Jornal Mundo da Leitura nº. 21

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IMPRESSO

Mundo da Leitura

Jornal do Centro de Referência de Literatura e Multimeios - Ano VIII - edição especial - 22 a 26 de agosto de 2005 - Passo Fundo - RS

reira Gullar / 8 - Martha Medeiros / 9 - Josué Guimarães / 10 - Ruth Rocha / 11 - Moacyr Scliar / 12 - Chico Caruso / rdo Galleano / 20 - Drauzio Varella / 21 - Antonio Skármeta / 22 - João Ubaldo Ribeiro / 23 - Ignácio de Loyola Brandão /

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Editorial Nossa luta pela formação de leitores já atinge 24 anos!! Se olharmos para trás, não podemos imaginar quanto entusiasmo embalou e continua embalando todas as pessoas que têm se envolvido diretamente nas atividades das Jornadas Literárias, promovendo leitura, valorizando escritores, leitores, agentes mediadores de leitura. Os resultados? A emergência de estudos investigativos importantes sobre leitura, a publicação de livros sobre questões de leitura, a ampliação do número de livrarias, de feiras do livro nas escolas, a realização de seminários sobre questões de leitura com a presença de escritores, a organização de campanhas de leitura para atingir diferentes públicos. A emergência de concursos literários de diferentes amplitudes, a manutenção de prêmios literários, homenagens a escritores cuja obra tem sido considerada contribuição ímpar na história da humanidade e na estruturação interior de seres humanos sensíveis à arte, à literatura, o reconhecimento dos escritores, dos críticos, de instituições governamentais e empresariais, e da imprensa. Estamos trabalhando arduamente para que as pessoas em geral possam ter experiências de leitura significativas e, assim, transformarem-se em leitores. Não há receitas pontuais para promover o grande milagre – a promoção do não-leitor à condição de leitor e, ainda, de leitor literário. Tudo depende do contexto em que essas pessoas nascem, crescem, vivem. Tudo depende das experiências de literatura oral vivenciada na primeira infância – formas, ritmos, música, significado. Dos materiais de leitura de que dispõem para ler. Do estímulo que receberam, recebem ou não da sociedade que valoriza/desvaloriza a leitura enquanto garantia de promoção humana.

Temos compartilhado nossas experiências com profissionais de diferentes áreas do conhecimento, de instituições de naturezas diversas, localizadas inclusive em outros países, interessadas em questões de leitura. Desejamos cada vez mais tratar da leitura numa perspectiva interdisciplinar, transdisciplinar e interinstucional. Nesse viés é preciso lembrarmo-nos de que a experiência leitora implica fatores lingüísticos, sociais, culturais, históricos, psicológicos. Daí a sua complexidade e, por isso mesmo, o grande desafio em que a leitura se constitui aos profissionais das mais distintas áreas do conhecimento. Se não temos alunos nem professores leitores, também não temos bibliotecários leitores, nem médicos, dentistas, engenheiros, arquitetos, jornalistas leitores. Eis por que devemos continuar nossa trajetória A UPF, em sua natureza comunitária, está consciente do seu papel político transformador. Por isso mesmo, precisamos continuar recebendo o apoio das autoridades constituídas, dos escritores, dos leitores experientes, dos críticos, dos pensadores, da imprensa, para continuarmos a dar passos cada vez mais largos, rumo à formação de leitores e à formação contínua de mediadores de leitura. Nossa palavra final é de agradecimento a todos os atores dessa jornada de 24 anos com resultados promissores nas experiências múltiplas de leitura, e das leituras em múltiplos meios propostas aos leitores em formação, vivenciados pelos interessados no diálogo com escritores, poetas, dramaturgos, críticos, professores pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, bibliotecários que defendem a transformação do espaço da biblioteca em um centro cultural multimidial de leitura. Tania M. K. Rösing Coordenadora das Jornadas Literárias

Mundo da Leitura é uma publicação semestral do Centro de Referência de Literatura e Multimeios. Ano VIII - 11ª Jornada Nacional de Literatura agosto/2005 - Curso de Letras - IFCH/UPF Coordenação: Tania M. K. Rösing Conselho Editorial: Professores das áreas de Literatura do curso de Letras: Adriano Teixeira, Eládio Weschenfelder, Fabiane Burlamaque, Miguel Rettenmaier, Paulo Becker, Tania M. K Rösing. Editor responsável por esta edição: Rafael da Silva Monitores: Antonio Brezolin, Elenita de Araújo, Eliana Leite, Eliana Teixeira, Elisângela de Mello, Gabriela Luft, Lisiane Vieira, Luciano Rien, Marcos Deon, Nedi dos Santos, Rafael da Silva.

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Correspondência: Centro de Referência de Literatura e Multimeios Campus I - km 171 - BR 285 - Bairro São José

Tiragem: 6.500 exemplares Jornalista Responsável: João Carlos Tiburski - Reg. prof. 6.626-28-36

CEP 99001-970 - Passo Fundo/RS Contato: Telefone: (54) 316-8148 E-mail: leitura@upf.br Home-page: mundodaleitura.upf.br Revisão: Maria Emilse Lucatelli Ilustração da Capa: Paulo Caruso Diagramação: Alisson Spannenberg e Antonio Brezolin Impressão: Gráfica UPF Fotografia: Arquivo Jornada de Literatura Artur Ferrão

Universidade de Passo Fundo Reitor: Rui Getúlio Soares Vice-Reitora de Graduação: Ocsana Sonia Danyluk Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Carlos Alberto Forcelini Vice-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários: Marisa Potiens Zílio Vice-Reitor Administrativo: Nelson Germano Beck

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Leitura: uma questão interdisciplinar A partir do século XVIII, com a ascensão da burguesia, a escola e a leitura, por oferecerem a oportunidade do saber, começam a receber grande atenção. É nesse período que se dá a formação de um novo público leitor – mulheres e estudantes –, que motiva o fortalecimento de uma nova modalidade escrita e do mercado editorial. Aparecem, também, os primeiros manuais de leitura, com a finalidade de instrução. É nesse contexto que surge a literatura infanto-juvenil, atrelada à escola, instituição responsável pela educação formal, e que, ainda hoje, a escolariza, didatiza e pedagogiza, pois se acreditava que a mesma daria à criança e ao adolescente elementos necessários à sua formação. De acordo com Magda Soares (p. 21), não há como evitar que a literatura infanto-juvenil, “ao se tornar saber escolar, se escolarize, e não se pode atribuir, em tese, conotação pejorativa a essa escolarização, inevitável e necessária; não se pode criticá-la, ou negá-la, porque isso significaria negar a própria escola”. No entanto, a autora salienta que na prática, na realidade e no cotidiano escolar, a literatura infantil e juvenil escolarizada, em razão da inadequação e à maneira como é trabalhada pelo professor, acaba por adquirir sentido negativo, pois tal prática “se traduz em sua deturpação, falsificação, distorção, como resultado de uma pedagogização ou uma didatização mal compreendidas que, ao transformar o literário em escolar, desfigura-o, desvirtua-o, falseia-o”. Desenvolvendo no aluno “resistência ou aversão ao livro e ao ler”. É possível criar novas possibilidades de leitura no âmbito escolar considerando esses dados? Antes de mais nada, o educador deve saber o quanto é importante sua prática e ação em sala de aula, que sua mediação motivará ou não o aluno à prática da leitura. Segundo Regina Zilberman, “ao professor cabe o desencadear das múltiplas visões que cada criação literária sugere, enfatizando as variadas interpretações pessoais em razão de sua percepção singular do universo representado”(p. 28). A criança, no ambiente escolar, deve ter contato com uma diversidade de leitura e impressos que possam proporcionar habilidades e competências necessárias à formação leitora. A missão do professor constitui-se em iniciar a criança no mundo das letras, incentivando o gosto pelo livro, o desenvolvimento do hábito da leitura. É ele quem vai indicar os livros aos alunos, oferecendolhes um repertório de títulos, em que possa se movimentar segundo suas preferências e interesses, sem barrá-los e sem impor o seu gosto, mas, sobretudo, oferecendo-lhes fruição no ato de ler. O primeiro passo para a formação do hábito da leitura na escola diz respeito à seleção do material, que deverá servir para informação e recreação, e que não deve se configurar como uma imposição, uma obrigação. A escola, muitas vezes, é a única oportunidade que o aluno tem de entrar em contato com a leitura. Nesse espaço, a professora é uma das maiores responsáveis pela formação do hábito da leitura em seus alunos, fornecendo-lhes livros, indicações bibliográficas, abrindo-lhe, enfim, o universo da leitura. Tal competência, no entanto, não deve ser valorizada e requerida somente nas aulas de Língua e Literatura. Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem que a leitura não seja mais tarefa exclusiva de professores de Língua Portuguesa, uma vez que as habilidades de leitura são condições necessárias para diferentes tipos de textos, independentemente dos conteúdos que esses veiculem: “A língua, sistema de representação do mundo, está presente em todas as áreas do conhecimento. A tarefa de formar leitores e usuários competentes da escrita não se restringe, portanto, à área de Língua Portuguesa, já que todo professor depende da linguagem para desenvolver os aspectos conceituais de sua disciplina.” (p. 31-2)

