Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura

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Os doze passos da Virgem do Alto do Moura

Nadam Guerra 2014


Guerra, Nadam (José Carlos Guerra Damasceno) Os doze passos da Virgem do Alto do Moura Rio de Janeiro: Edição Nadam Guerra, 2014 ISBN: 1. Literatura Brasileira 2. Artes B869.8

Créditos Organização: Nadam Guerra Tradução: Juca Amélio Capa:A Virgem do Alto do Moura com o Boi cerâmica em cor natural. Euclides Terra, 2014. Fotógrafia: Leo Liz Agradecimentos: Carlos Melo, Elias Vitalino, Jaya Pravaz, Pepa, Presciliana Nobre e Raphael Fonseca. Texto disponível em : www.grupoum.art.br/nadam


Os doze passos da Virgem do Alto do Moura



Nota introdutória A Virgem me surgiu de repente num sonho. foi uma aparição sobre o Alto do Moura. Ela, envolta pela luz da lua, me entregou as pistas para que fosse recontada sua história: - Os jarros Atlânticos descobertos em escavações submarinas; - o poema épico que conta sua saga e que teria sido escrito séculos mais tarde da descoberta dos jarros; - as recriações contemporâneas de seus filhos; - e as cenas de seus encontros amorosos com figuras notáveis. Uma coisa levando a outra em uma teia de referências e de contradições.


Mais não direi para que não pareça que quero induzir a alguma interpretação ou levantar alguma bandeira pró ou contra qualquer coisa. Se é verdade que só podemos ver o que já sabemos e que tudo que vemos não é senão reflexo de nós mesmos, que cada um forje seu espelho à sua semelhança. Pois quaisquer observações sobre outras culturas não poderão ser mais do que aproximações, traduções forcadas e suposições. Jamais poderemos saber realmente o que significou em seu contexto estes vasos, imagens, bonecos e palavras.


Os doze passos da Virgem do Alto do Moura


Passo I – O conselho do sertão Não era dia nem noite. O sol no horizonte anunciava o fim de uma era. Antônio Conselheiro reunia a corte do império do sertão. “A hora é agora” discursava diante da assembléia atenta. “O mundo está prestes a passar por uma enorme mutação. O ocidente vai colapsar.” Previa. “E será a vez da civilização do sertão guiar a humanidade. O que hoje vemos em breve será pó E o pó que hoje somos será forma, será fogo, será faca. Nosso verso será vida. O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão” Lampião pediu a palavra. Perguntava se conselheiro teria um plano, 10


que exércitos seria possível arrebanhar, que recursos seria possível dispor. “Não haverá guerra!” respondeu o beato. “Muito sangue nesta terra já correu. Não é pela força que a era nova irá se impor. Salvaremos o mundo sem esforço. Será a volta às origens, ao estado natural do homem. Quando o castelo da falsidade desabar, a verdade irá reinar.” O Príncipe da Pedra do Reino desconfiava: “Como podeis garantir que ao caírem os castelos erguidos pela falsidade do capital, pelo satanismo da razão não levarão junto tudo quanto é vivo? E que neste curso nefasto a demolição não nos deixará apenas um deserto radioativo?” “É real este risco”, Conselheiro ponderou. “Por isso convoquei a todos vocês neste conselho extraordinário para a assembleia ao pôr-do-sol da era. O sertão já está estética e etereamente unificado. Já emanamos nossa força localmente. 11


É preciso preparar a transição para a escala global. Reunidos aqui nesta grande festa multiplicaremos nosso poder que deverá ser transmitido por meio de um emissário. O arauto do novo tempo deverá ser enviado aos quatro cantos da terra. Deverá conquistar o mundo para a causa do sertão. Deverá congregar o que resta da sabedoria humana original, da beleza natural e transcendental que une a todos os povos.” “Mas quem poderá realizar tamanha bravura?” Perguntou Gonzagão com sua sanfona em punho sempre pronto a representar nossa gente. “O arauto deverá ser uma mulher. O imperialismo capitalista atua masculinamente, ele penetra para destruir e dominar o império do sertão é feminino: recebe, absorve e devora para cooperar. Deverá ser pura e virgem. Pois só assim terá os olhos livres de preconceitos e saberá reconhecer o que é também imaculado. Deverá ser feita do puro barro 12


de que todos um dia foram feitos antes do sopro divino. O barro que consegue absorver e armazenar e que ser for preciso pode filtrar.” Os tambores começaram a soar, conselheiro falava como que tomado de inspiração divina. “Nossa emissária deverá buscar por todo o mundo, costurar alianças, transmitir nossa energia e nos trazer a riqueza. Não falo de ouro e prata que isso já não valerá nada. A riqueza do novo tempo será erguida de vida e diferença.” Toda a assembleia agora olhava para ela que será a heroína que salvará o mundo do caos nuclear, que reconduzirá a todos a pureza original, que irá redimir a humanidade dos crimes hediondos, que reinará em paz a alegria. A noiva modelada em barro por Mestre Vitalino, vestida de branco com a coroa de flores na cabeça. Ela por ser de barro não temia nem fogo nem água. Apenas deu um passo a frente e disse: “Aceito a missão” Sua humildade não permitia que falasse mais. 13


