eles escrevessem tão bonito quanto a senhorita. É, moça, senhorita tem razão, sim. Vou cuidar das formigas. E a senhorita cuida com gente, viu moça. Amanhã tem horário marcado, bom dia minha senhora, posso pegar a escada ali, essa altura pode ser, posso lavar a mão, são 120 reais, obrigada, deixo meu cartão. E ainda tenho que comprar veneno pra formiga. Disse pra moça que ia comprar. Moça bonita. Será que a moça um dia inventa um veneno pra gente?

marina melz

marinamelz@gmail.com marinamelz.wordpress.com


JOIE DE VIVRE

NANU! | drink

Enquanto a Revolução Francesa aterrorizava a aristocracia do país no ano de 1789, uma menina de 11 anos estava no centro de ataque da raivosa multidão. No convento real de Saint-Pierre-les-Dames, instalado na cidade de Reims a 140 quilômetros de Paris, a pequena Barbe-Nicole Ponsardin - que viria a comandar a Veuve Clicquot, um marco na história da champanhe - e as colegas, filhas de famílias ricas e poderosas, temiam o ataque a qualquer momento. Barbe-Nicole conseguiu escapar antes que o convento fosse invadido com a ajuda de uma das costureiras da fábrica têxtil da família. Vestida como camponesa, a menina atravessou as ruas de Reims cobertas pelo sangue de aristocratas mortos pelos rebeldes. Naquela época, o vinho banhava as comemorações populares que viam erguer na França a democracia fincada sob o lema “liberdade e igualdade”. Até então a champanhe era considerada pela alta sociedade uma bebida grosseira e as bolhas indesejadas. Nem se imaginava que ironicamente, anos depois, aquela menina rica disfarçada tornaria o até então popular vinho em um dos líquidos mais ligados ao poder e à sofisticação. Barbe-Nicole passou a adolescência discretamente, aprendendo a servir de esposa e mãe. O próximo capítulo marcante de sua história foi o casamento com o nobre François Clicquot, cuja família também havia prosperado na indústria têxtil. Em 1772, monsieur Clicquot desistiu dos tecidos para investir na produção de champanhe. Até então Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin era mera coadjuvante e tratava de cuidar da casa e da única filha do casal.

fotos: divulgação

A viúva Clicquot François sucumbiu a uma febre infecciosa e deixou Barbe-Nicole aos 27 anos sozinha com uma vinícola nas mãos. Apesar de conservadora e acreditar que as mulheres eram feitas para o lar, a viúva assumiu os negócios do marido e empenhou-se em produzir a melhor champanhe. Nos 60 anos em que dirigiu a empresa seguiu firmemente o lema “une seule qualité, la toute première” (traduzindo, “uma única qualidade, a primeiríssima“). Assim nasceu a Veuve Clicquot que ficou famosa em todo mundo graças às inovações que garantiram qualidade e guiaram a maneira de produzir a bebida. Barbe-Nicole focou na burguesia ascendente e, assim, revolucionou o estereótipo vinculado ao consumo do vinho. Também criou, entre outras, a técnica do remuage que consiste no armazenamento do vinho de cabeça para baixo. O procedimento serve para deixar a champanhe cristalina e borbulhante, pois elimina resíduos da segunda fermentação. Hoje, suas champanhes são reconhecidas pela imagem da matriarca impressa em rótulos e rolha - além da qualidade, é claro.

La toute

première

Nas mãos da Veuve Clicquot, a champanhe tornou-se artigo de luxo, ficou mais cristalina e borbulhante Da adega Veuve Clicquot Rosé

Vintages

É um champanhe delicado, frutado e pode servir de aperitivo. Sua cor é luminosa com matiz rosa e o aroma lembra cereja e especiarias.

Em 1810, madame Clicquot reservou as melhores uvas e produziu champanhes que só seriam vendidas de acordo com a data de “aniversário” da safra, para que marcassem a memória de um ano único. Nesta linha, há as opções Vintage, Vintage Rosé, Vintage Rich e Rare Vintages.

Brut Yellow Label Um dos mais apreciados e conhecidos da Veuve Clicquot tem estrutura firme com toque de Pinot Menunier, um terço de Chardonnay - o que garante elegância e equilíbrio ao sabor. Ganhou este nome por causa da cor do rótulo.

Demi-Sec Champanhe branca privilegia a uva Pinot Noir, sendo completada por um quarto de Pinot Meunier e outro quarto de Chardonnay. Esta mistura torna-o harmonioso sem alterar o frescor.

La Grande Dame É uma champanhe especial, elaborada apenas em anos de safras excepcionais. Foi criada para comemorar o bicentenário da marca. Sua característica é o vigor do Pinot Noir com a delicadeza do Chardonnay. As garrafas são conservadas por pelo menos seis anos nas Crayéres (cavernas transformadas em adegas). Tem sabor frutado, com textura profunda e sedosa.

Saiba mais A Viúva Clicquot - De Tilar J. Mazzeo, Editora Rocco, 304 páginas, R$ 39 (preço médio)

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JOIE DE VIVRE SOLANGE KURPIEL | conexão