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A idéia de que se expressar com propriedade oralmente ou por escrito é “coisa para a aula de Língua Portuguesa”, enquanto as demais disciplinas se preocupam com o “conteúdo”, não encontra ressonância nas práticas sociais das diversas ciências (...). É tarefa de todo professor, portanto, independentemente da área, ensinar, também, os procedimentos de que o aluno precisa dispor para acessar os conteúdos da disciplina que estuda. A leitura se constrói de vários modos, suportes e intenções dos professores ao trabalharem com a interdisciplinaridade procurando relacionar o texto lido com diferentes disciplinas, fazendo com que a leitura de um determinado texto desloque-se para outros conteúdos com os quais ele possa ter alguma forma de relação, rompem com as fronteiras entre as áreas, procurando uma integração entre elas, possibilitando a pluralidade do olhar sobre o mundo. Do ponto de vista pedagógico, através da interdisciplinaridade, se estabelece a existência de fundamentos comuns às diferentes áreas do conhecimento, os quais, conforme Nelly Novaes Coelho, necessitam da existência de “um tema, um motivo, um esquema cognitivo, uma problemática comum a todos” e que sirva de ligação entre eles, ou seja, “descobrir um novo centro organizador em torno do qual se interliguem as diferentes disciplinas” (p. 28). Essas inter-relações que se estabelecem entre as diferentes áreas do conhecimento estão contempladas nos PCN’s através dos temas transversais. Para Coelho, a literatura “espaço de convergência do mundo exterior e do mundo interior, vem sendo apontada como uma das disciplinas mais adequadas para servir de eixo ou de tema transversal para a interligação de diferentes unidades de ensino nos novos Parâmetros Curriculares” (p. 24). Dessa forma, a literatura, além de ser o fio condutor dessa interdisciplinaridade, permite ao leitor uma melhor organização do conhecimento sobre si mesmo e do mundo em que vive. A esse respeito, Michèle Petit afirma que a leitura pode ser um caminho privilegiado para conhecer-se a si mesmo, para pensar-se e dar-se um sentido à própria experiência e à própria vida, para dar forma a seus desejos e sonhos (p. 74). Assim, urge que a escola assuma uma postura valorativa do papel da leitura na construção do aluno, que professores de diferentes disciplinas assumam seu papel na formação de leitores, dividindo com o professor de Língua e Literatura a tarefa de conduzir os alunos à formação de um leitor socialmente posicionado. Fabiane Verardi Burlamaque Professora do Curso de Letras da UPF Obras referidas no artigo: SOARES, M. A escolarização da literatura infantil e juvenil. IN: EVANGELISTA, A. A. M. ; BRANDÃO, H. M. B.; MACHADO, M. Z. V. (Org.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa: primeiro e segundo ciclos / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. – Brasília : A Secretaria, 1998. COELHO, N. N. Literatura: arte, conhecimento e vida. São Paulo: Peirópolis, 2000. PETIT, M. Nuevos acercamientos a los jóvenes y la lectura. México: Fondo de Cultura Econômica, 1999. ZILBERMAN, R. A Literatura Infantil na Escola. 11.ed.rev.,atual. e ampl. São Paulo: Global, 2003.

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FANTOCHES Fantoches é o segundo trabalho de dramaturgia que faço para o grupo Viramundos, ambos a convite do diretor Mario Santana, meu amigo de longa data. Sendo Mario baiano, é natural que chamasse um gaúcho para construir a dramaturgia de espetáculos para um Grupo com um perfil marcadamente gauchesco como é o Viramundos. Os dois textos foram também duas grandes oportunidades para mim. No primeiro, Timbre de Galo, baseado nos Contos Gauchescos de Simões Lopes Neto, pude cantar o Rio Grande -- eu, que há vinte anos vivo longe dos pagos. Foi um reencontro com a terra natal, da qual eu no fundo jamais saí. Agora, com Fantoches, o Grupo Viramundos me deu a oportunidade de homenagear publicamente nosso grande e querido Erico Verissimo, no centenário de seu nascimento. Tenho muito amor e admiração por sua obra, e já imaginei algumas adaptações teatrais a partir de livros seus. Conheço com mais intimidade os homens e mulheres de O Continente, primeiro tomo de O Tempo e o Vento. Por uma razão ou outra sempre retorno à Província de São Pedro desse romance, e torno a encontrar Ana Terra, Maria Valéria, Licurgo, Juvenal, o Cap. Rodrigo, etc., e é sempre um mergulho nas raízes.

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Assim, quando Mario Santana me propôs escrever a dramaturgia de um espetáculo a partir da obra de Erico Verissimo aceitei de cara. Como a peça endereçava-se preferencialmente a um público infanto-juvenil, pensei imediatamente em Fantoches. O livro não foi escrito para esse público, mas a juventude do autor (que estava então nos seus vinte anos) já era uma primeira aproximação. Por outro lado, Fantoches tem vários textos teatrais, e seria bom explorar esse lado pouco conhecido da obra de Erico Verissimo. Eu e Mario Santana já trabalhamos juntos em algumas montagens. Primeiro ele escreveu a dramaturgia de um espetáculo que eu dirigi, Drakul -- Paixão e Morte; depois ele me dirigiu em Lições de Abismo, dramaturgia escrita por mim; em Auto-Escola de Arte Dramática, a partir de uma personagem clownesca que já tinha um certo repertório, produzimos juntos a dramaturgia; nos dois textos criados para o Grupo Viramundos, Timbre de Galo e Fantoches, eu escrevi a dramaturgia em constante diálogo com a concepção de direção do Mario. Em nossas reuniões de trabalho, o material recolhido (textos e situações) ia recebendo um tratamento dramático. As idéias e possíveis concepções iam sendo apresentadas e problematizadas, e a partir dessa própria discussão nasciam outras idéias e concepções, de maneira que poderíamos falar de uma dramaturgia da escritura dramatúrgica. Depois da seleção de vários textos, depois de ler e reler as três edições de Fantoches, pareceu-me que Nanquinote deveria ser a personagem-chave da peça. Por um lado,

