Terras de Antuã - Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja

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CARLA FERREIRA

1 - O Património arquitetónico de Estarreja: Casas, Palacetes, Quintas e Monumentos Património edificado, edifícios isolados ou conjuntos homogéneos, que refletem aspetos arquitetónicos significativos da época em que foram concretizados ou mesmo com características próprias da época de conceção, que constituem realizações notáveis. Consoante o seu valor relativo, os bens podem ser classificados como de Imóvel de Interesse Nacional (com a designação de Monumento Nacional), Imóvel de Interesse Público ou de Imóvel de Interesse Municipal (classificação camarária). A) As Casas de ‘Brasileiro de Torna-Viagem’ Com origem no emigrante português que faz fortuna no Brasil, o “brasileiro” regressa à sua terra natal, onde constrói residência, adquire propriedades, cria indústrias, contribui para a construção de obras de arte, dinamiza e participa na vida social e política. Segundo Monteiro (2000, p. 107), “a casa do ‘Brasileiro de Torna-Viagem’ constitui uma das representações mais evidentes do retorno, quer na estrutura e fachada das edificações, quer nas novas demarcações internas, dividindo espaços e pessoas, evidenciando novas hierarquias e novas fronteiras sociais”. Assim, o ‘brasileiro’ assume o papel principal no período que vai desde 1850 (século XIX) até à década de 20 do século XX, tendo tido uma forte influência na arquitetura local, com “um modelo onde pontuam influências da casa colonial victoriana, soluções formais afrancesadas, misturadas com algum revitalismo de cariz italiano” (Braga, 1986, p. 7). Com maior incidência principalmente no norte do País, nomeadamente no Porto, a casa de ‘brasileiro’, especialmente a figura do ‘brasileiro’ foi votada à sátira popular. Aliás Eça de Queirós (1978, p. 87-89), na obra Uma Campanha Alegre, faz alusão ao ‘brasileiro’ deste modo: “(o português que emigrou para o Brasil e que voltou rico do Brasil) [e que] é entre nós o tipo […] grosso, trigueiro, com tons de chocolate, pança ricaça, joanetes nos pés, colete e grilhão de oiro, […] vozinha adocicada […] é o senhor de todos os prédios grotescamente sarapintados”. Para Braga (1986, p. 7), “as inovações arquitectónicas e decorativas da casa do brasileiro representarão, na maior parte dos casos, uma reprodução ‘desfocada’ de soluções formais de uma arquitectura ‘elegante’ adoptada na construção residencial brasileira a partir de meados do século XIX mercê da actividade de arquitectos e companhias de construção europeias”. Em Estarreja podemos observar alguns exemplares destas construções, nomeadamente nas ruas da Devesa (Fermelã) e do Visconde de Salreu (Salreu), por exemplo. (Também há exemplares em Avanca).

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