Trupé | Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore.

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TRU PE

Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore

Quem Somos

ISSN 2316-5413

Nº 01, Novembro 2012

Trupé é um boletim informativo, que tem o objetivo de divulgar as ações, pesquisas, projetos e programas desenvolvidos no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore (MTB). Localizado à beira mar, na Avenida da Paz, em Maceió, o Museu pertence à Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Instalado, provisoriamente, no bairro do Pontal da Barra, o MTB foi criado em 20 de agosto de 1975 pelo médico, etnógrafo, folclorista, antropólogo e escritor alagoano Theotônio Vilela Brandão (1907-1982). Em 1977, por ocasião da V Festa do Folclore Brasileiro, o Museu é transferido para sua sede própria, onde está localizado atualmente. Concebido para abrigar a coleção de arte popular de seu patrono e idealizador, o Museu, em 1982, diversifica seus acervos quando recebe, da família de Théo Brandão, um conjunto expressivo de suas fotografias, documentos pessoais, manuscritos, registros sonoros, livros e folhetos de cordel. Em 1983, o prédio (um palacete construído no início do séc. XX), foi tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual e, em 2002, restaurado, processo este que ampliou e estruturou suas salas de exposições. No circuito museográfico, o visitante encontra obras em madeira e cerâmica, indumentária de folguedos populares, estandartes e bonecos de carnaval, brinquedos populares, objetos de fibra vegetal, peças de culto afro-brasileiro, ex-votos e tantos outros objetos produzidos por artistas populares. Além das salas de exposição de longa duração, o Museu possui um espaço voltado para mostras temporárias, além de uma lojinha, um auditório e uma biblioteca especializada em antropologia, folclore e cultura popular. O Museu é aberto à visitação de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados, das 14h às 17h. Mais informações pelos telefones (82) 3221-2651 e 3221-2977. www.facebook.com/MuseuTheoBrandao I @MTheoBrandao


eDitorial Trupé é termo que designa o sapateado ou pisada com a qual os dançadores marcam o ritmo durante a dança do Coco. Em roda ou em pares, forte ou singelo, Trupé é passo, é pulso, articulando sons e corpos com a terra onde se vive, com o chão onde se pisa. Inspirado na pisada firme e cadenciada do Trupé é que o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore apresenta esta primeira edição de seu Boletim. As quatro primeiras edições do Trupé serão dedicadas ao programa “Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e pesquisa nos acervos sonoro, fotográfico e documental do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore”. Nessas edições, convidaremos o leitor para um passeio pelo universo dos folguedos populares em Alagoas, descobrindo conosco fotografias, sons e textos produzidos e reunidos por Théo Brandão ao longo de sua trajetória de pesquisa. Com o trabalho de uma equipe paciente e dedicada, vamos pouco a pouco soprar a poeira e escavar algumas histórias e memórias do folclore alagoano, registradas e colecionadas por Théo em suas andanças pelo estado, nas amizades construídas com mestres e mestras de folguedos, com fotógrafos anônimos e ilustres e com renomados folcloristas. Embarquem conosco e boa leitura! Fernanda Rechenberg e Wagner Chaves

Expediente Trupé - Boletim Informativo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Coordenação Editorial: Fernanda Rechenberg e Wagner Chaves Jornalista responsável: Jacqueline Batista MTb 576 Texto: Francisco Ribeiro e Jacqueline Batista Projeto Gráfico/Diagramação: Victor Sarmento (publicitário) MTb 001 Fotografia: Francisco Ribeiro, Jacqueline Batista e Victor Sarmento Edição e Revisão: Jacqueline Batista 02


