Vale do Jequitinhonha
populacionais, a dinâmica demográfica, ou seja, a análise que combina as três componentes acima mencionadas. De fato, a infinidade de possibilidades analíticas abertas pelos censos demográficos brasileiros impressiona. Os estudos da população gradativamente tornam-se centrais para o entendimento da realidade social, inclusive por permitirem estratificar subpopulações, conforme o interesse do analista, por características econômicas, sociais, culturais, institucionais, sem perder a vantagem dos grandes números. Os dados sobre migrações internas dos últimos dois censos, por exemplo, valem-se de amostras de 10% da população recenseada, e permitem alcançar raros níveis de análises de cunho socioespacial. São poucos os países do mundo que contam com tão sofisticada base de dados. De outra parte, é sempre um desafio empreender uma investigação focalizando a população do Vale do Jequitinhonha que se apoie no avanço dos nossos censos e das técnicas de análise demográfica, sem gerar resultados incompreensíveis para os não iniciados, como acontece com tantos dos artigos de nossos analistas das Ciências Sociais na atualidade. A ideia aqui é traçar um breve retrato da dinâmica demográfica da Mesorregião do Jequitinhonha, conforme definição vigente do IBGE, problematizando os números encontrados, aprofundando alguns aspectos chaves da região, como o das migrações internas, e estabelecendo formas mais didáticas de expor nossos resultados. Quem sabe assim, aumente o interesse dos leitores para um assunto frequentemente considerado árido, muito técnico e até sem importância. Algumas perguntas chaves norteiam este texto. A região do Jequitinhonha, durante muitas décadas, parecia fadada ao esvaziamento demográfico: essa tendência se mantém inalterada? Se visualizarmos a região discriminada por sub-regiões, surgem diferenciações significativas? Quais, onde e por quê? A região possui uma longa história de ruralidade. Há alterações importantes em curso a partir dos últimos dados demográficos disponíveis? Se a região está se urbanizando a passos largos, isso supõe o desmantelamento de estilos de vida intra-regionais de populações com larga tradição de vida rural? A despeito de ser conhecida como área de forte emigração, a região sempre teve um crescimento vegetativo expressivo (em razão do alto número de filhos por família). Diante dos indicadores de fecundidade e mortalidade, é possível afirmar que a tendência de produção de excedentes populacionais permanece inalterada? Se os dados não corroboram essa tendência histórica, isso pode estar influindo no ritmo de crescimento demográfico? Até que ponto? 98