Revista de sociologia

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por sua vez ao sistema escolar enquanto instrumento da reprodução social e formação de habitus (Bourdieu e Passeron). Como conseqüência, houve uma dissociação entre trabalho e formação. Reynaud tentou romper com a distinção entre “estrutura das qualificações” na esfera do emprego e “estrutura dos diplomas” na esfera da qualificação, para introduzir a qualificação no cerne do funcionamento do mercado de trabalho. Para isso, deve-se ir além da análise de tarefas realizadas para explicar as diferenças de qualificações e desigualdades salariais enquanto produtos da socialização profissional em um mercado de trabalho interno integrado, ligado a um tipo de organização da produção impactado pelo sistema de relações industriais. As pesquisas sobre o fenômeno recente da multiplicação das ações formativas destinadas a idosos, jovens e trabalhadores demitidos excluídos do mercado de trabalho, demonstram que as formas alternativas de socialização permitem sua inserção no mercado secundário de emprego, no ritmo correspondente à tendência de dualização crescente do mercado de trabalho. Entretanto, as formas que assumiria esta socialização, mercados abertos e flexíveis ou novos mercados fechados com regulação específica, é uma questão essencial para as políticas econômicas e sociais contemporâneas. A pesquisa de Stinchcombe (1979) sobre os tipos de mobilidade e segmentos do mercado de trabalho na Noruega buscou vincular a estruturação das atividades pelos empregadores com as trajetórias e estratégias de emprego individuais. Stinchcombe chegou à distinção de quatro movimentos significativos característicos dos mercados de emprego: 1) mercados abertos: grande mobilidade externa aumentando com a idade; 2) mercados internos: mobilidade sem mudança de empregador, baixa mobilidade externa; 3) mercados profissionais: elevadas taxas de mudança de empregador ou ramos, mas permanência no mesmo tipo de atividade; 4) ausência de mobilidade. Aplicando esses modelos a sete ramos de atividade, define duas dimensões mensuráveis da estruturação do mercado de trabalho: 1) continuidade dos empregos: quanto mais elevada à taxa dos que nunca mudaram de emprego, acima de 42%, maior a estruturação interna do setor; 2) fechamento do mercado: acima de 30%, quanto maior a taxa dos que permanecem no mesmo ramo, mudando de empregador, mais fechado é o mercado. A partir disso, Stinchcombe cruza o modo de estruturação do mercado de trabalho (aberto ou fechado) com o tipo de mobilidade do emprego (continuidade ou descontinuidade), demonstrando sua correspondência bastante considerável, na configuração de identidades.

Terceira Parte: A dinâmica das identidades profissionais e sociais


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