ENTREVISTA A OBRA ABERTA O diretor do Museu explica como foi pensado o Programa que representa um primeiro passo na recuperação de parte do acervo de Théo Brandão. Jacqueline Batista Jornalista

wagner Chaves

Há três anos, quando o professor de Antropologia, do Instituto de Ciências Sociais (ICS), da Ufal, Wagner Chaves, iniciava sua trajetória na Universidade, logo, seus olhos de pesquisador da cultura popular brasileira se voltaram para os acervos do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore. A curiosidade inicial que motivou seu trabalho conduziu o pesquisador a novos desafios: recuperar e tornar disponível um conjunto de documentos – sonoros, imagéticos e textuais – colecionados por Théo Brandão. Os primeiros passos de sua gestão no Museu, iniciada em 2010, seguem esse norte. Desde então, a direção começou a buscar uma forma de financiar esse projeto, até que no final do ano passado, recebeu a notícia de que o Programa “Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e pesquisa nos acervos sonoro, fotográfico e documental do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore” havia sido contemplado pelo MEC/SESU. Nesta entrevista, Wagner fala sobre essa trajetória e sobre o caminho que ainda está por vir no trabalho com esse acervo. Com que objetivo esse programa foi elaborado? Théo Brandão, em seu discurso durante a V Festa do Folclore Brasileiro, no ano de 1977, que marcou a inauguração do Museu Théo Brandão em sua sede própria, enfatizava que um museu de antropologia e folclore não deveria ser um depósito de objetos e obras raras, mas, sim, um espaço vivo e dinâmico, “um organismo vivo, um centro de estudos, de documentação e pesquisa”. Levando adiante tal postulado acerca da centralidade da pesquisa no âmbito de um museu universitário, nossa motivação de fundo para a elaboração desse Programa foi alinhavar o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore na direção traçada pelo seu patrono e idealizador. Por isso é que estamos privilegiando justamente ações e atividades com o propósito de preservar e disponibilizar nossos acervos. Como surgiu a ideia da realização dessas ações? O senhor realizou uma pesquisa no Museu antes de começar a atuar como diretor. De que forma essa pesquisa o influenciou a idealizar o Programa? No segundo semestre de 2009, na condição de professor da UFAL, iniciei, juntamente com um grupo de alunos da graduação, uma pesquisa chamada “Fontes e Referências da Cultura Popular em Alagoas”. Essa pesquisa, integrante do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), tinha por objetivo identificar, registrar e catalogar um conjunto de fontes textuais, sonoras e visuais referentes aos estudos de folclore em Alagoas. 03


Entre as instituições escolhidas para realizarmos a investigação, o MTB logo se destacou como local privilegiado para o seu desenvolvimento, tendo em vista a riqueza de seu acervo no que tange aos temas de nosso interesse. Embora a pesquisa tenha se concentrado no acervo bibliográfico disponível para consulta, durante o processo de investigação, encontramos, para nossa surpresa, um expressivo conjunto de documentos, entre registros sonoros, fotografias e documentos originais de Théo Brandão, que apesar de significativos para a memória da cultura popular alagoana, estavam inacessíveis e em situação de risco. Tempos depois, ao assumir a direção do MTB, em dezembro de 2010, juntamente com a equipe de técnicos e colaboradores da instituição, passamos a priorizar a recuperação desses acervos. Esse Programa, em grande medida, representa o primeiro passo nessa direção. A partir da constatação de que o acervo não se encontrava em condições adequadas, quais as metas do Programa com relação a essa questão? O Programa tem como meta preservar os documentos originais mediante tratamento técnico adequado e potencializar o acesso do público aos seus conteúdos através da reprodução digital. Nossa intenção é que os documentos, uma vez recuperados, digitalizados e disponibilizados, tornem-se suportes para o desenvolvimento e a continuidade de pesquisas na área, contribuindo assim para a valorização e reconhecimento tanto de Théo Brandão como etnógrafo e folclorista quanto dos detentores dos conhecimentos e das formas de expressões culturais tradicionais que ele pesquisou e documentou ao longo de sua vida. De que forma o Museu conseguiu financiamento para a execução do Programa? O Programa está sendo viabilizado através do edital MEC/SESU (ProExt 2011), que concedeu verba de 150 mil reais para sua realização. Gostaria de salientar que nosso Programa, dentre todos os encaminhados pelas Instituições Federais de Ensino Superior (IFEs) ao referido edital na linha temática “Preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro”, foi o mais bem avaliado. Tal distinção, para nós, além de motivo de orgulho e satisfação, é também um grande estímulo para continuarmos trabalhando na direção da recuperação e disponibilização dos nossos acervos. Como o Programa está estruturado? O Programa vai executar três projetos: “Recuperação e digitalização de parte dos acervos fotográfico, sonoro e documental de Théo Brandão”, com recorte nos folguedos populares em Alagoas; “Estudo e Mapeamento dos Principais Folguedos Populares de Maceió”, identificando seus locais de atuação, seus mestres e sua ocorrência atual e organização de um “Ciclo de Debates sobre Cultura Popular, Museus e Acervos Documentais e Audiovisuais”, com quatro seminários temáticos e um “Encontro de Mestres da Cultura Popular de Alagoas”. 04


