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itaquera e o vetor de expansão leste
Desde o século XIX a porção leste da cidade de São Paulo contribui de forma significativa para o desenvolvimento da região. Cortada por importantes ferrovias, a região leste da cidade é o ponto inicial de quem chega vindo do Rio de Janeiro e do Vale do Paraíba. Nos períodos de industrialização instalaram-se nos leitos das ferrovias e mais tarde as margens das rodovias da região, centenas de fábricas. A zona leste é, portanto, historicamente indissociável do crescimento econômico da capital (ROLNIK, 2001). Como vimos, até o início do século XX, a mancha urbana se concentrava sobre o núcleo do triângulo histórico que concentraria as atividades econômicas de comércio e serviços da cidade e bairros próximos a este quadrilátero. A partir das décadas de 1920 e 1930 observa-se a expansão da cidade rumo a todas as direções (OLIVA e FONSECA, 2016).
Nos territórios onde hoje assentam-se bairros como Itaquera, São Miguel e Itaim Paulista, existiam até a década de 1920, fazendas e chácaras. Pelo seu caráter rural e ainda distantes da mancha urbana, a região era caracterizada por plantações e casas de campo. A população rural da região se distribuía de forma espaçada pelo território, habitavam o entorno da igreja de São Miguel Paulista e da Igreja Nossa Senhora do Carmo até o fim da década de 1910. De acordo com os registros municipais, entre 1919 e 1922 suas primeiras populações significativamente numerosas foram instaladas em dois grandes loteamentos na região. Um loteamento rural, conhecido como colônia; e um loteamento urbano, que tem origem nas terras pertencentes a Ordem das Carmelitas Fluminenses.
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A seguir, ilustra-se a localização do distrito de Itaquera na cidade de São Paulo.
Localização do Distrito de Itaquera
Localização dos Distritos República e Sé
Localização da Zona Leste
Mapa 01: Localização de Itaquera
Fonte: Próprio Autor
A partir da década de 1930 é possível perceber, a instalação de parques indústriais como a Votorantim e as indústrias Matarazzo na região leste, com suas fábricas se instalando ao longo do leito ferroviário já existente, em bairros onde o solo é tradicionalmente mais barato. A região leste, nesse momento, já contava com inumeras industrias como tecelagens, produtos manufaturados e industrias de bens duraveis e não duráveis.
Mesmo com as demarcações e arruamentos realizados desde a década de 1930 e com o parque industrial em direção a zona leste crescendo, foi apenas em meados dos anos 1950 que a região passou efetivamente a contar com a melhora da infraestrutura urbana, o que levou a sua ocupação mais intensa a partir de então. Centenas de famílias desse período em diante, começam a chegar a regiões mais distantes da porção leste do território, fossem elas expulsas da região central pelo alto valor dos imóveis ou recem chegadas a cidade. As imediações da estação Itaquera foram rapidamente ocupadas pelos novos moradores e daí em diante, porções do territóro mais afastadas da linha ferroviária.

Observa-se na duas últimas imagens, o panorâma do bairro em dois momentos históricos. A primeira, no início da década de 40, identifica um panorâma ainda bastante rural nas imediações na Estação Itaquera. Com poucas construções e poucos arruamentos, a região ainda se caracterizava como um bairro de chácaras e fazendas. Já a segunda, pode-se notar um bairro tipicamente periférico na década de 60. Fábricas de pequeno porte se fazem vizinhas com lotes residenciais, casas de porte pequeno e médio e de gabarito baixo caracterizam o bairro da década de 60 em diante.

Com a chegada da segunda metade do século XX a suburbanização da população brasileira tornou-se algo recorrente em grandes cidades, o que conferiu a bairros como Itaquera e a zona leste como um todo, verem suas populações aumentarem de forma rápida (PANTALEÃO e FERREIRA, 2015). A implantação da avenida Alcântara Machado no Plano de Avenidas consolidava a Zona Leste como um importante vetor de crescimento da mancha urbanizada. Com uma ligação rápida e direta até o centro da cidade. Os bairros da região passaram a perder espaços industriais e o capital imobiliário começa a avançar sobre os loteamentos da região assim como a autoconstrução.
Com o passar dos anos o bairro ia se urbanizando e se desenvolvendo no cenário paulistano. A partir dos anos 1960/70, a região de Itaquera se consolidaria como um dos maiores bairros dormitórios do país. Como encontrava-se distante do núcleo urbano estruturado e do centro financeiro da capital, o valor da terra na região era muito baixo, oportunidade que o governo via para pôr em prática seus projetos (ROLNIK, 2001). Pressionado pela população, pelas demandas e conflitos sociais por habitação, o governo do estado por meio da COHAB - Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo implantou na região a COHAB Itaquera I; um dos primeiros e maiores conjuntos habitacionais da cidade de São Paulo.
Segundo Rolnik (2001, p.54)
Os padrões de territorialização da exclusão/inclusão social aparecem também em São Paulo numa escala menor, de fragmentos urbanos, que fazem da cidade um mosaico. Suas pequenas partes possuem diferenças marcantes no acesso à qualidade e quantidade de empregos, serviços e equipamentos. O aumento vertiginoso das favelas, dos condomínios fechados, shoppings centers e centros empresariais ao longo das décadas de 80 e 90 revela essa fragmentação socioterritorial da cidade (...).
A seguir, ilustra-se a paisagem do bairro à partir da implantação do primeiro conjunto habitacional da região de Itaquera. O COHAB I foi o precursor dos empreendimentos residenciais construidos pelo governo do estado e que caracterizam de forma singular a Zona Leste da cidade de São Paulo.
Unidades Residencias da COHAB em Itaquera - Década de 70


Destinado a famílias de baixa renda que viviam em condições de vulnerabilidade social.