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com seu caráter (e ardor) infantil, criaria uma imediata empatia no público infanto-juvenil. Por outro, Nanquinote é imagem do próprio Erico na época em que escrevia Fantoches, ainda muito jovem, vivendo como farmacêutico em Cruz Alta e sonhando em partir para o mundo, conhecê-lo e reinventá-lo em sua literatura. Também encontramos em Nanquinote dois temas fundamentais em Fantoches: os homens são bonecos nas mãos de um destino cego: “Nós todos somos uns pobres bonecos”, diz a Mulher em Criaturas versus criador; e a relação criador/criatura (e a autonomia desta última, tema que é recorrente nas reflexões de Erico ao longo de toda a sua vida). Essa analogia entre Nanquinote, criatura de um “autor” que, por sua vez, é criatura do autor real, e o mesmo Erico Verissimo jovem, no exato momento da gênese de sua personalidade poética, tornou-se a chave da dramaturgia, já que ela nos permitia apresentar em dois planos distintos mas “comunicantes” a obra e o autor, Fantoches e Erico Verissimo. Assim, enquanto vemos em cena a obra do jovem artista, ouvimos o artista já maduro olhando para ela (como ele o fez na edição fac-simile de 1973). Criador versus criatura, mas versus não apenas como antagonismo, leitura mais explícita do tema, mas também em sua acepção orginal, “voltar-se para”. Para poder revoltar-se é preciso que a criatura tenha-se voltado para o criador, assim como o conflito só pode acontecer se o autor voltar-se para a criatura. É o que acontece no momento de virada da peça. “O AUTOR! Que venha o AUTOR!”, gritam as três personagens. Entra o Autor e diz: “Aqui estou.” Meu caro Erico. Espero que nesta transposição de tua literatura para o palcobus (o explêndido ônibus-teatro) do Viramundos tenhamos conseguido mostrar o Autor a dizer: “Aqui estou.” Uma curiosidade: quando eu era guri, morava no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, próximo à casa de Erico. Conta meu pai, que às vezes, cruzávamos com ele em nossos passeios pelo bairro, que brincava comigo e me passava a mão na cabeça. Quem sabe a mão do escritor (a mesma que desenhou Nanquinote) não dava então uma espécie de bênção ao futuro artista portoalegrense? Permito-me também imaginar o escritor passando a mão na minha cabeça e dizer: “- Podes usar os meus textos nas tuas adaptações teatrais, mas olha lá o que fazes! Olha lá!” Roberto Mallet Dramaturgo

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Que sentido tem existir, se não buscamos compreender o que somos? Que sentido terá nossa vida, se não buscarmos agir para realizar o que queremos ser? Que engraçada é a vida! Cada um é o herói e/ou o vilão da própria aventura de viver. Essas são questões que perseguem o homem, independente de sua idade, raça, credo, lugar ou época. Certa vez, Erico Verissimo falou para Clarice Lispector: “Se você me perguntar se sou um homem natural; para ser bem sincero, eu diria que criei a minha própria imagem, a imagem do homem que eu queria que os outros vissem.” Por isso, inspirados na obra FANTOCHES, optamos por teatralizar a temática do criador e da criatura. Afinal, o teatro nos ensinou que cada um cria o personagem que protagoniza a própria história. Como bem diz Capitão Rodrigo, “às vezes a gente tem tanta força guardada no peito, que precisa fazer alguma coisa para não estourar.” Para a nossa felicidade, o jovem Erico Verissimo teve a coragem de enfrentar o risco de fazer o que seu coração pedia e tornou-se um grande contador de histórias. Para nossa felicidade, enfrentamos o risco de fazer o que queremos e nos tornamos artistas de teatro. E você, que está lendo esse texto agora, o que tem feito ou o que fará para ser o que quer? Ouvi dizer que nenhum ser pode crescer sem livre ser Meu existir tem um porquê ainda que não saiba eu descobrirei Senão inventarei... algum O ser que sou abre-se em vôo, por isso vou além do criador Eu não nasci pra ser cativo de lugar ou tempo De patrão ou medo de perder um bem... meu bem Mas eu sei que escolhi a ti Estamos juntos a buscar um sentido para isso que é o existir Seja aqui, agora ou lá... sempre.

Mario Santana Diretor do espetáculo Fantoches

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4º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Entrevista com Carlos Moraes Nesta 11ª Jornada Nacional de Literatura, o 4º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio contará com a participação do jornalista e escritor Carlos Moraes, autor do livro Agora Deus vai te pegar lá fora (Editora Record), que tem como subtítulo Anotações de um padre preso numa cidade sem zoológico. Em 1981, ele ganhou o Prêmio Jabuti com o infantojuvenil A vingança do trimão e, há dois anos publicou, também pela Record, Como ser feliz sem dar certo – e outras histórias de salvação pela bobagem, que considera um livro de contra-ajuda. Carlos Moraes é gaúcho de Lavras do Sul e criado em Bagé. Depois de estudos colegiais no Seminário de Pelotas, ordenou-se sacerdote em 1966. Em princípios da década de 70 foi julgado e condenado a cinco anos de reclusão pela Justiça Militar, com base na Lei de Segurança Nacional. Enquanto aguardava de Brasília uma possível absolvição junto ao Superior Tribunal Militar e a dispensa dos seus votos religiosos, ficou preso na Cadeia Civil de Bagé, à espera, como goza um primo, “ de dois alvarás de soltura, um de Brasília e outro de Roma”, o que explica também o título destas suas quase-memórias de cadeia – Agora Deus vai te pegar lá fora. A seguir, uma conversa com o autor, que é jornalista em São Paulo, onde trabalhou nas revistas Realidade e Psicologia Atual e, hoje, é editor de Ícaro, revista de bordo da Varig. Você foi padre e preso político. Seu livro é autobiografia ou ficção? É as duas coisas. Um pouco do que nele se conta aconteceu mesmo na cadeia de Bagé; outro pouco aconteceu também, mas não lá; outro pouco não aconteceu nunca e o resto merecia ter acontecido. Como nasceu a idéia do livro? Da idade e do chimarrão. Com a idade a gente quer entender seus começos, no espírito daquele belo verso do T. S. Eliot: não devemos parar de investigar/ e o fim da nossa investigaçã/o será chegar onde iniciamos/ e conhecer o lugar pela primeira vez. Com a idade também a gente começa a acordar mais cedo e um dia fiz um mate, sentei no computador e a coisa toda foi saindo, a trotezito. Claro que eu já tinha umas idéias da história, algumas notas soltas. No mais, a culpa é do chimarrão. Foi caindo tanta erva nas