Alegria geral desabou sobre os homens, entidades e espíritos presentes. “Começarás agora mesmo” bradou Conselheiro. “pegue seu matulão, suba em seu boi e leve este mapa. Saberás que todos nós somos você e sempre que precisar apenas coloque a mão no coração e irá nos escutar” A festa começava e a assembleia estava encerrada. A noiva, pura e virgem mal teve tempo de se despedir do seu amado. Partiu antes do casamento. Deixou para trás além do noivo as alegrias da vida seca e sossegada no Alto do Moura, no agreste idílico de Caruaru. Ela se lançou por uma estrada de pó. Atravessou a caatinga rumo ao norte. Ia sentada de lado sobre o boizinho com as duas pernas juntas. Passado algum tempo percebeu 14


que a posição era demasiado desconfortável para um percurso tão longo. Subiu o vestido e montou no boi como um cavalheiro. Uma perna para cada lado, com as duas mãos segurando firme, pedia: “Vamos, meu boizinho. Temos um mundo a desbravar. Se apresse.” O boi andava o mais rápido que podia. A noiva sacolejava roçando as coxas no couro do boi. Ela ia percebendo que aquele lindo boizinho era de todos seres o mais puro, que seu companheiro de viagem era o beato lhe aconselhara procurar. A noite já estava alta e o boi foi tomando forma humana. E os dois seres puros, a virgem e o boi, se uniram na estrada ao lado de um mandacaru. Por um momento a noiva temeu que aquela união faria com que não fosse mais virgem. Mas por milagre divino, depois de um intenso prazer, a virgem continuava virgem e o boi voltara a ser boi.

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Passo II – O matriarcado de Marajó Foi longa a estrada até que chegaram a foz do rio Amazonas. O mapa mandava seguir adiante. O boi teve medo. Nunca entrara em água tão funda. Um grupo de botos veio recebê-los. Cantavam em uma língua quase inaudível. O boi de barro entendeu o que diziam, que se tampasse seus furos poderia flutuar. E assim puderam seguir viagem pelo rio. Os botos mostrando o caminho. O boi flutuando e a noiva do Alto do Moura sobre ele. Logo aportaram na praia da ilha de Marajó a tempo para o ritual da lua cheia do matriarcado marajoara. Uma fogueira era acendida por um bando de mulheres de vestido longo. 16


A grande chefe marajoara veio receber a virgem. “Seja bem vinda.” Não foi preciso explicar nada sobre sua chegada. A xamã já parecia saber tudo. “Para cumprir sua missão será preciso muita sabedoria” disse ela. “Por isso estou aqui” respondeu a noiva de barro. A xamã levou a virgem para a roda de mulheres que dançavam ao redor da fogueira. “Veja, sua força está aqui.” dizia movendo os quadris com precisão “Dentro de ti há uma fogueira que é preciso alimentar com movimento e prazer” gritava enquanto girava ao som dos tambores. Um tanto sem jeito, a virgem arriscou alguma requebrada As mulheres na roda saldaram com gritos agudos. “Isso, isso”, conduzia a xamã, “mais rápido, mais vida, mais prazer!” E a virgem rebolava entre as mulheres “Você precisa saber que não importa o que digam os pais, os padres, os papas. Cada homem e cada mulher foi gerado 17


e parido por uma mãe, uma mulher.” E as duas dançavam e davam umbigada “A mulher é que tem o poder de gerar” E girando seu vestido era uma flor e girando seu vestido era uma serra. A fogueira subia em direção ao céu, os tambores soavam e as mulheres cantavam. A noiva soltou os véus que prendiam o cabelo. Sentiu a força da lua. A força de ser a escolhida para levar a bandeira do sertão. Sentiu o poder subindo por seu corpo, que fazia parte da terra, do fogo e do céu. Sobre as cinzas da fogueira, a virgem se uniu a xamã marajoara. “A floresta está com o sertão!” ficou decretado. A xamã entregou um presente a virgem: “Esta é uma calcinha de cerâmica marajoara para lembrar da força da terra, da força feminina. Você é todas nós” A virgem que também era feita de cerâmica 18


aceitou com gosto o presente e vestiu a calcinha. “Ficou sensacional”, resumiu a xamã. E lá se foram mar a dentro rumo a noroeste, o boizinho, a noiva e sua nova calcinha.