MODERNO e

DÉMODÉ

O Palácio Real É o lugar ideal para quem busca contrastes

110 NANU!

Rakel Van Kote é a proprietária do estabelecimento. Israelense, chegou à França há 25 anos para se casar, há dez comprou a loja da família fundadora, os Goldish. Ela conta que até hoje recebe a família do ilustre escritor Balzac e também a de Gustav Eiffel, dois grandes clientes de A l’oriental. Na parede atrás dela, uma foto de Luciano Pavarotti com um cachimbo na boca também a faz lembrar as diversas vezes que o tenor lírico veio à pequena loja. O público brasileiro também não está de fora. Ela afirma que eles sempre dão um pulinho por aqui. Quando Rakel me mostra os cachimbos e as peças de relíquia que comercializa, e explica que não se preocupa com a organização do local, que simplesmente não acha bonito o simétrico, “quando um cachimbo cai (me aponta um no final da prateleira) deixo lá, sei que se chegar alguém aqui que o quiser, vai me apontar e vou recuperá-lo. Essa é a minha casa, aqui trabalho, aqui canto, componho, escrevo. O resto é resto”, completa. Saindo da loja de Rakel, caminho entre o jardim e as outras butiques. O ambiente é tranquilo, o céu cinza do início do outono dá um tom bastante nostálgico ao lugar. Uma sensação que casa muito bem com a próxima visita: na esquina da Galeria Beaujolais com a Passagem de Perron, está a Anna Joliet - Boîtes à Musiques. Aqui o único produto comercializado são as caixinhas de músicas, das menores e com mecanismos bem simples até relíquias que podem chegar a 3 mil euros. A ideia nasceu há 30 anos da polonesa Anna Joliet. Uma mistura de fascinação por um presente de infância e a descoberta do processo de fabricação numa cidadezinha Suíça, a motivou a abrir a loja. Hoje com 80 anos não se ocupa mais da butique, mas todas as manhãs Madame Joliet vem dar uma boa olhadinha, afirma Geneviève Barrial, atualmente a coordenadora do empreendimento. “O mais agradável em trabalhar aqui é a sensação de estar em um mundo mágico, quando os clientes entram e acionam as caixinhas há um silêncio na loja, então sei que o som os reportou para algum momento especial da infância”, sorri Geneviève. Chartres, Orleans, Valois, Montpensier, Beaujolais ao longo de todas as galerias do Palácio é possível curtir inabituais e obsoletos artigos em lojas tão específicas como uma dedicada apenas à venda de prataria antiga ou outra perfeita para os colecionadores de medalhas ou ainda um local que sobrevive há 215 anos fazendo gravações em livros, peças em metal. O mais interessante ao caminhar por aqui é perceber que artigos que muitas vezes cremos estarem 100% defasados ou, ainda melhor, “fora de linha”, em locais como estes se mantêm iguais, no mesmo ritmo de compra, desconhecem crises ou instabilidades econômicas.

fotos: Solange Kurpiel

O velho e o novo se esbarram o tempo todo aqui em Paris. Os monumentos históricos e as suas centenas de anos batem de frente com as construções supermodernas e conceituais. Simetricamente posicionado em frente ao Arco do Triunfo, o Arco de La Défense é uma réplica ultramoderna do monumento histórico construída com materiais como o vidro e o metal. As grandes redes e marcas globais de moda, cosméticos, perfumes também vão de encontro às pequenas, originais e insólitas butiques que persistem há séculos. É uma sugestão, uma excelente pedida, para quem quiser um dia conferir um desses lugares cheios de contrastes. A apenas dois passos do Museu do Louvre está o Palácio Real, uma visita que, infelizmente, na maioria das vezes, passa bem longe da rota frenética dos turistas. A construção abriga mais de quatro séculos de história e contempla uma extraordinária arquitetura clássica ornada por colunas, marquises, galerias e estátuas em mármore. Um charme reforçado pela mescla “desarmônica” e enriquecedora de obras contemporâneas. Logo na entrada mais próxima ao Museu do Louvre, ao lado da Comédie Française, fica uma ousada e muito polêmica escultura de 3 mil m2. A obra é do francês Daniel Buren e consiste em 260 colunas de mármore pretas e brancas dispostas na principal praça do palácio. A princípio a ideia não agradou nem um pouco os parisienses, mas com o tempo e com o hábito eles acabaram engolindo – a mesma história da época da Torre Eiffel. Seguindo reto em direção ao jardim do Palácio, você encontra as duas fontes de Pol Bury, formadas por esferas móveis de metal que dão um ponto de vista inusitado para admirar o prédio. A provocante disputa entre o moderno e o clássico, entre démodé e o que está na moda, fica ainda mais excitante nos corredores que contornam o jardim do Palácio Real. As galerias abrigam, especialmente, butiques de alta costura que trazem às vitrines as últimas tendências de roupas, sapatos, joias. Estão nas galerias do palácio marcas tradicionalíssimas como Rick Owens, Didier Ludot, Stella McCartney, Marc Jacobs. É no meio de tanto luxo e glamour que descubro uma das lojas que fazem mais sucesso por aqui. Não segue (nem um pouco) os padrões das vizinhas – muito pelo contrário – é bagunçada, empoeirada e com artigos saindo pelas janelas. A butique A l’oriental, na esquina de uma das saídas do palácio e da Galeria de Chartres, é conhecida internacionalmente por seus cachimbos, que podem ser raridades do século XVIII ou peças atuais. Desde 1818 a loja recebe figuras célebres do mundo da música, da política, do teatro.


