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MANUAL TÉCNICO DO PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL I PROJETO SNIPE

Solar Colégios


Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE FOMENTO

Autor: José Antonio Alcázar Colaboraram: Carlos Amador José Amat Joan Curcó Manuel González Juan Gutiérrez Pedro de la Herrán Carmen Lomas Ignacio Mirón Pilar Mosteiro Jesús M. Pastor Benigno Sáez Mahue Sánchez Mireia Tintoré Ángel Trascasa Francisco Vendrell

Para uso exclusivo do professorado de Educação Fundamental l dos colégios que desenvolvem o PROJETO SNIPE

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

ÍNDICE Capítulo I - INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 8 Capítulo II - FINALIDADES EDUCATIVAS ................................................................................... 11 A. Desenvolvimento físico corporal ..................................................................................... 12 B. Formação do intelecto .................................................................................................... 12 C. Fortalecimento da vontade ............................................................................................. 13 D. Formação da afetividade ................................................................................................. 14 E. Formação cristã: doutrina e vida ..................................................................................... 14 Capítulo III - OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I................................................. 16 Capítulo IV - ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE A INCORPORAÇÃO NO CURRÍCULO DOS EIXOS TRANSVERSAIS ........................................................................................................................ 19 A. EDUCAÇÃO FAMILIAR...................................................................................................... 20 B. EDUCAÇÃO MORAL ......................................................................................................... 23 C. EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO, ATRAVÉS DO TRABALHO ................................................ 35 D. EDUCAÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA E PARA OS VALORES SOCIAIS ..................................... 37 E. EDUCAÇÃO PARA A SOLIDARIEDADE, O DIÁLOGO, A PAZ E A NÃO DISCRIMINAÇÃO ........ 38 F. EDUCAÇÃO AMBIENTAL................................................................................................... 40 G. EDUCAÇÃO PARA O AMOR (AFETIVA E SEXUAL) .............................................................. 41 H. EDUCAÇÃO COMO CONSUMIDOR ................................................................................... 51 I. EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL ................................................................... 52 Capítulo V - ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS ......................................................................... 53 A. ASPECTOS GERAIS ........................................................................................................... 53 1. O PROFESSOR EDUCADOR ........................................................................................... 53 2. A TAREFA DO PROFESSOR ............................................................................................ 57 3. MOTIVAÇÃO ................................................................................................................ 58 4. A ATENÇÃO PESSOAL AOS ALUNOS.............................................................................. 59 5. DESENVOLVIMENTO SISTEMÁTICO DE CAPACIDADES E HABILIDADES .......................... 61 6. A LINGUAGEM COMO VEÍCULO DO PENSAMENTO ...................................................... 67 7. O TRABALHO AUTÔNOMO E COOPERATIVO DO ALUNO .............................................. 68 8. A TRANSFERÊNCIA DO APRENDIZADO E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA ..................... 68 9. O CLIMA FAVORÁVEL PARA A APRENDIZAGEM ............................................................ 69 10. A AVALIAÇÃO ............................................................................................................ 70 11. USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS ................................................................................. 71 3 Solar Colégios


Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I) 12. ATITUDE POSITIVA. DESENVOLVIMENTO DA SEGURANÇA E AUTOESTIMA DOS ALUNOS ....................................................................................................................................... 71 13. O RESPEITO AO RITMO PESSOAL DE APRENDIZAGEM ................................................ 72 14. O JOGO COMO UM RECURSO DIDÁTICO .................................................................... 72 15. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL.......................................................................................... 73 B. SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM....................................................................................... 73 1. Situações de aprendizagem comuns a toda etapa do Ensino Fundamental I................. 73 2. Situações de aprendizagens específicas anos iniciais do Fundamental I ........................... 79 A. O programa neuromotor: reforço dos padrões básicos de movimento ........................ 79 B. Audições musicais ....................................................................................................... 85 C. Passeios de aprendizagem ........................................................................................... 91 D. Os bits de inteligência ................................................................................................. 95 E. Atividades de linguagem: poesias, trava-línguas, adivinhações e canções .................... 97 3. Situações de aprendizagens específicas dos anos subsequentes do Fundamental I .......... 98 A. Os Bits de Aprendizagem e os Campos Semânticos ou Famílias ................................... 98 B. Desenvolvimento do pensamento estratégico através do xadrez ................................. 99 C. As saídas de observação .............................................................................................. 99 D. O Teatro .................................................................................................................... 101 C. ORIENTAÇÕES PARA CADA ÁREA DE APRENDIZAGEM .................................................... 101 1. Conhecimento do meio natural e social ..................................................................... 101 2. Linguagem e Literatura .............................................................................................. 105 3. Matemática ............................................................................................................... 112 4. Outros idiomas .......................................................................................................... 119 5. Educação Artística ..................................................................................................... 121 6. Educação Religiosa .................................................................................................... 124 7. Educação Física.......................................................................................................... 126 Capítulo VI - PROGRAMAÇÃO DE ATIVIDADES ....................................................................... 136 1. AS UNIDADES DIDÁTICAS QUINZENAIS .......................................................................... 136 2. A GLOBALIZAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL .............................................................. 138 3. AS ATIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM ................................................................. 140 4. A MOTIVAÇÃO DAS APRENDIZAGENS ............................................................................ 143 5. A PREPARAÇÃO DAS AULAS ........................................................................................... 146 6. OS DEVERES DE CASA .................................................................................................... 148

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Capítulo VII - CONHECIMENTO, PROJETO PESSOAL E AVALIAÇÂO PERSONALIZADA DO ALUNO ............................................................................................................................................. 150 A. CONHECIMENTO DO ALUNO ......................................................................................... 150 1. Aspectos gerais.......................................................................................................... 150 2. Perfil do desenvolvimento da criança de seis anos ..................................................... 151 3. Perfil do desenvolvimento da criança de sete anos .................................................... 153 4. Perfil do desenvolvimento da criança a partir dos oito anos ...................................... 155 5. A Puberdade.............................................................................................................. 174 B. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE CADA ALUNO ................................................... 177 1. Avaliação inicial ......................................................................................................... 177 2. Avaliação Contínua, Global e Formativa ..................................................................... 178 3. Informes trimestrais .................................................................................................. 179 Capítulo VIII - ADAPTAÇÕES CURRICULARES .......................................................................... 180 Capítulo IX - MEIOS DE ORIENTAÇÃO PESSOAL E COLETIVA .................................................. 182 A. EDUCAR NA LIBERDADE ................................................................................................ 182 B. MEIO DE ORIENTAÇÃO PESSOAL: A PRECEPTORIA ......................................................... 186 1. Conhecer e estimar o aluno: ganhar sua confiança .................................................... 187 2. Qualidades do preceptor ........................................................................................... 188 3. Educando cada pessoa............................................................................................... 189 4. Conteúdo da preceptoria ........................................................................................... 191 5. O preceptor e a qualidade docente ............................................................................ 193 6. O preceptor e as atividades extraescolares ................................................................ 195 7. O preceptor dos alunos do Snipe ............................................................................... 195 C. MEIOS DE ORIENTAÇÃO COLETIVA ................................................................................ 196 1. O professor encarregado de classe (PEC) ................................................................... 196 2. O ambiente educativo da sala de aula ....................................................................... 196 3. Reunião de turma ...................................................................................................... 197 4. O Conselho de turma ................................................................................................. 199 5. Os encargos dos alunos ............................................................................................. 202 6. O Programa de Formação Humana: Virtudes ............................................................. 203 7. As assembleias .......................................................................................................... 204 8. As convivências ......................................................................................................... 204 D. ATIVIDADES PROMOVIDAS PELA CAPELANIA ................................................................. 205 5 Solar Colégios


Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I) Capítulo X - O AMBIENTE E A CONVIVÊNCIA ESCOLAR O CLIMA DA SALA ............................... 207 A. IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR......................................................................... 207 B. CONDIÇÕES DO AMBIENTE ESCOLAR ............................................................................. 207 C. O AMBIENTE ESCOLAR PERSONALIZADO ....................................................................... 210 D. CONVIVÊNCIA E DISCIPLINA ESCOLAR ........................................................................... 213 E. SITUAÇÕES QUE MERECEM ATENÇÃO ESPECIAL ............................................................ 217 1. O Refeitório ............................................................................................................... 217 2. Os novos alunos ........................................................................................................ 218 3. Os descansos ............................................................................................................. 219 4. Deslocamento dos alunos pelo colégio ...................................................................... 220 5. Os aniversários .......................................................................................................... 220 6. Os alunos doentes ..................................................................................................... 221 7. As festas do colégio ................................................................................................... 221 8. O Oratório ................................................................................................................. 222 Capítulo XI - A EDUCAÇÃO DAS VIRTUDES HUMANAS NO PROJETO SNIPE ............................. 223 A. ORDEM ......................................................................................................................... 228 B. LABORIOSIDADE. AMOR AO TRABALHO BEM FEITO ....................................................... 236 C. VIRTUDE DA GENEROSIDADE......................................................................................... 247 D. VIRTUDE DA RESPONSABILIDADE .................................................................................. 259 E. VIRTUDE DA ALEGRIA .................................................................................................... 261 F. VIRTUDE DA PIEDADE: HÁBITOS DE VIDA CRISTÃ ........................................................... 265 G. VIRTUDES HUMANAS E AÇÕES INCIDENTAIS ................................................................. 268 Capítulo XII - OS PAIS DOS ALUNOS ....................................................................................... 271 A. O PRECEPTOR E OS PAIS DOS ALUNOS........................................................................... 271 B. A FORMAÇÃO PERMANENTE DOS PAIS.......................................................................... 275 C. CASAIS ENCARREGADOS DE CLASSE (CEC) ..................................................................... 277 Capítulo XIII - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS E TEMPOS ........................................................... 279 A. ORGANIZAÇÃO MATERIAL DA AULA .............................................................................. 279 B. ORGANIZAÇÃO DO TEMPO. HORÁRIOS ......................................................................... 279 Capítulo XIV - AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM ................................. 281 A. AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO .......................................................................... 281 B. AVALIAÇÃO DO PROJETO CURRICULAR .......................................................................... 282

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Tradução e adaptação: Simone Schimidt, Onilda Brito Revisão e adaptação:

Ana Cláudia Oliveira

Janeiro, 2016

Este material não pode ser reproduzido ou veiculado sem permissão por escrito da Solar Colégios

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Capítulo I - INTRODUÇÃO É patente nos nossos dias que a tarefa educativa não consiste apenas em ensinar ou aprender a ler, escrever, saber algo de matemática e armazenar conhecimentos, cada vez mais volumosos e mutáveis. É fundamental preocupar-se com o desenvolvimento da capacidade de comunicação; do acesso e processamento crítico da informação; da capacidade de identificação, questionamento e resolução de problemas; do uso do raciocínio abstrato e científico e, por fim, da utilização consciente e crítica dos recursos tecnológicos, em especial do mundo virtual e das redes sociais. Além disso, a complexidade dos problemas atuais e a globalização dos mesmos evidenciam a necessidade de cultivar a dimensão ética em todos os estudantes. A realidade, respaldada pelas estatísticas, mostra que muitos estudantes chegam ao final da educação básica com uma série de conhecimentos melhor ou pior assimilados, mas sem possuir habilidades básicas para o aprendizado escolar como: ler compreensivamente um texto, avaliar segundo determinados critérios, analisar, sintetizar, manejar adequadamente um dicionário, organizar o tempo pessoal de trabalho. É evidente que uma grande porcentagem dos alunos com “fracasso escolar” tem capacidade intelectual para não se encontrar nessa situação. Sabemos que o rendimento escolar envolve fatores como motivação, esforço pessoal, tempo dedicado ao estudo, incentivo familiar e reforço do ambiente social. Contudo, ainda que esses fatores sejam favoráveis, é inegável que é muito difícil manter a motivação e o esforço pessoal, quando as estratégias pedagógicas não se demonstram eficazes para superar os níveis de competência estabelecidos. Por outra parte, o perfil ético deve ser desenvolvido com a formação da consciência, a transmissão de valores e a formação das virtudes. Uma abrangente formação intelectual e uma adequada formação ética de nossos alunos constitui a dupla meta a que nos propomos no Projeto Curricular Snipe para o Ensino Fundamental I. A grade curricular e algumas estratégias pedagógicas dos dois primeiros anos do Projeto Snipe enlaçam com o Projeto Optimist, aproveitando o final dos períodos sensitivos, concorrendo para a melhor configuração cerebral e preparando o adequado desenvolvimento subsequente da capacidade intelectual. Ao mesmo tempo, enfatizase a aprendizagem dos conteúdos instrumentais básicos: ler, escrever e calcular. 8 Solar Colégios


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O interesse principal no Projeto Snipe é o desenvolvimento sistemático realizado por meio do trabalho diário realizado em sala, ou seja, um plano de estudo que contempla:  

As capacidades ou habilidades de pensamento (desenvolvimento cognitivo); O conhecimento e o raciocínio moral, o fortalecimento da vontade por meio da vivência das virtudes e do cultivo da afetividade (desenvolvimento moral e ético).

É nessa faixa etária, antecedente à adolescência, que se apresenta a maioria dos períodos sensitivos ótimos para a aprendizagem das habilidades intelectuais e para a educação da vontade. Como as estratégias de pensamento fundamentais e as principais virtudes são interiorizadas nesses anos, torna-se importante proporcionar numerosas ocasiões de sistematização. O desenho do Projeto Snipe exige:  

    

Identificar os hábitos de comportamento fundamentais e as principais habilidades de pensamento, sequenciando segundo o grau de complexidade. Desenhar um plano de estudo que integre em seus conteúdos as estratégias de pensamento e os hábitos de trabalho e de conduta que foram identificados. Esse plano de estudo assume os conteúdos dos PCN para o Fundamental I. Estabelecer as linhas metodológicas mais adequadas para a consecução da dupla meta proposta (desenvolvimento intelectual e ético). Adaptar e/ou eleger os recursos didáticos que melhor correspondam a essa perspectiva. Formar os professores na fundamentação teórica, métodos e práticas sobre a aprendizagem dos processos de pensamento e a formação moral e ética. Envolver os pais no desenvolvimento do projeto, programando atividades familiares integradas ao plano de estudo. Oferecer aos pais uma assessoria educativa familiar através das entrevistas com o preceptor e de outros meios formativos que se demonstrarem oportunos (palestras, workshops, atividades promovidas pela Capelania do colégio, etc.).

A dupla meta proposta pelo Projeto Snipe, com suas ferramentas metodológicas próprias, constitui um desafio para a equipe docente. O projeto requer um modo distinto de enfocar o processo de ensino-aprendizagem e implica uma atitude de renovação por parte do professor. O projeto só terá garantia de êxito se houver uma autêntica mudança da mentalidade dos professores envolvidos, pois serão eles que concretizarão o projeto no dia a dia de sala de aula. Logicamente, não se trata de mudar por mudar, mas de melhorar constantemente a qualidade da ação educativa 9 Solar Colégios


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diária. Aqueles que têm a arte de ensinar procuram colocar todos os meios ao seu alcance para que seus alunos aprendam e mantenham sempre, em qualquer circunstância, o entusiasmo por aprender.

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Capítulo II - FINALIDADES EDUCATIVAS A primeira coisa a se fazer em um Programa de Ensino é elaborar os objetivos, considerando-se os fins educativos almejados. Quando se elabora um objetivo, são expressos com a maior precisão possível os fins concretos que se pretendem alcançar em uma determinada atividade educativa. A diferença entre finalidades e objetivos consiste em que as finalidades estabelecem os resultados últimos a que se espera que os alunos alcancem, enquanto que os objetivos referem-se a resultados concretos. As finalidades são bastante extensas, descrevem um estado ou uma intenção geral, amplos, não indicam o que se deve fazer e não são diretamente avaliáveis. Nossas finalidades ou intenções educativas sintetizam as linhas mestras de uma educação centrada na pessoa, conforme a concepção cristã do homem e da vida. A formação da pessoa para o exercício responsável de sua liberdade leva-a ao conhecimento de sua estrutura básica e das leis naturais de seu desenvolvimento, a fim de conseguir que a ação educativa incida adequadamente em cada uma das etapas da vida. O direito irrenunciável e a principal responsabilidade da educação dos alunos correspondem, por natureza, a seus pais, com os quais o colégio colabora em sua tarefa indelegável de primeiros educadores. A primeira atenção deve ser dada aos pais dos alunos, assegurando dessa forma uma eficaz colaboração entre a ação educativa familiar e a do colégio. Assim, os pais proporcionam a seus filhos uma educação coerente, pois família e colégio compartem os mesmos ideais educativos. O colégio busca a educação personalizada dos alunos, de cada um como pessoa única e exclusiva que alcançará o máximo desenvolvimento possível de suas capacidades e aptidões. Isto requer conhecer cada aluno, respeitá-lo, atender suas necessidades e características pessoais, amá-lo como é e inspirar-lhe confiança e segurança. Promove-se uma formação completa que favorece o pleno desenvolvimento da personalidade, manifestado em diversos aspectos que se harmonizam na unidade da pessoa e da ação educativa. Para educar a pessoa é preciso atender à totalidade do ser humano: a corporeidade, a inteligência, a vontade, a afetividade e seu sentido transcendente. 11 Solar Colégios


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Primeiramente, atender à corporeidade que é simultaneamente a base condicionante e o meio pelo qual realizamos boa parte de outras funções. Depois, o objetivo da educação é ensinar a pensar ou ensinar a buscar a verdade; ajudar a fortalecer a vontade, de modo que a pessoa esteja em condições de aderir livremente à verdade encontrada, podendo segui-la e superando as dificuldades que encontre, orientando os sentimentos e afetos. Além disso, o homem é um ser social, aberto a Deus e aos outros, e deve aprender a dar e a dar-se, não somente a receber. Deve aprender a amar. A inteligência, alimentada pela verdade, pela vontade fortalecida, pelas virtudes que ajudam a viver conforme a convicção da verdade, e o coração, disposto a amar a verdade vivida, fundem-se na unidade exclusiva de cada homem (unidade de vida), sendo possível a felicidade, própria das pessoas coerentes, firmes e estáveis. Educação completa e íntegra. Integridade que não é soma ou justaposição de diferentes aspectos, mas a integridade da unidade harmônica de todos esses aspectos na unidade da pessoa e da ação educativa, atendendo à singularidade de cada pessoa.

A. Desenvolvimento físico corporal Através de atividades físicas e esportivas, principalmente, desenvolvem-se as aptidões sensoriais e motoras. Fomentam-se a atitude de superação pessoal, o espírito de cooperação e outras virtudes humanas, ao mesmo tempo em que se promovem hábitos de saúde e de higiene pessoal.

B. Formação do intelecto Orienta-se para proporcionar conhecimentos, hábitos e técnicas de trabalho intelectual, bem como para favorecer o desenvolvimento das habilidades. Em educação, não cabe um doutrinamento manipulador, nem uma atitude aparentemente neutra, já que, com a palavra e com a conduta, sempre se parte de alguns princípios e se apresentam alguns conteúdos morais determinados, corretos ou não. A diferença entre doutrinar e educar, em muitos casos, não está tanto no que se ensina, mas em como se ensina. O importante é respeitar os alunos, ajudando-os a assimilar e personalizar os valores que lhes são diretamente apresentados, os critérios de vida e as virtudes, promovidos através de um processo educativo que fomente um saudável espírito crítico. 12 Solar Colégios


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Deve-se alcançar um clima em que os alunos exponham e defendam sua própria argumentação, e o professor escute com atenção e respeito as reflexões dos alunos, procurando oferecer-lhes os pontos de apoio indispensáveis para que encontrem por si mesmos uma sólida fundamentação racional. Ensinar a pensar, a desenvolver o próprio critério, é fundamental no desenvolvimento do aluno que descobre e aprecia os valores e os integra livremente em sua vida pessoal. Não se trata somente de admirar a verdade, mas de adquirir convicções firmes.

C. Fortalecimento da vontade A educação da vontade tem como objetivo procurar que cada aluno se forme no esforço e na responsabilidade pessoal, desenvolvendo hábitos que fortaleçam sua capacidade de decisão e permitam colocar em prática o que foi livremente decidido. A vontade se educa mediante o desenvolvimento das virtudes humanas, que facilitam viver de acordo com critérios éticos de conduta livremente aceitos, conformes com a dignidade pessoal. Por meio da educação da vontade, os alunos são capazes de viver com fortaleza os compromissos que adquiriram livremente, superando os obstáculos que possam apresentar-se. Adquire-se, dessa forma, maturidade pessoal, pois aceitam as consequências das próprias decisões. Uma vontade forte permite ao aluno ter confiança em si mesmo e ser capaz de se governar, fazendo o que deve ser feito, dominando os sentimentos do momento. Permite-lhe, portanto, ser livre, equilibrado, sereno, senhor de seus próprios atos. Pensar é requisito indispensável, mas não suficiente, para uma atuação correta. É necessário ajudar os alunos a fortalecerem a vontade e a adquirirem virtudes humanas. A aquisição de hábitos morais fortalece a segurança pessoal ao proporcionar facilidade e energia para conseguir as metas a que se aspira. Pelo princípio de harmonia das virtudes, quando uma delas melhora, aperfeiçoam-se as outras, pois todas residem na unidade da pessoa. Por isso, é interessante apoiar-se nas qualidades do aluno, reforçando seus pontos fortes pessoais, sem recorrer a comparações, nem estimular atitudes de competição desleal com os outros.

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D. Formação da afetividade Junto à formação da inteligência e ao fortalecimento da vontade, é necessário também atender ao desenvolvimento da afetividade. Os sentimentos contam na vida pessoal porque influem significativamente na formação das atitudes e das motivações. Ter bons sentimentos facilita uma firme vontade para o bem. As vivências e valores que se apóiam no sentimento e na afetividade enraízam fortemente na consciência. Devemos ensinar os alunos a compreender e orientar as tendências e os sentimentos. Educar os sentimentos é contar com eles, demonstrá-los conscientemente, para que ajudem a vontade a tender para o bem. É preciso educar ensinando a esforçar-se dia a dia para fazer o que deve ser feito: aproveitar o tempo, tirar partido dos próprios talentos, procurar vencer os defeitos do próprio caráter, buscar sempre fazer algo a mais pelas pessoas que estão ao nosso redor, manter uma relação cordial com todos, etc. O coração é uma força para o homem: quando vai pelo caminho da verdade e do bem, os sentimentos nobres contribuem para lhe dar força e brio; mas os sentimentos não nobres podem acabar extraviando o entendimento mais reto. A pessoa motivada vê a meta como algo grande e positivo que pode conseguir. Pelo contrário, com a indiferença, não se pode cultivar a vontade. O homem entusiasmado sabe o que quer e aonde vai, está sempre vigilante e não se desmorona. Até nos piores momentos há um vestígio de esperança debaixo das cinzas. Aí se apoia a capacidade de recomeçar outra vez, o que faz a grandeza das pessoas.

E. Formação cristã: doutrina e vida Tudo isso é válido também para a formação cristã que requer alimentar a inteligência com a doutrina da fé, ajudar o aluno a adquirir hábitos de conduta e de piedade pessoal e a colocar o coração e o entusiasmo em viver conforme o querer de Deus. Todas as atividades de atendimento espiritual que se oferecem no colégio têm caráter voluntário, com muito respeito à liberdade das consciências, o que é muito importante, pois esse respeito é exigido pela natureza do ato de fé e pelos próprios princípios da moral. Efetivamente, não há nada mais íntimo e voluntário que o ato de fé ou que o amor a Deus. O respeito à liberdade, porém, não significa relativizar os conteúdos da fé ou da moral, para adaptá-los ao sentimento ou ao modo pessoal de ver as coisas.

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Não é também deixar de estimular e convidar a pessoa para receber com interesse e proveito a formação espiritual. A liberdade das consciências pressupõe o direito fundamental de qualquer pessoa de buscar e aceitar a verdade; de formar sua consciência de acordo com a verdade encontrada; e de seguir os ditames de sua própria consciência.

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Capítulo III - OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I Para satisfazer uma intenção ou finalidade educativa é imprescindível fragmentá-la e concretizá-la em pequenas metas que expressem condutas ou resultados observáveis, isto é, objetivos que podem ser definidos como a descrição de uma conduta ou de um resultado que esperamos sejam alcançados em determinado prazo de tempo. A primeira concretização de uma intenção educativa são os objetivos gerais de etapa que estabelecem quais capacidades pretendemos conseguir em cada uma das etapas educativas, neste caso, o Ensino Fundamental I. Os objetivos gerais são formulados em forma de capacidades interrelacionadas, não como condutas mensuráveis, nem indicando o grau de desenvolvimento que será diferente em cada aluno. Não são, portanto, diretamente avaliáveis, embora inspirem os processos de avaliação que permitirão analisar o avanço global que os estudantes alcançaram em suas capacidades. Esses objetivos se referem a capacidades gerais que serão trabalhadas em todas as áreas, ainda que cada uma delas, por sua peculiar configuração, incida de modo diferente em seu desenvolvimento. A criança dessa idade tem características psicológicas e desenvolvimento físico e mental peculiares. Por essa razão, o Ensino Fundamental I é um nível com substancialidade própria, em que há momentos ótimos para a aprendizagem e a aquisição de hábitos de conduta. A seguir, enumeram-se os objetivos gerais para o Ensino Fundamental I no Projeto Curricular Snipe, considerados os Programas Curriculares Oficiais. Ao finalizar o Ensino Fundamental I, como resultado do processo de ensino e aprendizagem, o aluno terá desenvolvido a capacidade de: 1. Conhecer e prezar o próprio corpo, contribuindo para seu desenvolvimento biológico e perceptivo-motor, praticando atividades físicas adequadas à sua idade e vivendo os hábitos elementares de higiene e saúde corporal. 2. Apreciar a atividade física, tanto em atividades individuais como nas coletivas ou de competição, valorizando a importância que a prática do exercício físico e a participação nos jogos têm para a melhoria de suas habilidades motoras e para o cultivo de uma atitude de superação pessoal, de respeito, de espírito cooperativo, bem como da fortaleza e de outras virtudes humanas.

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3. Colocar em prática suas decisões pessoais e cumprir os compromissos adquiridos, com o conselho e ajuda de seus pais, desenvolvendo a fortaleza para superar os obstáculos que possam apresentar-se. 4. Agir com autonomia e segurança em suas atividades habituais e nas relações de grupo, desenvolvendo a capacidade de tomar decisões, com iniciativa e responsabilidade, e de estabelecer relações afetivas. 5. Participar ativamente no planejamento e realização de atividades, aceitando as normas e regras estabelecidas, articulando os objetivos e interesses próprios com os dos outros membros do grupo, respeitando os diferentes pontos de vista e assumindo as responsabilidades que lhe correspondam. 6. Estabelecer relações equilibradas e positivas com as pessoas com quem se relaciona (família, colégio, vizinhos, amigos...) e praticar as normas de comportamento que regulam as relações sociais, cultivando as virtudes sociais e cívicas (delicadeza, sinceridade, justiça, generosidade, respeito, etc.) e os hábitos de convivência, cooperação e solidariedade com todas as pessoas – em especial com as mais necessitadas –, que levam à aceitação e à compreensão das diferenças de sexo, classe social, crenças, raça, etc. e à recusa de qualquer discriminação. 7. Compreender e produzir mensagens orais e escritas em português, atendendo a diferentes intenções e contextos de comunicação. Compreender e produzir mensagens orais e escritas simples e contextualizadas em língua estrangeira (inglês). 8. Utilizar os diferentes meios de expressão (verbal, corporal, visual, plástica, musical e matemática) para se comunicar, desenvolvendo o raciocínio lógico, verbal e matemático, assim como a sensibilidade estética, a criatividade e a capacidade para valorizar e apreciar as obras e manifestações artísticas. 9. Utilizar na resolução de problemas simples os procedimentos oportunos para obter a informação pertinente e representá-la mediante códigos, levando em conta as condições necessárias para sua solução. 10. Identificar e apresentar questões e problemas a partir da experiência diária, utilizando os conhecimentos adquiridos, os recursos disponíveis e a colaboração de outras pessoas, se for necessário, para resolvê-los de forma autônoma e criativa. 11. Compreender os fatos e fenômenos do ambiente natural e social, estabelecendo as relações pertinentes entre os mesmos, e contribuindo ativamente, no que for possível, na defesa, conservação e melhoria do meio ambiente.

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12. Conhecer o patrimônio cultural, participar em sua conservação e melhoria, e respeitar a diversidade linguística e cultural como direito dos povos e indivíduos, desenvolvendo uma atitude de interesse e respeito para o exercício deste direito. 13. Conhecer e prezar os elementos e as características básicas do patrimônio natural, cultural e histórico de cada região do país, contribuindo para a sua conservação. 14. Adquirir noções e hábitos de caráter ético e religioso que levem a prezar a importância dos valores básicos da cultura e do espírito e a adquirir gradualmente um sentido mais profundo da liberdade e da responsabilidade mediante o desenvolvimento de virtudes humanas e de suficiente critério moral. 15. Conhecer os conteúdos básicos da doutrina católica e as fundamentais exigências pessoais e sociais da fé, tomando consciência de sua condição de filho de Deus e de membro da Igreja, esforçando-se por se comportar como tal e respeitando a liberdade das consciências. 16. Conhecer, através de seus pais e da oportuna ajuda escolar, a dignidade e o sentido do amor humano. 17. Aplicar as técnicas de trabalho intelectual (processos de pensamento, habilidades mentais, técnicas de estudo, etc.) necessárias para realizar sua tarefa com a maior perfeição possível, cuidando dos pequenos detalhes de ordem, pontualidade, limpeza e cuidado com os instrumentos de trabalho, valorizando a obra bem feita como meio de aperfeiçoamento pessoal – humano e espiritual – e de serviço ao bem da sociedade. 18. Empregar com proveito e iniciativa o tempo livre, mediante a prática habitual das preferências esportivas e culturais. 19. Utilizar as técnicas de informática básicas para o desenvolvimento de capacidades lógicas, criativas e a resolução de problemas de diferentes tipos.

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Capítulo IV - ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE A INCORPORAÇÃO NO CURRÍCULO DOS EIXOS TRANSVERSAIS A educação deve potenciar o desenvolvimento integral da pessoa e preparar as crianças e jovens para viver seu papel de cidadãos ativos e responsáveis em uma sociedade em contínua mudança. Isto requer que, através do ensino e aprendizagem das diferentes áreas do currículo, sejam desenvolvidos alguns grandes temas, em relação muito direta com as finalidades educativas plasmadas no Projeto Educativo, tais como a educação moral, a educação para a convivência e os valores sociais, a educação em e para o trabalho, etc. Esses grandes temas, que dizem respeito à atividade educativa escolar, chamam-se temas ou eixos transversais, já que "atravessam" e estão presentes nas diferentes etapas educativas e nas diferentes áreas que compõem o currículo dessas etapas. Não são, portanto, temas marginais ou secundários, nem conteúdos a trabalhar de uma forma isolada em algum objetivo, área ou bloco de conteúdos. São temas importantes que impregnam a atividade educativa, que aproximam a escola à vida e favorecem o desenvolvimento integral da pessoa. Os temas transversais estão nos conteúdos das diversas áreas, já que constituem aspectos muito importantes da cultura básica de todo cidadão. Apresentam-se como um conjunto de conteúdos que interagem em todas as áreas do currículo escolar. Seu desenvolvimento afeta a globalidade do currículo, não se tratando, portanto, de um conjunto de ensinamentos autônomos, mas sim de uma série de elementos de aprendizagem sumamente globalizados, presentes em todas as áreas. Não existem pautas metodológicas específicas que tratem dos temas transversais, mas se deve levar em conta a metodologia própria de cada área, de acordo com o estilo de ensino previsto para todo o processo de ensino e aprendizagem. É positiva a experiência de dedicar um ou vários dias por ano para um tratamento mais sistemático, com mais profundidade e presença na vida escolar, de alguns temas transversais. Toda a comunidade escolar participa nesses dias da preparação e desenvolvimento desses temas.

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Os Temas Transversais definidos neste Projeto Educativo são os seguintes: A. A educação familiar. B. A educação moral. C. A educação para o trabalho, através do trabalho. D. A educação para a convivência e os valores sociais. E. A educação para a solidariedade, a cooperação, o diálogo, a paz e a não discriminação (por razão de sexo, raça, religião, ideias políticas, classe social, etc.). F. A educação ambiental. G. A educação para o amor (afetiva e sexual). H. A educação como consumidor. I. A educação para a saúde física e mental. A. EDUCAÇÃO FAMILIAR Por natureza, o direito irrenunciável e a responsabilidade da educação dos alunos correspondem a seus pais, a quem o colégio ajuda em sua tarefa insubstituível de primeiros e fundamentais educadores. A família é o âmbito próprio para o mais profundo desenvolvimento da pessoa: as atitudes fundamentais diante da vida, a formação moral e religiosa, o uso responsável da liberdade e, geralmente, a orientação e o cultivo da personalidade se educam principalmente no seio familiar. Nele, a pessoa recebe os primeiros e mais decisivos estímulos para o seu desenvolvimento. Família e colégio necessitam-se mutuamente, mas o protagonismo corresponde à família. A responsabilidade dos pais na educação de seus filhos abarca todos os seus aspectos. Também sua aprendizagem, enquanto esta atividade seja um meio fundamental para a formação da inteligência e da vontade, da pessoa. O colégio que os pais responsavelmente escolhem para seus filhos, fazendo uso de seu direito, é um complemento educativo da família, nunca um substituto. Quando família e colégio são dois ambientes equilibrados e coincidentes em valores, assentam-se as mais firmes bases para uma educação de qualidade: o projeto educativo pessoal, no seio da família, e o currículo escolar devem estar em harmonia. Corresponde ao centro educativo, em primeiro e principal lugar, ajudar os pais dos alunos a ser de fato o que lhes corresponde por direito: os primeiros e principais educadores de seus filhos. Originariamente, os pais – o casal em comum – são os únicos que têm o direito e o dever de educar seus filhos. Os professores participam desse direito-dever 20 Solar Colégios


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subsidiariamente, na medida em que os pais, sentindo-se insuficientes para realizar algumas de suas funções educativas, lhes dão este encargo e lhes solicitam ajuda, sem que deixem por isso sua responsabilidade. De fato são os pais quem devem propor as metas educativas para seus filhos, quem traçam as linhas mestras de um autêntico projeto educativo pessoal: o que quero para meu filho? Como quero educá-lo? Na prática, começam a responder a essas perguntas quando escolhem um determinado tipo de centro educativo para seus filhos. A educação familiar é antes de tudo uma educação positiva, de acolhimento incondicional, em que o filho é amado sem qualquer outro motivo que não por ser filho, e é nesse lugar onde aprenderá a amar. No seio familiar e no ambiente escolar devemos esforçar-nos por descobrir as boas possibilidades de cada um de nossos filhos e alunos, para lhes dar oportunidade de crescer; descobrir também os valores de cada um com os quais pode enriquecer sua vida pessoal e sua vida compartilhada com os demais. As profundas mudanças operadas nos últimos anos com relação aos valores, mais ou menos aceitos socialmente, têm afetado à família em um grau muito maior que aos centros escolares. É da própria família de onde deve surgir a principal e mais eficaz reação. Muitos pais estão preocupados com a má influência do ambiente social no desenvolvimento da personalidade de seus filhos. Não percebem, na maioria das vezes, a poderosa arma que têm em suas mãos: a educação familiar, de um alcance e profundidade muito maior que a influência que seus filhos recebem no ambiente social. Quanto mais consciente, perseverante e coerente seja a ação educativa familiar, menor será a influência do ambiente social na experiência de vida que os filhos vão adquirindo. É preciso voltar a descobrir que nem sequer a formação intelectual é tarefa exclusiva da escola, embora o seja preferentemente, mas, também nesse campo, a família tem sua responsabilidade. A criação e a manutenção de uma cultura familiar, no mais pleno sentido do termo cultura, decorrem do cultivo intelectual que acontece na comunicação, na ajuda e no esforço mútuo, em um ambiente de segurança, de amor e de aceitação. Quando falta esta vida educativa familiar, os filhos sofrem importantes carências em seu desenvolvimento. As mais recentes pesquisas e a experiência da 21 Solar Colégios


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psicologia clínica dos últimos anos manifestam cada vez mais claramente a importância do tempo compartilhado entre pais e filhos, para um desenvolvimento equilibrado das crianças e para a construção de uma vida familiar saudável. Essas pesquisas destacam especialmente o interesse da brincadeira e das preferências em comum entre pais e filhos. Está demonstrado que a interação filhos/pais desenvolve a linguagem e a inteligência, favorece o desenvolvimento pessoal e a saúde mental, torna possível a sociabilidade, a abertura aos demais e ao meio. Pode-se afirmar precisamente que os pais que realizam atividades educativas com seus filhos em casa conseguem que as crianças tenham bom desenvolvimento intelectual e volitivo. Trata-se de uma relação que requer, antes de tudo, dedicar tempo aos filhos, sendo mais importante a qualidade do que a quantidade. Deve ser uma relação realmente educativa, gratificante, em que se tenha prazer de estar com os filhos, com cada filho. Devem ser momentos intensos, sem pressas, com afeto, com cada um. Quando isso acontece, quando há autêntica convivência familiar, as crianças aprendem a assumir diferentes papeis e adquirem habilidades de relação, abertura e comunicação. Está comprovado que as crianças que brincam em família desenvolvem destrezas intelectuais e sentido do regramento social por meio das normas. Falar com os filhos requer dar-se a conhecer e conhecê-los, e esse conhecimento gera e aumenta o amor; requer expressar as próprias emoções e ensiná-los a expressar as suas; requer ensinar a resolver os problemas dialogando; além de muitos outros efeitos positivos. A experiência nos diz que, neste mundo vertiginosamente agitado, muitas vezes a dedicação dos pais aos filhos fica reduzida a uns fins de semana cada vez menos compartilhados. Devem-se encontrar modos de facilitar e incentivar que os pais intervenham na educação de seus filhos, apontando-lhes oportunidades para isso e levando-os a se sentirem seguros sobre suas práticas educativas. Este eixo transversal tem como objetivo primordial, dentre toda atividade docente, oferecer aos pais ocasiões e meios de agir educativamente com seus filhos, conscientes de que a principal participação dos pais no currículo é a que podem realizar em seu próprio ambiente familiar, pelo bom exemplo e compartilhando o tempo com os filhos em atividades realmente educativas e enriquecedoras para toda a família. O colégio deve animar os pais, com uma disposição positiva, para que dediquem o melhor de seu tempo aos seus filhos. Os pais necessitam de entusiasmo, da segurança de se sentirem capazes de educar muito bem seus filhos, e de uma ampla gama de sugestões práticas de modos de fazer educativos na família. As entrevistas 22 Solar Colégios


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iniciais de ingresso de uma nova família no colégio representam um momento especialmente oportuno para insistir nessa ideia. A condição indispensável para que o protagonismo dos pais seja eficaz é a coerência com a colaboração que o colégio presta aos pais, para um autêntico projeto educativo pessoal para cada filho. Um modo de favorecer esse protagonismo é mantê-los informados dos conteúdos que se trabalham em cada momento no colégio e das possibilidades que o seio familiar oferece para melhor aprendizagem desses conteúdos. Por isso, é importante estabelecer uma informação frequente e fluida do colégio para as famílias sobre o conteúdo e os objetivos das atividades escolares que seus filhos realizam, bem como dos sucessos que vão alcançando e das dificuldades que encontram. Outras maneiras práticas, dentre muitas, de potenciar a ação educativa familiar a partir do colégio, são: 

  

Oferecer aos pais um resumo periódico da programação dos objetivos fundamentais de aprendizagem, de modo que possam colaborar como lhes for possível na consecução desses objetivos. Orientar os pais sobre atividades culturais, excursões, passeios e visitas que possam realizar com seus filhos. Oferecer aos pais instrumentos que ajudem e fomentem a unidade e o diálogo familiar, como meios básicos de formação dentro da família. Dar uma orientação mais prática às reuniões gerais, cursos intensivos e aulas permanentes, organizadas pelo colégio para as famílias, de modo que se trabalhem e sugiram modos práticos de atuação educativa familiar. Promover, nessas reuniões, o intercâmbio de experiências positivas de umas famílias a outras, que entusiasmem e deem segurança. Informar os pais sobre brincadeiras ou jogos que possam conectar a aprendizagem escolar com a vida familiar.

B. EDUCAÇÃO MORAL Os organismos educativos internacionais apresentam o caráter prioritário que se deve dar à educação moral nos diferentes sistemas educativos. A UNESCO recomenda a seus países membros orientar a atividade educativa de acordo com as seguintes prioridades:   

desenvolvimento moral atitudes e hábitos de comportamento aptidões 23 Solar Colégios


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 

habilidades e destrezas (saber fazer) conhecimentos

Sentido e conteúdo da educação moral A sociedade atual necessita com urgência de uma educação moral para a infância e adolescência, talvez em consequência da crise social generalizada que se evidencia na insegurança do cidadão, na disseminação de doenças ou nos atentados à vida e ao meio ambiente. Nos ambientes sociais, culturais e políticos, abriu-se caminho à necessidade de um enfoque ético elementar sobre o qual possam apoiar-se as relações humanas, tanto na esfera privada como na pública. Não obstante, não há um consenso sobre a necessidade de uma educação ética no que se refere ao conteúdo da formação moral. Consequentemente, não há também um consenso sobre as técnicas educativas que devam ser aplicadas, precisamente porque não há um acordo geral sobre o conceito de pessoa. A educação pressupõe uma fundamentação antropológica, a partir da qual se condiciona a educação ética. Se entendermos a pessoa como um ser singular e irrepetível, isto é, como um ser racional e livre, capaz de se abrir a Deus e aos outros, a educação ética somente poderá ser entendida como educação da liberdade e da responsabilidade do aluno, que deve descobrir por si mesmo a verdade e com ela se comprometer, já que não há exercício da liberdade sem responsabilidade, sem compromisso. A coação e a massificação são inimigas da formação moral. A educação ética, portanto, consiste em provocar no aluno a inquietação por descobrir os valores objetivos aos quais deve acomodar sua conduta, além de uma ajuda para fortalecer sua vontade, de modo que possa responder livremente às exigências da verdade ou da própria dignidade pessoal, da própria natureza. O doutrinamento manipulador e a neutralidade como reducionismos A educação moral não tem nada a ver com a imposição externa de normas morais amparadas na coerção, inerente às relações de superioridade, que não respeitam a liberdade do educando para escolher por si mesmo. Não é também a introdução de um liberalismo absoluto que exclui qualquer princípio condutor da conduta fora do próprio arbítrio. O doutrinamento conduz ao fanatismo, e o liberalismo a falta solidariedade. O doutrinamento, ao ignorar a liberdade do homem – ainda mais da criança –, esquece que ninguém pode ser obrigado a amar ou a odiar, ou a se propor um determinado fim em sua conduta. No máximo, pode-se obrigar um homem a realizar 24 Solar Colégios


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um ato externo, mas sua dignidade se fundamenta precisamente em sua capacidade de decidir por si mesmo o sentido de sua ação, e para sentir como deveres morais os impulsos instintivos. Efetivamente, o animal não pode resistir ao impulso de se alimentar quando sente fome; o homem, no entanto, tanto pode resistir a esse impulso – por exemplo, quando deve seguir uma dieta por prescrição médica –, como considerar sua alimentação como um dever moral. Pelo contrário, um liberalismo absoluto deixaria o aluno desconcertado, nas mãos de seus instintos, sujeito ao que tiver vontade em cada momento, sem resposta às exigências da própria dignidade. Nessa perspectiva, a capacidade de escolher inerente à liberdade está limitada pela racionalidade, que impõe uma orientação teleológica ao exercício da liberdade. O homem é livre na medida em que é capaz de descobrir o bem e segui-lo, enquanto que desperdiça sua liberdade quando dá as costas à verdade, isto é, quando entende sua liberdade como capacidade de expansão ilimitada de sua própria subjetividade, prescindindo da dignidade da pessoa. Se a liberdade é o ponto de partida, a educação ética requer encontrar o modo de apresentar à criança os valores morais para que possa descobri-los por si mesmo, admirar-se diante deles, admiti-los e fazê-los vida própria livremente. No entanto, a criança não descobrirá os valores abstratamente, mas sim encarnados em seus pais, em seus professores ou em outras pessoas que estão ao seu lado como exemplos ou modelos vivos aos quais vale a pena imitar, que ofereçam motivos para serem da mesma forma, mais do que terem o que têm. A apresentação dos valores ou dos contra valores é inseparável na tarefa docente, pois não é possível uma educação neutra. Efetivamente, o professor oferece sempre a seus alunos um modelo de conduta, dependendo de como desenvolve a aula, do texto que escolhe, do modo de tratar a cada pessoa ou de realizar a avaliação. Queira ou não, oferecerá um exemplo de amor à verdade, de generosidade, de justiça, de alegria; ou, pelo contrário, apresentar-se-á como modelo de arbitrariedade, ou de cinismo, ou de ceticismo. Uma pretensa posição neutra do professor responderia a uma determinada filosofia de educação que postula um relativismo radical e que prescinde de valores absolutos, entendendo a liberdade pessoal como capacidade ilimitada de opção. Esse professor aumentará a perplexidade de seus alunos por não lhes apresentar pontos firmes de referência, certezas que lhes ajudem a descobrir e a seguir a verdade. Age de 25 Solar Colégios


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modo semelhante a pessoa que mande seguir uma estrada desconhecida da qual previamente foi retirada a sinalização mais elementar. De fato, não é possível uma educação ética mediante um simples doutrinamento, com mandatos que não ofereçam a razão da verdade. Tão pouco é possível educar eticamente, apresentando os valores morais como se fossem determinações relativas para cada situação histórica, ou como um conjunto de princípios indeterminados abandonados ao arbítrio caprichoso do próprio eu. Entendemos, portanto, a educação moral como educação da responsabilidade, da capacidade que o homem tem para se comprometer com a verdade. Nesse sentido, a educação moral nada mais é que a ajuda a cada aluno para que descubra por si mesmo o sentido dos valores e se decida a se comprometer com um projeto pessoal de vida. A natureza humana, fonte dos valores Educar em quais valores? Não podem ser outros a não ser aqueles que têm sua fonte e sua justificação na dignidade da pessoa, na sua natureza criada e redimida, e que permitem o auto desdobramento da personalidade do educando. Esses valores são chamados de virtudes, na tradição humanista do ocidente, ou seja, hábitos operativos que se adquirem pela repetição de atos e concedem ao homem a facilidade para o bem a que se refere a virtude. Por exemplo, dizer sempre a verdade, no caso da sinceridade, ou adquirir o conceito psicológico de pensar sempre nos outros, no caso da generosidade. Se a dignidade humana é a fonte que nos permite conhecer os valores, será necessário partir de um conhecimento correto sobre o conteúdo dessa dignidade radical da pessoa, que torne possível um acordo entre os educadores sobre os valores que devam ser cultivados no processo educativo. Mas esse acordo sobre a dignidade pessoal, um pressuposto da educação, não se alcança sem recorrer a uma instância transcendente, que lhe sirva de fundamento e apoio, porque, como mostra a experiência, sem um apoio transcendente, a dignidade da pessoa se submete ao arbítrio do mais forte, ou à mudança de critérios de cada momento histórico. Ou encontramos um fundamento objetivo, transcendente, ou nada impedirá que a pessoa se submeta ao mais forte ou ao mandato de uma maioria de opressores, ou que fique encerrada sobre si mesma ao decidir sobre o bem ou o mal em função de interesses meramente subjetivos. No entanto, considerar que o homem é uma criatura, de natureza racional e livre, chamado a ser feliz e a uma vida eterna após a morte, leva-nos à lei moral 26 Solar Colégios


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impressa em sua natureza, que o homem é capaz de conhecer e aceitar como princípio que rege sua conduta e como garantia de realização pessoal. A educação religiosa tem claras e importantes implicações na educação moral. Há conhecimentos, disposições, atitudes, sentimentos, motivos e intenções que são evocados e se desenvolvem muito bem através da educação religiosa e da prática de uma vida de fé. O homem conhece a lei moral através de sua consciência. O que lhe dita a consciência é resultado da reflexão pela qual a pessoa por si só pondera uma situação concreta à luz dos princípios morais. Por isso, a educação moral ajuda os alunos a responderem à seguinte pergunta: “Esta ação está de acordo com minha dignidade de pessoa?”. A educação moral se alcança, sobretudo, através das relações pessoais, nas quais o exemplo daquele que serve de modelo exerce uma influência sobre o educando que o leva a imitá-lo, a procurar fazer seus os valores e os ideais que contempla feitos vida no outro. Na família, a formação moral se adquire através do convívio cotidiano, mais com os atos do que com as palavras, com exemplos vivos de respeito e preocupação pelos demais, espírito de serviço, disciplina, limpeza, ordem, cuidado dos pequenos detalhes materiais, da sinceridade, em suma, de virtudes. O amor, a confiança e o agradecimento favorecem a formação da consciência e são condições básicas de um ambiente autenticamente educativo. A educação moral é um eixo transversal que diz respeito a todos os ensinamentos, como diz respeito à totalidade da pessoa. Não pode ser entendidos à margem dos demais aspectos da educação, como um adendo. Isto significa que não se trata de considerar a moral como uma área de aprendizagem que se acrescenta às demais, mas sim de tornar presente em cada uma das atividades escolares toda a riqueza do homem, que aplica as normas morais livremente assumidas às circunstâncias de cada situação. Assim, a educação na liberdade se realizará através de diversos momentos nos quais o aluno é colocado frente à sua responsabilidade de decidir em cada situação, de acordo com o ditame de sua consciência bem formada, aplicando pessoalmente os princípios gerais – os valores que assumiu – à situação concreta para decidir em consequência, buscando o bem. A formação moral, portanto, não é uma casuística externa, sob a forma de um receituário ou de um código detalhado de conduta que sufoca a personalidade, 27 Solar Colégios


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levando-a a um desequilíbrio interior, a um apoucamento pessoal. Uma boa educação moral, pelo contrário, é fonte de liberdade por sua permanente referência à verdade. Para que uma ação seja moralmente imputável deve ser livre, deve ser ocasião de compromisso pessoal, para a qual são necessárias a deliberação racional e a decisão livre. A educação consiste em ajudar a criança a desenvolver suas capacidades e a superar suas limitações. O primeiro desses aspectos – desenvolvimento de potencialidades – responde com mais propriedade ao conceito de educação. Entre refrear o mau e se esforçar pelo bom, é importante primar pela consecução do bem, que acaba trazendo consigo a superação do mal. A educação moral tem componentes cognitivos, volitivos e afetivos que devem ser desenvolvidos harmonicamente: ao mesmo tempo em que se vai adquirindo um sistema de ideias morais, aprende-se a aplicar as normas morais às circunstâncias de cada situação, por meio de um discurso racional e prudente. Para passar à ação correta, além da decisão, é necessária a orientação – segundo os ditames da razão – das tendências e paixões. É por isso que a formação da consciência consiste, primordialmente, em facilitar ao aluno o raciocínio moral que o leva à reta aplicação dos princípios e normas morais. Consiste também em fortalecer a vontade – respeitando a liberdade pessoal –, para que seja capaz de seguir o ditame da consciência, ordenando a influência da afetividade. Centrar-se em um desses aspectos apenas significaria um reducionismo: intelectualismo ético ou voluntarismo sentimental. Formação do entendimento Já se advertiu que a educação moral na liberdade não pode ser entendida como relativismo moral, mas que é necessário apresentar ao aluno os princípios morais como reflexo da verdade objetiva, que se pode conhecer e que se fundamenta na dignidade natural da pessoa humana e não no consenso ou na determinação relativa de um momento histórico. Não cabe também uma atitude aparentemente neutra, já que, pela palavra e pela conduta, sempre se parte de alguns princípios e se apresentam alguns conteúdos morais determinados, corretos ou não. A diferença entre doutrinar e formar a consciência, em muitos casos, não está tanto no que se ensina, mas em como se ensina. O importante é respeitar os alunos, ajudando-os a assimilar e personalizar os valores que lhes são apresentados, os critérios de vida e as virtudes que são promovidos através de um processo educativo que fomente um saudável espírito crítico.

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Deve-se alcançar um clima no qual os alunos exponham e defendam sua própria argumentação, e o professor escute com atenção e respeito as suas reflexões, procurando oferecer-lhes os pontos de apoio indispensáveis para que encontrem por si mesmos uma sólida fundamentação racional. Ensinar a pensar, a desenvolver o próprio critério, facilita enormemente o desenvolvimento moral da criança que recebe os valores através do juízo da razão, integrando-os na unidade da pessoa. A moralidade tem muito a ver com a dimensão racional do homem: o que é moral é sempre o mais razoável, o que melhor se ajusta à realidade das coisas. A educação da consciência é, ao mesmo tempo, educação para a reflexão, para o sentido crítico, que busca a visão objetiva. Fortalecimento da vontade Pensar é requisito indispensável, mas não suficiente, para uma atuação moral correta. É necessário ajudar os alunos a fortalecer a vontade e a adquirir virtudes humanas. A educação moral objetiva também a ordenação dos processos instintivos, favorecendo uma disposição generosa para o bem que, em certas ocasiões, exige sacrifício e renúncia para superar o próprio egoísmo. A aquisição de hábitos morais fortalece a autoestima do estudante e sua segurança pessoal, facilitando o alcance das metas a que aspira. Pelo princípio de harmonia das virtudes, quando melhora alguma dessas qualidades, aperfeiçoam-se ao mesmo tempo todas as demais, porque todas residem na unidade da pessoa. Por isso é interessante apoiar-se nas qualidades do aluno, reforçando seus pontos fortes pessoais, sem recorrer nunca a comparações com os demais, nem estimular atitudes de competição com os outros. Não se pode esquecer, ainda, que uma das motivações fundamentais da pessoa é a participação na atividade, em um clima de comunicação cordial. É comum agrupar as virtudes morais em dois campos: o individual e o social. No primeiro, estariam integradas a sinceridade (naturalidade, simplicidade, aceitação da própria identidade), a honra (retidão, honestidade, boa vontade), a responsabilidade (sentido do dever, capacidade de cumprir os compromissos adquiridos), a humildade (autenticidade, coerência), a vigor (fortaleza, constância, paciência, serenidade, magnanimidade), a laboriosidade (intensidade no trabalho, aproveitamento do tempo, acabar bem o que se começa), temperança (sobriedade, austeridade, pudor, desprendimento), alegria (otimismo, bom humor), ordem e espírito esportivo. Todas essas virtudes, como tal, referem-se ao outro. Caso contrário, não seriam virtudes, mas um mero aperfeiçoamento egoísta.

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Entre as virtudes que implicam alteridade, poderiam ser apontadas: a piedade, o respeito (às convicções, aos bens, à fama), a sociabilidade (diálogo, veracidade, sinceridade), a solidariedade (espírito de serviço na vida familiar, escolar, profissional e social, generosidade, agradecimento, cooperação ao bem comum), a justiça, a caridade (delicadeza no trato, amabilidade, companheirismo, amizade, lealdade e fidelidade), cidadania (respeito e cumprimento dos deveres cívicos, sujeição à lei justa e à autoridade). Formação da afetividade Junto ao cultivo da inteligência e da vontade, é necessário também atender ao desenvolvimento da afetividade. Os sentimentos contam na formação moral porque influem significativamente na formação das atitudes e motivações. Ter “bons sentimentos” facilita uma firme vontade para o bem. As vivências e valores que se apóiam no sentimento e na afetividade enraízam fortemente na consciência. O “impulso” ou “tendência” é uma força ou inclinação que brota no interior do homem e expressa anseios, necessidades ou capacidades humanas. Não somos donos de nossas tendências e sentimentos, mas podemos educá-los: contar com eles, expôlos quando seja conveniente, para que ajudem a vontade a tender para o bem. Em suma, o objetivo da educação moral é precisamente o de integrar a razão, a vontade e o sentimento, a cada ato da pessoa. Isto significa alimentar a inteligência com o conhecimento dos princípios morais e ensinar a refletir para que seja tomada a decisão mais apropriada possível a cada situação. Significa ainda examinar depois se a ação decidida está de acordo com o fim que foi buscado. Por outra parte, para fortalecer a vontade é preciso proporcionar ao educando, de acordo com seu grau de maturidade, ocasiões para agir livremente de acordo com os fins de que se apropriou, ou seja, facilitar ao aluno oportunidades de exercício. Assim, para educar na virtude da solidariedade, oferecer-lhe ocasiões que lhe permitam sair de si mesmo para ajudar aos demais, realizando obras de serviço, e colocá-lo em contato com a dor e a doença do outro. A educação moral no Ensino Fundamental Por volta dos seis anos acontece o despertar da razão e com ela o da consciência moral. A criança começa a ter noção dos valores, mas predominam os componentes racionais e mecânicos (a regra conhecida e repetida muitas vezes). Nessa idade, a criança tem um grande interesse pelas regras que aplicam e interpretam exageradamente. Não convém ironizar nem ridicularizar esses extremismos da criança, pois fazem parte de uma fase da evolução de sua consciência. 30 Solar Colégios


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Tudo o que surge por primeira vez na consciência fica marcado e depois vai sendo configurado. Ridicularizar, sem mais nem menos, os exageros da criança na aplicação das normas morais pode prejudicar a formação de sua consciência. Por volta dos oito ou nove anos, dá-se um grande desenvolvimento do sentido moral. É a idade da diferenciação. A criança começa a considerar e analisar os motivos e as consequências das ações, e a consciência moral torna-se mais coerente. O raciocínio do estudante dessa idade depende em grande parte daquilo que possa observar e perceber, reduzindo-se à compreensão de ideias concretas e ligadas à realidade que vive. Também se desenvolve a capacidade de considerar várias alternativas para resolver um problema e a capacidade de se colocar a partir do ponto de vista do companheiro. Esse período constitui a etapa de maior desenvolvimento do critério moral, pelo progresso cognitivo, pelo crescente poder de interiorização e pelo grande número de oportunidades de participação e desempenho de papeis novos em todos os ambientes onde a criança se desenvolve. Seus sentimentos morais tornam-se independentes dos sentimentos morais dos pais. A vida moral vai se relacionando com os preceitos divinos. O desenvolvimento intelectual alcançado lhe facilita a realização de seus próprios juízos morais. O pensar analítico facilita diferenciar o bem do mal e contribui para maior valorização moral tanto da própria conduta como da alheia. A atitude crítica a que antes se fazia referência vai refletindo-se na tomada de postura ante os mandatos e proibições dos pais e professores, o que leva a criança a observar a conduta dos que a rodeiam e a regular sua vida de acordo com o que observa. Provém daí a força moral do que veem, especialmente na vida familiar e escolar. A norma de comportamento é descoberta como algo que tem valor em si mesmo, não somente como imposta pelos adultos. Isso proporciona maior consistência à conduta. A disposição psicológica dessa etapa é ótima para receber retamente os critérios morais (clareza mental, objetividade, maior interiorização, equilíbrio psicossomático, confiança, etc.). Formam-se os ideais infantis com seus “heróis”. Os meninos se sentem atraídos pelas aventuras, por quem é valente e excepcional; as meninas, pelo que é romântico e pelos grandes ideais. Nessa idade (maturidade da infância, antes da puberdade),

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quando ainda não se dão os problemas típicos da adolescência, pode-se avançar muito no desenvolvimento sistemático de aptidões e virtudes. Nessa etapa se forma a consciência de si mesmo diferenciada y se configura a personalidade tipicamente masculina ou feminina. O menino adota papeis de identificação com um dos pais, o de seu próprio sexo. Os interesses se vão centrando mais no mundo de seus companheiros que no dos adultos. Quando são menores não distinguem entre igualdade e justiça. Compreendem o que é justo, em parte, através das regras das brincadeiras e da obediência a seus pais. Também percebem o que é “injusto” pela sensação de revolta que as situações injustas lhes provocam. Por volta dos 10 ou 11 anos, as crianças começam a dar-se conta de que ser justo não tem razão de ser em se dar ou tratar a todos do mesmo modo. É importante apoiar esse descobrimento, ajudando-as a considerar as distintas idades e necessidades de seus irmãos ou companheiros. Com o uso da razão, compreendem o valor moral da verdade e são capazes de se esforçar por vivê-la, embora às vezes custe, mostrando com suas palavras e ações o que são interiormente. O amor à verdade é vivido então como consequência da justiça. Está muito relacionado com a confiança e com o exercício da autoridade dos pais. As crianças costumam perceber facilmente quando são enganadas e captam rapidamente a qualidade da sinceridade de seus educadores. Nesse campo, uma vez mais, o exemplo dos pais e professores tem um papel fundamental e tanto podem aprender a amar a verdade como a ser excelentes mentirosos. Importa-lhes muito o que os outros pensam deles. Surge o sentimento da vergonha ao se saber julgado por outro e, mais tarde, o medo ao ridículo ou à crítica. É o momento de ensinar a superar esse medo, para ser capaz de tomar decisões morais baseadas na verdade, embora não “fique bem”. A formação moral deve estar impregnada de sentido positivo, evitando-se um tom de ameaça que impede que o ensino moral seja assimilado, ou que seja colocado como uma questão relativa à puberdade. Além disso, o sentido positivo evita os escrúpulos. O ensino moral deve ser administrado e fundamentado convenientemente. A melhor fundamentação – pela própria natureza humana – é a religiosa, procurando, além disso, não abandonar as razões humanas e de convivência. Em seu lar e no 32 Solar Colégios


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colégio, é imprescindível o ambiente de disciplina, carinho e segurança emocional para que se vá permeando a formação. Objetivos: 1) Conseguir na família, no colégio e na sala um clima moral baseado na responsabilidade, na sinceridade, na justiça e na preocupação pelos outros. 2) Apoiar o crescimento da criança como agente moral: que aprende, pensa, sente, decide e age. 3) Promover o desenvolvimento de relações de cooperação, ajuda e respeito mútuo, frente a um excessivo individualismo e egocentrismo. Trata-se de estimular em cada criança:                

O sentido de autorrespeito e de respeito aos demais. A conduta cooperativa com seus irmãos e companheiros. A capacidade de se colocar no lugar do outro. O raciocínio moral (os juízos morais). A amabilidade. O amor à verdade e à sinceridade. A responsabilidade, evitando a competitividade egoísta. O companheirismo e a amizade. O sentido da justiça e da generosidade. O hábito de tomar decisões que suponham levar à prática seus raciocínios ou sentimentos morais. O vigor e a sobriedade. A atitude de participar e de compartilhar responsabilidades na família, na sala e com seus amigos. O hábito de cumprir seus deveres cívicos e cooperar na vida social. Ter consciência de que é fácil dizer o que é correto, mas costuma ser custoso colocá-lo em prática. O hábito do diálogo. O ter razões para sua própria conduta.