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Passo III – A esperança Maia O boi convertido em barco navegou por entre ondas gigantes em alto mar. A noiva do Alto do Moura remava. O animal de barro batia as patas. Atravessaram o mar do Caribe para aportar no Península de Yucatán. Um bando de pássaros quetzal cantavam. Mal pôs os pés na praia, uma comitiva de deidades de barro veio saudá-la. “Que boa sorte a trouxe”, disse uma deusa Maia. “Justo como na profecia”, completou o deus da alegria “... A mulher com o boi nadando no oceano...” “... vestido longo e tanga de barro que nos salvará da dominação do Mickey Mau. Que trará a liberdade e a diversidade de volta sobre a terra. Está tudo escrito na profecia: Ao fim do calendário, 20


no completar do último giro galáctico de dois mil e novecentos anos, se seguiram três anos fora do tempo. A serpente cósmica vai girar sobre si mesma. O novo tempo que seguirá será de glória e liberdade se a mulher sobre o boi triunfar. Ou será de medo e amargura se ela padecer” Tomada de emoção a virgem não sabia o que dizer. Seguiu o cortejo que a recebia até Quetzalcoatl, o soberano deus serpente emplumada, senhor do vento e da luz, da vida e da ascensão. A enorme serpente de pedra dormia há dois mil anos. Neste momento um raio de sol refletiu da calcinha de barro sobre seus olhos. Estrondo de terremoto se ouviu. As pedras se moviam. Serpente emplumada despertava em pura pedra e leveza. A virgem subiu sobre ele. Voaram nos céus. E se uniram nas nuvens. Raios de alegria comoveram quem naquele momento 21


olhasse para o alto em todos os cantos do mundo. “Todo continente americano está com o sertão!” De volta a terra, Quetzalcoatl agradeceu a virgem e pediu que se apressasse. Todos dependiam dela naquele momento. Para auxiliar na viagem, a grande serpente emplumada a presenteou com um dragão voador. “Pelo ar a não mais por mar será sua jornada rumo oeste.”

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Passo IV - Nos céus do Japão Levados pela cauda do dragão, muito antes do que imaginavam estavam a virgem e o boi próximos das ilhas do Japão. O sol era intenso. Não se podia enxergar nada. O dragão seguia em alta velocidade rumo ao sol no horizonte. A virgem sentindo o calor só não se queimou por ser de cerâmica e ter nascido há tantos anos de uma queima em forno a lenha. O sol ficava maior e maior. O dragão não ouvia os mugidos de medo do boi. Quando parecia que iriam derreter, a bola de fogo se abre. Amaterasu, deusa do sol, envolvida em lindo kimono de luz e bordados apareceu no céu para a virgem. O dragão como fiel seguidor de Amaterasu, 23


viera direto para ela sem nem tocar o chão. A deusa se encantou pela virgem. “Já é hora de mudança. Não podem mais culpar o sol pelo aquecimento global. Linda donzela, tens todo meu apoio na sua jornada. Como deusa do sol, amo o sertão.” Pousaram então sobre o monte Fuji, A deusa explicou a virgem sobre o poder do vazio, de onde emana toda luz. Mostrou seus kimonos. Quando Amaterasu usa kimono liso, o céu está aberto. Quando usa kimonos estampados, o céu fica rajado de nuvens. Se usar Kimono escuro, é tempestade na certa. A deslumbrante Amaterasu tirou todos os kimonos e mostrou seu vazio. A virgem retribuiu e as duas se uniram por entre kimonos de tecidos estampados. Na união a majestosa deusa cedeu a virgem alguns de seus raios para que ala guardasse dentro de si. 24


Passo V – O poder do sonho coletivo A virgem agora sentia que tinha a força do sol Voou junto ao dragão e ao boi rumo ao sul. Pela primeira vez, o mapa de Antônio Conselheiro não indicava um local preciso, apenas uma grande área de ilhas e oceano. Depois de circular horas e horas, não sabiam por que caminho seguir. Já anoitecia e decidiram parar em uma praia para descansar. Se enroscaram os três como fazem os gatos e dormiram abraçados para se proteger da brisa fria que soprava. A virgem sonhou. Estava de novo envolta em seu véu de noiva segurava o buquê de flores como no dia em que deixara o sertão. No sonho, encontrou um homem forte 25


com o corpo pintado com linhas brancas. Ele saía do mar com um prancha. “Você é um aborígine? Veio das origens do mundo?” “Não sei de que origem você fala. Vivemos aqui, no sonho. Como você, estamos aqui desde a origem do mundo”. “Quem é seu líder?” perguntou a virgem. “Não temos líderes. Todos fazemos parte do sonho. A verdadeira vida é a que se vive no sonho. Acordados vivemos apenas a matéria. No sonho somos totais.” A virgem percebeu que perdera o acanhamento de falar. Ela também era total no sonho. Já não tinha limitações. “O sonho é o mesmo para todos? Vocês se encontram no sonho?” “O sonho é apenas um. Todos que sonham vem para cá. Muitos não estão conscientes e vagam perdidos na dimensão do sonho. Nós viemos à terra para sonhar, 26


por isso somos muito conscientes desta que é a verdadeira vida.” A virgem já não sabia se sonhava ou se era verdade. Em um estalo percebeu não havia diferença o sonho é realidade. “Você sabe porque estou aqui?” “Claro” respondeu o aborígine. “Você quer fazer na terra o império do sonho. Antônio Conselheiro é grande amigo, vem sempre aqui. Não precisavam ter tido tanto trabalho em viajar, bastava sonhar para nos encontrarmos”. A virgem parecia já ter entendido tudo. Sedutora perguntou: “Você quer se unir a mim?” Ele sorriu. “Você sabe que aqui não temos líderes e fazemos tudo juntos” Enquanto falava outros aborígines saiam da mata. Vinham dançando e cantando. 27


