História da Fundição Sineira em Portugal

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7. O bronze Entre os diversos materiais recuperados do interior do fosso de fundição, muitos consistiam em pedaços disformes de bronze, por vezes associados a fragmentos de barro não identificáveis, com excepção de um pequeno fragmento com cerca de 3cm, claramente pertencente a u m s i n o ( a m o s t r a n ú m e r o 8 0 ) ( f i g. 2 3 3 ) . Assumindo que este último terá pertencido a um sino refundido, correspondente à maioria das situações de fundição (Miguel Hernandez, 1990: 146), configura-se-nos a possibilidade de estarmos perante um fragmento do s i n o o r i g i n a l d o M o s t e i r o d e S ã o J o ã o d e Ta r o u c a , a q u i refundido por defeito ou quebra. Te n d o - s e i n i c i a d o a e d i f i c a ç ã o d o m o s t e i r o e m 1 1 5 4 (Barroca, 2000: vol. II, tomo 1, 254-258), podemos apenas, nesta fase da investigação arqueológica, presumir que os trabalhos de construção se tenham prolongado, n o m í n i m o , p e l o p r i m e i r o q u a r t e l d o s é c u l o X I I I . To m a n do ainda como referência a filosofia de austeridade da o r d e m c i s t e r c i e n s e , e x p r e s s a n o s C a p í t u l o s G e r a i s d a O rd e m , c o m o a d v e r s a a g r a n d e n ú m e r o d e s i n o s , s e u e xcesso de dimensões, à elevação de grandes torres sineiras ou campanários (Marcos Villán, Miguel Hernandez, 1998: 18), atrevemo-nos a adivinhar a solução inicial como tendo sido a de um só sino, de pequena dimensão, instalado num modesto campanário. Sugestivamente, é insinuante o facto de a intervenção arqueológica no Most e i r o d e S ã o J o ã o d e Ta r o u c a n ã o t e r r e v e l a d o a e x i s t ê n cia material de uma torre sineira medieval. Da análise quantitativa, obtida por microssonda electrónica e efectuada em dez áreas distintas da secção do fragmento, resultaram valores médios de cobre de 86,55% (Cu) para 12,57% de estanho (Sn) e 0,88% de chumbo (Pb), tendo a observação da amostra à lupa binocular revelado a presença de um elevado número de poros, não sendo por isso uma superfície homogénea e uniforme. Pe l a e l e v a d a p o r o s i d a d e d o b r o n z e d e s t e s i n o , p o d e r í amos ser então levados a crer que a razão da sua refundição se terá prendido com a sua quebra, resultado inevitável da criação de bolhas de ar pela introdução de hidrogénio durante a fusão do metal. No entanto, os ainda 260

Fi g. 2 3 3 – Re g i s t o fotográfico das duas faces do fragmento de sino refundido, designado por amostra número 80 (L. Sebastian)


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