CULT

FREDERICO FLORES

NANU! 111


JOIE DE VIVRE

NANU! | gastronomia

Ativista

gastrônomico

De Porto Alegre, o chef Alan Chaves ensina como a culinária vegetariana é acessível e deliciosa Alan Chaves prefere não ser chamado de chef, embora tenha formação em gastronomia pelo Senac de Porto Alegre. Para ele, “ativista gastronômico” é uma definição muito melhor. Afinal, Alan prepara exclusivamente pratos vegetarianos e veganos - ou seja, sem derivados de carne, como ovos e leite. Outra bandeira levantada por Alan é acabar com o mito de que a gastronomia sem carne é cara e pouco acessível. Para comprovar, ele ensina seus pratos em workshops pelo Brasil e envia uma de suas receitas para a NANU!. Não é apenas a seleção de ingredientes que o diferencia dos outros chefs. Alan começou a cozinhar quando decidiu deixar de comer carne. “Comecei a ler sobre veganismo em fanzines, panfletos e letras de bandas de HardCore no final do ano 2000. Foi por questões éticas. Li tanto que uma hora não consegui mais comer”, conta. Primeiro, abandou a carne branca - diferente da maioria, que prefere largar antes a carne vermelha. Depois de seis meses, já não comia mais nenhum tipo de carne ou derivados. “O mais difícil foi o queijo, até mais do que a carne, mas já se passaram nove anos e eu não sinto mais falta de nada”, explica. Antes de virar chef, ou melhor, ativista gastronômico, Alan decidiu distribuir comida em shows para divulgar o vegetarianismo. Adepto do movimento punk, já morou em squats (“casas abandonadas que são ocupadas por punks para servir de moradia e/ou espaço cultural“) e fez de tudo um pouco - como ele mesmo brinca -: trabalhou em estúdios de música e como porteiro de bar. Seu último trabalho foi como bartender, mas ele preferiu arrumar as malas divulgar o vegetarianismo por aí.

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NANU! - Você pensava em se tornar chef? Não tinha intenção de ser chef na época, mas com o passar do tempo vi que tinha facilidade de explicar as matérias aos meus colegas que eventualmente faltavam, e isso me deixava gratificado. Mesmo dando aula hoje não me denomino chef de cozinha: prefiro o termo ‘Ativista Gastrônomico‘. Acho que a palavra ‘chef’ ainda deixa as pessoas com muito medo da cozinha. Vou na casa das pessoas e elas ficam apreensivas e inseguras, dizendo ‘ai meu Deus, vou cozinhar pra um chef de cozinha!’. Acho que não é bem por aí que tem que ser. A cozinha é um local de integração, de troca de vivências, sabe? Eu mesmo aprendi muito nessa viagem, e isso que valeu mais a pena. De qualquer forma, as pessoas dão maior valor quando o termo chef é aplicado. Para divulgar o vegetarianismo e ter uma certa credibilidade ou autoridade no assunto, aceito ser chamado de chef, mas minhas intenções vão muito mais além da questão profissional, e querendo ou não isso gera um diferencial na minha profissão, um algo mais. NANU! - Qual é o maior desafio na culinária vegan? Encontrar temperos, ingredientes? Acho que o maior desafio da culinária vegan é superar os preconceitos. No Brasil quem começou tudo foram os hare-krishnas e os macrobióticos. Este último grupo é muito natureba, então, muita gente acha que comemos comida com pouco tempero, muita salada, essas coisas, então fica esse estigma, sabe? Mas isso não representa a dieta da maioria dos vegetarianos de hoje em dia. Eu mesmo sou vegetariano e odeio salada. Sei

fotos: Gabriel Soares

NANU! - Você fez um curso de gastronomia no Senac em Porto Alegre. Qual era a sua expectativa ao fazer o curso? Minha expectativa era ter um diploma profissional para atuar na área, somente. Dificilmente uma pessoa vegetariana encara um curso desses por causa da manipulação de carnes, que é obrigatória. Eu queria entrar quieto

e sair calado, pegar o meu diploma e ir embora, para aí sim começar a minha carreira. Só que quando chegou no trabalho de conclusão, meu grupo sugeriu que os pratos fossem veganos (sem nada de origem animal) e eu topei na hora! O trabalho foi considerado tão original que teve destaque nos meios de comunicação, e já comecei a me lançar como cozinheiro.


que devo comer, que faz bem e tudo mais, mas assim como a maioria dos vegetarianos de hoje em dia, optei por essa dieta focado em motivos éticos e não somente por saúde, como era antes. NANU! - Isso está mudando? O vegetarianismo já está conseguindo ser aceito com mais naturalidade nos últimos tempos, mas quando tu falas que se abstém de tudo de origem animal, ainda tem gente que te tira pra maluco. E não é maluquice: se tu tomas uma opção ética de não obter nada que provenha de sofrimento animal, o veganismo é um passo mais avançado, mais completo. Compreendo que conceitos que são novos sempre sofrem um tipo de resistência. Mas é só olhar para ver o que acontece na Europa, onde 6% da população é vegetariana, e ver com qual naturalidade a população e o mercado lida com isso. E isso está começando a acontecer no Brasil, é só conferir nas prateleiras dos mercados a crescente presença de produtos que substituem as proteínas vegetais. Infelizmente essas opções ainda são caras pois têm valor agregado por ser um produto saudável ou light. Mas não tem segredo, comemos as mesmas coisas que um onívoro come, exceto as coisas de origem animal, que no nosso país é um luxo. Arroz, feijão, macarrão, verduras e legumes estão no prato de todos os brasileiros. NANU! - Como decidiu viajar o Brasil fazendo as oficinas? O que não pode faltar na tua bagagem para os cursos? Essa ideia foi a junção do punk com o cozinheiro. O lema do punk é o Do it Yourself (Faça Você Mesmo), e a maioria das bandas desde estilo fazem turnês pelo mundo todo seguindo essa filosofia. Se programam, entram em contato com pessoas nas cidades que têm interesse de armar um evento, colocam o pé na estrada e vamo que vamo! Se eu fosse um chef ‘normal’, com meu restaurante e uma certa idade, certamente não faria. Não marcaria um evento com uma pessoa que nunca vi na vida, numa cidade que não conheço sem saber quantos pagantes vai dar. Dormir na casa dos organizadores, em sofá, colchão, rede, no chão, onde der, e não em uma cama de hotel. Cruzar o Brasil de ônibus e pegando metrô com 60 quilos de bagagem. Isso é bem rock and roll! Eu não posso viajar sem minhas panelas, facas e liquidificador, tanto para as aulas como para os jantares que faço na casa das pessoas. Não posso viajar sem meu mp3 player e