A virgem se uniu a toda a tribo. Já não diferenciava entre um corpo e outro. Todos eram o mesmo corpo pulsando. Nesta noite, todos que sonhavam sentiram o amor vibrante que emanava desta união. Desperta, a virgem tinha passado a um novo nível de consciência. Já não era uma só uma boneca de barro Sentia sua forca interior, a forca do sol, mas sabia que isso ainda era pouco. Sentia que fazia parte do todo. Sentia a força do todo. Acordou o boi e o dragão e seguiram viagem.

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Passo VI – Sabedoria além da muralha da China Chegando a china, a virgem era uma entidade de enorme resplendor. Vinha voando sobre o dragão, reluzia como um sol, na face trazia o sorriso impessoal dos mestres, e vestia a linda tanga marajoara. Tanto brilho assustou o império chinês. O Imperador amarelo a recebeu com o exército de terracota em alerta. Temia a invasão japonesa, mongol ou sabe-se lá de onde. Vindo de recepções tão calorosas, a virgem estranhou a frieza do imperador. Argumentou que a china já é um império feminino, que domina por baixo. “Urge que a china se una ao sertão pela grande virada, 29


pela salvação do mundo, da vida e do sonho” O imperador não se convenceu. Disse que a queda do império capitalista será o triunfo do comunismo de mercado. “Quando um cair todos cairão” respondeu a virgem. “Todos que estiverem tentando alcançar o topo não terão mais onde se sustentar. Apenas os que desistiram de subir e estiverem unidos em baixo resistirão.” Uma lágrima escorreu pela face de pedra do imperador. “Fique conosco uns dias. Temos muito que conversar.” Ele ofereceu a virgem em um rico aposento no coração da cidade perdida. Ela sabia que não podia esperar. Precisava completar sua tarefa seguindo o mapa de Conselheiro. Mas não viu outra escolha e aceitou a oferta do imperador. Lao Tsé ouvira toda a conversa. Foi visitar a virgem em seu aposento. 30


Disse que no império não há salvação que seus ensinamentos eram usados apenas para explorar e dominar. A virgem olhou aquele velho de longos cabelos e barba brancas e o convidou a se unir a ela na jornada. Se uniram ali mesmo na cidade perdida. A radiação da divina sabedoria se expandiu por todo o planeta. A virgem sentiu o prazer da presença da sabedoria ancestral chinesa. Percebeu que um imperador nada podia fazer para ajudar ou para impedir sua missão. Antes de raiar o dia, partiram a virgem sobre o boi acompanhada de Lao Tsé sobre o búfalo e o dragão ao lado deles. Rumaram por terra para oeste.

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Passo VII – Glória a Buda Kalki Na índia, a virgem foi recebida com todas as honrarias de uma deusa. Por onde passava, devotos reconheciam no seu brilho a iluminação divina e pediam para acompanhá-la. Logo havia um procissão seguindo a virgem sobre o boi. Passando por uma floresta, a noiva do Alto do Moura decidiu parar, assim os devotos poderiam descansar. Muitas pessoas aproveitaram a parada para pedir a benção. Uma longa fila se formou. Um após outro os devotos se ajoelhavam perante a virgem para adorá-la. Ela retribuía o amor que recebia com um gesto de benção derramando luz. Entre a multidão na floresta uma voz exclamou: 32


“Salve, Buda Kalki! Viva o novo avatar de Vishno!” A virgem do Alto do Moura foi reconhecida como a última encarnação na terra do deus Vishno. Kalki, segundo a tradição, era esperado no fim da era da escuridão para livrar a terra do mal e restaurara a verdade. A virgem percebeu que era possível ver a dimensão do sonho ao mesmo tempo da dimensão da matéria. No sonho pode encontrar com todos os deuses indianos. Foi convidaram para se deitar na cama de serpentes de Vishno onde pode ser reverenciada por todos. Lakshmi fez massagem em seus pés. Ganesha disse estar a disposição para trabalhar pelo império do sertão. Shiva foi o escolhido para se unir a virgem em nome de todos. Os dois se recolheram a um templo de pedra. Shiva ofertou seu lingam a virgem. 33


Ela pode sentir a pureza do divino masculino, o canal de acensão da energia da terra ao céu, a ativação total da kundalini. A união foi sentida em toda terra. Quem quer que tocasse a terra sentiria o tremor. Na floresta, a virgem fechara os olhos para se dedicar ao sonho. Sua luz brilhava ainda mais forte. Todos se ajoelharam sentiam a realização da união e cantando mantras de devoção. A virgem abriu os olhos. Era hora de partir. Poderiam vir todos que quisessem, mas não haveria mais paradas até que chegassem ao paraíso. A caravana seguiu rumo a oeste.

