A Arte Rupestre de Monte Alegre
geralmente obtidas a partir de minerais como o óxido de ferro (Figura 3 a, b). A coloração preta pode ser obtida do carvão ou do óxido de manganês (Figura 3 c) e o branco do caulim (Figura 3 d). No entanto, para saber com exatidão a composição dos pigmentos é preciso realizar a análise química dos mesmos, como fez Lage(2) para as pinturas do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí. A aplicação dos pigmentos na rocha pode ter sido feita através de duas técnicas: 1) utilizando o pigmento bruto, seco, sem qualquer preparo, diretamente na rocha (técnica do desenho a lápis); 2) preparando o pigmento para dar a ele uma consistência líquida/pastosa. Neste caso, a matéria-prima é pulverizada e misturada a alguma substância líquida, que dará a consistência desejada ao pigmento. Os desenhos elaborados com esse tipo de tinta podem ter sido aplicados na rocha utilizando os dedos ou algum instrumento elaborado ou adaptado para esse fim. A técnica da pintura permite variações como, por exemplo, a elaboração de figuras usando duas (ou mais) cores, apenas o contorno da figura com seu interior vazio ou o interior da figura totalmente preenchido. A prática de pintar e/ou gravar nas rochas é muito antiga. Na Europa e na Austrália, por exemplo, há sítios com pinturas rupestres datados de mais de 30 mil anos. Em alguns lugares, essa prática tão antiga se manteve até recentemente, como é o caso dos Bosquímanos, na África do Sul, que até a segunda metade do século XIX ainda pintavam as paredes rochosas dos abrigos(3). Não se sabe ao certo quantos sítios com arte rupestre existem no mundo. Clottes(3) estima que haja entre 350.000 a 400.000 sítios. Esses números podem ser ainda maiores se considerarmos que muitas regiões ainda não foram pesquisadas e que provavelmente um grande número de sítios foi destruído sem sequer ter sido registrado. Esses números contrastam fortemente com a quantidade de sítios com arte rupestre considerados de valor excepcional, inscritos na lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que é da ordem de 34(4). A inscrição nessa lista visa assegurar a conservação dos sítios arqueológicos através da cooperação internacional entre os países signatários da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial. No Brasil há uma grande quantidade de sítios arqueológicos com arte rupestre, desde o Rio Grande do Sul até Roraima. Em algumas regiões esse tipo de manifestação gráfica é mais conhecida, como é o caso do Nordeste brasileiro, onde as pinturas rupestres mais famosas estão no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Deste parque também provém uma das datações mais antigas para as pinturas rupestres no Brasil – 12 mil anos(5, 6). A arte rupestre do Norte do Brasil ainda é pouco conhecida, apesar de existirem numerosos sítios arqueológicos na região – até o momento são conhecidos cerca de 300 –, no entanto, ainda são poucas as pesquisas que se dedicam a estudar esses vestígios(7). O Amapá, por exemplo, é o estado da região Norte onde a arte rupestre é menos conhecida. Foram registrados três sítios, sendo dois com pinturas e um com gravuras rupestres(8)2. Pará, Roraima, Amazonas,
2
Recentemente outros têm sido encontrados pela equipe do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá-IEPA (João Saldanha, informação pessoal). 23