A Arte Rupestre de Monte Alegre

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A Arte Rupestre de Monte Alegre

O número de figuras pintadas em cada sítio também é variado. No sítio Serra da Lua, por exemplo, foram identificadas mais de 300, enquanto no Abrigo da Coruja só existem três figuras. Essa diversidade numérica também se registra no interior dos painéis, que podem ser compostos tanto por uma, como por dezenas de figuras. A estrutura interna da maioria dos painéis é do tipo justaposição estreita e superposição/justaposição mista. Nesta última, o número de figuras superpostas não é grande, tratando-se, em alguns casos, de apenas uma ou duas figuras que se sobrepõem, enquanto a maioria corresponde ao sistema de justaposição estreita. Os painéis compostos por uma única figura ou pelos que têm as figuras separadas por justaposição estreita/ampla e justaposição ampla aparecem em menor quantidade. De uma maneira geral, as pinturas localizadas tanto no interior das grutas quanto ao ar livre, ainda mantêm as cores bastante nítidas e estão bem conservadas. No entanto, os agentes biológicos, a ação das intempéries, o desplacamento da rocha e os constantes incêndios na região estão contribuindo para o processo de desgate e desaparecimento de algumas pinturas. Aliado a esses fatores, o turismo desordenado também vem contribuindo para a destruição das pinturas. Aspectos relacionados à conservação dos sítios e das pinturas serão tratados com detalhes na última parte deste livro. Uma das características mais interessantes das pinturas rupestres de Monte Alegre é o aproveitamento do suporte, com o objetivo de conferir volume ou dar forma às figuras. Essa característica já havia sido notada por Charles Hartt, particularmente para as “faces humanas desenhadas sobre as projeções angulares da rocha”(3). A utilização desse recurso foi observada até o momento nos sítios Serra da Lua, Gruta da Baixa Fria II, Gruta do Pilão, Gruta Itatupaoca e Painel do Pilão. Nos quatro primeiros, representações de cabeça foram elaboradas a partir de determinadas formas da rocha, como orifícios, arestas ou protuberâncias (Figura 4 a,b,c, d, e, g). No Painel do Pilão, um grafismo puro, bicrômico (vermelho e amarelo), foi elaborado aproveitando uma área angular do suporte (Figura 4 f).

OS TEMAS As pinturas rupestres de Monte Alegre apresentam cinco temas: antropomorfos, representações de mãos, zoomorfos, biomorfos e grafismos puros. Os grafismos puros e os antropomorfos são os temas predominantes e estão presentes em todos os sítios. As mãos e os zoomorfos aparecem em menor quantidade e os biomorfos são pouco expressivos numericamente(4). As representações antropomorfas foram classificadas em dois tipos: 1) Antropomorfos completos são aqueles representados com as três partes do corpo humano (cabeça, tronco e membros); 2) Representações de cabeça são figuras que só apresentam esta parte do corpo humano. A representação do rosto nos antropomorfos é uma característica particular das pinturas dessa região, que se destaca também pelo fato de algumas expressarem diferentes fisionomias, principalmente nas representações exclusivas de cabeça. A principal cor utilizada foi o vermelho, em vários tons, mas há algumas figuras elaboradas exclusivamente em amarelo e em preto, além da utilização de duas ou três cores para compor uma figura.

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