Meios:   

O desenvolvimento comum dos ensinamentos. Estimular a reflexão moral nas conversas pessoais com o preceptor. Programa de educação em valores. É conveniente que inclua: 33 Solar Colégios


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 Aquisição de alguns conceitos morais básicos que respondam a suas inquietudes e questionamentos, de acordo com sua capacidade.  Comentários razoáveis com os alunos sobre as regras morais (objetivo semanal de formação) que lhes são propostas e suas concretizações em poucas e pequenas normas (ações incidentais), as quais os alunos se sintam estimulados a viver diariamente.  Dramatizações (role-playing) nas quais a criança viva o papel do outro.  Deliberações e juízos morais sobre exemplos da literatura infantil ou da vida real (pequenos casos).  Participação dos alunos no planejamento e na avaliação das atividades de ajuda a companheiros, trabalho cooperativo, serviço social e obras de misericórdia. Junto a algumas atividades de solidariedade com os mais necessitados (campanhas de Natal, algumas coletas, etc.), devemos promover tudo o que requer serviço na família e com os próprios companheiros, compreensão e ajuda de uns com os outros. Se queremos que depois estejam em condições de ser solidários com atitudes de serviço, temos de acostumá-los primeiro a que descubram as necessidade dos que estão ao seu lado e se entusiasmem por remediá-las.  O Conselho de turma (a partir do 5º ano).  Encargos da sala.  Criação de modelos através da literatura e do cinema infantil. Nas atividades de diálogo e reflexão sobre livros ou filmes, não se trata de apresentar somente o bom, mas também refletir sobre o que não está bem, de maneira que, eles mesmos entendam e raciocinem porque é bom ou mau, sem interromper continuamente as narrações com considerações moralizantes, normalmente pouco eficazes. Os livros devem ser interessantes, ricos em acontecimentos e que apresentem sentimentos e juízos acessíveis às crianças, procurando que o interesse da ação se incline para o bom e o justo, para a escolha do melhor. Nessa etapa, os alunos costumam gostar de biografias simples, de histórias, de narrações. As histórias românticas não costumam agradar aos meninos. É conveniente fazer bons guias de trabalho para o “plano básico de leitura”, de modo que se tire muito proveito dos três ou quatro livros escolhidos que devem ser lidos e trabalhados com profundidade. Da mesma forma se pode proceder com os filmes, selecionando os que têm mais conteúdo formativo e interesse para essas idades. Podem ser assistidos e

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comentados em família, com um roteiro elaborado por um professor, que tenha relação com o plano de formação dos alunos da turma.

C. EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO, ATRAVÉS DO TRABALHO Para que haja autêntica educação de qualidade é indispensável conseguir que os alunos trabalhem e se esforcem por aprender. Um bom professor consegue motivar os alunos para o estudo, ensina-os a trabalhar e os ajuda a se esforçar. O esforço pessoal racional e ordenado é por si mesmo educativo e é o melhor índice de maturidade e de grau de responsabilidade dos alunos. O trabalho é um dom de Deus através do qual o homem se realiza, ganha o próprio sustento e o de sua família, participa na obra criadora de Deus e contribui para o bem comum e para o progresso da humanidade. O trabalho é, portanto, um direito fundamental do homem e um dever moral de primeira instância. Para que o trabalho sirva como meio de educação deve priorizar a pessoa, não o resultado objetivo desse trabalho. Do ponto de vista educativo, é um requisito rico em consequências: deve-se dar atenção ao aluno que trabalha e ao esforço que realiza, assim como ao nível objetivo alcançado (que será fruto desse esforço por trabalhar bem), sem que isto signifique não lhe dar a importância que tem; por outra parte, para que um trabalho seja educativo, devem-se colocar em jogo as faculdades pessoais, isto é, deve ser livre e consciente, realizado intencionalmente, assumindo a responsabilidade da própria tarefa. Consequentemente, é preciso oferecer aos alunos as razões de seu trabalho, sem reduzir o horizonte das tarefas escolares ao cumprimento de uma obrigação penosa que não teria alternativa a não ser realizá-la, até que chegue o tempo de férias. Nesse sentido, educar é despertar e fomentar nos alunos a satisfação pelo trabalho bem feito, desenvolver sua capacidade e seus desejos de trabalhar bem, já que somente o trabalho os conduzirá a uma maior felicidade. A falta de esforço não somente conduz a um rendimento escolar insatisfatório, mas impossibilita também a preparação para a futura vida profissional, ou seja, um estudante que habitualmente não se esforça corre o risco de fracassar em seus estudos e de não se preparar para a vida. Por isso, é um desrespeito ao aluno evitarlhe o esforço, fazendo por ele um trabalho que pode contribuir para sua formação. Se for essa a ação, seu progresso humano fica limitado e suas naturais aspirações educativas são empobrecidas. É conveniente motivá-lo para que trabalhe bem, mas

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sem esquecer que é necessário o esforço, de modo que enraízem hábitos e virtudes que possam facilitá-lo. Nesse sentido, o dirigismo ou super protecionismo (tão opostos a uma educação em liberdade) ocasionam um grave prejuízo na formação da vontade, de virtudes tão importantes como a fortaleza, o vigor, a laboriosidade ou a constância. O educador não é um repetidor de lições nem um simples transmissor de conhecimentos. Seu trabalho é muito mais rico: orienta e estimula os alunos, dispondo-os para o esforço que o estudo exige, para que trabalhem com alegria. O professor deve considerar esta tarefa como um objetivo fundamental de seu trabalho. O bom exemplo dos professores deve estar sempre presente na vida colegial, assim como o empenho em utilizar, sempre que for possível, estímulos positivos para conseguir o esforço diário dos alunos e conseguir o enraizamento dos hábitos do trabalho e da fortaleza que ajudam a superar os desânimos e a natural preguiça, causas importantes do abandono e do fracasso escolar. Para conseguir a atenção dos alunos e o esforço subsequente, são tão importantes os conteúdos objetivamente considerados como o modo de transmiti-los. Por isso é necessário que o professor não somente conheça bem a matéria, mas que faça atrativas e variadas as aulas, provocando a participação ativa dos alunos. Tudo num ambiente de ordem e tranquilidade que os estudantes necessitam para fazer seu trabalho, o que não é contrário à variedade de aulas, à sua participação ativa, à alegria, ao bom humor e à confiança entre os alunos e o professor. Além de uma preparação adequada, determinando os objetivos que se pretendem alcançar e ponderando o esforço que se pode pedir a cada aluno, é necessário que o professor distribua racionalmente a carga de trabalho que vai exigir. Sem um bom planejamento das tarefas escolares, que dose adequadamente o esforço, não se favorece o hábito da laboriosidade. Se houver, porém, um bom planejamento do trabalho individual, dentro e fora da classe, acompanhado por um seguimento continuado e pessoal (avaliação formativa e contínua), o trabalho diário do aluno será favorecido. Somente o trabalho bem feito educa, pois incide diretamente na melhora pessoal do aluno. Por isso, é muito importante exigir habitualmente um trabalho bem feito, correto em seu conteúdo e bem cuidado em sua apresentação. Não basta qualificar como insuficiente um trabalho mal apresentado; convém fazer que o estudante corrija as deficiências com cuidado até que esteja bem feito, com a intervenção educativa que for necessária.

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Por último, para que um aluno possa realizar com qualidade seu trabalho, além de suficiente capacidade e dedicação, necessita também conhecer o modo de realizálo. Os alunos fazem render melhor o tempo e o esforço pessoal quando conhecem e empregam adequadamente as técnicas de trabalho intelectual que cada professor deve ensinar-lhes como um aspecto fundamental do desenvolvimento de sua matéria. Resumindo, o trabalho é um meio educativo por excelência, sem o qual não é possível conseguir a formação da personalidade, nem o enraizamento dos valores humanos. O colégio é antes de tudo lugar de trabalho, onde os alunos devem aprender a fazer render seu tempo e esforço. Para consegui-lo, é indispensável que os professores preparem muito bem suas aulas, ensinem a trabalhar e façam seus alunos trabalhar com perfeição, da mesma forma que se esforçam por ser exemplo de trabalho bem feito.

D. EDUCAÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA E PARA OS VALORES SOCIAIS Educação social e cívica Boa parte deste tema transversal é assumida pela "educação moral", tal e como foi aqui apresentado. De modo mais específico, trabalham-se a atitude de serviço aos demais através dos encargos e a compreensão de algumas normas elementares de comportamento social. Os encargos são pequenas parcelas de responsabilidade cotidiana que a criança realiza colaborando com os demais companheiros da turma no bom funcionamento de sua sala. É interessante motivar as crianças, tornando-as conscientes de que graças a seu esforço tudo funcionará muito bem. Os encargos ou pequenas responsabilidades de sala fomentam a preocupação pelos outros, o espírito de serviço e o sentido da cooperação através da consciência de ser útil para os demais e do reconhecimento do trabalho realizado por seus companheiros/as. Também serão trabalhadas ao longo de toda etapa as normas de comportamento social mais comuns, expondo seu sentido de respeito e consideração para com os demais. Educação para o trânsito A Educação para o trânsito deve dotar os alunos e alunas dos conhecimentos e experiências necessários sobre sinais de trânsito, vias de comunicação, possibilidades físicas para atravessar uma rua ou utilizar um meio de locomoção, causas que 37 Solar Colégios


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provocam os acidentes, etc. Deve conseguir também que as crianças tomem consciência de sua responsabilidade social para a melhoria das condições de circulação a fim de evitar possíveis acidentes. Procurará criar hábitos de comportamento nos estudantes, tão necessários no mundo e na sociedade em que devem desenvolver-se. Na área de Conhecimento do Meio, estabelecem-se conhecimentos sobre os elementos e sinais de trânsito, além de se estimular outros referentes à conduta que permitam a aquisição de hábitos determinados para se desenvolver em situações concretas. Busca-se ainda o conhecimento das redes e infraestruturas de transporte, fazendo a criança participar das pautas de atuação no uso de qualquer dos meios de transporte, privados ou coletivos. Também está relacionada à educação do trânsito a educação da cidadania: comportamento como usuários das vias públicas e dos transportes coletivos, responsabilidades como pedestres e motoristas, etc.

E. EDUCAÇÃO PARA A SOLIDARIEDADE, O DIÁLOGO, A PAZ E A NÃO DISCRIMINAÇÃO Solidariedade e cooperação O autêntico desenvolvimento pessoal e moral deve ser buscado dentro da sociedade em que se vive. A educação da solidariedade e, em geral, a formação das virtudes sociais e dos bons sentimentos e atitudes para com os outros (compreensão, aceitação, generosidade, colaboração, compaixão, solidariedade, justiça...) devem iniciar-se nos ambientes sociais mais próximos à criança: a família e o colégio. A ação que gera hábitos é o principal critério educativo na formação social. Qualquer projeto educativo coerente deve procurar que os alunos prestem realmente serviços a outras pessoas, e não apenas que se façam especulações sobre as necessidades sociais. Convém insistir na importância da formação de hábitos de interesse pelos outros e de obras de serviço na vida diária, no seio familiar e do colégio, com seus irmãos e colegas, conscientizando cada aluno da importância de descobrir as necessidades dos mais próximos (pais, irmãos, colegas, amigos...). Insistir também na importância da solidariedade e da generosidade: pequenas renúncias em favor dos mais necessitados (algum brinquedo, etc.). Educação para o diálogo O ser humano foi criado para se relacionar com os demais homens, com o mundo e com Deus. Essa capacidade de abertura se manifesta de modo especial na 38 Solar Colégios


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capacidade de diálogo e de encontro pessoal. É importante cultivar a capacidade de diálogo dos alunos, junto às capacidades de compreensão e respeito. Quem está aberto ao diálogo, à relação interpessoal sincera, distancia-se do individualismo egoísta ou do coletivismo despersonalizado. Educar para o diálogo também é, de certo modo, educar para o amor que acontece no encontro interpessoal. Em todas as matérias se procurará incentivar a atitude de diálogo entre os alunos e o professor, principalmente com o trabalho em pequenos grupos e outras técnicas participativas. As entrevistas pessoais com o preceptor são também uma ocasião propícia para este fim. Educação para a paz A educação para a paz é proposta como uma educação a favor de um conjunto de virtudes como a justiça, a cooperação ou a solidariedade. É necessário tomar como ponto de partida a ideia de que daremos paz se a tivermos, e a teremos se cada um se esforçar por afastar de si o egoísmo. Adquire especial importância a atitude do professor em sua tarefa docente: coerência entre suas ideias e suas ações, comportamentos, metodologia, etc. Por outro lado, a particular situação do mundo atual, repleto de conflitos sociais, políticos, econômicos e étnicos, confere um extraordinário interesse à educação para a paz. Nossa proposta se fundamenta em trabalhar, a partir de todas as áreas, procedimentos que favoreçam a cooperação, a solidariedade, a compreensão, o diálogo, a solução pacífica dos conflitos e o respeito às opiniões e às diferenças alheias. No que se refere à educação não sexista ou que promova a igualdade de oportunidades para ambos os sexos, se procurará:     

Evitar a utilização de uma linguagem sexista. Valorizar positivamente as características próprias da personalidade masculina e feminina. Incentivar o gosto, tanto dos meninos como das meninas, pelas tarefas domésticas. Evitar qualquer atitude de uma aplicação mais permissiva da moral aos alunos de um sexo que aos de outro. Os protagonistas das atividades de aprendizagem serão tanto as meninas como os meninos.

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F. EDUCAÇÃO AMBIENTAL De forma gradual e por meio de um conhecimento ativo do ambiente, os alunos e alunas se envolvem na conservação e respeito do meio, formando-se uma mentalidade de responsabilidade na preservação dos recursos naturais disponíveis, de acordo com suas possibilidades. Pretendemos conseguir a aquisição de hábitos e atitudes de ação individual e coletiva em seu ambiente mais próximo. Os professores devem aproveitar também este tema transversal para despertar nos alunos o agradecimento a Deus pela obra da Criação. Este eixo transversal é tratado como resposta urgente aos graves problemas ambientais que nosso mundo tem enfrentado. A solução consiste em criar e desenvolver uma consciência de conservação do meio ambiental. Serão trabalhados com especial intensidade os conteúdos de procedimentos e atitudes, sem esquecer os conceitos que estão reunidos nas diferentes áreas e, mais concretamente, nas de “Conhecimento do Meio”, “Educação Física” e “Educação Artística”. A esse respeito, fazemos nossos os objetivos da Educação Ambiental propostos pelos PCNs:   

 

Ajudar os alunos e alunas a adquirir uma consciência do meio ambiente global e ajudá-los a se sensibilizar por essas questões. Ajudar os alunos e alunas a adquirir uma diversidade de experiências e uma compreensão fundamental do meio e dos problemas inclusos. Ajudar os alunos e alunas a compreender os valores do meio ambiente e a ter interesse e preocupação por eles, motivando-os de tal modo que possam participar ativamente na sua melhoria e proteção. Ajudar os alunos e alunas a adquirir as atitudes necessárias para determinar e resolver os problemas ambientais. Proporcionar aos alunos e alunas a possibilidade de participar ativamente nas tarefas que têm por objetivo resolver os problemas ambientais.

Como atividades concretas, propomos: 

Passeios de aprendizagem pelo entorno natural e saídas da sala (para a sala da natureza, para o jardim, para o reservatório, praça, rua, etc.), fazendo que os alunos vejam as coisas que sujam e contaminam a água, o ar, a terra; observando os cestos de lixo e fazendo uso deles; compreendendo a utilidade das plantas, das árvores, das zonas verdes, etc. Na sala, fomentando que parte da decoração seja de pequenos animais, como algum pássaro, e de plantas de interior, cuidadas pelas crianças.

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 

Mantendo sempre um ambiente ordenado e limpo, recolhendo o material depois de cada atividade. Saídas de observação, visitas culturais e convivências de pesquisa no meio. Incluir no programa de ações incidentais alguns pequenos hábitos, como fechar as torneiras depois de utilizá-las, apagar as luzes, etc.

G. EDUCAÇÃO PARA O AMOR (AFETIVA E SEXUAL) Atualmente, o termo educação sexual é muito utilizado. No entanto, seria mais adequado falar de Educação para o Amor ou de Educação da Afetividade, pois envolve tanto a informação sexual (o que cada pessoa deve saber sobre a sexualidade, de acordo com sua idade e circunstâncias) quanto a formação da vontade, o amadurecimento dos sentimentos, passando pelo conhecimento próprio e formação da autoestima. A expressão educação da afetividade parece refletir melhor a ideia de educação integral da pessoa. A sexualidade é vivida de modo propriamente humano quando, além de conhecida e assumida, integra-se em um projeto global de vida, digno de uma pessoa humana. Pelos estreitos vínculos que há entre a dimensão sexual da pessoa e seus valores morais, este aspecto da educação deve levar os filhos e alunos a conhecer e estimar as normas morais, como garantia necessária para um crescimento pessoal harmônico e responsável no campo afetivo. A Educação da Afetividade busca desenvolver uma consciência reta dos fenômenos sexuais vinculados à maturidade da vida humana, à ideia do amor verdadeiro, à ideia da família, da geração, tudo isso dentro do plano ordenado para o fim último e transcendente do homem. Esta educação deve ajudar a criar uma consciência esclarecida, fortalecendo a ideia de que, quando o homem se deixa levar por seus impulsos, estes o tiranizam e degradam. No passado, a informação sexual, tanto na família como no colégio, era considerada como um tabu; agora, em muitos casos, tal informação caiu no extremo contrário, e igualmente errado: viu-se massificada, desligada da educação integral, reduzida a uma simples instrução e desvinculada da formação ética-moral. A informação sexual só tem valor educativo e formativo, se estiver acompanhada dos aspectos morais, sociais e espirituais presentes em qualquer outro aspecto da educação da pessoa, considerada em sua integridade e unidade. Dessa 41 Solar Colégios


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forma, conscientes da dignidade da pessoa, dotada de inteligência e de vontade, faz-se necessária a educação da afetividade, ou seja, uma educação para o amor. Na situação sociocultural de hoje em dia urge proporcionar às crianças, adolescentes e jovens uma educação para o amor, afetiva e sexual, que atenda a uma concepção do homem unitária e completa, veraz, positiva, íntegra e gradual. O silêncio nessa matéria, por parte dos educadores (pais e professores), resulta antipedagógico, sobretudo quando o sexo está presente na rua e no lar através dos meios de comunicação. Assim, a Educação da Afetividade permitirá aos alunos adquirir a dimensão autêntica do amor e do sexo, ressaltando o imenso valor que tem a possibilidade da doação pessoal, estimulando o autorrespeito bem como o respeito ao outro e, por fim, ajudando no desenvolvimento de uma personalidade equilibrada e firme. Para que os objetivos da Educação da Afetividade sejam alcançados, é necessário que a formação neste campo se realize gradualmente, adequando-se às idades, circunstâncias e singularidades dos alunos, levando em consideração o que cada idade necessita e é capaz de assimilar adequadamente. Os mediadores na Educação da Afetividade: pais e professores A família é o lugar apropriado para a educação da efetividade. Aos pais corresponde este dever e direito. Os pais devem proporcionar a seus filhos uma verdadeira formação sobre a vida, a família, o amor e o sexo. Isto requer que os pais se preparem, caso não o estejam fazendo, para poder orientar bem a seus filhos. É neste aspecto que reside a principal ajuda que o centro educativo pode oferecer aos pais. O colégio tem uma tarefa subsidiária: estimula, ajuda e coopera com os pais, situando-se no mesmo espírito que os anima. A amizade entre pais e filhos – sustentada pelo carinho, manifestado em ações concretas –, o ambiente amável que se vive no lar, a unidade familiar, as virtudes que os filhos observam em seus pais, os conselhos e conversas oportunas, etc., são aspectos de fundamental importância para que os filhos interiorizem a educação da afetividade. Esse clima favorecerá que os filhos procurem confiadamente seus pais em busca de explicações ou esclarecimentos, quando surjam dúvidas ou inquietações sobre o tema do sexo, ou sobre qualquer outro tema importante para suas vidas. Deste modo, os pais terão a oportunidade de formar corretamente seus filhos na dimensão sexual de suas vidas e se colocarão meios eficazes para prevenir o risco de que adquiram uma visão errônea ou incompleta da sexualidade, resultado geralmente

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de uma informação enviesada, tardia ou incompleta que possam receber em outros ambientes. A formação dos hábitos adequados, especialmente os relativos ao modo de vida e ao desenvolvimento da formação pessoal, facilitarão o ordenamento da tendência sexual de acordo com a dignidade da pessoa considerada em sua totalidade. A melhor educação para o bom exercício da sexualidade é a que dão os pais formando a consciência dos filhos, para que se respeitem a si mesmos, respeitem aos demais e se façam respeitar pelos outros, para que se esforcem com alegria por ideais nobres. O centro educativo pode e deve colaborar com os pais nesta tarefa através dos meios pedagógicos que tem à sua disposição: desenvolver de modo positivo, delicado e oportuno, através do ensino regular, os temas relativos à sexualidade; proporcionar ocasiões na vida do colégio que promovam o desenvolvimento de hábitos e atitudes que complementem o amadurecimento afetivo de cada aluno ou aluna; e assessorar os pais dos alunos com os meios de que necessitem – argumentos, modos de dizer, orientações, etc. – para que realizem uma informação sexual personalizada com cada um de seus filhos ou filhas. A informação sexual na escola deve assegurar uma aprendizagem correta dos conceitos que configuram a conduta sexual e suas finalidades com os métodos didáticos mais adequados para cada etapa. Parece coerente, por exemplo, expor sempre os temas relacionados à informação sexual com referência ao matrimônio e à família. No centro escolar, é preciso ter um especial cuidado nos programas e no material didático que se emprega, ao dar aulas sobre temas relacionados com a sexualidade humana, pois um material educativo com caráter excessivamente naturalista, em que as manifestações sexuais estivessem divorciadas dos conteúdos éticos e morais, poderia produzir grave dano na apreensão do conceito de sexualidade que se vai propor aos estudantes, e dificultaria neles o desenvolvimento da virtude do pudor, que, retamente entendido, significa e manifesta o respeito à dignidade do corpo humano. A importante tarefa de colaborar com os pais na educação da afetividade, que inclui uma esclarecida informação sexual, requer dos professores uma esmerada preparação e algumas qualidades específicas, entre as quais vale a pena destacar: a) Maturidade afetiva do educador: personalidade madura, equilíbrio psíquico, visão exata e completa do significado e valor da sexualidade, coerência de vida. Somente quem integrou corretamente a própria sexualidade em sua vida está em condições de educar neste aspecto.

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b) Suficiente preparação psicopedagógica e profissional: o educador deve ter uma concepção positiva e construtiva da vida; profunda formação ética e moral; preparação didática séria que permita captar situações que requeiram uma atenção especial; capacidade para comunicar aos pais os aspectos positivos e negativos do processo educativo de seus filhos. c) Sentido de responsabilidade: cada educador deve ter presente que a educação e a formação dos alunos requerem sua total dedicação e responsabilidade profissional, sendo muito consciente de que a tarefa que está realizando tem um papel complementário da família. Os meios de comunicação social É evidente que os meios de comunicação, em especial o cinema e a televisão, exercem grande influência, na maioria das vezes desfavorável, em tudo o que se refere à informação sexual e à educação para o amor. Também é grande a influência e o poder atrativo da televisão sobre os espectadores, especialmente se são menores, pois afeta, de modo especial, à formação de estilos de vida. Diante dessa realidade, os pais necessitam defender a saúde moral de seus filhos, evitando os programas nocivos (por seu conteúdo ou pelo modo como se trata), formando seus filhos para que façam um uso sensato e moderado da televisão, ensinando-os a selecionar os programas, compartilhando com eles afinidades que unam a família e permitam o diálogo, compartilhando também alguns programas televisivos que permitam iniciar diálogos familiares sobre temas de interesse e formar o senso crítico, etc. Seria muito negativo que na família e no centro educativo fosse gerado um ambiente em que se considerem “normais” situações claramente contrárias à dignidade da pessoa humana e à sua condição de filho de Deus. Deve-se procurar formar cultural e moralmente os estudantes, colocar os meios necessários para que os filhos adquiram critérios e uma consciência reta, apresentar aos jovens modelos autênticos que facilitem positivamente o bom desenvolvimento de suas personalidades. Resumindo, podemos falar de algumas condições para uma educação da afetividade adequada: - Informação sexual veraz, clara e completa É fundamental que a informação sexual se realize com veracidade, naturalidade, precisão e delicadeza, sem reduzi-la à exposição dos mecanismos biológicos. Aos filhos se deveria falar de tal forma que, ao mesmo tempo em

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que sejam orientadas suas curiosidades e tendências, fossem ensinados e ajudados a assimilar a informação recebida e a orientar seus comportamentos. - Informação sexual oportuna Os pais devem aproveitar as ocasiões mais favoráveis para dar informações sexuais aos filhos. Essas ocasiões se apresentam comumente quando o menino ou a menina perguntam sobre o tema, ou em determinados momentos do desenvolvimento, em torno dos sete anos ou ao chegar à puberdade. Uma oportunidade que convém aproveitar ocorre quando a mãe ou alguma pessoa conhecida está grávida. Também deve ser gradual, adaptada à maturidade física e psicológica da criança ou jovem, à sua idade, capacidade de assimilação, sexo e ambiente em que se desenvolve. - Informação sexual pessoal A informação sexual que se dá aos filhos deve estar integrada no contexto do amor humano e da família, o que requer que tal informação seja oferecida pessoalmente a cada filho, pois cada um deles entende as coisas melhor desde sua própria e única forma de ser. - Informação sexual com sentido positivo, mesmo nas circunstâncias sociais da atualidade Deve estar mais orientada para os valores e para o amor do que para denunciar riscos e perigos. No entanto, é interessante considerar que com frequência os pais consideram os filhos mais inocentes do que eles mesmos foram, e, além disso, livres dos perigos e tropeços que padeceram em sua infância e juventude. Temos que aceitar a realidade de que, atualmente, serão poucos os rapazes e moças que não tenham contemplado na TV ou no cinema cenas eróticas mais ou menos desafortunadas. - Informação e formação É necessário também ensinar aos filhos o sentimento do pudor e da intimidade, e ajudá-los a formar uma consciência clara, de acordo com sua dignidade pessoal, sendo conscientes de que não se pode dar uma informação sexual à margem da moral, dos componentes éticos e espirituais de cada pessoa. A educação da afetividade no Ensino Fundamental I Sendo esta uma fase de tranquilidade evolutiva, de maior equilíbrio psicológico, a curiosidade intelectual se satisfaz pela compreensão. É o momento mais 45 Solar Colégios


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adequado para iniciar uma verdadeira educação da afetividade que permita ao menino ou à menina enfrentar do modo menos perturbador os problemas da adolescência. Nessa etapa forma-se a consciência de si mesmo diferenciada e se configura a personalidade tipicamente masculina ou feminina. A criança adota papeis de identificação com um dos pais, normalmente, o de seu próprio sexo. Os interesses vãose centrando mais no mundo de seus companheiros que no dos adultos. Surge a curiosidade pelo papel do pai e da mãe na geração (como o bebê entra no ventre da mãe?). Convém responder com disponibilidade e veracidade às perguntas, de forma natural, sem adotar uma atitude de desconforto, utilizando uma linguagem correta, simples, sem metáforas, de modo que se possa compreender a explicação. Os pais “silenciosos” acabam gerando um clima de mistério e vergonha neste aspecto. O Conselho Pontifício para a Família, na Declaração Sexualidade Humana: verdade e significado (8.XII.1995), propõe quatro princípios gerais nos quais deve se apoiar a informação sexual: 1. Toda criança é uma pessoa única que deve receber, por isso, uma formação individualizada. Dado que os pais compreendem, conhecem e amam a cada um de seus filhos em sua singularidade, têm melhor condição para decidir o momento oportuno de dar as diferentes informações, de acordo com o crescimento físico e espiritual de cada filho. 2. A dimensão moral deve sempre fazer parte das explicações. 3. A educação na castidade e as oportunas informações sobre a sexualidade devem ser oferecidas no contexto mais amplo da educação do amor. 4. Os pais devem dar a informação sexual com extrema delicadeza, mas de forma clara e no tempo oportuno. Para valorizar o que se deve dizer a cada um, é muito importante que os pais peçam, antes de tudo, luzes ao Senhor na oração e conversem entre si, para que suas palavras não sejam demasiado explícitas nem demasiado vagas. Convém que os conteúdos do Ensino Fundamental I que tratam da informação sexual(especialmente nas áreas de Conhecimento do Meio e Religião) se integrem e sejam informados aos pais com antecedência, sugerindo-lhes modos concretos de aproveitar a ocasião que lhes oferecem os programas escolares para incidir neste aspecto nas conversas com seus filhos. Entre os sete e os oito anos

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Nesta idade as crianças têm uma consciência clara do que é bom, do que é mau e do que é pecado. Em muitos lugares, nesta idade, são preparadas para a Primeira Confissão e para a Primeira Comunhão. É interessante colocar os meios para que a criança compreenda que Deus deu ao homem e à mulher o sexo para um uso nobre e maravilhoso: o amor entre marido e mulher, orientado à geração de novas vidas. É o momento mais adequado para ensinar os filhos a serem agradecidos a Deus por todas as coisas maravilhosas que nos deu. Qual é o papel do pai? É bastante frequente que nessa idade os filhos perguntem qual é o papel do pai na procriação, a que podemos argumentar o seguinte: 

Deus deu ao homem a capacidade de produzir uma espécie de semente que deposita dentro do corpo da mulher, para que aí comece a se formar e a crescer um filho. Quando este filho cresce o suficiente dentro da mãe, então pode vir ao mundo e nascer. Para que os pais colaborem com Deus no nascimento dos filhos, Ele estabeleceu que seus corpos pudessem se unir, devido às diferenças nos corpos do papai e da mamãe, e comece a crescer um filho dentro da mamãe. Depois de nove meses, esse filho nasce. Os pais amam muito seus filhos e se preocupam com sua educação, sua alimentação, sua roupa, sua saúde, sua alegria, etc.

O Pontifício Conselho orienta as famílias aconselhando: “Desde a mais tenra idade, os pais podem observar inícios de uma atividade genital instintiva na criança. Não se deve considerar como repressivo o fato de corrigir delicadamente esses hábitos que poderiam chegar a ser pecaminosos mais tarde, e ensinar a modéstia, sempre que seja necessária, à medida que a criança cresce. É importante que o juízo da negação moral de certos comportamentos, contrários à dignidade da pessoa e à castidade, sejam justificados com motivações adequadas, válidas e convincentes tanto no plano racional como no da fé e num quadro positivo e de alto conceito da dignidade pessoal”. Entre os oito e os nove anos Como se gera um filho? Nessa idade os filhos costumam perguntar por onde passa a semente do pai ao ventre da mãe. A esta pergunta deve-se responder com toda naturalidade e se pode sugerir o seguinte argumento, sabendo que cada pai pode utilizar argumentos similares: 47 Solar Colégios


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Ao se unirem os corpos do pai e da mãe, a semente do pai se introduz, por meio do órgão sexual masculino, no interior do corpo da mãe, através dos órgãos sexuais femininos, e se gera uma nova criança. Nesse momento Deus põe a alma no novo filho e desta maneira lhe dá a vida.

As meninas costumam perguntar “Por que não é bom que uma mamãe solteira tenha um filho?”. Diante desta pergunta, com toda naturalidade, a mãe pode argumentar que não é o que foi estabelecido por Deus: o normal é que o marido ajude a mãe a cuidar, educar e manter o filho. A Declaração anteriormente mencionada aponta, no n. 85: “Não são raras as violências sexuais com as crianças. Os pais devem proteger seus filhos, sobretudo educando-os na modéstia e na reserva diante de pessoas estranhas, dando-lhes, também, uma adequada informação sexual, sem antecipar detalhes e particularidades que poderiam perturbá-los ou assustar.” Entre os nove e os dez anos A dimensão moral, na qual se molda a educação para o amor, deve fazer parte das explicações. É esse o melhor momento para falar para os filhos, de forma sempre positiva, sobre o valor sublime da limpeza de coração e do valor positivo da castidade. Cada homem e cada mulher estão chamados a viver o dom da sexualidade segundo o plano de Deus – Deus que é Amor – no contexto do matrimônio ou da virgindade. Alguns argumentos que poderão ajudar são sugeridos a seguir, sabendo que estes devem ser abordados no momento mais oportuno, quando as crianças fizerem alguma pergunta, ou provocando o tema em alguma conversa pessoal, se for necessário: 

 

Ressaltar o fato de que as pessoas que vivem bem, ordenadamente, a sexualidade e a afetividade, adquirem com mais facilidade muitas virtudes valiosas: alegria, lealdade, honradez, sinceridade consigo mesmo e com os demais, e, sobretudo, sua relação com o amor autêntico. Somente quem sabe viver assim saberá amar no matrimônio ou na virgindade. Aproveitar o argumento de quão admirável é aquela pessoa que, por amor a Deus e para servir melhor aos outros, renuncia o uso do sexo e vive o celibato: como leigo, no sacerdócio e na vida religiosa. Comentar os vícios em que pode cair uma pessoa que não viva uma vida sexualmente reta (considerar também os pensamentos e atos). Também nesse contexto e quando pareça mais oportuno, é importante educar os filhos no uso dos meios de comunicação (que com frequência

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apresentam tendências e comportamentos desviados), dotando-lhes de senso crítico e apresentando sempre modelos positivos de conduta. Diante das tendências ou comportamentos desviados, para os quais se requer grande cautela e prudência para distinguir e avaliar as situações concretas, é interessante recorrer a um especialista de segura formação científica e moral, para identificar não somente os sintomas mas também as causas, e ajudar às pessoas com seriedade e clareza a superar as dificuldades. Os argumentos expostos nesta seção e nas anteriores podem ajudar os pais na tarefa de orientar seus filhos. É importante ter um estilo natural e aberto ao responder às perguntas que os filhos fazem ou ao iniciar uma conversa com os filhos sobre o tema. Cada pai de família pode com seu talento e experiência, utilizar outros argumentos adequados ou usar aqueles que aqui foram expostos com suas próprias palavras. É preciso que sempre se dê uma explicação certa e realista na qual nunca falte alusão à ação de Deus, pois suprimir a intervenção divina seria faltar à verdade. Entre os dez e os treze anos a) Atenção à puberdade Ao final do Fundamental I, na pré-adolescência, é interessante informá-los, adiantando-se, sobre as mudanças físicas que irão sofrer e, deste modo, preparar a puberdade: crescer em amizade com os filhos, fortalecer sua vontade, afiançar sua fé religiosa. É um bom momento para manter conversas sobre temas atuais que os meios de comunicação apresentam, ressaltando o lado positivo. Os especialistas recomendam dar esta informação antes que aconteçam tais mudanças, pois, de um lado, se evitará que os filhos se surpreendam ou se assustem com o que lhes ocorre e, por outro, ao não estar desperto ainda o instinto sexual, não lhes produzirá nenhuma perturbação negativa. Se quando pequenos é indiferente que a informação seja dada pelo pai ou pela mãe, agora é conveniente que o pai fale com os filhos e a mãe com as filhas. Às vezes pode acontecer que nem um nem outro encontrem o momento oportuno para isso. Talvez preocupados pelo que têm a dizer, vão dando tempo para o assunto e, quando se decidem a fazê-lo, os filhos já sabem de tudo e pode ser que tenham aprendido de fontes pouco idôneas. Para evitar “enrolar”, alguns pais fixam uma data: quando a filha fizer onze anos, quando o filho fizer doze. Nesse dia acontece 49 Solar Colégios


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a conversa, aconteça o que acontecer. Essa data não é aleatória pois, de uma forma geral, o despertar da sexualidade é diferente no homem e na mulher. Costuma ocorrer nas meninas aos doze anos e um pouco depois nos meninos. A puberdade é um período de grandes alterações psicossomáticas. Além da capacidade de procriar e do desenvolvimento dos caracteres secundários, ocorrem também profundas mudanças interiores: mudanças de humor que vão desde a euforia à depressão, desejos de estar sozinho e de não falar com ninguém, uma emotividade – irritações e lágrimas – à flor da pele, manifestada principalmente em casa, etc. b) Prevenir os filhos das mudanças que ocorrerão As mudanças no corpo do rapaz são: crescimento rápido, aumento do apetite, aparecimento de pelo no rosto, axilas, púbis; mudança de voz. E, sobretudo, o desenvolvimento e primeira atividade dos órgãos genitais. O rapaz experimenta a primeira ejaculação que, geralmente, costuma ocorrer durante o sono. Produz-se de forma natural, com uma sensação de prazer. O rapaz deve saber que isso vai acontecer e que é normal que assim ocorra. Que isso se repetirá de vez em quando. A roupa e os lençóis se mancham, mas os adultos sabem e não há nada de especial; troca-se a roupa e está tudo bem. As meninas também experimentam transformações importantes. As formas se arredondam, alargam-se os quadris e se desenvolvem os seios. O pelo também aparece nas axilas e no púbis. Com tudo isso, o principal acontecimento é a primeira menstruação. Um dia sentirá mal estar e algumas dores no ventre, e se dará conta de que sangrou pela vagina e que manchou suas roupas íntimas. Deverá saber que isso é normal, que não está doente, simplesmente que tem inicio a maturidade sexual. Saberá também que, a partir desse momento, cada mês se repetirá o mesmo fenômeno. Convém que toda menina esteja avisada e preparada para este fato, porque, se não estiver, em alguns casos pode acontecer um choque psíquico que dificulta a posterior maturidade afetiva. Coincidindo com a menstruação, a menina costuma experimentar um cansaço físico, às vezes dores e também uma inquietação, melancolia e irritabilidade. Os rapazes e as moças descobrem o outro sexo e a mútua atração. Devem saber que é normal, mas devem também saber direcionar esses impulsos e tendências. A educação da afetividade, já iniciada anteriormente, adquire aqui um caráter importante, pois a perfeita adaptação social dos adolescentes depende de uma boa educação da afetividade.

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Os pais que, em etapas anteriores, souberam conversar com seus filhos de todos os temas que surgiram ao longo dos dias, poderão, sem dificuldade, continuar esse diálogo em torno aos novos interesses de seus filhos. Uma advertência: deve-se levar a sério tudo o que dizem e com seriedade, examinar os prós e os contras do que apresentam, dando-lhes elementos de juízo e ampliando-lhes horizontes para que eles mesmos tomem suas próprias decisões. Mas os pais que antes não falaram com seus filhos possivelmente agora não consigam ultrapassar a barreira da intimidade, porque entre os sentimentos novos que experimentam os adolescentes está o de não querer deixar ninguém entrar em sua intimidade. Somente, e não com facilidade, falarão de suas coisas aqueles cujos pais ganharam desde sempre sua confiança, porque se mostraram em toda ocasião abertos ao diálogo e à compreensão. O Conselho Pontifício para a família insiste que não é suficiente comunicar informações sobre sexo junto a princípios morais objetivos. É também necessária uma ajuda constante para que cresça a vida espiritual dos filhos, de modo que seu desenvolvimento biológico e os impulsos que começam a experimentar se encontrem sempre acompanhados por um crescente amor a Deus Criador e Redentor e por uma consciência clara da dignidade de toda pessoa humana e de seu corpo. Portanto, para superar as dificuldades, podemos aconselhar: disciplina dos sentidos e da mente, prudência atenta para evitar as ocasiões de quedas, guarda do pudor, moderação das diversões, ocupação saudável, recurso frequente à oração e aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, devoção à Nossa Senhora.

H. EDUCAÇÃO COMO CONSUMIDOR Na sociedade atual, o consumo é um elemento importante que está presente em parte de nossas atividades diárias; por isso, é necessário proporcionar à criança alguns instrumentos de análise e crítica que lhe permitam adotar uma atitude pessoal frente às ofertas de todo tipo que recebe da sociedade de consumo. A tomada de consciência ante o excesso de consumo de produtos desnecessários deve começar na escola. Intimamente unida ao consumo se encontra a publicidade; o mundo da publicidade se pode e deve trabalhar nas diferentes áreas do Ensino Fundamental I. Trata-se de estudar o tema do consumo em todas suas vertentes, com uma metodologia criativa e prática, estabelecida em torno à experiência pessoal que 51 Solar Colégios


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mostre os fatores relacionados e implicados na atividade diária. Estabelecer também comportamentos críticos e responsáveis em matéria de consumo. Será estimulado nos alunos espírito crítico ante o consumo e a publicidade e lhes serão oferecidos os meios necessários para que possam agir como consumidores capazes de efetuar uma escolha consciente de seus direitos e responsabilidades. Através das diferentes áreas do Currículo, os objetivos propostos para a Educação do consumidor são:   

Proporcionar uma atitude crítica e responsável diante de sua própria condição de consumidores. Adquirir conhecimentos básicos sobre direitos e deveres como consumidores. Gerar boas atitudes de sobriedade.

I. EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL Este tema transversal diz respeito a uma numa referência contínua de práticas consideradas saudáveis, complementando toda atividade de aprendizagem com hábitos que implicam a compreensão e o cuidado da saúde. Os núcleos de elaboração destes conteúdos são:      

Segurança, prevenção de acidentes e primeiros socorros. Cuidados pessoais: higiene e saúde. Alimentação saudável e completa. Uso de medicamentos e prevenção de toxicomania. Relações humanas. Saúde mental. Serviços sanitários e solicitação de ajuda.

É preciso prestar especial atenção: 1. À higiene geral dos alunos (a lavagem das mãos, dos dentes, a ducha depois de praticar exercício físico, etc.). 2. Aos hábitos referentes à comida: dieta equilibrada e nutritiva. Prevenir a tendência (sobretudo nas meninas) ao emagrecimento. Os caprichos nas refeições. 3. A proporcionar um ambiente de brincadeira e trabalho sereno, em que os alunos possam se sentir seguros e não ansiosos ante a aprendizagem e a vida escolar.

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Capítulo V - ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

A. ASPECTOS GERAIS

1. O PROFESSOR EDUCADOR Cada professor é um educador que ensina sua matéria sabendo que se trata de um meio para que os estudantes adquiram conhecimentos e maturidade, desenvolvam ao máximo suas aptidões e construam sua personalidade exercitando-se nas virtudes. Seu principal trabalho é colaborar com os pais dos alunos a que estimulem o trabalho de cada um dos filhos em idade escolar para que amadureçam como pessoa, sendo capazes de se valorizar por si mesmos. Dimensão orientadora do trabalho de todo professor A consecução dos objetivos educativos requer necessariamente que se programem atividades bastante variadas – não meramente cognitivas – que permitam ao aluno refletir e repetir com frequência atos com os quais se exercite nas virtudes. O aluno necessita encontrar, durante sua permanência nas aulas, situações concretas em que exercitará as virtudes que seus professores lhe propõem viver. Entre as atividades que se podem programar, algumas terão por objeto a valorização das virtudes e o estímulo de sua aquisição (por exemplo, a importância da ordem na pesquisa experimental, a influência dos vícios e das virtudes na decadência ou no auge de diferentes civilizações, etc.), e outras oferecerão ocasiões concretas para exercitá-las, como participar em um trabalho em equipe – solidariedade –, informar sobre as dificuldades que encontra na matéria ou sobre o trabalho realizado – sinceridade –, ajudar a um companheiro – espírito de serviço –, ter a mesa de trabalho e o material da disciplina ordenado, esforçar-se por ter boa apresentação do caderno de atividades, ou ser pontual ao chegar à aula, ou ao apresentar um trabalho. Cada professor deve determinar a intencionalidade educativa que pretende às atividades programadas. Como cada matéria oferece diferentes possibilidades, é imprescindível que a equipe educadora de cada grupo ou nível de alunos esteja de acordo. Além de conhecer e valorizar o programa de formação humana é necessário integrá-lo no trabalho diário concreto que cada professor realiza, de acordo com as características e métodos próprios de cada área.

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O professor está diretamente implicado no esforço comum por conseguir que os alunos façam seus os objetivos de orientação programados. Podem servir como exemplos de atuação nesse sentido: breves comentários sobre o objetivo da aula, quando se apresenta a oportunidade de fazê-lo ou buscando intencionalmente essa oportunidade; estar pendente de que os alunos vivam na sala aspectos concretos do objetivo proposto; corrigir e animar; e, sobretudo, ser pessoalmente a pessoa que se exercita no esforço por melhorar pessoalmente justamente naquilo que pretende dos alunos. A orientação acadêmica pessoal não é uma função apenas do preceptor de cada aluno, mas corresponde a todos os professores, a cada um nas matérias que leciona. Se todo professor realiza uma função orientadora de seus alunos através de seu trabalho diário, é óbvio que deve manifestá-la, sobretudo, no que se refere à aprendizagem da matéria que ensina, com um seguimento personalizado de cada aluno dentro e fora da sala, adiantando-se no que for possível às dificuldades para arbitrar os meios mais oportunos para cada caso: uma atividade de reforço, o repasso dos objetivos fundamentais com um grupo reduzido ou uma nova explicação de um tema determinado de especial dificuldade ou interesse. Assim, o trabalho do preceptor se centra no assessoramento educativo da família e na orientação pessoal do aluno – vida familiar, hábitos de trabalho, planejamento do estudo, aquisição de virtudes, formação do critério, uso do tempo livre, vida de piedade, etc. –, sem que deva empregar um tempo excessivo em resolver as dificuldades específicas dos alunos em alguma matéria. A dimensão orientadora do professor se manifesta particularmente em duas grandes tarefas: trabalhar com a maior perfeição possível e exigir um trabalho bem feito de seus alunos. A equipe educadora A ação educativa do professor não é fruto de uma atuação solitária, mas sim solidária e coordenada com uma equipe de educadores. O conjunto de professores que trabalham com um mesmo grupo de alunos constitui uma Equipe Educadora. São especialistas de diferentes funções docentes ou orientadoras que atuam coordenadamente em favor da educação completa de cada estudante. O trabalho em equipe com os demais professores não significa renunciar ao próprio estilo. Tem sua razão de ser na coerência e continuidade que devem ter as aprendizagens e formação dos alunos com a orientação de seus professores.

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A equipe de professores é a que programa as atividades docentes e de orientação e avalia o trabalho realizado. Deste modo, aperfeiçoa-se o rendimento dos recursos humanos e materiais disponíveis no colégio. De outra forma, os alunos seriam submetidos a diferentes critérios educativos e metodológicos, prejudicando a coerência e sistematização de seu processo de formação. O contraste de opiniões nas reuniões da equipe educadora limitará o perigo de subjetividade nas apreciações de cada professor, tendo presente que se deve evitar dar um caráter definitivo aos juízos sobre o trabalho das pessoas. Como consequência, cada professor integra sua programação no plano geral de cada turma e do colégio. Os professores do ensino fundamental I submetem-se a Coordenação Pedagógica ou a um Professor Coordenador de Área, designado pela Equipe de Direção. Qualidades do educador A tarefa de educar requer naquele que a exercita um mínimo de qualidades pessoais, tais como competência, atitude, entusiasmo profissional e interesse por melhorar continuamente a própria formação, junto à maturidade pessoal e ao equilíbrio emocional indispensáveis em quem deve orientar os demais. Por outra parte, como em qualquer relação pessoal, o empenho por cuidar habitualmente dos pequenos detalhes de delicadeza no trato – o sorriso habitual, o modo de vestir e de se expressar, os pormenores que refletem tom humano – facilitam o clima de profissionalismo e confiança mútua necessários para que se possa produzir um verdadeiro diálogo pessoal. Para desempenhar bem esta tarefa não é preciso ser uma pessoa excepcional, mas são imprescindíveis o empenho eficaz para se formar e o espírito de serviço para atender a cada família e a cada aluno como se fossem os únicos. Essas qualidades estão acompanhadas pelos defeitos e erros normais de qualquer ser humano, desde que não contradigam a figura do professor. Antes de tudo, o educador necessita possuir a preparação profissional suficiente para: 1. saber aonde vai: conhecimento profundo do que é o homem e a família, e do que contribui para sua melhora; 2. saber com quais meios conta: conhecer muito bem suas matérias, o plano de formação e os diferentes meios e técnicas de ensino e orientação;

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3. saber onde se pode chegar agora: conhecimento do aluno, de suas possibilidades e limitações; 4. saber quando e como se deve ou se pode agir: prudência e tato, tanto para aproveitar e provocar ocasiões propícias, como para atender às situações imprevistas. Para tanto, o professor necessita de estudo e reflexão sobre o próprio trabalho, sobre cada aluno. A educação deve estar fundamentada pelo respeito às pessoas, sempre num clima de alegria que costuma acompanhar o trabalho bem feito e a busca do bem; de compreensão e de cordialidade que ajudam a que todos se sintam pessoalmente acolhidos e abram as portas à confiança e ao respeito, manifestados em numerosos detalhes práticos como: chamar a cada pessoa por seu nome; olhar o rosto quando falar e escutar com atenção – também no gesto –; respeitar o ritmo de trabalho de cada um e respeitar ao máximo sua autonomia, confiando nas suas capacidades; corrigir sem maus modos; evitar qualquer tipo de atropelo, menosprezo ou humilhação, etc. Assim, o professor não será somente a pessoa especialista em uma disciplina a quem se vai para pedir ajuda diante de um problema ou necessidade, mas também a pessoa que se adianta para prevenir, que estimula e ajuda a se esforçar por alcançar o projeto pessoal decidido. Os estímulos positivos são sempre mais eficazes que as repressões ou correções com carga negativa. O professor deve descobrir os aspectos positivos – também diante das limitações e dificuldades – de cada família e aluno, para se apoiar neles e estimular a melhora, sem considerar nunca a ninguém como um caso perdido. Convém evitar parecer que há preferência a determinadas famílias ou alunos. Deve-se atender a todos, porque todos podem melhorar, com paciência. A acepção de pessoas anularia a eficácia do trabalho do professor. Evitar, porém, a manifestação de preferências de umas pessoas a outras não significa tratar a todas por igual, porque em educação o verdadeiramente eficaz é tratar desigualmente aos desiguais: a cada família ou aluno, de acordo com sua situação, segundo o momento, ainda que sem favoritismos. Para isso, o professor deve se esforçar por se acomodar à mentalidade do ouvinte, de colocar-se no lugar do outro ao raciocinar, animar e corrigir; com firmeza para superar as dificuldades, o que não é dureza ou frialdade, mas calma, energia, integridade.

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O professor educador necessita coerência para agir e ensinar, para estimular desejos de melhora, já que educar não é apenas um modo de se ganhar a vida, é ajudar a ser pessoas, e essa tarefa compromete. É particularmente importante, portanto, a estabilidade emocional, a clareza de exposição, a simplicidade de caráter, a constância no seguimento de metas e objetivos, o carinho e o sentido positivo. O educador é um promotor de autonomia que não cria dependências, mas fomenta que cada família e aluno aceitem a responsabilidade de suas decisões, que pensem e decidam por si mesmos segundo suas possibilidades e grau de maturidade, sem afogar a personalidade, as energias, mas orientando-as para o bem.

2. A TAREFA DO PROFESSOR A tarefa do professor não se limita à que se realiza na presença dos alunos, já que também é fundamental a adequada preparação de seu trabalho, bem como a avaliação dos resultados da atividade docente. Por essas razões, os professores se ocupam resumidamente das seguintes tarefas: 1. Informar, atender e orientar aos pais dos alunos – responsáveis em todos os aspectos da educação de seus filhos –, de quem são seus principais colaboradores. 2. Cuidar de seu próprio aperfeiçoamento pessoal e profissional através do estudo, da reflexão sobre o próprio trabalho, sobre experiências diversas e sobre a participação na pesquisa ativa dos problemas educativos. 3. Elaborar os planejamentos anuais e mensais. 4. Estimular o trabalho dos alunos, seu esforço por aprender. 5. Dirigir a aprendizagem dos alunos, ensinar e orientar, colaborando com os estudantes em sua aprendizagem e formação. 6. Valorizar todos os aspectos do desenvolvimento pessoal de seus alunos. 7. Avaliar o rendimento dos estudantes, a qualidade dos materiais educativos e dos programas. 8. Participar construtivamente no trabalho em equipe dos professores, buscando a unidade e a coordenação com a Equipe Educadora e com a Direção do colégio. 57 Solar Colégios


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O professor: mediador dos processos de aprendizagem dos alunos A qualidade da aprendizagem depende fundamentalmente da qualidade do ensino; e esta da qualidade do trabalho dos professores, de modo que os melhores recursos materiais nunca podem compensar um ensino deficiente. É preciso que cada professor descubra seu papel de mediador na aprendizagem de seus alunos, de facilitador de suas descobertas. É o aluno quem, em última instância, modifica e reelabora seus esquemas de conhecimento, construindo sua própria aprendizagem. Nesse processo, o professor atua como guia e mediador na aquisição significativa de aprendizagens, que permitem estabelecer relações entre os conteúdos previamente assimilados e os novos, assim como chamar a atenção sobre possíveis deficiências que impeçam a aprendizagem. O professor, ao ensinar, oferece as condições necessárias para que seus alunos, por si mesmos, aprendam. A partir desta perspectiva, mais do que proporcionar informação sobre o pensamento e suas funções, o professor deve proporcionar as condições para que seus alunos pensem e para que pensem e aprendam cada vez melhor.

3. MOTIVAÇÃO A motivação é um recurso pedagógico importante. O professor que sabe motivar os estudantes costuma alcançar os objetivos a que se propõe. Em certa medida, o rendimento escolar é consequência da qualidade da motivação. Um fator que não pode ser esquecido na prática diária é que os alunos precisam saber quais trabalhos estão sendo pedidos, quais objetivos devem alcançar, quais meios têm para consegui-lo e como serão avaliados. A desmotivação para um aprendizado decorre muitas vezes de uma situação de ignorância mais do que a atitude negativa do estudante. Saber para que se faz algo, isto é, conhecer a relação existente entre as atividades que realiza e os objetivos que pretende conseguir, constitui a base da motivação. De pouco serviria ensinar muito se os alunos não aprendessem quase nada. O professor deve estar pendente de colocar os alunos numa situação de aprendizagem constante, que lhes interesse e lhes satisfaça. O conhecimento dos resultados, que será sempre pessoal, é um forte estímulo para corrigir os erros e melhorar. Para tanto, é interessante indicar aos alunos os resultados de seus trabalhos com a maior antecedência possível. O reconhecimento do 58 Solar Colégios


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bem feito no trabalho escolar é percebido pelo aluno como um sucesso, e a esperança de obter mais sucesso estimula a reiterar o comportamento aprovado pelo professor. O reconhecimento dos acertos de um aluno – ou de um grupo de alunos – numa tarefa determinada, motiva mais que a informação sobre as deficiências. O registro dos progressos na consecução das metas propostas e o conhecimento das causas do sucesso ou do fracasso numa tarefa determinada aumentam a motivação para a aprendizagem. As atividades devem ser dosadas de tal forma que, a partir das mais acessíveis, o aluno vá obtendo êxitos sucessivos. Se a exigência é pouca, os alunos mais brilhantes, que reagem positivamente diante do desafio, perdem o interesse. Se a dificuldade é excessiva, os menos capazes perdem a motivação. Como não é possível encontrar tarefas que sejam adequadas para todos os alunos simultaneamente, tornase imprescindível uma diferenciação dos objetivos. A motivação consiste em estimular o esforço e em estabelecer uma dificuldade razoável para que a tarefa seja possível. As mudanças moderadas no nível de dificuldade e complexidade de uma tarefa favorecem a motivação em quem a realiza. As mudanças bruscas provocam rejeição e podem conduzir ao desânimo. Convém relacionar os conteúdos de aprendizagem com os interesses e necessidades próprias de cada grupo de alunos (de acordo com sua idade, ambiente, etc.). O progresso é mais rápido quando os alunos reconhecem que a tarefa coincide com seus interesses imediatos. Assim mesmo, a motivação é maior quando o material didático que se utiliza é variado e adequado ao conteúdo.

4. A ATENÇÃO PESSOAL AOS ALUNOS Os alunos de uma mesma turma apresentam diferentes estilos e ritmos de aprendizagem. Essa realidade tem algumas consequências para o trabalho do professor: cada estudante requer atenção pessoal para ajudá-lo a conhecer-se a si mesmo, a desenvolver suas aptidões especiais e a que aceite serenamente suas deficiências, estimulando-o a superá-las com os meios adequados, ao mesmo tempo em que se procura reforçar nele a ideia de que o resultado do estudo e do trabalho depende principalmente de seu próprio esforço. Essa atenção pessoal exige: a) Conhecer a cada aluno – suas possibilidades e limitações, virtudes e defeitos – para estabelecer um diagnóstico o mais exato possível de sua situação pessoal e de suas possibilidades de melhora; para determinar o rendimento que se pode esperar, estimulando-o depois a que alcance o nível mais alto de 59 Solar Colégios


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acordo com sua capacidade, sem aceitar como satisfatório um rendimento inferior. Fruto deste conhecimento, será possível estabelecer – de comum acordo com os pais e com o próprio aluno – um projeto pessoal de melhora para cada escolar. b) Desenvolver as atividades escolares de maneira que se respeite o ritmo pessoal de aprendizagem. Por isso, em cada unidade didática se distinguem dois tipos de objetivos: 

Os objetivos fundamentais que devem ser dominados por todos os alunos, por responder aos conteúdos básicos e por sua importância formativa. Os objetivos individuais que permitem aprofundar em qualquer aspecto da unidade didática e estender o interesse cultural dos alunos, de acordo com a capacidade ou as preferências pessoais de cada um. Esses objetivos devem ser exigidos, já que asseguram o desenvolvimento da personalidade própria de cada estudante. Dentro destes objetivos é preciso destacar:  Os objetivos individuais atribuídos: requerem uma ampliação relativamente aos objetivos comuns e devem ser estabelecidos pelos professores para cada aluno ou grupo de alunos.  Os objetivos livres, propostos pelo aluno ou escolhidos entre uma oferta variada, e que respondem a seus interesses e preferências.

c) Utilizar recursos metodológicos dinâmicos que favoreçam a possibilidade de cada estudante realizar as aprendizagens programadas de acordo com seu ritmo e estilo pessoal para tirar o seu máximo. O desenvolvimento de capacidades, a aquisição de conhecimentos e a promoção das virtudes e valores, necessitam de um enfoque metodológico geral que fomente a atividade do estudante e sua participação na sala. Esse enfoque, através da utilização de diferentes métodos e situações de aprendizagem, facilita também o trabalho cooperativo e solidário, assim como a ajuda entre companheiros. Entendemos o termo “métodos dinâmicos” como um conjunto de estratégias didáticas que permitam e estimulem os alunos a participar como protagonistas de sua própria aprendizagem. d) Realizar uma avaliação personalizada que leve em conta o diagnóstico e prognóstico realizados, e centre a atenção na satisfação dos resultados mais do que na suficiência. Para consegui-lo, realiza-se a avaliação contínua – ou formativa – ao longo de todo o processo educativo, precedida pela avaliação

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inicial ou de diagnóstico, no começo de cada turma ou ciclo, e matizada pela avaliação global no término de cada período avaliativo. e) Oferecer aos alunos o assessoramento acadêmico pessoal de cada professor nas matérias que dá, de modo que, com a orientação da avaliação formativa que detecta tão logo se produzam os sucessos ou as deficiências, para reconhecê-los ou remediá-las, possam alcançar os melhores rendimentos. Do mesmo modo, já que todo professor é um educador, são oferecidas aos alunos a ajuda e orientação pessoal que sejam necessárias para seu adequado desenvolvimento moral.

5. DESENVOLVIMENTO SISTEMÁTICO DE CAPACIDADES E HABILIDADES O amadurecimento do neocórtex, a experiência e as motivações das crianças nessa idade, permitem que suas aprendizagens se realizem com rapidez. Além disso, a estabilidade emocional capacita-os para uma aprendizagem sistemática. Através do plano de estudos (isto é, do trabalho cotidiano realizado nas aulas) e da ação educativa familiar, o principal interesse da atividade educativa nessa etapa está no desenvolvimento sistemático:  

das capacidades ou habilidades básicas de pensamento (desenvolvimento cognitivo). do conhecimento e juízo moral, do fortalecimento da vontade através das virtudes humanas e do cultivo da afetividade (educação moral).

É a etapa oportuna para o desenvolvimento do pensamento operativo concreto, através da gradual apreensão intelectual. O processo natural é a passagem do intuitivo e imaginativo ao racional, para chegar a sintetizar e estruturar os próprios conhecimentos. A inteligência senso motora passa a ser lógica, ainda que necessite dos sentidos para captar as coisas, já que o juízo abstrato virá depois, em torno dos 13 anos. Ainda não são capazes de abstrair, mas necessitam do concreto, apoiando-se sempre nas impressões sensoriais (manipulação e experiências) e nas representações (“realismo infantil”). São capazes de relacionar ideias simples, mas chegar a uma definição geral é ainda difícil. Seu pensamento é intuitivo, muito apoiado nas imagens. Começam a raciocinar por si mesmos a partir dos porquês, e são frequentes as perguntas sobre o porquê ou para quê das coisas. O professor deve considerar e, inclusive, instigar essas perguntas. Nossos alunos vão dedicar ao estudo os próximos anos e é importante que contem o quanto antes com as ferramentas de aprendizagem mais adequadas. Dessa 61 Solar Colégios


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forma, contribuiremos para que tenham uma percepção positiva de si mesmos e de suas capacidades – autoestima – e uma adequada motivação para o estudo. Nesses anos do Ensino Fundamental I acontecem os períodos sensitivos da aquisição das habilidades intelectuais mais básicas e fundamentais, por isso é preciso aproveitar esse tempo para uma aquisição com mais facilidade e perfeição. Estratégias de aprendizagem incorporadas nos programas Um ensino que, como o presente Projeto Curricular, integre um programa de desenvolvimento cognitivo necessita de: a) objetivos realistas, expressados com tal clareza que seja possível determinar se foram ou não alcançados; adaptados ao desenvolvimento evolutivo e cognitivo prévio dos alunos; que tenham valor por si mesmo e respondam a componentes ou aptidões importantes da capacidade de pensamento. Essas aptidões e habilidades mentais devem ser trabalhadas no Ensino Fundamental I de uma forma coordenada, graduada e sistemática, em todas as matérias, em todas as turmas e com um nível de domínio progressivo; b) procedimentos de ensino concretos de cada uma das habilidades ou capacidades selecionadas; c) procedimentos de avaliação formativa e somativa para os processos de aprendizagem dos alunos e para os métodos de ensino do professor; que seja examinado se os alunos adquiriram as capacidades, procedimentos, conhecimentos, hábitos e atitudes que o programa pretende ensinar; e até que ponto os métodos empregados são aptos para facilitar este desenvolvimento. É interessante também conhecer se o ensino tem efeitos substanciais e duradouros sobre o pensamento e a vida dos alunos; d) procedimentos de recuperação. Integração plena no currículo escolar Não se trata de preparar uma classe especial para o desenvolvimento de habilidades, o ensino de técnicas ou a promoção das virtudes humanas, com o perigo de não haver transferência do que foi aprendido ao resto das atividades escolares e à vida pessoal. Este programa se desenvolve através do currículo das diferentes áreas, do plano de estudos, de modo coordenado e sistemático. O objetivo é que as estratégias ensinadas cheguem a se consolidar em hábitos permanentes de atuação, como consequência do trabalho diário em todas as matérias. Evita-se assim que os alunos vejam as estratégias de aprendizagem como uma matéria na qual não se reprova e para a qual não se deve dar importância.