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teclas que um dia minha mulher limpou e deu quase uma cuia. Ela reclamou da sujeira, mas eu expliquei que não tinha jeito, que o chimarrão fazia parte, mantinha vivo o lado verde e pampeano da história. O livro tem expressões bem gaúchas.. É, culpa do mate. Mas acho que nunca chega a um regionalismo gratuito. Nasci em pleno pampa, em Cerro Branco, distrito de Lavras do Sul, onde minha mãe era professora rural. Vi uma cidade pela primeira vez ali pelos sete, oito anos. Minha infância foi vivida na década de 50 na gauchíssima Bagé. Apesar dos meus mais de 30 anos de São Paulo, o pampa é o meu mundo primordial e isso explica e justifica um certo tinido de esporas do texto. E quando, na cadeia, o personagem encontra gaúchos praticantes como o Bagual e Seu Noé, aí é que a coisa às vezes vira um relincho só. Como você escreve? Estabelece uma certa disciplina? Eu trabalho oito horas por dia, e tem o trânsito de São Paulo, um apocalipse diário. Então na prática eu só tenho as primeiras horas do amanhecer. É nelas que me esbaldo, todos os dias um pouquinho, com chimarrão. E me sinto tão bem. Dizer-se livremente logo de manhã cedo confere uma ossatura, uma dignidade especial para resto do dia. Nos fins de semana, nada? Nada. Eu fico com minha mulher numa casinha de floresta com rio no fundo do pátio que a gente tem no litoral norte de São Paulo. Fico lá, carregando terra, plantando, me reborquiando entre as pedras do riozinho. Lidando com a vida de primeira mão. E depois, tem o Corinthians. Terra, rio e Corinthians – como vai sobrar tempo para o resto? E tempo para ler? Ah isso sim é um sofrimento. Gostaria de ler mais. Tenho lacunas culturais lamentáveis. No seminário, a gente não podia ler tudo porque os superiores controlavam. Depois veio a vida de padre, o combate, a vontade de salvar o mundo logo nos três primeiros anos. Depois, aqui em São Paulo, essa batalha pela sobrevivência, os filhos. Sim, eu gostaria de ler mais. Nunca li direito Machado de Assis, por exemplo. Leio muita poesia, isso sim. Jorge Luis Borges, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Adélia Prado. A poesia diz tudo, diz rápido, e com música. Seu livro sai num tempo que se discute muito nosso sistema carcerário, especialmente depois de Carandiru, o filme e o livro. Infelizmente não li ainda o livro de Drauzio Varela nem vi o filme do Babenco. E acho que nada de sólido poderia dizer sobre nosso chamado sistema prisional. Faço minhas as palavras do protagonista do meu livro: “Eu o que não pego no lampejo, análise nenhuma depois me revela”. No tempo em que estive preso,

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nunca cheguei nem a uma depressão profunda e nem àquela estóica serenidade propícia à reflexão. Fiquei ali me segurando entre as duas. Assim, não analiso processos, conto histórias, costuro lampejos.

meu futebol o que mais se joga é o jogo da vida. Tanto que, vezes, claramente Deus entra em campo, chega junto, e de pés descalços. No livro, uma das cenas mais delicadas sobre a existência de Deus e o sentido das igrejas se dá uma noite, madrugada adentro, depois de um jogo de futebol.

Mas são histórias de um preso político... Um curioso preso político. Na Justiça Militar de Bagé eu fui condenado por unanimidade; em Brasília, absolvido por unanimidade. Minha prisão foi mais Kafka que Marx. No livro, as cenas mais surrealistas são as mais próximas do real. O que prova que ninguém produz ficção melhor do que uma ditadura. Daí o tom matinal que dou àquele pedaço de noite da minha vida e da do país. Eu chegava a me sentir meio mal diante do que sofreram reais militantes de esquerda nos grandes centros. Se uma modesta contribuição política meu livro tem é mostrar um pouco como se dava a pequena, mesquinha e manhosa repressão no interior. Ouvindo-o falar, parece que o personagem é mesmo você. Mas não é. Às vezes ele é igual, às vezes melhor, às vezes consegue ser pior que eu. Seu apelido de família diz tudo: Tio Clésio, um tio meio retardado que, por ver tudo com certo atraso, às vezes via melhor também. Mas quem melhor define o personagem é professor dele do seminário : “Você é um raro caso de ingênuo capaz de ironia”. Pelas ironias ele talvez tenha sido preso, e graças ao seu lado lírico, ingênuo, coisas engraçadas vão acontecendo em torno dele. Tem gente que, mesmo entre bandidos, tem o dom de despertar a candura alheia. O padre João Silveira é meio assim. Mas as coisas às vezes não ficam divertidas demais para uma prisão? Bem, à primeira vista, uma cadeia é um negócio de fato penoso e precário. Mas, no dia-a-dia, as relações humanas que ali se formam não são tão diferentes das que acontecem num convento, numa empresa, numa família. Parece que, à certa altura, por estranho que pareça, a miséria e a precariedade resultam numa certa liberdade interior, num sentido mais apurado de comunhão e de festa. E eu também não tenho culpa se, naquele tempo, a cadeia de Bagé estivesse, como estava, tão cheia de ladrão de ovelha e filósofo. Você não tem medo de ser acusado de estar a favor do crime? Tem que ver que crime. Imagina um político safado. Ele superfatura, leva por fora, rouba milhões numa sala bonita e limpa. Friamente, covardemente. Milhares de pessoas vão penar num corredor de hospital por causa daquele dinheiro que, serenamente, vai para um paraíso fiscal qualquer. Já crime de pobre exige trabalho, envolvimento corporal, coragem física e risco real de cadeia, coisa que entre altos corruptos é a mais descarada exceção. Me sinto mal dizendo isso, mas consigo ver certo triste e avesso mérito no bandido comum.

Como encarou sua vinda a Passo Fundo? Com extrema alegria. Primeiro pela fama e importância dessas Jornadas. Depois, por estar nos pagos. Depois de 30 anos de São Paulo me sinto mais gaúcho que nunca. E feliz porque meu livro, em que pese uma certa bagualidade de estilo, foi facilmente entendido por leigos do Brasil inteiro. Recebi emails emocionados das mais urbanas criaturas. Talvez porque, no fundo, sejamos todos um pouco rurais. Pega um xiru qualquer ali na Avenida Paulista e sacode: no começo só cai celular e cartão de visita. Sacode mais um pouco e começa a cair pitanga e cocozinho de cabrito. No fundo somos todos rurais. Como é hoje sua relação com a Igreja? Cordial e angustiada. Como meu personagem no livro. Tava vendo nessa eleição do Papa. Que coisa mais mundana e romana, mais longe do evangelho de Jesus. Quem são, de onde vieram aqueles homens se vestindo e falando daquele jeito? E a imprensa se perguntando como o novo papa ia se confrontar com as células-tronco e a camisinha? Ora, uma Igreja tem que se confrontar sempre e essencialmente é com suas próprias fontes, deixar-se purificar sempre pelos grandes ventos do amor, da misericórdia, da generosidade, da solidariedade e humor pregados e vividos por Jesus. O resto vem por acréscimo. Uma igreja que perde o frescor das suas próprias fontes passa a viver da solenização da irrelevância. Estamos todos cansados de pastores que reduziram o cristianismo a uma luta sem tréguas contra a masturbação. Penso que religiões de um modo geral devem permanecer o que são: frestas para o mistério e não portas escancaradas. No que viram portas, logo começam a definir com demasiada clareza quem entra e quem não entra. E, não raro, de alguma forma matar os que não são considerados dignos. Como diz meu personagem no livro: é só pegar a História para ver o quanto a pureza e a fé mataram muito menos do que o pecado e a dúvida. No que você acredita hoje? Na dificuldade de separar a graça de Deus da graça da vida. O perfeito funcionamento do Universo pode ser explicado por alguma forma de inteligência impessoal da matéria. Mas a beleza, não. A beleza mundo, das coisas, das pessoas implica alguma intenção, algum carinho, algum olhar pessoal. Na graça do mundo algum Espírito sopra.