meu travesseiro de pescoço, para não dar torcicolo durante a viagem (risos). NANU! - Qual o seu prato preferido? Pergunta cruel, hein?! É o mesmo que escolher qual filho a mãe gosta mais (risos)! Mesmo depois de me tornar vegetariano, ainda fico com o bom e velho strogonoff, batata palha e arroz branquinho com bastante alho, tudo sem origem animal, claro. O strogonoff pode ser de proteína vegetal texturizada, popularmente conhecida como “carne de soja” ou mesmo com bifes de glúten cortados em iscas. Para substituir o creme de leite, uso o creme de soja, ou melhor ainda: leite de coco. Fica uma delícia! NANU! - Qual foi o primeiro prato que você fez? Difícil essa também... Provavelmente deve ter sido uma proteína de soja bem sem graça (risos). Mas com o tempo fui acertando a mão. Em um show foi um cachorro quente com proteína de soja e molho, bem sem graça também (risos). Mas quando tinha banquinha e comecei a vender hambúrguer de lentilha com maionese de batata e cenoura, aí todo mundo gostou muito! Inclusive, no meu curso, ensino a fazer esta maionese. NANU! - Como faz pra conciliar o trabalho com a banda XAMORX e as viagens? A XAMORX está devagar e sempre.... devagar! Somos uma banda bem relapsa, e as coisas aqui em Porto Alegre para show estão bem devagar também. Porém viajando pelo Brasil vi que tem muita gente que gosta, que ainda tem a nossa demo, em fita k7, de 2001, e isso dá uma vontade de organizar uma tour pro futuro. Ainda mais agora que vai sair nosso cd, finalmente... Voltar para a estrada como membro de banda vai ter um gosto ainda mais especial. NANU! - Qual prato que faz mais sucesso nos cursos? Nessa minha primeira turnê, o foco foram molhos. São 15 no total, mas os preferidos são os de gergelim torrado com limão e salsa, o agridoce e o molho fungui. Nos jantares, o churrasquinho de proteína de soja e o jantar árabe com falafel (bolinho de grão de bico), kibe, tabule e homus sempre recebem elogios e fazem que as pessoas comam até não aguentarem mais (risos)!

Ninho Agridoce de Tomate Ingredientes 2 tomates verdes tamanho médio 3 tomates maduros 1 batata pequena 2 maços grandes de espinafre 1/3 de xícara de chá de açúcar 1/3 de xícara de vinagre de maçã Azeite de Oliva q/n (quantidade necessária) Sal e pimenta do reino a gosto

Preparo da geleia de tomate Lave e retire a parte do cabinho dos tomates maduros, e faça um corte superficial em cruz na extremidade oposta. Jogue-os em água fervente até que a pele comece a despetalar. Logo em seguida, jogue-os em água fria e remova o restante da pele que não soltou sozinha. Após, corte os tomates em quatro partes e retire as sementes. Faça isso em cima de uma peneira com um vasilhame por baixo - para aproveitar o suco do tomate que posteriormente poderá ser usado na geleia. Retiradas a pele e as sementes, pique o tomate em cubos pequenos, levando-os em uma frigideira com o açúcar, o vinagre, uma pitada de pimenta e de sal. Deixe em fogo baixo até os pedacinhos dos tomates se desmancharem e virarem uma geleia. Caso necessário, use o suco do tomate para não deixar queimar. Reserve. Preparo do tomate frito Lave e corte os tomates verdes em rodelas de mais ou menos um centímetro. Em uma frigideira plana e quente, coloque um pouco de azeite de oliva, espere esquentar e coloque as rodelas de tomate e deixe frigir até dourar os dois lados. Desligue a frigideira e tempere com sal e pimenta-doreino. Reserve.

Preparo do espinafre Lave-os e retire as folhas dos talos. Logo após, coloque as folhas em uma peneira, e mergulhe-as em água fervendo por três segundos e, logo após, em água fria. Para economizar tempo e gás, utilize a água usada para descascar os tomates, de preferência, antes. Escorra e reserve. Preparo da batata Após lavar e descascar, passe na parte mais fina do ralador. Enxugue-as em papel toalha e frite-as em imersão de óleo quente. Escorra e coloque uma pitada de sal e pimenta. Reserve. Montando o ninho Em um aro, forre seu interior com as folhas do espinafre - de preferência as maiores. Coloque uma colher de sopa cheia de geleia e, logo após, o tomate frito. Novamente, adicione uma camada de geleia e outro tomate. Pegue as pontas das folhas de espinafre e coloque-as para dentro do centro do tomate, para que o cubra. Repita essa operação para formar o segundo gomo do ninho. Coloque a batata frita no topo do ninho, e retire o aro com cuidado. Sirva em temperatura ambiente.

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JOIE DE VIVRE NANU!

TOY new Smarts contra o câncer Smarts Cars customizados por dez grifes estão à venda por uma boa causa. Os carros da Mercedes Benz ganharam versões únicas, coloridas e descoladas de marcas como 284 - criada pela terceira geração da Daslu -, Reserva, Jor de Mer e Zapälla. O bacana é que parte da renda conseguida com a venda dos carros e de 50 peças doadas pelas grifes será revertida para o Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer (IBCC). O projeto, batizado de B (Loves) C, é uma parceria entre o IBCC, o clube de compras BrandsClub e o Smart Jardins. Cada versão custa R$ 58.700. Dá pra votar no seu carro preferido pelo site oficial smart.brandsclub.com.br. Cada marca terá o seu Brandsday no www.brandsclub.com.br.

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Alô? Quadro mágico

Conhecido no Brasil como quadro mágico, o Etch a Sketch foi relançado em vários formatos, mas o mais legal é dos anos 60 mesmo - afinal, os clássicos nunca morrem. Dá pra encontrar em lojas virtuais como a ww.garagemkorova.com.br por R$ 40.