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O ensino de pensamento se concretiza em atividades a realizar todos os dias, de modo que as matérias sejam programadas levando-se em conta quais aptidões se quer melhorar ou conseguir, através do trabalho diário na área de aprendizagem que se oferece. Não se trata de tirar importância da assimilação de conhecimentos, mas de que os alunos aprendam muitos conhecimentos e muito bem, porque aprenderam a aprender, desenvolveram suas capacidades. Como as habilidades selecionadas para cada turma serão trabalhadas diariamente na sala, é lógico que também seja avaliado o nível de domínio que cada aluno nelas vai alcançando. Para realizar esse seguimento, é interessante contar com um simples registro de observação que permita valorizar os aspectos mais significativos do programa de trabalho estabelecido pela Equipe Educadora. Também convém contar com alguns instrumentos de avaliação que meçam da forma objetiva o grau de aquisição das diferentes habilidades. Os resultados da avaliação têm, sobretudo, um valor formativo, como instrumento para a orientação pessoal do aluno e, quando necessário, para estabelecer um plano de recuperação. A seguir se apresentam duas listas: a primeira apresenta um esquema das fases do pensamento, e cada uma das fases está definida por uma série de habilidades intelectuais. É o suporte teórico do programa de desenvolvimento cognitivo do Projeto. A segunda é mais extensa e concreta: está organizada, para facilitar a compreensão e o trabalho de programação dos professores, em sete habilidades básicas do pensamento que se podem e devem desenvolver no Ensino Fundamental I, e vem acompanhada por alguns hábitos de trabalho e atitudes para o estudo que também devem ser cultivados nessa etapa. Fases do pensamento: atitudes intelectuais A. Fase Receptiva/Perceptiva  

   

Observação. Atenção. Concentração. Leitura de textos o de planos e mapas o de representações gráficas/simbólicas o de imagens Percepção oral Identificação Recontagem e medição Uso de fontes de informação

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B. Fase Reflexiva/Elaborativa           

Análise Comparação Ordenação. Classificação Experimentação Cálculo Inferência. Juízo Formação de conceitos Interpretação. Valorização. Avaliação. Crítica Tomada de decisões Solução de problemas Síntese. Resumo. Definição

C. Fase Extensiva/Criativa     

Extrapolação. Prognóstico. Generalização Imaginação Interrogação Modificação Criação

D. Fase Aquisitiva/Retentiva   

Memorização mecânica Memorização compreensiva Evocação de conhecimentos

E. Fase expressiva/Prática     

Expressão oral Expressão escrita Expressão técnica Expressão artística: plástica, corporal, musical Expressão comportamental (ética)

Habilidades de Pensamento e Hábitos de trabalho no Fundamental I A. Coletar dados e informação  

Medir. Estimação de medidas Anotar

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             

Contar Observação dirigida e livre Observar diferenças e semelhanças Observação e atenção visual e auditiva (discriminação de sons e ritmos) Manejo de registros de observação Percepção sensorial Identificação Ler Uso de fontes de informação Escutar Perguntar Questionários Entrevistas Pesquisas

B. Organizar a informação      

Comparar Ordenar Classificar Seriar Relacionar Colecionar

C. Elaborar a informação        

Descrição de situações Analisar Interpretar Resumir. Sintetizar Identificação da ideia principal. Sublinhados Representações gráficas Mapas conceituais Esquemas simples de chave

D. Compreensão e Expressão   

Leitura compreensiva. Rendimento leitor Expressão oral e dramática Escritura: ortografia, redação, composição

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Vocabulário: compreensão significativa de conceitos (encontrar relações de semelhança, analogia e oposição de conceitos). Consultar o dicionário

E. Cálculo     

Automatização dos processos de cálculo Cálculo mental Operações Estimação de resultados Valorização da solução de uma operação (razoabilidade da resposta)

F. Processos de identificação, apresentação e resolução de problemas     

Iniciar na formulação de hipóteses simples sobre acontecimentos Avanço de explicações de fatos ou soluções de problemas, previsão de consequências Razoamento Procurar várias soluções a problemas apresentados Comprovação da hipótese. Verificação dos resultados

G. Compreensão e raciocínio espaço temporal   

Sequências Localização em mapas e planos Interpretação de gráficos simples

H. Hábitos e técnicas elementares de estudo         

Horário de estudo Uso de agenda Distribuição do tempo de estudo Ordenar as tarefas Planificar e organizar o trabalho Tomar notas Técnicas simples de memorização mecânica e compreensiva Reconhecer as ideias principais. Sublinhar Avaliar as próprias realizações

I. Atitudes frente à aprendizagem   

Curiosidade intelectual, indagação, admiração Emoção frente à descoberta Aprender dos erros

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     

Afã de saber as razões das coisas Satisfação pelo trabalho bem feito Respeito à produção alheia Clareza na expressão Cuidado e limpeza na apresentação dos trabalhos Afã de superação. Esforço

6. A LINGUAGEM COMO VEÍCULO DO PENSAMENTO A língua é o veículo do pensamento. Na medida em que nossos alunos utilizem a língua com maior precisão, ordem e rigor, seu pensamento será também mais ordenado e preciso. Todo professor é de Língua e dedica boa parte de seu tempo de ensino a trabalhar os aspectos procedimentais da língua: ler, escrever, falar, cada vez com maior perfeição. O aspecto mais básico é a leitura. Muitas dificuldades de aprendizagem de alunos de anos superiores têm sua origem em deficiências na leitura. Nunca se termina de aprender a ler melhor, compreendendo mais, julgando o que se lê, diferenciando o fundamental do acessório, etc. Devem ser colocados os meios para que os alunos se expressem cada vez com maior fluidez e perfeição, tanto oralmente como por escrito, oferecendo numerosas ocasiões de exercício. Outro aspecto fundamental do ensino de língua em qualquer idade é a aquisição e uso de um vocabulário rico. No ensino de todas as matérias se procurará que os alunos conheçam e utilizem os termos científicos próprios da área, bem como aqueles que apresentem dificuldades ortográficas. A atividade de teatro, integrada nas programações de Língua Portuguesa e Educação Artística, tanto lido como interpretado junto aos colegas ou em alguma festa familiar, melhora a dicção, a expressão oral, a desenvoltura para falar em público, etc. É interessante promover todo tipo de concurso de contos, poesias, narrações, bem como leitura recreativa, através do “plano básico de leitura”, de modo que se aproveite muito os três ou quatro livros escolhidos que devem ser lidos e trabalhados a fundo, com atividades de diálogo e reflexão crítica sobre o que foi lido (tertúlias ou colóquios literários).

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7. O TRABALHO AUTÔNOMO E COOPERATIVO DO ALUNO O professor deve promover a aprendizagem autônoma, tanto independente como cooperativa, de seus alunos, de modo que possam ser progressivamente capazes de planificar e controlar sua própria aprendizagem. Ao ganhar em autonomia, os estudantes estarão em melhores condições de enfrentar os problemas que se apresentarem todos os dias, poderão prever as consequências de seus atos e aprenderão de seus erros, de modo que tomarão suas decisões com mais responsabilidade. É interessante favorecer o agrupamento flexível e o trabalho cooperativo dos alunos. Assim, podem-se agrupar de diferentes maneiras na aprendizagem de diversas áreas e igualmente podem formar grupos pequenos em alguma ocasião e grupos grandes em outra. Trata-se de colocar a formação de grupos ao serviço da aprendizagem sem submetê-la às normas rígidas de formação de grupo fixa. Para consegui-lo, utilizam-se as quatro situações de aprendizagem seguintes:    

Trabalho individual Trabalho em equipe Trabalho com o grupo da classe Trabalho em grande grupo

Os hábitos de generosidade, compreensão, colaboração, companheirismo e justiça se reforçam mediante os trabalhos em equipe. Deve-se sugerir como primeiro objetivo individual dos estudantes suficientemente capazes, a ajuda a seus companheiros na realização das tarefas escolares, especialmente as de domínio dos objetivos fundamentais que possibilitam a recuperação.

8. A TRANSFERÊNCIA DO APRENDIZADO E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA O aluno compreende melhor um novo conteúdo de aprendizagem quando o relaciona significativamente com algo já aprendido, com conteúdos de outras áreas, com a realidade circundante. A aprendizagem se transfere e se assimila então com muito mais facilidade. O professor deve proporcionar oportunidades para colocar em prática os novos conhecimentos, de modo que o aluno possa comprovar o interesse e a utilidade do que foi aprendido e assim consolidar aprendizagens que transcendem o contexto no qual se produzem. Por outra parte, convém procurar a relação das atividades de ensino e aprendizagem com a vida real dos alunos, partindo sempre que seja possível de suas experiências e conhecimentos prévios. Aplicando estas ideias ao desenvolvimento do pensamento, podemos afirmar que o que se aprende pensando adquire-se mais profundamente, isto é, fica mais fácil de lembrar, desenvolve o próprio pensamento e é possível a transferência dessa 68 Solar Colégios


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aprendizagem para outras áreas e para sua vida pessoal, de maneira que o aluno possa interpretar e resolver novas situações que se apresentem com o que foi aprendido. Nesse sentido, não se trata de que os alunos adquiram conhecimentos sobre técnicas de trabalho intelectual, mas de que as assimilem sistematicamente, com o exercício, utilizando-as em seu trabalho diário, para que se convertam em hábito de trabalho e em um estilo próprio de aprender. A participação dos alunos, distinta de acordo com sua maturidade, no planejamento, observação e avaliação de sua aprendizagem, tanto procedimental (desenvolvimento cognitivo) como atitudinal (desenvolvimento moral), facilita o progresso em seu modo de pensar e de agir. Essa participação favorece a atuação responsável, já que os estudantes são conscientes do que fazem e porque o fazem, bem como das vantagens de tal proceder. Convém incentivar a aprendizagem por descoberta: preencher de conteúdo as excursões e os passeios culturais, em conexão com os programas de estudo, de modo que se fomentem a observação sistemática, a percepção atenta de diferenças e semelhanças, a classificação com distintos critérios e outras habilidades de pensamento, mediante cadernos de campo, fichas de observação e registro, etc. Também favorece a aprendizagem por descoberta o recurso frequente aos trabalhos práticos nos laboratórios e oficinas, que promovam a reflexão, formulação e comprovação de hipóteses.

9. O CLIMA FAVORÁVEL PARA A APRENDIZAGEM A atmosfera interpessoal na qual se desenvolve o trabalho escolar deve permitir ao aluno sentir-se apoiado, estimado, respeitado como pessoa, e capaz de dirigir e orientar sua própria ação. A sala deve constituir um ambiente agradável de trabalho. O ambiente educativo da sala deve favorecer, além do exercício das virtudes, o desenvolvimento das habilidades do pensamento. Para isso, é necessária uma atmosfera na qual possam expressar-se as ideias e opiniões sem temor ao ridículo, na qual se estimule e reconheça o esforço por pensar e explicar as coisas, por dar razões, ainda que não sejam as do livro de texto. A decoração da sala deve ser sugestiva e variar com certa frequência: fotos, pôsteres, trabalhos, mapas, etc., que se empregam nas classes para diferentes atividades.

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10. A AVALIAÇÃO É patente que os alunos estudam dependendo de como avaliam seus professores, isto é, colocam-se os meios para que os alunos aprendam aquilo do que mais tarde lhes será avaliado. Convém, portanto, apresentar na programação como vamos avaliar os objetivos didáticos a que nos propusemos e, depois, traçar as atividades de aprendizagem com as quais conseguiremos que os alunos superem as atividades de avaliação programadas. A avaliação formativa nos permite descobrir tanto os êxitos como as deficiências ou lacunas na aprendizagem dos alunos (consequentemente, também em nosso trabalho de mediação), e nos orienta para potenciá-los ou superá-las quanto antes, de modo que motivem ou não impeçam a aquisição e domínio de novas aprendizagens. As sessões de interavaliação (ou pré-avaliação), nas quais se constata se os alunos assimilaram os objetivos fundamentais previstos para cada avaliação, respondem plenamente a esse caráter formativo para os alunos e professores e informativo para os pais. Para podê-las realizar, é imprescindível ter bem definidos os objetivos fundamentais e os individuais, e elaborados alguns programas de aprendizagem que se adaptem ao tempo de que se dispõe. A avaliação não se refere unicamente aos conhecimentos, mas também à aquisição de hábitos e de técnicas de trabalho, isto é, ao grau de desenvolvimento das habilidades intelectuais e de interiorização dos valores. É patente que o desenvolvimento cognitivo e moral não se pode medir com a mesma objetividade com que se medem os conhecimentos que se retiveram em um determinado momento. Não se mede também com objetividade a importância do valor qualitativo que têm os progressos que os alunos alcançam em seu desenvolvimento pessoal. A observação sistemática do comportamento e trabalho dos alunos em diferentes situações da vida escolar é a ferramenta mais apta para a avaliação desses aspectos. Vale a pena destacar o caráter preventivo da avaliação. Uma dificuldade para a aprendizagem diagnosticada e tratada oportunamente costuma ser superada satisfatoriamente em um prazo de tempo razoável. Não se deve empregar a avaliação do rendimento acadêmico dos alunos como uma “arma de poder” para manter a disciplina na sala. Não tem sentido que a conduta incorreta de um aluno modifique a qualificação que merece por sua aprendizagem. Isto não quer dizer que os comportamentos negativos não necessitem de correção, mas que esta se realiza de outras formas.

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11. USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS A incidência das novas tecnologias, em especial a informática, na sociedade atual, manifesta a necessidade de que os alunos entrem em contato com os computadores (tablets, etc.) de um modo adequado, dentro da sistematização de um programa educativo. O uso do computador favorece:     

 

a aprendizagem autônoma; a realização de atividades de reforço e aprofundamento; a integração entre iguais; o trabalho em equipe, com autonomia sobre o professor; a autocorreção e a correção compartilhada (ambas facilitam a descoberta do valor positivo do erro como meio de avançar na aprendizagem); o respeito ao ritmo pessoal de aprendizagem; a preparação do aluno para ser usuário crítico.

12. ATITUDE POSITIVA. DESENVOLVIMENTO DA SEGURANÇA E AUTOESTIMA DOS ALUNOS O professor deve tratar sempre seus alunos com uma atitude positiva: a) reconhecer o esforço e os êxitos obtidos; b) estimular informando o que está bem feito e o que se pode fazer melhor; c) animar para que construam uma imagem real e positiva de si mesmos e reforcem os sentimentos de eficácia e segurança. A autoestima – valor que uma pessoa dá a si mesma – depende, em boa medida, do conceito que tenham as pessoas que estão ao redor do estudante (pais, familiares e professores). Quando o aluno se sente estimado, propõe metas mais realistas, aceita os demais como são, aprende com maior eficiência e aplica sua criatividade nas novas situações que lhe são apresentadas. Não se trata de elogiar por elogiar, sem moderação nem motivo. Reconhecer o positivo de uma pessoa ou de seu trabalho ajuda-a a sentir-se bem com ela mesma e a motiva a aceitar o esforço que uma aprendizagem requer, já que está segura de suas capacidades. O elogio excessivo e sem propósito costuma provocar que a motivação das ações do aluno deixe de ser interna, para passar a ser por uma recompensa externa,

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em forma de elogio, com o que a satisfação de ser capaz de fazer algo bem feito e de tê-lo feito passaria para um segundo momento.

13. O RESPEITO AO RITMO PESSOAL DE APRENDIZAGEM O domínio de um conteúdo de aprendizagem requer tempo, que difere de acordo com o ritmo pessoal. A aprendizagem tem um caráter progressivo. Convém prever estratégias metodológicas que tornem possível que o tempo designado para a aprendizagem seja, na maior medida possível, um tempo ocupado em aprender. A distribuição do tempo de ensino e aprendizagem de cada período de avaliação deve contemplar que um aluno possa dedicar, se o necessita, todo seu tempo de aprendizagem a dominar os objetivos fundamentais programados. Do mesmo modo, os alunos que conseguem assimilar rapidamente os objetivos fundamentais necessitam dispor de tempo na sala para alcançar o maior número de objetivos individuais de que sejam capazes. O exercício mais amplo possível – abordado a partir do trabalho das diferentes áreas de aprendizagem –, orientado pelo professor, que aumenta a dificuldade na medida em que o aluno tenha possibilidades de superar com sucesso as tarefas que lhe são propostas, é o caminho mais eficaz para o desenvolvimento das habilidades mentais. No horário escolar, além dos tempos dedicados tradicionalmente a tal ou qual matéria, deve haver tempo para brincar e para a vida espontânea e pessoal dos alunos. É preciso um tempo para pensar, falar e agir sobre temas e atividades situados fora das matérias do currículo escolar: sobre a vida, o que o diverte ou o que lhes custa, sobre o que se trabalhou na sala durante um período de tempo, sobre o andamento das Ações Incidentais e o Plano de Formação; sobre a próxima excursão, passeio cultural ou festa que se vai realizar.

14. O JOGO COMO UM RECURSO DIDÁTICO A atividade lúdica é um recurso especialmente adequado nesta etapa educativa. É necessário romper a aparente oposição entre jogo e trabalho, considerando este como esforço para aprender e aquele como diversão ociosa. Em muitas ocasiões as atividades de ensino/aprendizagem terão um caráter lúdico e em outras exigirá dos alunos um maior grau de esforço, mas, em ambos os casos, deverão ser motivadoras e gratificantes, condição indispensável para que os estudantes constituam suas aprendizagens. Os jogos com regras são um poderoso instrumento para a resolução de problemas, pois motivam os alunos, desenvolvem a criatividade, o raciocínio lógico, preparam os estudantes para a construção e para o estudo dos modelos matemáticos e da aplicação a situações concretas da vida real. 72 Solar Colégios


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Os jogos de estratégia favorecem o desenvolvimento das habilidades de resolução de problemas e constituem um poderoso instrumento metodológico nas mãos dos professores. Torna possível que os alunos pesquisem novas técnicas na resolução de problemas, empregando estratégias específicas, tais como entender bem a regras do jogo (ler bem o problema e identificá-lo), explorar diferentes possibilidades permitidas pelas regras, planejar e realizar estratégias com um fim previsto, comprovar os resultados da estratégia empregada. Além disso, proporcionam ocasião de buscar analogias, regularidades, habituam os alunos a processos de reflexão e de análise da reflexão dos outros, etc. Os jogos quebram a rotina dos exercícios mecânicos – demasiadamente utilizados no ensino – proporcionando maior motivação e estímulo. Colaboram no desenvolvimento moral das crianças, ao proporcionar ocasiões de conhecer as próprias habilidades e limitações, de respeitar as regras, aprender a ganhar e a perder, a reconhecer os sucessos dos companheiros, a trabalhar em equipe, etc.

15. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Pretende-se despertar no aluno um interesse pelo meio ambiente que se traduza numa atuação responsável e coerente com o mesmo. Através de experiências na sala ou nos laboratórios, de atividades na “Sala da Natureza”, dos passeios de observação sistemática e das convivências de pesquisa (convivências em um ambiente natural, quando se trabalha um tema específico, globalizando as diferentes perspectivas das áreas do currículo), os alunos descobrem os recursos que o próprio ambiente oferece como lugar de aprendizagem onde observar, experimentar e pesquisar o meio ambiente e suas relações com o ser humano.

B. SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM

1. Situações de aprendizagem comuns a toda etapa do Ensino Fundamental I A. Organização da sala de aula em Zonas de trabalho A organização da sala de aula em zonas de trabalho (ou atividades) consiste em circunscrever espaços dentro da sala onde os alunos realizarão atividades de aprendizagem. As atividades programadas para as zonas de trabalho devem ser atividades de investigação, experimentação e manipulação de objetos, enfatizando assim a aprendizagem por descoberta e o desenvolvimento de habilidades. As três 73 Solar Colégios


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áreas que realizam atividades em zonas de trabalho são Português, Matemática e Conhecimento do Meio, mas no 1º e 2º anos deve haver também uma zona de Artes. Outras possíveis zonas de trabalho são Jogos e Computação. As atividades propostas podem ser individuais ou em grupo. Não se realizam nas zonas de trabalho atividades de reforço ou ampliação, pois estas podem ser realizadas numa organização tradicional da sala de aula. Os objetivos gerais que se pretendem alcançar são: assimilação de novos conhecimentos por meio de descobertas (experimentação e manipulação de materiais), desenvolvimento de destrezas e habilidades de pensamento (capacidade de observação, orientação espaço-temporal, lateralidade, coordenação motora, destreza manual, capacidade de análise, classificação, cálculo, etc.) e aquisição de bons hábitos (autonomia, ordem, cooperação, responsabilidade, generosidade). A organização da sala em zonas de trabalho permite que os alunos trabalhem, sozinhos ou em grupos, com autonomia. O professor, por sua vez, circula pela sala e observa os alunos desenvolvendo suas atividades. Isso facilita a atenção pessoal que o professor pode dar a cada aluno. É aconselhável que seja o PEC quem acompanhe os alunos nas zonas de trabalho. Portanto, ele deve ser o professor de Português, Matemática e Conhecimento do Meio da sala.

Distribuição das zonas dentro da sala de aula Facilitam a distribuição das equipes e do trabalho que na sala existam quatro zonas de trabalho, sendo três fixas (Português, Matemática e Conhecimento do Meio) e uma que irá mudando ao longo do ano letivo (Educação Artística, Computação, Inglês, Jogos, etc.). O mobiliário se distribui no espaço disponível de forma que as zonas fiquem demarcadas. Deve-se notar a clara distinção entre as zonas pelos materiais, cartazes e objetos que apresentam. Os armários que se utilizam para separar uma zona da outra devem medir no máximo 1 m de altura. Devem ser planejados para que todos os materiais estejam à vista e ao alcance dos alunos. Convém posicionar de forma contígua as zonas de trabalho que inter-relacionam atividades. Os alunos devem saber utilizar todos os materiais presentes numa zona. Ao introduzir um material novo na zona é preciso mostrar aos alunos e explicar como se utiliza. Isso garante a autonomia e iniciativa do trabalho dos alunos. 74 Solar Colégios


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Programação das atividades para as zonas de trabalho A programação das zonas é quinzenal. Também a decoração da zona pode variar a cada quinzena, acompanhando a mudança de atividades. A preparação do trabalho em zonas exige muita atenção por parte do professor. É necessário programar com antecedência as atividades e preparar o material que poderá ser usado. Logicamente isso não inviabiliza que, com flexibilidade, o professor inclua temas ocasionais que lhe pareçam pertinentes. Na programação das atividades deve-se distinguir entre atividade obrigatória e opcional. A primeira é dita obrigatória porque será realizada por todos os alunos e está relacionada aos objetivos fundamentais (OF), que devem ser atingidos por todos. A segunda é dita opcional porque está relacionada aos objetivos individuais (OI) e atende ao desenvolvimento acadêmico e interesse de cada aluno em particular. O fato de existirem atividades obrigatórias não significa que devam estar presentes sempre. Pode acontecer que em uma zona, todas as atividades sejam opcionais, e os alunos elegerão o que preferirem. O importante é que, ao programar as atividades, o professor tenha claro quais objetivos pretende atingir. As zonas funcionam simultaneamente, isso quer dizer que numa mesma aula cada grupo estará trabalhando em uma zona distinta. Uma experiência positiva é dedicar duas tardes para o trabalho em zonas. Como o tempo de trabalho em zonas é um tempo de trabalho da área, não é preciso um acréscimo no horário de aulas. Em uma semana, as quatro equipes passarão por todas as zonas. Como habitualmente as aulas são de 50 minutos, é possível planejar as atividades de forma que permita o rodízio. O tempo de duração de cada atividade pode ser marcado tanto pelo professor quanto pelo aluno, segundo sua capacidade de realização. Outra experiência positiva é, no momento de efetuar o rodízio, alternar Português com Artes e Matemática com Conhecimento do Meio. A ideia seria equilibrar atividades mais exigentes do ponto de vista cognitivo com atividades mais manipulativas ou lúdicas. Ao final da quinzena cada grupo terá passado duas vezes por cada zona. Com flexibilidade, é possível estruturar o rodízio de outra forma. Por exemplo, que os grupos permaneçam a aula inteira (os 50 minutos) numa mesma zona. Nesse caso, o rodízio é feito de uma aula para outra, de forma que ao final da quinzena cada grupo terá passado uma vez por cada zona. Tudo sempre dependerá do objetivo do professor ao planejar o trabalho das zonas.

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Avaliação do trabalho nas zonas O controle do trabalho realizado na zona é fácil de ser feito, já que muitas vezes as atividades ficam registradas no caderno do aluno. Ao propor as atividades, o professor pode utilizar as propostas do livro didático como também criar atividades originais. Convém organizar uma planilha onde se registrem as atividades feitas por cada aluno e o modo como foram feitas. Outra ação interessante é manter um fichário com as atividades realizadas de forma a construir um banco de ideias para ser usado e aperfeiçoado nos anos posteriores. Nas zonas de trabalho a avaliação é formativa. É interessante perceber se o aluno vai atingido os objetivos propostos para essa situação de aprendizagem: assimilação de novos conhecimentos por meio de descobertas, desenvolvimento de destrezas e habilidades de pensamento e aquisição de bons hábitos.

A biblioteca da zona de trabalho Ela é complementária à biblioteca da sala de aula (ou do colégio). Deve ser montada de acordo com o tema trabalhado na quinzena. Ao terminar a unidade didática quinzenal, os livros são devolvidos à biblioteca da sala (ou do colégio) e trocados por outros livros relacionados com o novo tema quinzenal. Alguns livros de consulta geral, relacionados com a área da zona, podem ser fixos na biblioteca, tais como enciclopédias, dicionários, vida animal, paisagens, etc. A estante de livros deve ser planejada de maneira que facilite o acesso dos alunos. Os recursos materiais nas distintas zonas de trabalho Os materiais necessários para a realização das atividades propostas para a quinzena devem estar ao alcance dos alunos. Convém que sejam simples, de baixo custo, fáceis de conseguir ou de elaborar. Além disso, cada zona contará com materiais básicos para a realização das atividades: papel, cartolina, cola, massa de modelar, tesoura, lápis de cor, tinta, etc. O material deve estar ao alcance dos alunos. Um aluno pode ser encarregado de zelar pela ordem do material e ajudar na distribuição do mesmo durante a atividade. Na zona de Português, nos anos iniciais, podemos oferecer:   

Livros de leitura Fichas de exercícios de escrita ou caligrafia Confecção de murais

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        

Jogos de palavras cruzadas CD de histórias Pequeno quadro imantado ou branco (para ditados) Jogos de palavras (formar sílabas, palavras, frases, etc.) Um banco de poesias, adivinhações e trava-línguas Fichas de ortografia Obras de teatro (para que os alunos encenem) Exemplos de caligrafia Exemplos de composição escrita

Na zona de Matemática, podemos oferecer:            

Réguas Ábacos Potes de materiais como: botões, bolas de gude, etc. Dominó de números Jogo de damas Tangram Jogo de três em raia Jogos matemáticos Jogos de números Jogos de compra e venda (manejar dinheiro) Fichas ou cadernos de cálculo Pequeno quadro branco ou imantado

Na zona de Conhecimento do Meio, podemos oferecer:         

Terrários Vasos para plantas Pacotinhos de sementes Aquários Quebra cabeças de paisagens Filmes sobre a vida animal ou sobre a natureza Fichas de animais e vegetais Instrumentos de medição (termômetro de ambiente, barômetro, bússola, etc.) Mapas cartográficos

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Na zona de Educação Artística, podemos oferecer:        

Pinceis Vários tipos de papeis Vários tipos de tintas Massa de modelar, plastilina Cavalete para pintura CD de músicas Lã, ráfia, barbante Jogos de construção

B. Visitas culturais A visita cultural é uma situação de aprendizagem para todas as áreas, não somente para a área de Conhecimento do Meio, como se poderia supor ao princípio. A propósito de uma visita cultural, os alunos podem efetuar medições, quantificar dados, classificar, fazer gráficos, descrever, relatar, narrar, assimilar um vocabulário específico, desenhar, dramatizar, etc. Sempre que seja possível, as visitas culturais estarão relacionadas com os conteúdos das unidades didáticas trabalhadas. Assim, os alunos poderão atualizar seus conhecimentos e estarão mais motivados. Deve-se realizar um mínimo de uma visita cultural por trimestre, se o sistema de avaliação for trimestral. Se for bimestral, deve-se programar uma saída cultural por bimestre. É uma boa experiência guardar os trabalhos realizados pelos alunos (descrições, desenhos, fotografias) em uma pasta que passa a formar parte da biblioteca da sala de aula. Com finalidades similares às saídas de observação, as visitas culturais se diferenciam destas por ampliar o campo de observação para além das proximidades do colégio. Costumam ocupar toda uma jornada escolar. O plano de visitas culturais realiza-se no princípio do ano, procurando que não se repitam lugares visitados pelo mesmo grupo de alunos em anos anteriores. Lugares apropriados para receber uma visita cultural são: Corpo de bombeiros, um aeroporto, uma estação de tratamento de água, museus, sala de concertos, feiras artesanais, emissoras de TV, estufas, zoológicos, jardim botânico, monumentos históricos, parques públicos, etc.

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C. Uso da tecnologia Em um local na sala instalam-se um ou dois computadores com programas educativos, além de uma impressora. Os alunos trabalharão em grupos de dois ou três alunos. Os alunos devem ver e utilizar o computador como uma ferramenta a mais no processo de aprendizagem. É importante que o trabalho seja autônomo, que não requeira grande atenção por parte do professor, ainda que este deva estar atento e disponível para os alunos. Os objetivos do uso do computador na sala de aula são de ajuda ou apoio a:       

    

Leitura e escrita Cálculo Conhecimento de cultura, tradições culturais, ambientes naturais, etc. Criatividade Autoconfiança Autoavaliação Aprendizagem de outro idioma O uso do computador em sala de aula favorece: A aprendizagem autônoma O trabalho em equipe, com autonomia em relação ao adulto A autocorreção e a correção recíproca O desenvolvimento da motricidade manual, da atenção discriminativa, da estruturação espacial e do pensamento simbólico estruturado O descobrimento significativo da linguagem escrita

2. Situações de aprendizagens específicas anos iniciais do Fundamental I Os primeiros anos do Projeto Snipe apresentam uma continuidade metodológica com o Projeto Optimist. A intenção pedagógica é aproveitar o final do período mais favorável para a correta configuração cerebral. Isso garante também que a transição do aluno da Educação Infantil para o Ensino Fundamental ocorra de um modo suave e gradativo.

A. O programa neuromotor: reforço dos padrões básicos de movimento Como sabemos o padrão motor consiste na combinação de movimentos organizados, segundo uma disposição espaço-temporal concreta, e constitui a base ou fundamento de uma habilidade motora. Assim, os padrões de movimento podem 79 Solar Colégios


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compreender - desde combinações motoras simples - até sequências corporais muito estruturadas e complexas. Os padrões motores básicos, ou fundamentais, são aqueles que correspondem à motricidade humana natural, sem aprendizagens específicas, uma vez atingidos os respectivos níveis de amadurecimento orgânico. Contudo, somente através da prática e do treinamento serão adequadamente desenvolvidos e se tornarão eficazes. Os padrões básicos da motricidade humana têm seu momento privilegiado de desenvolvimento justamente até os 7 ou 8 anos. A organização dos movimentos integrados a esses padrões, assim como a estimulação sensorial que os acompanha, são elementos imprescindíveis para o processo de organização funcional neurológica, de forma que o desenvolvimento motor encontra-se na base do desenvolvimento intelectual das crianças. Os padrões básicos de movimento reforçados nos primeiros anos do Ensino Fundamental são: engatinhar, caminhar (padrão cruzado), marchar, correr, dar cambalhotas, rolar, braquiação, saltar, pendurar-se, balançar-se, girar, lançar, bater a bola, receber, equilibrar-se. Organização e estrutura dos circuitos neuromotor Os movimentos descritos se realizam integrados a um circuito neuromotor. É interessante integrar os diferentes exercícios em um circuito porque se tornam mais atraentes para o aluno e facilitam o trabalho do professor. Os circuitos serão compostos de três ou quatro estações. Em cada estação se exercita um padrão de movimento. Os alunos ficarão distribuídos em tantos grupos, quantas forem as estações planejadas. Os alunos passarão por todas as estações. A experiência recomenda que o professor dedique mais atenção a uma estação por dia, para que possa corrigir os movimentos que não se ajustam ao padrão. Os diferentes exercícios serão realizados de maneira gradual. Os exercícios serão mais difíceis para algumas crianças do que para outras. As dificuldades devem ser planejadas, ou detectadas, de maneira a evitar situações de incapacidade. É de grande eficácia educativa manifestar aprovação sincera, mediante um sorriso, palavras de felicitação, etc. Os exercícios propostos devem ser encarados pelos alunos e pelo professor com uma atitude lúdica e positiva, portanto, sem reprovações. Se um aluno não executa corretamente um exercício, o professor indicará a ele o que não foi bem feito,

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animando-o e mostrando-lhe o exercício bem feito por outro colega ou orientando seus movimentos. Durante toda a Educação Infantil, os alunos exploraram o ambiente de maneira natural, global e espontânea. Paulatinamente, através dos circuitos neuromotor, foram ajudados na elaboração dos padrões motores elementares. A partir de agora, no entanto, se buscará uma progressiva consciência das ações motoras segmentárias e uma coordenação global dos padrões mais eficaz. Além disso, se buscará uma melhor utilização funcional dos padrões, através da progressiva exigência de sua adequação espaço-temporal. Continua sendo importante dirigir a atenção dos alunos para os aspectos perceptivos do movimento. É fundamental desenvolver a capacidade de percepção própria e do ambiente, num contexto dinâmico, utilizando para isso os padrões motores básicos. Isso acontece nos exercícios propostos, nas tarefas jogadas e nos jogos de baixa organização. O jogo e as tarefas jogadas facilitam a exploração e experimentação dos movimentos; permitem ao aluno descobrir novas possibilidades, selecionar movimentos eficazes e melhorar o desempenho pessoal. O programa neuromotor, nos primeiros anos no Ensino Fundamental I, está integrado à área de Educação Física. O circuito neuromotor é realizado três dias na semana, durante 30 minutos. Nos outros dois dias ocorre a aula de Educação Física, que inclui também o trabalho com os padrões motores.

Descrição da execução dos distintos padrões que são reforçados nos anos iniciais do Projeto Snipe, com indicação do grau de dificuldade básico Engatinhar: o movimento deve ser em esquema cruzado, desenvolto e rítmico: - quando a mão direita se move para frente, a perna esquerda também se move para frente. Quando isto ocorre, o olhar se dirige para a mão que se moveu para frente. - o engatinhar em esquema cruzado continua com a fase oposta, quando a mão esquerda e a perna direita se movem para frente, o olhar (e não a cabeça) se dirige para a mão que se moveu para frente. - a palma da mão deve estar plana e voltada para baixo e com os dedos voltados para frente. Para ter êxito devem ser cumpridos os seguintes requisitos: 81 Solar Colégios


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1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Avançar em esquema cruzado preciso. Avançar com os joelhos separados à distância de um palmo da mão da criança. Avançar com ritmo desenvolto. Avançar com os dedos estendidos para frente. Avançar, arrastando a parte de cima dos pés no chão. Avançar, movendo perna direita e mão esquerda e vice-versa. Avançar, dirigindo o olhar para a mão que está à frente.

Para que o movimento incida no crescimento e na configuração neuronal, deve ser exercitado durante mais de 7 minutos seguidos a cada vez. Sugere-se: engatinhar em qualquer direção e sentido e a qualquer velocidade. Engatinhar junto a um colega ou em perseguição ou em competição. Caminhar (em padrão cruzado): a marcha se realiza, apoiando o pé, do calcanhar até os dedos. As mãos balançam de modo sincronizado e alternado com as pernas. O padrão é cruzado. Para forçar esse padrão é interessante que o dedo indicador da mão direita aponte, com certa ênfase, para a ponta do pé esquerdo, dirigindo também o olhar e alternando o movimento direita/esquerda. A precisão e a coordenação são mais importantes que a velocidade – melhor será realizar o movimento devagar. O deslocamento deve ser feito, seguindo uma linha, por cima de uma passarela ou banco sueco. Sugere-se: caminhar com perfeição em qualquer velocidade e tamanho de passo; coordenar a marcha seguindo linhas de formas geométricas; caminhar seguindo o ritmo musical mudando de direção e sentido. Marchar: na marcha, a mão direita bate suavemente o joelho esquerdo, quando este está levantado, e do mesmo modo, a mão esquerda bate no joelho direito. Sugere-se: realizar o padrão correndo. Correr: a perna que impulsiona se estende rápida e completamente, para realizar bem sua ação. Para aumentar o comprimento do passo da corrida, o joelho da perna que não está apoiada no chão deve estar mais elevado. Os braços balançam próximos das costelas e estão flexionados no cotovelo em ângulo reto, opondo-se às pernas. O padrão é cruzado. O movimento deve ser realizado com ritmo, sem precipitações, dominando o corpo, evitando as tensões. Sugere-se: controlar a partida, a parada e a mudança de direção da corrida; ajustar a velocidade da corrida ao deslocamento de objetos (bolas, por exemplo) ou de outros colegas.

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Dar cambalhotas: executa-se apoiando as palmas das mãos no chão (para o impulso), apoiando a cabeça e deslizando sobre as costas, completamente encurvada, desde a nuca até o quadril. As pernas vão juntas e bem flexionadas. Os calcanhares se apoiam nos glúteos, para facilitar a posição final em pé. Pode ser praticada para frente e para trás. Sugere-se: realizar corretamente o padrão em uma superfície horizontal e terminar de pé. Rolar: deitado no chão, corpo esticado e braços ao longo do corpo, formando um todo que rola de lado, procurando não se desviar. Sugere-se: rolar com rapidez e com uma correta posição corporal em superfícies horizontais ou descendentes; alterar o sentido do rolamento sem alterar a posição corporal. Braquiação: consiste em se pendurar em uma escada horizontal, procurando passar, uma a uma, por todas as barras e voltar ao ponto de partida. Sugere-se: percorrer a escada inteira; efetuar giros pela mudança da posição das mãos, sem deslocamento. Saltar: consiste em um desprendimento do chão, como consequência da extensão rápida de uma ou ambas as pernas, deixando o corpo suspenso momentaneamente no ar. O padrão consta de quatro etapas: 1. A posição prévia de agachamento, na qual os braços devem ficar estendidos por trás do tronco. 2. O desprendimento da superfície de apoio, que se produz pela extensão das pernas e pés, junto com o movimento simultâneo dos braços, para frente e para cima. 3. A fase do voo, na qual ocorre o que se pretende com o salto: deslocamento do corpo em qualquer direção, lançar ou agarrar um objeto, manter um esquema rítmico etc. 4. A fase da queda, na qual se devem buscar boas condições de equilíbrio. Sugere-se: aperfeiçoar o padrão de saltos com pés juntos; saltar com os pés juntos distâncias superiores à própria estatura; saltar com os pés juntos em todas as direções; deslocar-se saltando com uma única perna. Pendurar-se: manter-se com o corpo suspenso (sem contato com o chão). Essa suspensão se realiza por meio das mãos, das pernas, ou de ambas, que se agarram a algum tipo de suporte. Sugere-se: elevar ambas as pernas, estendidas, para frente; resistir, sem soltarse, quando um colega puxa pelos pés. 83 Solar Colégios


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Balançar-se: deslocar o corpo de forma pendular, enquanto se está suspenso em algum lugar. O balanço pode ser para frente, para trás, ou lateral, e se produz, normalmente, com o auxílio do movimento simultâneo das duas pernas, ou se intensifica através dele. Sugere-se: balançar-se, sem o auxílio de ninguém, em todas as direções (para frente, para trás e lateralmente), aumentado a amplitude do movimento. Girar: é o movimento mediante o qual o corpo muda de orientação, por meio de uma rotação em torno de um eixo longitudinal. O giro pode adotar diferentes formas: 1. Giro sobre a parte anterior de um pé. Ocorre mediante a rotação rápida da cabeça na direção do giro, acompanhada pelo movimento dos braços. 2. Giro no ar. A mecânica de execução é praticamente a mesma, porém, se realiza durante a fase de voo num salto. 3. Giro sobre a ponta de um pé e o calcanhar do outro pé. Utiliza-se para mudar a direção ou sentido, durante a marcha, ou corrida. Sugere-se: girar sobre a ponta de um e outro pé, controlando a posição e o equilíbrio. Lançar: consiste em lançar um objeto no espaço, para que siga uma trajetória determinada. As formas mais comuns de lançamento são as que se realizam com a mão, ou com o pé. 1. Lançamento com uma mão por cima do ombro. É a forma mais natural de lançar. Na fase preparatória, o corpo está voltado para o lado do braço que lança, a perna contrária está à frente e o braço que lança está deslocado para trás e dobrado pelo cotovelo, quase em ângulo reto. O lançamento se produz mediante uma distorção do tronco, seguida do deslocamento horizontal do cotovelo para frente e da extensão do mesmo, dando um passo com o pé correspondente para frente, para equilibrar-se. 2. Lançamento com o pé. O padrão se inicia com um movimento para trás com a perna que executa o chute, com o joelho flexionado. Na ação do lançamento, a perna que chuta se desloca para frente e a perna de apoio se flexiona ligeiramente. O braço oposto à perna que chuta se opõe a esta, para equilibrar a posição do corpo. Sugere-se: realizar corretamente o padrão de lançamento por cima do ombro, estando parado; realizar corretamente o lançamento com o pé, estando parado; realizar lançamentos com alvos, com ambas as mãos. 84 Solar Colégios


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Bater a bola: consiste em impulsionar sucessivamente uma bola contra o chão. Quando se quica a bola próximo ao corpo, o impulso se realiza mediante um movimento de flexão-extensão do cotovelo, mantendo a mão imóvel. Para quicar a bola longe do corpo, durante uma corrida, o impulso se realiza com o movimento da mão (da munheca). Sugere-se: quicar e segurar a bola em distintas posições (em pé, ajoelhado, sentado, etc.); quicar várias vezes seguidas com uma única mão. Receber: trata-se de segurar (normalmente com as mãos) um objeto arremessado. Ao receber o objeto, os olhos devem permanecer abertos e seguir a trajetória do mesmo. Os braços se colocam arqueados à frente do corpo. As mãos ficam com as palmas meio de frente, uma para a outra. Os dedos polegares próximos e os demais para cima. As duas mãos entram em contato ao mesmo tempo com o objeto, para agarrá-lo e absorvem o seu impacto com um movimento de flexão dos cotovelos, aproximando o objeto do corpo. Sugere-se: receber com previsão bolas arremessadas; receber com as mãos bolas que rebotam. Equilibrar-se: o equilíbrio é a capacidade de manter o corpo em uma posição estática ou dinâmica, contra a força da gravidade. É um componente básico do movimento e constitui uma condição de toda ação motora eficiente. Esta habilidade fundamental deve ser desenvolvida juntamente com cada um dos padrões básicos, à medida que cada um deles o exija, nas suas distintas circunstâncias e formas de execução. Sugere-se: deslocar-se com soltura sobre bancos suecos invertidos; adotar distintas posições e efetuar vários movimentos apoiando-se sobre um único pé em cima de um banco sueco invertido; controlar o equilíbrio na realização dos padrões motores aprendidos.

B. Audições musicais O desenvolvimento da capacidade intelectual está associado ao desenvolvimento sensorial. Quanto mais exercitamos os diferentes sentidos, mais favorecemos o desenvolvimento global da inteligência e a capacidade para o aprendizado. Além das atividades de expressão musical incluídas na área de Educação Artística, programam-se para cada ano, as audições musicais. As audições musicais:  Desenvolvem o sentido auditivo;  Facilitam a aprendizagem de outros idiomas; 85 Solar Colégios


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  

Favorecem a capacidade de ouvir e a discriminação auditiva; Cultivam a sensibilidade estética do aluno e o gosto pela música; Criam um ambiente adequado para a interpretação musical, a expressão pessoal e a criatividade.

A audição musical é uma atividade diária, de 3 a 6 minutos de duração, que deve acontecer num ambiente de alegria e atenção. A mesma peça musical é usada durante uma quinzena. Antes de cada audição, o professor dirá a época de composição, o autor da peça, o nome da peça e o movimento e o ritmo. Por exemplo: vamos ouvir uma obra da época Barroca. O compositor chama-se Antonio Vivaldi. A peça chama-se As Quatro Estações: Primeiro concerto: A primavera. 1º Movimento – Allegro. O professor transmitirá essas informações aos alunos imediatamente antes de começar a audição. Enquanto os alunos se acomodam para a audição e o professor prepara o cd, é interessante comentar outras informações complementares, como dados biográficos sobre o autor, noções culturais, dados históricos referentes ao período de composição da obra, etc. Pode ser interessante utilizar bits dos retratos dos compositores, dos instrumentos musicais, etc. Estas novas informações ou brevíssimas explicações podem contribuir para uma participação ativa do aluno. Não se deve impedir que os alunos comentem informações sobre a audição que tenham aprendido nos dias anteriores. O que sim deve ser evitado é provocar situações de exame sobre a audição. Não se fazem avaliações diretas e imediatas sobre as audições. O professor apenas observa a atitude dos alunos. Os alunos podem acompanhar a música realizando algum movimento, mas em silêncio, sentados nos seus lugares. Não se devem programar as audições em momentos de relaxamento, por exemplo, após as refeições. É interessante garantir um bom nível de atenção para que esta situação de aprendizagem dê resultado. Nas reuniões periódicas do corpo docente, os professores devem avaliar e programar as audições musicais evitando qualquer tipo de improvisação. É aconselhável que cada equipe docente disponha do material suficiente: CD, bits, fichas com informações adicionais. Em alguma ocasião, pode-se alternar a audição pela projeção de um vídeo ou de um concerto. Organização e estrutura das audições musicais É interessante que, ao longo dos primeiros anos do fundamental, as audições musicais abarquem os distintos momentos da história da música e das diferentes 86 Solar Colégios


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formações musicais que se dão em cada época, de modo que os alunos possam captar o mais característico de cada uma delas e percebam suas diferenças. Com exemplos auditivos, pode-se conhecer a evolução da orquestra, nas variadas fases musicais e pode-se, ainda, ensinar o aluno a distinguir os instrumentos musicais pelo som. São especialmente indicados os concertos e as sonatas. Cabe ao professor explicar aos alunos as características dessas duas formações musicais. As aberturas servem para explicar aos alunos o que é uma ópera. Mais adiante, os alunos podem escutar uma pequena ária. Tem grande valor educativo a música sacra. Podem ser programadas audições de oratórios, réquiem e paixões. Esse tipo de música é ideal para que os alunos conheçam o que é um coro e as distintas vozes que o compõem. As três épocas musicais mais importantes são: a barroca, a clássica e a romântica. De cada uma delas convém programar audições de distintas formações, como orquestra, música de câmara, concertos, sonatas para diferentes instrumentos, aberturas, árias, música sacra. Também é preciso mencionar a época moderna, ainda que a maioria das obras dessa fase não é indicada para as audições nessa faixa etária.

Listagem dos principais compositores e peças mais indicadas para o trabalho nas séries iniciais A época barroca A maioria da música barroca é ideal para as audições musicais. Suas formas são simples e bonitas. Os compositores barrocos compuseram um amplo repertório para distintas formações musicais: concertos, sonatas, música de câmara, cantatas, oratórios, concerto grosso (concerti grossi). Os compositores selecionados da época barroca e suas obras são: Compositor Obra A. Vivaldi (1676-1714)

As quatro estações. A Primavera. 1º movimento

J. S. Bach (1658-1750)

Concerto para violino e orquestra. 2º movimento

G. F. Handel (1685-1759)

Música aquática n. 10. Allegro

G.P. Telemann (1681-1767)

Concerto para flauta doce. 1º movimento

G. F. Handel (1685-1759)

Concerto para Harpa. 1º movimento Andante-allegro

J. S. Bach (1658-1750)

Oratório de Natal. 1º dia. n. 1

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A. Vivaldi (1676-1714)

Gloria. Primeira parte: gloria

G. Torelli (1658-1709)

Concerto para trompete. 3º movimento. Allegro

G. B. Pergolessi (1710-1736)

Concerto. Harmônico n.1. 2º movimento. Allegro

A. Corelli (1653-1713)

Concerto Grosso n. 1. 4º movimento. Allegro

D. Scarlatti (1685-1757)

Sonata para piano

G. P. Telemann (1681-1767)

Concerto. Polaco. 1º movimento. 2ª parte. Allegro

A época clássica Também nessa época encontramos muitos fragmentos que servem para as audições musicais. Os compositores clássicos descobrem a sinfonia. Continua a produção de sonatas, música de câmara, concertos e música sacra. Os compositores sugeridos são: Compositor Obra L. Boccherini (1743-1805)

Música noturna de Madri. Pasacalle. Allegro

H. Haydn (1723-1809)

Sinfonia 100 “ A militar”. 4º movimento. Allegro

C. W. Gluck (1714-1787)

Orfeu e Eurídice. Dança das fúrias

L. Mozart (1719-1787)

Sinfonia dos brinquedos n. 4. Minueto

W. A. Mozart (1756-1791)

Pequena serenata noturna n. 4. Rondo Allegro

W. A. Mozart (1756-1791)

Sinfonia 40. 1º movimento. Molto allegro

L. V. Beethoven (1770-1827)

Sinfonia 5. 1º movimento. Allegro con brio

L. V. Beethoven (1770-1827)

Sinfonia 6. 4º movimento. Allegro “A tempestade”

A época romântica Existe uma clara diferença entre a primeira e a segunda fase do romantismo. A maioria das obras da primeira fase é adequada para a audição musical infantil. Já as da segunda fase são mais difíceis de entender e não convém que sejam trabalhadas nessa faixa etária. Destacam-se as obras para orquestras, para a música de câmara, concertos e aberturas. Os compositores sugeridos são:

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Compositor

Obra

F. Mendelsohn (1809-1847)

Sinfonia 4 “italiana”. 1º movimento. Allegro

F. Chopin (1810-1849)

Valsa em ré bemol

F. Schubert (1797- 1828)

Quinteto em lá maior. “A truta”. 4º movimento

P. Tchaikovsky (1840-1893)

Quebra-nozes. chumbo

A. Dvorak (1814-1904)

Sinfonia 9 “o novo mundo”. 1º movimento

E. Grieg (1843-1907)

Suíte “Peer Gynt”

J. Brahms (1833-1897)

Concerto para violino. 4º movimento. Allegro

Marcha

dos

soldadinhos

de

giocoso G. Bizet (1839-1875)

“Carmem”. Prelúdio

C. Saint-Saëns (1835-1921)

Carnaval dos animais n. 7. Aquarium

R. Wagner (1813-1883)

A valquíria. Cavalgada das valquírias

M. Mussorgsky (1839-1881)

Uma noite no monte Calvo

Rimsky-Korsakov (1844-1908)

Capricho espanhol

A época moderna Os compositores sugeridos são: Compositor

Obra

I. Stravinsky (1892-1917)

O pássaro de fogo

X. Benguerel (1931-

Música reservada

)

E. Granados (1867- 1916)

Goyescas. Intermezzo

M. de Falla (1876-1946)

O amor bruxo. Dança do fim do dia

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Sugestão de fichas de apoio para as audições musicais. Essas fichas podem ser guardadas num fichário na sala de aula. Podem também ser fichas organizadas no computador, de forma que vários professores tenham acesso. Tudo dependerá de como a equipe pedagógica queira se organizar. Época: Romântica Compositor: Piotr Ilich Tchaikovsky (1840-1893) Audição: Suíte do Balé Quebra-nozes. Marcha dos soldadinhos de chumbo Versão:________ CD:_______ Faixa:_______ Duração: 2’25’’ Temos o bit do compositor: sim ( ) não ( )

Informação Adicional A - Biografia Tchaikovsky nasceu em Votkinsk, na Rússia no ano de 1840. Tchaikovsky começou a estudar piano aos cinco anos de idade. Logo se mostrou como um precoce talento para a música. Seus pais, no entanto, queriam que o filho fosse advogado. Tchaikovsky cursou a carreira de Direito, mas não chegou a terminála. Dedicou-se inteiramente à música. Foi professor de Teoria musical no Conservatório de Moscou e escreveu sinfonias, concertos, óperas e balés. Suas obras mais conhecidas são: O lago dos cisnes, A bela adormecida, O Quebra nozes, Abertura Romeu e Julieta, Abertura 1812. B – Musical Balé: composição musical em que os bailarinos expressam pensamentos e sentimentos através da dança. Na audição ouvimos uma autêntica marcha militar. Os soldados estão alinhados e começa o desfile. É fácil ouvir os soldados desfilando ao ritmo do tema principal, que vai se repetindo muitas vezes, ao som dos instrumentos de sopro, acompanhados por violinos que parecem vir atrás empurrando o desfile.

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C. Passeios de aprendizagem Passear aprendendo e aprender passeando, poderia ser uma descrição resumida desta situação de aprendizagem, que consiste em realizar um breve passeio diário pelo colégio, exteriores, jardins etc. Tal atividade oferece várias oportunidades de aprendizagem para os alunos e a possibilidade de melhorar o grau de empatia entre o professor e os alunos. Com os passeios rompe-se a barreira das paredes da sala de aula para sair à natureza e aprender diretamente dela, em um clima de alegria e tranquilidade. A aprendizagem por meio do passeio pode ser dividida em três momentos: a) Em primeiro lugar, indicar o motivo do passeio (vamos dar um passeio para...). Ao preparar a turma para o passeio, é importante recordar as normas básicas de comportamento a serem respeitadas, ressaltando alguns aspectos como: ficar perto do professor, percorrer o caminho sem gritar, não incomodar as outras salas de aula durante o percurso. Nos primeiros meses é importante que os alunos adquiram esses hábitos de ordem e atenção, que permitirão obter maior rendimento dessa estratégia de aprendizagem. b) Em segundo lugar, a realização do passeio, que permite observar a espontaneidade dos alunos e incentivar atitudes positivas perante novas aprendizagens. c) Em terceiro lugar, ao retornar à sala de aula, os alunos podem realizar durante alguns dias diversas atividades relacionadas com o passeio. O passeio é realizado diariamente, com hora fixa para o início, sempre a mesma, e com duração de, no máximo, 15 minutos. O mesmo passeio é realizado durante 2 semanas. Na primeira semana, o professor irá nomeando os objetos. Na segunda semana, o professor ampliará a informação. Desse modo conseguimos que os alunos desenvolvam a curiosidade intelectual, a capacidade de observação e análise, ao mesmo tempo em que enriquecem notavelmente o vocabulário. Em cada passeio, além dos nomes dos objetos, transmite-se também algum conceito básico (por exemplo, é diferente de..., está acima..., junto a...). Para cada passeio, trabalham-se no máximo três conceitos básicos diferentes. O percurso do passeio deve ser programado com antecedência e as paradas previstas estarão relacionadas com o vocabulário que se quer transmitir aos alunos. É importante que todos os alunos consigam ouvir o que o professor fala e visualizar o objeto indicado. Para isso, é conveniente que os alunos se organizem em volta do professor e - que este - fale alto e claro.

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Em cada parada, o professor indica o objeto e seu respectivo nome. Os nomes dos objetos devem ser precisos – não servem as generalizações (como árvore, por exemplo) – é necessário especificar (araucária, mangueira, jacarandá etc.). Os passeios incluirão de 10 a 15 nomes de objetos. Na segunda semana, esses nomes podem ser ampliados com características que permitam descrever, adequadamente, o objeto. A informação será transmitida, empregando-se sempre os mesmos termos. O vocabulário é determinado de acordo com o progresso de cada turma. Durante o passeio, não se fazem perguntas aos alunos sobre o vocabulário aprendido, mas não há inconveniente em que os alunos, espontaneamente, nomeiem os objetos observados. Em princípio, estão previstas quatro paradas durante o passeio. No entanto, esse número pode ser flexibilizado segundo as circunstâncias (espaço físico do colégio, número de alunos, etc.). Como mínimo, devem ser realizadas sempre duas paradas durante o passeio. Cada professor deve preparar uma programação anual de passeios, estabelecendo os percursos, o vocabulário e os conceitos básicos que serão transmitidos. Os percursos dos passeios variam de acordo com a faixa etária dos alunos. Para um melhor aproveitamento da atividade, quando as turmas ultrapassam o número de 30 alunos, é conveniente dividir em dois grupos. Enquanto um grupo realiza o passeio, o outro fará uma atividade em sala de aula. Também constitui uma boa experiência realizar, em alguns dias, além do passeio programado, um passeio em inglês. Nesse caso se construirá um percurso e vocabulário próprios. Outra experiência que costuma trazer bons resultados é programar mensalmente um passeio mais longo pelo colégio. Neste passeio se repassa o vocabulário de forma geral e se realiza alguma atividade, como observar coisas novas, etc.

Lista de possíveis conceitos básicos que podem ser trabalhados num passeio Acima

Metade

Abaixo

Centro

Através

Tantas

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Longe

Lado

Perto

Começando

Junto a

Outro

Dentro

Semelhante

Fora

Nem primeiro, nem último

No meio de

Nunca

Dentre

Debaixo

Algumas, mas poucas

Sempre

Poucas

Faz par com

Muitas

Tamanho mediano

Ao redor de

Direita

Em cima

Esquerda

Embaixo

Frente

Sobre

Atrás

Mais

Adiante

Menos

Aberto

Entre

Fechado

Inteiro

Cada

Mais perto

Separadas

Mais longe

Unidas

Vários

Igual

Esquina

Em ordem

Detrás

Terceiro

Fila

Isolado

Diferente

Em conjunto 93 Solar Colégios


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Depois

Alto

Quase

Baixo

Apresentamos dois exemplos de programação de um passeio de aprendizagem. As palavras em destaque (amarelo) são aquelas que serão acrescentadas na segunda semana. Nesse caso, começa-se com menos vocabulário e totalizam-se 10 palavras no final da segunda semana:

Programação A

Programação B

10 objetos

10 objetos

3 conceitos básicos

3 conceitos básicos

Parada 1

Parada 1

lugar: sala da diretora

lugar: secretaria

vocabulário: mesa de madeira

vocabulário: balcão de atendimento é de fórmica

conceito: em frente da janela vocabulário: telefone é de plástico conceito: está em cima da mesa

conceito: mais alto que a mesa vocabulário: máquina de xerox

Parada 2

Parada 2

lugar: sala da diretora

lugar: recepção

vocabulário: armário tem duas portas

vocabulário: tem duas poltronas e são de tecido.

conceito: em frente da mesa

vocabulário: mesa lateral conceito: ao lado do sofá

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Parada 3

Parada 3

lugar: sala da diretora

lugar: jardim

vocabulário: janela é de ferro

vocabulário: tem grama e um caminho de pedras

Parada 4 Parada 4

lugar: sala da diretora vocabulário: piso de cerâmica da cor cinza conceito: é liso

lugar: portão de entrada vocabulário: é de ferro da cor branca conceito: este é mais baixo que o muro

D. Os bits de inteligência Os bits de inteligência são unidades de informação apresentadas aos alunos na forma adequada ao seu momento evolutivo. O objetivo dessa técnica é aumentar a capacidade de reter informação e estruturar a base para a aquisição de conhecimentos sólidos. Os bits estimulam a inteligência, aumentam o vocabulário, melhoram a capacidade de atenção e desenvolvem a memória. Os bits de inteligência devem reunir as seguintes características: 1. Apresentar um único conteúdo: cada bit deve conter apenas um elemento. Nada serviria, por exemplo, um bit no qual aparecem vários animais, quando a intenção é mostrar apenas um. 2. Ter uma boa definição de imagem: o objeto deve ser identificado com clareza e sem equívoco, quer seja um desenho ou uma fotografia. 3. Conter uma informação correta: a informação que acompanha cada bit deve ser a mais exata possível, de interpretação unívoca. Por exemplo, um chimpanzé será apresentado como CHIMPANZÉ e não como um macaco.

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4. Ser novo, claro e grande: deve conter uma informação nova para o aluno, sem outros elementos que distraiam a atenção e no tamanho adequado para que se veja sem dificuldade. Cada coleção de bits contém 10 unidades (fichas). O tema de cada coleção é definido pela equipe docente, considerando as informações culturais que se queiram trabalhar com os alunos. As coleções podem ser confeccionadas pelos próprios professores ou compradas prontas. Material necessário para a confecção de bits de inteligência:     

Ficha de cartolina branca, com boa gramatura, de 30x30 cm. Fotografias ou desenhos com imagens bem definidas e grandes. As imagens devem ocupar pelo menos a metade da cartolina. Caneta hidrocor ponta grossa. Cola. Papel contact (outra possibilidade é plastificar os bits).

As imagens escolhidas são coladas na cartolina. É importante observar se há suficiente contraste entre a imagem e o fundo branco, para facilitar a visualização dos alunos. No verso da cartolina escrevem-se a identificação da imagem e as informações adicionais que se queira transmitir. Modo de passar os bits de inteligência A passagem dos bits sempre se faz num clima sereno. Os alunos devem estar em silêncio e atentos ao professor. A coleção que está sendo trabalhada é apresentada diariamente, duas vezes ao dia (manhã e tarde). Cada apresentação dura no máximo 2 minutos. A mesma coleção é trabalhada durante uma quinzena. Na segunda semana, quando os alunos normalmente já conhecem bem a coleção, pode-se mudar diariamente a ordem de apresentação dos bits. Ao iniciar a passagem dos bits, o professor sempre anuncia o tema da coleção. Em seguida, começa a apresentar os bits, um por vez, de forma rápida, ao mesmo tempo em que transmite com clareza uma das informações que se encontra no verso da cartolina. Nos primeiros três dias da primeira semana, transmite-se aos alunos apenas uma informação de cada bit. Nos dois dias restantes, acrescenta-se mais uma ou duas informações. Na segunda semana, podem-se acrescentar mais informações na medida em que se perceba que os alunos vão assimilando. Sempre que possível, convém que em cada sala de aula estejam arquivadas todas as coleções de bits que serão trabalhadas durante o ano. É uma boa experiência utilizar as coleções já trabalhadas em atividades nas zonas de trabalho. 96 Solar Colégios


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E. Atividades de linguagem: poesias, trava-línguas, adivinhações e canções Procura-se, por meio dessas atividades, variadas e frequentes, que os alunos adquiram uma articulação mais clara e desenvolvam a memória e a compreensão verbal. Poesias: sugere-se iniciar o dia recitando os versos de um poema e propondo sua memorização ao longo do dia. O professor deve saber de memória o poema ou os versos escolhidos. Deve recitar com o ritmo e modulação adequados. Repete-se o poema duas ou três vezes, sem explicações. Em seguida, o professor incentiva os alunos a que repitam as palavras ou trechos de que tenham gostado mais. Pouco a pouco, o professor ajuda a que todos, juntos, recordem o poema e o digam em voz alta. Por fim, o professor ajudará os alunos a descobrir o significado do poema. Pode haver outro momento, no final da manhã ou à tarde, quando se retoma essa atividade. É essencial evitar o cansaço e manter o interesse em aprender. A escolha do poema admite flexibilidade. Se forem poemas curtos, podem ser quinzenais. Se o poema for mais longo, o professor pode dividi-lo em duas etapas: na primeira semana, os alunos memorizam a primeira parte e na segunda semana, o restante. Os trava-línguas exercitam a musculatura buco-facial, ocasionando um melhor domínio da articulação. Isso repercute numa expressão oral mais rítmica, clara e rápida. Trabalha-se, ao menos, um trava-língua por quinzena. Primeiro, o professor o apresenta. Em seguida, os alunos aprendem frase por frase, para mais tarde uni-las. Começarão por dizê-lo devagar para depois dizê-lo com rapidez, ritmo e clareza. As adivinhações agradam muito aos alunos. É uma estratégia para desenvolver a compreensão e estabelecer relações entre conceitos. Para que isso seja assim, evitase uma simples memorização e trabalha-se o porquê da relação. Apresenta-se uma adivinhação por semana. Contudo, nada impede que o professor trabalhe mais do que uma, ou mesmo, volte a trabalhar adivinhações já conhecidas pelos alunos. Canções: cantar é um momento de prazer. Além disso, aprender a cantar é aprender a controlar a respiração. O melhor momento para cantar é pela manhã, pois reaviva a atividade mental e facilita o despertar da respiração, que normalmente é atenuado durante as horas de sono. A música também tem um componente relaxante. Os alunos cantam de pé, de frente para o professor, que dirige o canto. Antes de começar a cantar, os alunos devem realizar alguns exercícios vocais como aquecimento. Só então cantarão a música que estão aprendendo. Os alunos repetem a canção tanto em coro como individualmente. É uma experiência positiva que os pais saibam quais são as canções trabalhadas no colégio, para que possam cantar com os filhos em casa.