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Passo VIII – O paraíso e os três filhos de Abraão O mapa de Antônio conselheiro era claro. A virgem deveria ir ao paraíso, no local de onde Adão e Eva um dia saíram. Tendo andado por toda região entre os rios Tigres e Elfrates a caravana da virgem e seus seguidores nada encontrou. Contudo tamanha movimentação, atraiu a atenção de muitos profetas e outros místicos do médio oriente. Dentre eles a virgem pediu que se aproximassem três dos filhos de Abraão que participaram da ascensão e também pela queda do império capitalista. Ela intuiu que precisaria se unia aos três. Abraão tentou intervir: “Oh, aparição divina, não poderás levar todos. Haverá de escolher um dentre eles. 35


Escolher o que será portador de vossa luz. Que guiará o povo escolhido” “Na nova era não há monopólio da luz. Não há escolhidos e não haverá excluídos” Reconhecendo a beleza universal semelhante a do criador divino que os três louvavam, eles se ajoelharam a seus pés. “Me desculpem. Eu vos perdoo.” Disse a virgem e completou: “Eu vos amo. Obrigada.” O mais velho dos três, Moshe respondeu a virgem e aos demais irmãos: “Sinto muito. Eu vos perdôo. Eu vos amo, obrigado” Lágrimas escorreram de seus olhos como se somente agora pudesse dizer o que sempre soube que precisava ser dito. Yeshua o seguiu: “Me perdoem. Eu vos perdôo. Eu vos amo. Obrigado” 36


Com o coração luminoso abraçou os irmãos. O mais novo dos três, Mohammed seguiu os irmãos: “Sinto muito. Eu vos perdôo. Eu vos amo. Obrigado.” A vibração de amor era já muito intensa. A virgem quis se certificar que não estaria recorrendo no erro fundamental de escolher um messias, mesmo que fossem três. Chamou quatro outros profetas a se juntarem a eles. “Na minha terra”, disse ela, “as mãos produzem vida e a cabeça só produz confusão.” a virgem e os sete profetas entraram no Domo de pedra e se ajoelharam sobre a pedra fundamental. “Vamos orar às sete direções”, pediu a virgem: “norte, sul, 37


leste, oeste, cima, baixo e dentro” E os sete se uniram dentro da virgem. Uma onda de amor jamais antes sentida se espalhou pela terra como uma enorme benção. Contudo, longe dali, Alguns dirigentes de organizações religiosas que baseiam seu capital de giro na imagem dos três filhos de Abraão não ficaram satisfeitos com a história que chegava aos seus ouvidos. “Como seria possível que os profetas apareçam para uma mulher, nordestina, brasileira, sulamericana que ainda por cima é feita de barro, quando há tantos anos não dão as caras aos grandes sacerdotes que defendem sua fé?” Exércitos das três falanges foram enviados para prender a herege. A virgem do Alto do Moura, ainda suada e radiante de amor, precisou fugir às pressas. O boi subiu sobre o dragão 38


e a virgem sobre o boi e partiram voando rumo a oeste. A enorme legião que a vinha seguindo desde a Índia decidiu ficar e ajudar a reconstruir o paraíso. A população local se rebelou contra os líderes religiosos tradicionais e passaram a pregar o amor acima de tudo.

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Passo IX – O apoio dos Orixás Voando a virgem atravessou o mar vermelho seguida por caças das três facções religiosas. O dragão ia o mais rápido que podia, mas já não tinha mais forças e parecia que seriam alcançados. De repente, o céu escureceu. Iansã lançou ventos, Xangô mandou trovões Nanã despejou uma chuva de lama. A maior tempestade já vista cobriu o mar vermelho. Exu fechou os caminhos. Os caças perderam a orientação. A virgem conseguiu enfim despistar os fanáticos. Chegando ao centro da África Oxalá e Iemanjá foram recebê-la. A virgem não se sentia bem. Dizia que a fuga lhe deixara enjoada. 40


Ela foi lavada para uma palhoça para descansar. Ela se sentia fraca e não sabia se conseguiria terminar sua missão. Será que teria forças suficientes para vencer precipitando a grande virada antes do apocalipse? Omolu foi visitá-la para curar qualquer mal. “Linda virgem do Alto do moura”, disse o orixá: “não tens nenhuma doença, e sim muitas benções. O desconforto é passageiro, logo estarás bem. Estás grávida e não convêm que corras tanto.” Ela ficou feliz, mas muito espantada. Para uma boneca de barro isso não é nada comum. Agradeceu a ajuda de Omolu e os dois se uniram espalhando cura por todo planeta. “Mas e agora? Para onde ir?” Perguntava a virgem. O mapa que conselheiro lhe dera terminava no paraíso. Iemanjá disse que não se preocupasse que os orixás abririam os caminhos. “Vejo claramente que sua viagem 41


passa pelas grandes pirâmides. Mas agora acalme-se e venha dançar conosco” A virgem entrou na roda dançando com todos os orixás à luz da lua. Ao amanhecer partiria rumo ao norte.