Este telefone é um clássico dos anos 50 e 60. Disponível nas cores vermelho, preto, branco e laranja o ScandiPhone tem o dial na base. Dá pra comprar no www.delight.com por $ 61,50.

Rock the kitchen Para os roqueiros, esta espátula em forma de guitarra feita em silicone e resistente a altas temperaturas é perfeita. A Flipper Guitar Spatula tem nas opções vermelho e preto por $ 9,99 no www.perpetualkid.com.

Style Back in the Game

Cinto de borracha O Inner Tyre Tube, da Schlauch, é um cinto feito da borracha usada no interior dos pneus de bicicleta. Ele é ajustável com uma fivela e tem vários modelos de estampas. Custa entre 21 a 46,50 euros no www.schlauch-shop.com.

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Relógio de brinquedo Parece brinquedo, mas não é. O The Newton, relógio da Nixon, não tem ponteiros ou números. Ele tem um display com lâmpada LED e pulseira de silicone. Dá pra mergulhar até 30 metros de profundidade na água que ele não estraga. Custa perto de U$ 99. Informações no www.nixonnow.com.

fotos: divulgação

Os tênis Pony estão de volta e já chegaram ao Brasil. A coleção Pony Collegiate Pack é inspirada nas universidades dos EUA. A marca foi criada em 1972, virou sucesso, desapareceu e agora foi relançada. Os modelos custam entre R$ 85 a R$ 150.


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JOIE DE VIVRE

IKE GEVAERD | por aí

um traço no

infinito

O Vale da Morte no deserto de Mojave revela algumas das paisagens mais surpreendentes dos Estados Unidos

O começo do vale Num lugarejo deserto, no deserto de Mojave, Estado de Nevada (EUA), um pavão bem nutrido nos recebe em frente à Amargosa Opera House na entrada principal do Vale da Morte, quando se vem de Las Vegas.

Death Valley

Zabrinskie Point e estrada a Badwater Proporcionam uma monumental visão do centro do Deserto de Mojave, onde as terras áridas formam esculturas de argila, moldadas e pintadas com as cores da Pallete dos Artistas - uma montanha multicolorida escondida nos arredores da estrada que leva a Badwater, uma pequena piscina natural situada a 86 metros abaixo do nível do mar.

Furnace Creek Ranch Parada obrigatória no meio do deserto, é uma opção para dormir e pesquisar um pouco mais sobre um dos locais mais interessantes do Planeta. Este oásis no meio do deserto, com seus campos de golfe, fontes de água natural e arboretos de palmeiras, repõe as energias para desbravar a região no outro dia.

O fim da linha Seguindo viagem através dos salares, campos de dunas e das exuberantes montanhas enrugadas, enxergamos no final da paisagem o branco das montanhas de neve que anunciam o final do deserto. Estamos indo em direção ao Nappa Valey e seus vinhedos, localizado ao lado de São Francisco, na Califórnia.

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fotos: Ike Gevaerd

Na estrada, como se tivessem saído de uma tela de TV nos anos 70, arbustos empurrados pelo vento cruzam nosso caminho. As caixas d’água, antigos reservatórios/abastecedores que davam o último suprimento antes de se entrar no deserto, são as poucas intervenções humanas que ocorrem na paisagem desértica.



JOIE DE VIVRE NANU!

GLAMOURsob

ENCOMENDA

O que há de melhor e estiloso no mercado de embarcações exclusivas Um modelo clássico, um filme, uma lembrança do passado ou traços modernos. Estes barcos, projetados por designers (yatch designers), são inspirados em desejos e memórias de seus clientes. Feitos sob encomenda, remetem aos anos 60, filmes do 007 ou às canoas dos índios americanos. Até o modelo no qual John F. Kennedy ensinou Jacqueline a velejar é uma das referências. As embarcações construídas pelo Estaleiro Kalmar figuram entre as melhores, segundo publicações especializadas, e é preciso entrar na fila para ter uma delas. Quem consegue, no entanto, garante que a espera é

compensada pelo capricho dado aos barcos. A experiência adquirida em 27 anos na produção de barcos faz da empresa referência no setor. Hoje, aos 24 anos, a herdeira Lorena Kreuger coordena o negócio que nasceu e se desenvolveu nas mãos do seu avô, Erik, e de seu pai, Lars, mantendo na mesma linha adotada desde o início: atender ao mercado garantindo exclusividade. Além de ter se especializado no trabalho com madeira de alta qualidade para interiores, móveis e decks de iates exclusivos. Confira abaixo o charme dos projetos que estão entre os preferidos da família Kreuger.

Runabout Com potência máxima de 33 nós, a Runabout 24 é uma lancha baseada em traços dos anos 60 e remete à cenas nostálgicas e filmes do 007, em que o agente secreto britânico James Bond é vivido por Sean Connery em 1962.

Lobster Sua referência são os barcos rápidos usados na pesca de lagosta no estado do Maine, na costa americana, criados antes da 2a Guerra Mundial. O Lobster é um trawler de 35 pés e certamente a navegação mais suave e independente do estaleiro. Dono de conforto extremo, o Lobster não é um simples barco, mas uma residência embarcada, que oferece à tripulação toda comodidade e aconchego de uma casa.

Canoa Calmar Canadense A menina dos olhos dos Kreuger é esta canoa. Projeto e obra desenvolvidos pelo estaleiro, é fabricada com muito carinho e prazer pelos artistas que literalmente colocam a mão na massa. Tendo como principal matéria-prima o Kiri, madeira extremamente leve e de agradável aparência. A canoa pesa cerca de 26 quilos.