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3. Situações de aprendizagens específicas dos anos subsequentes do Fundamental I

A. Os Bits de Aprendizagem e os Campos Semânticos ou Famílias Os Bits de Aprendizagem Os Bits também são um meio para a aprendizagem nas diferentes áreas, em concreto, para transmitir conhecimentos pontuais. Nestes dois últimos ciclos pretende-se transmitir conhecimentos concretos e organizados aos alunos, com uma técnica diferente da exposição oral ou das quais estejam familiarizados. Trata-se de um apoio à assimilação dos conhecimentos previstos para cada matéria. O professor de cada matéria planeja e "passa" os bits em sua própria aula. Cada coleção é independente e pode constar de mais ou menos elementos, ainda que não convém que contenham mais de 8 ou 10. No caso das classes em que entrem vários professores, é necessário que exista uma certa coordenação, para que todos não passem sua coleção de bits ao mesmo tempo. Como por exemplo, para Linguagem pode-se confeccionar bits com letras, palavras ou frases que vão sendo assimiladas através do processo leitor. Podem ser muito úteis para palavras com dificuldades ortográficas. Também podem ser utilizados na Matemática para a aprendizagem das tabuadas de soma, subtração e multiplicação, como reforço do cálculo mental, com as formas geométricas etc. Para o Conhecimento de Mundo pode-se elaborar bits de notas musicais, pinturas famosas, músicos e artistas, para serem utilizados na área de Educação Artística. Os Campos semânticos ou Famílias As coleções de Bits de Aprendizagem, que tenham maior interesse para a aprendizagem de alguma área, podem ser trabalhadas com maior profundidade através da técnica dos Campos Semânticos ou Famílias. Trata-se simplesmente de apresentar todos os bits em um painel ou grande mural, que fique exposto na sala ou em alguma área durante outro período, com um título genérico (mamíferos domésticos, por exemplo). O professor nomeia uma vez ao dia cada uma das figuras, mencionando algumas características comuns e diferenciadoras. Outra possibilidade é a de confeccionar alguma coleção de minibits que contenham estas características, para que as crianças joguem com eles nas zonas de trabalho. Os campos semânticos serão trocados quando assimilados pelos alunos, ao juízo do professor.

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B. Desenvolvimento do pensamento estratégico através do xadrez A aprendizagem do jogo de xadrez envolve fatores intelectuais, de aprendizagem e de personalidade.  Intelectuais: desenvolve o raciocínio abstrato, a memória (sobretudo em relação às pautas lógicas) e a imaginação criativa.  Relacionados com a aprendizagem: o próprio treino da memória, fortalece a atenção e a concentração, assim como o hábito de organizar o próprio tempo e o próprio trabalho.  De personalidade: o Treina a capacidade de tomar decisões e de se responsabilizar por elas. Neste caso as decisões são tomadas baseando-se na reflexão e na análise das circunstâncias. o Desenvolve o desejo de superação. o Acostuma a perder o medo de enfrentar os problemas e a não se sentir retraído ante qualquer dificuldade. o Educa as qualidades desportivas: o jogo limpo, a análise dos fracassos para extrair conclusões positivas e o respeito ao oponente. O curso de xadrez desenvolve-se durante quatro anos consecutivos, do 3º ao 6º ano do Ensino Fundamental (Níveis I a IV). Serão dedicados 90 minutos quinzenais. Curricularmente está integrado à área de Matemática, como desenvolvimento do bloco de raciocínio lógico. Materiais:  Tabuleiro Mural Magnético (pode ser confeccionado em aula);  Um tabuleiro com peças para cada dois alunos;  Blocos de anotações de partidas. A partir do segundo nível, pode-se ir incorporando jogos de xadrez por computador, segundo seu grau de dificuldade (como o Chess-base ou o Fritz-2). Também interessa introduzir o relógio de jogo a partir do segundo nível.

C. As saídas de observação São deslocamentos curtos pelo entorno próximo ao colégio. Não necessitam da utilização de meios de transporte, nem outros preparativos fora do planejamento. Os conhecimentos e experiências são enriquecidos em grande medida com estas saídas.

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As saídas de observação são imprescindíveis para realizar um trabalho de investigação e para desenvolver as capacidades de observação e coleta de dados e informação. Devem ser realizadas duas saídas quinzenais (uma cada semana), centrando-se em aspectos diferentes em cada uma delas. Convém dedicar uma das saídas para observar uma série de coisas fora da quinzena, por exemplo, as mudanças produzidas nas plantas em cada estação, ou fenômenos ocasionais e imprevisíveis como, um temporal, um dia de vento..., que não podem ser planejados em tempo determinado, porém deve-se saber aproveitá-los.Nestas saídas, é importante que os alunos levem o caderno de campo e quando for preciso fazer coletas de amostras devem levar sacolas, potes, caixas, máquina fotográfica e todo material que for necessário. A duração da saída de observação será de 10 a 15 minutos, com exceção de quando o deslocamento, ou o percurso até o local de observação, seja maior que o habitual. As finalidades das saídas são:  contato direto com o ambiente à sua volta;  desenvolvimento da capacidade de observação, discriminação de formas, tamanhos, memorização...;  interiorização de atitudes positivas frente à natureza;  aumentar o vocabulário;  recolher dados e materiais;  praticar e melhorar hábitos de conduta;  observar a atitude ante a aprendizagem. Não podemos esquecer que os alunos devem aprender a observar. À medida que se familiarizem com esta técnica, os resultados de suas observações irão melhorando. É compreensível que, no início, não dirijam suas observações aos pontos que previmos, ou que não cheguem às conclusões que esperávamos. Podemos ajudálos oferecendo-lhes hipóteses, porém nunca os substituindo. É muito importante que se estabeleça uma comunicação fluida entre o professor e os alunos. Em muitas ocasiões, os dados e os materiais coletados nas saídas, serão trabalhados em aulas seguintes. Programação das saídas As saídas devem estar bem planejadas para que sejam úteis e aproveitadas pelos alunos. Na programação da saída se especificará:  o motivo da saída;  o lugar de observação ou itinerário a percorrer; 100 Solar Colégios


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    

os elementos nos quais se centrarão a observação; as perguntas para centrar a atenção e o interesse dos alunos; algumas hipóteses para que os alunos as comprovem; as amostras de materiais que devem recolher, se for o caso; o vocabulário a ser empregado: substantivos, adjetivos e verbos.

D. O Teatro O Programa de Teatro, integrado nas áreas de Língua portuguesa e Educação Artística, melhora, entre outros fatores, a dicção, a expressão oral e corporal, a soltura para falar em público, ao mesmo tempo em que aumenta a segurança pessoal e ajuda a superar inibições. Está previsto que se dedique a esta atividade uma hora semanal da área de Educação Artística (Dramatização) e uma hora quinzenal da área de Língua Portuguesa. Convém estimular, as peças teatrais ou grupos de teatro que podem ser apresentadas nas festas familiares, convivências, etc.

C. ORIENTAÇÕES PARA CADA ÁREA DE APRENDIZAGEM

1. Conhecimento do meio natural e social O primeiro aspecto a ser considerado é que a área de Conhecimento do Meio apresenta uma estreita relação com praticamente todas as demais. Na confecção dos questionários, na consulta de documentos, na elaboração de relatórios, é necessário recorrer à área de Português, por exemplo. Na elaboração e aplicação de estatísticas, gráficos ou escalas de quantificação, é necessário recorrer à área de Matemática. Os conteúdos de Educação Artística ou Educação Física podem complementar alguma atividade de Conhecimento do Meio ao oferecer experiências ou reflexões sobre o espaço e o movimento. O segundo aspecto a ser considerado é que os alunos dessa faixa etária encontram-se na fase do pensamento concreto, apoiando-se em impressões sensoriais (manipulações e experiências) e em representações (o realismo infantil). São capazes de relacionar ideias simples, mas chegar a uma definição geral, mais inclusiva, ainda é uma tarefa difícil. Apresentam um pensamento intuitivo apoiado em imagens. 101 Solar Colégios


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Por isso, ao tratar do Conhecimento do Meio, é interessante adotar uma metodologia globalizadora, que leve em consideração a inter-relação com os conteúdos das demais áreas e que integre as diversas aprendizagens, favorecendo a utilização da experiência pessoal do aluno como a aquisição de novas experiências. O aluno possui um conjunto de experiências e ideias sobre a realidade que o rodeia. Isso deve ser usado como ponto de partida para novas descobertas e aprendizagens. É preciso saber aproveitar essas experiências prévias para organizar a aprendizagem de forma que o aluno avance para conhecimentos mais complexos e elaborados. Portanto, um primeiro passo seria fazer uma avaliação inicial que proporcione dados sobre a situação em que se encontra o aluno nas questões que são o objeto de aprendizagem e assim definir o ponto de partida de cada aluno ou grupo de alunos. Essa avaliação pode ser realizada mediante uma observação sistemática (conversas, jogos e brincadeiras, etc.). As atividades propostas devem ser motivadoras de forma a estimular a curiosidade e promover uma atitude positiva e proativa em relação à aprendizagem. É interessante incentivar a aprendizagem por meio da descoberta, valendo-se do grau de curiosidade e do perfil questionador tão próprio dessa faixa etária. É interessante também ajudar que os alunos percebam que o ambiente que os rodeia é um lugar de aprendizagem. Para isso, é preciso ensinar a observar, investigar e analisar o meio ambiente e suas relações com o ser humano. Um exemplo disso são as saídas de observação (estudos do meio) e as visitas culturais, sempre em conexão com os programas de estudo, que despertam no aluno um interesse pelo meio ambiente, traduzindo-se em uma atuação responsável e coerente de respeito e preservação. A observação como técnica de coleta de informação, a subsequente organização e sistematização do que foi observado e a atividade experimental que habitua o aluno a indagar outras possíveis situações e a resolvê-las, constituem a base da atividade da área de Conhecimento do Meio.

Estudo do meio São deslocamentos curtos pelo entorno do colégio. Não é necessária a utilização de meios de transporte, nem outros preparativos além da própria programação. Os conhecimentos e experiências se enriquecem em grande medida com estas saídas.

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As saídas de observação são imprescindíveis para realizar um trabalho de pesquisa em sala e para desenvolver as capacidades de observação e coleta de dados e informações. Programam-se duas saídas de observação por quinzena (uma por semana), explorando em cada uma delas aspectos diferentes. Convém dedicar uma das saídas para observar as diferenças havidas durante a semana, como, por exemplo, as mudanças das árvores em decorrência da estação do ano, etc. É possível também explorar alguma circunstância ocasional como uma chuva. Nas saídas de observação os alunos devem levar um caderno de campo para efetuar os registros. Caso se preveja a coleta de material, levam-se os recipientes adequados, além da máquina fotográfica. O tempo previsto para uma saída de observação é de 15 a 20 minutos, salvo que se programe uma visita a algum lugar mais distante do entorno da escola. A finalidade das saídas de observação 1. Manter um contato direto com o meio ambiente. 2. Desenvolver a capacidade de observação, discriminação de formas e tamanhos, memorização e análise. 3. Interiorizar atitudes positivas em relação ao meio ambiente. 4. Aumentar o vocabulário. 5. Organizar dados e materiais. 6. Praticar e melhorar hábitos de conduta. 7. Observar a atitude do aluno frente ao aprendizado. É muito importante que se estabeleça uma comunicação fluida entre professor e alunos. Estes estão aprendendo a observar. À medida que vão se familiarizando com essa estratégia, a qualidade das observações e análises irá melhorando. O professor pode ajudar propondo hipóteses ou chamando a atenção para algum fato. Contudo, não deve substituir o aluno na tarefa de observar e analisar. Muitas vezes, se trabalhará em sala de aula com os dados ou materiais coletados numa saída de observação.

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A programação das saídas de observação Para que as saídas cumpram a sua finalidade é importante que sejam preparadas com antecedência. Na programação da saída deve-se especificar: 1. O tema (ou motivo) da saída. 2. O local da observação ou o itinerário a ser feito. 3. Os elementos ou aspectos nos quais o professor incentivará a observação. 4. As perguntas que orientaram a atenção e o interesse dos alunos. 5. As hipóteses que serão levantadas para que os alunos comprovem. 6. O tipo de dado ou material que se coletará. 7. O vocabulário que se explorará: substantivos, adjetivos, verbos, etc. Objetos de observação nas saídas e atividades posteriores em sala 1. Vegetais: flor, folhas, troncos, raízes, tipos de árvores, germinação, formação do fruto, etc. 2. Estudo de aspectos morfológicos ou do ciclo de vida das plantas a serem obervadas. 3. Animais: artrópodes e outros invertebrados, répteis, anfíbios, aves e peixes, mamíferos. 4. Solos: tipos de solo, erosão, rochas e minerais. 5. Montagem de terrários, aquários, viveiros para cigarras ou lagartas, etc. O uso do caderno de campo Tanto nas saídas de observação como nas visitas culturais convém utilizar um caderno de campo. Nele o aluno anotará as observações feitas ou os dados necessários para elaborar os trabalhos em sala de aula. Em campo, os alunos registrarão os dados e farão desenhos ou esquemas do que observaram. Em sala de aula poderão trabalhar com mais atenção esses dados e completar e colorir os desenhos e esquemas. Se o caderno permitir que se destaquem as folhas, estas podem ser arquivadas em pastas segundo a ordem ou tipo de assunto (observação de animais, vegetais, ambientes, etc.). A Zona de Trabalho na área de Conhecimento do Meio natural e social A organização da sala de aula em zonas de trabalho facilita que o aluno escolha o tipo de atividade que mais lhe interesse (Objetivos Individuais) e oferece múltiplas oportunidades de ação (metodologia ativa). Além disso, promove o relacionamento do 104 Solar Colégios


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aluno com o professor (atenção pessoal e assessoramento acadêmico) e com os demais colegas de sala. Essa disposição da sala de aula favorece o ritmo de trabalho de cada aluno, tanto dos mais proativos e adiantados quanto dos que necessitam reforçar os Objetivos Fundamentais. Ao favorecer a iniciativa individual e a criatividade tendo em conta o ritmo pessoal, as zonas de trabalho promovem a aprendizagem autônoma. Convém que a ambientação da zona seja muito cuidada. A decoração deve ser mudada a cada quinze dias, acompanhando o tema ou motivo da saída. Seu objetivo é criar um ambiente sugestivo e rico em estímulos. A zona, no entanto, pode contar com elementos fixos, como: terrários, aquários, gaiolas com Hamster, coleções de minerais, coleção de sementes, coleção de insetos, herbários, coleção de conchas, material para trabalho em campo (binóculos, lupas, termômetro de ambiente, bússola, máquina fotográfica, recipientes para coleta de material, redes de coleta, etc.), Atlas cartográfico, documentários sobre vida selvagem ou meio ambiente, jogos educativos, revistas ou artigos de divulgação científica, maquetes, pastas para arquivar os trabalhos dos alunos, etc. O lúdico na área de Conhecimento do Meio A atividade lúdica é um recurso especialmente adequado para esse período escolar. É importante superar a aparente oposição entre o lúdico e trabalho, que vê o segundo associado ao esforço de aprender, enquanto o primeiro é entendido como uma diversão ociosa. Hoje, sabemos que não é assim. Em muitas ocasiões as atividades de ensino-aprendizagem terão um caráter lúdico e em outras exigirão dos alunos um maior esforço, mas, em ambos os casos, deverão ser motivadoras e gratificantes.

2. Linguagem e Literatura A leitura Será a principal atividade dessa etapa escolar. Nossa pretensão é que os alunos leiam muito, leiam bem e que desfrutem lendo. O bom leitor não nasce, mas se faz. É importante que ao concluírem o Ensino Fundamental I os alunos tenham adquirido o hábito da leitura. Como acontece com a aquisição de qualquer hábito, trata-se de um processo lento que deve ser conduzido pelo professor de forma gradual e persuasiva. Os livros, textos ou artigos escolhidos devem instigar o interesse e o prazer do aluno. A leitura será uma atividade diária que ocupará, ao menos, 15 minutos, distribuídos entre leitura expressiva e compreensiva.

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Na leitura expressiva se ensinará ao aluno a ler com correção, boa entonação, ritmo e agilidade. São técnicas que requerem um exercício constante. Ao trabalhar um texto concreto, cada aluno lerá 5 linhas e passará a vez ao próximo aluno. Convém que o professor participe da atividade como mais um. Além de ensinar o modo correto de ler, essa atitude do professor será um fator motivador de inestimável valia. Com atenção, o professor deve corrigir os defeitos da leitura que os alunos apresentem: assinalar as palavras com o dedo, mover a cabeça, voltar sobre o lido (regressões), movimentos oculares mais reduzidos, etc. Além disso, quando a leitura for silenciosa, convém evitar a vocalização (movimento de lábios ou de garganta). Na leitura compreensiva se procurará selecionar textos vivos, interessantes e com possibilidades interpretativas. O aluno deve ser encorajado a atuar como um “explorador” que adentra num mundo novo que precisa ser desvendado e conhecido. Assim estaremos ensinando o aluno a pensar e a decifrar, a interpretar e a descobrir a informação. Em última análise, estaremos incentivando o aluno na arte de refletir. Devemos ter o cuidado para não confundir compreensão leitora com retenção na memória de alguns fatos ou dados mais ou menos relevantes. Durante a leitura, se procurará identificar a ideia principal, o argumento, os protagonistas, a mensagem ou ponto de vista apresentado pelo autor, onde se desenvolve a ação, qual a ambientação histórica, etc. Enfim, na atividade diária de leitura compreensiva, o professor proporá questões que envolvam raciocínio, interpretação, avaliação crítica, estrutura, relações espaços-temporais e lógica. Com a periodicidade oportuna podem ser realizados exercícios de leitura para verificar o progresso e o nível de cada aluno.

Sugestão para o processo de avaliação leitora Prepara-se um texto, bem selecionado, com 270 a 300 palavras. Os alunos o lerão em leitura silenciosa. O professor deve estabelecer previamente um meio para conhecer a velocidade leitora de cada aluno. Uma possível técnica é que o professor escreva na lousa a numeração de 1 a 100. Como nenhum aluno demorará menos do que dois minutos para ler o texto o professor escreverá a sequência numérica e ao iniciar o terceiro minuto irá assinalando – ao compasso dos segundos - os números. Os alunos à medida que terminem a leitura levantam a cabeça e anotam o número que o professor está indicando na lousa. Assim se poderá conhecer a velocidade leitora de cada aluno. Terminada a leitura, o texto é recolhido, e os alunos deverão responder a um questionário de 10 perguntas. O tempo para responder o questionário pode ser de 15 a 20 minutos.

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A correção do questionário indicará ao professor o nível de compreensão leitora de cada aluno: 6 acertos equivalem a 60% de compreensão, 9 acertos equivalem a 90% de compreensão. Uma compreensão leitora dita satisfatória não deve ser inferior a 70%. Quando um aluno apresenta uma compreensão leitora inferior a esta cifra, o professor orientará o aluno a reduzir sua velocidade leitora e assim, com mais fixação no texto, aumentar a compreensão. Convém que o professor mantenha um registro do perfil leitor de cada aluno. Devem ser observados os seguintes aspectos: 1. Velocidade leitora (nº de palavras lidas em um minuto) 2. Precisão e expressão (erros de pronúncia e entonação) 3. Compreensão leitora (entender o que foi lido) 4. Modalidade leitora:     

Subsilábica (soletrar) Silábica (leitura de sílabas) Vacilante (leitura insegura, com pausas indevidas e regressões) Corrente (leitura correta e com ritmo adequado) Expressiva (leitura corrente com entonação e traços expressivos adequados)

A Biblioteca dentro da sala de aula Além da Biblioteca do colégio, é muito positiva a organização de uma biblioteca dentro da sala de aula. Os livros podem ser trazidos - doados - pelos próprios alunos. A leitura pode ser exercida como um passatempo ou como recompensa a alguma ação positiva. Cabe ainda ao professor criar em sala situações que estimulem e favoreçam o gosto pela leitura.

O Vocabulário O vocabulário está na base de todas as atividades escolares. É preciso cuidar muito bem da seleção dos textos e contextos que vamos oferecer aos alunos. Se estes não respondem aos seus interesses, capacidades e necessidades suscitarão no aluno um desprezo ou indiferença a uma atividade que será básica para o seu desenvolvimento intelectual. Portanto, os textos escolares e literários devem responder à realidade psicológica, de aprendizagem e educativa dos alunos.

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Partindo, pois, da frase ou contexto, extraímos o vocábulo que será o objeto de consideração e estudo. Feito isso, o texto se torna luminoso e compreensível. Voltamos a usar o mesmo vocábulo em uma nova frase ou contexto destacando outra vez o seu significado. Com essas ações estamos trabalhando a compreensão leitora do aluno. A leitura e a escrita se convertem em atividade mecânica quando o aluno desconhece - de forma significativa - os termos que lê ou escreve. A atividade perde seu sentido e anula seu valor formativo, retardando o desenvolvimento global do aluno e facilitando o surgimento de hábitos deficientes. Espera-se que o professor tenha lido e trabalhado todos os textos que o aluno utilizará durante uma avaliação (ou mesmo, exercícios de sala). Deverá sublinhar todos os vocábulos que estime sejam mais difíceis para todos ou mesmo para alguns alunos. Pode-se fixar um conteúdo de vocabulário para cada semana, por exemplo, 10 palavras. Elas serão objeto de um estudo sistemático e depois serão referência na avaliação. Os exercícios de vocabulários devem ser muito variados e com um caráter lúdico, de forma que permita a participação ativa e prazerosa do aluno. O trabalho diário de vocabulário permitirá incrementar de forma sistemática, paulatina, mas eficaz o vocabulário passivo do aluno bem como a capacidade para compreender o que leem ou ouvem. Sempre que seja possível, convém oferecer um vocabulário gráfico, pois aumentará a capacidade de compreensão e retenção. Todas as áreas de aprendizagem devem desenvolver uma atividade de vocabulário em cada tema ou unidade. Utilizar as palavras cujo significado vão aprendendo é uma atividade e capacidade bem complexa que professor poderá explorar e incentivar na expressão oral e escrita. Constituirá o vocabulário ativo do aluno.

Expressão oral A expressão oral é a primeira e mais natural forma de expressão, não só da criança, mas de todo ser humano. É a mais utilizada e conhecida. A comunicação oral está presente em todas as relações interpessoais: na relação com os pais, professores e demais colegas de sala, nos meios de comunicação social, etc. É conveniente criar um ambiente na sala de aula que seja estimulante, em que a palavra seja protagonista. Para isso é preciso estruturar um leque amplo de 108 Solar Colégios


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possibilidades e situações de comunicação. Todos os alunos devem sentir-se motivados e à vontade por notarem que sua expressão oral é respeitada e estimulada, mesmo que a princípio não seja adequada. Estrutura de uma aula de expressão oral 1. Percepção de modelo. Somente se aprende a falar bem ouvindo bons exemplos de linguagem oral e praticando, assiduamente, em situações de comunicação. Uma boa maneira de apresentar modelos de linguagem ou comunicação é por meio dos recursos audiovisuais: vídeos, CD, etc. 2. Compreensão. É necessário ir explicando de forma amena e paciente o modelo apresentado. O aluno deve perceber como é o modelo e o que deve fazer para imitá-lo. A utilização dos recursos audiovisuais permite parar, avançar, retroceder, facilitando assim essa tarefa. 3. Assimilação. Não basta a explicação por parte do professor, nem para uma primeira compreensão por parte do aluno. Este necessita assimilar, incorporar à sua experiência e vivência o que foi aprendido. Para isso, convém que os alunos exercitem o aprendido em situações criadas pelo professor. 4. Utilização. Será o momento de demonstrar que é capaz de responder pessoalmente ao modelo apresentado, interagindo com ele. Técnicas de expressão oral Podem ser agrupadas do seguinte modo: 1. Técnicas de diálogo: conversas, debates, colóquios, dramatizações, tempestade de ideias. 2. Técnicas de monólogo: narração, exposição, descrição, recitação. 3. Técnicas de leitura oral: individual (monologada), coletiva (dialogada). Estas técnicas se realizam habitualmente em situações reais, desenvolvendo e estimulando a linguagem espontânea. Essas situações abarcam todas as possibilidades que a vida colegial proporciona: 

A relação professor-aluno na qual a linguagem espontânea do aluno se desenvolve graças à relação de confiança e afeto mútuo. Reveste-se de interesse o aprendizado da linguagem que permite ao aluno manifestar o conhecimento que vai adquirindo de si mesmo. A conversa sobre temas de atualidade, sobre acontecimentos do dia a dia da sala de aula, sobre interesses despertos pelos estudos realizados em sala ou por leituras feitas pelos alunos. É importante que todos os alunos consigam manifestar-se, vencendo possíveis timidezes.

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A deliberação em comum para tomar decisões que afetem o dia a dia da turma. Para tanto, o funcionamento e a rotina da sala de aula devem estar concebidos como algo no qual todos devem participar e pelo qual todos são responsáveis. O trabalho em grupo, em todas as áreas. Isso exige uma detalhada e prévia planificação do professor. Se os alunos sabem a todo o momento o que se espera deles, temos maior garantia de uma boa participação, motivação e disciplina. Os alunos devem sentir a necessidade e o interesse por comunicar aos demais suas ideias, sentimentos e vivências. Portanto, é preciso criar um clima de confiança, abertura, respeito mútuo que estimule a expressão espontânea dos alunos. As brincadeiras (como os jogos) e as atividades extraescolares são um meio eficacíssimo para o desenvolvimento das habilidades linguísticas orais.

Paralelamente com estas situações reais, o professor pode simular situações que permitam ao aluno a aquisição de um novo vocabulário e o descobrimento e/ou domínio de outras técnicas de comunicação. O que avaliar 1. Compreensão oral: se ouve bem, se escuta com atenção e respeito, se compreende o que escuta. 2. Expressão oral: vocabulário (propriedade, uso devido, riqueza), correção gramatical, pronúncia correta (com entonação e ritmo), uso de elementos paralinguísticos (gestos, música, etc.), ordem lógica na exposição das ideias, ordem cronológica e espacial, domínio das técnicas de expressão oral que foram trabalhadas em sala, uso excessivo de expressões de reforço (né, pois é, então, etc.). Expressão escrita Os alunos do Snipe devem ser capazes de fazer exercícios de composição escrita com essas características: 1. Boa apresentação, limpeza e respeito às margens. 2. Letra legível e cuidada. 3. Sem faltas ortográficas em palavras estudadas em seu nível ou em níveis anteriores. 4. Uso correto do ponto final, do ponto parágrafo, da vírgula, do ponto de interrogação e de exclamação. 5. Emprego de vocabulário com precisão e riqueza próprias para a faixa etária. 6. Capacidade de escrever vários parágrafos. 7. Apresentação de uma ordem lógica, temporal e espacial básicas. 8. Apresentação de frases gramaticalmente bem construídas.

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9. Manifestação de traços pessoais como personalidade, originalidade e criatividade. Estes nove valores que queremos ver plasmados nos exercícios de redação dos alunos devem ser ensinados de maneira sistemática, intencional, um a um, repetidamente e na prática. Algumas orientações metodológicas O tema sobre o qual os alunos irão escrever deve ser bem proposto pelo professor, de forma a gerar verdadeiro interesse. Sem interesse não há motivação. Os temas podem ser propostos tendo como base as experiências dos próprios alunos. Outra possibilidade é que o professor traga um assunto novo para a sala de aula e apresente aos alunos gerando curiosidade e a ambientação necessária. Convém evitar temas demasiado gerais ou abstratos. Ao mesmo tempo devem ser suficientemente abertos para possibilitar que os alunos exercitem a criatividade. A ambientação necessária para o início da atividade de composição escrita pode ser feita por meio da observação de situações reais (um dia de chuva, a preparação da escola para uma festa, etc.) ou a leitura de textos ou histórias que sirvam como modelo (nesse caso o professor deve fazer uma leitura expressiva que envolva os alunos). O professor pode realizar, durante vários dias, atividades prévias à redação. Com isso trabalhará substantivos, adjetivos e verbos que depois os alunos poderão utilizar na redação. O vocabulário trabalhado pode ficar escrito na lousa ou numa cartolina afixada na sala. Os alunos podem copiar as palavras no caderno e assim vão se familiarizando com os novos vocábulos. Como se pode notar, antes de propor que os alunos escrevam sobre um tema, é preciso dedicar momentos de preparação (para gerar a motivação adequada). Depois que as redações são corrigidas pelo professor, é preciso dedicar outra aula para trabalhar os erros individuais e coletivos, por exemplo, por meio da reescrita. Na correção, os erros devem ser assinalados com claridade, facilitando que o aluno os identifique e retifique. Ortografia A escrita é uma ação mecânica. Para conseguirmos essa resposta mecânica, é necessário termos a imagem da palavra fixada na mente. Escrevemos tanto melhor uma palavra quanto melhor temos fixada a imagem visual e motriz da mesma.

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Desenvolveremos o método viso-audio-motor-gnósico. Apresentamos as palavras ressaltando sua dificuldade ortográfica, pronunciamos e pedimos que os alunos as pronunciem. Explicamos o seu significado. Depois, de forma lúdica, realizamos diversos exercícios visuais e motores para que os alunos consigam essa resposta mecânica que os levará a escrever corretamente a imagem fixada. Os alunos devem escrever a palavra com o dedo no ar e sobre a superfície da mesa. Usando a cabeça, com os olhos fechados. Com o lápis e com a caneta (indicando em vermelho o sinal ortográfico que ofereça alguma dificuldade, caso haja). Com letras maiúsculas e minúsculas. O conteúdo de ortografia semanal supõe o aprendizado de 5 a 8 palavras novas. Essas palavras fazem parte do vocabulário básico que o aluno trabalhará na semana (leituras, textos de Conhecimento do Meio, etc.). As palavras são copiadas num cartaz, em letras grandes, escrevendo em vermelho os sinais que apresentem alguma dificuldade. Na segunda-feira, as palavras são afixadas na sala. Se possível, podem-se elaborar bits com cada uma delas. Cada dia, o professor dedicará 5 ou 7 minutos para realizar as atividades prévias à redação propostas anteriormente ou pensadas pelo professor -, até assegurar que as 5 ou 8 palavras foram aprendidas por todos os alunos. As regras ortográficas devem ser ensinadas paulatinamente, uma de cada vez, e de acordo com os objetivos propostos. Usa-se sempre o método indutivo: relação de palavras, observação, comparação, indução da regra, aplicação e exercícios. Linguagem: estrutura gramatical e sintaxe Metodologicamente devemos apresentar a língua como uma estrutura, como um conjunto de elementos relacionados entre si. Os exemplos devem ser cuidadosamente escolhidos. Devem ser simples, claros e acessíveis a todos os alunos. Assim compreenderão quais as funções assumidas pelas palavras: sujeito, predicado, núcleo, concordância, etc. Paulatinamente, os alunos irão reconhecendo as diferentes classes de palavras, suas formas, concordâncias, relações e funções, sempre a partir de uma perspectiva prática, nunca conceitual.

3. Matemática Dividimos a área de Matemática em seis grandes blocos: numeração, operações, medidas e magnitudes, representação e orientação espacial, geometria e tratamento da informação. Optamos por separar numeração e operação por 112 Solar Colégios


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entendermos que cada bloco tem suficiente entidade para ser estudado de forma própria. No aprendizado de matemática, não se pretende que os alunos simplesmente aprendam e dominem alguns procedimentos ou que dominem alguns conceitos. O que verdadeiramente importa é que através de um conceito, devidamente internalizado, cheguem a um procedimento e vice-versa. Adquirem assim uma atitude. Nossa intenção deve ser criar as bases de um pensamento lógico-matemático. Aprendizagem de matemática e estilos cognitivos O material didático deve ser variado e incentivar o autoaprendizado. Contudo, isso não é suficiente para que os alunos aprendam e incorporem o conhecimento às suas vidas. O professor deve criar um bom vínculo com a sala e atender individualmente cada aluno, segundo suas necessidades e estilos cognitivos. Nem todos os alunos aprendem da mesma maneira. Também os professores terão seu próprio estilo de apreensão da realidade. Certamente um professor de estilo cognitivo divergente ajudará melhor aos alunos que apresentem o mesmo estilo de captação da realidade. No entanto, temos que nos esforçar para oferecer a todos suficientes possibilidades para que aprendam de acordo com suas características. Em última análise, a parte fundamental do aprendizado corresponde ao aluno. Cabe ao educador ajudar a que aprendam, nunca substituí-los nessa tarefa. Para isso, é importante criar em sala de aula um ambiente rico em estímulos, disciplinado e sossegado. Evitam-se situações vexatórias ou de nervosismo. Na aula de matemática deve reinar um ambiente de exigência e cooperação. É necessário que todos se sintam valorizados e reconheçam suas características (pontos fortes e fracos) sem que isso seja tomado como desculpa para diminuir o esforço. Interdisciplinaridade A interdisciplinaridade é um aspecto relevante na área de matemática. Na medida do possível, procuraremos relacionar os conteúdos específicos com outras áreas do conhecimento, em especial com Conhecimento do Meio e Português (no que diz respeito ao bom entendimento dos enunciados e problemas de lógica). Como premissa, é necessário procurar que o aprendizado de Matemática tenha seu fundamento na realidade. Somente pelo contato permanente com a realidade, os alunos chegarão a entendê-la, e evitaremos o surgimento de fobias e traumas.

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Matemática e atividades de manipulação No aprendizado de Matemática partimos do concreto para o abstrato, do particular para o geral. Enfim, partimos da realidade concreta e próxima do aluno para chegar à lei ou enunciado geral. Todo novo aprendizado começará pela manipulação de objetos. Por exemplo, se pretendemos que aprendam a longitude de uma circunferência começaremos por medir empiricamente o comprimento de várias circunferências: com cordas, com tinta que se aplica nas bordas de uma moeda, etc. Posteriormente, se fará a relação dessas medidas com o raio e o diâmetro. Só então se introduzirá a fórmula do comprimento. Então o aluno poderá aplicar e memorizar a fórmula. Sendo fundamental o aspecto manipulativo, é preciso seguir no processo de aprendizagem. O aluno exercitará muitas vezes as fórmulas matemáticas até chegar à sua memorização e à perfeita aplicação na solução de problemas. O professor deve certificar-se de que todos os alunos compreendem o problema proposto e, por meio do trabalho em equipe e/ou de atividades de manipulação, encontrar a solução. Em primeiro lugar, deverão descobrir o que se pergunta. Em segundo lugar, saber como aplicar as estratégias adequadas para encontrar a solução. Em terceiro lugar, descobrir a regra geral e, por último, deverão chegar à generalização do conhecimento. O êxito nessa linha metodológica é garantir que o aluno realize muitos exercícios. Por exemplo, para que descubram o conceito de uma operação devem fazêla muitas vezes de todas as maneiras possíveis e com domínio. Se não oferecemos ao aluno tempo suficiente para que pratique e aprenda, estamos dificultando que descubra novos conhecimentos. Metodologia concêntrica e avaliação prévia Apesar de termos trabalhado as quatro operações básicas nos primeiros anos do Ensino Fundamental, a experiência demonstra que é benéfico continuar a exercitar essas competências no aluno. Deve-se partir, sem dúvida, do que o aluno sabe, para daí chegar a novos conhecimentos. No entanto, não devemos deixar de lado os conhecimentos anteriormente adquiridos. É preciso continuar trabalhando esses conteúdos para que não sejam esquecidos. Na área de matemática, pela importância que têm esses conhecimentos básicos como ponto de apoio para novas aprendizagens, devemos ter o cuidado de que os alunos os tenham sempre presentes. O maior inimigo da aprendizagem é o esquecimento. Isso ocorre sempre que se deixa de utilizar uma estratégia ou conhecimento. Em matemática a destreza e rapidez no raciocínio advêm do exercício constante. Por isso, a prática contínua e a avaliação 114 Solar Colégios


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inicial de cada novo conteúdo quando descobrimos quais são as ideias, conceitos ou habilidades que os alunos trazem é a única maneira de seguir um caminho seguro para o bom desenvolvimento intelectual. Matemática e pensamento O grande objetivo no estudo da área de matemática é que os alunos adquiram estratégias intelectuais e desenvolvam um pensamento lógico. Não se trata de que os alunos memorizem uma série de caminhos para chegar a uns tantos resultados, ainda que isso também seja necessário. O mais importante é que os alunos consigam descobrir, sozinhos, suas próprias estratégias. Muitas vezes nos surpreenderemos com a complexidade lógica das mesmas. O descobrimento e uso dessas estratégias facilitam a memorização. Unicamente pelo contínuo uso de situações (problemas) lógicas é que o aluno irá aprendendo novas formas de pensamento lógico personalizadas. A missão do professor consistirá em apresentar essas exigências, com alegria e como um desafio que estimule o aluno. O professor organizará com atenção esses exercícios de lógica, buscando em várias fontes (livros, sites, etc.) ou mesmo construindo seus próprios exercícios. Orientação espacial Assim como a aquisição de estratégias cognitivas é algo básico, também o é o desenvolvimento da capacidade espacial. Esta habilidade é objeto de outras áreas do currículo, mas a área de matemática oferece uma grande contribuição. Começa-se, nos alunos das fases iniciais, pelo descobrimento da lateralidade corporal própria. Depois vem a lateralidade com relação aos demais. O objetivo, em qualquer caso, é que conheçam e dominem o espaço que os rodeia. Esse ponto é de fácil integração interdisciplinar com as áreas de educação física, artes ou Conhecimento do meio. As implicações com a área de linguagem também são fáceis de perceber. Muitas dificuldades apresentadas no processo de leitura-escrita podem ser sanadas com adequado desenvolvimento da capacidade espacial. Estratégias de cálculo Pretende-se com as estratégias de cálculo que os alunos sejam capazes de descobrir maneiras de realizar mentalmente as operações. Não se trata que memorizem simplesmente as estratégias ensinadas pelo professor, mas que eles 115 Solar Colégios


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mesmos descubram formas de fazê-lo de maneira mais fácil. Toda estratégia que se memoriza sem a devida interiorização está fadada ao esquecimento. Esta é a primeira razão para não se obrigar a aprender – pura e simplesmente – estratégias de cálculo mental. Uma segunda razão, talvez mais profunda, é que através da matemática buscamos desenvolver aptidões nos alunos. Não devemos pretender que os alunos dominem e tenham automatizado o algoritmo da divisão, que sem dúvida é fundamental, mas que dominem o conceito de divisão e, só mais tarde, dominem e automatizem o algoritmo. Será necessário, portanto, programar possíveis estratégias de cálculo mental para que os alunos possam praticá-las e concluir uma regra geral. Deve haver uma semelhança entre as novas situações de cálculo apresentadas e, por outro lado, devese deixar um tempo para que os alunos recordem as estratégias já adquiridas. Em resumo, trata-se de aprender pelo uso, sem esquecer as estratégias deduzidas anteriormente. Isso só será positivo com a prática diária ou quase diária. Matemática e jogo As brincadeiras e os jogos despertam fortemente o interesse das crianças na faixa etária a que se dirige o nosso projeto. Por isso, é extremamente oportuno utilizar metodologias lúdicas no processo de ensino-aprendizagem. Mas o professor deve ter claro que não se trata de brincar ou jogar, simplesmente. A criança nessa faixa etária está aberta ao mundo – sua curiosidade é acentuada – e o que mais quer é aprender. Em outras palavras, o nosso objetivo é que os alunos aprendam e que também entendam que a tarefa intelectual exige esforço. Esforço este que vale a pena. Mas tudo isso pode acontecer num ambiente distendido e positivo. As aulas de matemática devem estar repletas de desafios intelectuais apresentados de forma lúdica. A equipe educadora deve estruturar uma grande quantidade de jogos e/ou brincadeiras que facilitem a aquisição de estratégias e que sirvam para inter-relacionar ou induzir novos conhecimentos. Os jogos também são úteis para aqueles dias difíceis que, pelo motivo que for, os alunos encontram-se mais cansados ou agitados. É preciso conseguir que continuem trabalhando mesmo em condições adversas. Na maioria das vezes, isso será possível se mudamos a atividade normal, e o próprio aluno se interesse pela matéria. Um meio muito propício para conseguir integrar o jogo dentro da atividade normal da área de Matemática são as zonas de Matemática.

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Resolução de situações-problemas A resolução de situações-problemas será uma parte fundamental nas quais se deve incidir continuamente. Em primeiro lugar, será a metodologia utilizada para que os alunos cheguem a novos conhecimentos. Em segundo lugar, o resolver situações problemáticas ajudará a que integrem os conteúdos de matemática com outras áreas. Em terceiro lugar, servirá para que aqueles alunos que tendem a um pensamento mais analítico desenvolvam essa capacidade e aprendam a concretizar e, ao mesmo tempo, para que aqueles alunos com pensamento mais sincrético desenvolvam sua capacidade de análise. Em todo caso, será necessário seguir alguns passos para chegar a tudo isso. Um dos objetivos do projeto Snipe para a área de Matemática é, portanto, utilizar estratégias de resolução de problemas que impliquem: ler e entender a pergunta, representar graficamente o problema, analisar e escrever as possibilidades, escolher os dados e operações necessárias e comprovar o resultado. Será bom que num primeiro momento essa resolução de problemas se realize de maneira manipulativa, para chegar mais tarde a entender qual a pergunta que está sendo feita, a escolher os dados necessários para trabalhar, a estimar um possível resultado, a determinar as operações que serão realizadas e a comprovar o resultado final. Deve-se dar muita importância para a estimação do resultado antes de se efetuar qualquer operação. Isso é uma preparação para o uso futuro da calculadora. Os equívocos que ocorrem no uso da calculadora normalmente relacionam-se com a dificuldade de identificar a pergunta do problema e quais são os dados fornecidos e como devem ser relacionados entre si. Uma estratégia interessante é introduzir no problema dados irrelevantes ou desnecessários como forma de obrigar a que o aluno busque circunscrever a pergunta. É fundamental insistir no entendimento da pergunta, pois só assim é possível chegar a uma solução válida. Aqui, como sempre, interessa mais a aquisição de estratégias do que a resolução concreta. Logicamente é difícil separar uma da outra e, portanto, quando o aluno acerta na solução do problema também estará aprendendo a estratégia. Em todo caso, convém lembrar-se dos passos indicados no objetivo exposto anteriormente. A zona de Matemática Como já foi dito, na área de matemática queremos desenvolver o pensamento lógico dos alunos. Portanto, partiremos de situações concretas nas quais o aluno descobrirá o problema que é proposto e os possíveis caminhos para encontrar a 117 Solar Colégios


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solução. As zonas de trabalho na área de Matemática são de grande valia para alcançar esse objetivo. A zona de Matemática é a situação de aprendizagem na qual o aluno trabalha de forma mais autônoma e pode dedicar mais tempo a suas atividades preferidas. Respeitar o ritmo de aprendizagem de cada aluno é a única maneira para que todos aprendam. Por outro lado, também é possível incentivar a aprendizagem cooperativa dentro do grupo, com o trabalho tutorial, em que uns ensinam os outros. As atividades propostas na zona de Matemática devem envolver os conhecimentos já adquiridos e possibilitar o desenvolvimento de novos caminhos de autoaprendizagem. Enfim, o trabalho por zonas estimula o cooperativismo, a autoaprendizagem, o autocontrole, a responsabilidade e o aumento da autoestima. Sugestão de atividades para a zona de Matemática As atividades elencadas são possíveis sugestões. Cabe a cada professor pensar nas características de seus alunos ao propor uma atividade. 1. Cálculo: crucigramas nos que faltam números, testes sobre as operações básicas para serem realizados no menor tempo possível, dominós de números, etc. 2. Numeração: descobrir a regra numa série numérica, descobrir a razão nas séries de objetos desenhados, descobrir mediante perguntas o número pensado por outro aluno, decomposição de números, três em raia com números, etc. 3. Orientação espacial: montagem de quebra-cabeças, encontrar o caminho mais curto entre dois pontos, construção de figuras geométricas, reprodução de figuras a partir de um modelo, montagem de barcos ou aviões em miniatura, etc. 4. Situações-problema: resolver situações propostas pelo professor, criar novas situações para que os outros grupos resolvam, etc. Horário nas aulas de Matemática A experiência demonstra que não é necessário viver o mesmo horário todos os dias. Convém variá-lo para que a aula não se torne monótona. O que deve haver é uma boa estruturação que favoreça o trabalho dos alunos. As atividades que devem estar incluídas em todas as aulas de matemática são, segundo as diferentes idades:  10 minutos de cálculo.  10 minutos de resolução de problemas.  3 ou 4 minutos de numeração.  5 minutos para aprender algo novo ou relembrar conceitos já sabidos.  Atividades de aplicação de conteúdos estudados.  Resumo das atividades desenvolvidas e correção dos exercícios realizados (nos casos em que seja possível, fazer de forma coletiva, sendo que para os primeiros anos convém que a correção seja individual). 118 Solar Colégios


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Trabalho em zonas nos dias previstos.

4. Outros idiomas No processo de ensino-aprendizagem de Inglês (ou de uma terceira ou quarta língua) os seguintes aspectos devem ser considerados: 1. Facilitar o máximo input linguístico para os alunos:  Aulas em inglês.  Predominância do método direto, aplicado de forma flexível. Aprendizagem de temas acadêmicos e culturais que permitam a aplicação do vocabulário dentro da escola.  Promover a dedicação do tempo livre dos alunos para a leitura ou para a utilização de recursos audiovisuais e afins que permitam a ampliação do conhecimento. 2. Dar destaque à linguagem formal acadêmica. Importância da linguagem escrita, sobretudo da leitura, como base para o trabalho autônomo e individualizado. Para isso se intensificará a utilização de textos expositivos e argumentativos, sem deixar, no entanto, de utilizar também textos literário-criativos. 3. Ressaltar o caráter globalizador (sincrético) mais do que o analítico. Aprender a trabalhar com textos (compreensão e expressão). Partir do texto apreciado globalmente para seus elementos constitutivos. 4. Valer-se de uma metodologia eclética. Propor atividades comunicativas. Utilização de todos os tipos de técnicas que ajudem a alcançar os objetivos propostos (repetições, exercícios, explicações na língua nativa, se necessário), de forma que aquilo que pudesse parecer tedioso ou mecânico se transforme em meio de comunicação, jogo ou criatividade. O professor usará o Inglês em sala sem restrição (vocabulário, gramática, etc.), mas buscando ser compreendido através de outros meios (gestos, repetições, contextos). Convém organizar atividades de curta duração e muito intensas em que são trabalhados conteúdos variados, procedimentos de trabalho e textos. 5. Deve-se dar um tratamento positivo ao erro, pois ele é um indicativo de que os alunos estão aprendendo. Nesse sentido é importante que procuremos:  Mostrar em que se equivocaram e explicar o porquê.  Orientar para a autocorreção.  Mostrar exemplos positivos de como se diria ou faria aquilo.

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6. Procurar que o aluno responda sempre de modo ativo ao que lhe é proposto. Ajudar a que fixem metas em cada atividade. Planejar tarefas que facilitem a concentração e que suponham um pequeno esforço. O jogo ganha destaque entre as atividades. Muitas vezes, o jogo será a própria atividade proposta: adivinhações, solução de problemas, competição entre equipe, etc. Devem-se empregar todos os meios ao nosso alcance para garantir e manter a motivação dos alunos: escolha de textos interessantes, recompensas imediatas ao esforço dos alunos, elogios (reforço da autoestima), atenção e valorização de aspectos das personalidades dos alunos, etc. 7. Promover a formação de virtudes. Valorizar as tarefas bem acabadas, o cuidado com os detalhes, o trabalho cooperativo. 8. Estabelecer rotinas positivas cuja repetição será benéfica para os alunos:  Todo dia comentar brevemente sobre o tempo.  Toda sexta-feira conversar sobre os planos para o fim de semana.  Toda segunda-feira conversar sobre o que fizeram no fim de semana.  Cumprimentar os alunos, sempre em inglês, ao encontrá-los pelos corredores do colégio.

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5. Educação Artística Artes Plásticas Com a educação plástica pretende-se ensinar a criança a olhar, analisar e compreender as imagens transmitidas pelos diferentes meios de comunicação: expressões tradicionais (pinturas, esculturas, etc.) ou modernas (fotos, cinema, imagens virtuais, etc.). Pretende-se também que o aluno consiga sistematizar sua atividade espontânea, desenvolver sua criatividade e sua capacidade de comunicação. Para alcançarmos esses objetivos temos que oferecer ao aluno, de acordo com sua maturidade pessoal e social, uma gama de possibilidades, de sensações, emoções e vivências. A utilização de todos os sentidos, a variedade e riqueza de estímulos, a familiaridade com diferentes tipos de técnicas e materiais unidos às experiências pessoais dos alunos e seus conhecimentos prévios favorecerão esse processo. A linguagem plástica baseia-se na representação de formas feita por meio da percepção de imagens bidimensionais e tridimensionais. Com isso chega-se a uma linguagem icônica, que favorece a comunicação criativa e enriquecedora. Com as composições plásticas as crianças dessa faixa etária aprendem a valorizar os elementos básicos da composição artística: traçados, cores, formas texturas e volumes. Dessa maneira aprendem a compreender os distintos elementos que conformam uma obra de arte e a analisar sua composição estética. Pelo conhecimento dos materiais adquirem a destreza e o domínio necessários para criar suas próprias imagens. Podemos utilizar todo tipo de material, inclusive material reciclado ou descartável, e empregaremos as técnicas adequadas à faixa etária. O aprendizado nessa área desenvolverá as seguintes capacidades:  Ler a imagem.  Analisar uma obra artística.  Sentir prazer ao apreciar uma expressão artística.  Usar a representação plástica como meio de expressão. Os conteúdos didáticos devem abarcar tanto conceitos como técnicas e atitudes, de modo que o aluno consiga controlar e dirigir suas atividades de percepção e expressão artística com uma autonomia cada vez maior. No final do Ensino Fundamental I espera-se que o aluno tenha adquirido:  Um adequado conhecimento de materiais e técnicas de expressão artística.

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   

Interesse, rigor e paciência na busca de novas e personalizadas formas de expressão. Respeito e curiosidade em relação a diferentes produções artísticas e a distintas produções culturais. Valorização do trabalho individual e em grupo. Gosto e prazer diante da atividade plástica.

Música Educar musicalmente significa transmitir a linguagem musical de forma viva. Aprender a escutar e produzir música. Será uma educação formativa e estética, na medida em que tenhamos pensado em canções e peças musicais que estejam de acordo com os interesses e aptidões interpretativas dos alunos. A educação musical tem um caráter progressivo. Será a continuação da educação infantil e deve se adaptar em cada momento às capacidades e interesses específicos dos alunos. Apresenta também um caráter integral, pois mais do que uma matéria especial, deve ser entendida como um apoio às demais áreas e como uma forma de ajudar no desenvolvimento da personalidade da criança. A sistematização das audições começa na educação infantil. As audições desenvolvem a audição da criança, favorecem a capacidade de escuta e discriminação auditiva, cultivam a sensibilidade estética e o gosto pela música, ao mesmo tempo em que geram um clima favorável para a interpretação e expressão musical. Com a educação musical espera-se que os alunos sejam capazes de observar, analisar e apreciar as diferentes realidades sonoras, em particular a musical, produzida por meio de instrumentos e pela voz humana. Procuraremos preparar o aluno como intérprete e receptor da música, como realizador expressivo e criativo e como conhecedor dos rudimentos e da técnica musical, levando-o a reconhecer o papel da música na sociedade e saber apreciar criticamente suas variadas manifestações. Um dos principais objetivos dessa matéria é introduzir a criança no mundo da música como uma experiência prazerosa, fazendo-a participar ativamente nas audições e interpretações musicais e criando a oportunidade para que realize suas próprias produções. Convém trabalhar a música, o movimento e o jogo dramático com a mesma naturalidade com que as crianças andam, correm e se comunicam. Para tanto, devem aprender o valor do silêncio e a perceber, escutar, discriminar, expressar comunicar e elaborar seu “pensamento musical”. 122 Solar Colégios


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A compreensão da linguagem técnica se realizará paulatina e organicamente de maneira que desenvolvam a capacidade criadora e aprendam a interpretar e a expressar-se cada vez com maior técnica e estética. Os recursos utilizados serão a voz, os instrumentos, os movimentos e as audições ativas. O aprendizado da leitura e escrita da notação musical se fará mediante a seleção de um repertório apropriado à faixa etária. A metodologia escolhida deve permitir primordialmente a familiarização do aluno com a realidade musical, priorizando a participação ativa mais do que a transmissão de conceitos. A destreza manual deve ser desenvolvida nos alunos muito antes que entrem em contato com algum instrumento. É preciso desenvolver todas as possibilidades e capacidades motoras esperadas para a faixa etária com a qual estamos trabalhando. A educação musical no projeto Snipe deve proporcionar no final do ciclo as seguintes capacidades:  O reconhecimento e compreensão da linguagem musical.  A identificação de formas e frases musicais.  A percepção e memorização de fragmentos musicais.  A expressão vocal e instrumental.  Os hábitos de ordem, do trabalho bem feito e do esforço pessoal. Arte Cênica Com a dramatização o aluno amplia largamente suas possibilidades de comunicação e expressão. Utiliza sua voz e seu corpo, o espaço e o tempo como recursos cênicos que enriqueçam sua expressão. Esta área apresenta um caráter eminentemente interdisciplinar, conectando com facilidade com as áreas de Linguagem, de Educação Física e de Inglês (ou outros idiomas). Através dos exercícios dramáticos, da encenação teatral, da mímica, da troca de papeis, do uso de marionetes, etc., o aluno desenvolve suas capacidades e explora as possibilidades de sua personalidade. A habilidade para a representação dramática depende das oportunidades que são oferecidas e da aprendizagem de recursos teatrais adaptados à faixa etária. Máscaras e maquiagem podem ser usadas para gerar segurança nas crianças no momento em que se apresentarem diante dos colegas. Os objetos usados nas

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encenações estimulam a capacidade espacial e podem ser úteis na elaboração de pequenas improvisações individuais ou coletivas.

6. Educação Religiosa A. Características do ensino religioso no nosso projeto 1. Exposição do núcleo essencial da mensagem cristã anunciada pela Igreja Católica. 2. Diálogo aberto e respeitoso com outras áreas do saber, que ajude ao aluno a realizar uma síntese entre fé e cultura. 3. Favorece a abertura do aluno à transcendência, oferecendo uma hierarquia de valores e atitudes e um sentido para a vida. 4. Desenvolve um trabalho o mais interdisciplinar possível, de maneira a contribuir para a consecução dos objetivos gerais do projeto Snipe. B. Orientações metodológicas para as aulas de religião 1. Partir da experiência do aluno. A reflexão sobre situações do dia a dia, próprias ou alheias, pode servir como ponto de partida para alcançar uma compreensão mais profunda do Evangelho. 2. Privilegiar a linguagem audiovisual. Os alunos dessa faixa etária ainda estão na fase concreta. A observação de gravuras, desenhos, filmes ou fotografias incita ao diálogo e à reflexão. Também é importante estimular a capacidade auditiva por meio de canções. 3. Conceder uma particular importância à atividade pessoal do aluno. O trabalho individual favorece o processo reflexivo e contribui para uma aprendizagem significativa. No entanto, isso não tira a importância do trabalho em grupo, que é uma boa estratégia para o desenvolvimento da dimensão social do aluno. O trabalho em pequeno ou grande grupo oferece a possibilidade de participação de todos além do intercâmbio de ideias. 4. Aplicar estratégias de indagação. Sua principal característica consiste em servir de estímulo ao aluno para realizar atividades de busca e pesquisa que podem ser muito variadas. É interessante incentivar a “aprendizagem por descoberta”, aproveitando a grande curiosidade e o perfil indagador do aluno nessa faixa etária. A coleta de informações e sua posterior organização e sistematização constituem um meio muito adequado para a aprendizagem significativa. 5. Empregar simultaneamente diversas técnicas de didáticas. Sabemos que os alunos aprendem mais quando o professor aplica diversas técnicas de ensino-aprendizagem. Umas vezes recorrerá à exposição oral do tema, outras suscitará o diálogo com os alunos a partir da observação de gravuras ou da audição de uma canção, outras poderá ser interessante o trabalho em grupo, em outro momento será interessante pedir um exercício de expressão plástica. O professor poderá utilizar essa diversidade 124 Solar Colégios


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de estratégias sem perder nunca de vista os objetivos que pretende alcançar em cada caso. É preciso selecionar muito bem as atividades para que sejam motivadoras, estimulem a curiosidade e promovam uma atitude positiva em relação ao aprendizado. 6. Ter consciência de que os alunos são diferentes entre si. No processo educativo procuramos que cada aluno alcance seu máximo desenvolvimento pessoal e exercite realmente suas capacidades. Para isso cabe ao professor o desafio de adaptar os ensinamentos e as atividades às possibilidades, necessidades e interesses de cada aluno. O trabalho individual, bem programado, facilita sem dúvida que cada criança desenvolva melhor o ritmo de aprendizado que lhe é próprio. 7. Estimular a expressão pessoal do aluno. Além de oferecer um claro conhecimento da mensagem cristã, a formação religiosa deve contribuir para que os alunos adquiram um bom sentido crítico e que sejam capazes de expressar seus próprios sentimentos, opiniões e convicções de forma serena e respeitosa. 8. Desenvolver a linguagem e o vocabulário religioso básico. Já vimos anteriormente que a leitura e a escrita se convertem em atividade mecânica quando o aluno desconhece - de forma significativa - os termos que lê ou escreve. Por isso convém que o professor de ensino religioso esteja bem coordenado com a área de Linguagem para que possa utilizar as técnicas mais adequadas, segundo a faixa etária com a qual trabalhará, de maneira a garantir um aprendizado significativo. É muito importante que tanto na Biblioteca de sala de aula quanto na do colégio haja uma boa seleção de livros relacionados com a fé ou com os valores cristãos. 9. Valorizar a memória. A memorização não é a única nem a principal estratégia no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, é uma estratégia válida que não deve ser desconsiderada, tal como preconiza o Papa João Paulo I: “certa memorização das palavras de Jesus, das passagens bíblicas mais importantes, dos dez Mandamentos, das fórmulas da Profissão de Fé, de algumas orações essenciais, de pontos chaves da doutrina cristã, é uma verdadeira necessidade 1”. Evidentemente o papel da memória irá adquirindo uma importância gradual à medida que os alunos forem crescendo. Quando são pequenos – no 1º e 2º ano do Fundamental – podem aprender orações e fórmulas doutrinais bem simples. 10. Estabelecer as bases para um diálogo com a realidade cultural. Mostrar a influência mútua entre a fé cristã e a estruturação da cultura ocidental na qual estamos inseridos. Ajudar que os alunos sejam capazes de avaliar os fatos culturais (ideias, comportamentos, etc.) à luz da fé. 11. Criar nas aulas de religião um clima que facilite a liberdade do aluno. Deve-se agir assim, não somente pelo respeito a um possível pluralismo religioso entre os alunos, mas também pelo imperativo evangélico: o conhecimento da fé é oferecido e não

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Cfr. Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, n. 55

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imposto. No diálogo com os alunos, o professor de religião tem a oportunidade de testemunhar que a fé cristã oferece respostas às grandes questões existenciais. 12. Transmitir um conteúdo especificamente religioso. O professor deve estar atento para que a aula não se desvirtue para temas de ordem geral e de simples análise de fatos e acontecimentos. Deve também estar atento para que o uso de recursos metodológicos - partir da experiência do aluno, análise de filmes, etc. – não leve a uma redução na transmissão da mensagem cristã. O ensino religioso deve ser claro e levar o aluno a adquirir, pouco a pouco, uma visão elementar da fé católica e dos conceitos e atitudes chaves da mensagem cristã. C. Materiais e recursos didáticos O professor de religião frequentemente será, no Ensino Fundamental I, o professor regente. Nada impede que possa ser algum outro professor da equipe educadora (o professor de Educação Física ou Artes, etc.). Nas aulas de religião se empregarão recursos didáticos semelhantes aos empregados nas outras áreas:  Observação de fotografias, gravuras e quadros.  Projeção de vídeos.  Pintura e desenho, modelagem e recortes.  Dramatizações.  Audições de músicas religiosas, clássicas e populares.  Leituras de textos da Bíblia e em especial do Evangelho.  Leitura de testemunhos cristãos positivos (exemplo dos santos).  Técnicas de expressão escrita (a partir do momento que os alunos sejam capazes).  Técnicas de expressão oral.  Visitas culturais (igrejas, catedrais, museus, etc.).  Interpretar gráficos, localizar em mapas, fazer esquemas e resumos.  Técnicas simples de memorização mecânica e compreensiva.  Pesquisas em livros, dicionários, etc.

