[infantil] monteiro lobato histórias de tia nastácia

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também um rio. Até é bom — porque não preciso parar no caminho quando tiver sede. —

Pois aceito o convite! — disse o rio. E, enrolando-se como um

novelo, ajeitou--se dentro do embornal ao lado da raposa, a qual se encolheu toda e exclamou: — Chispa! Arreda para lá, que me molha, senhor rio! — Cuidadinho! — interveio o pinto. — Não me vão brigar aí dentro!... E o senhor rio que não me molhe o milho. Disse e continuou a viagem. E andou, andou, andou, até que deu com um espinheiro. — Saia do meu caminho, ouriço! — intimou ele. — Saia da frente que quero passar! —

Hum!

espinheiro.

«

Como está valente o pinto sura!... — retorquiu o

i;

— Saia da frente, já disse! — repetiu o pinto engrossando a voz. — Saia da frente, senão... A raposa, ouvindo o bate-boca, espichou a. cabeça para fora. — Que é lá isso? — perguntou. -- É este espelho sem aço que não me quer dar caminho!... — berrou o pinto, furioso. A raposa virou-se para o espinheiro e propôs: —

Olhe, amigo, em vez de estar aí cercando o pinto sura, muito

melhor que viesse cá dentro nos fazer companhia. — Mas será que caibo nesse embornalzinho? — Como não? Cá está o milho, estou eu, está o rio e ainda há lugar para muita gente. O pinto sura vai ao palácio do rei tratar dum negócio muito importante... — Nesse caso, vou também! — resolveu o espinheiro — e dobrando os espinhos encolheu-se todo e acomodou-se no embornal. O pinto, muito contente da vida, piou qui-qui-ri-qui-qui! — e lá se foi, de papo empinado e cartinha no bico, como um grande figurão! De novo andou, andou, andou, até que, de repente, ao dobrar um espigão, viu lá embaixo o palácio do rei, alumiando de ouro e prata. Aqui o


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