Veleiro K8

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fotos: divulgação

Inspirado no 26 pés Victura, no qual John F. Kennedy ensinou a esposa Jacqueline a velejar, o modelo é destaque de aceitação. É uma embarcação de oito metros e possui excelente estabilidade e navegação. Trata-se de um projeto do escritório Carabelli, um dos mais bem conceituados do mercado



JOIE DE VIVRE PEDRO HERING | transitando

CELEBRATIONS&

PARTYS Com Jesus Luz em Santa Catarina

Jesus Luz esteve em SC e botou seis mil pessoas para dançar na pista do Balneário Camboriú durante uma hora e meia. O set, sem hits fáceis, foi super up-lifting e com pegada undergound. Funcionou. Antes o carioca de 22 anos que hoje mora em NY tocou durante meia hora no cocktail de lançamento de uma revista para 500 convidados. Eu me joguei até lá para fazer as honras e garantir que tudo corresse bem com ele.

O atual namorado de Madonna mostrou-se supercolocado e confesso que estranhei as poucas exigências de segurança e camarim no caso de uma celebridade mundial como ele: apenas quatro seguranças e pouca bebida, mesmo ele recebendo alguns convidados. Just in case pedi para mandar gelar as VC e Don Perignon. Jesus tem presença, é educado e simpático. E ele confirmou, transitando no palco sem estrelismo entre os presentes, supercarismático e interagindo com a pista que bombou all the time. Total star-quality.

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1. Jesus Luz 2. DJ Rodrigo Vieira, filho da atriz Susana Vieira 3. Modelo catarinense Marlon Teixeira que fez a campanha Dior Homme 4. Caco Ricci 5. Ator Iran Malfitano e o DJ Jesus Luz 6. Luciana Vendramini 7.Juliana Christol e Guilherme Romariz

Lançamento do Travel Guide do Ponta dos Ganchos

fotos: Pedro Hering/Imagecare

Nicolas Peluffo recebeu poucos e bons para lançar o Travel Guide Ponta dos Ganchos 2010 – 2001 no final de outubro. A cena foi chez Tina Bauer em Floripa. A publicação vem endossada por um time estrelado: assinada por Ricardo Freire conta com ilustrações de Felipe Crescenti e fotos de Tuca Reines e Sergio Pagano. Luxo! 1. Cristiane França e Nicolas Peluffo 2. Travel Guide Ponta dos Ganchos

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You’re simply the best: Johanna & Alexandre, Valentino, Tom Ford e Galliano Vários dias de comemorações para celebrar bodas são tendência entre os que sabem das coisas. O casamento da blumenaunse Johanna Stein com Alexandre Birman em São Paulo foi comme il faut, com fortes pitadas de chiqueria e informação de moda, combinação just perfect. Minha prima Johanna de Valentino – uma semana depois assisti o documentário Valentino The Last Emperor e amei. O noivo Alexandre vestido impecávelmente com um fraque Tom Ford. Excelent choice. Falando em Tom Ford estou nervoso para ver seu filme de estreia, A Single Man. Definitivamente Tom Ford é o meu designer preferido no momento ao lado de John Galliano, cujas calças masculinas são minhas prediletas, always. Com fitting impecável e mood sacaninha na medida exigem um corpo em forma e atitude. Resumindo: para poucos. Da solteirice fashion silverscreen de Tom Ford à sexualidade explícita de Galliano passando pelo luxo haute couture de Valentino vamos às imagens, mas não sem antes desejar aqui, publicamente, longa vida ao casal. 1. Johanna Stein Birman 2. Johanna e Alexandre Birman na saída da igreja 3. Karoline Stein, Johanna Stein Birman e Giovani Bianco 4. Edsá e Debora Sampaio e Álvaro Garnero 5. Renata e Lilly Sarti

Cocktail da Levi’s A Levi’s de Blumenau reuniu a chiqueria, fashionistas e formadores de opinião para apresentar a nova loja de Blumenau. Mailing impecável by Image Care Media Connections e muito alto astral garantiram o “warm-up” para a festa de lançamento de NANU! mais tarde no Camorra. Eu fiz algumas fotos exclusivas para meus leitores em NANU!. Here we go!

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1. Marco Duailibi com Paula e Fernanda Barbano 2. Cintya Mendes, Marco Aurélio Cúneo e Juliano Mendes 3. Duh Kottmann, Douglas de Souza e Gabriela Telles Moreira 4. Beto Holetz e Miriam Roza 5. Miguel Estelrich e Carvalhoneto 6. Ricardo e Letícia Bauer 7. Helena Schürmann e Alisson Corrêa

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fotos: Camilla Jade Martins

O lançamento da oitava edição da NANU!, com o tema Noise, reuniu convidados no Camorra