Na execução desse Programa, o Museu conta com a colaboração e envolvimento de várias pessoas, inclusive exteriores ao quadro de servidores do Museu. Qual a importância disso na prática? Uma importante característica do Programa é que ele, desde seu início, está sendo concebido coletivamente. Reunindo uma equipe interdisciplinar – com antropólogos, historiadores, bibliotecários, arquivistas e profissionais da comunicação social – esse Programa vem sedimentando, no âmbito do MTB, um espaço de diálogo e interação entre distintas áreas do conhecimento, contribuindo assim para o desenvolvimento de ações integradas, fundamentais para lidarmos com a complexidade e diversidade de nossos acervos. O Programa também tem parcerias com instituições de Alagoas e de outros estados. Como essas parcerias estão acontecendo? Outra característica de nosso Programa é que o mesmo se fundamenta em importantes parcerias com instituições e órgãos de renomada experiência na área da conservação de acervos. Nessa direção, uma rede de parceiros, em nível local, estadual e nacional, está sendo mobilizada. No âmbito da UFAL, contamos com a parceria do Arquivo Central, responsável pelo curso de “Capacitação em Conservação de Documentos”, que já foi concluído, e com a Pró-Reitoria de Extensão, mediante apoio logístico para a viabilidade das atividades programadas. No âmbito estadual, e com vistas à ampla divulgação de nossas atividades, contamos com a colaboração do Instituto Zumbi dos Palmares (IZP), que também será parceiro nas atividades de recuperação do acervo sonoro de fitas K-7, particularmente nas fases de higienização e digitalização. No âmbito nacional, destaca-se a continuidade da bem sucedida parceria com o Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da FUNARTE, que desde o primeiro semestre de 2011 vem dando suporte ao MTB nas atividades de conservação, digitalização e acondicionamento do material fotográfico. Neste momento, a FUNARTE, através do seu CCPF e a UFAL, através do MTB, estão elaborando conjuntamente um termo de parceria, que entre outras coisas, prevê que o MTB se torne um centro de referência em Alagoas na área da conservação e preservação fotográfica. Além dessas parcerias, serão colaboradores do Programa o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do IPHAN e o Arquivo Nacional, locais onde os integrantes da equipe executora farão uma visita com o objetivo de conhecer as técnicas de conservação e acondicionamento que essas instituições utilizam para a preservação de seus acervos sonoro e documental, respectivamente. Qual a sua experiência anterior no universo da cultura popular? Nos últimos quinze anos, venho me dedicando sistematicamente à pesquisa junto ao complexo e diversificado universo das culturas populares, tendo desenvolvido investigações em torno de temas como religiosidade popular, políticas culturais, música, ritos e festas. Entre os anos de 2001 e 2009, realizei pesquisa etnográfica sobre os giros rituais das Folias de Santos Reis e São José, resultando em minha dissertação de mestrado e tese de doutorado, ambas defendidas no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ. Ainda como pesquisador, com reverberações práticas na formulação de políticas públicas na área do chamado patrimônio imaterial, entre 2005 e 2008, participei do programa “Celebrações e Saberes da Cultura Popular” e do “Programa de Apoio a Comunidades Artesanais” (PACA), ambos veiculados ao Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP\IPHAN). Para além dessas atividades e interesses de pesquisa strito senso, minha relação com a cultura popular envolve também uma dimensão afetiva e artística. Nessa direção, saliento minha participação como integrante e fundador do Núcleo de Cultura Popular Céu na Terra, com sede no Rio de Janeiro, que desde 1997 desenvolve um trabalho de criação de espetáculos, brincadeiras e celebrações tendo por inspiração as tradições populares brasileiras. 05