Por que se joga tanto futebol no seu livro? Pois é. Só depois de escrito é que eu percebi: é muito futebol. Mas diga-se a favor do réu que raramente é puro futebol. No

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MEMÓRIA FOTOGRÁFICA DA 10ª JORN

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Tania Rösing na abertura da 10ª Jornada

Luiz A. Assis Brasil, Marcelino Freire, Marcus Accioly, Neuza Henriques Rocha, Júlio Diniz, Cristina Mello, Frei Betto e Deonísio da Silva

O público da 10ª Jornada

Frei Betto autografa seus livros

Entrega do Título Professor Honoris Causa ao sociólogo francês Edgar Morin

Borghetinho e Yamandu Costa

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JORNADA NACIONAL DE LITERATURA

Plínio Cabral, vencedor do 3º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura

Espetáculo de abertura da 10ª Jornada

Apresentação do espetáculo O Ferreiro e a morte pelo Grupo Viramundos

Festerê literário

Luiz Peazê e John Hemingway na conferência de abertura da 10ª Jornada Nacional de Literatura

Prefeito Osvaldo Gomes, Plínio Cabral e Luiz Coronel (Entrega do cheque de R$ 100.000,00 ao vencedor do 3º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura)

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Mundo da Leitura Espaço diferenciado para promoção de leitura multimidial O Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura é o laboratório do curso de Letras do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Passo Fundo. Inaugurado em setembro de 1997, o Centro surgiu para sediar atividades de pesquisa e extensão ligadas à literatura e à leitura. Esse espaço inovador possui como objetivo principal contribuir para a formação de leitores críticos, cidadãos, a partir da leitura em múltiplas linguagens e suportes. A característica inovadora e singular é percebida logo na entrada desse espaço. Em vez de uma porta, o leitor deparase com várias entradas e vários caminhos que conduzem ao conhecimento. É o labiríntico Mundo da Leitura que coloca à disposição do leitor diferentes suportes e linguagens de leitura através de caminhos sinuosos e instigantes. Sancho Pança, Chapeuzinho Vermelho, Visconde de Sabugosa e Brás Cubas são alguns dos personagens que permeiam as trilhas do labirinto, e cabe ao leitor tentar encontrá-los, seja em um CD-ROM, seja numa fita de vídeo, numa música ou no próprio texto literário, impresso em livro.

oferecidas para turmas do ensino fundamental, médio e superior, comportando um número máximo de 35 alunos por turma. Devido à faixa etária das crianças, as visitas das turmas de educação infantil têm duração de uma hora e são destinadas a somente 20 alunos. Durante a visita, os alunos têm a oportunidade de vivenciar uma prática leitora em múltiplas linguagens. Essa prática é criada a partir de um tema gerador anual e desenvolvida de acordo com a faixa etária da turma visitante. As visitas ocorrem pela manhã, das 8h 30min às 10h 30min; à tarde, das 14h às 16h, e à noite, das 19h 30min às 21h 30min e são agendadas no início de cada semestre. Empréstimo de sacolas A socialização do acervo do Mundo da Leitura acontece também através do empréstimo de sacolas a professores regentes de classe. As sacolas contêm 35 livros de literatura que são divididos por série e faixa etária, e contemplam alunos da educação infantil até o ensino médio. O professor, ainda, tem a possibilidade de organizar acervos específicos para serem transportados em sacolas, atendendo às exigências de seu trabalho em sala de aula. Programa Mundo da Leitura na tevê

Sendo o Mundo da Leitura um espaço cultural de pesquisa e extensão, disponibiliza alguns dos horários semanais para visitas da comunidade de Passo Fundo e região. Os leitores podem usufruir de todo o acervo do Centro no local e também têm a oportunidade de levar os livros para casa, gratuitamente. Para se associar ao Mundo da Leitura, é necessário apresentar carteira de identidade e comprovante de residência. As crianças menores de dezesseis anos devem trazer autorização dos pais ou responsáveis. Professores, funcionários e alunos da universidade estão previamente cadastrados e precisam apresentar somente o seu número de matrícula e a carteira de identidade. Cada usuário poderá retirar um número máximo de três exemplares nas seguintes condições: 3 dias para os livros com menos de 50 páginas e 7 dias para os livros com mais de 50 páginas, com direito a uma renovação, que poderá ser realizada através do site www. upf.br/biblioteca ou pelo telefone 0xx54-3168148. É importante lembrar que, para permanecer sozinho no espaço, o leitor deve ter idade igual ou superior a dez anos, nos turnos da manhã e tarde; no turno da noite, a idade mínima para permanecer sozinho é de 14 anos. Os demais leitores poderão visitar o Mundo da Leitura acompanhados dos pais, familiares ou responsáveis. As escolas públicas e particulares também podem trazer seus alunos ao Mundo da Leitura através da modalidade de visita agendada. As visitas têm duração de duas horas e são

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O Mundo da Leitura, em parceria com a UPFTV, produz desde meados de 2003 o programa educativo Mundo da Leitura, direcionado à formação e ao entretenimento dos leitores ultrajovens. Esse programa televisivo tem periodicidade semanal e apresenta histórias, oficinas,experiências científicas e manifestações da cultura popular, além das incursões ao universo da literatura. A condução do programa é feita pelo Gali-Leu, o gato leitor, com a participação da Natália, do Mil-Faces, da Borralheira e, mais recentemente, dos vilões Ratazana e Reco-Reco. O programa Mundo da Leitura já recebeu dois prêmios nacionais, em 2004, na categoria de programa educativo (VIII Fórum Brasileiro de Televisão Universitária, realizado em Salvador, e XII Gramado Cine Vídeo), além de conquistar o prêmio Açorianos 2004, na categoria de mídia-televisão. Microespetáculo de bonecos O Centro possui duas caixas de microespetáculos de bonecos com as seguintes histórias: “Guntenberg e a prensa” e “A bruxinha”. Os microespetáculos são apresentados no ambiente do Mundo da Leitura, em feiras do livro, seminários e encontros referentes à leitura, consolidando ainda mais o compromisso com um dos pilares da universidade – a extensão – cujas ações devem gerar conhecimento. Neste caso, os microespetáculos contribuem para a alfabetização estética dos leitores em formação. Contadores de história Teatro de sombras, fantoches e marionetes são algumas das técnicas utilizadas pelos contadores de hjistórias do Mundo da Leitura para aproximar o leitor do texto literário. O grupo existe desde 1999 e já participou de eventos de leitura e literatura em Passo Fundo, na região de abrangência da Universidade de Passo Fundo e também em outros estados.

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Projetos nas escolas

Programa Mundo da Leitura na TV no contexto da escola municipal

Mundo da Leitura na escola O projeto “Mundo da Leitura na escola” iniciou em março de 2004 e constitui-se numa parceria universidade-escola, através da integração da Universidade de Passo Fundo com a 7ª Coordenadoria Regional de Ensino. O projeto tem como públicoalvo professores e alunos de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental da rede pública de ensino. As ações teóricopráticas norteadoras do projeto buscam: a) desenvolver práticas leitoras multimidiais nos espaços do Mundo da Leitura e da escola; b) subsidiar teoricamente os professores envolvidos a fim de aprimorar as suas ações docentes a partir da leitura; c) incluir digitalmente, através do projeto “Mutirão pela Inclusão” Digital, alunos e professores das 4ª séries.

Através de convênio firmado entre a Fundação Universidade e a Prefeitura Municipal de Passo Fundo, foi distribuído um conjunto de 60 programas em fitas VHS para escolas de educação infantil, ensino fundamental e educação de jovens e adultos do município. Todas as escolas de diferentes bairros e vilas receberam esse material para realizar atividades no contexto da sala de aula. O acompanhamento dessas atividades desenvolvidas nas escolas é feito por alunosbolsistas do curso de Letras da UPF, orientados por professores de literatura brasileira que desenvolvem atividades de pesquisa e extensão no Centro de Referência de Literatura e Multimeios.