7. Educação Física A área de Educação Física envolve um aprendizado vivenciado de seus conteúdos, uma vez que estes dizem respeito a todas as experiências relacionadas ao corpo e ao movimento do aluno. Os alunos são protagonistas desse aprendizado. Pouco a pouco vão conhecendo e dominando os movimentos e enriquecendo seu comportamento motor. O movimento constante e investigador é uma realidade inerente ao aluno nessa etapa escolar. Daí que os conteúdos da área de Educação Física sejam relevantes 126 Solar Colégios


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e significativos para os alunos. Cabe ao professor a tarefa de direcionar o potencial motriz, dotando-o de riqueza e eficácia. A vitalidade motriz dessa faixa etária deve ser contemplada na elaboração das atividades e deve ser atendida na concepção metodológica das aulas. Nesse sentido, é bom evitar as organizações rígidas dos alunos, exposições ou demonstrações demoradas, etc. Todo o ambiente escolar deve favorecer a espontaneidade e a autonomia do comportamento motor infantil. O desenvolvimento do comportamento motor requer capacidade de esforço e implica relação com os demais. Esse processo é uma escola de valores humanos e sociais, que ajudam ao reto desenvolvimento da personalidade da pessoa. A brincadeira ou o jogo é uma atividade na qual intervêm todas as faculdades (físicas, cognitivas, volitivas e estéticas) da criança, provocando seu desenvolvimento e permitindo que o mesmo seja espontâneo, pleno e alegre. Enquanto joga, a criança explora o mundo físico e o ambiente social: aperfeiçoa conceitos, amplia e enriquece o vocabulário, exercita sua capacidade de atenção e memória, alimenta sua imaginação, melhora seu condicionamento físico e a aplicação funcional das habilidades motoras. Por tudo o que foi dito, os processos de ensino-aprendizagem na área de Educação Física devem adotar sempre uma metodologia ativa, isto é, a escolha de estratégias didáticas que levem os alunos a serem os protagonistas da sua própria aprendizagem. O processo de ensino-aprendizagem consistirá em propor situações motoras nas quais o aluno, partindo de seus interesses e do grau de capacidades prévias, tenha que utilizar as faculdades motoras para resolver novas situações. O enfoque globalizador na área de Educação Física A área de Educação Física não foge da grande característica curricular do projeto Snipe: a interdisciplinaridade. No caso da Educação Física as linhas de conexão com as demais áreas se estabelecem em dois planos: o procedimental e o temático. No plano procedimental procura-se integrar as destrezas motoras básicas nas diferentes capacidades que serão desenvolvidas nas demais áreas (motricidade fina, lateralidade, noção espacial, etc.). No plano temático, o fio condutor é determinado pelos centros de interesse, como, por exemplo, o conhecimento do corpo humano e suas funções. Em relação ao conteúdo específico da Educação Física, o enfoque interdisciplinar sugere também contemplar algumas pautas de intervenção educativa: a) no começo dessa etapa escolar, as crianças não apresentam uma aptidão física diferenciada, pelo contrário, os esquemas corporais e movimentos são globais, sem 127 Solar Colégios


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diferenciar claramente os segmentos corporais. A intervenção educativa deve levar à superação desse sincretismo, promovendo situações que permitam analisar e relacionar o todo com suas partes, além de enriquecer os esquemas corporais e espaços-temporais, ajudando a estruturar o esquema corporal de cada aluno. b) A razão evolutiva exposta unida às características neurológicas da faixa etária com a qual trabalhamos, aconselha que as tarefas motoras tenham as seguintes características: propor exercícios globais de fácil execução, para pouco a pouco localizar os segmentos corporais; partir de movimentos naturais e espontâneos da criança, focando a atenção em aspectos perceptivos do movimento (do próprio corpo ou do ambiente); propor ações motoras contextualizadas que impliquem funcionalidade motora (os jogos, por exemplo), mas que exijam concentração. c) Toda situação motora, cotidiana ou esportiva, exige do aluno capacidades de percepção, decisão e execução. Por isso mesmo, toda tarefa de aprendizagem deverá exigir a utilização ótima dessas três capacidades, ainda que o grau de complexidade com que cada uma vai ocorrendo dependerá da tarefa concreta e do estágio de desenvolvimento físico do aluno. Sobre as unidades didáticas O aprendizado de qualquer conteúdo motor, dado ao seu caráter cíclico e progressivo, leva o professor a questionar-se sobre as habilidades e conteúdos prévios necessários para que se possa aceder a novos conhecimentos ou habilidades. Identificar os esquemas motores e conhecimentos prévios dos alunos constitui o ponto de partida para a programação e o desenvolvimento de situações e atividades, pois condicionará o êxito dos novos processos de ensino-aprendizagem. Nos 1º e 2º anos é fundamental desenvolver a habilidade do aluno para perceber a si mesmo e o entorno num contexto dinâmico, utilizando para isso padrões motores básicos em tarefas jogadas ou jogos de baixa organização. Essas situações permitem a espontaneidade, são motivadoras e adaptam-se à maioria dos alunos. A partir do 3º ano se inicia a análise das ações segmentárias para conseguir uma correta execução técnica das habilidades motoras básicas. A análise das diversas estratégias empregadas pelos alunos nos exercícios e jogos permitirá também o aprendizado funcional eficiente e criativo das habilidades básicas nas mais diferentes situações. A utilização dos esquemas motores em outras situações permite aumentar seu desempenho. Nessa etapa é necessário incentivar a observação do próprio corpo e do movimento a ser realizado, com todos os sentidos possíveis, a fim de adquirir uma boa consciência corporal. São úteis as situações que permitam aos alunos sentirem a tensão muscular (na contração e no relaxamento), as mudanças de posição e a busca do equilíbrio, o ritmo respiratório, etc. 128 Solar Colégios


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A observação e análise dos movimentos permite ainda o desenvolvimento da capacidade de relação entre os segmentos corporais. Nos primeiros anos do Ensino Fundamental I devem ser estabelecidas relações simples e progressivamente chegar a relações mais complexas e refinadas. Todo o processo anterior leva, no final de uma ou várias sessões, a tirar conclusões, tanto no que diz respeito à atividade motora em si, quanto aos aspectos relacionados com a mesma: hábitos de higiene física e mental, boa alimentação, valores humanos, etc. Para que as conclusões sejam bem captadas pelos alunos, elas podem ser expressas de forma verbal ou por escrito. Para comprovar o grau de aprendizagem dos esquemas motores que os alunos vão adquirindo convém observar o desempenho dos alunos nas tarefas jogadas ou jogos. Deve-se observar a capacidade de resposta dos alunos diante de novos estímulos e a capacidade de selecionar as ações motoras mais adequadas para dar uma resposta correta e eficaz. Sobre a técnica metodológica Existem diversos estilos e técnicas de ensino na área de Educação Física que não são nem melhores nem piores, quando comparados entre si. Tudo depende do para que, para quem e de como serão utilizados. Isso exige, portanto, uma escolha consciente do professor, que deve dominar o conceito e as aplicações dos diversos estilos, técnicas de ensino e estratégias práticas. A título de orientação sobre o que foi dito anteriormente, vale o exemplo sobre um elemento metodológico básico em Educação Física: o jogo. Como todo recurso didático e metodológico, o jogo não é a panaceia para os problemas de ensinoaprendizagem. Ele apresenta vantagens e desvantagens. Por exemplo, ele é um mau instrumento para a aprendizagem de elementos de execução complexa, mas demonstra-se um recurso adequado - por seu fundamento de busca e de atividade contextualizada e lúdica – para aprender a utilização funcional das destrezas e habilidades motoras em situações nas que a habilidade perceptiva e a tomada de decisões são exigidas. Sobre a intervenção docente O objetivo final de um projeto educativo é conseguir eficácia na intervenção educativa, nos processos de ensino-aprendizagem. Em tal caso, a aula constitui o centro efetivo do projeto docente. A aula é o instrumento operativo que permite ao professor desenvolver sua atividade de ensino e aos alunos seu processo de aprendizagem, a partir de uns conhecimentos prévios, na busca de novos objetivos educativos. Mas, se tais objetivos não são alcançados, ocorre um fracasso do plano 129 Solar Colégios


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docente, que deve ser devidamente analisado. A aula representa, então, o elemento chave do projeto curricular, por ser o cenário da construção de novas aprendizagens. Os fatores metodológicos que fundamentam o desenvolvimento de uma boa aula de Educação Física podem ser agrupados em cinco blocos: apresentação da atividade, implicação motora do aluno, clima positivo da aula, atenção pessoal dos alunos, aprendizagem do jogo. A seguir apresentamos algumas exigências didáticas que requerem cada um deles visando à eficácia docente: Apresentação da atividade a) explicar para os alunos os objetivos da aula facilita a aprendizagem e incrementa a motivação. Isso pode levar a uma colaboração mais ativa por parte dos alunos e facilita, depois, a autoavaliação. b) adotar a posição mais conveniente em cada momento, para que a mensagem seja bem entendida. Para dar informações gerais ao grupo, o professor deve posicionar-se de forma que todos o vejam e ouçam bem. Para dar orientações individuais, o professor deve aproximar-se do aluno a quem se dirige. Para observar a atividade, o professor se posicionará onde consiga ver claramente a todos os alunos. c) os deslocamentos do professor atenderão sempre a um motivo concreto, de acordo com o que necessita cada fase da tarefa: seguimento do grupo para observar e corrigir movimentos, percorrer o grupo de maneira ordenada, para que cada aluno receba uma atenção individual, etc. d) proporcionar a informação necessária e adequada para a formação teórica dos alunos. e) despertar o interesse, captar e manter a atenção dos alunos, durante a apresentação da tarefa motora, são requisitos metodológicos de uma boa informação. f) destacar com claridade os indicadores de êxito e as condições que permitem obter o maior êxito na tarefa. Isso facilita que os alunos formulem uma ideia geral da tarefa e elaborem seu programa motor concreto. Ao iniciar o aprendizado de uma habilidade, são necessárias poucas informações, como muito, um ou dois critérios para o êxito da habilidade. Os demais dados devem ser acrescentados gradativamente ao longo do processo. g) justificar a tarefa que os alunos irão realizar. Ao apresentar uma tarefa, o professor procurará justificar sua importância dentro do processo de ensinoaprendizagem e os requisitos para sua realização. Essa explicação pode ser mais técnica (científico) ou mais informal, dependendo do tipo de tarefa e da idade dos alunos. h) escolher com atenção o local e a situação dos alunos para a passagem das informações de maneira a evitar distrações e garantir a compreensão de todos.

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i) dar a maior quantidade possível de feedback aos alunos sobre a execução das tarefas e resultados atingidos, tanto em nível coletivo quanto individual. j) organizar as tarefas segundo uma correta progressão de aprendizagem. As atividades devem ser apresentadas aos alunos numa sequência pensada para conduzir à boa execução dos movimentos e habilidades. A análise do grau de intensidade e/ou complexidade de cada tarefa permitirá modificá-las ou adaptá-las às necessidades pontuais da sala, de grupos ou de alunos específicos. k) controlar as contingências. As possíveis ocorrências numa aula de Educação Física são de ordem metodológica, quanto à forma de realização dos exercícios, e as relativas à segurança dos alunos na realização dos exercícios. No primeiro caso, o professor deve estar atento para efetuar a devida correção; no segundo caso, convém desenvolver um trabalho preventivo revisando as instalações que serão usadas pelos alunos, relembrando aos alunos as normas de segurança antes do início das atividades; coibir ações não controladas e atitudes perigosas; prever a ajuda necessária em tarefas que impliquem risco; advertir os alunos sobre os elementos da tarefa que exigem mais atenção. l) selecionar a técnica de aprendizagem mais eficaz segundo o objetivo a ser atingido. m) selecionar a estratégia prática mais condizente com o objetivo proposto. Implicação motora do aluno Por implicação motora entendemos o tempo efetivo durante o qual o aluno está realizando uma atividade motora na aula de Educação Física. O tempo usado na atividade física é o fator chave para o desenvolvimento da competência motora, ainda que os níveis que se alcancem estarão subordinados também a outros fatores, como: adequação das tarefas aos objetivos propostos, habilidades prévias do aluno, motivação, feedback do professor, etc. Por isso, é fundamental: a) prever na grade horária, pelo menos, três aulas por semana de Educação Física. b) incrementar, nos 1º e 2º anos do Fundamental, a atividade motora com atividades de conteúdo perceptivo-motor (Padrões motores), e a partir do 3º ano, com o oferecimento de escolas esportivas (vôlei, futsal, etc.) e campeonatos internos. c) garantir o maior tempo possível de atividade motora durante a aula. d) propor tarefas específicas que estejam adequadas aos objetivos propostos. e) propor tarefas que tenham um grau de dificuldade suficiente para desafiar positivamente o aluno, ao mesmo tempo em que sejam exequíveis pelo empenho pessoal. f) transmitir de forma breve e objetiva as informações sobre a tarefa a ser realizada. Essa objetividade por parte do professor redunda num ganho de tempo para a implicação motora do aluno. 131 Solar Colégios


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g) motivar constantemente a atividade motora do aluno. A motivação dos alunos nas aulas de Educação Física é algo muito natural, mas o professor deve estar atento e incrementar ainda mais a motivação do aluno – por meio de feedbacks ou palavras de incentivo. Chamar a atenção dos alunos para o bom desempenho individual ou coletivo é também uma forma de motivação. h) controlar e acompanhar o deslocamento do grupo da sala de aula ao vestiário ou a quadra (e vice versa) para garantir a ordem, a rapidez e a segurança. i) programar bem cada aula prevendo: o material que será usado, a reserva do espaço a ser utilizado, etc. A programação prévia ajuda a que o maior tempo possível seja dedicado à atividade física. j) organizar grupos de trabalho (equipes) estáveis por um período mais ou menos longo. A organização dos alunos por equipe favorece o trabalho em conjunto e agiliza o tempo da aula de Educação Física. As equipes podem ser formadas tanto pelo professor como pelos alunos, tudo dependerá da idade dos mesmos e dos objetivos a serem atingidos. k) convém evitar jogos de eliminação, pelo menos na parte principal da aula. É importante que todos os alunos possam participar o maior tempo possível das atividades. l) convém programar bem as atividades de forma que não haja filas de espera aguardando o momento de participar. m) verificar constantemente que todos os alunos estão participando das atividades. Esse olhar atento do professor é fundamental para que todos se sintam à vontade nas aulas. n) animar que os alunos desenvolvam outra atividade física fora do colégio. O clima positivo da aula Um clima positivo durante a aula e uma boa interação educativa exige do professor: a) demonstrar um sincero interesse por todos os alunos. b) procurar ser justo e tratar a todos com igualdade. c) aceitar com simpatia as características pessoais de cada aluno e os resultados que, honestamente, vão obtendo ao longo das aulas. d) mostrar uma permanente atitude de ajuda e estímulo. e) elogiar os esforços, especialmente dos alunos que apresentam uma dificuldade concreta. O elogio deve ser breve e proporcional. Não é necessário que seja feito em público, muitas vezes a aproximação do professor e a conversa direta com o aluno manifesta mais atenção e gera mais confiança no aluno. f) permitir que os alunos manifestem com liberdade suas opiniões. g) exigir que todos sejam educados e tolerantes com os companheiros.

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h) estabelecer normas claras de comportamento. Lembrá-las oportunamente, sem esperar que sejam desrespeitadas para fazer isso. i) evitar por completo o uso de ironias, comportamentos descorteses ou violentos. Coibir também essas atitudes nos alunos. Um aspecto que precisa ser considerado quando nos referimos a um clima positivo durante a aula é o tema da disciplina e das possíveis sanções no caso de situações disciplinares mais sérias. De um modo geral, é preferível evitar sanções, salvo em casos extremos. Como uma ação positiva convém que as normas de conduta sejam claras e bem conhecidas pelos alunos. Quando acontecem problemas disciplinares durante a aula de Educação Física, o professor deve intervir com prontidão e firmeza, mas de modo sereno. Nunca convém agir de forma precipitada ou indignada. Sempre que seja possível, convém relacionar a sanção com a falta cometida. Também não se apresenta formativo usar a supressão da atividade física como sanção. Caso não pareça haver alternativa, é preciso garantir que o aluno se ocupe em outra atividade, se possível, relacionada com a atividade física. Atenção pessoal aos alunos O aluno condiciona o processo de ensino-aprendizagem com suas características pessoais: seu grau de maturidade, o desenvolvimento de suas competências motoras, seu ritmo pessoal de aprendizagem, seus interesses e motivações pessoais. Naturalmente o professor tratará a cada aluno de acordo com sua singularidade. Com essa atenção pessoal ajuda-se o aluno a conhecer-se, a desenvolver suas aptidões, a reconhecer suas deficiências e os meios para superá-las. Nesse processo deve ficar claro para o aluno que qualquer processo de melhora pressupõe o esforço pessoal. Esta atenção pessoal exige do professor estabelecer um quadro prévio, o mais real possível, do nível de aprendizagem de cada aluno. Somente com esse conhecimento, o professor será capaz de determinar o rendimento que se pode esperar de cada aluno. Além disso, nos casos em que se detecte uma deficiência será possível trabalhá-la desde o início, evitando impactar a posterior evolução do aluno ou do grupo. A verificação do nível inicial de cada aluno que entra na etapa do Ensino Fundamental é importante também porque em muitos casos a procedência dos alunos é diversa. Como as aptidões prévias de cada aluno constituem o ponto de partida obrigatório para que sua aprendizagem seja significativa, a verificação do nível inicial 133 Solar Colégios


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de cada aluno não é somente necessária no 1º ano, mas pode ser feita no início de cada novo ciclo acadêmico ou, inclusive, no início de cada novo conteúdo. Além disso, é preciso conhecer seus ritmos de aprendizagem, de maneira a garantir uma intervenção educativa eficaz. Se, através das verificações prévias, o professor constata algum tipo de deficiência, deve lançar mão do que chamamos adaptação curricular, um processo didático que possibilita a atenção pessoal aos alunos, enquanto ajusta a aprendizagem às diferentes realidades individuais. Caso as diferenças entre os alunos sejam pouco significativas, bastará uma informação suplementar segundo a qualidade da execução individual dos exercícios. Caso as diferenças sejam muito significativas, o professor provavelmente terá que alterar a progressão da matéria (aumentando ou diminuindo a variedade ou frequência de atividades), variar a metodologia, sugerir treinamentos fora do horário das aulas, etc. Todas essas medidas sempre serão adotadas de acordo com a coordenação pedagógica para que haja uma ação educativa unitária. No que se refere a alunos com um desempenho acima da média, o professor proporá objetivos individuais adequados e estimulantes, de maneira que nunca fiquem inativos ou entediados durante as aulas. No que se refere a alunos portadores de necessidades especiais, o professor deve estudar juntamente com a coordenação e, se houver necessidade, com o profissional especializado que segue a criança, a melhor forma de adaptar o currículo e de projetar os resultados que se podem esperar do aluno. É interessante também projetar uma linha de superação, compatível com as circunstâncias da criança. Como podemos perceber, nessa atenção pessoal aos alunos, o professor deve conjugar: o conhecimento do nível inicial geral do grupo, o conhecimento do nível inicial de cada aluno e o marco referencial dos graus de destrezas (habilidades e competências) esperadas para cada faixa etária. Assim, é possível construir um projeto curricular real, flexível e estimulante. Como é lógico, não se deve esperar uma resposta motora única e válida para todos, mas, melhorar a competência motora de cada aluno com relação a seu ponto de partida e de acordo com seu potencial de aprendizagem. Por fim, o professor deve assegurar-se de que cada aluno cresça no esforço e na motivação por melhorar sempre mais o seu desempenho em todos os âmbitos: motor (habilidades esportivas), conceitual (teoria esportiva) e comportamental (valores humanos relacionados com a prática esportiva).

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Os ensinamentos do jogo Dado que uma boa parte das aulas de Educação Física inclui algum tipo de jogo, parece aconselhável recordar certos aspectos metodológicos sobre a apresentação dos jogos e sobre a ação pedagógica. Ao apresentar a atividade aos alunos, quando se tratar de algo novo para eles, o professor deve garantir que todos ouçam e entendam bem as regras e as características do jogo. Todos sem exceção devem entender o jogo. O jogo representa uma situação privilegiada para a intervenção educativa. O professor observará o jogo e o desempenho dos alunos não somente do ponto de vista técnico, mas também comportamental. Nesse sentido, o educador pode aproveitar o jogo para: a) ensinar, com o motivo da arbitragem, a obediência, o respeito ao juiz e as regras. b) estimular o autocontrole: evitando a desordem e a grosseria. c) ensinar a usar a inteligência. A criança deve perceber que se administra sua força sua corrida é mais eficaz. Se estiver mais atenta ao jogo, sua reação é mais rápida. d) ensinar valores como o trabalho cooperativo, solidariedade, o respeito ao oponente, etc.

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Capítulo VI - PROGRAMAÇÃO DE ATIVIDADES

1. AS UNIDADES DIDÁTICAS QUINZENAIS

Em cada unidade didática, distinguem-se dois tipos de objetivos:  

Os Objetivos Fundamentais, que devem ser dominados por todos os alunos, por responderem aos conteúdos básicos e pela sua importância formativa. Os Objetivos Individuais, que permitem aprofundar em quaisquer dos aspectos da unidade didática e estender ao interesse cultural dos alunos, segundo a capacidade ou às preferências individuais de cada um. Também devem ser exigidos, uma vez que asseguram o desenvolvimento da personalidade própria de cada estudante. Dentro destes objetivos, por sua vez, devem-se ressaltar: o Os Objetivos Individuais Atribuídos, que supõem uma ampliação a respeito dos objetivos comuns e devem ser estabelecidos pelos professores, para cada aluno, ou para o grupo de alunos. o Os Objetivos Livres, propostos pelo aluno — por atenderem aos seus interesses e preferências — ou escolhidos entre uma variada oferta.

Esta distinção:   

  

favorece uma Metodologia Ativa de ensino-aprendizagem na aula; respeita e atende à diversidade do alunado; respeita o ritmo e a capacidade de cada um, procurando o rendimento mais satisfatório possível de cada aluno: trata-se de colocar todos os meios necessários (entre eles, o tempo adequado) para que todos os alunos dominem o fundamental e estejam em condições de continuar sua aprendizagem sem lacunas, uma vez que se oferece aos alunos mais capazes a possibilidade de realizar outras atividades mais complexas; facilita que todos os alunos aprendam os conteúdos básicos e importantes, necessários para aprendizagens posteriores; permite uma autêntica orientação de trabalho pessoal do aluno; estimula e proporciona a aprendizagem autônoma do aluno.

Os Objetivos Fundamentais  Os conteúdos básicos da matéria são: importantes, necessários (base, fundamento) para aprendizagens posteriores. Todos os alunos (que não

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tenham problemas especiais de aprendizagem) devem ser capazes de aprendêlos. Podem haver objetivos fundamentais que durem todo o ano (geralmente aqueles que se referem a procedimentos), o que será fundamental é o nível ou o grau de dificuldade, que deverá ser exposto detalhadamente. Não tem por quê serem fáceis, nem poucos, nem curtos, nem somente de conhecimentos.

Os Objetivos Individuais  Não se trata de adiantar o tema seguinte, mas de aprofundar o tema que está sendo trabalhado, por meio de atividades que suponham colocar em prática mais capacidades e de um modo mais perfeito. Tampouco necessitam ser difíceis ou "de grande nível": alguns serão e outros não.  Devem ser realmente individuais: não serão os mesmos para todos.  Ajudar um colega em sua aprendizagem, por exemplo, pode ser um objetivo individual importante para um determinado aluno. A distribuição do tempo de aprendizagem A. Primeira semana dedicada à aprendizagem de objetivos fundamentais.  O trabalho de aula é geralmente (não tem que ser sempre) conjunto. Vai-se trabalhando (não somente ou unicamente expondo) os objetivos fundamentais e realizando as atividades necessárias para assegurar a interiorização.  É muito importante ir comprovando se todos os alunos estão aprendendo adequadamente (avaliação formativa).  Aos alunos mais capazes pode-se propor dois tipos de objetivos individuais: a monitoria de algum companheiro com especial dificuldade e algumas atividades especiais (mais adequadas ao seu nível de aprendizagem).  Ao final deste período avalia-se (não necessariamente com um exame geral) a assimilação das aprendizagens propostas e trabalhadas.  O aluno que supere todos ou quase todos (85-90%) dos objetivos fundamentais, passará a trabalhar os objetivos individuais na semana seguinte. B. Aprendizagem dos objetivos individuais atribuídos (o mais comum deveria ser que estes objetivos atribuídos não superassem 30-40% dos objetivos individuais que um bom aluno trabalha. Dentro dos atribuídos estariam:  Aprendizagem (se for o caso) de 10% dos objetivos fundamentais não totalmente assimilados. Isto impõe o sentido comum de que: por serem objetivos fundamentais, interessa colocar os meios para que sejam dominados por todos os alunos.

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Monitorias. Levando em conta que o aluno não será monitor todos os dias. Este objetivo individual será especialmente valorizado, porém, não podemos abusar das monitorias de modo que impeça o aluno de aprender mais objetivos. Trabalho dos objetivos individuais atribuídos propriamente: aqueles objetivos que, sem ser fundamentais, supõem uma primeira ampliação e aprofundamento dos objetivos fundamentais: são os que todos os alunos deveriam saber mais dos fundamentais (é frequente que os professores que pontuam excessivos objetivos fundamentais, incluam estes objetivos individuais atribuídos nos objetivos fundamentais.)

Em um segundo momento, nos encontraremos com: 

 

Alunos de menos capacidade ou mais lentos, que continuam reforçando os objetivos fundamentais porque ainda não os superaram. Isto supõe que os alunos que aprendem o que tinham por aprender, tem a possibilidade real de demonstrar ao professor que conseguiram superar os objetivos fundamentais e passar aos objetivos individuais atribuídos. Alunos que trabalham os objetivos individuais atribuídos. Alunos que trabalham os objetivos individuais de livre escolha, quer seja dentre os propostos pelo professor ou sugeridos pelo próprio aluno.

Nesta segunda semana também cabe a explicação para toda a classe de alguns ou de todos os objetivos. Bastaria, por exemplo, dedicar 10 minutos para explicar algum ou alguns objetivos a todos os alunos. Na sequência, cada um trabalharia no seu nível, com suas atividades. A Recuperação A Recuperação está incorporada no mesmo processo: nas semanas de objetivos individuais, os alunos seguirão o seu ritmo de recuperação dos objetivos fundamentais não alcançados, com o tipo de atividades que necessitam.

2. A GLOBALIZAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL

O termo "ensino globalizado" converteu-se, no decorrer do tempo, em um tópico que foi acrescentado ao se falar dos primeiros níveis de escolarização, porém, é necessário especificar os conteúdos. Em primeiro lugar, é importante considerar a diferença entre métodos globais e ensino globalizado. Os métodos globais de ensino podem — e devem — ser utilizados

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na aprendizagem de uma só matéria (área natural, área social, leitura/escrita etc.), e consistem em adquirir as aprendizagens através do seguinte processo: 

 

Observação do objeto ou fenômeno a ser estudado, através do contato, em seu estado normal ou natural. A esta fase corresponde a utilização de sínteses iniciais ou visão de conjunto da estrutura e conteúdo de uma área ou de uma unidade da mesma. Análise mais detalhada de seus componentes e da relação entre eles. Síntese final para alcançar, de novo, uma visão global ou integradora, porém desta vez, mais coerentemente coordenada.

O ensino globalizado pretende, como os métodos globais, aproximar a criança do conteúdo da aprendizagem. Para isso, parte-se do princípio, que a máxima aproximação se dará quando os conteúdos são apresentados com a mesma estruturação ou organização que a criança os percebe na realidade. Considera-se que um método é globalizado quando, as aulas se desenvolvem por meio de um centro de interesse, integrando um grupo de disciplinas, e os objetivos vão sendo desenvolvidos por meio das diferentes atividades que serão realizadas. Dando um passo além, é necessário organizar as matérias de estudo, simulando situações reais, para que os alunos cheguem as soluções. As matérias parceladas, tal como frequentemente são estudadas, não respondem, geralmente, a uma situação vital. As situações apresentadas devem responder aos interesses das crianças, às suas experiências, vivências e necessidades. Para isto, utiliza-se projetos concretos que devem ser trabalhados e realizados pelos alunos, através dos quais, vão descobrindo verdades e adquirindo conhecimentos, destrezas e valores necessários para poder dar resposta a sua curiosidade. A globalização, segundo o que viemos dizendo, é uma necessidade psicológica da criança, não somente porque esta capta os fenômenos de uma forma global, mas também porque necessita de uma resposta global às suas indagações, e não várias respostas em função da matéria que corresponde a cada momento. Por isso se tem dito que a globalização leva a uma resposta que relaciona, entre si, os dados sobre uma realidade, vistos pelas diferentes ciências que a estudam. A globalização não é uma matéria que se possa estudar, é um estilo de ensino, um modo de trabalhar que considera todas as disciplinas como colaboradoras para a compreensão de uma única e complexa realidade. Na vida não existem "disciplinas" separadas, e sim "situações concretas".

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Portanto, as globalizações, tal como se tem entendido majoritariamente até agora, consistiam em desenvolver um centro de interesse para o qual era necessário lançar mão das diversas matérias ou saberes. Desta forma, os conteúdos de ditas matérias não se adquirem sistematicamente, mas sim em função do que encaixava nos ditos centros de interesse. No entanto, é necessário levar a diante a globalização de tal forma que ela mesma exija o desenvolvimento sistemático de todas, e cada uma das aprendizagens das distintas áreas. Isto é, que a realização dos diversos projetos esteja baseada em todos os conhecimentos que estão previstos adquirir em cada área. Deste modo, se consegue um ensino de acordo com a psicologia infantil, experimental, motivador, e garante aprendizagens integradas e, ao mesmo tempo, diversificadas em áreas. Com ela, consegue-se que os conhecimentos das diferentes matérias não sejam aprendidos de forma abstrata, mas sim como reflexo de uma realidade próxima do aluno. 3. AS ATIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM

A seleção das atividades de ensino-aprendizagem melhor adaptadas para cada aluno, através das quais se alcançarão os objetivos previstos, constitui, sem dúvida alguma, a tarefa mais importante e completa de toda a programação. As atividades devem ser organizadas por meio de tarefas ou pequenos projetos com sentido que a criança deve executar. A tarefa é um conjunto organizado de atividades que orienta o processo de aprendizagem do aluno. Requisitos da atividade 1. Intencional. O amadurecimento natural das diferentes aptidões não pode ser chamado educativo; é educativo o que é adquirido por meio de esforço voluntário, intencional, de um modo mais ou menos direto. 2. Na educação nos interessam os atos que aperfeiçoam a criança. O acerto do educador consiste em potencializar as energias que possuem uma clara e valiosa ênfase de aperfeiçoamento, deixando sem oportunidade de desenvolvimento as que tenham um caráter negativo. Interessam, pois, os atos de valor positivo. 3. A realização de algo externo é sinal de assimilação interior. 4. Os atos verdadeiramente positivos são aqueles que comprometem toda a pessoa, os que colocam em jogo as energias psíquicas e biológicas.

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Tipos de atividades A seguir serão apresentados diferentes tipos de atividades necessárias para o desenvolvimento de uma unidade didática completa, indicando as fases que caracterizam o modelo de aprendizagem.

a) Atividades de iniciação São aquelas propostas pelo professor com a finalidade de motivar e introduzir a aprendizagem, ou de facilitar ao aluno a relação com experiências ou conhecimentos anteriores. Exemplos: Debates sobre um ponto ou um tema relacionado com a unidade didática, apresentação de livros, folhas ou objetos, excursões, passeios etc. b) Atividades de Exploração Inclui o conjunto de atividades mais características dos métodos ativos. Sua finalidade é que os alunos tenham a oportunidade, a ocasião de descobrir a informação. Exemplos: observar objetos, situações. Medir, classificar, colecionar, ler, manipular, perguntar, comparar, desenhar etc. c) Atividades de integração São aquelas de caráter individual ou grupal, que estão direcionadas para os alunos organizarem e relacionarem os dados obtidos. Exemplos: Fazer informativos orais ou escritos, debates de sínteses (colocadas em comum) etc. Queremos destacar a importância dessas atividades. Os dados obtidos pelo aluno na fase anterior, se não se inter-relacionam, não serão aprendidos como partes de um todo, mas sim de forma isolada. d) Atividades de criação São aquelas que se produzem como resultado da transformação dos conhecimentos adquiridos em elementos ativos para novas aprendizagens, surgidos como consequência da autoestimulação da criança, que provoca processos de curiosidade e de criação imaginativa. Exemplos: realizar experiências, formular e/ou resolver problemas etc. e) Atividades de fixação Este tipo de atividade tem como finalidade consolidar o aprendizado e evitar o esquecimento. São tarefas tradicionais de exercitação e memorização. Exemplo: repetir, perguntas e respostas, revisão etc.

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f) Atividades de aplicação São dirigidas para proporcionar ocasiões de verificação, e comprovação de suas próprias descobertas ou para fazer uso do que foi aprendido. Exemplo: realizar experiências, formular e/ou resolver problemas, etc. Princípios do ensino ativo a que se referem as atividades a) As situações problema, frequentemente, colocam em tensão a atividade mental, enquanto que as dogmáticas incitam a passividade. b) Estimula-se mais a atividade dos alunos com dificuldades acessíveis. Quando o professor faz e resolve tudo, não há espaço para o esforço pessoal. Mas quando a dificuldade é insolúvel e ultrapassa os meios que o aluno dispõe, aparecem a frustração e a passividade. c) O aprender operativo é um "aprender fazendo". Trata-se de um fazer que, em algumas ocasiões, acontecerá pela realização de um trabalho externo e, em outras, limita-se a desenvolver as capacidades do estudante. Sempre que seja factível, o aluno deve realizar algo bem feito, materializando a sua aprendizagem. d) Na programação de trabalho, o professor deverá pensar menos, no que ele vai fazer, e mais no que o aluno irá realizar. e) A atividade interessante é o melhor meio de manter a disciplina. A indisciplina nas crianças desta idade provém, quase sempre, do aborrecimento. f) As tarefas mais motivadoras são as que possuem maior significado real para a criança. g) É importante estimular a atitude de superação, mantendo cada um em competição consigo mesmo, para que consiga conhecer suas conquistas o quanto antes. Não há nada que convide mais à passividade do que sentir-se anônimo, perdido entre a massa. h) Devemos cultivar o trabalho autônomo. As atividades que levam a criança à autoaprendizagem são, por si só, mais eficazes e motivadoras que aquelas em que se requer a ajuda do professor. Estas deve reduzir-se ao essencial, já que qualquer intromissão, no que cada um pode realizar por si só, é pedagogicamente contraproducente. Ao selecionar atividades deve-se levar em conta:   

as necessidades educativas dos alunos; os recursos (materiais, humanos, de tempo) que se dispõem; sua incidência na promoção de hábitos;

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sua dimensão integral de potencializar um maior número de capacidades.

4. A MOTIVAÇÃO DAS APRENDIZAGENS

Motivar é predispor os alunos ao esforço. É oferecer razões, motivos de valor capazes de despertar nos alunos a atenção e o interesse. Os motivos ou razões mais eficazes e de efeitos mais duradouros, sempre são os internos: os sobrenaturais — agradar a Deus com o próprio trabalho — e os nobres humanos, como sentir a satisfação do cumprimento do próprio dever e de realizar um trabalho bem feito, a alegria de servir e de sentir-se capaz de fazer algo pelos demais. A primeira fonte de motivação para a aprendizagem é o desejo natural por saber. O ir aprendendo, motiva, por sua vez, novas aprendizagens. Dito de outro modo: um ensino eficaz, é por si só motivador. De fato, os alunos declaram sentir-se mais motivados pelo professor que prepara cuidadosamente suas aulas, que sabe organizar o trabalho, que exige de forma razoável um rendimento proporcional e que revisa as tarefas diariamente. Uma realidade que na prática não se deve esquecer é a de que os alunos devem saber desde o primeiro momento que trabalho lhes é pedido, quais objetivos devem alcançar e quais meios possuem para consegui-lo. A desmotivação para uma aprendizagem deve-se mais, em muitas ocasiões, à uma situação de ignorância, do que, a uma indisposição atitudinal do estudante. Saber para que se faz algo, ou seja, conhecer a relação existente entre as atividades que realiza e os objetivos que pretende conseguir, é enormemente motivador. As tarefas criativas são mais motivadoras que as repetitivas. Deve-se priorizar a motivação externa nas tarefas rotineiras e de memorização, e a motivação interna nas tarefas de aprendizagem conceitual, resolução de problemas e que impliquem criatividade. O conhecimento dos resultados é um forte estímulo para corrigir os erros e melhorar, por isso, deve-se indicar aos alunos os resultados dos seus trabalhos o quanto antes possível. O reconhecimento dos acertos no trabalho realizado é percebido pelo aluno como um êxito, e a esperança de obter mais êxito estimula a reiterar o comportamento aprovada pelo professor. O reconhecimento dos acertos de um aluno ou de um grupo de alunos em uma tarefa determinada, motiva mais que o reconhecimento do fracasso. O registro dos progressos na consecução das metas

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propostas pode com frequência aumentar a motivação interna, assim como conhecer as causas do êxito ou do fracasso em uma determinada tarefa. As atividades devem ser graduadas de tal forma que, a partir das mais fáceis, o aluno vá obtendo êxitos sucessivos. O grau de dificuldade da tarefa deve ser adequado. Se a exigência é pouca, os alunos mais brilhantes, que reagem ante o desafio, perdem o interesse. Se a dificuldade é excessiva, os menos capazes perdem a motivação. Como não é possível encontrar tarefas que sejam adequadas a todos os alunos, simultaneamente, é imprescindível uma diferenciação dos objetivos. A motivação consiste em estimular o esforço e em estabelecer uma dificuldade razoável para que uma tarefa seja possível. As mudanças moderadas, no nível de dificuldade e complexidade de uma tarefa, favorecem a motivação em quem a realiza, ao serem atraentes e agradáveis. As mudanças bruscas provocam atitude de recusa e podem conduzir ao desânimo. A relação com a vida extraescolar é uma fonte poderosa de motivação. Quando se relaciona de forma significativa, um novo conteúdo com algo já aprendido, com conteúdos de outras áreas ou com a sua realidade, o aluno o compreende melhor e a aprendizagem se globaliza, sendo assimilado com muito mais facilidade, que o conteúdo carente de sentido. A elaboração significativa das tarefas escolares gera motivação e as tarefas repetitivas e descontextualizadas, não. A aprendizagem é significativa quando tem sentido para o aluno, coisa que não ocorre com a aprendizagem de memorização mecânica. É necessário valorizar as tarefas e esforços realizados pelos alunos, pois se isso não é feito com certa frequência, a motivação inicial tende a extinguir-se e, em consequência, faz cair o nível de rendimento. O grau de estimulação dos alunos deve ser o adequado: se a estimulação é muito reduzida não se produzem mudanças; se é excessiva, pode produzir ansiedade e frustração. A atmosfera interpessoal na qual se desenvolve o trabalho escolar deve permitir ao aluno sentir-se apoiado, estimado, respeitado como pessoa e capaz de dirigir e orientar a sua própria ação. Um ambiente de otimismo aumenta a motivação. O professor que promove autonomia no trabalho, promove a motivação e a autoestima. O centrado em si, controla-a e a atenua. As estratégias operativas e participativas são mais motivadoras que as passivas e dogmáticas. Os resultados são melhores quando o aluno descobre as verdades, e

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quando as tarefas são realizadas sem coação. Comprometer o estudante em uma determinada tarefa ou trabalho, leva a um resultado muito positivo. Ao utilizar um método de ensino indutivo, é interessante inserir ocorrências, fatos e situações ocasionais da vida real dos alunos no desenvolvimento do tema correspondente; relacionar o que se ensina com a realidade vivenciada pelo aluno; partir de fatos e acontecimentos da atualidade, que tenham relevância; utilizar a experimentação etc. Trata-se de fazer, na medida do possível, que a teoria seja extraída da prática, procedendo do particular para o geral, do conhecido ao desconhecido, dos fatos aos princípios, do simples para o complexo. Convém relacionar, sempre que seja possível, os conteúdos de aprendizagem com os interesses, necessidades e problemas próprios de cada grupo de alunos (segundo sua idade, ambiente etc.). O progresso é mais rápido quando os alunos reconhecem que a tarefa coincide com seus interesses imediatos. Dessa forma, a motivação é maior quando o material didático, que se utiliza, é variado e adequado ao conteúdo. O elogio é útil se surge de um modo espontâneo, não pensado antecipadamente, e se é dirigido a um trabalho ou esforço concreto. Um aluno acostumado a frequentes elogios pode cair na vaidade ou sentir-se julgado, negativamente, quando não é elogiado. Às vezes, um elogio pode ser apresentado como uma avaliação negativa do resto da classe. Deve-se evitar a repreensão pública, o sarcasmo, as comparações, a sobrecarga de tarefas e, em geral, todas as condições desfavoráveis para o trabalho escolar. Ao contrário, convém utilizar, quando necessário, a repreensão de forma privada. Os castigos nunca significam uma motivação para o trabalho do aluno. Sempre são mais eficazes as palavras de ânimo, a confiança nas suas possibilidades de retificação, e o reconhecimento dos aspectos positivos na conduta e no trabalho do aluno. As expectativas do professor, sobre o aluno, são profecias que se cumprem por si só. O aluno costuma render o que o professor espera dele. A competição, bem entendida, pode ser um excelente recurso de motivação, quando utilizada de forma grupal, ou quando o aluno a exerce consigo mesmo (autocompetição), sem esquecer que a aprendizagem cooperativa é mais motivadora que a aprendizagem individualista e competitiva. A atitude positiva do professor atua como um poderoso fator de motivação em seus alunos, já que provoca, neles, atitudes positivas ante a sua pessoa e o trabalho escolar. Servem como exemplo de atitudes positivas, as seguintes: 145 Solar Colégios


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levar em consideração a opinião dos alunos; aceitar as respostas dos alunos, corretas ou não, como tentativas de aprender; ser paciente; corrigir com bons modos; interessar-se pelas dificuldades e problemas pessoais dos alunos; reconhecer os esforços dos alunos; ter senso de humor; ocupar-se equitativamente de toda a classe e tratar a cada um segundo as suas condições individuais.

5. A PREPARAÇÃO DAS AULAS

A razoável e eficaz atuação educativa do professor se apoia em duas ideias fundamentais que devem sempre estar presentes: 

Em primeiro lugar, banir a ideia de que a função do professor é explicar o conteúdo de um tema. A tarefa de um professor é estimular e orientar o trabalho dos estudantes. Com palavras de Rogers: quanto mais o professor ensina, menos o aluno aprende. Em segundo lugar, uma atividade educativa — uma "lição" no sentido tradicional da palavra — pode ser estruturada e, é conveniente que o seja, previamente. Porém a realização do ensino, que é fundamentalmente comunicação com os estudantes, é complexa, variada, rica e nela intervém, em grande medida, a disposição e as atitudes do professor.

Sobre essas duas ideias, tanto o desenvolvimento como a realização de uma atividade educativa completa, que pode ser uma lição, uma unidade didática ou uma sessão escolar, deve ter os seguintes passos: 1. 2. 3. 4. 5.

estudo da situação; estímulos; corpo do trabalho; avaliação; tomada de decisões.

Estudo da situação É a etapa prévia que geralmente se ignora, com a qual se corre o risco de faltar eficácia a toda a atividade escolar por falta de fundamento. Este primeiro passo tem como fim chegar a uma apreciação correta da realidade, que o professor utilizará para iniciar um ensinamento. O estudo da situação consiste simplesmente na apreciação do estado dos elementos que a constituem: 146 Solar Colégios


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comprovar que o material que se deve utilizar esteja convenientemente disposto; comprovar as disposições e conhecimentos prévios dos alunos para abordar o trabalho do qual se trata.

Estímulos O conhecimento da situação de aprendizagem permite, ao professor, iniciar com segurança a sua tarefa, gerando nos alunos uma motivação positiva. O estímulo dos estudantes inclui duas tarefas: informação clara do que se vai fazer e motivação no sentido estrito. Quanto a motivação, deve-se dar a importância que ela tem, mas não convém dramatizar a situação. Muitos professores chegam a acreditar que se não se realiza uma cuidadosa motivação, os estudantes não aprendem, esquecendo-se do atrativo que tem a tendência natural a aprender. Existe uma boa probabilidade da motivação surgir pela satisfação inicial de ter aprendido algo. Também não podemos esquecer que a maior motivação para o aluno é a personalidade do professor, seu interesse e o modo ágil, ameno, científico e variado de como prepara as suas aulas.

Corpo do trabalho Ao preparar a aula, deve-se levar em conta que a etapa de trabalho é a mais importante, pela qual se deve dedicar a maior parte do tempo. É também a etapa em que o professor necessita utilizar todos os recursos pessoais e materiais. Através das atividades de aprendizagem os alunos colocam em prática e desenvolvem as suas capacidades e destrezas. Para estimular e orientar as atividades dos alunos, o professor tem ao seu alcance todos os recursos que, sistematicamente, se estudam na metodologia educativa e que convém não correr o risco de esquecer: a palavra, o material pedagógico, a lousa e as mídias. Avaliação e Tomada de decisões É o último momento, posterior ao andamento do programa de atividades, porém previsto de antemão na programação. Trate-se de conhecer até que ponto os objetivos programados foram conquistados, para tomar outras decisões que levem as melhoras necessárias. A avaliação vai acompanhando os demais momentos da unidade didática.

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6. OS DEVERES DE CASA

Entende-se por dever escolar, toda a atividade encomendada pelo professor, para que seja realizada por um aluno em sua própria casa. Não importa o tipo de tarefa: memorizar um texto, estudar uma lição, resolver um problema, fazer uma tradução, um desenho, uma composição escrita, preencher uma ficha, ou fazer uso de múltiplos trabalhos práticos como recortes, coleções, construções, etc. Na hora de pensar na importância dos deveres escolares deve-se levar em conta o seguinte: 1. A preparação para a vida é uma das manifestações do fim da educação. Ao programar os deveres escolares, o professor deve lembrar que é fundamental procurar que as situações reais sejam motivo de reflexão no colégio e, por sua vez, que as ideias que foram adquiridas no colégio, tenham aplicações na vida externa do estudante. Por outro lado, são um meio, não o mais importante, para conseguir uma comunicação diária entre os pais e os professores. O aluno é portador do que se pensa e se vive na família e é preciso que, essas realidades, sejam utilizadas no colégio. 2. Todas as entidades educativas que atuam sobre um aluno devem estar relacionadas entre si, sendo assim, a família e o colégio devem manter uma relação constante de mútua cooperação. 3. Os deveres são necessários para que o aluno, estimulado, orientado e ajudado no colégio, encontre-se em uma periódica e regular situação na qual a sua aprendizagem dependa de seu esforço pessoal, sem contar com as ajudas externas de outras pessoas, concretamente do professor ou colegas. É um bom momento para iniciar os hábitos de estudo, por isso, é aconselhável que o professor fale com os pais e lhes aconselhe uma série de detalhes para que este trabalho seja eficaz: hora, lugar, tempo idôneo etc. Os deveres e o trabalho em casa devem exigir pouco tempo, o menor possível para que cada estudante consiga cumpri-los. Não obstante, se a criança encontra gosto e satisfação nelas, pode-se fazer deste princípio uma exceção. É uma boa ocasião para levar em conta a possível pró-atividade ou recuperação dos alunos. Os trabalhos exigidos devem ser supervisionados pelo professor, para que não se perca boa parte da motivação e eficácia desse trabalho. Os deveres escolares serão utilizados sempre que necessário, e procurar-se-á:

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que se adaptem às necessidades dos alunos; que sejam planejados e controlados pelo professor; que possam ser objeto de comunicação e relação com outros membros da família; que não requeiram gasto econômico extraordinário.

Além disso, convém que reúnam algumas das seguintes condições de eficácia: 

  

que sirvam como campo de aplicação das ideias adquiridas no colégio. As aprendizagens de matemática, conhecimento de mundo etc., serão verdadeiramente vivas, na medida em que forem utilizadas para compreender a realidade familiar e social, na qual o aluno se desenvolve; que facilitem o desenvolvimento e realização dos projetos pessoais e objetivos individuais; que estimulem a criatividade do aluno facilitando o desenvolvimento de seus passatempos e aptidões especiais; que promovam conversações ou trato — não ajuda material — de pais ou irmãos.

Indicadores de conduta positiva do professor ante os deveres escolares:           

destaca a importância dos deveres; indica ou comenta o procedimento para fazer as tarefas que encomenda; oferece a possibilidade de realizar trabalhos voluntários; sugere que se anote o dever na agenda; indica o tempo aproximado de execução; assegura-se de que todos os alunos tenham compreendido a tarefa; averigua as causas pelas quais não se tenha feito os deveres; corrige os deveres com prontidão; pede para refazer atividade mal apresentada; sugere trabalhos diferentes para os distintos grupos de alunos; está pendente de que o aluno não se veja, realmente, sobrecarregado pelo excesso de deveres escolares.

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Capítulo VII - CONHECIMENTO, PROJETO PESSOAL E AVALIAÇÂO PERSONALIZADA DO ALUNO

A. CONHECIMENTO DO ALUNO Nenhuma tarefa educativa deve surgir, sem primeiro ser considerada a quem está destinada; os professores precisam conhecer as características da pessoa a quem será dirigido seus ensinamentos. Este conhecimento torna-se, relativamente, simples de ser adquirido quando se conta com uma elementar base psicológica. É necessário conhecer a cada aluno para orientar seu correto desenvolvimento e adaptação ao grupo e ao centro escolar. Também, para estar em condições de prevenir as possíveis dificuldades e superar as que se apresentem nesta etapa, básica para as aprendizagens posteriores. Ainda que o objetivo deste Manual não seja o de abarcar todas as técnicas possíveis de conhecimento do aluno, oferecem-se aqui os aspectos elementares para um professor de Ensino Fundamental.

1. Aspectos gerais As crianças, como todas as pessoas, em qualquer lugar, são infinitamente diversas, independentemente de que procedam de uma determinada classe social, cultural ou econômica; daí a dificuldade que a psicologia evolutiva tem na hora de estabelecer delimitações precisas das características que se manifestam em determinadas idades. Por conseguinte, as características evolutivas agrupam-se segundo os processos mais significativos que têm lugar nestas idades. Atualmente, não existe dúvida de que um bom desenvolvimento sensóriomotor durante a infância é a base para uma aprendizagem adequada. Este desenvolvimento incide de forma notável no psiquismo das crianças, uma vez que o desenvolvimento intelectual apoia-se na maturidade do sistema nervoso. Os exercícios físicos que a criança realiza favorecem o desenvolvimento de sua percepção, atenção, inteligência, vontade etc. São, além do mais, a melhor prevenção para as dificuldades de leitura e escrita. No sexto ano de vida, aproximadamente, aparecem mudanças fundamentais na criança, tanto somáticas quanto psicológicas. É uma etapa de mudança e transição. Nela, que antes era equilibrada e cujo desenvolvimento fluía com suavidade e 150 Solar Colégios


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lentidão, surgem novos impulsos, sentimentos e ações. Nesta idade, tende aos extremos: sua conduta começa a desintegrar-se, algumas vezes é briguento e outras retraído. Também é a idade das mudanças físicas (queda de dentes, infecções etc.). Deve-se levar em consideração que na evolução do ser humano sucedem-se dois períodos: o primeiro tem como características mais peculiares a ação, a expansão, a captação e o progresso; enquanto que no segundo momento se organizam, assimilam e amadurecem as mudanças ocorridas na fase anterior. A criança de 6 anos encontra-se no primeiro desses períodos, dirigida à atividade e ao desenvolvimento progressivo. Não se trata simplesmente de aperfeiçoar habilidades que já possuía aos 5 anos, mas sim, que se adentra em territórios completamente desconhecidos, explora novos caminhos. Este é mais um passo ao encontro de sua maturidade evolutiva. Em contrapartida, a idade de 7 anos geralmente é um momento de assimilação e acomodação das experiências adquiridas nas etapas anteriores. A bipolaridade explosiva dos seis anos abre espaço à ordenação das novas experiências e impressões. Esta vivência de seu mundo interior não é feita na solidão, mas tomando consciência dos demais como "outros eu", como pessoas semelhantes a ele. A partir desta idade, o desenvolvimento evolutivo da criança caracteriza-se pela abertura e uma maior maturidade em todos os sentidos.

2. Perfil do desenvolvimento da criança de seis anos As crianças com seis anos completos ou a ponto de completar, normalmente já adquiriram algumas destrezas e um desenvolvimento que se pode sintetizar da seguinte forma: Desenvolvimento motor  Participa de atividades direcionadas para aumentar a resistência física e a força muscular, com brincadeiras de ritmo, música e bola;  Tem uma perna e uma mão mais hábeis; possui um hemisfério dominante. Vai amadurecendo e interiorizando sua estrutura espacial e temporal;  É uma idade tipicamente ativa. A criança encontra-se em atividade frequentemente;  Equilibra conscientemente seu próprio corpo no espaço. Possui equilíbrio e controle de seus movimentos. Começa a interessar-se por sua própria anatomia.

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Desenvolvimento cognitivo  Começa a articular todos os sons e experimenta-os. Usa corretamente os tempos verbais, os plurais e os pronomes. Troca informação objetiva, porém lhe custa expressar ideias e sentimentos. Gosta de adivinhações e de jogos de palavras. Adquire um vocabulário crescente e usa de forma correta a maioria das palavras que conhece. Compreende frases elaboradas. Lê compreensivamente.  Passa da aprendizagem intuitiva ao pensamento concreto. Segue acumulando experiência suficiente para distinguir entre realidade e fantasia. Este mundo de realidades se forma graças a sua maior memória para recordar as experiências e a sua maior capacidade para simbolizá-las;  Quer aprender coisas. Mais que "para que serve?", pergunta "como funciona?". Encanta-se com contos de aventuras reais: já não lhes interessam os contos de fada. É capaz de projetar a maneira de resolver um problema e de compreender suas consequências. Identifica um objeto pelo tato.  Quer agradar o seu professor. Necessita seu elogio, atenção e ajuda. Deseja seriamente trabalhar, apesar de seus altos e baixos.  Instintivamente a criança identifica-se com tudo o que lhe acontece e está ao seu redor. Por isso, está capacitado a interiorizar novos conhecimentos e novas experiências pessoais e culturais. Seus desenhos espontâneos são mais realistas. Capta o primitivo e simples da natureza: casa, árvore, etc. Desenvolvimento afetivo e social  Possui iniciativa. A criança de seis anos demonstra que se sente apta para lidar com sua rotina diária, que pode ser líder de seus companheiros e que pode aceitar o afeto de quem lhes cuida habitualmente e desenvolvê-lo. Desfruta da companhia dos demais, ainda que siga querendo fazer as coisas à sua maneira.  É o centro do seu próprio universo. Egocêntrico. Dominador, obstinado e agressivo. Emocionalmente excitável, desafiador. Tem um comportamento inconsequente ao tentar encontrar formas de relação que tenham êxito. Troca frequentemente de amizades. Baseia-se em suas normas para julgar seus atos e os de seus companheiros de brincadeira.  Recorre aos adultos para receber conselhos sobre as normas morais e culturais. Assimila os padrões de conduta próprios da cultura em que vive. Possui certa noção do bem e do mal, relacionado, ainda fundamentalmente, com atividades aprovadas ou desaprovadas por pais e professores.  Tem dificuldade para decidir. Reage lenta ou negativamente ante uma ordem, porém, passado o tempo, pode colocá-la em prática espontaneamente, como se se tratasse de sua própria ideia.

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Agrada-o ter grande número de coisas suas, porém não as cuida. Seu sentido ante a propriedade alheia é débil, assim, pega o que vê e deseja, independentemente de quem seja o proprietário. Extremamente dominante quanto às coisas que lhe pertence. Tem medo de barulhos, sobretudo aos elementos da natureza (chuva, trovão), de seres humanos e de fantasmas. A mãe já não é o centro do seu mundo, agora, ele mesmo é quem ocupa este lugar. Esta autonomia da criança frente às mães, ainda não é completa, sendo muito sensível aos estados de ânimo e às tensões. Respeita e admira mais o pai, lhe agrada brincar com ele. Brinca com as demais crianças, especialmente m grupos pequenos e da mesma idade, ou pouco maiores que ela. Tem grande interesse em fazer novos amigos, em ter amigos e estar com eles. Nas brincadeiras há discussões e brigas, pelo fato de cada um querer fazer as coisas à sua maneira. Em suas relações abunda o sentido de reciprocidade: "você me faz isso, eu te faço aquilo..." Porém essa inclinação à briga contribui para o amadurecimento e faz parte do processo de integração. Em suas relações utiliza, com frequência, o sentido de reciprocidade: "você me faz isso, eu lhe faço aquilo..."

Aquisição de hábitos de conduta  Ainda está no período sensitivo da sinceridade;  Começam os períodos sensitivos das virtudes humanas básicas (laboriosidade, generosidade, amizade, fortaleza etc.), que formam o caráter e durarão até os doze anos, começo da puberdade. Desenvolvimento religioso  Terminou o período sensitivo da existência de Deus e das primeiras práticas de piedade e ainda não começaram outros períodos sensitivos de aprofundamento, que levam a viver as práticas adquiridas.  É importante não esquecer a importância que tem, o exemplo de seus pais e educadores, para o desenvolvimento da sua vida cristã.

3. Perfil do desenvolvimento da criança de sete anos Desenvolvimento motor  É menos ativo, menos impulsivo e mais concentrado em si mesmo que a criança de seis anos.  Consciente de seu corpo. Pudor natural.

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Completa a definição de sua lateralidade dominante. A coordenação alcançada permite-lhe iniciar na atividade desportiva.

Desenvolvimento cognitivo  Suas capacidades vão ficando mais complexas e melhor diferenciadas. A atividade cognoscitiva manifesta-se, fundamentalmente, através da percepção e compreensão da informação, a memória, a geração de ideias e hipóteses, a avaliação, o raciocínio e a associação livre de ideias. Estes processos se aplicam aos conceitos, às regras, às imagens e aos símbolos.  Cada vez é mais capaz de falar dos conceitos (em detrimento das imagens) que vai formando e pode comunicá-los.  Concretiza e interioriza mais suas estruturas de espaço e tempo.  Vai melhorando a sua capacidade de trabalho individual. Deseja completar sua tarefa, uma vez começada. Propenso a esperar muito de si.  Produz-se um notável aumento na qualidade de execução de problemas que requeiram atenção. Continua aumentando a capacidade de memória imediata.  Exige com impaciência a atenção e ajuda do professor e tende a afeiçoar-se a ele. Desenvolvimento afetivo e social  Mais consciente de si mesmo e introvertido. Parece viver em "outro mundo". Reflete mais, antes de atuar; não que seja mais medroso, mas está mais deliberativo.  Está desenvolvendo seu sentido ético (distinção do bem e do mal), não somente a respeito de si, mas também em relação às outras pessoas.  Sensível ao elogio e à crítica. Ansioso em agradar, comparando-se com os demais, o que facilita a disciplina.  Sofre menos pesadelos. É a figura central de seus sonhos.  O interesse e sentimento familiar são muito intensos. Melhora a relação com a mãe e ocorrem menos tensões que antes. Geralmente, é bom com os irmãos, porém, frequentemente, ciumento. Quer ter seu próprio lugar no grupo familiar.  Brinca mais socialmente e vai diminuindo a inclinação pela competição. É menos dominador, interessa que aprenda a perder. Prefere companheiros de brincadeiras, mais velhos que ele. Começa a insinuar-se a verdadeira cooperação, por isso, um bom momento para iniciá-lo no trabalho em equipe. Aquisição de hábitos de conduta  Ainda está no período sensitivo da sinceridade.

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Começam os períodos sensitivos das virtudes humanas básicas (laboriosidade, generosidade, amizade, fortaleza etc.), que formam o caráter e durarão até os doze anos, começo da puberdade.

Desenvolvimento religioso  Nesta idade, deve-se despertar na alma da criança o "sentido de Deus". Deus é, antes de tudo, um bom Pai que o conhece, o ama, que o cuida e o acompanha sempre. Deus Pai nos enviou seu Filho Jesus, para salvar-nos e guiar-nos até o céu.  É um bom momento para desenvolver a capacidade de diálogo simples e espontâneo da criança com Deus como Pai, com Jesus como Irmão e Amigo, com Maria, Mãe de Deus e nossa, com seu Anjo da Guarda; também para fomentar o amor a Jesus Sacramentado com pequenas Visitas a Jesus e a devoção confiada à Santa Maria, por exemplo, celebrando suas festas de algum modo.  Convém que as crianças tenham ocasião de expressar corporalmente, através de gestos simples, sentimentos religiosos, como ajoelhar-se, beijar o crucifixo ou uma imagem da Virgem, fazer o sinal da Cruz etc.  É importante, também, ajudar a criança a criar algumas atitudes básicas humanas e religiosas, partindo da experiência de valores humanos fundamentais. Junto com as normas de conduta que se vão oferecendo à criança, vai-se dando as motivações religiosas das mesmas, principalmente através do exemplo de Jesus e Maria.

4. Perfil do desenvolvimento da criança a partir dos oito anos Antes de enumerar algumas das peculiaridades específicas, das crianças desta idade, deve-se deixar claro que seu desenvolvimento constitui uma sequência contínua, sem interrupções bruscas, nem saltos de uma etapa para outra, ainda que os diversos estudiosos do tema apontem com denominações concretas cada estágio pelo qual transcorre esta evolução. Desta forma, a passagem de um momento evolutivo a outro não ocorre da mesma maneira, nem na mesma idade em todas as pessoas, ainda que ocorra de forma aproximada, o que permite singularizar cada idade com matizes diferenciados, sabendo que em toda esta etapa predominam as mesmas características, que se modificam paulatinamente conforme a passagem dos anos. Estas características variam em profundidade entre o início e o final do Projeto Snipe, momento em que os alunos alcançam, de forma geral, o estágio de operações formais, que supõe mudanças decisivas em sua forma de aprender e relacionar-se.

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Após estas observações, apontam-se as peculiaridades consideradas mais relevantes nas alunas e alunos da segunda etapa, e que fundamentam a ação educativa. Os pontos que serão destacados a seguir, são basicamente comuns, porém, podem aparecer em maior ou menor grau, segundo as condições pessoais e socioculturais de cada aluno e aluna. Convém tê-los em conta porque, de forma geral, servirão como apoio para a atuação em sala de aula. De qualquer forma, é imprescindível o conhecimento pessoal de cada um dos alunos. Desenvolvimento físico  As crianças de 8 a 10 anos crescem fisicamente a um ritmo mais lento que em idades anteriores, porém são sensivelmente mais altas e "espigadas" que as da etapa anterior (6 e 7 anos).  Os meninos são mais delgados, as meninas, em contrapartida, são ligeiramente mais altas e seu aspecto é mais arredondado, com maior abundância de tecido adiposo no tórax e nos quadris; estas características prevalecerão até a adolescência, na qual os meninos ultrapassarão as meninas em altura e musculatura. Até os 10 anos, em algumas meninas, já se manifestam traços de pré-puberdade.  As proporções corporais variam pouco. O tamanho está muito relacionado com a procedência sociocultural e racial. Os que possuem uma nutrição adequada, controle médico e higiene, podem ter altura e força maiores dos que carecem de tais cuidados.  Entre os 8 e 10 anos a altura e a força é muito valorizada entre os meninos, e, proporciona, aos mais desenvolvidos, prestígio social e maior êxito nas atividades desportivas. Influencia a conduta, a personalidade, o autoconceito e a segurança. Os desenvolvimentos biológicos mais notáveis são:  A visão está totalmente desenvolvida. Há total coordenação entre as duas vistas e existe uma maturidade e preferência lateral ocular. Também podem estar superadas algumas alterações visuais infantis, como o estrabismo.  A percepção auditiva de estímulos e tons está totalmente desenvolvida nestas idades.  As proporções do rosto vão mudando e a expressão é mais madura; o crânio cresce mais, já que quase todo o desenvolvimento cerebral está realizado. As feições adquirem um tamanho semelhante ao que terão de adulto, devido à mudança de dentição sofrida entre os 6 e 8 anos, com o conseguinte crescimento das mandíbulas.  O sistema ósseo atravessa uma etapa de lento crescimento. Os ossos são, todavia, mais flexíveis, com menor risco de fraturas, o que facilita a

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flexibilidade para o movimento, a agilidade e a atividade físico-desportiva que tanto os atrai. O sistema nervoso atinge a maturidade até os oito anos. Durante alguns anos prosseguirá — ainda que a ritmo mais lento — a associação neuronal. Como consequência do desenvolvimento dos tecidos corticais do cérebro, produzemse mudanças rápidas nas capacidades mentais, como recordar, abstrair, atribuir significados a pessoas e objetos, classificar, associar e discriminar, o que permite à criança realizar melhores aprendizagens e ajustes pessoais e sociais. O sistema digestivo funciona corretamente e já foram superadas dificuldades tipicamente infantis, ainda que seja preciso cuidar da alimentação, porque podem aparecer alterações endócrinas: gordura ou magreza notáveis, que repercutem em outras áreas de conduta e adaptação.

