Codinome Lady V - Lorraine Heath

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trabalho. Talvez ela se demorasse em cada imagem porque as desprezasse. Ele não iria se intrometer, não se preocuparia com a opinião dela, que, sem dúvida, seria dada com sinceridade. Esse era o problema de Minerva Dodger: ela era sempre terrivelmente sincera. Não que eles tivessem conversado mais do que meia dúzia de vezes, se tanto, mas aquela moça não era de abrir a boca para derramar comentários açucarados. E esse era, com certeza, o motivo pelo qual ela ainda não tinha conseguido um marido. Dinheiro não era problema. Seu pai, ex-dono de um clube de cavalheiros, deu-lhe um dote imenso, mas a disposição dela em falar o que pensava era o que a tornava problemática e indesejável como esposa. Não que Ashe estivesse precisando de esposa ou querendo uma. Ele apreciava demais a liberdade para isso. Grey perdeu a dele por completo quando se casou com Julia. Sim, Ashe iria simplesmente pedir licença e sair, para então ir até o Nightingale e ver se teria mais sorte nessa noite para conseguir a fotografia que desejava. Só que... – Com licença, mas tenho que resolver uma questão. – Ele disse para as três moças que lutavam por sua atenção. Antes que elas pudessem protestar ou segurá-lo ainda mais, Ashe escapuliu delas e se aproximou da Srta. Dodger, seus sapatos quase silenciosos enquanto se aproximava. Espiando por sobre o ombro dela, ele sorriu. Ah, os chimpanzés. Uma de suas favoritas. Ele ficou bastante satisfeito com o resultado final daquela foto. – Você gosta? – Ashe perguntou e logo se arrependeu, sentindo como se estivesse se exibindo junto com as fotografias. Ela nem virou a cabeça para responder. – Muito. É bem profunda. Não sei se já vi fotografias que conseguiram capturar tanto. – É o modo como eu uso a luz e as sombras. É uma técnica relativamente nova, que confere um ar artístico, se assim podemos dizer, para o método, e eleva o trabalho a um nível acima de um simples retrato. – Eles estão apaixonados. – Minerva disse, com absoluta convicção. – Os macacos? – Sim. – Ela então olhou para ele. Ashe não lembrava que os olhos dela eram tão escuros, tão intensos. E foi atingido em cheio pela lembrança de outros olhos escuros e intensos. Em meio a esse pensamento, ele percebeu o aroma de verbena que emanava em sua direção e precisou de todo autocontrole que possuía para não reagir, para não fazer Minerva dar uma volta para que ele pudesse inspecionar e catalogar cada palmo do corpo daquela mulher. Ela parecia ter a altura certa, dependendo do salto do sapato, o formato correto de corpo, descontando-se todos os enchimentos, anáguas e espartilho. Ele desejou poder observar o cabelo dela à luz de velas. Ashe lembrava que era mais escuro, sem traços avermelhados. Ali, sob a luz mais clara, o tom era incorreto. Sem dúvida, era outra mulher. Ashe estava tão desesperado para encontrar Lady V que a imaginaria em qualquer mulher que falasse com ele. Mas então por que ele não a imaginou como uma das outras que tinham lhe dado atenção ao longo da noite? – Você está contando uma história aqui. – Ela continuou. – Eles são fiéis um ao outro. A voz dela era errada. Não tinha aquela característica rouca e envolvente, parecendo um sussurro. Ela conseguiria disfarçá-la? O tempo todo? Mas era algo além do timbre que lhe fazia duvidar. Ela falava como se os dois fossem estranhos, como se não tivessem passado uma hora juntos, como se nunca tivessem se beijado. – Eles são animais, Srta. Dodger.


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