1. Priscila Figuski, Clikles e Claudia Farias 2. Joice, Susana Pabst e Duh 3. Renata Silva, Maristela Garcia e Maria Rogeria 4. Alan Segala e Patricia Segala 5. Pierre Eduardo, Cae Ubber e Arthur Presser 6. Carmen Marquetti e Maria Fernanda Marquetti 7. Anderson Reiner, Tatiana Pacher e Aline Lima 8. Ariane Andrade e Juliana Masson 9. Djs 10. Bina Barbieri e Família Marquetti 11. Célio Luis Delabeneta, Celso Spengler, Anderson Lourenço, Campari Joy 12. Mayara Mady 13. Edu Beltramini, Ana Fukakusa e Emily Betiol 14. Eude, Evelaso e Charles 15. Gabriel Villaruel e Grace Sudbrack 16. Chikles Farias, Cláudia Farias, Ana Grahl e Jean Huewes 17. Suzi Fukushima e Maristela Garcia 18. Fabio Guerber, Fernanda Guerber e Cleyton Reitel 19. Milena Fritzlae,Vanessa Siesves e Kadu Britis 20. Guilherme Becker e Renata Wilbert 21. José Joaquim Martins, Sérgio Popper e Kadu Britter 22. Maira Ribelo Cotti e Guilherme Fehrlen 23. Gabriela Telles Moreira e Duh 24. Lais Gianesini e Guilherme C. Schaffer 25. Sara Hildebrand e Danielle Janzen 26. Leila Hort, Flávia Vaneli e Jonathan Rodrigues 27. Gabriela Schmidt 28. Jessica, Ana, Felipe e Bianca 29. Susana Pabst, Priscila Figuski e Fernando Denti 30. Robson Stedile, Jeferson, Stefano Luchesi, Rafael Beber e Fernando Denti 31. Joice e Susana Pabst 32. Nicole Victorin, Bina Barbieri e Gabriela Cândido 33. Rafael Corbella e Caroline Bruning 34. Duh e Douglas 35. Pedro Rebelo e Manuela Franca 36. Suelen Piklé, Luma Caroline dos Santos e Bianca Andrade de Liz 37. Guilherme Reddin 38. Renata Wilbert, Felipe Brockveld e Giovana Morastoni 39. Salvador Torres e Caroline Passos 40. Sandra e Tiago Proci 41. Monike Mueller e Farley hillesheim 42. Silvio e Tania Zabel 43. Tatiana Pacher Nazato, Guilherme Bauer e Fabíola 44. Suellen Pikle e Carlos Norberto NANU! 125


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fotos: Camilla Jade Martins

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Urban Man

Promoveu desfile e jantar para clientes e parceiros no Tabajara Tênis Club 2. Sandra e Sergio Popper 3. Angelito e Leonesia Barbieri 4. Bernadete Briano e Julio Gonçalves 5. Darci e Edson Rogerio Delbosi 6. Ednilson, Katia e Ana Luiza Tambosi 7. Equipe Urban Man 9. Cesar, Tania Pamplona, Renato e Lorena Medeiro 10. Irene, Geni, Cris, Sandra e Sergio 12. Josiani e Caio Debossan 14. Iliani Souza e Sergio Popper 15. Maria Fernando e Daniel 16. Joselia Gomes de Carvalho e Marcia Popper 18. Erica e Ivan Reinert 19. Silvana H. Censi, Deise Oliveira e Carmen Lucia Censi 21. Kadu Brites 23. Cintia Tanziani 24. Sergio Popper e Mariana Popper 26. Roberta e Jaison 27. Charles, Lara Balbinote e Vera Weickert 29. Pry, Maria Eduarda e Jaqueline Raimundi 31. Michele Fuke 32. Vera, Maurina, Artina, Valquiria, Lilian e Marilene NANU! 127


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Levi’s 1. Ruana Carvalho e Daniela Provesi 2. Paula Barbano e Luiz Kunde 3. Renata e Andriei Beber e Janice Bell 4. Kamilla Karoline Lopes e Leonardo Cesar de Mello 5. Fernanda Fressiane, Felipe Sá Ferreira e Melina Gabriel Alves 6. Janice Bell, Cinthia Mendes, Miguel Estelrich e Rosana Schindler 7. Jonathan Daniel Baer e Leonardo Falquetti 8. Janice Bell e Maria Júlia Zimmermann 9. Beto Almeida , Patrícia Cardoso e Ana Paula Cardoso 10. Marcelo (Levi`s Brasil) Gabriela, Douglas e Eduardo 11. Equipe Levi´s Tamires, Felipe, Cláudia, Marcelo, Suzana,Djone e Su 12. Paula Barbano, Ana Luiza Greco Moura e Diethein Reimer 13. Elise Marie Manassés e Wallace Rodrigues 14. Fernanda Nasser, Marco Duailibi e Maria Júlia Zimmermann 15. Fernanda Bressiane, Felipe Sá Ferreira, Melina Gabriel Alves e Maria Júlia Zimmermann 16. Fernanda Bressiane, Juliana Finder, Isabela Almada e Paula Barbano 17. Fernanda Rosa, Rosete Rosa Boehn e Tamires(Levi`s) 18. Luiz Kunde, Paula Barbano, Fernanda Barbano e Teny Barbano 19. Eduardo 20. Amanda Lopes, Belarmino Silva, Maria Júlia Zimmermann e Mary Weickert 128 NANU!

fotos: Lesther Santoro

Comemorou com coquetel a reabertura da loja no Shopping Neumarkt

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fotos: Camilla Jade Martins

Monic & Cia

Participou com desfile no 12 º lanche beneficente de Natal, do Lions Clube de Blumenau e de apoio à ONG São Roque e Associação Renal Vida

1. Aglaê Nazário, Maristela Garcia e Lucia Victorino 2. Lourdete Petters e Janice de Menezes 3. Alessandra Lange, Elsa Simão e Raquel Moser 4. Gisele Busanna, Lindamir Siqueira e Vera Marcellos 5. Dr. Itamar e esposa 6. Sandra Liane de Souza 7. Isadora Moser, Ediandra Menegatti e Monic de Menezes 8. Iracema Pagnocelli 9. Rosemary Schramm 10. Irisete Matuchaki 11. Ivana Isotton e Nadir Ferreira da Silva 12. Maria das Graças e Dione Pithon 13. Scheila Schiel 14. Rosângela Balzan, Maria Tomio e Dorothy Steil 15. Vera Eberhardt 16. Janice e Edson de Menezes 17. Sabrina Boss e filhos 18. Janice de Menezes e Neilen Sackl 19. Miriam Roza 20. Janine Mueller de Lima e Eduardo Raulino 21. Marina Oliveira 22. Janice de Menezes e Rejane Passeti 23. Claudia Coelho e Taciana Heidmann 24. Luana dos Santos e Ane Lourenço NANU! 129