A frequência ao colégio é mais regular, pois as típicas enfermidades infantis são menos frequentes, ainda que persistam algumas, associadas às mudanças climáticas, como as gripes e alergias. As meninas podem ser mais propensas às doenças típicas de estação, e os meninos aos problemas gastrointestinais. Convém ter uma atenção especial às doenças imaginárias ou reativas a estados emocionais inadequados. Podem aparecer como mecanismos para melhorar ou aliviar situações alteradas ou mal toleradas. Entre elas, interessa destacar os vômitos, as gastrites, a anorexia nervosa, a enurese, a asma ou as reações alérgicas sem causa física. Podem ser sintomas de uma relação interpessoal inadequada, seja familiar ou no colégio. É necessário detectar e tratar o quanto antes melhor, estes comportamentos, e averiguar suas causas. Desenvolvimento Motor Caracteriza esta etapa de passagem dos 6-7 anos aos 8-10, uma grande abertura e maturidade, acompanhadas de vitalidade, expansividade e curiosidade por tudo o que lhe rodeia e pelo movimento. Seu corpo e interesses fazem com que este momento seja ideal para iniciar e aprimorar habilidades motrizes porque:  seus corpos são muito flexíveis e estão maduros para dominar exercícios e esportes com simplicidade;  são muito audazes. Sentem-se muito dispostos e com grande motivação para ensaiar tudo o que é novo e treinar, esforçando-se todas as vezes que seja necessário, em exercícios repetitivos, até conquistar o hábito motor;  não se importa em cometer erros e repetir as mesma ação uma e outra vez, para conseguir padrões musculares, até conquistar a perfeição;  possuem uma grande disposição para aprender e maior tempo para exercitarse na prática se lhes são oferecidas oportunidades; 157 Solar Colégios


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É o momento idôneo de adquirir interesses novos e enriquecer seus tempos livres, o que estimulará a sua inteligência e sociabilidade. O exercício motor proporciona alegria, segurança e saúde. Ainda que não haja um progresso substancial na evolução dos centros nervosos — sua maturação já está praticamente acabada —, as investigações sobre o desenvolvimento motor coincidem em que nos encontremos no período sensitivo da aprendizagem das técnicas de execução motriz, de modo que o treinamento nestas destrezas e habilidades motrizes básicas, produzem os máximos níveis de eficácia. Terão maior domínio nas habilidades motrizes que forem exercitadas neste período: desenhar, escrever bem, pintar, modelar, dançar, atividades desportivas. A precisão nos movimentos e a rapidez de execução aumentam notavelmente. É a época da coordenação fina e adaptação ao espaço e ao tempo das ações motrizes e sensoriais. Poderíamos dizer que passa de ser dominado pelos seus movimentos a dominá-los.

Os aspectos quantitativos do movimento vão se tornando, gradualmente, mais patentes: corre mais, pula mais, lança com maior potência e precisão, aguenta um esforço durante mais tempo etc. Aumenta a riqueza das condutas motrizes, que se traduzem em: 

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maior destreza na manipulação de objetos, dos utensílios de trabalho ou de jogo. A motricidade fina se aperfeiçoa: usa as mãos independentemente uma da outra, brinca com os dedos, pode escrever durante um tempo prolongado etc.; possibilidade de realizar por si só, com maior perfeição, atos como vestir-se e despir-se, comer, etc., que antes realizava de forma mais torpe; perfeita coordenação de pés e mãos; destreza nos exercícios físicos.

Consequência disso é a satisfação que encontra nos jogos e exercícios físicos, nas excursões ou saídas de estudo. Outra manifestação é a tendência de exibir suas habilidades e força, e competir com seus companheiros. Podem exceder-se no exercício físico, porque lhes custa relaxar após um jogo ou um pouco de esporte. Convém estar pendente para evitar o esgotamento ou a super excitação. Sua compreensão das regras e o desenvolvimento de seus interesses sociais, os levam a preferir, paulatinamente, os jogos de associação de regras. Definida sua lateralidade, são mais hábeis em seus comportamentos motores e lhes agrada ostentar suas habilidades. O domínio da lateralidade, facilita a correta 158 Solar Colégios


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localização e orientação espaço temporal, a comunicação com os demais e a memória em termos de tempo e espaço. A compreensão espaço-temporal é condição prévia para compreender as relações antecedente-conseguinte em termos de causalidade; também tem relação com:  

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o desenvolvimento da atenção. A capacidade para manter atenção e postura, já é bastante duradoura — várias horas ao dia; a habilidade gráfico-estrutural (capacidade de fixar-se, reter, interpretar e representar estruturas graficamente), especialmente importante para a aprendizagem da ortografia; o interesse pelos fenômenos do meio físico e social, ao facilitar a compreensão de mudança, de movimento, da sucessão espaço-temporal; a capacidade de ordenar acontecimentos e ideias; a capacidade de distribuir seu tempo, de programar atividades segundo um horário.

Os interesses por estas atividades começam a diferenciar-se segundo o sexo. É o período onde existe mais diferenciação sexual. Os meninos preferem exercícios e esportes ou atividades onde predominam a força e o risco. Eles gostam dos esportes grupais, como o futebol, o basquete, o handebol, o rúgbi, as corridas, as atividades de carpintaria, as maquetes, o aeromodelismo. As meninas mostram maior interesse pelas habilidades artísticas, como a pintura, a colagem, a costura e aquelas em que usam o ritmo e o equilíbrio — ginástica rítmica, balé, dança — e também pelos esportes menos bruscos, como tênis, natação, hipismo. Quando se trata de jogos grupais ativos, tanto as meninas como os meninos, escolhem realizá-los com pessoas do seu próprio sexo. São as idades onde existe maior rejeição intersexual para jogos e diversões. Dentro dos problemas mais comuns que podem apresentar-se a nestas idades, está a inabilidade motriz, quer dizer, a falta de controle do movimento do corpo e de agilidade para ser preciso e eficaz na realização de atividades físicas. As causas podem ser:     

atraso maturativo geral; corpos muito obesos ou muito magros e débeis; muito baixo nível intelectual (limites ou atrasos fortes); muito alto nível intelectual que os leva a preferir atividades intelectuais às de movimento; falta de oportunidades e motivação para o desenvolvimento. 159 Solar Colégios


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Levando em consideração, o grande interesse que estas crianças têm pelos jogos e os esportes cooperativos, assim como as possibilidades educativas que têm este tipo de atividades, privá-los delas deixariam os alunos sem uma importante fonte de motivação extraordinária e poderia acarretar diversos danos que se deve ter em conta, como:     

menor desenvolvimento físico e intelectual; menor harmonia corporal, agilidade, domínio, destreza; menor capacidade de integrar-se em grupos e socialização; menor naturalidade, soltura, independência e respeito a normas impostas; falta de estímulos que diminuam a capacidade de diversão, relaxamento e equilíbrio pessoal.

Desenvolvimento Intelectual É a idade propícia para o desenvolvimento do pensamento operativo concreto, através da paulatina apreensão intelectual. O processo natural que seguem é a passagem do intuitivo e imaginativo ao racional, para chegar a sintetizar e estruturar seus próprios conhecimentos. A inteligência sensório-motora passa a ser lógica, ainda que necessite dos sentidos para captar as coisas, já que o raciocínio abstrato virá depois, por volta dos 13 anos. Começam a raciocinar por si mesmos a partir dos porquês, e são frequentes as perguntas sobre o porquê e o para quê das coisas. O amadurecimento do neocórtex, a experiência e as motivações das crianças destas idades, permite que suas aprendizagens se realizem com rapidez. A estabilidade emocional lhes capacita para uma aprendizagem bastante sistemática. Está abandonando a subjetividade e o egocentrismo próprio da primeira infância, e o pensamento se faz mais lógico e mais capaz de captar as propriedades objetivas das coisas. Não são capazes de abstração, necessitam do concreto, apoiandose sempre nas impressões sensoriais e nas representações ("realismo infantil"). É capaz de relacionar ideias simples, porém chegar a uma definição geral é particularmente difícil. É um pensamento intuitivo, muito apoiado nas imagens. Para a construção do pensamento, os meninos destas idades, se apóiam nas próprias experiências e na informação que lhes chega a cada momento. Manifestam uma curiosidade intelectual muito grande, assim como desejo de exploração e necessidade de perguntar. Convém proporcionar-lhe muitas oportunidades para que capte novos conhecimentos e os relacione entre si: é importante, falar frequentemente com ele. A prática da argumentação e o raciocínio na conversação colaboram no seu desenvolvimento mental.

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Sua curiosidade é ativa, busca sensações, percepções e informações novas, como explorar lugares conhecidos ou desconhecidos (bairro, localidade, casa), desmontar aparatos (carrinhos, rádios, relógios), saber seu funcionamento e resolver problemas práticos. O novo e desconhecido o leva à ação e à manipulação e, por este meio, à aprendizagem. Sua curiosidade é mais enciclopédica, tem mais interesse pelos relatos e histórias, mostrando-se ávido pela informação, mas nem sempre a classifica. Neste sentido, necessita da orientação do professor para gerir esse começo do desejo consciente de saber, sobre as áreas de aprendizagem, e para frear a curiosidade não positiva sobre a intimidade dos demais e aspectos que requeiram segredo e discrição. Desenvolvem sua criatividade através de coisas sem serventia, objetos fantásticos, com sentido prático. Os trabalhos manuais, construções, dobraduras etc., tem um atrativo especial e servem para o desenvolvimento das habilidades intelectuais e para dar chance à criatividade e aplicação do aprendido. A capacidade de atenção aumenta paulatinamente e vão se tornando capazes de reter maior número de estímulos de modo mais duradouro, ainda que continuem precisando mudar, com certa frequência, de atividade. Possuem capacidade de discriminação, assim como facilidade para combinar objetos, distingui-los, agrupá-los e distribuí-los segundo suas características. Esta capacidade combinatória facilita as deduções e a escolha do vocabulário adequado, assim como o agrupamento das partes em um todo. É o momento oportuno para se exercitar na memorização de detalhes e conjuntos de elementos, na classificação e combinação de elementos, e nas medições. A diferenciação e distinção de atributos de alguns objetos ou fatos de outros, constitui um jogo divertido, que exercita aptidões intelectuais e que se deve potencializar. Dentro deste capítulo, destacam-se os processos de "operações concretas": agrupamentos, seriações e classificações (ordenar objetos, determinar atributos, diferenciar cores, tamanhos), base da transição entre o concreto e tangível e a abstração. A finalidade de suas perguntas e "porquês" é averiguar a origem e o fim das coisas. Não lhe satisfaz a resposta tranquilizadora com a qual se contentava a criança de 3 ou 4 anos, pois já busca conhecimento dos processos, o para que servem as coisas, qual é a origem das pessoas e animais — interesse pela vida — qual é o fim das pessoas — transcendência —, que mecanismos regem ou determinam os processos climáticos, as mudanças de estação ou as leis da natureza. Tem grande interesse pelo o que afeta o seu entorno, natureza, vida, normas, leis, mecanismos (indagar como funcionam carros, máquinas...), porém ainda não são 161 Solar Colégios


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capazes de abstrair, transladar conceitos, aplicar normas ou leis a processos diferentes etc. O pensamento adquire um papel predominante, de modo que grande parte da atividade e dos interesses da criança concentram-se no terreno da descoberta e do desenvolvimento intelectual. Encontra-se mais analítico e há uma maior disposição para a observação, que é importante aproveitar. Também desperta o sentido crítico, já que, à medida que a criança adquire maior compreensão da realidade — deixa de aceitar os conteúdos da experiência, de forma ingênua, e reflete sobre si mesmo, o que faz e a repercussão de sua conduta perante as pessoas de sua convivência. A criança nesta idade observa criticamente de modo especial os pais e educadores, com um sentido inflexível da justiça. Uma prova de seu senso crítico é que já não acata ingenuamente os mandatos ou proibições dos pais e professores. Adotam uma postura crítica, pedindo explicações e querendo que lhes deem razões para o que os mandam ou proíbem fazer, além de observar a conduta dos mais velhos tentando adequar a sua, a daqueles que observam. Tem aqui a grande importância do exemplo. Estão convencidos de que devem submeter-se às normas coletivas e são rígidos em seu cumprimento, exigindo dos outros — com sentido de justiça. Entretanto, são muito sensíveis ao companheirismo, ao altruísmo, e ao respeito as normas estabelecidas. Submetem as explicações à razão crítica e julgam — ainda que sem o devido conhecimento — sobre as pessoas, as coisas, a vida e a morte. Gostam de informar-se e fazer perguntas para irmãos mais velhos, adultos de confiança, ou consultar em livros e comprovar as informações. Querem descobrir o mundo e como funcionam as coisas. Sentem inquietude intelectual e desejo de aprender, tentam resolver os problemas por via reflexiva, para encontrar soluções. A atividade manipulativa vai dando espaço à experimentação científica, desenvolvendo a curiosidade por conhecer a norma que os fenômenos seguem, ao sucederem-se. A repetição dos fatos os possibilita a enquadrá-los em sucessões estáveis, das quais se extrairá leis físicas e normas de comportamento. O sentido prático facilita a compreensão numérica e se concretiza na medida que a criança toma consciência dos usos que pode dar ao cálculo e à numeração. É um bom momento para educar a laboriosidade, de modo que se estabeleça o hábito de um trabalho sério e ordenado, que lhes preparará para vencer a tendência à desordem e a falta de vontade que aparecerá na puberdade. Podem propor-se e

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esforçar-se por cumprir um pequeno horário de trabalho. É interessante que aprendam a utilizar uma agenda para as suas tarefas escolares. Ainda apresentam condutas intelectualmente neste período: 

negativas

frente

aos

avanços

conquistados

Ainda são acomodados e preferem que lhes comentem os fatos a interpretálos e deduzi-los por si só, porém, deve-se estimular que o façam, pois assim se favorece o pensamento indutivo e dedutivo. Têm tendência a se deixar levar pelo superficial, atrativo ou "mágico" dos impulsos momentâneos, interpretando as coisas a seu modo, sem se preocuparem muito em contrastar as opiniões com os fatos. São volúveis, têm mudanças emocionais e de ânimo frequentes e são muito impulsivos — querem ver tudo muito depressa. Isto faz com que sua curiosidade seja, às vezes, pouco dócil e indiscreta.

Os educadores devem ter presente que todo estímulo de aprendizagem possui fases estacionárias e, todo desenvolvimento tem períodos de retrocesso. Sua tarefa agora consiste em ser guia, em estar pendente de oferecer numerosas ocasiões para que, cada aluno, desenvolva ao máximo as possibilidades que esta etapa educativa oferece, tão rica em interesses, de tão fácil motivação e de desenvolvimento equilibrado. As dificuldades mais frequentes que podem surgir nesta etapa são as dificuldades escolares, causadas por problemas linguísticos ou por uma aquisição deficiente da leitura/escrita; por problemas físicos ou motores já considerados, ou por problemas de adaptação e ajuste pessoal, que afetam a conduta e o rendimento. Na ordem intelectual, as dificuldades mais frequentes são: 

Os que se devem à limitação intelectual leve, que não permite ao aluno seguir o ritmo normal da classe, devido a uma baixa compreensão das aprendizagens. Estes alunos representam uma porcentagem muito baixa nas classes normais, e exigem uma dedicação e planejamento especiais do professor, bem como um trato cuidadoso dos colegas para evitar situações frustrantes. Em maior número existem os problemas de atenção/dispersão nos alunos destas idades, dada a sua vulnerabilidade de interesses e sua grande mobilidade. Também se apresentam com certa frequência os problemas de hiperatividade, às vezes, unidos com os anteriores.

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Desenvolvimento linguístico A maioria das crianças nesta idade, já adquiriu um bom nível de domínio da linguagem oral e é frequente que tenham assimilado a leitura/escrita. No entanto, é um período de suma importância para a consolidação das habilidades instrumentais básicas e o aperfeiçoamento progressivo das habilidades de comunicação. No que diz respeito à linguagem oral, deve dominar todas as consoantes, inclusive as de aquisição tardia: "CH"; "J", "S", "Z", "L" e "R", mesmo que estejam incluídas em palavras relativamente difíceis de pronunciar. Existe, portanto, ao final deste período, uma estabilização da pronúncia, entonação clara e boa expressão. O vocabulário continua se ampliando, embora em um ritmo mais lento, conforme avançam na idade. Graças a sua curiosidade e interesse pela leitura e uso do dicionário, compreende e inclui em seu vocabulário palavras mais complexas, inclusive as cultas. O aumento do vocabulário tem grande correlação com o ambiente sociocultural da família. Geralmente, as meninas são frequentemente superiores aos meninos no uso da linguagem. Percebe-se com maior clareza um progressivo domínio no uso da gramática. Talvez a correção expressiva e compreensiva das estruturas linguísticas seja o maior avanço nesta idade. Adquire e melhora o uso dos:   

  

Pronomes possessivos (nosso, vosso e seu) Advérbios e preposições de espaço e tempo (por exemplo, exteriormente, interiormente, posteriormente, imediatamente etc) Tempos verbais não usados até então, como o Condicional Passado (Se eu tivesse sido capaz de esquiar ...), ou o mais que perfeito (ainda não tinha comido). Concordância entre oração-preposição principal e subordinada (Se mamãe tivesse vindo no verão, poderia ter nadado) Proposições circunstanciais ("Para que todo mundo fique contente, será necessário que faça bom tempo.") Compreensão, já que inverte a ordem natural e se usa pouco.

A reflexão da linguagem não se deu até este período. Agora mostra capacidade de julgar se uma frase é correta ou não, se um enunciado foi feito com as regras estabelecidas ou não. Já existe uma tomada de consciência do que se fala e se lê. É o momento idôneo para fundamentar as bases de uma boa compreensão e expressão linguística. Um dos interesses prioritários neste momento é o gosto pela leitura, sobretudo por aquelas em que predominam o diálogo entre personagens e as que contém ação. A leitura, por ser argumentativa, oferece à criança raciocínios que ele ainda não é 164 Solar Colégios


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capaz de realizar por si mesmo, e por isso vai aprendendo. Embora realidade e fantasia ainda se encontrem justapostas, consegue distinguir o mundo real do fantástico. A maioria das crianças fica muito bem lendo, e é preciso aproveitar este interesse para fortalecer ou promover hábitos leitores e gosto por todo o tipo de leitura. Nesta idade, lhes interessa especialmente os livros de aventura, leem e devoram livros em casa, no colégio e podem ser bons usuários da biblioteca. Preferem as leituras amenas do que as científicas ou de divulgação. Entre os temas que mais lhes agrada nas leituras, pode-se destacar: 

 

Os temas de aventuras relacionados com a natureza ou descobrimento de lugares exóticos, vida e costumes de zonas pouco conhecidas ou inexploradas da Terra: novelas como "A Volta ao Mundo em 80 Dias", “Viajem ao Centro da Terra", "A Ilha Misteriosa", “Mobby Dick” etc. Também se interessam, igualmente, por filmes ou reportagens sobre estes temas. As experiências e aventuras vividas por turmas ou crianças de sua idade, que realizam travessuras. Aventuras históricas, biografias de personagens ou heróis famosos: rei Artur, El Cid, Júlio César, Alexandre - O Grande. Também personagens bíblicos ou religiosos: Moisés, Patriarcas e Profetas, vidas de Santos e, de um modo muito especial, a vida de Jesus Cristo. Maravilhas da natureza, paisagens e costumes de lugares como: a selva, os polos, as ilhas do Pacífico. Também maravilhas do mundo: Pirâmides Egípcias, A Grande Muralha da China...

Embora este tipo de leitura lhe agrade, não se interessa pelas científicas, geográficas ou históricas em si, mas sim aquelas escritas sobre a natureza e a história, não pela ciência em si, mas pela aventura, pelo "mágico" e misterioso que apresentam. Estas leituras podem ser uma fonte de motivação, que lhes conduza a interessar-se pelas ciências, a história ou a geografia.. Demonstram interesse pelas leituras de jornais ou revistas, mas gostam muito mais das histórias em quadrinhos, histórias com ilustrações que apoiam o relato e suas fantasias imaginativas e motrizes. Podem mostrar preferências determinadas segundo o sexo: 

Os meninos gostam de ler, por ordem de preferência, histórias em quadrinhos, livros de aventuras (índios, selva, mistério, polícia, guerra, travessuras de crianças de sua idade etc.), ficção científica, livros sobre esportes, natureza, viagens e humor. A ciência, os magos e invenções também os agradam. 165 Solar Colégios


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As meninas gostam dos livros ilustrados, dos contos de fada, de animais e biográficos, os de ação, os de travessuras de meninas de sua idade, humor e novelas sentimentais onde tenha uma heroína. Também gostam das histórias bíblicas e as de heróis legendários ou históricos.

Colocar livros ao alcance das crianças e motivar a leitura com comentários e expectativas, é o básico para aumentar sua evolução psicológica, assegurar seu interesse pela cultura e formação, e evitar o tédio nos momentos de ócio. Nestas etapas, são muitas as crianças cuja aprendizagem não é adequada a suas possibilidades, nem ao nível de maturidade próprio da idade e, como consequência, sofrem um fracasso importante em suas aprendizagens linguísticas e nas demais áreas. Em geral, tal falta de competência e rendimento tem sua origem em anos anteriores, e geralmente deve-se a:    

falta de maturidade em algum fator importante da aprendizagem da língua; iniciação pouco fundamentada ou mal reforçada da aprendizagem da leitura/escrita; iniciação forçada na leitura/escrita; métodos de leitura/escrita mal planejados ou não concluídos adequadamente, segundo o progresso de cada criança.

Tudo isso tem como resultado um atraso pedagógico linguístico, que normalmente se engloba sob a denominação de dificuldades de aprendizagem ou sintomas disléxicos, por suas manifestações serem parecidas com esta disfunção. É de suma importância não passar por alto nestes problemas, pensando que se trata de problemas de maturidade que com o tempo se resolvem. O tempo, por si só, não pode resolver nenhum destes transtornos, e além do mais, pode agravá-los e impossibilitar uma reeducação eficaz. É necessário diagnosticar muito bem o que acontece a cada uma destas crianças para poder iniciar a sua reeducação, o quanto antes. Quanto mais se atrasa em começar, mais profundas serão as consequências para a aprendizagem atual e futura da criança. Mesmo que tenham sido tratadas, ainda se pode encontrar autênticas dislexias ou sequelas, como é o caso da disgrafia ou disortografia, embora isto aconteça com menor frequência. Os sintomas principais são a separação indevida de letras, sílabas e palavras, as confusões, omissões ou adições indevidas em leitura e escrita. Como consequência, apresenta-se um nível, muito baixo, de leitura, compreensão e expressão. As consequências, de ambas dificuldades, coincidem com um baixo rendimento na área de linguagem e em toda a aprendizagem, desencadeando, por sua vez, outros

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problemas como baixo autoconceito, timidez, desajustes na adaptação e integração social. Desenvolvimento afetivo A afetividade passa por um período de latência, que se interrompe em alguns momentos de excitação ou incerteza. Nesta etapa se forma a consciência diferenciada de si mesmo, e se configura a personalidade tipicamente masculina ou feminina. A criança adota papéis de identificação com um dos seus pais, o do seu próprio sexo. Os interesses ficam mais centrados no mundo dos seus companheiros, do que no mundo dos adultos. Esta diferenciação fica mais visível em brincadeiras, nas quais os meninos centram-se na força e rendimento físico, e, no âmbito escolar, interessam-se mais pelas relações com as coisas, enquanto as meninas interessam-se mais, pelas relações com as pessoas. O interesse pelos temas sexuais tem um caráter marcadamente intelectual. É o momento mais adequado para iniciar uma verdadeira educação sexual, não unicamente informação, que permita à criança encarar de modo menos perturbador, os problemas da adolescência. Deve ser feito de forma gradual, com franqueza, acomodando-se à sua mentalidade e à sua capacidade de compreensão, antecipandose à sua curiosidade natural. Sua atitude de realismo ante o mundo manifesta-se com maior distância, no trato social (exceto com os companheiros de sua idade). A vida afetiva vai ficando mais discreta. Os fenômenos afetivos ficam encobertos, pelo desenvolvimento do pensamento e da sociabilidade que se produz nestas idades. A falta de maturidade afetiva leva-os a querer chamar atenção, a serem percebidos e sentir-se queridos, assim como a sentir inveja, a ter certa tendência à crueldade e a excluir alguns colegas do trato, monopolizando a companhia de outros. Os sentimentos não são muito duradouros e oscilam entre a alegria e a tristeza, embora a alegria seja mais permanente, pois predomina neste período uma atitude otimista, de bom humor. Os sentimentos familiares vão perdendo força em favor dos sociais. Ainda assim, lhes agrada muito conversar com seus pais, que respondam todas as suas perguntas e participam dos planos e atividades familiares. Os novos problemas ou situações podem gerar ansiedade e atitudes de insegurança, que se manifestam em inquietação e desassossego levando-os, com frequência, a reagir e, depois, a esquecer das experiências desagradáveis e os temores. 167 Solar Colégios


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O exercício físico e as brincadeiras ajudam a criança a superar estes momentos de instabilidade. Todos estes traços de imaturidade afetiva repercutem na atenção, que também oscila segundo o seu estado de ânimo, embora seja capaz de fixá-la, voluntariamente, quando um assunto atrai o seu interesse. Nesta idade, existe um aumento da autoestima ou sentimento positivo de si mesmo, por seu aspecto físico, por sua forma de comportar-se, pelos trabalhos que é capaz de realizar, graças ao reconhecimento que os adultos fazem e, sobretudo, as outras crianças de sua idade. Necessita contar com a aceitação e a aprovação de seus iguais, e se acomoda aos modos de vestir, falar e comportar-se dos colegas de sua turma. Mostram-se mais seguros de si, mais extrovertidos e independentes. Definitivamente, vai-se conquistando uma estabilidade emocional e certo controle de sua vida, que permanecerá até que — aos onze ou doze anos — as mudanças orgânicas da puberdade perturbem o equilíbrio conquistado. Os problemas mais frequentes no campo afetivo, nas crianças desta idade, são a dependência — fruto da superproteção — e os ciúmes. Uma criança de oito ou nove anos depende, todavia, de seus pais em muitos aspectos de sua vida. Contudo, quando os pais, por impaciência ou desejo desmedido de perfeccionismo, querem evitar incômodos aos seus filhos, fazendo pela criança o que ela é perfeitamente capaz de fazer por sua própria conta, leva-os a acostumar-se a não fazer, prejudicando seu desenvolvimento nos hábitos de ordem ou responsabilidade. Esta atitude gera nas crianças uma dependência doentia de seus pais. A criança dependente solicita continuamente a atenção do adulto, quer seja seu professor ou seus pais, em detrimento da relação com outras crianças de sua idade. Isto ocorre preferencialmente no caso de filhos únicos ou de pais excessivamente "preocupados". Em algumas ocasiões, estes desejos de atenção da criança, não provém das situações descritas, mas de uma especial sensibilidade do seu temperamento, e devem ser atendidas. Diante do problema da dependência dos pais e professores, deve-se fazer que realizem por si sós as tarefas que sejam capazes de realizar sem ajuda, supervisionando-as. Convém insistir com os pais na necessidade de serem mais desprendidos de seus filhos, para que possam desenvolver sua própria autonomia. Desprendidos, porém dispostos quando solicitem uma ajuda necessária.

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Os ciúmes ocorrem, com maior frequência e intensidade, no caso de em que o intervalo de um filho para o próximo seja de três ou quatro anos, durante os quais a criança vá mantendo um posto do "rei" da casa. Geralmente, o ciúme acontece com maior frequência, nos primogênitos. O nascimento de um irmão supõe compartilhar a atenção dos pais e familiares, ao que a criança, frequentemente não está muito disposta. Por isso, acontece algumas vezes, um pequeno retrocesso em seu comportamento, imitando o irmão menor, para recuperar a atenção perdida. O ciúme pode manifestar-se através da agressividade — beliscar seu irmão, não querer emprestar as coisas etc. — e frequentemente acompanham pessimismo e problemas de relacionamento com colegas de classe. O tratamento de comportamentos ciumentos logo no início, não é difícil, desde que se dê maior atenção ao mais velho nos momentos em que a mãe se encontra ocupada com o menor. Geralmente as alusões de que por ser mais velho, é mais responsável, são atrativas para a criança, mas dão poucos resultados. Desenvolvimento moral e da vontade Este período constitui a etapa de maior desenvolvimento do critério moral, pelo progresso cognitivo, pelo crescente poder de interiorização e pelo grande número de oportunidades de participação e desempenho de novos papéis, em todos os ambientes, onde a criança se desenvolve. Os sentimentos morais vão ficando independentes dos sentimentos dos pais. O desenvolvimento intelectual atingido facilita a realização de seus próprios juízos morais. O pensamento analítico facilita a diferenciação entre o bem e o mal e contribui a uma maior valoração moral, tanto da própria conduta, quanto da alheia. Por outro lado, a vida moral relaciona-se com os preceitos divinos, com o que Deus permite ou proíbe. Geralmente aceitam, sem crítica, os valores dados pelos adultos, embora as vezes, sejam excessivamente justiceiros ou inflexíveis, sobretudo com seus irmãos menores. No final desta etapa, começa a surgir o desejo de independência, e é necessário insistir na obediência, com motivações positivas. É muito importante explicar-lhes o "porquê", já não basta somente o "que" e o "como". A atitude crítica reflete na sua postura ante as ordens ou proibições dos pais e professores. A criança observa a conduta daqueles que estão à sua volta e regula a sua vida segundo o exemplo que vê. Os alunos destas idades são particularmente receptivos, tanto para a ação educativa dos pais e professores, como para as influências da televisão, da publicidade e de outros meios de comunicação.

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A maior parte dos períodos sensitivos da educação da vontade transcorre antes dos doze anos. Dedicar atenção e tempo à educação dos filhos, nestes anos, evitará a maior parte dos problemas que podem surgir nos anos críticos da adolescência. É um momento especialmente propício para o desenvolvimento de algumas virtudes humanas básicas, aprendendo a lutar se superar, lutando em pequenas metas. Devem ser criadas diversas ocasiões, tanto em casa como no colégio, para que as crianças possam exercitar-se na prática das virtudes. No capítulo dedicado à educação das virtudes fazemos referência minuciosa a cada uma que convém ser estimulada, de forma especial, nestas idades. Convém conduzir positivamente sua forte inclinação para a amizade e o companheirismo, ajudando-os a entender que esses valores supõem entrega aos demais, espírito de colaboração e de serviço, de lealdade e de solidariedade. A inclinação ao esforço físico, à aventura e à competição, pode favorecer a aquisição de hábitos de resistência e austeridade, virtudes especialmente necessárias para os anos seguintes. As pequenas "mesadas" periódicas lhe ajudarão a aprender a conhecer o valor do dinheiro e a aprender a economizar. Os encargos, em casa e no colégio, são gratificantes, pois a criança sente-se importante e útil. Ao mesmo tempo em que se preparara para ser mais responsável. A capacidade de raciocínio, o interesse pela integração no grupo e o vivo desejo de justiça, favorecerão o nascimento de normas ou regras de comportamento. A disciplina e o autodomínio, aspectos importantes na educação, são essenciais para o desenvolvimento harmônico da personalidade das crianças. A meta de toda disciplina é orientar a conduta, de modo que as pessoas se adaptem favoravelmente aos grupos sociais a que pertencem. As crianças destas idades assimilam e cumprem muito bem as normas, necessitam delas. Frequentemente adaptam-se a elas com facilidade, pois satisfazem muitas das suas necessidades:      

Facilitam uma adequada adaptação pessoal e social; Proporcionam-lhes sentimentos de segurança, ao indicar-lhes o que podem e não podem fazer; Evitam os frequentes sentimentos de culpa e vergonha por seu mal comportamento; Permitem-lhes serem aceitos nos grupos sociais; Aprendem a se comportar com ações positivas, gerando admiração o que coopera para potencializar sua autoestima e sentirem-se queridos. Ajudam a formar a sua consciência, influindo de forma positiva nas tomadas de suas próprias decisões.

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Porém, de modo especial neste período, é preciso cuidar muito que as normas de convivência atendam certos requisitos:     

que sejam poucas, razoáveis e adaptadas à sua idade e compreensão; que haja congruência e consistência entre elas, de forma que a própria norma seja compreendida pela criança, dando-lhe condições de assumi-la; que sejam cumpridas pelos adultos que a exigem; que haja sanções razoáveis, combinadas anteriormente, para aqueles que não as cumprem, voluntariamente; que possa haver uma recompensa pelo esforço realizado, para adequar a conduta ao estabelecido.

As crianças desta idade se encontram em um ótimo período para formar a sua consciência moral. É um momento oportuno para iniciar as pequenas iniciativas de auto exigências, de forma que seja conquistada uma colaboração respeitosa de todos ante as normas de convivência, favorecendo um autêntico clima moral na classe. Desenvolvimento social Estão em um período de assimilação tranquila e de adaptação à realidade. A ampliação do raio de movimento e experiência, e a conquista do ambiente, facilitadas pelo domínio do sistema motor e por seu desenvolvimento psicológico, produzem um aumento da vitalidade que se manifesta em uma maior atividade. É por excelência, a idade social da infância: desagrada-lhe estar só. Desenvolvem um comportamento social e aprendem a respeitar regras do jogo através das turmas de companheiros. Este desenvolvimento da sociabilidade é fruto de seu amadurecimento intelectual, que o convida a abrir-se ao mundo que o rodeia, repercutindo assim, no comportamento social. Agradam-lhe as atividades de clube e as excursões lhe dão ocasião de satisfazer seu gosto pela aventura. No relacionamento com os seus colegas a criança vai desenvolvendo a sua autonomia e o sentido de solidariedade e de cooperação. Sem deixar de amar o âmbito familiar —agrada-lhes participar dos planos e atividades familiares —abre-se completamente para a turma de colegas, indo além de suas fronteiras familiares. A constatação desta nova realidade influi notoriamente em sua vida e no desenvolvimento de sua personalidade. O normal é que isto ajude a criança a desenvolver as virtudes sociais, como o espírito de serviço, a generosidade, a confiança, a alegria, etc. Porém, quando existe um excesso de protecionismo familiar este novo ambiente social pode ser visto como algo agressivo, semeando medo e insegurança interior. Mesmo com este risco, a criança tem uma grande capacidade de 171 Solar Colégios


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adaptação, sendo muito inclinada à atividade permanente com outros. Não teme o ridículo, e mais que isso, adora destacar-se. Este desejo de participar em qualquer atividade é um bom instrumento, nas mãos do professor, para suscitar seus interesses e mantê-lo motivado no exercício da tarefa educativa. As atividades que mais potencializam o desenvolvimento social dos 8 aos 10 anos são os jogos ou brincadeiras. Como temos dito, nesta etapa as crianças atingem um maior interesse pela socialização em grupo; por esta razão, os jogos coletivos vãose impondo aos individuais, e os grupos de jogos são mais numerosos e de atividades muito variadas, prevalecendo, na maioria, o interesse pelo movimento, pela ação e a competição. As crianças buscam medir sua agilidade e força com os demais para afirmar a sua individualidade, procurando sobressair-se e serem aplaudidas por suas proezas. No jogo as crianças buscam:     

satisfazer suas necessidades de movimento, interesses intelectuais e necessidades afetivas; segurança e autoafirmação; novas experiências; ser valorizados; ser aceitos e necessitados pelos outros.

Os jogos e brincadeiras que praticam estão diretamente relacionados com as destrezas e hábitos intelectuais a consolidar, com o grau de integração social que desejam conquistar e com a situação afetivo-emocional que atravessam. Observar como a criança brinca, ajudará no trabalho de conhecer o seu nível de desenvolvimento: sua maturidade, tanto intelectual quanto motriz, e seus interesses. Entre os nove e os onze anos, as brincadeiras de meninos e meninas mostram interesses contrapostos. Nos meninos, as brincadeiras de polícia e ladrão, cowboy e pistoleiros, vão perdendo o interesse. Gostam mais dos jogos competitivos e desportivos, assim como aqueles que implicam combinações numéricas ou de vários elementos, nos quais se possa aplicar a lógica e o raciocínio, como os jogos de mesa (dominós, baralho, bingo). Também lhes interessam os jogos de tabuleiro, no qual o êxito depende de uma atuação estratégica, segundo o valor e a posição das fichas, como o jogo de damas ou o xadrez. As meninas apresentam agora, maior interesse por brincadeiras de esconderijo e lançamento de bola a um concorrente da equipe contrária, pular corda, elástico e brincadeiras em grupo. Também gostam de jogos de tabuleiros.

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Os jogos em equipe são grande atrativo para ambos os sexos, onde participam várias crianças e se combinam muitos elementos ou variáveis inter-relacionadas, onde é preciso vencer. Com o exercício destes jogos e brincadeiras, ao final da etapa, dá-se por abandonada a fantasia, dando um passo em direção à conquista da realidade física e social, iniciando o treinamento das relações com o meio, através do grupo. Os alunos destas idades possuem domínio corporal e equilíbrio suficientes para patinar, subir em diferentes lugares, escalar muros, rochas, árvores. Adquiriram grande habilidade de movimentos no salto, na corrida, pular obstáculos durante a caminhada ou corrida, manter-se ereto sobre objetos móveis etc. Como a grande maioria das crianças já tem esta habilidade desenvolvida, o desafio está na competência: por isso o jogo torna-se mais competitivo (quem sobe mais alto, quem corre mais, etc., complicando a dificuldade ou combinando diferentes habilidades). A integração social está muito relacionada com os jogos de grupo, com o fortalecimento dos laços afetivos e com aceitação de normas. Agora são grupos de um só sexo: meninos com meninos, meninas com meninas. Estamos na idade das diferenciações psicológicas no campo do sexo. Meninos e meninas vão adquirindo uma forte consciência das diferenças que os separam. Esta separação dos sexos — que permite que os meninos e meninas afirmem, respectivamente, sua masculinidade e sua feminilidade — não é sistemática, nem agressiva, como o será na adolescência, mas sim, um distanciamento no trato por interesses distintos. Nestas idades, sobretudo até os nove anos, a criança adquire amizades mais sólidas, adapta-se melhor ao grupo que é mais estável e estabelece pequenas normas para a sua organização, cresce no seu desejo de superação, necessita comparar-se com os demais e demonstrar sua importância pessoal. Aparecem as primeiras lideranças entre as crianças que atraem mais simpatia. A criança busca seu lugar no grupo e lhe preocupa não ficar bem perante os demais. A turma é o núcleo social nesse período. Forma-se sem intervenção do adulto, tem caráter unissexual e ativo. As explorações, os combates, as proezas, as construções, tudo isso lhes representa. Desenvolvimento religioso Costuma ser o momento oportuno para a Primeira Confissão e Comunhão, precedidas e continuadas de catequese oportuna. São anos que devem ser aproveitados para solidificar a religiosidade, para dar as bases doutrinais que devem 173 Solar Colégios


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deixar marca profunda em sua alma. Alguns de seus "porquês" serão ocasião próxima para falar-lhes de Deus e com sentido sobrenatural de múltiplas incidências. Não se deve deixar de dar conselhos religiosos ainda que, por enquanto, não sejam capazes de compreendê-los em todo o seu sentido. A catequese habitual — a transmissão de maneira íntegra e elementar dos principais mistérios da fé cristã e sua repercussão em sua vida moral e religiosa —, tanto no âmbito escolar, através das aulas de religião, como no familiar, são ambientes idôneos para apresentar-lhes a doutrina cristã básica. A aprendizagem dos conceitos fundamentais da doutrina não deve se deter numa mera memorização, pois é importante que fique gravada na inteligência e no coração da criança. Os sentimentos religiosos estão imbuídos de "temor" de Deus, de castigos e de desgostos. O natural é que, ao final desse processo, como ocorreu com o temor ante o castigo e desgosto dos pais, o amor se imponha como força determinante, o que supõe um passo decisivo na formação da consciência pessoal. Para tanto, a formação moral deve ter um sentido positivo, reafirmando a importância de se fazer o bem. Ao expor a lei moral e os mandamentos, deve-se destacar a força e a beleza da vida cristã, que reside no amor e na misericórdia divinas. É a idade mais apropriada para introduzir a criança, de forma orgânica, na vida da Igreja, por meio da preparação imediata à confissão e à comunhão, procurando facilitar a recepção consciente e frequente a esses sacramentos. Nesse período, em que se desperta a admiração pelas pessoas, pelo herói, interessa suscitar na criança a admiração e o amor por Cristo, que é a Suma Bondade e que morreu na Cruz para salvar os homens. É Ele a figura mais atrativa que se pode apresentar a elas, junto à de Santa Maria, a boa Mãe. A sociabilidade que desperta e impulsiona a buscar amigos especiais é o momento idôneo para falar-lhes de Cristo Amigo. A Comunhão é o encontro com esse Cristo, o melhor Amigo, que nunca abandona nem atraiçoa e sempre perdoa porque nos quer bem.

5. A Puberdade A puberdade é, antes de tudo, um fenômeno de natureza corporal. Biologicamente está marcada pelo surgimento da capacidade procriativa, como se esta capacidade fosse o rito de passagem à vida adulta. É uma etapa de adaptação e consolidação à esta nova circunstância. Nela, o mais característico, é o progressivo 174 Solar Colégios


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desenvolvimento das possibilidades implícitas na pessoa. Assim, se a puberdade é algo que se dá no marco da existência biológica, a adolescência representa o desenvolvimento do afetivo e do espiritual e inicia-se quando surgem as primeiras mudanças corporais, especificamente as sexuais. Até os 11-12 anos, nos meninos (nas meninas um pouco antes) aparecem transformações: pelos, crescimento nas pernas e mudanças na voz, transformações que geram desarmonia motora e expressiva, típica desta etapa, em contraste com a graça e flexibilidade da criança. Nesta idade, todas as características de estabilidade e equilíbrio que se manifestaram quando criança, entram em crise e, as rápidas mudanças orgânicas que se aproximam, anunciam uma nova instabilidade própria de uma etapa de maturidade e crescimento. Os adolescentes tornam-se inquietos, com reações emocionais muito contraditórias. Nesse período há desarmonia geral no comportamento, como reações contrapostas, negativas e extremas, como apatia, isolamento, agressividade e uma diminuição dos rendimentos escolares. Há um desmoronamento da conduta infantil. No período crítico de maturação, aparentemente predominam os aspectos negativos, sendo necessária a paciência e a fortaleza dos pais e professores e uma grande confiança com o filho ou aluno. Deste modo conseguirão conduzi-lo, corrigi-lo e ajudá-lo a amadurecer. Incentivar o otimismo e o espírito esportivo, oferecer aos alunos e alunas grandes motivações, que darão sentido ao que devem fazer. Dentro do campo das funções intelectuais, a primeira mudança importante é a transformação do pensamento lógico-concreto, em abstrato. O pensamento começa a não mais depender da imaginação. Outro importante aspecto é a substituição da memória mecânica pela lógico-discursiva. Essa mudança influencia decisivamente nas qualificações escolares, já que a capacidade de reter mecanicamente tende a cessar e a memória lógico-compreensiva ainda está insuficientemente exercitada. Convém destacar a virtude da laboriosidade, ajudando-os a trabalhar todos os dias. Até os onze ou doze anos, as crianças passam por um período de sistematização do pensamento. Existe então um interesse ao objeto concreto, que começa a atrair por si mesmo, por seu valor intrínseco. Já não se entusiasmam por qualquer objeto, mas por uma série de objetos determinados que ordenam, organizam, sistematizam, colecionam. No âmbito das tendências, destacam-se a falta de unidade e congruência dos próprios impulsos, fato palpável na avidez de experiências que se concretizam no interesse por aventuras, excursões, exploração de cavernas, acampamentos, etc. Esta sede de experiências também se expressa intelectualmente no afã de ler e na curiosidade investigativa: jogos de química, invenções, ações que se alternam com 175 Solar Colégios


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repentinos períodos de tédio ou apatia. Sentem, nesse período, necessidade de estarem ocupados, de exercitarem-se fisicamente e de dominar a imaginação. Por isso, é muito oportuno estimular hobbies, como esportes, excursões, acampamentos, atividades manuais e leituras amenas e de qualidade. O sentido da amizade não está maduro. Nesta fase existe poderosa influência da turma que, às vezes, se submete incondicionalmente ao líder ou tenta tiranizar os menos dotados. É muito importante conhecer o ambiente do grupo de amigos. Dessa forma, é possível incutir nos filhos o respeito ao outro e procurar que os alunos se empenhem em ajudar um ao outro. Deve-se promover a delicadeza no trato mútuo e o espírito de serviço. Os encargos na família e no colégio ajudam as crianças a combater o egoísmo e crescerem em solidariedade. Também nesta idade, a sexualidade de faz notar como tendência consciente e de notável força. O ato de superar, sem grandes problemas, a aparição deste componente depende, em grande parte, de como se foi educado durante a infância. Nessa idade reforça-se o sentido do pudor e é preciso insistir na importância da higiene e do asseio diário. No terreno afetivo, chamam a atenção a falta de estabilidade geral (bruscas mudanças de humor) e a intensa excitabilidade (predisposição ao medo e à ansiedade, e maior curiosidade aos filmes com esse tema). O mais importante e característico desta etapa é o começo do desenvolvimento da própria intimidade. Aparecem, nessa fase, comportamentos egocêntricos e presunçosos (fala em primeira pessoa, sente-se vítima, ruboriza-se quando alguém fala dele, etc.), como uma desconfiança generalizada. Necessita de segurança e podem aparecer sentimentos de dúvida e inferioridade. Muitas vezes, o enfrentamento com pessoas ou situações é, sobretudo, autoafirmação. Diante desse quadro, é preciso estar atentos para ajudá-los a evitar complexos. Uma boa atenção pessoal ajudar-lhes-á conhecer as boas qualidades que possuem, como ponto de apoio não só para a segurança pessoal, mas também para poder colocá-las a serviço dos demais. Com um sentido otimista e positivo da educação, as crianças aprenderão a aceitar as suas próprias limitações e a conhecer seus defeitos, que é a primeira condição para lutar para superá-los. Insegurança pessoal que provoca igualmente hipersensibilidade e sentido do ridículo, paradoxalmente, seguidos de um vivo desejo de liberdade, autoafirmação e autossuficiência, que, às vezes, leva os adolescentes a rechaçar a autoridade. A passagem da etapa pré puberdade para a adolescência propriamente dita, é responsável pela transformação corporal ao mesmo tempo que desintegra o comportamento do pré adolescente e, as mudanças afetivas e psicológicas tornam-se, nessa fase, mais importantes. 176 Solar Colégios


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B. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE CADA ALUNO A avaliação dos alunos, conhecer até que ponto conseguiram alcançar os objetivos programados é, juntamente com as atividades de programação, ensino e orientação, uma tarefa fundamental de todo professor. As atividades de avaliação devem estar integradas ao processo educativo e desenvolvidas de forma contínua e global. Somente deste modo será possível introduzir, no momento oportuno, as adaptações e os apoios necessários de acordo com os progressos que os alunos conquistam, sem esperar o final de um período de tempo muito longo. A informação aos pais desses progressos em determinados momentos do percurso da etapa, deve ser entendida como reflexo desta avaliação. Na avaliação dos alunos do Snipe, entendida como processo, podemos distinguir: a avaliação inicial, a avaliação contínua, a global e formativa e os resultados finais. Acredita-se em uma concepção da avaliação educativa unida ao serviço do ensino-aprendizagem e integrada aos afazeres diários da sala de aula e do colégio. É um ponto de referência para melhorar os processos de aprendizagem. Uma característica dessa avaliação é que deve ser global, contínua, formativa, reguladora e orientadora do processo educativo. Cabe ao corpo docente aprovar os critérios de avaliação mais adequados. A apreciação sobre o progresso dos alunos será expressa de acordo com o Regimento escolar do centro educativo. Avaliação do processo de ensino e do projeto curricular É necessário elaborar um Plano de avaliação da prática docente e do Projeto Curricular do Colégio. Indicam-se alguns aspectos que estas avaliações devem incluir:

1. Avaliação inicial Refere-se ao conhecimento prévio do aluno e sua situação de aprendizagem como ponto de partida da atividade educativa. Por isso deve-se ter presente as seguintes dimensões do aluno:  escolarização anterior (Ed. Infantil e Anos iniciais do Ensino Fundamental)  ambiente e dados familiares  constituição física e saúde  aptidões intelectuais  nível de desenvolvimento  conhecimentos que possui  traços de personalidade  adaptação 177 Solar Colégios


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hábitos de comportamento

No início do ano, deve-se solicitar a documentação dos alunos que procedem de outros colégios. É muito positiva a experiência das equipes educadoras do ciclo atual de fazerem reuniões com os professores do ano anterior, com o objetivo de estudar a documentação dos alunos e trocar experiências e informação. Pode ser interessante preparar a primeira entrevista de preceptoria com os pais tendo em conta os dados conhecidos nessa reunião. Convém fazer entrevista com os pais das crianças com dificuldade de aprendizagem ou outros problemas, o quanto antes. Além disso, a informação que se recebe dos pais por meio da primeira entrevista de preceptoria, a observação direta das crianças durante os primeiros dias de aula, poderão aportar dados significativos para a avaliação inicial:    

a relação com adultos e outras crianças o comportamento ante novas situações adaptação à sala de aula traços de caráter ou temperamento etc.

2. Avaliação Contínua, Global e Formativa A avaliação dos alunos ou, saber até que ponto atingiram os objetivos programados é, juntamente com as atividades de programação, ensino e orientação, uma tarefa fundamental de todo professor. As atividades de avaliação devem estar integradas ao processo educativo e precisam ser desenvolvidas de forma contínua e global. Somente dessa forma será possível introduzir, no momento oportuno, as adaptações e os apoios necessários, de acordo com os progressos dos próprios alunos. A avaliação será global porque referir-se-á ao conjunto de capacidades expressas nos objetivos gerais da etapa e aos critérios de avaliação das diferentes áreas. O caráter da avaliação será contínuo, considerando-se como característica inseparável do processo educativo. O aspecto formativo e orientador proporciona uma informação constante que permite melhorar tanto os processos como os resultados da intervenção educativa. Esta avaliação, ao facilitar o conhecimento dos progressos e dificuldades do aluno, torna possível uma maior eficácia na aprendizagem, maior estímulo e motivação para aprender, já que permite ao aluno conhecer imediatamente os pontos em que está bem e aqueles em que precisa melhorar, diretrizes da abordagem educativa mais adequada a cada situação.

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Os professores usarão esse tipo de avaliação durante todo o período letivo, que se baseia fundamentalmente na observação sistemática dos trabalhos, nas atividades realizadas pelos alunos, como nos hábitos e atitudes individuais. A observação direta e sistemática das condutas e do trabalho discente, bem como as entrevistas com os pais são as técnicas de avaliação mais adequadas às características dessa etapa educativa. Os resultados da avaliação constituirão uma base permanente para a programação das atividades diárias, semanais, quinzenais, etc., para o professor e servirão também para estabelecer as atividades e procedimentos mais adequados para guardar ou arquivar quando possíveis dificuldades aparecerem.

3. Informes trimestrais Os informativos trimestrais de avaliação para os pais têm como finalidade fundamental fazê-los partícipes das conquistas e avanços conseguidos pelos seus filhos nos diferentes aspectos do processo educativo. Em algumas ocasiões, é muito interessante que o informativo venha acompanhado com alguns trabalhos realizados pelas crianças e traga alguma indicação que ajude a valorizá-los. Os pais geralmente agradecem quando o professor escreve algum comentário pessoal sobre o aluno, em tom positivo e estimulante.

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Capítulo VIII - ADAPTAÇÕES CURRICULARES Podemos considerar o termo adaptação curricular em dois sentidos diferentes: a) Como uma mudança significativa do currículo, projetada especialmente para um aluno ou grupo de alunos com graves dificuldades de aprendizagem. Para crianças excepcionalmente capazes, mas portadoras de necessidades educativas especiais como deficiências auditivas, motoras ou intelectuais, ou crianças que mostrem graves dificuldades no seu desenvolvimento emocional ou socioafetivo. Também é o caso das crianças com habilidades mentais superiores à média, que não encontram motivação em aprendizagens já assimiladas. Antes de recorrer a uma adaptação curricular desse tipo, é necessário contar com um diagnóstico, mais preciso possível, da situação da criança, realizado pela equipe educativa, com a ajuda técnica e pedagógica convenientemente projetada, na qual também participem os pais e os professores da criança. b) A personalização do currículo para um aluno determinado, não significa afastar-se totalmente do currículo geral. Muitas vezes será uma adaptação metodológica (ajuda individual a um aluno ou pequeno grupo que alinhe esses conteúdos com métodos de ensino que se adaptem melhor ao seu estilo de aprendizagem), ou de avaliação (adaptação dos instrumentos ou procedimentos de avaliação, ao modo de ser e aprender do aluno), ou da sequência de conteúdos (fixação de alguns conteúdos que precisam ser reforçados, para avançar mais rapidamente na sequência estabelecida em um princípio ou para se conectar melhor com os interesses das crianças nesse período), ou de priorização de alguns objetivos (desenvolvimento de algumas capacidades), entre outros. A adaptação curricular é parte do trabalho diário dos professores no exercício responsável de sua função docente e orientadora, uma vez que exige a autêntica educação personalizada, pois leva em conta o ritmo e o estilo pessoal de aprender. Em resumo, realizar-se-ão as adaptações curriculares oportunas, dirigidas a alunos com necessidades educativas especiais. Estas poderão consistir na adequação dos objetivos educativos, na eliminação ou inclusão de determinados conteúdos e na modificação dos critérios de avaliação, como na ampliação das atividades educativas. As adaptações curriculares levarão aos alunos mais possibilidades de alcançar as capacidades próprias da educação Snipe, de acordo com suas possibilidades. Essas adaptações serão precedidas de uma avaliação das necessidades educativas especiais do aluno.

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Por outro lado, também se levarão em conta aqueles alunos muito dotados, que progridem com maior rapidez que seus companheiros na execução dos objetivos estabelecidos. Os alunos de uma mesma idade, etapa ou ano apresentam diferentes estilos e ritmos de aprendizagem. De certo modo, todos os nossos alunos têm necessidades educativas especiais. Esta realidade traz algumas consequências para o trabalho do professor: cada criança requer a atenção pessoal do educador para ajudar o aluno a melhor se conhecer, a desenvolver as aptidões especiais, a aceitar serenamente as limitações, estimulando-os a superá-las com os meios oportunos.

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Capítulo IX - MEIOS DE ORIENTAÇÃO PESSOAL E COLETIVA

A. EDUCAR NA LIBERDADE Cada homem é um sujeito único, protagonista principal de sua própria história. Ninguém pode ser educado como outro, nem se pode conseguir a educação seriada de um conjunto de homens, ainda que vivam em um ambiente comum (a família, o colégio), onde uns se educam junto aos outros. A pessoa, ser inteligente, com consciência de si mesma, e livre, pode dispor de si, pois se pertence e pode dominar seus próprios atos, isto é, possui liberdade pela qual é capaz de escolher, de se autodeterminar. Trata-se de uma capacidade de escolha limitada, pois a liberdade só tem sentido se unida à verdade e direcionada para o bem, que impõe uma orientação a seu exercício. Não se trata de uma capacidade de expansão ilimitada da própria subjetividade sem referência à verdade sobre o homem. Assim, o diferencial no qual se fundamenta a dignidade do homem é sua capacidade de realizar atos deliberados e de conhecer seus deveres. A educação é um processo de ajuda à aquisição da maturidade pessoal procurada através de múltiplos estímulos e em situações muito diversas, para facilitar ao aluno o livre desenvolvimento de sua capacidade, através da aquisição de conhecimentos, hábitos e destrezas que lhe facilitem o domínio sobre seus próprios atos. Um processo que permite ao filho e ao aluno formular seu projeto pessoal de vida e o ajuda a fortalecer sua vontade de modo que seja capaz de realizá-lo. Pais e professores precisam estar prevenidos contra os reducionismos que diminuem a educação: o perigo de doutrinar, em lugar de ensinar; de instruir, ao invés de educar; de cunhar, em lugar de desenvolver as potencialidades do aluno. Educar não é colocar o aluno em um molde, mas é um processo que tem seu ponto de referência na verdade, que o aluno deve ir descobrindo por si mesmo, através da reflexão, até tomar a decisão de viver conforme com a verdade encontrada. Um objetivo tão pessoal resiste necessariamente a qualquer intenção de manipulação exterior ou de doutrinamento: a educação na liberdade respeita o protagonismo do aluno em seu próprio processo educativo e não o substitui quando pode ser o interessado quem – com a informação suficiente – selecione algumas metas acessíveis e os meios para alcançá-las.

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Uma pessoa educada na liberdade é capaz de recusar as respostas fáceis, porque sua vontade fortalecida pelo exercício está em condições de superar a superficialidade e de cumprir o próprio dever, ainda que em determinadas ocasiões apresentem-se dificuldades. As manifestações práticas da educação na e para a liberdade serão diversas segundo a idade e a maturidade do educando, mas sempre contam com seu protagonismo: pais e professores aconselham e orientam, avivando a autonomia do aluno, de modo que ele não se refugie na falsa segurança que lhe oferece uma dependência passiva. Com essa atitude, ajudam o aluno a refletir com fatos sobre as exigências do dom da liberdade, e a entender que somente tem uma vida coerente quem age com referência à verdade, ainda que às vezes as alternativas que a verdade ofereça contrariem os próprios desejos. O pai ou o professor que desejam educar na e para a liberdade não “dão sermões”, mas observam e escutam o filho ou aluno com interesse para conhecer o que desperta sua curiosidade, seus interesses, suas paixões, seus anseios. Coloca-se no lugar do outro e se esforça por compreender seus pontos de vista, ainda que esteja numa outra geração. Definitivamente, mantém a juventude de espírito que lhe permite aprender de quem está ensinando. Não se trata de substituir a vontade do filho ou do aluno indicando em cada momento o que ele deve fazer, mas de colocá-lo frente à sua responsabilidade e de ajudá-lo a tomar suas próprias decisões. Se a relação pai-filho ou professor-aluno se limitasse a uma exigência de condutas estereotipadas, o educador talvez conseguisse que o aluno aceitasse uma indicação, à força de insistir, mas teria perdido a ocasião de ajudá-lo a se conhecer, a descobrir e fazer próprios alguns critérios de conduta e a vivê-los com liberdade pessoal. A educação abarca todas as dimensões da pessoa e exige um desenvolvimento coerente. É indispensável a harmonia entre as mensagens que a criança recebe em sua família e na escola, sobretudo na idade escolar; depois, pouco a pouco, irá adquirindo capacidade para fazer uma síntese pessoal entre mensagens e critérios contraditórios, mas em idades precoces corre o perigo de desqualificar um dos dois ambientes, entrando no ceticismo ou em uma confusa agregação de ideias incompatíveis, fragmentárias, que não oferecem respostas.

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A convivência escolar e familiar configura dois ambientes privilegiados para aprender a assumir a responsabilidade, a se relacionar, a compreender, a se abrir aos demais, a se comunicar. A vida diária oferece abundantes oportunidades para dar atenção aos outros, e não se pode deixá-las passar. Não se pode também cair em uma reiteração entediante ou em uma insistência sufocante; trata-se de aproveitar o voo, com naturalidade, a ocasião que oferece uma notícia do jornal ou da televisão, um acontecimento familiar, qualquer acontecido, grande ou pequeno; as frequentes perguntas que, se há confiança, surgem com fluidez.

Condutas coerentes com uma educação na e para a liberdade Buscar a verdade. Fazer pensar          

Aproveitar as ocasiões que a vida familiar oferece para falar com os filhos, potenciando seu senso crítico. Expor as razões, os motivos pelos quais aconselham agir de um modo ou outro. Fundamentar racionalmente o que se diz. Distinguir verdade e opinião. Ensiná-los a buscar sincera e valentemente a verdade e a ser coerentes. Ensiná-los a ponderar as coisas e a raciocinar, sem se deixar arrastar por estados emocionais passageiros, e a não julgar com precipitação. Ensiná-los a considerar as diferentes opiniões e a respeitá-las. Ajudá-los a prever as consequências de suas decisões livres. Ensiná-los a não aceitar acriticamente o que apresentam os meios de comunicação. Ensiná-los a refletir sobre sua própria experiência. Ajudá-los a se aceitar como são, com suas capacidades e limitações, e animálos a planejar melhorar, com entusiasmo.

Respeitar a cada pessoa. Compreender. Confiar        

Respeitar as inclinações e habilidades que Deus deu a cada um. Não violentar ninguém, não forçar a abertura da própria intimidade, ainda que seja com a melhor intenção. Não pedir o que naquele momento não se pode dar. Repreender quando seja necessário sem insultar nem humilhar. Oferecer sempre confiança. Estar aberto aos aspectos positivos de qualquer nova manifestação cultural ou estilo de vida. Reconhecer que têm razão em tantas ocasiões. Falar com clareza, sem oprimir.

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  

Ajudar a compreender que fazer o que se deve requer quase sempre um considerável esforço. Valorizar o esforço, não o sucesso. O trabalho bem feito, mais do que o trabalho que saiu bem. Fortalecer a vontade com o exercício das virtudes.

Estimular a responsabilidade       

Estimular e exigir um comportamento correto. Ser exemplo de esforço por praticar as virtudes. Escutar com atenção, esforçando-se por compreender os filhos e os alunos (sem um diálogo sereno não há verdadeira relação interpessoal). Animá-los a arriscar-se, a ser corajosos, a responsabilizar-se pelo que fazem, sem se esconder no anonimato. Proporcionar ocasiões de assumir responsabilidades, de acordo com suas possibilidades na vida familiar. Ajudá-los a recomeçar uma e outra vez, sem se deixar vencer pelo desânimo. Promover a participação ativa e responsável na família, mediante os encargos e a ajuda entre irmãos. Respeitar suas decisões responsáveis, ainda que nos desagradem.

Estimular a iniciativa pessoal 

Proporcionar ocasiões de exercitar a autonomia, o autodomínio, a iniciativa, a capacidade de decidir e a participação.

Resumindo, a vida familiar e a escolar proporcionam numerosas ocasiões de exercitar a liberdade com sentido de responsabilidade. O diálogo sereno preside a relação interpessoal no colégio, que proporciona ocasiões de assumir responsabilidades, de acordo com a maturidade de cada um, fomentando a participação ativa e responsável. Como consequência do respeito à liberdade e ao legítimo pluralismo, no ambiente escolar não se promovem nunca ações políticas partidárias, o que não quer dizer que não se estimule a inquietação por colaborar na resolução dos problemas que a sociedade apresenta. O preceptor é um professor que, como parte de seu trabalho profissional e por encargo da direção do colégio, assume a responsabilidade do assessoramento de uma família à que ajuda na educação de seu filho. Esta tarefa requer a orientação pessoal

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do ou dos alunos membros dessa família, de acordo com seus pais, primeiros educadores. Nesse sentido, a obrigação principal do preceptor é a de ajudar os pais e o próprio aluno a desenhar o projeto educativo pessoal, procurando que haja unidade de critérios e de ação educativa entre a família e o colégio. Ajudar a encaminhar retamente seus desejos e ilusões. Animar a que organizem atividades e a que participem responsavelmente em outras. B. MEIO DE ORIENTAÇÃO PESSOAL: A PRECEPTORIA No processo de educação personalizada combinam-se os planos que correspondem a todos os professores e os que são próprios do preceptor. Todos devem ajudar o aluno a se conhecer, a valorizar o mundo que o rodeia, a fazer reto uso de sua liberdade, decidindo entre diferentes possibilidades de agir, a esforçar-se por alcançar um rendimento satisfatório e outros objetivos de formação humana e espiritual que desenvolvem sua personalidade. Mas ao preceptor compete um trabalho sistemático que vai além e que se assenta sobre uma relação pessoal de confiança – sem detrimento do profissionalismo – com a família, com os pais e os filhos, para ajudar o educando a crescer como pessoa, dando de si o máximo que permitam suas capacidades, e a se abrir aos demais. As notas de profissionalismo, confiança e de confidencialidade fazem que não seja sempre possível a orientação de alguns pais ou algum aluno por um professor determinado. Efetivamente, a preceptoria exige uma aceitação mútua que não pode ser obrigada, mas livre, e uma base de confiança indispensável. Também não se deve confundir a figura do preceptor com a do professor encarregado de classe de que trataremos mais à frente. Cabe distinguir, portanto, a função orientadora do trabalho de qualquer professor: a que corresponde ao encarregado de classe, através de meios coletivos e das indicações ocasionais que possa fazer pessoalmente a um aluno; e a que é própria do preceptor, que requer uma base indispensável de aceitação e confiança mútua. O preceptor trata a cada aluno de acordo com a exclusiva singularidade da pessoa, e é peça angular da educação a que o colégio se propõe. Toda a ação formativa se apoia, de um modo ou de outro, na relação pessoal do preceptor com o aluno e com seus pais, porque: a) É colaborador dos pais, a quem corresponde o direito irrenunciável da educação de seu filho. 186 Solar Colégios


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b) É o vínculo entre a família e o colégio que procura a unidade de critérios e de ação educativa. c) Promove a formação dos pais, base indispensável para conseguir a de seus filhos. d) Propõe, atualiza e desenvolve o projeto educativo pessoal de cada aluno, em estreita relação com seus pais.

