Ecossistemas Costeiros - Impactos e Gestão Ambiental

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ECOSSISTEMAS COSTEIROS

impactos e gestão ambiental

Humanas (CCH), nos vários desdobramentos que se iniciaram com o projeto Marapanim, até o RENAS17 . Este projeto contempla, como um de seus eixos temáticos, a questão da migração, diante da importância deste fenômeno que vem afetando, em muitos casos, a reprodução social das comunidades pesqueiras artesanais18. A literatura produzida pelas Ciências Sociais sobre e em comunidades pesqueiras avolumou-se a partir da década de 1970, momento em que as áreas de pesca se integraram à economia de mercado, com as demandas dos produtos do mar, a expansão da rede viária, a especulação imobiliária que se articula com a intensificação do turismo e vem impactando no modo de vida tradicional dos estabelecimentos pesqueiros no litoral do Pará. Nos últimos anos, as abordagens das Ciências Sociais articulam-se às contribuições das Ciências Naturais, perseguindo uma visão mais holística dos fenômenos sociais. É no bojo destas preocupações que o PEC19 se coloca, buscando a interdisciplinariedade, articulando homem e natureza no litoral da Amazônia

MIGRAÇÃO E POVOAMENTO NO LITORAL – PESCA E AGRICULTURA A migração teve historicamente um papel importante na configuração dos estabelecimentos humanos no litoral do Pará. Nas microrregiões homogêneas do Salgado e Bragantina, onde se encontram os principais núcleos pesqueiros, este fenômeno tem particular relevância. A agricultura foi uma das bases da ocupação desta área: A mais famosa experiência colonizatória foi a empreendida por anos na zona bragantina do Pará e tirante uns poucos resultados positivos em que se realça o medíocre abastecimento da capital paraense, ela constitui um erro agronômico e ecológico, assim como a estrada de ferro ali implantada logo se revelaria um erro econômico: com solos, culturas e colonos mal escolhidos, o saldo histórico dessa colonização é uma vasta região mais pobre e cheia de problemas na atualidade (SANTOS, 1980, p. 117).

Ao longo das últimas décadas, a diminuição da produtividade com esgotamento dos solos, aliada às regras de herança e partilha, vem inviabilizando a agricultura e levando a um movimento em direção à atividade pesqueira. Esta tendência vem sendo apontada na literatura que se dedica à temática pesqueira (FURTADO, 1987; MELLO, 1985). Vimos que tanto a literatura quanto o trabalho de campo atestam a mobilidade da população nesta região, inicialmente das áreas agrícolas para a pesqueira e, igualmente, de uma comunidade pesqueira para outra. Registra-se, também, um movimento sazonal de pescadores, em função das safras que se ligam à enchente e à vazão do rio Amazonas, ao “rodízio” que ocorre na “subida” e “descida” das espécies de peixes que têm maior valor comercial, conforme Furtado (1987). Nos últimos anos, observa-se um movimento sazonal mais intenso para a ilha do Marajó, onde reúnem-se pescadores de vários municípios da Zona do Salgado nos períodos de escassez em suas comunidades. A atividade pesqueira no litoral do Pará é marcada pela mobilidade: [...] por temperamentos nômades, levam a estas expedições que duram uma semana e mais, toda a família, mulheres, crianças, cachorro, algum xerimbabo de estimação, e a vigilenga, assim carregada, leva além dos apetrechos da pesca os paneiros de sal, com que hão de salgar o pescado... Pronta a canoa, desfraldadas as velas, em geral, tintas também de muruci, vermelho

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Recursos Naturais e Antropologia das Populações Marítimas, Ribeirinhas e Estuarinas da Amazônia: estudo da relação do homem com seu meio ambiente. 18 Potiguar e Marinho, bolsistas do RENAS, estão desenvolvendo estudos nesta temática. O primeiro na Vila de Marudá e a segunda na zona metropolitana de Belém. 19 Programa de Estudos Costeiros (PEC), com o projeto “Manguezal do Litoral Paraense: recursos naturais, uso social e indicadores para sustentabilidade”.


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