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fotos: Camilla Jade Martins

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Tecnoblu Note

Comemorou os 15 anos da Tecnoblu com palestras de Robi Spatti, Renato Kherlakian e Alexandre Herchcovitch

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inaugurou com coquetel para clientes e amigos a nova loja em blumenau 1. Ana Paula Abreu e Leila Abreu 2. Iara Abreu, Maria Eduarda Vasselai, Ana Paula Abreu Soares 3. SEM NOMESSS 5. Mackzinhox,Carola e Ana Paula Abreu 7.Silvana Vieira e Ana Paula Abreu 8. Valeska Schroeder, Amelia Bruns, ROberta Schroeder e Ana Paula Abreu 10. Carol, DĂŠbora, CArina, Ana Paula, Roberta, MAria Aparecida, Valeska, Karoline e Leila 11. Adelina Adriano, Maria Aparecida Lissoni, Edith Schwanke, Leila, Ana Paula e Uta 12. Clayton Batista e Ana Paula Abreu 13. Leila Abreu Soares, Claudete Batista e Ana Paula de Abreu 14. Carol Vecchietti e Ana Paula Abreu 16. Ana Wolff e Ana Paula de Abreu 17. Amelia Bruns, Roberta Schroeder, Ana Paula Abreu, Karoline Sofka, Carina Stemposki, Maria Eduarda Vasselai 18. Andreia Pereira e Janaina Vieira Cim e Ana Paula Abreu 132 NANU!

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Museu de Arte de joinville Piquenique no jardim, abertura de exposições e da 38ª Coletiva de Artistas de Joinville foram os eventos que movimentaram o museu

1. Charles Narloch, Elizabete Tamanini, Franzoi, Carlito Merss, Amarilis Laurenti e Silvestre Ferreira 2. Marivete Cardoso 3. Regente Mário Klemann e Coral da Univille 4. Silvio Arlindo Borges e Elizabete Tamanini 5. Lurdi Blauth, Marina Heloisa Medeiros Mosimann, Marivete Cardoso e Franzoi 6. Franzoi e Silvestre Ferreira 7. Charles Narloch, HelgaTytlik, Silvestre Ferreira, Elizabete Tamanini, Alena Marmo e Franzoi 9. Valdir Francisco, Gugue, Eduardo Baumann, Franzoi, Ricardo Ledoux, Daniel Arcuri, Melanie Peter, Cassia Aresta, Helenita Peruzzo, Rosa Grizzo, Fernanda Zimermann e Camila Pietruza 11. Pena Filho e Ana Beatriz Raposo 12. Débora Melina Benz 13. Franzoi e Marivete Cardoso 14. Elizabete Tamanini e Silvestre Ferreira 16. Rafaela Ventz NANU! 133


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Lu JP. A inquieta fotógrafa registra as melhores festas de Balneário Camboriú: uma noite na Pousada Felíssimo, uma comemoração badalada na orla e uma festa eletrônica exclusiva para convidados NANU! 135


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Wella Trend Vision Awards 2009

Gisa Bernhardt e Amilton Schiessel, do salão Peluqueria de Miguel Estelrich, conquistaram o segundo lugar no campeonato mundial. A equipe usou a tendência “intersexion”, unindo masculino e feminino em um corte moderno, curto e ousado. 1. Nataniana Bernardes 2. Gisa Bernhardt e Nataniana Bernardes 3. Nataniana Bernardes 4. Darli Louiza Probts, Lauro Brinhosa, Gisa Bernhardt, Amilton Schiessel, Helena Pires Bohn e Miguel Estelrich 5. Nataniana Bernardes, Amilton Schiessel, Gisa Bernhardt, karina Kava e Evelise Gadens (Equipe 3º Lugar) 6. Gisa Bernhardt, Marcus Hermann, Amilton Schiessel e Simona 8. Gisa Bernhardt, Miguel Estelrich, Aline, Ana, Amilton Schiessel, Nataniana Bernardes e Monica Cassado 9. Gisa Bernhardt, Evelise Gadens, Amilton Schiessel e karina Kava 10. Miguel Estelrich, Gisa Bernhardt e Amilton Schiessel 136 NANU!

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fotos: Gabriela Schmidt

PUNKCAKE Dia 13/11 estreou na Galesi Disco a PUNKCAKE, novo projeto de Douglas VS. Duh que mistura a liberdade e o alternativo do punk com o glamour do nightlife. NANU! 137


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Insaciável /inexorável/ amoral/atemporal Tem certeza o pequeno grande homem sobre sua infinita onipresença e sapiência. (sem parafrasear Raulzito, não nasci há dez mil anos atrás, mas vivo a cada dia quase 100 mil segundos atrozes)

Por meus olhos passam transformações que em milênios causam extinção. Primeiro vi pedra se mexer. Continentes se modificarem. Os solos se arearem. Vi o mar subir montanhas, comer terras. Se transformar em gelatina de águas vivas. As geleiras degelarem e as águas rarearem. Os céus vazarem radiações invisíveis. Chuva de besouros. Sapos por tudo, sapos em lugar nenhum. Montanhas se modificarem, às vezes,vales, outras vezes, planícies se tornarem. As matas desertificarem. Florestas inflamarem. Espécies se mutarem. Populações se extinguirem, outras virarem zumbis eletrônicos. Alguns nascerem xerox genéticos, Homens em jaulas. Vidas engaioladas. Outros que do pó fizeram fumaça e sem alma fazerem das almas próximas penadas. Famílias empenadas. Vejo cegos guiados por papel colorido, projetando- se no outro. Alimentos crescidos, parecendo bolas de isopor. E eu, como mais alguns, que para isto poderia até ser guri, ter nascido quase no ano 2000. Que venha 2010!!! Abram-se os olhos, ou com certeza sob meus pés a terra há de se abrir...

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