Pesquisas em andamento A formação do professor leitor em espaço multimidial – Tania M. K. Rösing Perfil do leitor atual: processo de construção do livro à tela – Tania M. K. Rösing Imersão tecnológica – Adriano C. Teixeira Leitura e tecnologias: as novas abordagens e o leitor jovem – Miguel Rettenmaier da Silva O papel da universidade na formação de professores leitores, produtores de textos: pressupostos teóricos e pragmáticos (tese de doutorado em produção) – Eládio W. Weschenfelder Enredos e imagens: a leitura na formação dos professores das séries iniciais do ensino fundamental – Fabiane V. Burlamaque Pesquisas desenvolvidas A formação do professor leitor – 2002 – Tania M. K. Rösing Perfil do leitor atual – 2001 – Tania M. K. Rösing A leitura das obras literárias infantis induzida pelos suplementos didáticos – 2002 – Paulo Becker A representação do gênero na literatura infanto-juvenil brasileira – 2002 – Paulo Becker Análise, formulação e investigação de critérios para avaliação de obras literárias infanto-juvenis – 2001 – Paulo Becker Espaços de leitura interativos - 2003 – Eliana Teixeira Rodas de poesia – Hercílio Fraga de Quevedo Publicações Livros Série Mundo da Leitura Da violência ao conto de fadas: o imaginário, meninos de rua, meninos de escola e adultos escolarizados. RÖSING, Tania M. K. (Org.). Passo Fundo: UPF Editora, 1999. Do livro ao CD-ROM: novas navegações. RÖSING, Tania M. K. (Org.). Passo Fundo: UPF Editora, 1999. Práticas leitoras para uma cibercivilização. RÖSING, Tania M. K. Passo Fundo: UPF Editora, 2000. Práticas leitoras para uma cibercivilização. II: 500 anos de Brasil: memórias que nossa consciência não escolheu. RÖSING, Tania M. K. Passo Fundo: UPF Editora, 2001. Práticas Leitoras para uma cibercivilização III: Brasil 500 anos: da carta de Caminha ao e-mail. RÖSING, Tania M. K. (Org.). Passo Fundo: UPF Editora, 2001. Práticas leitoras para uma cibercivilização IV: vivências interdisciplinares e multimidiais de leitura. WESCHENFELDER, Eládio V.; RETTENMAIER, Miguel.; RÖSING, Tania M. K. (Org.). Passo Fundo: UPF Editora, 2003. Cadernos Caderno de Atividades I: Vozes do terceiro milênio: a arte da inclusão. RÖSING, Tania M. K. (Org.). Passo Fundo: UPF Editora, 2003. Caderno de Atividades II: diversidade cultural: o diálogo das diferenças. RÖSING, Tania M. K. (Org.). Passo Fundo: UPF Editora, 2005. Jornais Desde 1997 o Centro de Referência de Literatura e Multimeios edita, anualmente, dois números do jornal Mundo da Leitura, destinados aos professores e alunos das redes pública e particular de ensino de todo o estado do Rio Grande do Sul, a estudantes universitários de Letras e Pedagogia.

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Notícias UPF e universidades espanholas em ação conjunta Entre os mais de 30 cursos de verão propostos pela Universidade de Almeiria, Espanha, e realizados no período de 11 a 16 de julho, um deles – Lectura de los clássicos: perspectivas críticas – foi realizado em parceria com a Universidade de Extremadura (UnEx) e coordenado pelos professores doutores Eloy Martos Nuñez e Tânia Rösing. A inovação desse curso se constitui na participação de conferencistas pertencentes a diferentes universidades de três países – Espanha, Portugal e Brasil – sendo realizado em três etapas, em caráter de itinerância. A primeira aconteceu em Aguadulce, bairro de Almeiria, ao sul da Espanha. A segunda,desenvolveu-se em Badajoz, sede da UnEx. A terceira fase do curso foi realizada em Lisboa, Portugal, na sede do Instituto Camões. Exatamente em 2005, quando se celebra em 21 países o Ano Ibero-Americano do Livro e da Leitura, instituições universitárias, com apoio do Instituto Camões e do Instituto Cervantes, se uniram para debater sobre a leitura dos clássicos e o mundo audiovisual e digital, literatura infantil, leitura e biblioteca, leitura, novas tecnologias e publicidade. O curso contou com a participação especial do pesquisador Luis Fernández Cifuentes, da Universidade de Harvard, que discorreu sobre “Aspectos fisionômicos das personagens na literatura contemporânea espanhola”.

Segundo Tania Rösing, “a participação em cursos dessa natureza contribui com o processo de internacionalização da Universidade de Passo Fundo (UPF) e constitui estímulo para realizar mais ações de leitura no âmbito das novas tecnologias”. A conferência ministrada por Rösing no curso de verão analisou aspectos relativos ao livro, leitura e novas tecnolgias. Outros importantes temas tiveram atuação em curso específico como “Cervantes el Quijote y la literatura del siglo de oro”.

Gabriel Munhoz (Univ. Almeiria), Luiz Cifuentes (Univ. Harvard), Angel Munhoz (UnEx), Mar Campos (Univ. Almeiria), Tania Rösing e Pedro Cerrillo (Univ. Castello de la Mancha)

Projeto torna a Jornada de Literatura Patrimônio Histórico e Cultural do RS A Assembléia Legislativa aprovou por unanimidade, em 31 de maio, o projeto número 81/2005 do deputado Giovani Cherini (PDT) que declara a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo integrante do Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul. A votação foi acompanhada pela coordenadora das Jornadas, professora Tania Rösing, e pela secretária de Turismo, Desporto e Cultura de Passo Fundo, Tânia Cogo. A homenagem, concedida a poucos eventos realizados no estado, deve ser sancionada pelo governador do estado, Germano Rigotto, na sessão de abertura da 11ª Jornada. De acordo com Cherini, o projeto concede o devido reconhecimento a um dos maiores eventos literários do Brasil. “Lembramos o trabalho de anos realizado pela equipe da Jornada, que temos a certeza, vai continuar, porque quem não lê não ouve, não vê e não faz”, disse o líder da bancada do PDT. Ele destacou o carisma e trabalho da professora Tania Rösing, sempre incansável em defesa da leitura. Reconhecimento A professora Tania Rösing salientou que a aprovação por parte dos deputados é o reconhecimento ao trabalho de uma equipe que se move com o objetivo de formar leitores e tem uma universidade sensível como a UPF apoiando o projeto. “É um momento de alegria e também de compromisso para que possamos consolidar cada vez mais a Jornada”, enfatizou, lembrando o apoio do Poder Público e da iniciativa privada à movimentação cultural. Já a Secretária Tânia Cogo destacou o fato de a Jornada projetar a cidade de Passo Fundo na história cultural do Rio Grande do Sul.

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Jornada Promovida pela UPF e Prefeitura Municipal de Passo Fundo, a Jornada de Literatura chega neste ano a sua décima primeira edição nacional, abordando o tema “Diversidade cultural: o diálogo das diferenças”. A movimentação cultural, que acontece de 22 a 26 de agosto, no Circo da Cultura, instalado na UPF, vai homenagear os 400 anos de Dom Quixote, os 200 anos de Hans Christian Andersen e os 100 anos de Erico Verissimo. O evento abrange também o Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras, o 4º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio, o 1º Seminário Nacional de Jornalismo Cultural e a 3ª Jornadinha Nacional de Literatura.

Tânia Cogo, Tania M. K. Rösing e Giovani Cherini

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UPF concede título de DOUTOR HONORIS CAUSA a Ariano Suassuna O título de DOUTOR HONORIS CAUSA para o escritor Ariano Suassuana, o primeiro concedido pela Universidade de Passo Fundo, será entregue durante a 11ª Jornada de Literatura. A proposta da inclusão do título no regimento geral da Universidade foi feita pela conjunto dos professores diretores das 12 unidades universitárias que compõem a UPF. A indicação do nome de Ariana Suassuana para receber o primeiro título de DOUTOR HONORIS CAUSA da história da UPF foi feita pelo professor César Augusto dos Santos, diretor da Faculdade de Artes e Comunicação, com aprovação unânime dos integrantes do Conselho Universitário A outorga do título acontecerá no Circo da Cultura dia 25 de agosto às 19h 30min, com a presença dos autores e senhores membros do Conselho Universitário.