Museu Théo Brandão inicia programa de recuperação e digitalização do acervo Jacqueline Batista Jornalista

Fotografias, manuscritos, correspondências, diários de campos, gravações sonoras em fitas, materiais que são declarações de uma vida dedicada à pesquisa. Essas preciosidades culturais doadas por Théo Brandão ao Museu começaram a ser trabalhadas para se tornarem disponíveis ao grande público. Esse é um dos objetivos do Programa “Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e pesquisa nos acervos sonoro, fotográfico e documental do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore”. Iniciado em janeiro, o Programa inclui o projeto “Recuperação e digitalização de parte dos acervos fotográfico, sonoro e documental”, que vem sendo executado em três frentes de trabalho associadas a documentos de diferentes suportes: o fotográfico (coordenado pela professora Fernanda Rechenberg), o textual (coordenado pelo professor Iuri Rizzi) e o sonoro (coordenado pelo professor Wagner Chaves). Além desse trabalho de recuperação do acervo, o Programa conta com uma equipe de bolsistas que atuam na pesquisa bibliográfica e no mapeamento da ocorrência atual dos folguedos em Alagoas. É o caso da estudante de História, Adriana Nascimento, que explica como vem sendo feito o levantamento bibliográfico da obra de Théo Brandão e de outros folcloristas. “Estamos pesquisando os folguedos e fazendo uma comparação entre os folcloristas contemporâneos de Théo. Queremos saber se eles tinham a mesma visão com relação a essas manifestações culturais”, salientou. Quinzenalmente, todas as equipes se reúnem para a realização de leituras e estudos dirigidos e apresentação do andamento dos trabalhos. Com a finalidade de capacitar os professores, técnicos e estudantes no correto tratamento dos acervos documental e fotográfico, um momento decisivo foi o curso “Acervo documental, conservação e preservação de documentos”, ministrado pela diretora do Arquivo Geral da UFAL, Maristher Moura Vasconcelos e por sua equipe. Esse treinamento realizado no Museu passou a servir de referência para outras ações na universidade. Com o objetivo de higienizar, catalogar e digitalizar as fotografias da ASCOM (Assessoria de Comunicação), a bolsista Annelise Pimentel Cavalcante, aluna de Biblioteconomia, fez o curso de capacitação em Higienização e, durante uma semana, participou do trabalho de higienização e diagnóstico das fotografias do acervo. 06


Vanessa Matcki, bolsista da equipe de Higienização Fotográfica e estudante do curso de Bacharelado em Ciências Sociais, comenta que o treinamento foi bastante esclarecedor. “Descobrimos a grande importância de existir uma numeração mecânica para organizar o acervo. Para ter cuidado com a nossa saúde, aprendemos a ser criteriosos com os equipamentos como máscara e luva. Começamos a separar o material que não era tão sujo do outro que ,tinha bem mais poeira para evitar contaminação”, explicou a estudante. A fase posterior foi o inicio do tratamento dos diferentes acervos, o qual obedece às seguintes etapas: higienização, descrição e catalogação, acondicionamento e digitalização. Entretanto, esse processo vem acontecendo de acordo com as especificidades de cada acervo: enquanto o fotográfico e o textual estão passando por um processo de higienização e diagnóstico, o acervo sonoro – tendo em vista a complexidade e fragilidade do suporte – está sendo objeto de identificação e catalogação. A intenção dos coordenadores é que o Programa não se limite a desenvolver um trabalho técnico nos documentos, mas ofereça aos bolsistas a possibilidade de considerar o acervo como objeto de pesquisa. Os estudantes vão apresentar os resultados desse trabalho no I Congresso Alagoano Integrado de Inovação e Tecnologia (CAIITE). “É um programa interdisciplinar, que trabalha questões próprias da conservação do acervo, mas também o estímulo à pesquisa no tema do folclore e da cultura popular alagoana”, destacou Fernanda Rechenberg. O coordenador do Programa, Wagner Chaves, enfatizou a necessidade da realização desse tratamento na obra do patrono do Museu. “Estamos vivendo um momento histórico. É um acervo de significado inestimável, contendo manuscritos, correspondências, gravações sonoras e fotografias originais da coleção de Théo Brandão. Dar um tratamento adequado a esse material vai permitir, futuramente, aos pesquisadores, o acesso à obra do mais importante folclorista alagoano”, concluiu.