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Passo X – A espera de Cinco mil anos O Egito parecia apenas um grande deserto. Voando com o boi e o dragão, a virgem avistou três montanhas pontiagudas. Eram as grandes pirâmides. Ainda no céu foi recebida pelo grande deus Toth, senhor da noite e da magia. Ela estava com a barriga pesando e precisava descansar. Toth a levou para o subsolo de uma pirâmide. Com cristais iluminou a sala. “Estivemos esperando você por cinco mil anos.” Com estas palavras galantes, a virgem e Toth se uniram no sarcófago. Uma força mágica se expandiu pelo planeta. A virgem sentiu suas forças renovadas. “Já está tudo pronto para sua partida” afirmou Toth. 43


“Eu e uma comitiva de proteção iremos te acompanhar em uma frota marítima. É urgente que partamos o quanto antes. A missão deve estar completa antes do solstício.” A virgem pediu calma. Antes de seguir precisava ver uma pessoa com a qual sempre sonhou e que morava ali perto. “A comitiva dos navios de cristal estará no Mediterrâneo te esperando. Faça o que precisa fazer e volte logo” respondeu Toth. Ela partiu rumo ao norte sobre o dragão. Enquanto o boi ficou no navio aguardando sua volta.

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Passo XI – Purificação grega O dragão voou para Grécia onde em uma ilha encontraram o templo. Estava escuro. A virgem usou um cristal que ganhara de Toth para iluminar o caminho por entre as colunas. Entrava pela construção toda destruída que continuava para dentro de uma caverna quando escutou: “Vá embora. Não quero ver ninguém! “Calma! Preciso muito te encontrar. Sou uma admiradora sua.” Respondeu a grávida do Alto do Moura. “Vá embora! Não sabe o risco que corre!” “Eu não corro risco nenhum. Por favor, venha aqui, deixe que eu te veja.” A Medusa apareceu por trás de uma pedra. Havia muita raiva e sofrimento no seu rosto. Os olhos cintilavam revolta. 45


A virgem sentiu a força daquele olhar permear todo seu corpo, fortalecendo e o transformando em pedra. “Viu o que eu disse!” A Medusa parecia se sentir culpada. “Estou bem” respondeu a virgem. “O sonho de toda boneca de barro é virar pedra. Fico muito grata por compartilhar comigo a sua força.” E com um beijo completou: “Queria agora retribuir te mostrando a minha.” Elas se uniram no chão do templo por ente as esculturas de pedra. A fragrância de purificação pode ser sentida nos quatro cantos do mundo. As serpentes que serviam de cabelo à Medusa se libertaram. A virgem pode reconhecê-las eram as filhas da serpente arco-íris aborígene. Ao fim da união, os olhos da Medusa pareciam mais calmos porém ainda mais vivos. 46


Os cabelos se tornaram sedosos e a tez brilhante. Ela agora podia sair da escuridão do templo para o sol do mediterrâneo. Seguido conselhos da virgem, A Medusa montou seu filho Pégasus, o cavalo alado, e foi morar na floresta amazônica. “Quando chegar lá procure esta amiga minha e você será muito bem vinda.”

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Passo XII – A glória do novo tempo A virgem encontrou os barcos de cristal já com o motor ligado esperando a sua volta. Iemanjá ia na frente sobre uma onda. Lao Tsé e alguns outros devotos que haviam ficado para trás durante a confusão no médio oriente também haviam conseguido chegar a tempo de zarpar junto na comitiva. O barco atravessou o estreito de Gibraltar adentrando o Oceano Atlântico. Foram se afastando cada vez mais do continente até que só havia mar por todos os lados para que se olhasse. Foi então que um arco-íris surgiu sobre eles. Passaram por um portal de luz e a majestosa cidade de Atlântida surgiu logo à frente. 48


A virgem foi levada ao coração da cidade onde um túnel conduzia ao cristal no centro da terra. Ela se uniu ao cristal expandindo sua luz por todo o universo. De volta s superfície da terra, Atlântida estava em festa. A virgem sentou no trono Iemanjá e Toth trouxeram a coroa e ela foi coroada Nossa Senhora do Alto do Moura, Rainha de Atlântida, Imperatriz do Sertão. Atlântida foi nomeada capital do Império do Sertão. O sertão virou mar. O mar virou sertão. Após a liberação energética que Nossa Senhora do Alto do Moura propiciou o planeta realinhou sua frequência e a humanidade se elevou a um novo patamar de consciência.