1. Conhecer e estimar o aluno: ganhar sua confiança Antes de tudo, o preceptor necessita alcançar um amplo conhecimento do aluno: qualidades, limitações, defeitos, ambiente familiar, amigos e circunstâncias de interesse. Obterá essa informação dos pais, do trato confiado com o aluno, de outros professores e do serviço psicopedagógico do colégio. Sempre que surja um problema especial, é necessário informar o coordenador ou o responsável pela orientação. Mas este conhecimento não é suficiente. A orientação não é uma técnica fria, mas uma relação pessoal entre um estudante e um professor que o compreende e em quem pode depositar sua confiança. O melhor caminho para conseguir uma educação personalizada é colocar o coração, amar a cada aluno com suas virtudes e com seus defeitos. Efetivamente, o amor é a primeira condição para educar. O preceptor educa pessoas para que aprendam a fazer um bom uso de sua liberdade e a servir aos demais na família e na sociedade. Por isso, deve apoiar sua atuação educativa não somente nos sentimentos, mas também na razão, para que façam próprios os critérios e atitudes que lhes permitirão superar o egoísmo, alcançar sua maturidade pessoal e viver de forma coerente com a fé que professam. O preceptor procura desenvolver seu encargo com agradável delicadeza, sem invadir indevidamente a intimidade dos alunos. Por isso, antes de tudo, é preciso que ganhe sua confiança. Irá consegui-la se amar o aluno; se for leal e guardar o silêncio de ofício; se agir de acordo com suas convicções e der exemplo de coerência pessoal; se transmitir segurança e serenidade; se souber entusiasmar; se compreender, enfim, o aluno e souber colocar-se em seu lugar. Nunca deve mostrar desconfiança, ainda que em um ou outro caso saiba com segurança que o aluno não está dizendo a verdade. É muito melhor se deixar enganar para ajudá-lo depois a retificar. Se um aluno não deseja revelar sua intimidade, é preciso respeitar essa situação sem forçá-la. Quando falha a base de confiança que permite tratar dessas questões, convém estudar se não é interessante mudar o preceptor. Pelo contrário, 187 Solar Colégios


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quando se conseguiu a confiança de um aluno, é muito recomendável continuar atendendo-o todo o tempo possível, ao menos durante dois ou três anos. Assim, respeita-se melhor sua intimidade; melhora a amizade com seus pais, o que permite alcançar maior incidência formativa na vida familiar; e se evita que seja necessário dedicar muito tempo a cada ano ao conhecimento inicial do aluno. O preceptor não se pode limitar a dar bons conselhos, mais ou menos adequados, segundo o que possa deduzir por alguns dados externos. Antes de tudo, saber escutar: somente quem tem um autêntico interesse pelas coisas que o aluno comenta, ainda que aparentemente se trate de coisas de pouca importância para um adulto, pode chegar à comunicação própria de um trato confiado. Geralmente, o aluno se conhece pouco e lhe custa manifestar o que lhe ocorre. Por isso, é preciso ajudá-lo a refletir com sinceridade sobre sua situação pessoal. O preceptor não força a vontade do aluno, indicando o que ele deve fazer, mas ajuda-o a tomar suas próprias decisões, com liberdade e responsabilidade. Portanto, é preciso evitar o risco de uma conversa superficial, contraproducente e sem eficácia, com a qual somente conseguiria uma aceitação meramente externa dos conselhos: por ficar bem, por evitar a insistência, etc. O preceptor está obrigado a guardar delicadamente a discrição e o silêncio de ofício, com relação ao que um aluno lhe confiou. Este dever moral deve-se viver também com os pais. Em todo caso, quando se trata de uma questão importante, o preceptor pode recomendar ao aluno que fale com o sacerdote ou com seus pais; também pode se oferecer para informar essas pessoas, mas somente o fará no caso de que o próprio aluno assim o deseje. É preciso estar atento no relacionamento com os alunos, evitando manifestações de extrema familiaridade.

2. Qualidades do preceptor O trabalho do preceptor requer qualidades pessoais de caráter, competência e entusiasmo profissional. Além disso, é preciso contar com o tempo e o interesse por melhorar continuamente sua formação, tanto do ponto de vista técnico, como humano e espiritual. Enfim, deve cuidar os detalhes de tom humano, como o modo de vestir e de se expressar. O educador é o primeiro ponto de referência para o aluno na escola de virtudes em que consiste a preceptoria. Nela deve oferecer uma imagem estimulante a ser imitada. Efetivamente, para receber este encargo não é preciso ser uma pessoa excepcional, mas requer o desejo eficaz de se formar e a disposição de corrigir o que 188 Solar Colégios


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seja necessário. Assim, seu exemplo se manifestará com naturalidade nas incidências normais da jornada diária e será para seus alunos um modelo acessível de conduta: um mestre que trata de viver em todo momento o que ensina e que sabe retificar quando erra. A constância, a paciência e a regularidade são três qualidades muito necessárias. O preceptor deve ser previdente e se adiantar às necessidades dos alunos, procurará repetir, com fórmulas novas, as ideias fundamentais, e também saberá esperar: contar com o tempo, ajudá-los a dar um passo depois do outro, ao ritmo adequado para cada um, sem considerar a ninguém como um caso perdido, porque cada pessoa é única e tem grande dignidade. Foi criada por Deus à sua imagem e semelhança, e convidada à sua intimidade. Inclusive no caso extremo de recomendar aos pais que seu filho abandone o colégio, o preceptor pode permanecer como amigo, aconselhando-lhes o caminho alternativo que lhe convenha, sempre com um enfoque positivo. A alegria é também uma virtude indispensável: a orientação pessoal precisa de toda a seriedade exigida pelo respeito ao aluno e a suas preocupações, mas se deve viver sempre em um clima cordial e alegre. O preceptor não é somente a pessoa a quem se vai quando se precisa porque as coisas vão mal, mas sim o amigo que se adianta para prevenir, estimular e ajudar a se esforçar por alcançar os objetivos de trabalho, de melhora do caráter e de conduta que o aluno necessite em cada momento. Nesse sentido, são sempre mais eficazes os estímulos positivos que as repreensões ou as correções com carga negativa. O preceptor deve saber descobrir os aspectos positivos de caráter e de atitude do aluno, para se apoiar neles e estimulá-lo. Quando é equânime e evita qualquer imposição, coação ou superproteção, exerce uma exigência cordial e amável, que ajuda o aluno a refletir, a assumir sua responsabilidade e a se esforçar.

3. Educando cada pessoa Não existe uma receita que sirva indiscriminadamente a todos os alunos: o preceptor não improvisa nada, mas estuda a situação de cada um e prepara as entrevistas. Deve atender a todos com calma, sem se assustar com nada, sem desanimar, ensinando-os a lutar com constância para superar seus defeitos e para consolidar suas virtudes. Convém evitar até a aparência de preferir uns alunos a outros. Atende-se a todos, não somente aos que vão bem ou aos que vão mal, porque todos devem 189 Solar Colégios


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melhorar. Sem dúvida, a eficácia do trabalho do preceptor fica anulada quando faz acepção de pessoas, mas este ponto deve ser bem entendido, porque não se deve tratar a todos os alunos por igual: o realmente eficaz é tratar a cada um segundo suas necessidades, mas sem favoritismos. O melhor lugar para as entrevistas dependerá de cada caso. Geralmente, os alunos costumam preferir o escritório ou uma sala adequada onde possam falar sentados; em outros casos, será melhor falar enquanto se faz um passeio. De qualquer modo, parece bom diminuir a formalidade, facilitar a espontaneidade e, sobretudo, a sinceridade. Deve-se ensiná-los com modos práticos a dizer toda a verdade, com simplicidade, para que possam ser ajudados. Na medida do possível convém fazer uma entrevista formal de dez ou quinze minutos de duração a cada duas semanas. Com bate-papos breves e frequentes, acompanham-se melhor os alunos, e é possível ajudá-los com mais eficácia a manter o esforço. A primeira demonstração de responsabilidade do preceptor é dedicar a este trabalho as horas previstas em seu horário, sem antepor outros assuntos por mais urgentes que pareçam. No entanto, é preciso ser consciente de que este encargo não pode se amoldar a um horário; em muitos casos, será necessário dedicar com generosidade um tempo superior ao previsto, inclusive fora do horário escolar, para atender a uma pessoa que o necessite. Para facilitar a preparação das entrevistas, convém levar uma ficha para cada aluno sempre em uma pasta ou agenda, não em papeis soltos que são fáceis de extraviar, onde se anotam de modo discreto os dados de interesse: aniversário, nome e profissão dos pais, irmãos, telefones e endereços, qualificações e alguma circunstância de interesse. Não se devem anotar assuntos da intimidade do aluno. A relação do preceptor com o aluno não pode se limitar às entrevistas formais: a convivência diária oferece muitas oportunidades para manter uma breve conversa no corredor, ao final de uma aula, em um momento de descanso ou no refeitório. Esses contatos esporádicos, que não substituem à entrevista formal, mas que a pressupõem, têm muito valor para animar, mostrar interesse por um problema, ou felicitar se conseguiu o objetivo que pretendia. Os alunos devem notar que são queridos e que nos interessam seus assuntos: suas expectativas, seus problemas, suas preferências, seu mundo. O preceptor deve ajudar o aluno a concretizar metas precisas, possíveis e que requeiram algum esforço, revisando-as nas sucessivas entrevistas pessoais. Sempre após estudar o que convém a cada um por seu modo de ser, suas virtudes e seus 190 Solar Colégios


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defeitos, e por sua situação em cada momento, para melhorar o lado humano, escolar e espiritual. No relacionamento com os alunos se devem evitar alguns defeitos: a) Falar muito, impedindo que seja o aluno quem conte suas coisas. b) A indiscrição. Uma pessoa que não guarda o silêncio de ofício não pode ser preceptor. c) O paternalismo que conduz a superproteger o aluno; ou uma excessiva rigidez desprovida de carinho, que exige sem oportunidade e não conta com o tempo. d) A prepotência que leva a presumir uma confiança que ainda não se conseguiu, e a suscitar antes do tempo alguns temas para os quais se deve esperar o momento oportuno. e) Não ser completamente sincero com o aluno e agir com falta de clareza ou com segundas intenções. f) Dar sensação de pressa ou de realizar um interrogatório. g) Não aprofundar, limitando-se a tratar alguns temas de forma superficial numa conversa trivial. h) Dar indicações taxativas, como ordens. É muito melhor aconselhar, convencer, e procurar que o aluno descubra por si mesmo quais metas deve se propor, porque assim exerce sua liberdade e aprende a se valorizar. i) Deixar sem concretizar os pontos em que cada um deve melhorar. j) Por último, ainda que o preceptor procure ganhar a confiança e inclusive a admiração dos alunos que atende, deve evitar a dependência à sua pessoa, de forma que em qualquer momento, se for necessário, outro preceptor possa atender o aluno.

4. Conteúdo da preceptoria As entrevistas com os alunos podem ter um conteúdo muito amplo, mas não se pode perder de vista a necessidade de explicar sempre de forma adequada à idade dos alunos o porquê das coisas, seu fundamento ético, para não ser demasiado permissivo às suas vontades. O preceptor não deve diminuir os objetivos da educação: não se trata de conseguir que os alunos sejam bons meninos ou pessoas de sucesso, mas de formar homens íntegros. Nas entrevistas, se tratarão os assuntos que convenham em cada momento, com a maior simplicidade possível, e procurando que seja o aluno quem fale e manifeste suas disposições interiores. Nas conversas posteriores, pode-se falar, entre outros, dos seguintes temas:

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a) Estudo. O rendimento acadêmico pode ser o ponto de partida da relação do preceptor com o aluno e com seus pais. Aqui está em jogo seu prestígio como orientador, mesmo que não seja para ele o tema mais importante. Deve procurar que o aluno adquira hábitos estáveis de trabalho, ensinando-o a superar as dificuldades e a santificar o estudo, oferecendo-o por um motivo sobrenatural. Deve estimular o esforço diário tanto no caso de um aluno que vá reprovar, como no de um aluno brilhante que obtém boas qualificações sem esforço, a quem será necessário traçar um plano de aprendizagem com maior carga de objetivos individuais, ou um plano especial de aprendizagem de idiomas, para que também adquira a virtude da laboriosidade. b) Família e caráter. Disposições e defeitos. Carinho e compreensão para com seus pais e irmãos. Alegria e espírito de serviço em casa. Os encargos familiares. Obediência. Coisas pequenas: cuidado e ordem da roupa e do uniforme, asseio pessoal. Correção no vestir, evitando os caprichos: marcas, etiquetas, acessórios, etc. Vocabulário adequado, sem expressões grosseiras ou irreverentes. Elegância e sobriedade à mesa. c) Detalhes de serviço. Trabalho em equipe. Cumprimento dos encargos. Aproveitamento das aulas. Comportamento. Detalhes de limpeza e cuidado das coisas materiais. Ajuda aos demais no estudo e no que possam necessitar. d) Sinceridade. Ensinar a amar a verdade e a ser completamente sinceros com Deus, consigo mesmos e com os demais. Ajudá-los a se conhecer e a chamar às coisas por seu nome, a ser humildes e dóceis, para colocar em prática os conselhos que recebam: ser sincero não basta, é preciso lutar para melhorar. e) Vigor. Aprender a dizer não, exercitando-se na aquisição de pequenos hábitos: pontualidade ao se levantar e ao começar o estudo, constância diária no trabalho. Evitar caprichos nas comidas, nas bebidas, na roupa. Adquirir o sentido da luta interior, fortalecendo a vontade de modo que não se sintam derrotados antes de começar a luta. Ensinar a recomeçar cada vez que seja necessário. Ajudá-los a vencer a mentalidade hedonista e a descobrir o sentido positivo do sofrimento, que adquire um valor transcendente quando se une à Cruz de Jesus Cristo. f) Amor à liberdade e personalidade. Respeitos humanos e gregarismo. Companheirismo. Amigos. Influir no ambiente sem se deixar levar. Senso crítico ante os meios de comunicação social. g) Formação cultural. Incentivar, desde pequenos, o gosto pelas boas leituras para que adquiram senso crítico e hábitos intelectuais de reflexão que lhes permitam ser livres. Ensiná-los a ler, a escrever bem, a falar em público e a expressar com propriedade suas opiniões argumentando sem violência.

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h) Vida de piedade. Ser perseverantes para ajudar a cada um a ser alma de oração e a adquirir consciência de sua filiação divina. Ensiná-los a ter uma terna e intensa devoção a Jesus Cristo presente na Sagrada Eucaristia; procurar que amem a Santa Missa e adquiram o costume de se confessar com frequência, com sinceridade plena; ensiná-los a recorrer diariamente à Santíssima Virgem, a São José e aos Anjos da Guarda, para que se mantenham na presença de Deus; a rezar com pausa e atenção as orações vocais. Sugerir-lhes que vivam algumas normas de piedade, de acordo com sua idade. i) Emprego do tempo livre. Descanso, sono. Saúde. Esportes e diversões. Uso da televisão e do vídeo. Participação nas atividades de clubes juvenis onde possam completar a formação que recebem no lar e no colégio. j) Educação da afetividade (a informação sexual). Procurar que os pais os informem em tempo, adiantando-se, sobre a sexualidade. Ensinar a viver detalhes práticos de pudor e de modéstia que lhes permitam uma vida limpa e alegre, sem obsessões. Direcionar a afetividade, sem reprimi-la. Em muitos casos, será oportuno recomendar aos alunos que tratem pessoalmente um tema de consciência com o sacerdote. O preceptor deve atuar com muita prudência, sem nunca dar a impressão de querer intrometer-se. Os assuntos que se referem à intimidade somente podem ser tratados na medida em que o aluno se abra com naturalidade, movido por sua confiança no preceptor. Nessas ocasiões, é bom recordar ao aluno que não falta à sinceridade se prefere não falar.

5. O preceptor e a qualidade docente É muito importante que os pais saibam desde que o filho ingresse no colégio que o rendimento acadêmico é um dos temas, mas não o único, que devem tratar com o preceptor. No entanto, o rendimento acadêmico tem importância primordial em um colégio. Para tanto, o preceptor necessita: a) Partir de uma análise precisa, com o conhecimento das possibilidades e limitações do aluno, que conseguirá a partir dos dados recolhidos por observação, da informação fornecida pelos professores, pelos pais e pelo preceptor anterior. Um bom diagnóstico inicial, que deve ser atualizado ao longo do ano, torna possível prognosticar o ótimo rendimento do aluno. b) Conhecer bem o desenvolvimento acadêmico do aluno. Matérias para as quais está mais ou menos dotado. Recuperações ou avaliações anteriores. No caso de alunos bem dotados, desenvolvimento de planos complementares: aprendizagem de um segundo idioma, trabalhos especiais em algumas matérias, ajuda como monitor a seus companheiros, etc. 193 Solar Colégios


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c) Saber se aproveita as aulas e vai ao colégio com o material necessário, se estuda todos os dias em casa o tempo necessário, se é ordenado, se usa técnicas de estudo eficazes, quando e onde estuda, etc.

Por essas razões, convém que o preceptor dê alguma aula aos alunos a quem orienta, embora não seja imprescindível. Em determinados casos é interessante que continue atendendo a alguns alunos dos quais foi preceptor em turmas anteriores, ainda que não lhes dê aula. Os pais de alunos com baixo rendimento agradecem quando são mantidos informados sobre quando e como se recuperam as matérias e avaliações pendentes, assim como as datas dos exames importantes. É preferível que esta informação chegue através da agenda escolar de seu filho. O preceptor pode estar pendente de que tenha anotadas as informações. É muito positivo dar a conhecer também aos pais, por exemplo, através de uma anotação, a melhora e os bons resultados de seus filhos, especialmente quando isso não é o normal. A sessão de avaliação é um momento especialmente apropriado para a troca de informações sobre o desenvolvimento acadêmico de cada aluno. Nela devem estar presentes todos os preceptores, ainda que não deem aulas nessa turma. Quando for o caso, sem esperar a avaliação, o preceptor deve informar os professores sobre os alunos que tenham um problema especial ou sobre os que estão realizando um particular esforço, para que os animem. Convém evitar que, motivado por um sincero interesse por ajudar a um aluno, o preceptor se comprometa diante dos pais a uma dedicação extraordinária de tempo ou uma atenção que não seja realmente factível. Embora saiba que com uma maior dedicação de sua parte, ou com mais ordem, poderia acompanhar melhor um aluno, o preceptor não deve ir à entrevista com os pais com “complexo de culpa” pelos resultados. Quando os baixos rendimentos são devidos a dificuldades especiais de aprendizagem, deficiente nível de conhecimentos básicos, ausência prolongada da aula, etc., de comum acordo com os pais deve-se prever uma ajuda especial fora do colégio: aulas particulares, ajuda de algum companheiro mais estudioso, etc. É conveniente que esta situação se limite ao tempo imprescindível para corrigir a deficiência, e conseguir que os pais não ajam por sua conta, sem consultar o preceptor.

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Se o aluno tem problema em uma matéria, em determinados casos pode ser bom que seja o professor dessa matéria quem fale com os pais. Não obstante, se se prevê que pode aparecer alguma desavença na entrevista, é melhor que o preceptor esteja presente. Cada professor procurará ajudar pessoalmente os alunos que não vão bem em sua matéria, sem deixar nas mãos do preceptor a solução das dificuldades específicas que tenham seus alunos. No entanto, a solução do assunto caberá ao preceptor, quando a falta de rendimento tenha sua origem em um problema familiar ou de saúde, ou em outros aspectos não acadêmicos.

6. O preceptor e as atividades extraescolares Dentro de suas possibilidades, os preceptores devem dedicar tempo fora do horário escolar para realizar com os alunos atividades de tempo livre: esportes, excursões, convivências, visitas a enfermos e outras obras de misericórdia, que consolidam a amizade com os alunos e permitem um trato mais pessoal. Essas atividades ajudam a conseguir um clima amplo de confiança, multiplicador da eficácia dos meios ordinários de formação do colégio. São, além disso, um bom meio para animar os alunos a participar das atividades dos clubes juvenis. Também são muito interessantes os passeios curtos, de meia jornada, por exemplo, em dias letivos, que se podem fazer sem especial preparação, quando sejam oportunos para descarregar a tensão que se possa ter formado depois de uma semana de exames, ou durante um trimestre longo.

7. O preceptor dos alunos do Snipe A partir dos seis anos deve-se falar pessoalmente com os alunos e ir acostumando-os à entrevista formal com o preceptor. Podem ser suficientes de cinco a dez minutos a cada quinze dias, mas, sobretudo, convém aproveitar todas as oportunidades que oferece a convivência diária para atender a cada um e para formálo precisamente através dessas incidências ordinárias. Tudo quanto se falou com relação aos pais dos alunos tem uma especial relevância no caso do preceptor dos alunos de 6 a 12 anos. Durante estes primeiros anos, ele deve ajudar os pais a se formarem, a entenderem com profundidade os ideais que fundamentam a atividade educativa e a colocá-los em prática em sua vida pessoal e familiar. Ajudá-los a compreender que são os primeiros educadores e não podem delegar ao colégio, que tem uma função subsidiária, a responsabilidade da formação de seus filhos. O colégio existe para ajudá-los a procurar conjuntamente o desenvolvimento harmônico da personalidade de seus filhos em todos seus aspectos, para que sejam pessoas íntegras que saibam se valorizar, exercitando sua liberdade.

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Os alunos desta faixa etária são particularmente receptivos, tanto para a ação educativa dos pais e dos professores, como para as influências da televisão, da publicidade e de outros meios de comunicação. Adotam como modelos de conduta as pessoas que admiram, que exercem sobre eles uma grande autoridade. Por isso, os preceptores dos alunos de 6 a 12 anos devem cuidar muito os detalhes pessoais, para poder ajudá-los eficazmente.

C. MEIOS DE ORIENTAÇÃO COLETIVA A orientação se faz também por meios coletivos que, convenientemente coordenados com o atendimento pessoal dos alunos e de suas famílias, têm uma grande eficácia.

1. O professor encarregado de classe (PEC) O professor encarregado de classe é peça chave na qualidade docente e formativa: é o coordenador de toda a ação educativa que o colégio oferece aos alunos de um grupo ou de uma sala, que lhe foram designados e para os quais ministra uma ou várias matérias.  Coordena a ação docente dos professores, preside a sessão de avaliação e está atento ao rendimento acadêmico de cada um dos alunos de sua sala;  Dirige os meios de formação em grupo e serve de apoio à atenção pessoal dos preceptores;  É o responsável pela convivência e disciplina do grupo de alunos que atende, de modo que sua turma viva em um ambiente de alegria, respeito, colaboração e trabalho, de autodisciplina;  É também o responsável pelas sessões informativas e outras atividades dirigidas aos pais de seus alunos.

2. O ambiente educativo da sala de aula A principal missão do professor encarregado é conseguir uma convivência ordenada que facilite um trabalho intenso num ambiente de alegria, colaboração e cordialidade. Deve prestar (e fazer prestar) uma atenção consciente e sistemática à construção de um ambiente que canalize e multiplique o influxo educativo do colégio; um clima que facilite o esforço e o desapego do próprio ser na relação com os demais; um ambiente de disponibilidade para o trabalho individual ou em equipe.

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O professor encarregado de classe se ocupa em conseguir esse clima e ajudar os demais professores a mantê-lo; procura que todos conheçam muito bem os alunos; assegura em cada momento a coordenação das diversas exigências, para evitar situações de angústia e ansiedade seguidas de tempos demasiado tranquilos em que há pouco esforço. Para conseguir esse ambiente sereno, tudo é importante: o cuidado dos detalhes, o material da sala, a decoração e uma distribuição funcional que ajude a evitar situações de tensão nos alunos. É importante também o empenho de todos os professores por viver de modo continuado uma série de ações incidentais programadas sistematicamente com referência ao uso das coisas, ao trato com professores e companheiros, ao porte pessoal. Essas ações incidentais permitirão a formação de hábitos de conduta e facilitarão os sentimentos de segurança, dignidade, autoestima e espírito de serviço.

3. Reunião de turma A reunião de turma é uma sessão de trabalho periódica do PEC com seus alunos, para comentar os objetivos docentes, de formação e de convivência, propostos para os alunos da turma, bem como para valorizar as incidências mais significativas que tenham acontecido. Os alunos participam, assim, de seu próprio processo educativo. A finalidade principal da reunião de turma é fortalecer os laços de companheirismo, de compreensão e respeito, de amizade e solidariedade entre os alunos. Pode servir também para conseguir os seguintes objetivos: a) Promover o aproveitamento acadêmico de todos e conseguir que uns colaborem com os outros, em grupos de trabalho por disciplinas, quando os que têm melhor aproveitamento ajudam seus companheiros. b) Assegurar que nenhum aluno fique isolado, que todos sejam bem atendidos, de forma que se sintam bem na sala de aula e no colégio. c) Conseguir um ambiente positivo no qual os alunos vivam sua liberdade, superando os respeitos humanos, e onde seja natural fazer as coisas bem feitas. d) Desenvolver o espírito de iniciativa e o sentido de responsabilidade em todas as tarefas colegiais e em seu tempo livre. e) Estabelecer ações práticas que concretizem as normas gerais de convivência, dependendo da situação específica de cada turma. 197 Solar Colégios


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O desenvolvimento da reunião dependerá da idade dos alunos, da situação da turma naquele momento determinado, como também do modo de ser pessoal do professor encarregado. Portanto, é um meio aberto, flexível. A reunião será eficaz na medida em que tenham sido bem fixados os objetivos pretendidos, preparados os conteúdos: comentar um aspecto da vida colegial, organizar os grupos de trabalho, corrigir uma conduta coletiva inadequada, transmitir uma indicação, ou outros que pareçam convenientes. É necessário prever o modo de apresentar esses conteúdos aproveitando diferentes situações: um bate papo do professor ou o comentário de um aluno, um trabalho em grupo com a ajuda de um “caso” ou de um questionário, um brainstorming, a intervenção do Conselho de turma, uma atividade fora da sala, os recursos humanos e materiais necessários (convidar a outro professor, ajudar os membros do Conselho de turma a preparar sua intervenção, fotocopiar algum documento, preparar o projetor ou o vídeo, ou ter previstos os lugares para o trabalho em grupos). Decidir então como ressaltar os conteúdos de maior interesse. Em qualquer caso, a reunião de turma deve manter um tom positivo e estimulante, evitando-se sempre a crítica amarga ou o tom de bronca. Normalmente, será conveniente evitar as referências pessoais, para não deixar ninguém mal: é melhor que o encarregado de classe trate o que seja oportuno com cada aluno, em particular. No mesmo sentido, é interessante que os alunos exponham com naturalidade suas sugestões, ordenadamente, mas sem admitir críticas negativas sobre a pessoa ou a atuação de um professor ou de um companheiro, quando sejam estéreis e não ofereçam uma solução. Quando se tratar de uma crítica construtiva, com um tom adequado, será conveniente recomendar a quem a faz que fale diretamente com o professor interessado, ou, dependendo do caso, arbitrar outros meios que pareçam mais oportunos. Que seja o próprio professor encarregado de classe, por exemplo, quem o faça. A reunião de turma deve ter uma forma muito dinâmica, para evitar que a sessão seja monopolizada pelas intervenções do professor encarregado. Quando for evidente uma conduta desagradável, o encarregado de classe procurará ressaltar algum aspecto que ajude a compreender e a desculpar, ou ao menos a interromper o julgamento. Os alunos devem ser ajudados a aprofundar nas causas que os problemas provocaram e a buscar soluções. Inclusive, quando se tratam de dificuldades causadas por outras pessoas, é importante acostumá-los a se perguntar o que eles mesmos podem fazer para resolvê-las. É conveniente não adiantar soluções sem consultar antes a quem compete a decisão, para não ultrapassar a área de autonomia do professor encarregado de classe. 198 Solar Colégios


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4. O Conselho de turma O Conselho de turma é o órgão de participação dos alunos no governo da sala e um meio de formação que estimula o senso de responsabilidade, o companheirismo e o espírito de serviço. O Conselho é também uma ajuda inestimável para conseguir os objetivos educativos da aula e um meio excepcional para a formação dos alunos líderes, preparando-os para o futuro. Normalmente, o Conselho de turma está constituído por cinco alunos eleitos por votação secreta pelos companheiros de sala: o delegado de turma, o vicedelegado, e dois ou mais secretários. Não obstante, quando parecer conveniente, pode-se ampliar para até sete membros. O professor encarregado de classe preside as reuniões do Conselho de turma. Os membros do conselho de turma não são “representantes dos alunos” no sentido estrito do termo. Em nossos colégios, cada aluno se representa a si mesmo e tem acesso a todas as pessoas com as que necessite tratar (professores, coordenadores, diretor, etc. ). Sua missão não é apresentar queixas ou reivindicações, mas servir a seus companheiros. Funções gerais As formas práticas de atuação e os assuntos dos quais se ocupa o Conselho de turma dependem da idade dos alunos. Correspondem-lhes as seguintes funções: a) Velar pelo bom funcionamento da sala e da convivência, de modo que a classe tenha um ambiente de trabalho e alegria. b) Promover a cooperação e a solidariedade entre os alunos do grupo, de forma que cada um alcance os objetivos previstos, segundo suas possibilidades. Organizar as ajudas que uns alunos possam prestar a outros, para recuperar uma matéria ou para adquirir determinadas habilidades. c) Conseguir a coesão do grupo e sua união com o colégio e assegurar que nenhum aluno fique isolado. d) Procurar a participação ativa de todos os alunos nos meios educativos previstos: nas atividades de formação coletivas, nas entrevistas individuais com o preceptor, nas convivências, etc. e) Organizar excursões, visitas culturais e outras atividades que facilitem a convivência e a amizade entre os alunos, e entre os alunos e os professores.

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Uma possível de divisão de funções  Delegado: prepara junto com o PEC a ata do Conselho de turma. Ordem do dia. Supervisiona a atuação dos vogais. Informa dos acordos estabelecidos. Deve ser integrador.  Vice-delegado: ajuda ao delegado e o supre. Faz as atas e as revisa com o PEC.  Secretário de estudos: cuida do rendimento acadêmico geral, como é o aproveitamento das aulas, fala com professores sobre possíveis calendários de provas. Análise da carga de deveres semanal ou diária. Pode mapear os melhores alunos e os alunos com mais dificuldade.  Secretário de formação: formação humana e espiritual e seguimento dos encargos da classe. Sugere temas de formação.  Secretário de atividades escolares e extraescolares. Pode propor e coordenar a realização de atividades culturais, esportivas, etc.

Eleição do Conselho de turma O Conselho deve se constituir desde o 1º ano do Ensino Fundamental I, ainda que não haja inconveniente em iniciá-lo antes. Os alunos o elegem por um ano, quando finalizar a primeira semana do ano escolar. Em circunstâncias de verdadeira necessidade, pode ser conveniente proceder a novas eleições na metade do ano ou estabelecer uma eleição trimestral. Em qualquer caso, deve ficar claro que os cargos são ocasião de serviço aos demais, não de brilho pessoal, e exigem superar o egoísmo e a comodidade. Podem ser candidatos todos os alunos da turma. Convém procurar que se apresentem aqueles de conduta mais exemplar, com bom rendimento acadêmico, e capazes de viver a amizade e o espírito de serviço, qualidades necessárias para os líderes eleitos de cada turma. A eleição pode ser por votos (mais votado seria o delegado, e assim sucessivamente até completar o quadro) ou por funções. É preciso dedicar tempo e esforço à formação dos membros dos Conselhos de turma, pela decisiva influência que têm sobre seus companheiros. É interessante organizar todos os anos uma convivência especial, breve, por níveis, no início do ano escolar. Periodicidade das reuniões O Conselho de turma se reúne uma vez a cada quinze dias, para conseguir um funcionamento mais ágil e eficaz. Convém assegurar que não se distanciem as reuniões, para evitar que fique na prática um órgão inoperante.

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As reuniões acontecem no horário escolar, normalmente durante a pausa do meio dia, para não prejudicar o andamento docente. Uma hora é suficiente. Critérios de funcionamento É conveniente que o professor encarregado de classe presida todas as reuniões, embora deva manter uma atitude prudente para não intimidar nem impedir que os membros do Conselho expressem com liberdade suas opiniões e suas propostas de solução. O PEC pode preparar uma pauta básica com o delegado de turma, para assegurar que se tratem todos os temas, evitando improvisações e desordem. É interessante redigir uma breve ata de cada reunião. Os diferentes assuntos serão estudados pelos membros do Conselho que proporão planos de ação concretos com a pessoa responsável para sua execução ou seguimento. Essa pessoa prestará conta de sua obrigação na reunião seguinte do Conselho. O professor encarregado de classe é consciente de que cabem a ele a competência e a responsabilidade pelo governo da sala, e não aos alunos. No entanto, a autoridade do professor não é diminuída – pelo contrário, se reforça – quando impulsiona o funcionamento do Conselho de turma e atende suas sugestões. Deve ensinar os alunos a participar com sentido de serviço e responsabilidade; fazê-los ver que ser membro do Conselho significa servir, fazendo-se corresponsável, em seus justos termos, do bom andamento da sala que representam: sem inibir-se diante dos problemas reais da sala, mas sem pretender assumir competências que não lhe correspondam. É importante evitar que o Conselho de turma limite suas funções a uma crítica negativa dos professores e do colégio, pois seria uma forma de se esquivar de suas próprias responsabilidades. Quando percebe que determinado assunto não vai bem, o Conselho deve informar esse problema ao PEC e, se estiver em suas mãos, sugerir uma possível solução para corrigi-lo, mas sem cair em uma crítica estéril. Quando necessário, uma proposta do Conselho de turma pode ir para a direção do colégio, formulada, porém, de maneira que nem sequer pareça uma pressão dos alunos à direção do colégio. O Conselho de turma é um organismo especialmente eficaz nos anos superiores. Mas é importante que os meninos e meninas, desde pequenos, se

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acostumem a participar ativamente nos assuntos que afetam sua turma, sendo importante prestar atenção às suas sugestões. Convém contar com o Conselho de turma para atender especialmente aos alunos que precisem, para prevenir os problemas de disciplina e para decidir as sanções que se devam aplicar, conforme o caso.

5. Os encargos dos alunos Os encargos são um meio de particular eficácia para estimular a responsabilidade dos alunos e o espírito de serviço aos demais. São pequenas responsabilidades cotidianas de serviço que permitem colaborar para o bom funcionamento da vida escolar. Para que um encargo tenha eficácia educativa, antes de tudo deve ser útil, ou seja, um serviço efetivo. Os alunos se motivam quando veem que, com o esforço de cada um em seu encargo, se consegue que a classe funcione bem. Por outra parte, fomentará a responsabilidade na medida em que o aluno seja consciente de que deve dar conta (diante de seus companheiros ou do professor) do trabalho realizado ou da ajuda prestada. Por outra parte, a responsabilidade requer tomada de decisões pessoais na escolha das melhores formas de cumpri-los. Ao programar os encargos, deve-se procurar que fomentem a iniciativa pessoal ao buscar os modos de cumprir essa obrigação. Nesse sentido, quase sempre será conveniente animar a quem buscou um novo caminho para realizar sua obrigação, ainda que o resultado não tenha sido animador. Os encargos, além de promover a responsabilidade e de facilitar um clima educativo adequado, potenciam a confiança do aluno em si mesmo, reforçando a segurança pessoal, quando lhe são encomendadas tarefas acessíveis, ainda que lhe exijam esforço. Por outra parte, são um bom meio para desenvolver habilidades através da experiência, porque ao fazer-se cargo de uma responsabilidade o aluno deve colocar em jogo suas capacidades. Por último, são uma ocasião para exercitar o espírito de serviço e adquirir a consciência de ser útil aos demais. Ao distribuir os encargos, convém considerar qual convém a cada um, segundo seu caráter, virtudes e defeitos. Depois, é preciso explicar-lhe em que consiste o encargo, para que possa cumpri-lo bem desde o primeiro momento. A programação e a distribuição dos encargos devem ser feitas com grande flexibilidade, atendendo à idade, situação e às características específicas de cada 202 Solar Colégios


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grupo. Um encargo que foi útil durante um tempo pode tornar-se desnecessário ao mudarem as circunstâncias; talvez um aluno determinado possa ter vários encargos, enquanto que no caso de outro será melhor que compartilhe seu encargo com um de seus companheiros; um encargo que convém a um aluno de Fundamental I pode ser pouco adequado para um aluno de Fundamental II; etc. Pode ser conveniente que o Conselho de turma se ocupe de distribuir os encargos na turma, pensando (com a ajuda do PEC) qual deve ser solicitado a cada um dos companheiros, evitando os favoritismos. Além disso, é necessário que o professor encarregado de classe controle periodicamente o cumprimento dos encargos. É interessante que (como encargo próprio) alunos mais velhos colaborem com os professores encarregados no seguimento dos encargos de um grupo de alunos mais novos, para ensinar-lhes os modos práticos de cumpri-los bem. A experiência aconselha que, entre os seis e os doze anos, os encargos variem todos os meses, ou ao menos ao começar o período de uma nova avaliação. Em determinadas ocasiões, pode ser aconselhável mudar algum encargo antes desse prazo, embora sempre seja melhor manter a constância em seu cumprimento. Em qualquer caso, é preciso não perder de vista que os encargos são um meio, um instrumento ao serviço do processo educativo de um aluno, não um fim em si mesmo. Todos os professores devem estar atentos para que sejam cumpridos, especialmente ao começar e terminar suas aulas.

6. O Programa de Formação Humana: Virtudes É um programa sistemático de educação em valores, adaptado ao momento evolutivo dos alunos de cada idade, coordenado pelo professor encarregado de classe. Este programa se desenvolve nas reuniões de turma e atende à formação do entendimento, ao fortalecimento da vontade e ao cultivo da afetividade. Seu sentido é completar, sistematizar e assegurar a educação em valores que se dá através do currículo comum. Possui um caráter eminentemente participativo e incorpora atividades de estudo de temas morais, de debate sobre temas da atualidade, de dramatização e julgamento de situações - promovendo o envolvimento intelectual e emocional dos alunos -, de estudo e discussão de casos, de cine fórum, de exercícios das virtudes, etc.

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Para realizar com eficácia esse programa, o professor necessita, além de aprofundar cada vez mais sua formação pessoal (através de conversas, leituras, a própria reflexão, etc.), desenvolver uma série de habilidades de dinâmica de grupos, tais como:      

passar rapidamente dos princípios aos exemplos; relacionar os interesses e opiniões dos alunos com os materiais que se apresentam; incorporar as notícias de atualidade aos temas de trabalho dos alunos; voltar às ideias gerais quando a discussão se detém em um nível depreciativo; abandonar com delicadeza os temas que não provocam reflexão; dirigir a discussão fora de âmbitos excessivamente pessoais ou dolorosos, sabendo ver em toda ocasião o lado positivo das situações apresentadas.

7. As assembleias São reuniões de algum membro da Direção do colégio com os alunos de uma turma ou ano, nas quais se informam acontecimentos relevantes da vida colegial e se apresentam de modo atrativo os objetivos docentes e formativos para a turma ou ano. Seu objetivo é dar uma visão geral do centro educativo, favorecendo a unidade da vida colegial, como também proporcionar aos alunos uma forma de participação na vida do centro. É conveniente que tenha um caráter relevante e participativo e esteja muito bem preparada pelos professores encarregados de classe. Aconselha-se uma periodicidade trimestral, embora não haja inconveniente em realizar uma assembleia ao princípio de cada avaliação ou por ocasião de algum fato colegial de especial transcendência.

8. As convivências A partir do 1º ano do Fundamental I, os alunos de cada turma realizam uma convivência de dois ou três dias de duração em um lugar apropriado para tal atividade. São alguns dias de maior trato entre professores e alunos e dos alunos entre si. Proporcionam ocasiões para consolidar a confiança, a amizade e a unidade entre os

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alunos, para exercitar a ajuda mútua e as virtudes sociais, e permitem uma formação humana e cristã mais intensa.

D. ATIVIDADES PROMOVIDAS PELA CAPELANIA O fato de que a educação considere a dimensão transcendental da pessoa e se realize com critérios cristãos é consequência da liberdade dos pais ao escolherem o tipo de educação que desejam para seus filhos e da liberdade dos professores ao trabalharem de acordo com esse modelo educativo. O trabalho de formação cristã não se limita a preencher de sentido cristão a tarefa escolar cotidiana. É necessário, além disso, oferecer aos pais, professores e alunos, que livremente o desejem, um adequado atendimento espiritual. A formação cristã busca conseguir a unidade de vida, isto é, a harmonia entre o modo de pensar e de agir. Apresenta os seguintes aspectos básicos:  

proporcionar uma sólida e profunda formação doutrinal religiosa adequada à capacidade das diferentes pessoas; apresentar um ideal de vida cristã fundamentado na chamada universal à santidade e na santificação do trabalho profissional e dos próprios deveres, destacando o sentido da filiação divina, a oração e a frequência de sacramentos, a Santa Missa como centro e raiz da vida cristã e a necessidade de uma sensível e intensa devoção à Santíssima Virgem; procurar o desenvolvimento das virtudes humanas, das virtudes sociais e cívicas, dos hábitos de convivência, cooperação e serviço, e o sentido da responsabilidade social como exigências da caridade, principal virtude cristã; destacar a vertente apostólica da vida cristã como chamada a impregnar de sentido cristão as relações com os demais e as realidades humanas, procurando aproximar de Deus todas as almas.

A missão do capelão no colégio é ocupar-se do atendimento espiritual dos pais, professores, pessoal não docente e alunos que livremente o desejem e (em determinados casos) dar algumas aulas de Religião, normalmente para explicar temas de moral.

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Além do atendimento espiritual pessoal, o sacerdote pode, com alguma periodicamente dar aulas para cada turma onde expõe algum aspecto da vida cristã, de modo adequado à capacidade dos alunos.

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Capítulo X - O AMBIENTE E A CONVIVÊNCIA ESCOLAR O CLIMA DA SALA

A. IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR No seu conjunto, a influência do colégio acontece envolvendo e condicionando as tarefas escolares, facilitando-as ou dificultando-as. Junto à atividade programada, intervêm todos os elementos materiais e pessoais que constituem o colégio. Trata-se da ação do ambiente que é, ao mesmo tempo, marco e sistema de estímulos para a vida e convivência humanas. Com toda razão pode-se entender que o centro educativo é ao mesmo tempo um ambiente para a convivência e um conjunto de estímulos para a aprendizagem sistemática. Vai-se ao colégio para aprender; e a aprendizagem não é somente a aquisição de conhecimentos e habilidades. A simples convivência exerce enorme influência sobre a formação pessoal. Por isso, é preciso dar-lhe uma atenção consciente e sistemática. A necessidade de cuidar do ambiente escolar se percebe claramente quando se pensa que é ele o canalizador do influxo educativo do colégio. Os distintos fatores da vida colegial – a leitura e o cálculo, os trabalhos práticos, os passeios de aprendizagem, os livros e materiais utilizados – atuam produzindo um resultado próprio. Mas todos convergem e se acham condicionados – ajudados ou obstaculizados – pelo ambiente cotidiano da sala e do Centro. Para alcançar as finalidades educativas é essencial que cada membro da comunidade escolar se sinta bem nesse ambiente.

B. CONDIÇÕES DO AMBIENTE ESCOLAR Enquanto condicionante, o ambiente facilita ou dificulta a vida, por isso há a necessidade de um ambiente adequado. A educação também requer (exige como primeira condição) um ambiente adequado, isto é, que facilite o desapego do próprio ser das crianças com relação às pessoas que estão ao seu redor, que estimule o esforço e a atividade e que produza sensação de comodidade.

Conforto O primeiro elemento para se sentir bem é o conforto. Há necessidade de um conforto material, resultado da adequação dos elementos físicos do ambiente (espaço, luz, cores, móveis...) a nossas condições biológicas.

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A sala deve estar limpa e ser ampla, com capacidade para estar organizada em diferentes áreas (com armários separadores, por exemplo), com uma iluminação adequada, boa ventilação, arejada, de forma que a temperatura seja sempre agradável. Deve estar organizada de modo que os deslocamentos, quando se passar de uma atividade a outra, sejam facilitados, bem como a realização das diferentes tarefas, com cantos de trabalho amplos e material disposto de modo que possa ser utilizado pelas crianças. A decoração deve ser estimulante e variar com frequência: cartazes, fotos, palavras, projetos, livros, murais, revistas, catálogos... Os cartazes, pôsteres, etc. devem estar à altura das crianças. Também faz parte desse conforto material o conforto físico das crianças e a higiene, ou seja, que possam secar-se se estão molhados, que possam lavar-se se se sujaram, que levem roupa confortável – adequada à atividade que estão realizando –, que possam descansar em um canto tranquilo, etc. Comunicação cordial A ordem no ambiente é sem dúvida um componente para o conforto. Mas há também um conforto psíquico que depende da cordialidade nas relações pessoais dos que compartilham um mesmo ambiente, e da confiança mútua que possuam. O professor deve tratar os alunos com grande cordialidade, simpatia e espontaneidade, de modo que todos se sintam muito bem acolhidos. Deve-se manter uma atitude positiva, evitando o máximo possível os “nãos”. A cordialidade e qualidade da relação dependem, em boa medida, da convicção de que a criança é uma pessoa que merece respeito. Os sinais de respeito são numerosos, por exemplo:        

chamá-la sempre por seu nome ou apelido familiar, olhá-la nos olhos quando se fale com ela, colocando-se à sua altura (física), não superprotegê-la, ao contrário, ensiná-la quanto antes a agir com autonomia, respeitar o ritmo de trabalho de cada uma, escutá-la com atenção (também no gesto) quando nos fala, animar seus esforços, animar a fazer bem as coisas, com disposição positiva e confiança em suas possibilidades, indicar-lhe com clareza, com a atitude, com a palavra ou com o gesto expressivo o que está bem e o que está mal, propor-lhe atividades bem graduadas que lhe permitam progredir,

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  

ser firmes quando sua segurança ou a dos demais esteja em perigo, evitar qualquer tipo de menosprezo ou humilhação, etc.

O professor não é o único que mantém contato com as crianças. Para que a ação educativa seja efetiva e o clima escolar seja cordial, de agradável convivência, a equipe educativa e todo o pessoal do colégio, docente ou não, deve ser coerente com essas indicações, sendo conscientes de que as crianças necessitam sentir ao seu redor pessoas que as amam para poder adaptar-se à vida escolar. Estímulo para as atividades e para o esforço Considerando-se que o colégio é um ambiente de aprendizagem e trabalho, necessita oferecer conforto, estimular e facilitar a atividade e o esforço dos estudantes (sem gerar neles ansiedades), e promover agradável disponibilidade para o trabalho, realizado de forma individual ou coletiva. Isso requer, em primeiro lugar, um clima sereno na classe, para evitar a fadiga de algumas crianças que se excitam com facilidade e proporcionar tranquilidade. Também implica a oportuna variedade das atividades, físicas e intelectuais, que respondam a suas necessidades naturais de mobilidade e satisfação da curiosidade e do afã de aprender. É preciso ainda facilitar o resultado positivo das atividades que as crianças iniciam, animar e estimular a criança inativa e orientar o trabalho cada vez que seja necessário. Do mesmo modo, é importante propor gradualmente às crianças atividades com maior dificuldade, evitando que sua evolução pare, e prestar atenção aos sintomas de cansaço, de doença ou de possíveis deficiências visuais ou auditivas, tão frequentes nessas idades. Em resumo, o ambiente adequado para a educação é aquele no qual a criança encontra:   

conforto estímulo para as atividades e o esforço comunicação cordial, carinhosa

As condições objetivas apontadas para um ambiente educativo adequado encontram-se em estreita relação com as grandes motivações humanas. Sentir-se bem em determinada situação implica sentir-se seguro, aceito por quem estiver junto e em comunicação cordial.

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Em outras palavras, um ambiente adequado é aquele que facilita às crianças a promoção e o reforço dos sentimentos de segurança, autoconceito positivo e colaboração.

C. O AMBIENTE ESCOLAR PERSONALIZADO O ambiente tem um duplo interesse educativo: como meio de educação, já que nele se reúnem uma abundância de estímulos educativos que estão operando constantemente na formação das crianças; e como objetivo geral da educação, já que se pode influir no ambiente para que se torne ainda mais propício para o processo educativo de quem nele convive. Esta segunda possibilidade obriga à necessidade de se “construir” um ambiente escolar que exerça uma influência positiva. A personalização do ambiente implica: 1. na existência de vínculos pessoais entre as crianças e seus professores, isto é, relações que vão além do puramente didático e do rendimento. 2. na ausência de anonimato na comunidade escolar. 3. na mútua projeção ou reflexo da vida escolar e da vida fora da escola. 4. no sentido familiar e de peculiar atenção a cada menino ou menina. 5. no espírito de iniciativa, flexibilidade e autonomia em professores e alunos. Sem dúvida, toda a organização do Centro condiciona, de certo modo, seu ambiente, mas não podemos esquecer que o ambiente nasce fundamentalmente da própria vida que se desenvolve no colégio. O ambiente escolar se constrói com os estímulos que nascem da presença, atitudes e atividades das pessoas que convivem no centro educativo. A influência das pessoas no ambiente se inicia, reforça ou debilita com a conduta habitual, não com um ato isolado, que se manifesta em atos análogos repetidos com suficiente frequência. A continuidade da conduta é manifestação patente de uma tendência estável, isto é, de um hábito. A partir disso podemos inferir que a possibilidade de modificar o ambiente radica na possessão (ou formação) e exercício de alguns hábitos que sejam adequados ao ambiente que se quer construir.

A construção do ambiente através das Ações Incidentais O Círculo de Educação Personalizada, de 1988 a 1991, dedicou-se ao estudo das possibilidades educativas do ambiente partindo da observação direta da vida escolar. 210 Solar Colégios


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Para a observação sistemática se utilizou um marco teórico que tipifica as ações educativas em quatro categorias. Aqui nos interessa a primeira delas, a Ação Incidental, momentânea, realizada em um ato singular, já que nela se reflete a espontaneidade da vida diária. Na medida em que um professor possa utilizar as Ações Incidentais terá um meio idôneo para criar e reforçar um ambiente escolar adequado, ao mesmo tempo em que contribui à formação de hábitos fundamentais para a pessoa humana em sua vida cotidiana. Nesse estudo, com referência ao Ensino Fundamental I, estabeleceram-se três tipos de Ações Incidentais: 1. ações referidas ao cuidado e uso das coisas e instrumentos 2. ações referidas ao trato com companheiros, educadores e outras pessoas 3. ações referidas ao porte e autonomia pessoal no comportamento Não é difícil perceber que esses três tipos de ações condicionam e modificam de fato o ambiente escolar. Basta pensar que o homem se relaciona com o que o rodeia mediante sua presença e sua atividade e através delas influi em seu entorno. O influxo da presença nasce do que se pode chamar porte pessoal. A atividade se manifesta no trato com as pessoas e no uso das coisas. Foi dito anteriormente que um ambiente escolar é adequado para a educação quando oferece conforto, estímulos para atuar e comunicação cordial. O conforto de um ambiente é entendido de imediato no sentido material, baseado na facilidade do uso dos objetos materiais que delimitam e caracterizam o recinto ou ambiente em que se está: o edifício e as instalações fixas dificilmente são modificáveis pelo professor. Faz parte também do conforto a ordem do tempo e o modo de usá-lo para seu melhor aproveitamento. Outros tipos de objetos, o mobiliário e os elementos decorativos, podem ser manipulados ou modificados, ordenando-os e reordenando-os para tornar satisfatória a estadia e a atividade dos estudantes. Em um ambiente de desordem física dificilmente alguém se encontrará confortável. Mas o conforto se entende também no sentido estético e psicológico, como sensação geral de bem estar. O mútuo trato social dos que convivem bem como o porte pessoal são elementos decisivos.

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O ambiente propício para o trabalho implica, sobretudo, na utilização adequada dos espaços e no cuidado e uso dos instrumentos necessários para as atividades escolares. Finalmente, se vê com clareza que as relações sociais são o elemento mais importante para criar um clima psicológico cordial em que todos se sintam estimulados e orientados para uma convivência real e positiva. Em outras ocasiões, o mesmo ambiente pode agir como sedativo frente a possíveis situações de ansiedade e superexcitação. As Ações Incidentais servem de base para um programa sistemático de criação de um ambiente adequado e de promoção e reforço de hábitos pessoais.

Programa de Ações Incidentais para o Projeto Snipe A atenção às Ações Incidentais tem mais garantia de eficácia se considerada como base de uma atividade sistemática, como programa especial que não necessite mais tempo que uma sessão inicial com os alunos e a observação continuada na sala, própria de um professor consciente que se dedica a conduzir os alunos para se responsabilizarem pela própria conduta e pela de seus companheiros. Dentro da vida escolar, cada Ação Incidental deve ser entendida como expressão de um pequeno hábito que deve ser adquirido por todos e cada um dos alunos. A relação de Ações Incidentais vem a ser uma espécie de temário que indica, por uma parte, uma série de ideias que os estudantes devem adquirir e, por outra, uma série de hábitos para levá-las à prática. A missão do professor é tentar que seus alunos sejam conscientes da necessidade desses hábitos na vida social, isto é, estimulá-los e orientá-los para que cheguem a compreender e valorizar as Ações Incidentais. A fim de realizar um trabalho sistemático de aprendizagem e criação de hábitos, é necessário ordenar as Ações Incidentais de tal forma que se tenha a segurança de que a cada uma delas, em um tempo determinado, se prestará a atenção conveniente. A preparação do programa de Ações Incidentais exigirá da equipe docente a distribuição prévia do tempo que se deve dedicar à atenção particular de cada uma das ações ao longo do ano. Em outras palavras, prever como se devem distribuir as Ações Incidentais, da mesma forma que se distribuem os temas do questionário de cada uma das áreas ou matérias incluídas no currículo. A ninguém se deve ocultar que há infinitas possibilidades de distribuição, que vão desde a atenção de uma ação depois de outra até a de atender conjuntamente a um grupo delas, trate-se de grupos 212 Solar Colégios


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pertencentes a um mesmo tipo de ações, trate-se de grupos formados por elementos dos três tipos considerados. É importante advertir que a eficácia do programa de Ações Incidentais vem ligada a duas condições essenciais: primeira, que o professor cuide de seu porte e de sua conduta realizando bem essas pequenas ações em qualquer ocasião; segunda, procurar que os alunos se interessem pela programação, realização e controle dessas Ações Incidentais. Em qualquer caso, a realização do programa deve começar por sua apresentação, com o objetivo de que os alunos tenham uma ideia clara do sentido e do valor que as pequenas ações apresentam. Convém não esquecer que a educação personalizada é uma educação aberta. No estudo do ambiente é inadmissível não falar dos outros ambientes em que se movem as crianças; e, em primeiro lugar, do ambiente familiar. É evidente que muitas das Ações Incidentais são tão próprias da vida escolar como da vida familiar; por exemplo, agradecer por um favor, saudar, deixar as coisas em seu lugar depois de usálas, etc. Essas ações, expressão de hábitos determinados, devem ser consideradas como atividades ponte que sejam objeto de atenção na família e na escola simultaneamente. Devem ser estabelecidos programas conjuntos de Ações Incidentais, de tal sorte que a atenção a uma determinada ação no colégio se repita na família. Dessa forma se reforçam mutuamente as influências do ambiente familiar e do ambiente escolar.

D. CONVIVÊNCIA E DISCIPLINA ESCOLAR Entendemos a disciplina escolar como o domínio de si mesmo para ajustar a conduta às exigências do trabalho e da convivência próprias da vida escolar, não como um sistema de castigos ou sanções que se aplicam aos alunos quando alteram o desenvolvimento normal das atividades escolares com uma conduta negativa. A disciplina é um hábito interno que facilita a cada pessoa o cumprimento de suas obrigações, bem como sua contribuição para o bem comum. Assim entendida é autodomínio, capacidade de atualizar a liberdade pessoal, isto é, a possibilidade de atuar livremente, superando os condicionamentos internos ou externos que se apresentam na vida cotidiana, e de servir aos demais.

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Necessidade de algumas normas básicas de convivência Seria possível pensar que um bom clima na classe ou a atuação positiva continuada dos professores podem fazer desnecessárias as regras de disciplina, mas isso seria desconsiderar que essas regras de atuação são o ponto de apoio que possibilitam o bom clima escolar. Em efeito, o respeito às pessoas e às propriedades, a ajuda desinteressada aos companheiros, a ordem e as boas maneiras exigem que todos os que convivem em uma turma aceitem algumas normas básicas de convivência e se esforcem dia a dia por vivê-las. O bom clima de um colégio não se improvisa, é questão de coerência, de tempo e de constância. São imprescindíveis, portanto, algumas normas que sirvam de ponto de referência e ajudem a alcançar um ambiente sereno de trabalho, ordem e colaboração; um marco geralmente aceito, que determina os limites que a liberdade dos demais impõe à própria liberdade. Para que essas normas sejam eficazes, é necessário que: a) sejam poucas e coerentes com o Projeto Educativo; b) estejam formuladas e justificadas com clareza e simplicidade; c) sejam conhecidas e aceitas por todos: pais, professores e alunos; d) se exija seu cumprimento. No entanto, as normas por si mesmas não são suficientes. Não se consegue a disciplina escolar mediante uma casuística exaustiva a modo de pequeno código penal escolar e com a aplicação rigorosa das sanções estabelecidas. A normativa da convivência não será nunca uma “arma de pressão” nas mãos do professor para manter artificialmente um ambiente de ordem aparente. A convivência harmônica e solidária entre todos os que formam o colégio é consequência de um processo de formação pessoal que leva a descobrir a necessidade e o valor dessas normas elementares de convivência. Esse processo ajuda a fazê-las próprias e a aplicá-las a cada circunstância, com naturalidade e sem especial esforço, porque se converteram em hábitos de autodomínio manifestados em todos os ambientes onde se desenvolve a vida pessoal. A disciplina como instrumento educativo Em um colégio não existem problemas de disciplina: há alguns alunos com problemas, a cuja formação é preciso atender de maneira particular. Para um educador, a solução não é excluir aos que incomodam, mas atender a cada aluno ou aluna com problemas de comportamento, segundo suas necessidades pessoais.

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Precisamente porque se trata de pessoas em formação que não alcançaram a maturidade pessoal, é necessário estabelecer um sistema de estímulos (reconhecimentos e correções), para favorecer o desenvolvimento da responsabilidade dos alunos. Portanto, mais do que sancionar (recompensar ou penalizar), as normas de convivência pretendem estimular as disposições positivas dos estudantes e corrigir as tendências que não favoreçam a convivência ordenada, plena de naturalidade e solidária entre todos. Estímulo e correção que exigem uma atuação continuada por parte dos professores: os alunos não mudam de um dia para o outro. Em educação é absolutamente necessário contar com o tempo e não esquecer que mais do que corrigir a desordem que uma conduta provocou, importa a formação de quem protagonizou o incidente e a de seus companheiros. Em um sistema educativo fundamentado na liberdade e na confiança, não devemos diminuir a figura do educador reduzindo-a a de um simples guardião da ordem. O professor deve aproveitar as incidências cotidianas para formar os alunos: para corrigir as condutas negativas e para reforçar os hábitos positivos. Se não se atendesse também às atuações positivas, alguns alunos poderiam atrair a atenção do professor mediante condutas negativas. Quando se fala somente de correções, inevitavelmente o colégio se converte em correcional. O professor deve valorizar a cada aluno: quando o respeita e o trata como pessoa, normalmente conseguirá que reaja como pessoa, positivamente. A disciplina escolar é, portanto, um instrumento educativo. Por isso, antes de adotar uma medida ante uma conduta inadequada, é necessário conhecer as correções que esse aluno recebeu anteriormente e como reagiu ante elas; as circunstâncias do aluno, o momento em que se encontra e os motivos de seu comportamento anômalo; e considerar a repercussão que teve entre seus companheiros. Mais que a sanção, interessa que o autor do incidente não volte a realizar uma ação semelhante. Devem-se colocar os meios para que o aluno decida retificar sua conduta. Em primeiro lugar, interessa fazê-lo valorizar com objetividade o que aconteceu, provocar sua reflexão. Para que uma correção seja realmente educativa é imprescindível que o aluno considere sua atuação e as consequências, e se concluir que sua atuação não foi acertada, lamente sinceramente ter atuado desse modo. Por essa razão, sempre que seja possível, devem-se impor correções que neutralizem os efeitos da atuação negativa com uma atuação positiva. Ajudar assim o 215 Solar Colégios


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aluno não somente a pedir perdão por sua atuação inoportuna, mas a reparar no possível o dano causado: limpar o que se manchou; arrumar ou colaborar na reparação do que se quebrou, e pagar seu custo; pedir perdão publicamente ao ofendido, se foi pública a ofensa; recuperar o tempo de trabalho perdido, etc. É importante conhecer bem os motivos da falta, já que a reação do professor e a sanção que impuser devem ser diferentes quando se tratar de um erro do aluno (neste caso, haverá que explicar-lhe porque não deve agir dessa maneira); quando for consequência de um caráter inquieto ou do arrebatamento de um momento; quando for um reflexo de problemas familiares; ou quando se deve à malícia ou ao cálculo. Além disso, é preciso ser prudentes, para não estimular atitudes de repúdio, nem predispor negativamente os alunos frente aos meios de formação do colégio, ou frente ao trabalho escolar. Por exemplo, não teria nenhum sentido utilizar as qualificações escolares para sancionar. Também estão terminantemente proibidos os castigos físicos ou corporais e todos aqueles que suponham uma humilhação para o aluno pelo tom, pelos maus modos empregados, ou pela atitude depreciativa ou distante do professor. O castigo brusco ou violento provoca a aversão do aluno, e ao reprimir uma conduta sem corrigila se está fomentando que os alunos continuem agindo mal às escondidas. O processo sancionador É interessante seguir habitualmente uma linha de atuação prevista de antemão, com passos determinados, que ajude a evitar a arbitrariedade. A sanção como todo o processo educativo deve ser intencional. Normalmente, podem servir os seguintes critérios: a) O professor corrige as faltas leves de um aluno não reincidente com uma simples advertência. b) Convém corrigir as faltas de maior importância ou a reincidência nas leves mediante uma conversa mais prolongada, particular. Um professor pode fazê-lo, mas é melhor que se encarregue o preceptor ou o professor encarregado de classe. É importante informar os pais. c) No caso de que persista um comportamento desordenado, intervirá o chefe de ciclo. É necessário informar os pais e, dependendo do caso, será conveniente avaliar se o faz o preceptor ou o próprio chefe de ciclo. d) Sempre se deve informar o preceptor e a Direção, que intervirá quando as circunstâncias do caso o aconselhem, com critério restritivo. Sendo possível, deve resolver estas situações o chefe de ciclo. Entretanto, em determinadas circunstâncias,

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pode ser muito positivo que um coordenador fale com o aluno, para manter uma conversa sossegada, que o ajude a reagir. e) Antes de sancionar uma falta grave, é necessário escutar o interessado tão amplamente como deseje. Às vezes é positivo indicar-lhe que escreva sua versão dos fatos, justifique sua atitude e sugira a sanção que considere adequada. Nesses casos, convém ouvir também o conselho de classe.