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DesvenDaNDo o acervo A BAIANA DE THÉO Francisco Ribeiro estudante de Jornalismo

Ainda que tivesse confessado certa vez ao amigo Bráulio do Nascimento a sua indecisão em seguir a carreira como pesquisador da cultura popular, o médico, professor e folclorista alagoano Theotônio Vilela Brandão dedicou muitos dos seus 74 anos de vida à preservação da memória e do patrimônio cultural alagoano, nordestino e brasileiro. No entanto, foi a partir de 1937, aos 30 anos de idade, que Théo Brandão - como se tornou conhecido - começou a profundar seus estudos sobre o folclore alagoano, ao assumir um cargo no Instituto Histórico de Alagoas. O resultado desse extenso trabalho etnográfico constituiu um dos mais importantes e expressivos acervos sobre a memória popular alagoana. Ao longo da sua trajetória como folclorista, Théo Brandão fotografou mestres e apresentações de folguedos, gravou entrevistas, cantos e músicas, escreveu centenas de páginas sobre as expressões do folclore em Alagoas. Nesse percurso, em colaboração com outros fotógrafos e pesquisadores, reuniu um acervo de cerca de três mil fotografias em diferentes suportes, mais de duzentos documentos sonoros e variada documentação arquivística, composta por manuscritos, livros, folhetos de cordel e documentos pessoais. O conteúdo desses materiais envolve registros fotográficos e sonoros de folguedos na capital e interior, em diferentes contextos, a exemplo das apresentações dos grupos Cocos de Alagoas, de Chã Preta, Viçosa (1955); Fandango, da Pajuçara (1957); Guerreiro, da fazenda Boa Sorte, Viçosa (1961); Baianas, de Ipioca (1977), entre outros. Para a professora e coordenadora do trabalho de recuperação do acervo fotográfico, Fernanda Rechenberg, esse patrimônio fornece dados valiosos sobre os folguedos e a cultura popular alagoana em geral. “Esperamos que a vasta produção etnográfica – entre textos, registros sonoros e fotográficos – sobre o folclore em Alagoas, presente no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore, possa mostrar a cultura popular alagoana em diferentes décadas, contribuindo para pesquisadores, estudantes, curiosos e, especialmente, os mestres e brincantes dos folguedos no Estado”, observa.

REDESCOBERTAS Ao longo da semana, bolsistas, técnicos, professores e colaboradores se encontram no Museu para realizar as atividades de recuperação dos acervos sonoro, fotográfico e documental. Durante o processo de recuperação foram encontrados diversos registros sobre a cultura popular em Alagoas, que serviram de base para os trabalhos e estudos sobre o folclore desenvolvidos por Théo Brandão. Entre eles, fotos e a gravações em áudio das apresentações de grupos de folguedos e dos seus mestres, a exemplo da mestra Terezinha Oliveira, do folguedo Baianas, de Ipioca. A seguir, você confere mais sobre a história desse folguedo em Alagoas. 08


A BAIANA Théo Brandão nunca escondeu sua admiração pela mestra Baiana Terezinha Oliveira, falecida na década de 1980. Funcionário do museu desde sua fundação, José Carlos Silva recorda que a beleza, a simpatia e o talento a fizeram ser considerada uma das mais importantes mestras de folguedos em Alagoas. “Segundo o Dr. Théo Brandão, ela era a melhor mestra de Baianas da época. Mestra Terezinha cantava e tirava as toadas do folguedo muito bem. Ela visitava bastante o museu, colaborando com as pesquisas que eram realizadas sobre o folguedo das Baianas. A museóloga e ex-diretora do Théo Brandão, Cármen Lúcia Dantas, também, tinha uma relação muito próxima com a mestra Terezinha”, lembra José Carlos Silva.

