A transpariencia impossivel: lirica e hermetismo na poesia brasileira atual

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126 exposição participam os poetas cariocas Ferreira Gullar e Wlademir Dias Pino, que depois se desligariam do grupo para fundar o neoconcretismo. O número 4 (1958) é o mais importante, pela “radicalização do projeto do grupo (...) momento de maturação consciente da prática que eles vêm desenvolvendo desde o início da década de 50, incluindo na concepção de design de linguagem a revivescência da utopia construtivista”.213 Neste número se apresentam todos os principais valores estéticos do grupo, que marcarão indelevelmente a poesia brasileira posterior. A presença do concretismo mesmo entre poetas atuais de tendências diferentes é notória. Cláudio Daniel, por exemplo, que faz parte de nosso corpus de análise detalhada – a ele é dedicado o capítulo 7 – tem em seu primeiro livro (Sutra, 1992) visível influência da vanguarda concretista. Sua poética encaminhou-se, porém, para algo diverso, assumindo até mesmo a posição crítica de indicar sua possível exaustão. Nos anos 70, além da publicação de obras do trio Noigandres, ocorrem as primeiras mixagens da poesia concreta com outras linguagens. É na articulação entre linguagem visual e contracultura que Régis Bonvicino inaugura uma obra já extensa e onde o “rigor vanguardista” sofre uma injeção de “anarquismo contracultural”.214 Assim, o início de seu percurso se caracteriza por uma encruzilhada poética que tenta equilibrar a experimentação gráfica e linguística com o sentimento político e cultural do tempo, o que o aproxima, por sua vez, do tropicalismo e da poesia marginal. Outro responsável por embaralhar as cartas da poesia na virada dos anos 70 para os 80 é Paulo Leminski. O paranaense Leminski foi uma das figuras mais importantes no âmbito da poesia concretista na década de 80. Sua presença entre os mais jovens autores que elegeram como paideuma o cânone concretista é poderosa, e o evidencia a série de trabalhos críticos sobre sua obra lançados nos últimos anos.215 Embora seus primeiros poemas publicados figurem na revista Invenção, no final dos anos 60, só reúne sua produção em 81, numa edição de autor. A maior parte dessa nova produção já apresenta a influência da tropicália e da música popular, conferindo-lhe simplicidade e agilidade que também o aproximam da poesia marginal: Vento que é vento 213

BANDEIRA, João e BARROS, Lenora. Op. Cit. p. 22. COSTA PINTO, Manuel da. Litratura Brasileira Hoje. Op. Cit. p. 59. 215 Citemos Aço em Flor: A poesia de Paulo Leminski (2001), de Fabrício Marques, pela Record; Leminski, Guerreio da Linguagem, de Solange Rebuzzi, pela 7 Letras (2003); e A Linha que Nunca Termina, coletânea de ensaios organizada por Fabiano Calixto e André Dick, pela Lamparina (2005). 214


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