Jornada homenageia Maria Lucina Busato Bueno A artista plástica passo-fundense, Maria Lucina Busato Bueno, é uma das homenageadas na 11º Jornada Nacional de Literatura por seus 30 anos dedicados às artes. Natural de Casca, Rio Grande do Sul e passo-fundense por adoção, a pintora, desenhista e arteeducadora vem desenvolvendo seu trabalho em pesquisas com tintas naturais, cujos resultados de suas investigações são inéditos no país e na América Latina. A artista conta com vinte exposições individuais, mais de uma centena de participações em salões oficiais, coletivas nacionais e internacionais e mais de uma dezena de premiações, constando suas obras em acervos institucionais e particulares. Hoje vive e trabalha em Passo Fundo no Rio Grande do Sul.

Lançamentos na 11ª Jornada - Editora UPF - Leitura e animação cultural: repensando a escola e a biblioteca – Tania Rösing / Paulo Becker (Org.). - Práticas leitoras V – Tania M. K. Rösing (Org.). - Conversa com escritores – A arte da inclusão (Anais Jornadinha) Tania Rösing / Paulo Becker / Eliana Teixeira (Org.). - Vozes do terceiro milênio: a arte da inclusão (Anais Jornada) Tania Rösing / Miguel Rettenmaier / Eládio Weschenfelder (Org). - Questões de literatura para jovens – Miguel Rettenmaier / Tania Rösing (Org.). - Questões de escrita – Carme Schons / Tania Rösing. (Org.). - Questões de intertextualidade – Graciela Ormezzano, Márcia Helena S. Barbosa (Org.). - Teatro escolhido – Ivo Bender - Teatro: espaço de educação, tempo para a sensibilidade – Marli Susana Carrard Sitta / Cilene Maria Potrich (autoras). - Te conto um conto: um enlace entre psicanálise e literatura infantil – Francisco dos Santos Filho / Rosistela C. de Arruda (Org.). - Onde estão eles? Desvelando o analfabetismo no sul do Brasil Maria Leda Lóss dos Santos / Fernanda Damiani. - Além da plataforma nove e meia: pensando o fenômeno Harry Poter – Miguel Rettenmaier / Sissa Jacoby. - Pensamentos e experiência literários: compreendendo o ensino de literatura – Judith A Langer / Tradução Luciana Lhullier Rosa e Maria Lúcia Bandeira Vargas - O fenômeno fanfiction: novas leituras e escrituras em meio eletrônico – Maria Lucia Bandeira Vargas.

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Shows que acontecem na 11ª Jornada Nacional de Literatura Antônio Nóbrega Antônio Nóbrega, pernambucano de Recife, estará presente novamente em Passo Fundo, comemorando 30 anos de carreira. O cantor-brincante, que iniciou seu trabalho como violinista e rabequeiro do Quinteto Armorial, estará acompanhado por sua banda, apresentando seus espetáculos na 11ª Jornada Nacional de Literatura.Com apresentações memoráveis em duas edições da Jornada, Nóbrega volta agora para divulgar seus espetáculos “Sol a Pino” e “Lunário Perpétuo”. Sol a Pino Nesse espetáculo, Nóbrega apresenta cantigas, romances, martelos e coco, com o acompanhamento de vários instrumentos como o violão, rabeca, violino, pandeiro, entre outros. Nóbrega faz uma viagem corporal através das danças populares e também comenta temas como arte universal, arte regional, as diferentes linguagens de dança no mundo, cultura popular, música “étnica”... “Sol a Pino” é um espetáculo de diversidade cultural imensa e prova das habilidades e criatividade de Antônio Nóbrega. Lunário Perpétuo O nome “Lunário Perpétuo” vem de um almanaque espanhol que trata da diversidade de temas referentes ao povo. Dessa forma, Nóbrega decidiu nomear seu espetáculo com o mesmo nome, já que seu espetáculo também é constituído de uma enorme diversidade. “Lunário Perpétuo” é mais um espetáculo onde Nóbrega procura refletir e traduzir as singularidades do nosso país. O tema geral será o Brasil, e dentro desse tema destacar-se-ão mais três temas, como o romanceiro tradicional, a música para rabeca e violino e um cancioneiro referendado na poética popular. Como característica marcante de Nóbrega, este espetáculo terá o mesmo artista-brincante dos outros, com danças de frevo, histórias e outros costumes do incomparável e reverenciado Antônio Nóbrega. Arthur Moreira Lima Considerado uma das mais importantes personalidades da nossa cultura, Arthur Moreira Lima projetou-se internacionalmente no Concurso Chopin de Varsóvia. Desde então, Moreira Lima tem feito turnês em todos os continentes, lotando as principais salas de concertos do mundo. Em seu trabalho de resgate e difusão das raízes culturais brasileiras, Arthur Moreira Lima foi solista da primeira audição do Concerto nº 1 de Villa-Lobos no Japão, Rússia, Áustria e Alemanha. Sua permanente inquietação e a valorização que dá à nossa cultura fazem de Arthur Moreira Lima o mais popular, versátil e completo dos intérpretes clássicos brasileiros. De todas as suas atividades, uma se sobressai definitiva: empregar seu vasto e singular talento na busca da democratização da música, a mais

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nobre das artes. A crítica musical o considera extraordinário intérprete do grande repertório romântico e não tem poupado elogios à beleza da sua sonoridade e ao seu grande virtuosismo. Com uma média de 90 apresentações por ano, tocando para as platéias mais diversas, nos lugares mais inusitados, ele certamente contribui, e muito, nessa tentativa de democratizar o que normalmente é privilégio de pouquíssimos: a música, a arte em seu estágio mais nobre. Lobão Cantor, compositor e músico, Lobão iniciou sua carreira em 1975 e na história recente da música popular brasileira não há ninguém mais combativo do que ele. Autor de vários sucessos como “Me Chama”, “Vida Bandida”, “Rádio Blá”, “Vida Louca,Vida”, desde a década de 1980 sua atitude rebelde já incomodava o status quo, e, poucos anos atrás, foi sua vez de bater de frente com as grandes gravadoras na questão da numeração dos CDs para um maior controle dos artistas sobre as vendas de seus trabalhos. Assim, em 1999, ocorre a primeira grande mudança de paradigma na vida do artista. Ele torna-se independente e lança seu disco nas bancas de jornal de todo o Brasil, alcançando a sua segunda melhor vendagem e se tornando um ícone da música independente no Brasil, participando de grandes festivais independentes. Sua última produção, Canções Dentro da Noite Escura, é um belíssimo trabalho com letras pungentes e a sonoridade típica que lhes são características. Sobre todas as cordas Seis músicos, com carreiras solo e formações bastante diferenciadas, reúnem-se para mesclar arranjos, composições e criações conjuntas. O grupo é composto por Carlinhos Antunes, Renato Anesi, Thomas Rohrer, Sami Bordokan, Nelson Latif e Marinho Andreotti. Com uma gama de instrumentos que incluem violão, viola caipira, violão tenor, cavaquinho, guitarra, violino, rabeca, bandolim e baixo acústico, entre outros, o grupo é capaz de produzir sonoridades que transcendem o universo brasileiro, trafegando por várias partes do mundo com elementos da música árabe e ceuta, da música da fronteira e do jazz. Em suma, baião, choro, frevo, bossa nova e samba se mesclam aos ritmos árabes, ao jazz, a chacarera e ao vals venezuelano. Outra característica do Sobre Todas as Cordas é trazer para o mundo das cordas composições e ritmos gravados originalmente com bateria, piano e sopros, exigindo muita habilidade e criatividade dos instrumentistas. Em resumo, Sobre Todas as Cordas revela e integra através da música as várias faces culturais de nosso país, híbrido por natureza, e que tem uma das músicas populares mais apreciadas

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Uma carta...