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A Virgem do Alto do Moura pariu em Atlântida seus doze filhos fruto das doze uniões que realizou em sua jornada. Os doze filhos da Virgem foram coroados reis de Atlântida, Imperadores de Sertão e de todo mundo. Pois com a unificação planetária não havia mais fronteiras. Da união com o boi, nasceu Taura, senhora do leite e da abundância. Da união com a xamã marajoara, nasceu Marajonas, rainha guerreira, senhora das matas. Da união com Quetzalcoatl, nasceu Zé Rezaquatro senhor da fé, do tempo e das quatro estações. Da união com Amaterasu, nasceu Jaspom senhor das viagem intergalácticas, padroeiro do mangá. Da união com os aborígines, nasceu Trinca serra senhor da música e da festa. Da união com Lao Tsé, nasceu Kuan Libris, senhora da sabedoria. Da união com Shiva, nasceu Boneca de Lotus 50


senhora da arte e da beleza, padroeira dos artesãos do Alto do Moura. Da união com os profetas do médio oriente, nasceu Abraão Neto, o santo sem cabeça, senhor da caridade, da ação desinteressada. Da união com Omolu, nasceu Mulelu, senhora da transformação. Da união com Toth, nasceu Tetramesgistro, senhor dos quatro elementos. Da união com Medusa, nasceu Sete Serpentes, senhor da diversidade. Da união com o cristal de atlântica, nasceu Cristália, senhora do reino mineral e da união de todos os seres.

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Pós-arqueologia Nota à primeira edição (1275 dgv) “Nem tudo se pode apreender ou dizer como nos querem fazer acreditar. Quase tudo que acontece é inexprimível em palavras e se passa em uma região que a palavra jamais atingiu. E nada mais difícil de ser exprimido que obras de arte, seres vivos e secretos cuja vida imortal acompanha nossa vida efêmera.” Riner Maria Rilke (Poeta, 45 agv) É um tanto complexa a compreensão da reunião de informações que segue neste volume. A começar pelas datas, as quais não se pode precisar. O fim da narrativa por via de regra deveria coincidir com o ano 0 da nossa era. Visto que é o mito fundador do novo tempo, ou como ficou conhecido: A Grande Virada. Um fato complicador é que se desconhece quanto anos teria durado a “noite escura” mundial. Pesquisadores estimam que foram ao menos quinze anos de caos antes que o Império do Sertão se restabelecesse. Porém outro estudos apontam como 52 anos o lapso de tempo de continuidade da história mundial entre a chamada era cristã e a nova era, a era do sertão. Outra dúvida é a sincronização entre o calendário atual, da Grande Virada, e o calendário cristão, ou gregoriano. Convencionou-se entre os historiadores considerar o ano 52


1 DGV (depois da grande virada) como o ano de 2016 DC (depois de cristo), mas sabe-se que este cálculo pode ter um erro de 10 anos para mais ou para menos. Este dado é relevante, pois se tem registro que Mestre Vitalino teria vivido entre 106 e 52 antes da grande virada (1909 e 1963 DC), o que faz crer que a data de nascimento da Virgem do Alto do Moura, que foi feita pelas suas mãos, deva ser situada entre 65 a 55 AGV (1940 a 1950 DC). A famosa virgem teria, portanto, aproximadamente 60 anos durante a narrativa. É verdade que os bonecos de barro são menos suscetíveis ao envelhecimento que os homens e que ela pode ter ficado congelada em barro desde sua confecção até a data do início da viagem sem nunca ter consumado seu casamento. O poema épico “Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura” data possivelmente de 750 DGV e é baseado nos vasos descobertos em Atlântida encontrados durante as reformas da via expressa que liga Atlântida ao Parque das Sete Cidades. Os vasos teriam sido modelados pelo próprio Lao Tsé que teria acompanhado a Virgem depois de sua passagem pela China até Atlântida. Esta hipótese baseiase no tipo de porcelana empregada e na forma nitidamente oriental que remeta às dinastias chineses e coreanas. Uma outra hipótese defendida na Universidade do Cariri pelo professor Severino Batista é que os vasos e o texto seriam contemporâneos um do outro, datando por volta do ano 500 DGV e que seriam apenas a materialização da versão da história consagrada pela cultura oral. De toda forma ficamos felizes de trazer a público esta tradução ao português pré-grande virada deste clássico “Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura” para a leitura e análise do grande público. 53


