máquinas de guerra que, ao lado de sua eficácia, criassem outras coisas, outros espaços, outros tempos, outra subjetividade — em suma, outro tabuleiro onde pudessem enfrentar-se os novos desafios. Quando passamos para esse registro mais ativo, por mais bélicas que pareçam essas imagens, não se pode fazer a economia da alegria. A alegria, dizia Espinosa, nada mais é do que a expressão de um aumento de potência. Ela está necessariamente presente ali onde as conexões se expandem, se multiplicam, abrem novas direções, criam novos modos de expressão, e produzem uma conversão subjetiva. Daí minha última nota. Nossos lançamentos não visam ao glamour dos autores ou à distribuição de vinho ruim. Antes de tudo, pretendem fazer soar vozes que não circulam porque o espaço de circulação foi, precisamente, a primeira vítima nessa virada anticultural, nessa guerra de contra-insurgência. Como recompor o espaço de circulação num meio a tal ponto envenenado, em que se espalha gás tóxico a cada frase, gesto, resolução, operação vinda do Estado, da mídia, das corporações? Talvez seja preciso, antes de tudo, encontrar-se. É uma necessidade vital, hoje: ver, sentir, tocar, ouvir os aliados, certificar-se de que existem, de que estão vivos, de que continuam pensando, reagindo, conspirando, insurgindo-se. E a alegria daí advinda não é um sentimento fútil, mas sinal de uma disseminação em curso. Nesse sentido, talvez caiba insistir: o pensamento é, ainda e sempre, uma força, uma força de conspiração e criação cujo efeito é imponderável e imprevisível, sendo virótico seu alastramento. Na escala diminuta que é a nossa, é a isso que nos propomos. Pandemia. Peter Pál Pelbart
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