Pensando nos Pensamentos

Cara Rosalina, Lembra-se? No meio do jardim público, havia uma oval de grama, com um poste no meio. Todos diziam – ninguém sabia por que – que se uma pessoa atravessasse a oval, sairia do outro lado como um zumbi sem fala e sem pensamento. Sem fala a gente acreditava, mas sem pensamento? Como é uma pessoa sem pensamento? A gente perguntava e ninguém sabia responder. Os pais prometiam responder depois, na hora estavam ocupados, tinham que fazer isso, ou aquilo, dar um pulinho ali, outro lá. Mais de uma vez pegamos os pais reunidos no salão de barbeiro discutindo como seria uma pessoa sem pensamento. Um dia, meu pai chegou com uma pergunta que fizeram para ele no salão. O que é um pensamento? Fiquei sem responder. Você pode pegar um pensamento? Claro que não! Pode ver? Não. Pode guardar? Acho que posso, porque tem coisa que penso hoje, depois esqueço, penso amanhã ou daqui a um mês. Onde ficam guardados os pensamento? Uns sobre os outros. Como os sacos de arroz e de milho no armazém? Pode ser, nunca olhei, não dá para olhar. Quando preciso de um, puxo os outros, tiro de cima, localizo e penso. Não, disse meu pai, você sabe tanto quanto eu que os pensamentos não existem se não podem ser vistos, ouvidos ou apanhados. O que sei, respondi, é que pensamentos são velozes.

Como sabe? Porque o senhor também ouve dizer que ninguém é mais rápido do que o pensamento. Ele confirmou, mas me deixou encabulado: e qual é a velocidade do pensamento? Mais do que a do automóvel, do que a do avião, do que a do buscapé? Não consegui responder e pensei em outra coisa: se os pensamentos pesam. Quanto pesam? Como pesar um pensamento? Levei as perguntas aos meus amigos que, por sua vez, levaram aos pais deles, que, por sua vez,levaram ao salão de barbeiro. Os pais ficaram sem saber o que pensar e assim até agora, passados tantos anos, ainda não sei se os pensamentos existem, se são de verdade, nem o que são, nem como nascem ou desaparecem.Não paro de pensar neles. Abraços cordiais do Camilo Livro: Cartas/Lettres Desenhos de Alfredo Aquino Contos-Cartas de Inágcio de Loyola Brandão Poemas de Mariana Ianelli São Paulo: Editora Iluminuras, 2004

Um conto...

A vida é urgente

A vida é urgente. Não se pode deixar escapar nenhum instante de prazer, de alegria, de humor. Sobretudo, não se pode perder nenhuma migalha de amor. Esses instantes nunca vão se repetir da mesma maneira, com as mesmas pessoas, no mesmo clima. Se é que se repetirão. Pode ser sejam os últimos. A vida é urgente por que é finita. Enredado nos seus paradoxos, o homem faz de tudo para se esquecer da morte. Sobretudo, da própria morte. O adolescente ou adulto jovem nem se consideram mortais. Falar de morte com eles é como falar de algo longínquo, incerto, quase desconhecido. A volúpia e a alegria da vida e a roda-gigante dos sonhos são tão intensas que eles se sentem eternos. E mais: sentem que podem ser o que escolherem, que podem ter o que quiserem, que podem, enfim, abraçar o mundo com as pernas. Nessa fase da vida, parece que ao há limite nem limitação. É belo, emocionante e legítimo que se sintam assim. Afinal, suas vidas são constituídas de uma matéria chamada futuro. E o futuro ainda é uma folha em branco. Tudo poderá acontecer. O problema surge quando, mais tarde, o adulto passa a esconder de si mesmo a própria morte. Finge que não sabe que a vida é urgente e finita. Perde tempo indeciso sobre o que quer, pelo menos tentando – bens e fortuna. Numa palavra, vive como se fosse eterno. Este tipo odeia que se fale da morte. Parece que não lhe diz respeito. Para ele, a morte não é parte da vida, quando sabemos que nascimento e morte são os dois momentos mais importantes da vida. Mas, para ele, falar de morte é mau agouro, é morbidez, coisa de gente bodiada. É aí que ele se engana. Admitir a própria morte é difícil, quase impossível. Mas, enfim, é trata-la como parte da vida. Revela a maturidade dos que já se perguntaram: “Afinal, o que é a vida?” é aceitar-se como um mortal – realidade, de resto, irreversível. É resignar-se, no fundo do coração, à própria finitude. E, se o tempo sobre a terra tem um fim, há que

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dedicá-lo, ao máximo, aquilo que dá prazer, ao que dá alegria, ao que põe a vida no encalço da plenitude. A felicidade – a realização dos desejos – não pode ser uma promessa. Ela deve acontecer aqui e agora. Não se pode desperdiçar o tempo tão curto de uma vida com o que não interessa, com o que não é fundamental, nem essencial. Se os homens tendem à supervalorização da vida, é porque não ouviram bem a advertência de Shakespeare: Amanhã, amanhã e amanhã, chegando no passo impressentido de um dia após um dia. E cada dia de ontem revelou aos tolos que somos o caminho para o pó da morte. Apagai-vos, vela pobre ator que gagueja e vacila sua hora sobre o palco, e depois nunca mais se ouve. É a história contada por um tolo. Cheia de som e de fúria, significando nada. Conheço muitas pessoas que fizeram suas escolhas sem auscultar os próprios desejos. Supunham que a euforia aparente ou a visibilidade da mídia eram sinônimos de sucesso. Supunham também que esse sucesso, de-fora-para-dentro, é que as tidas e deprimidas, já não sabiam mais o que queriam. Até que, aos poucos, o tempo foi mostrado a algumas que, na verdade, elas nada tinham a ver com a criação ou com arte, nem haviam sentido a alma arrepiar-se com o chamamento. Não se é mais importante por ser artista. Com estas descobertas, cada uma tomou seu rumo. Entre elas, hoje, há ouvires, pintoras, arquitetos, donos de bar, guia turístico de seu próprio barco etc. Quando digo que a morte advertência, um chamamento para a necessidade de ser seletivo, não desperdiçar tempo, corres atrás do desejo, a fim de que você não parta sem realiza-los. Se isso acontecer, você não terá vivido a sua vida.só lhe restará aguardar uma próxima oportunidade. Haverá? A vida é urgente, muito urgente. Livro: Urgente é a vida Araújo, A. Rio de Janeiro: Record, 2004

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1 - Mauricio de Sousa / 2 - Affonso R. de Sant’ana / 3 - Ariano Suassuna / 4 - Frei Betto / 5 - Alcione Araújo / 6 - Luiz Antonio de Assis Brasil / 7 - Ferreira Gullar / 8 - M 13 - Paulo Caruso / 14 - Erico Verissimo / 15 - Luis Fernando Verissimo / 16 - Marina Colassanti / 17 - Edgar Morin / 18 - Mario Quintana / 19 - Eduardo Galleano / 20 24 - Ziraldo / 25 - Millôr Fernandes 11ª Jornada Nacional de Literatura 22 a 26 de agosto de 2005 - Passo Fundo - RS jornal especial adultos.indd 16

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