Nota sobre os 12 filhos da Virgem do Alto do Moura Juca Amélio (47 AGV) Os 12 filhos da Virgem do Alto do Moura foram coroados reis de Atlântida e imperadores do Sertão em 54 DGV quando a Virgem decide se retirar e voltar a viver na sua terra natal. Estes 12 reis extremamente poderosos governavam de forma colegiada. Organizavam o império do Sertão em 12 províncias que nesta data compreendia virtualmente toda a extensão do globo terrestre. O governo se organizava por meio de ligas locais e a maior parte das decisões era tomada localmente sem interferência dos imperadores. Todas as decisões tomadas tanto nas ligas locais quanto as leis mundiais tomadas na capital do império eram desenvolvidas por meio de rituais de canto e dança onde se pedia ao oráculo de barro o melhor caminho a tomar. O sacerdote retirava de um pote um punhado de barro do rio Ipojuca e jogava sobre uma pedra de mármore branco. A forma resultante era interpretada por todos os presentes que assim tomavam as decisões. O império se estruturou desta forma por mais de 200 anos até a primeira transição que ocorreu por volta de 265 ou 289 DGV quando foram introduzidas as formas telepáticas de tomada de decisão dispensando a necessidade de oráculo. 54


Apesar do longo reinado, não se conhecem imagens fotográficas dos 12 imperadores do Sertão. Dado que a fotografia havia se extinguido durante a grande virada devido ao colapso dos dados digitais e só viria a se reestabelecer no ano de 413 DGV com os inventos de Pelvis Helísios. As 12 estatuetas que compõe este conjunto ora apresentado foram modeladas por Euclides Terra seguindo o estilo de Mestre Vitalino e do Alto do Moura. Há duas hipóteses sobre as circunstâncias de sua feitura. Não sendo possível averiguar a verdadeira. A primeira entende que Euclides Terra seria um escultor mineiro que teria se instalado no Alto do Moura durante os anos da Grande Virada e teria modelado tais peças de forma premonitória. A pureza presente nas peças a filia naturalmente a tradição popular brasileira antes da Grande Virada. Outra corrente aponta para um outro artesão homônimo nascido em 579 DGV e teria se baseado na história oficial do poema épico “Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura” e/ou nos vasos de porcelana que narram a Saga da Virgem. Contudo não foi possível detectar outras obras de Euclides Terra neste período, nem qualquer registro de sua existência nos anos de 500 DGV. Em ambas as hipóteses, portanto, os bonecos não seriam retratos dos reis, mas representações feitas a partir da imaginação criadora do artista fruto de clarividência ou de relatos históricos e não de uma imagem real dos 12 imperadores.

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Nota do autor Nadam Guerra (38 AGV) Eu poderia ser branco. Tenho toda uma árvore genealógica de portugueses e até os onze anos eu achava que era branco. Mas não sou. Um dia na aula de geografia o professor perguntou quem tinha a pele mais escura da sala, era eu. Nesta época, procurei meu sobrenome no dicionário. Damasceno: nativo ou natural de Damasco, capital da Síria. E achei que era árabe, mas não sou. Eu poderia ser índio. Minha mãe contava da índia, mãe de meu pai, com seus longos cabelos negros. Um dia perguntei a meu avô de onde vinham os índios de nossa família. “Não há índios em nossa família.” respondeu ele depois de pensar puxando pela memória. Eu gostaria de ser índio. Mas não sou. Eu poderia ser negro. Meu avô materno tinha traços negros. Seu pai de nome Guerra vinha de um interior misterioso e se abrancava casando com menina de família importante na cidade chamada Machado. Nunca falei disso com meu avô, mas sei que na família não se gostava de negros. Numa 56


feita, fui visitar minha tia-avó junto com um amigo negro. Ela pela primeira vez não me convidou para entrar, nem ofereceu docinhos. Recebeu-nos na porta, falou o mínimo e partimos. Fiquei triste. Eu teria orgulho de ser negro. Mas não sou. Quando viajei pela Europa no século passado, passei por dezenas de países e todos reconheciam pela minha cara que eu era indiano ou peruano. Um dia quis ser vietnamita e plantar papaia no quintal de uma casa sem portas. Dizem que sou Brasileiro. Triste ironia. Essa identidade de retalhos. O Brasil é fruto de pura coincidência histórica. Não existe uma raça brasil. E deste mito não sou feito. Restou-me a utopia do híbrido. Não o híbrido estéril, mas o mestiço fundamental, fundador de um novo tempo. O tempo onde se festeja o fim das raças e se pede por invenções que tragam de volta tribos perdidas. Tempo de reinventarmos a história que ao invés de vitórias, destruição e dominação tragam cooperação, miscigenação e diversidade.

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Nadam Guerra Nasceu no Rio de Janeiro em 1977. Artista e multihomem. Sua obra tem se materializado em textos, performances, ações, instalações, vídeos, esculturas, jogos e encontros. Mantêm trabalhos em parceria e alteregos compartilhados em formatos híbridos incluindo humanogravura, chanchada conceitual, poesia paisagem, cinema manual, teatro abstrato, escultura imaterial, pintura em frequência variada e outros devaneios. Publicou os livros Complexiótica Hermética, 2002 e Rupestre Contemporâneo, 2013. Integra o Grupo UM (www.grupoum.art.br), o DESMAPAS (desmapas.wordpress.com.) e Terra UNA (www.terrauna.ourg.br) mais em : www.grupoum.art.br/nadam




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