Mestra Terezinha durante apresentação do folguedo Baiana.

Théo Brandão e mestra Terezinha: admiração pelo talento e dedicação da mestra para preservação do folguedo Baiana.

Caracterizado por não possuir um enredo determinado, as Baianas cantam uma sequência constituída de marchas de entrada ou abrição de sede, peças variadas e, por fim, a despedida. O traje é composto de três peças: blusas de cetim com lantejoulas, saias longas, rodadas e estampadas e lenço amarrado à cabeça. A mestra do folguedo, além de ter uma vestimenta diferenciada, é responsável pela marcação do ritmo e dos cantos. São três os instrumentos principais usados durante as apresentações dos grupos: o ganzá, o bombo (espécie de zabumba) e o apito, que serve para marcar o ritmo.

Mestra Terezinha e Cármen Lúcia Dantas, em visita ao museu.

Mestra Terezinha coroando Cármen Lúcia Dantas. 09


Ao longo de sua existência, o folguedo recebeu diversas nomenclaturas, a exemplo de Samba de Matuto e Baianais. Mas, foi somente na década de 1920 que passou a ser denominado de Baianas. As melhores mestras são as que improvisam suas loas (cantigas). Além de mestra Terezinha, destacavam-se Georgina, de Vassouras, Coruripe; Das Dores, de Pilar; Antônia Nascimento, de Garça Torta. Até o momento, foram identificadas e catalogadas duas fitas cassetes, três fitas magnéticas de rolo, cerca de vinte e cinco fotografias e vinte documentos a respeito desse folguedo. Esses registros compõe uma parte do acervo de Théo Brandão sobre as Baianas. Tal folguedo é mais do que uma expressão da cultura popular, pois ao misturar dança e música vindas do Sul de Pernambuco leva às ruas uma mistura do candomblé e da umbanda, somando novos elementos e arranjos próprios do povo alagoano. No livro “Folguedos Natalinos: Baianas”, Théo Brandão ressalta que “além do seu ritmo original e quente (...) são as narrações de sucessos, episódios, acontecimentos que se refletiram na mente popular e que, repetidos, às vezes, com vários anos de existência, mantêm a tradição sempre viva e alerta”.

Gravador usado por Théo Brandão para registrar as apresentações dos folguedos; fitas com a gravação do folguedo Baianas, de Ipioca (1977), da célebre mestra Terezinha.

Equipe do Programa “Folguedos Populares em Alagoas: recuperação, disponibilização e pesquisa nos acervos sonoro, fotográfico e documental do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore”: UFAL Reitor Eurico Lobo Vice-reitora Rachel Rocha Pro-reitor de Extensão Eduardo Lyra Direção Geral MTB Wagner Chaves Direção Administrativa MTB Victor Sarmento

Coordenação do Programa Wagner Neves Diniz Chaves Coordenador Geral Fernanda Rechenberg Vice-coordenadora Iuri Rocio Franco Rizzi Vice-coordenador

MUSEU THÉO BRANDÃO UFAL

Apoio Técnico e Administrativo

Bolsistas

Alexandre Silva de Oliveira Anna Christina de Queiroz Rodrigues Francisco José Barboza dos Santos Jacqueline Batista José Carlos da Silva Julio Cézar Chaves Cristiane Cyrino Estevão Maristher Moura Vasconcellos Victor Sarmento Souto Jesuíno Ferreira de Moura Josefa Sales Barros Maria das Graças de Oliveira Maria Madalena de Oliveira Rogério Lira

Adriana Conceição Nascimento Daniela Inês dos Santos Pessoa Ellen Cristina da Silva Ewerton dos Santos Freitas Francisco Ribeiro João Paulo de Farias Silva Kelliane Maria da Silva Klessiane Ferreira da Mota Lidiane de Sales Pereira Renata Amorim Costa Soares Vanessa Matcki Souza Veronilda da Silva Lucy Muritiba

Colaboradores Bruno César Cavalcanti Fernanda Capibaribe Leite


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