E. SITUAÇÕES QUE MERECEM ATENÇÃO ESPECIAL

1. O Refeitório A alimentação adequada é condição para o desenvolvimento somático. Nesta etapa de crescimento das crianças é imprescindível controlar a quantidade e qualidade dos alimentos que são oferecidos aos alunos no refeitório escolar. Orientações sobre o cardápio 1. Organiza-se o cardápio com os diferentes grupos de alimentos, de forma variada e equilibrada, com a finalidade de oferecer todos os nutrientes necessários para um crescimento adequado. 2. Deve ser revisado por profissionais em dietética e nutrição. 3. Deve ser elaborado mensalmente e proposto à Direção do colégio, para sua aprovação. Informativo aos pais Nos últimos dias de cada mês, deve-se enviar aos pais o cardápio do mês seguinte. Desta forma, os pais sabem o que seus filhos comem a cada dia no colégio e podem harmonizá-lo com as refeições que a criança realiza em casa para conseguir um bom hábito alimentar. Tarefas a realizar pela pessoa encarregada do refeitório  Animá-los a comer todo tipo de alimentos. Favorecê-lo e controlá-lo evitando conflitos. É preferível ir exigindo pouco a pouco a que se transforme em uma tortura.  Insistir nos hábitos elementares e na urbanidade à mesa.  Manter um clima de alegria e espontaneidade com o “tom” adequado.  Procurar que nenhum aluno fique sozinho no refeitório.  Fixar-se em cada um, para conhecê-los melhor e informar os pais. 217 Solar Colégios


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Hábitos a manter  Lavar as mãos antes e depois de comer.  Abençoar os alimentos.  Sobriedade, evitar caprichos. Não se deve mudar nenhum alimento porque não goste, a não ser que os pais o tenham indicado por algum problema médico.  Sentar-se bem.  Colocar as duas mãos em cima da mesa.  Utilizar bem os talheres: colher e garfo como a primeira meta, a faca depois.  Usar o guardanapo.  Falar sem gritos.  Dialogar com os companheiros.  Deixar o lugar ordenado, limpo e colocar a cadeira no seu lugar. Esses hábitos devem ser aprendidos e reforçados na família. Se depois do fim de semana ou das férias se perderam, é importante recordá-lo na entrevista de preceptoria com os pais. Excessivo ruído no refeitório Uma meta de toda equipe de professores deve ser conseguir um clima de ordem, de conversa com volume de voz normal, sem gritos nem estridências, sendo cada aluno autônomo nesta atividade. A atitude do professor é a peça chave: se grita, somente mudarão de conduta ante os gritos. Grupos de alunos que não comem tudo A criança que come de tudo em sua casa não costuma apresentar problemas. Quando há problema nesse sentido, é imprescindível entrar em contato com os pais e combinar uma ação conjunta. Além disso, nos primeiros dias de aula é interessante programar cardápios menos “conflitivos”. Pouco a pouco se vai introduzindo um cardápio mais variado e completo.

2. Os novos alunos Os novos alunos se enfrentam com um ambiente desconhecido, com situação diversa e outras pessoas a seu lado. Uma visita prévia ajudará a diminuir esse “choque”. Procurar-se-á, além disso, que os novos alunos comecem no 2º dia de aula, de modo que possam ser recebidos com particular afeto. É conveniente preparar de modo especial os primeiros dias de aula:  

Preparar a aula de um modo especial, com atividades estimulantes e dinâmicas. Mostrar-lhes o colégio e todas suas dependências.

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  

Realizar uma entrevista o mais breve possível. Interessar-se pelo que fizeram durante o verão, por sua família, pelo colégio anterior, pedir-lhes que falem de suas coisas favoritas. Falar sobre as normas básicas de convivência. Do mesmo modo é importante ter previsto como receber um aluno novo que comece a frequentar quando as aulas já começaram.

3. Os descansos Durante os descansos, os alunos deverão permanecer na área que tenha sido designada para o seu nível. Nos dias de chuva ou de frio, permanecerão em algum lugar adequado. Não convém deixar alunos na sala sem recreio. Quando alguma atividade exija continuar na sala durante o tempo de descanso, o professor encarregado desta atividade permanecerá com eles. Os alunos nunca devem permanecer sozinhos nos descansos. A pessoa encarregada de atender nestes tempos prestará especial atenção às áreas conflitivas e evitará que os alunos:       

Saiam das áreas demarcadas. Façam brincadeiras perigosas. Briguem. Deitem na grama ou brinquem nas áreas ajardinadas. Sujem o uniforme sentando-se no chão. Batam bola nas paredes dos edifícios. Brinquem com bolas em áreas onde poderiam ocasionar quebra de vidros.  Lancem pedras, etc. O estacionamento não é área para brincar ou descansar. Os alunos beberão água e irão ao banheiro durante este tempo para aproveitar melhor a aula. A pessoa encarregada de cuidar do descanso observará os grupos ou turmas que se formam, assim como os alunos que ficam isolados. Depois do almoço convém evitar as brincadeiras excessivamente violentas.

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4. Deslocamento dos alunos pelo colégio Para favorecer o ambiente de trabalho e ordem no colégio são necessárias algumas normas mínimas para o deslocamento dos alunos:     

Subir as escadas e percorrer os corredores sem correr, nem empurrar, mantendo um tom de voz normal, sem gritos. Fechar as portas com cuidado. Não sair das salas sem autorização expressa. Não entrar sem permissão nos escritórios, secretaria, sala de professores, etc. Não entrar, salvo causa justificada, no edifício, antes do aviso de começo das atividades.

Ao chegar ao colégio ou ao término dos descansos, os alunos são acompanhados à sua sala pelo professor que corresponder. Normalmente, convirá que não entrem conforme vão chegando, mas a turma completa. O professor evitará enviar alunos, durante as aulas, para cumprir algum encargo (secretaria, material...). A presença de alunos pelos corredores e escadas em tempo de aulas é sempre excepcional.

5. Os aniversários O ambiente de carinho, amizade e confiança que envolve as relações entre o professor e os alunos leva, com frequência, a celebrar de algum modo os aniversários na classe. Esse costume não pode ficar limitado à entrega de guloseimas, mas é necessário ensinar os alunos a viver a sobriedade também nessas circunstâncias. Convém estabelecer alguns critérios, guiados pela sobriedade, para a celebração dos aniversários em sala, evitando assim as comparações. Não se deve esquecer que muitos pais fazem um verdadeiro sacrifício para trazer seus filhos ao Colégio. Poderia combinar-se, juntamente com os pais, algum detalhe especial (por exemplo, a sobremesa) para os amigos da criança, substituindo os saquinhos cada vez maiores de guloseimas. É frequente que o aluno que faz aniversário convide alguns amigos para irem a sua casa para a festa de aniversário. Nessas ocasiões, os pais solicitam ao motorista do ônibus escolar mudança de itinerário ou de parada para que seus filhos compareçam à festa.

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Convém cuidar a delicadeza à hora de convidar para que ninguém se sinta excluído. Poderia ser interessante comentá-lo com os pais na primeira Sessão Geral da turma. Por outra parte, a celebração de aniversário fomenta que os pais conheçam os amigos de seus filhos e se conheçam entre eles.

6. Os alunos doentes É função do professor encarregado de classe controlar as ausências dos alunos e suas causas. Quando se tratarem de circunstâncias graves, deve informar o quanto antes ao diretor. As ausências imprevistas (doença, acidente, etc.) devem ser comunicadas ao colégio por telefone. Quem atender ao telefone transmitirá ao professor encarregado de classe esta informação. Quando houver um aluno doente, é importante conhecer a doença e o tempo aproximado de convalescência. Devem ser adotadas as medidas oportunas para que o doente mantenha a relação com a turma e para que os demais alunos o visitem ordenadamente. Se um aluno se sente indisposto durante a jornada escolar, deve-se atendê-lo na enfermaria e avisar seus pais se não está em condições de continuar as aulas. Os alunos que se machucam ou que ficam doentes no colégio nunca devem chegar a suas casas sem um prévio telefonema ou um bilhete, no qual esteja indicado o ocorrido.

7. As festas do colégio Os colégios organizam uma série de festas ao longo do ano. Aqui se indicam algumas, como sugestão:       

Festa de Natal Festa de Reis Dia dos Avós Jornada de portas abertas Festa da primavera Acampamentos Festa esportiva

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Todos estes acontecimentos devem ser muito bem preparados. São atividades eminentemente educativas, quaisquer que sejam seus protagonistas e expectadores. As festas do colégio constituem um momento privilegiado de convivência entre pais, professores e alunos. Nessas ocasiões costumam vir também os avós e outros familiares e amigos a quem é apresentado o ambiente do colégio. Embora se cuide habitualmente da limpeza do colégio, é necessário dar mais atenção quando se vai celebrar algum desses atos nos quais se prevê a visita de pessoas que normalmente não vão ao colégio, e explicar aos alunos que isso não é senão uma atenção e delicadeza que se tem com essas pessoas. Pela mesma razão, pede-se a eles que compareçam especialmente bem arrumados e organizem melhor suas coisas. Os pais podem colaborar na organização destas atividades.

8. O Oratório O oratório é um lugar de oração e recolhimento. Os alunos de Ensino Fundamental devem ir adquirindo detalhes de urbanidade na piedade. Aqui se enumeram algumas normas gerais de comportamento no oratório.     

Cuidar da apresentação pessoal, do silêncio, das posturas e detalhes de delicadeza com o Senhor. Benzer-se com água benta ao entrar no oratório. Fazer a genuflexão ao passar diante do Sacrário. Se não está o Senhor, fazer uma inclinação com a cabeça diante do altar. A postura mais correta quando se está de pé é a de braços cruzados. Seguir atentamente as indicações do sacerdote ou dos professores quando se esteja celebrando um ato determinado.

Convém fomentar a visita pessoal ao Santíssimo. Nas séries iniciais pode ser feita por toda a turma, uma vez por semana. O esquema desta visita poderia ser o seguinte:    

Rezar o Pai Nosso, a Avemaria e o Glória (somente uma vez). Deixar um breve tempo de silêncio para que os alunos contem e peçam coisas ao Senhor. Rezar em voz alta a oração da Comunhão Espiritual. Dizer a jaculatória de costume para terminar.

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Capítulo XI - A EDUCAÇÃO DAS VIRTUDES HUMANAS NO PROJETO SNIPE

A educação do homem pode resumir-se a ajudá-lo a ser quem é, a alcançar seu fim, com a ajuda de disposições estáveis (hábitos) que lhe facilitem a prática do bem. "As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais do entendimento e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam nossas paixões e guiam nossa conduta segundo a razão e a fé. Proporcionam facilidade, domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. O homem virtuoso é o que pratica livremente o bem", cfr. Catecismo da Igreja Católica, nº 1804. Valores e Virtudes Em seu sentido mais pleno, as virtudes configuram a personalidade humana. Não são um mero verniz, nem um mero acréscimo à atividade educativa. Os valores são bens conhecidos pelo sujeito como perfeições da natureza humana, que reivindicam, por tanto, estima e compromisso vitais. Ao atuar de maneira coerente com os valores, o homem adquire as virtudes. Na tradição humanista do Ocidente, chamam-se virtudes aos atos operativos que concedem ao homem a facilidade para fazer o bem, e que se adquirem por repetição de atos consecutivos e voluntários. Poderíamos pensar que são muitas as virtudes que interessam educar. Está correto, porém, o princípio de harmonia das virtudes, que nos ensina que quando algumas dessas qualidades melhora, a pessoa do estudante melhora como um todo, portanto, aperfeiçoa-se indiretamente as demais virtudes. A Família, primeira e principal escola de valores Um ato isolado não supõe uma virtude. Tampouco alguns atos repetidos ao azar das circunstâncias ou sem intencionalidade. A virtude supõe uma repetição de atos dotados de sentido: sabendo o que se faz e por que se faz e querendo atuar assim em qualquer circunstância e ambiente, estejam outras pessoas presentes ou não. A família é o âmbito próprio e mais profundo da formação da pessoa: as atitudes ante a vida, o uso responsável da liberdade e, em geral, o desenvolvimento da personalidade se forjam no seio da família. Na família também se aprendem as virtudes sociais, que manifestam que a educação integral nunca é "individualista". Na família, adquirem-se as virtudes por meio das vivências mais corriqueiras, muito mais com os fatos do que com as palavras: com exemplos vivos de respeito e preocupação 223 Solar Colégios


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pelos demais, de espírito de serviço, de disciplina, de limpeza, de ordem, de cuidado dos pequenos detalhes materiais, de sinceridade, ou seja, de virtudes. Os pais têm, nas diversas ocasiões cotidianas que nascem da convivência no lar, inúmeras ocasiões de atuar educativamente com seus filhos, em atividades realmente educativas e enriquecedoras para toda a família. Essas atuações configuram um clima familiar que, apoiado na unidade do matrimônio e seu acordo baseado em um projeto familiar, resultarão em um estilo de educação familiar irrepetível, coerente com o modo de ser e de atuar de cada casal. Deste ponto de vista, a exemplaridade dos pais é sempre fecunda. Os Colégios que implantam o presente Projeto Curricular incorporam como parte importante de seu ideal educativo um programa de educação em valores por meio das virtudes humanas (Vamos Crescendo), indispensáveis para uma autêntica educação de qualidade. Hoje se fala muito de educar para o êxito. Em diversas ocasiões se ignora tanto a capacidade pessoal quanto à realidade social. Deve-se pensar que mais do que para a eficácia, educa-se para a felicidade. Para que a educação nas virtudes alcance a sua máxima realização e se conquiste a maturidade progressiva e harmônica da criança, é imprescindível a estreita colaboração entre pais e educadores e o esforço para serem exemplares. A unidade de intenções e ação proporciona aos filhos a confiança e a segurança de que necessitam. Pais e mestres são os seus modelos referenciais de conduta para a criança. Os valores na vida humana. As virtudes básicas As virtudes como a sinceridade, a honradez, o critério próprio, etc., afetam a vida inteira do homem e servem para trabalhar bem todas as manifestações da existência humana. A posse desses hábitos permite falar de "pessoas boas". É possível identificar uma série de virtudes fundamentais que constituem pontos de referência para toda a atividade implicada na formação dos alunos, como se pode ver no quadro a seguir:

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I) O Homem e a Vida

O homem - ser criado, caído e redimido está presente no mundo com um porte pessoal (externo e interno);

Virtude básica

ORDEM (AUTODOMINIO)

TRABALHO relaciona-se com as coisas: utiliza-as para construir;

relaciona-se com outras pessoas e as trata segundo sua dignidade.

Tudo isto em um âmbito de liberdade consciente, que o leva a comprometer-se

na busca de uma vida feliz, plena, satisfeita, boa

que se realiza no encontro pessoal com Deus

(ESFORÇO)

GENEROSIDADE SOLIDARIDADE

RESPONSABILIDADE (MATURIDADE)

ALEGRIA

PIEDADE

Virtudes anexas

Domínio de si. Temperança. Conhecimento próprio. Humildade, simplicidade. Equilíbrio pessoal. Serenidade. Veracidade. Sinceridade. Sentido da economia e de poupança. Sobriedade. Respeitar a ordem natural. Higiene e limpeza. Ordem material. Empenho no trabalho bem feito. Esforço. Fortaleza. Laboriosidade. Aproveitamento do tempo. Paciência. Perseverança. Constância. Magnanimidade. Audácia. Justiça. Sentido do dever. Cidadania. Companheirismo. Amizade. Lealdade. Fidelidade. Agradecimento. Perdão. Respeito. Tolerância. Compreensão. Colaboração e ajuda. Solidariedade. Delicadeza. Amabilidade. Espírito de serviço. Aceitação das normas. Obediência. Uso responsável da liberdade. Maturidade. Prudência. Reflexão. Capacidade de compromisso com a verdade. Coerência. Autenticidade. Critério próprio espírito crítico. Autonomia. Iniciativa. Decisão. Valentia. Firmeza de convicções. Flexibilidade. Consciência e satisfação pelo trabalho bem feito. Otimismo. Disposição positiva. Bom humor, esportividade. Paz. Fé. Sentido transcendente da vida. Consciência da filiação divina e da fraternidade. Vida cristã – consequência da fé. Relação pessoal com Deus. Culto. Oração. Orientar para Deus os pensamentos, decisões, ações. Esperança. Confiança em Deus. Otimismo. Caridade. Amor a Deus e ao próximo. Apostolado. Serviço.

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Ao estudar o elenco de virtudes básicas e anexas, percebe-se que não é fácil agrupar as virtudes, visto que umas levam a outras e todas elas estão envolvidas mutuamente e há várias maneiras cabíveis de se fazer esse agrupamento. Em primeiro lugar podemos pensar na tendência natural do homem à felicidade, à complacência em participar do bem, ou seja, a buscar a alegria em qualquer ato que realiza. Essa tendência universal, própria de toda atividade humana, pode ser considerada como o motor interior da atuação na qual a pessoa se manifesta. De fato, a alegria, felicidade na consciência do bem adquirido ou esperado, é o fim de qualquer atividade humana. É a síntese das aspirações do homem. Além da alegria, que é fruto da vida virtuosa, consideramos cinco núcleos de virtude, cada um dos quais representa um tipo de disposição humana para enfrentar a vida e trabalhar no mundo: ordem, trabalho, generosidade, responsabilidade, religiosidade. A ordem não é somente a capacidade para organizar os objetos materiais: sobretudo é a harmonia interior de conhecimentos e tendências. Uma expressão da ordem é a presença e o decoro pessoal externo. A ordem interior é, por sua vez, domínio de si mesmo e força para se abrir ao mundo exterior de coisas e pessoas, situando, no espaço e no tempo, os elementos materiais e espirituais da vida. O trabalho é a projeção exterior da pessoa que usa as coisas e as aperfeiçoa segundo suas necessidades, participando na obra criadora de Deus. A exigência de trabalhar bem, condição sine qua non para que um trabalho seja educativo, carrega consigo o esforço, o exercício da fortaleza e a laboriosidade. A generosidade é a culminação das relações humanas. Se a justiça é a virtude principal das relações sociais, "a cada um se dá o que é devido", a generosidade vai além: é dar e dar-se sem a estrita medida da justiça. Ser generoso é compartilhar não somente coisas, mas também a vida, com quem esteja ao redor. A responsabilidade é reflexo da maturidade de quem é capaz de viver a liberdade, comprometer a própria vida com a verdade e o bem e as consequências. A piedade - o homem em relação com Deus - fornece a dimensão transcendente, o sentido único de nosso ser e fazer. Sem contar com Deus, as demais virtudes acabariam por se desintegrar. A finalidade de educação poderia ser resumida na intenção de que em todos e em cada um de nossos alunos e alunas, desperte e reforce o propósito de ser: 

ordenado em seu porte pessoal e na administração de seu tempo e esforço; respeitoso com a ordem natural e com a verdade;

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  

trabalhador, aspira constantemente ao trabalho bem feito e esforça-se para consegui-lo; responsável em sua livre atuação, comprometido com seu próprio projeto pessoal de vida; piedoso em sua relação com Deus, que dá sentido à sua vida e, fruto dessa virtude, alegre na atitude frente à vida e ao mundo.

No capítulo sobre educação das virtudes no Projeto Snipe, sugerimos modos de ação adequados ao desenvolvimento evolutivo dos alunos, com enfoque positivo e preventivo. Ao referirmo-nos ao eixo transversal da educação moral, destacamos que para educar a pessoa é preciso atender a totalidade do ser humano: a inteligência, a vontade, a afetividade e sua transcendência. Em primeiro lugar, ensinar a pensar, o que é o mesmo que ensinar a buscar a verdade; em seguida ajudar a fortalecer a vontade, de forma que a pessoa esteja em condições de aderir livremente comprometer-se- com a verdade, segui-la e superar as dificuldades que encontre, colocando sentimentos e afetos ao serviço de suas livres decisões; por fim, o homem é um ser social, aberto à relação com Deus e com os demais, e deve aprender a dar, a dar-se e a amar. A inteligência alimentada pela verdade, a vontade fortalecida pelas virtudes, que ajudam a viver conforme a convicção da verdade e o coração disposto para amar a verdade vivida, se fundem na unidade irrepetível de cada homem unidade de vida - fazendo possível a felicidade a qual o homem pode aspirar. A conduta pessoal é fruto do que se pensa, sente, quer. Convém estar prevenido contra a ruptura da unidade de vida, que leva a atuar de modo desconexo do pensamento e do coração. A educação da ordem começa com a própria vida da criança e é necessária para o correto desenvolvimento físico, psíquico e espiritual. As crianças vão desenvolvendo o próprio sentido lógico de ordem e tendem a organizar o material por tamanhos, por tipo, etc.: guardam os carrinhos juntos, as bonecas juntas ou distribuem os livros em grandes ou pequenos. O período sensitivo da ordem dá-se com a máxima intensidade entre 1 e 3 anos de vida. Uma criança de dois anos sabe perfeitamente que cada coisa tem seu lugar. Como conseguir que as crianças deixem as coisas em seu lugar sem ter que lembrá-las disso? Deve estar claro para elas onde é o lugar de cada coisa.

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A. ORDEM A ordem é a virtude que está na base das demais virtudes, serve de apoio a elas e manifesta-se em múltiplas facetas observadas na vida diária das crianças: como organizam brinquedos e pertences, como distribuem atividades, como se expressam, como se preparam para uma viagem ou excursão, etc. A ordem não se refere nem exclusiva, nem fundamentalmente à ordem material das coisas, mas à ordem na pessoa: a harmonia, o equilíbrio interior, a moderação, o autodomínio. Por isso, junto à ordem, há de se considerar um bloco de virtudes relacionadas. Pode-se pensar, por exemplo, na ordem que facilita a convivência: as pequenas normas de conduta que facilitam a convivência grata e "ordenada" na distribuição das responsabilidades, no horário básico (refeições, trabalho, diversão, descanso). Não se trata de "quadricular a vida", mas de estabelecer regras mínimas que facilitem a conquista de objetivos valiosos, como, um ambiente escolar ordenado que facilite o trabalho e a convivência familiar. Convém recordar que virtudes são os valores incorporados na unidade da pessoa concreta, na vida de cada um. O perigo é preocupar-se em adquirir destrezas, simples hábitos que não chegam a ser virtudes. É certo que os hábitos são a base das virtudes (a virtude é um tipo de hábito). Porém, a esse hábito, deve-se acrescentar a autoconsciência e a liberdade: atuo com ordem porque me dou conta do que significa ser ordenado e o quero isso para mim. Se isto ocorre desta forma, além de dar o imprescindível bom exemplo, esforçaremos para que os nossos alunos encontrem sentido no que fazem e se proponham a fazê-lo bem e livremente. Estaremos educando na virtude e a ordem será algo natural na pessoa, nunca uma mania, que não há razão de ser. A virtude da ordem Convém que os alunos saibam onde devem deixar as suas coisas: materiais, livros, roupas de educação física ou casacos, etc. Com o uso da razão, não se trata de que os alunos imitem o conceito de ordem que os seus pais ou professorem possuem, mas de que queiram e aprendam a viver a ordem. Há de exigir deles que suas coisas estejam ordenadas, porém, de acordo com próprios critérios. Para isso, convém, durante algum tempo, supervisionar as atividades das quais eles não possuem experiência e que exijam a ordem. Também se deve perguntar quais as razões do sistema escolhido para organizar as coisas, a fim de conseguir captar a importância de encontrar um lugar apropriado para cada coisa, de forma que ela não se estrague, e que seja possível encontrá-la com facilidade quando dela necessitar. Um pequeno horário facilita a ordem e o aproveitamento do tempo. Esse horário básico deve limitar-se ao que se deve fazer regularmente, mais ou menos no 228 Solar Colégios


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mesmo horário, como a hora das refeições, de começar a estudar ou a fazer tarefas escolares, de tomar banho, de dormir. O horário ajuda a fazer as mesmas atividades na mesma hora (com flexibilidade) e favorece a criação de hábitos (base das virtudes). Pode ser interessante elaborar um horário com o aluno e animá-lo a deixá-lo em algum lugar visível de sua casa, a seu alcance. Podemos aconselhar aos pais que lhe peçam para consultar periodicamente esse horário para saber o que deve fazer em cada momento. É importante não ter que lembrá-lo a toda hora do que deve fazer, pois nesse caso, não adquirirá hábitos de responsabilidade pessoal, mas de mero colaborador, que faz o que as pessoas lhe pedem. No que diz respeito ao horário de trabalho ou estudo, é importante estabelecêlo no começo do ano letivo e animar os pais a exigi-lo do filho desde o primeiro dia. Devem dedicar um tempo diário ao estudo (a aprender), além de realizar as tarefas escolares. Se não há exigência, começarão a estudar a poucos dias das provas e, assim, não conquistarão o autêntico hábito de estudo. A experiência demonstra que os filhos que começam a estudar todos os dias desde o começo do ano letivo, ainda que seja pouco tempo (meia hora aos dez anos de idade, por exemplo), melhoram os resultados escolares notavelmente. Quando os filhos pedem permissão para um plano distinto do habitual, é muito interessante ajudá-los a planejar e prever o tempo necessário para cada atividade que se proponham a realizar. Dessa forma, desenvolverão a capacidade de relacionar o tempo com as atividades e, consequentemente, serão mais ordenados. É conveniente aplicar critérios de ordem no uso do tempo livre. Ajudar os filhos ou alunos a planejar, por exemplo, a partir de terça ou quarta-feira, o que irão fazer no próximo fim de semana: esportes, sair com amigos, trabalhos, encargos familiares, etc. Desse modo evita-se que se chegue ao sábado sem saber o que fazer e se perca tempo. Por volta dos 9 ou 10 anos, é um bom momento para ensiná-los a utilizar uma agenda para anotar tarefas escolares, horários das aulas, encargos, aniversários, anotações gerais, etc. A experiência aconselha lembrá-los frequentemente, no início, de anotar e consultar a agenda várias vezes ao dia, principalmente pela manhã e pela noite, ao preparar o material para o dia seguinte. É muito importante "ganhar a batalha" da ordem antes da entrada na adolescência, período em que terá que colocar a exigência em outras questões próprias da nova fase que se inicia. E a ordem, ao estar na base das demais virtudes, será muito necessária.

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Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a ordem para a vida familiar:              

ao terminar a jornada, deixar a casa arrumada; deixar as roupas bem organizadas e dobradas no lugar adequado; aprender a planejar os fins de semana; hábitos básicos de higiene pessoal; certificar-se de que o que se joga fora realmente não vale a pena; apagar as luzes quando não são necessárias; cuidar dos livros, cadernos e todo o tipo de material; deixar o uniforme de educação física organizado depois de usá-lo; fechar com cuidado as gavetas e portas de armários; deixar cada coisa em seu lugar ao terminar um trabalho; usar uma agenda. fazer e respeitar um horário; pontualidade (ao levantar-se, ao começar a estudar, nas refeições, etc.); deixar a roupa suja no lugar certo para lavar.

Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a ordem para a vida escolar:               

tampar os potes após usá-los: tintas, colas, tubos, etc.; ao término da jornada deixar a sala em ordem (canetas, papéis etc.) apagar as luzes quando não são necessárias; deixar os casacos de uniforme bem guardados; cuidar dos livros, cadernos e todo o tipo de material; deixar o uniforme de educação física organizado depois de usá-lo; fechar com cuidado as gavetas e portas de armários; deixar cada coisa em seu lugar ao terminar um trabalho; ter na mesa de trabalho somente o material que vai usar; levantar a mão ou fazer outro sinal combinado para indicar que quer falar durante as aulas; respeitar a vez do outro falar; ter organizado sobre a mesa o material de trabalho que se usará naquela aula (livros, materiais etc.); deixar a lousa apagada e disponível para que outros colegas a usem; levantar-se da cadeira ao entrar um professor ou outro mais importante na sala de aula; não mascar chicletes nas aulas;

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  

manter os livros encapados e com o nome; entrar na sala de aula e sair dela com ordem, sem atropelo; ser pontual.

A virtude da sobriedade Na atual sociedade de consumo, a sobriedade é uma virtude especialmente importante. Convém exercitá-la antes da adolescência, etapa do desenvolvimento na qual se não se possuem hábitos de sobriedade, pode-se deixar influenciar e manipular mais facilmente. Nessa idade pode-se centrar a atenção nos caprichos, nos desejos passageiros e superficiais, sem justificativa. Não cedendo a eles desenvolve-se o autodomínio dos alunos, para serem capazes de estarem acima dos desejos não satisfeitos ou das próprias apetências. As pessoas sóbrias estão mais preparadas para suportar carências e superar as inevitáveis pequenas frustrações. A pessoa sóbria, que não está presa aos caprichos ou "necessidades" fictícias, é mais livre e dona de si mesma. A sobriedade supõe colocar ordem e harmonia nos desejos. Atualmente fala-se muito da correta necessidade de educar para o consumo adequado. De certa forma, "educar para o consumo" é ajudar o aluno a melhorar na virtude da sobriedade. É salutar fazer os pais compreenderem que a vida familiar oferece inúmeras ocasiões de exercitar-se na sobriedade, com alegria, de modo que não se encare essa virtude como algo desagradável. Outro aspecto interessante é que os filhos e alunos conheçam o valor do dinheiro e aprendam a administrá-lo com critérios de sobriedade. Para isso, pode-se levá-los às compras uma vez ou outra, para que entendam, por exemplo, quanto custa comer. Pode-se também animá-los a fazer algum pequeno trabalho especial que seja remunerado em casa, como dar aulas por um mês a um irmão mais novo. Pode-se também ensiná-los a dobrar bem suas roupas para que durem mais e se conservem por mais tempo. Que aprendam a economizar. Administrar o próprio dinheiro é uma fonte de aprendizagem importante para a vida. Pode ser interessante que algumas coisas que desejam comprar (roupa de marca, por exemplo) sejam pagas em parte com o próprio dinheiro. Caso necessitem de uma calça, por exemplo, os pais podem ajudá-lo com o valor de uma calça normal e, o que falta para a calça de marca, eles completam com suas economias. Porém, não devem economizar somente para isso, mas também para pequenos presentes para seus pais ou irmãos em seus aniversários ou festas.

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É bom que os alunos aprendam a valorizar as coisas, saber o que é necessário e o que não é, de modo que saibam distinguir o capricho da necessidade ou conveniência. É interessante fazê-los refletir sobre o motivo de seus gastos e fazê-los ver a necessidade que muitas pessoas estão passando, quando, por exemplo, ajudam seus pais a entregar roupas em bom estado para pessoas sem recursos. É interessante, em uma das primeiras sessões gerais para pais, colocar-se de acordo na forma como os filhos convidarão os colegas para comemorar o aniversário naqueles colégios onde exista esse costume. Pode-se aconselhar algum detalhe sóbrio e simpático de comemoração, para evitar diferenças entre uns e outros. De vez em quando, revisar os "pertences" de cada filho para saber se há brinquedos ou objetos que não utilizam nem necessitam deles, mas podem servir para outro irmão ou para pessoas necessitadas. Sempre há um pequeno (ou grande) armazém de objetos que não utilizamos nunca e não fazem mais que ocupar espaço nos armários, para desespero das mães. É importante que os pais informem os familiares (especialmente os avós), sobre os critérios educativos da família neste tema. O ideal seria que o dinheiro que pensavam em dar às crianças fosse dado aos pais, para que ajudem os filhos a administrá-lo. Sobre o uso do dinheiro, não é possível propor um critério geral, pois depende muito do estilo de cada família, mas pode-se sugerir algumas ideias:  

é recomendável que se dê à criança pouco dinheiro e não se acostume a gastálo em refrigerantes, doces, bugigangas ou máquinas caça prêmios. é muito positivo que aprenda a administrar as pequenas quantidades de dinheiro que recebe dos pais ou familiares, seja como "mesada" ou remuneração por pequenos trabalhos especiais em casa (os recados e os encargos cotidianos da casa são obrigação de todos, sem necessidade de gratificá-los economicamente por isso). Premiar ou castigar com dinheiro, promove que os filhos se tornem materialistas.

Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a sobriedade para a vida familiar:   

procurar manter o quarto limpo e organizado; limpar os sapatos; cuidar das coisas que utiliza para que durem;

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      

ter nas escrivaninha apenas o material de que vai precisar; evitar chupar ou morder os lápis ou canetas; fazer a cama sozinho; ajudar a colocar a mesa ou fazer algumas compras ou trabalhos em casa; comer de tudo na hora certa, não nos intervalos das refeições; não ver tv demasiadamente nem criar dependência aos eletrônicos; economizar parte da "mesada".

Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a sobriedade para a vida escolar:       

cuidar dos livros e material de trabalho; comer de tudo; não arrancar folhas dos cadernos; usar material reciclável para algumas atividades; respeitar a decoração do colégio; não mascar chiclete nem comer durante as aulas; apontar bem os lápis.

A virtude da sinceridade O período sensitivo da sinceridade é vivido de forma especialmente intensa entre os três e os dez anos. A princípio, vivem a sinceridade como uma inclinação e, desde os primeiros momentos, distinguem entre verdade e mentira; sabem que a mentira é algo que não devem dizer. Durante a etapa infantil, o motivo fundamental para serem sinceros é que seus pais e professores lhes querem bem, ajudam-nos e não os julgam. Ao chegar o uso da razão, começam a entender a importância da sinceridade e do valor moral intrínseco: o bom é dizer a verdade. É nesse período que se esforçam por vivê-la, embora, em algumas ocasiões, pode lhes ser custoso. Os alunos geralmente têm uma grande sensibilidade para serem enganados e uma grande facilidade para captar a sinceridade de seus educadores. Nesse campo, como em tudo, o exemplo dos pais e professores tem papel fundamental e tanto pode fazer com que os filhos/alunos valorizem a verdade ou a mentira. Convém que pais e professores evitem que a criança adquira essa atitude, ao retirar-lhes a oportunidade de mentir e não dramatizar suas mentiras. Será mais fácil se a criança se sentir coberta pela segurança do carinho de seus pais. Convém ajudálas a retificar e dizer a verdade, sem humilhá-las. 233 Solar Colégios


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É importante conhecer a razão pela qual a criança mente. O motivo da mentira nos indicará o caminho para a correção. Quando os pais e professores analisam as causas que provocaram a mentira, estarão em melhores condições de raciocinar para corrigir os filhos e alunos. Falsear a verdade por fantasia é muito normal entre três e seis anos e isso não pode ser considerado uma mentira. Eles acreditam na fantasia como algo real. Entretanto, é conveniente que comecem a diferenciar o campo do real do imaginário. Também podem sentir o impulso de ficar bem diante dos seus colegas e mentir sobre a situação de seus pais, suas posses, suas viagens de férias, etc. Não é fácil compensar essa necessidade e a escola deve estar atenta quando uma criança faz alarde de suas posses ou situação. Convém falar com os pais, pois é possível que no ambiente familiar se esteja dando demasiada importância ao "ter". Nestes casos, é necessário ensiná-lo com carinho o quanto ele vale, independentemente do que possa ter e também sobre o que valem seus companheiros e as pessoas com as quais convive. A mentira por defesa - para evitar um castigo - é mais perigosa e deve ser afastada com firmeza, pois pode facilmente converter-se em hábito. Por exemplo, uma criança quebra algo e assegura que já estava quebrado quando chegou. Deve-se mostrar a ele que não foi assim que aconteceu e que não vamos julgá-lo ou castigá-lo por isso. Desse modo eliminamos a necessidade de mentir. Ser sincero compensa. Não convém punir frequentemente: o ideal é agradecer a sinceridade (não se pode esquecer de que o prioritário é a pessoa) e pensar juntos como se pode resolver a situação. O esforço por reparar o dano já é corretivo suficiente. Convém castigar quando não se trata de uma ação isolada, mas de atos repetidos. Em todo caso, é aconselhável suavizar o castigo sempre que a criança reconheça a falta e também o mérito de sua sinceridade. As mentiras das crianças preocupam os pais. Geralmente, nos menores, tratase de preencher um vazio interior: recorrem à fabulação - diferente da imaginação infantil, que não se deve confundir com a mentira - e distorcem a realidade, defendendo-se momentaneamente de um apuro por medo dos pais ou exagerando o que possui frente a seus companheiros. Dessa forma, a criança está buscando a admiração dos demais. Ainda nesta idade, podem começar a mentir por orgulho, por não admitirem limitação ou tropeço. Nesse caso, a educação da sinceridade, será paralela à educação da simplicidade e da humildade, virtudes com as quais está muito relacionada. Trata-se agora de ajudar as crianças a reconhecer e valorizar as coisas, sobretudo a elas mesmas, tal como são. Em qualquer caso, é muito importante saber que a virtude da sinceridade é básica na adolescência e, por isso, devem vivê-la desde pequenos e conhecer o seu valor. Diante desse e de outros problemas, o mais importante é a pessoa: deve-se preocupar fundamentalmente com quem o fez e refletir por que o fez. É sumamente 234 Solar Colégios


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importante o diálogo frequente dos pais com o preceptor para busca uma atuação comum. Na medida em que os educadores mostram afeto e interesse sincero para com as coisas e preocupações dos alunos, - ainda que se trate de assunto de pequeno porte - facilita incutir confiança e sinceridade nos alunos e filhos. Geralmente é eficaz dar exemplos, contar histórias pessoais de quando éramos crianças ou de outras crianças de sua idade sobre a importância de não trapacear nos jogos e de não se esconder por meio de desculpas. Também é necessário que compreendam que se está bem onde há um ambiente de sinceridade, pois nele existe alegria. Algumas orientações educativas Em nenhum caso deve-se tratar os filhos ou alunos como mentirosos, mas como pessoas dignas e de confiança, ainda que tenhamos dados para demonstrar que mentem. Em geral, ao corrigi-los, não se deve chamá-los de mentirosos. Na realidade, não o são, nem desejam a mentira. O que aconteceu é que disseram uma mentira. Neste caso, a mentira é negativa, não a criança. Essa é a forma de motivá-los positivamente perante o bem e ajudá-los a lutar para ser o que eles realmente sabem que são: sinceros. A mentira foi um acidente que passou e que não querem repetir. Podemos apoiar o hábito da sinceridade estimulando as crianças a contarem coisas de sua vida diária, por exemplo, nas tertúlias familiares ou nas reuniões de grupo durante as aulas. Se não há comunicação não poderemos orientá-los. É importante escutar com interesse, sem julgar cada coisa que dizem. Convém facilitar a aquisição dessa virtude. Se for necessário reprender, que isso se faça em algumas ocasiões, escolhendo momento adequado, a sós, procurando não humilhar e possibilitar uma saída honrosa, mostrando-lhe afeto e dando-lhe a segurança de que vai melhorar. Alguns meninos e meninas precisam ser ensinados a defender-se das agressões sem entrar no jogo das mentiras e murmurações, de modo que se acostumem a falar bem dos demais e a não zombar deles. A confiança nos filhos e alunos ajuda-os sentirem dor interior por não terem sido sinceros. As atitudes de desconfiança dos pais e educadores, pelo contrário, facilitam que as crianças mintam. A educação da sinceridade deve ter um enfoque positivo. Mais que estar propenso a descobrir e castigar as possíveis mentiras (atitude que contém um fundo de desconfiança) trata-se de insistir no valor da sinceridade como algo próprio de crianças valentes e de louvar os atos concretos de sinceridade. 235 Solar Colégios


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Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a sinceridade:          

pedir perdão quando se incomodou e, se possível, compensar essa pessoa; evitar apelidos pejorativos e gestos prejudiciais; evitar ridicularizar os demais; dizer sempre a verdade, com valentia e confiança; falar de suas preocupações confiadamente com os pais; não mentir nos jogos, não trapacear; participar das tertúlias familiares; não acusar companheiros ou irmãos, mas alertá-los para que possam ratificar; não falar mal dos irmãos e companheiros; admitir o erro ou equívoco sem desculpas.

B. LABORIOSIDADE. AMOR AO TRABALHO BEM FEITO Para conquistar uma autêntica educação das virtudes humanas é indispensável que os filhos se esforcem para adquiri-las. O esforço pessoal, racional e ordenado, é por si só educativo e é também o melhor indicador da maturidade e do grau de responsabilidade. O trabalho é uma exigência da natureza humana e um dom de Deus, por meio do qual o homem realiza a si mesmo, ganha o seu sustento e o da sua família, participa da obra criadora de Deus e contribui ao bem comum e ao progresso da humanidade. O trabalho é, portanto, um direito fundamental do homem e um dever moral de primeira importância. O bom exemplo dos pais e professores deve estar sempre presente na vida familiar e do colégio, como o empenho por utilizar estímulos positivos para conseguir o esforço diário e conquistar o enraizamento dos hábitos de trabalho e fortaleza que ajudem a superar os desânimos e a preguiça.

A virtude da fortaleza Uma das grandes carências da juventude atual é a força de vontade, a energia interior para enfrentar as dificuldades e desafios que a vida apresenta continuamente. Desenvolver a capacidade de autodomínio dos alunos converteu-se em um objetivo educativo primordial, de modo que sejam capazes de esforçar-se para conseguir o bem; de continuar nesse esforço, ainda que custe, mesmo que não se alcance a recompensa logo em seguida; ainda que não goste e que tenha que deixar de fazer do que gosta. Somente as pessoas com essa energia interior serão capazes de desenvolver a própria personalidade ao resistir às influências negativas do ambiente e à tendência natural à preguiça, para construir uma vida que valha a pena.

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O desenvolvimento da fortaleza apoia todas as outras virtudes: não há virtude moral sem esforço para adquiri-la. No ambiente social o atual, o influxo familiar está cada vez mais reduzido e a única forma para que os jovens sejam capazes de viver com dignidade é enchê-los de força interior. A capacidade de esforço está muito relacionada com a maturidade e a responsabilidade. A capacidade de exigência amável de pais e professores vai marcar, em boa medida, o desenvolvimento da capacidade de trabalho e esforço, bem como o das virtudes relacionadas (constância, perseverança, paciência, etc.). Exigir também custa esforço. Parece que tudo será mais rápido e menos conflitante, se os educadores carregarem sozinhos os esforços, renúncias e sacrifícios; porém, sem esforço, a pessoa não cresce e é preciso exigir essa virtude dos filhos e alunos. Entre os 7 e os 12 anos transcorre o período sensitivo dessas virtudes: é quando as aprendem com maior profundidade e naturalidade. Se os alunos são privados dos esforços, dos desafios e das exigências, chegarão à adolescência com crises de maturidade e sem energia interior para superar as dificuldades que exijam empenho e esforço: encontraremos sempre alunos de que não se deixam exigir, pois não têm força e treinamento necessários para conseguir as metas que se propõem ou aqueles que entendem o motivo da exigência e a aceita. Algumas vezes, os pais pretendem evitar que os filhos, com um carinho mal entendido, esforços e dificuldades que eles mesmos tiveram que superar na juventude: protegem-nos e substituem-nos, levando-os a uma vida cômoda, sem exigência, em que não há proporção entre esforço realizado e bens desfrutados. Não se dão conta de que mais do que proteger os seus filhos para que não sofram, devem acompanhá-los e ajudá-los para que aprendam a superar o sofrimento. Para que um hábito bom se converta em virtude é necessário que exista autoconsciência (entender o que e por que se faz) e voluntariedade (querer fazê-lo). Por isso é tão importante na educação das virtudes humanas, também no caso da fortaleza e da laboriosidade, ajudá-los a entender o esforço como algo necessário e conveniente, bem como motivar e estimular seus desejos de esforçar-se. Educar a fortaleza supõe colocar os meios necessários para que os alunos sejam capazes de empreender ações que levem consigo um esforço prolongado, para o qual necessitam tanto da saúde física quanto da força interior. Essa é a razão pela qual a prática esportiva frequente é um meio muito adequado para promover a fortaleza, pois há de se superar a fadiga e o cansaço, chegar até o fim com perseverança, superar adversidades, etc. Existem muitas oportunidades na vida cotidiana da família e do colégio para que as crianças se exercitem em resistir a um impulso, suportar uma dor ou doença, 237 Solar Colégios


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superar um desgosto, dominar a fadiga e o cansaço. Por exemplo, acabar as tarefas escolares ou cumprir o tempo de estudo previsto antes de brincar, cumprir seu encargo com constância, etc., são excelentes exercícios de resistência. Devemos valorizar positivamente e reconhecer interesse e esforços das crianças, como "aguentar a sede" em uma excursão ou viagem, comer de tudo ou não comer durante horas, terminar bem um trabalho, deixar a roupa do dia seguinte preparada à noite, etc. Dessa forma, fomentamos a motivação interna: a satisfação do trabalho bem feito, a alegria do dever cumprido. Como sempre, o exemplo dos educadores é crucial: aprenderão muito observando a alegria nos sacrifícios de seus pais e professores. Queixar-se do trabalho ou dos esforços que são necessários realizar, contribui para criar um ambiente familiar contrário à fortaleza: deve-se esforçar por que não há remédio, por que a vida obriga. É importante insistir com os pais na importância da resistência ou capacidade de realizar esforços sem se queixar, como aguentar a sede, levantar-se na hora, estudar o tempo previsto, cumprir compromissos ainda que não se tenha vontade, suportar um pequeno mal estar sem se queixar. A resistência está muito relacionada com o caráter de uma pessoa. Junto à resistência, está a valentia de ter decisão e impulso, de forma que os "medos" infundados não paralisem a personalidade e não tirem a capacidade de "dar a cara" quando necessário, sem se acovardar pelo "que dirão" ou por vergonhas tolas. Com audácia, sem medo do fracasso - que para uma pessoa forte é uma experiência da qual se pode aprender - nem dos riscos. Não se trata de influenciar os alunos à coragem desenfreada, mas a de ajudá-los a não serem covardes, nem ter medo do ridículo. Somente assim serão capazes de comprometer-se em negócios valiosos, com serenidade e equilíbrio interior, de forma que não se desmoronem diante da contrariedade ou dos pequenos contratempos e imprevistos, com elegância, diante do êxito ou do fracasso, sem perder a calma se as coisas saem mal. A paciência tem muito a ver com a paz interior, com a serenidade, com a segurança. Para educar na paciência, é necessário um ambiente de segurança afetiva e uma exigência serena. se a exigência é caprichosa, produz insegurança. Necessitam aprender a esperar, a dar a cada coisa o seu tempo. Definitivamente, a fortaleza dota a pessoa de senhorio sobre si próprio, de autodomínio (vencer-se a si mesmo é a batalha mais importante da vida). Possíveis planos de ação educativa relacionados com a fortaleza: 

superar, se ainda persistirem, os medos infantis de ficar sozinho, ou no escuro, da vergonha de falar, de reconhecer a própria culpa, do sentido do ridículo;

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            

ter paciência quando as coisas não saem como se queria, ou se sofre qualquer contratempo (por exemplo, não se queixar ou espernear se perder no jogo); adotar posturas corretas em classe e em casa, não se deitar sobre a mesa; procurar comer de tudo e comer toda a comida que colocou no prato; fazer os deveres antes de começar a brincar; levantar-se a uma hora fixa e cumprir um horário; fazer bem os trabalhos e tarefas; ensinar-lhe a não se queixar; fazer pequenos sacrifícios pelo bom andamento da casa ou da classe; exigir que acabe o que começa; aguentar a sede em uma excursão ou calor de verão, o cansaço sem apregoá-lo a cada 2 minutos; cumprir o encargo no momento previsto mesmo que não tenha vontade; participar de uma equipe esportiva; colocar para si pequenas metas e cumpri-las.

A virtude da laboriosidade A infância (6 a 12 anos) é um bom momento para educar a laboriosidade, de forma a arraigar hábito de trabalho sério e ordenado, que preparará as crianças para vencer a tendência à desordem e à falta de vontade, sintomas que aparecerão com a puberdade. Fortaleza e laboriosidade estão muito relacionadas. Quem come o que quer e quando quer; quem se deita no sofá para ver televisão até a hora que desejar; não será capaz de aguentar muito tempo estudando ou trabalhando quando precisar fazer o que não gosta ou que não estiver com vontade. O baixo rendimento escolar (o estudo é o trabalho dos alunos nessa idade) geralmente se deve à falta de capacidade ao esforço e ao sacrifício. Os meninos e meninas, antes da puberdade, manifestam uma grande vontade de aprender, uma curiosidade muito viva pelo que lhe rodeia. Eles amam fazer coisas novas e, em seguida, repetir o que aprenderam: gostam de abrir a porta, atender ao telefone, colocar a mesa, resolver problemas simples dos quais tenha aprendido bem a técnica, colecionar coisas. Ao passar do tempo, os interesses mudam e seus esforços passam de uma atividade a outra. Para mantê-los laboriosos, faz falta uma atuação motivadora discreta por parte do educador, que os anima, que os ensina a trabalhar bem e a concretizar pequenas metas de melhoria e é exigente. Ao procurar que a criança seja trabalhadora, laboriosa, tem que levar em conta a dificuldade do trabalho, pois é muito desmotivador pedir tarefas demasiadamente difíceis ou demasiadamente fáceis.

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A criança de 8 a 11 anos está predisposta a estudar, já que atravessa períodos sensitivos de afã por aprender e de tendência à curiosidade intelectual, de forma que lhe é apaixonante saber novas coisas, descobrir. Também gosta de destacar-se e está disposto a lutar por ser melhor. De fato, quando uma criança dessas idades se desentende com o estudo, deve-se pensar que existe um problema (de aprendizagem, de rejeição afetiva ou de vida familiar, geralmente) que teremos que descobrir o quanto antes para tentar remediá-lo. Com meninos ou meninas destas idades, o problema nunca é que "não estuda", mas por que não estuda: falta de capacidade, de motivação ou de técnicas adequadas que tornem frutífero o trabalho. Interessa, na linha de provocar a autoconsciência e a voluntariedade, semear motivos profundos, como a ideia de quão importante é cumprir o dever, ainda que não goste, para agradar a Deus, para servir aos demais. Não se trata de estar fiscalizando e supervisionando continuamente o trabalho da criança, mas de mostrar satisfação pelos esforços e ir-lhe exigindo, de maneira razoável, os hábitos necessários no que mais lhe custa fazer. É melhor ajudá-lo a pensar, decidir e concretizar as tarefas (também a colocar o coração, a sentir-se contente com as decisões) para, em seguida, exigir resultados de acordo com a capacidade, tendo o educador o papel de observador, sem superproteções. De outra maneira será difícil ao aluno/a chegar a entender que é ele ou ela o interessado em estudar e encontrar o modo de realizar essas ações com o maior proveito possível. Os alunos necessitam de um horário claro de trabalho: saber o que devem fazer, quando e como. Necessitam aprender a organizar seus livros, suas coisas e o tempo do qual dispõem para o estudo, para o descanso, para cultivar os hobbies, para a família e para cumprimento das obrigações domésticas ou encargos. O descanso não vai contra a laboriosidade, mas forma parte dela. Para que nossos alunos trabalhem bem (estudem bem) convém estar em contato frequente com os pais que devem orientá-los em detalhes concretos e ajudá-los a colocar as metas mais convenientes. Um erro muito grande é preocupar-se exclusivamente com notas, média e a futura carreira. Se quisermos educar na laboriosidade, o centro de nosso interesse será a pessoa. Cada vez mais é importante capacitar os alunos para estudar bem: ajudá-los a desenvolver as capacidades e habilidades implicadas no estudo, de modo que sejam capazes de aprender autonomamente. A mera acumulação de conhecimentos tem cada vez menos sentido em um mundo tecnológico. O que importa de verdade são as virtudes (capacidade de esforço, energia interior, de ordem, de constância, de laboriosidade, etc.) e as capacidades (de selecionar e analisar a informação, de identificar, resolver problemas, de tomar decisões etc.)

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Possíveis planos de ação educativa relacionados com a laboriosidade:        

desenvolver capacidades de observação, análise, síntese, atenção, memória, compreensão, etc.; terminar o começado: encargos, trabalhos, comidas, etc.; apresentar trabalhos limpos e organizados; fazer e cumprir um horário de trabalho para casa; refletir antes de perguntar; começar a trabalhar na hora prevista; trazer o material necessário para o trabalho diário. ter em ordem e a pronto o material de trabalho (livros, instrumentos de trabalho, etc.)

Uma educação completa não se esgota nas aulas ou no domicílio familiar, mas se prolonga durante toda a vida pessoal. O aproveitamento do tempo e o uso do tempo livre O tempo livre é um tempo para viver, para crescer, para aprender, para descansar e recuperar forças, definitivamente, é um tempo que deve enriquecer a pessoa. Por isso, a importância de colocar em jogo as virtudes humanas relacionadas com o trabalho, esforço e ordem para aproveitar muito bem o tempo. Convém educar os filhos e alunos, de maneira que sejam capazes de dar repostas pessoais criativas às influências externas ou aos problemas que o ambiente apresenta. Ficar na defensiva ou manter posturas passivas lhes convertem - em longo ou curto prazo - em seres manipuláveis e manipuladores. Essa não é uma questão que afeta somente os filhos. Os pais são os primeiros que devem adotar respostas criativas para que o tempo livre de seus filhos cumpra a sua tripla missão de descanso, diversão e desenvolvimento. A educação para o tempo livre não pode se desvincular da formação das virtudes: obediência, laboriosidade, resistência, sobriedade, generosidade, etc. As atividades de tempo livre devem ser ocasião para o desenvolvimento completo da personalidade, como estímulo eficaz para o amadurecimento pessoal. Ao falarmos de tempo livre referimo-nos a todo o tempo disponível, isto é, ao tempo não ocupado pelas atividades escolares nem destinado a outras obrigações. Esse tempo não é muito grande durante os dias letivos, o que o torna muito fácil de perdê-lo, porém, o que sobra nos fins de semana e nas férias, exige uma atenção particular por parte da família e do colégio, para evitar o perigo de que se destrua, em pouco tempo, o que vem sendo construído com muito esforço: hábitos de trabalho, 241 Solar Colégios


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esforço intelectual e progresso nas virtudes. Pelo contrário, é preciso que o tempo disponível converta-se em um marco para atividades enriquecedoras. É clara a urgente necessidade de educar para o uso adequado do tempo livre, ainda mais se levarmos em conta que o tempo de "não trabalho" aumenta se ensinamos as crianças, adolescentes e jovens a tirarem partido do tempo de ócio, o que evitará riscos. Convém destacar que, nesse campo, como em todos os aspectos da vida, a ação educativa deve desenvolver-se com sentido positivo, apoiando-se em valores e não em meras proibições. A seguir desenvolvemos algumas ideias sobre aproveitamento do tempo livre que podem ser interessantes de trabalhar com alunos e pais. Organizar planos familiares O relacionamento frequente e confiante com os filhos oferece inúmeras ocasiões de conhecê-los melhor, aconselhá-los e ensinar-lhes maneiras práticas de descansar e passear bem e, aos pais, descobrir até que ponto diverte, descansa e enriquece programar e desfrutar o tempo livre com os filhos. É um campo muito amplo, no qual cabem as tertúlias familiares com jogos, concursos, canções, piadas; esportes, passeios, excursões e visitas culturais a um museu, a um povoado ou a uma exposição; festas de aniversários preparadas por toda a família, etc. são eventos igualmente importantes. As atividades de tempo livre com os filhos fomentam a união, a comunicação e a participação na família. Se os pais procuram desfrutar com seus filhos esse tempo livre, desde quando são pequenos, terão uma magnífica ocasião de criar um ambiente no qual se transmite desejo de superação, fortaleza, boas ocupações e hobbies. Não obstante, convém procurar que a organização familiar das atividades de tempo livre não suprima a iniciativa dos filhos, mas sim que a fomente. O ponto de equilíbrio pode ser alcançado procurando que, desde pequenos, participem ativamente na preparação dos planos familiares, sem preconceitos de sugerir, em cada momento, uma ampla gama de possíveis entretenimentos que lhes enriqueçam: jogos funcionais (movimento), construtivos (realizar algo), imaginativos (desenvolvimento da fantasia) e jogos com regras. O esporte O esporte desde a tenra idade, as excursões e a vida ao ar livre, em contato com a natureza, são muito aconselháveis. São ocasiões de diálogo e ajuda mútua.

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O esporte tem grandes possibilidades educativas, por exemplo:      

incentiva o trabalho em equipe e o esforço em conseguir um objetivo comum; oferece muitas oportunidades de exercitar o espírito de sacrifício; ensina a respeitar as normas do jogo e seu opositor; aprende-se a ganhar e a perder; estimula o afã de superação pessoal; ajuda a crescer nas virtudes humanas, como o companheirismo, a resistência, o valor, o sentido de justiça, a solidariedade entre outras.

Por essas razões não parece conveniente que as ações punitivas suprimam a prática esportiva. Não compensa privá-los de algo que lhes beneficia. Os hobbies Os hobbies são sempre ocupações diferentes daquelas profissionais, escolhidas livremente. São formas de atividades inteligentes e capazes de oferecer novas habilidades e enriquecimento intelectual e artístico. Por isso interessa fomentá-los. Os hobbies ou passatempos são a melhor vacina contra o tédio. É muito interessante estimular a prática de hobbies - coleções, bricolagem, maquetes, eletrônica, etc., o que ajuda os filhos a serem constantes. O mais útil será compartilhar os próprios hobbies com os filhos, sem impô-los. Nos períodos de férias, pais e mães podem organizar para os filhos e amigos de seus filhos, aulas de pintura, culinária, costura, esportes ou qualquer outro passatempo. Além de ocupar o tempo com proveito, os hobbies desenvolvem a criatividade e facilitam a descoberta de inclinações profissionais dos filhos. As leituras O hábito da leitura permite empregar o tempo livre de modo particularmente enriquecedor, pois a leitura:  desenvolve a capacidade crítica;  aperfeiçoa a linguagem;  enriquece a forma de expressão;  melhora a compreensão da realidade;  proporciona conhecimentos;  apresenta ideais e modelos de virtudes;  potencializa a criatividade etc. Provavelmente, juntamente com a televisão e a influência dos amigos, a leitura é um dos itens mais importantes na formação da personalidade da criança. Dai a dupla conveniência de reforçar a prática da leitura e, ao mesmo tempo, neutralizar seus possíveis efeitos negativos. Nesse campo, o exemplo dos pais é decisivo, quando os 243 Solar Colégios


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pais leem, os filhos também leem. Junto ao exemplo dos pais é mister que se dê outra condição: a de que crianças e jovens tenham ao alcance material de leitura adequado. No colégio há inúmeros exemplares de literatura infantil e juvenil de qualidade e valores formativos, adequados a cada idade e nível de maturidade. Também se pode encontrar orientação em revistas familiares ou em livrarias especializadas e de confiança. Compensa dedicar tempo em "contagiar" os filhos pelo amor à leitura e ajudálos a formar a própria biblioteca, presenteando-os com livros nas festas familiares, trazendo-os de viagens do pai ou mãe, em aniversários, etc. Ao mesmo tempo ajudamos a formar o próprio critério, para saber o que convém ou não ler em cada etapa de sua vida. É muito importante selecionar bem as revistas e periódicos que entram no lar, porque ordinariamente serão lidas pelos membros da família: por isso convém evitar aqueles títulos que não gostaríamos de ver nas mãos dos filhos. Até uma determinada idade, os gibis são bons para reforçar o hábito da leitura, desde que não se abuse desse meio em detrimento de leituras mais formativas. Devese selecioná-los, no sentido de que não contenham inconvenientes no conteúdo e cujo enfoque seja positivo para a formação dos filhos. A televisão A televisão pode ser o entretenimento ao qual mais tempo os filhos dedicam e, talvez, os pais também. É um meio magnífico para se adquirir conhecimentos e para se divertir, porém o abuso tem efeitos muito negativos: o primeiro deles é empregar um tempo desproporcional. Isso prejudicará o rendimento escolar e resultará em estorvo para a formação da capacidade reflexiva, crítica e criativa dos filhos. O uso da televisão como recurso fácil para que os filhos não incomodem em casa, tem consequências muito negativas, porque fomenta a passividade, impede o desenvolvimento da criatividade, facilita a aquisição de contravalores que destoa da formação que procuramos dar a nossos filhos. O largo espectro de efeitos contraproducentes da ampla exposição à tevê tem sido insistentemente denunciado por especialistas nos últimos anos. Educar os filhos nesse aspecto é muito mais simples se os acostumamos desde cedo a pedir permissão para assistir a bons programas de televisão, dentro do horário estabelecido para que não se perturbe o trabalho ou descanso dos demais. Convém que não haja mais de aparelho de TV em casa, porque, ao contrário, será mais difícil controlar o uso da televisão e fomentará o egoísmo, ao permitir que 244 Solar Colégios


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cada um veja o canal preferido, prescindindo-se dos demais. Deve-se evitar, sobretudo, que existam televisões nos quartos. Um modo de ensinar a ver televisão é selecionar os programas a cada semana, com os filhos e ver juntos os que pareçam interessantes, inclusive algum filme um pouco mais delicado, sempre que não atente contra a fé ou a dignidade da pessoa, ou seja, quando não apresentar inconvenientes a um adulto bem formado. É bom comentar a profundidade e a forma da mensagem e o modo de apresentá-la. Ver televisão com os filhos e comentar em seguida o programa é um meio de descanso e uma excelente forma educativa. Além do mais, anúncios e programas inconvenientes a qualquer hora, tornam desaconselhável que os filhos vejam sozinhos a TV. Só o poderão fazer quando tiverem critério suficiente e já adquirido o costume, graças ao exemplo dos mais velhos em casa, de desligar a TV caso apareça algo inconveniente ou que não interesse. É muito produtivo aplicar um critério restritivo ao uso da TV. Desde cedo, podese suprimir uma programação televisiva de baixa qualidade técnica ou moral e substituí-la por bons filmes, documentários ou cursos de idiomas, desde que se evite o perigo de roubar muito tempo, em detrimento do estudo, da leitura ou de outros planos de descanso. A música Também é muito bom ouvir música - atual e clássica - com os filhos. Não se trata de escutar todas as canções dos grupos musicais da moda, mas de estar em condições de ajudar os jovens a não se deixarem levar pelo afã de adquirir rapidamente o último disco lançado no mercado. Deve-se desenvolver nos filhos sentido crítico em relação a músicas que supõem amostra de mau gosto, quando não ofensa a Deus e menosprezo à dignidade humana. Ouvir música com os filhos apresentará múltiplas ocasiões para desenvolver o gosto por boas composições atuais e clássicas e para educar a sensibilidade. Neste sentido, é interessante procurar que os filhos aprendam a tocar algum instrumento musical.

Sugestões para aproveitar o tempo livre: a) Durante a semana 

acompanhar os filhos enquanto lancham ao retornar do colégio. É um bom momento para escutá-los, eles sempre tem coisas a contar; 245 Solar Colégios


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animá-los a pensar o que se vai fazer no fim de semana, para que não chegue o sábado "sem saber o que fazer".

b) Nos dias de festa (feriados)    

           

animar a levantarem em uma hora adequada, para que não percam o dia na cama. É necessário recuperar as forças, mas sem exagero; evitar os dois extremos: encher os feriados com coisas para fazer ou não fazer coisa alguma; praticar esporte com mais intensidade. Aprender algum esporte novo (montanhismo, natação, tênis, vôlei,,,) ajudá-los nas tarefas escolares (não fazê-las por eles). Trata-se de estar presentes, de exigir amavelmente, de estar disponíveis - ainda que estejamos aproveitando o tempo em outra coisa ; jantar com os filhos e não ligar a tv durante a refeição. Pode-se aproveitar para conversar e ensinar os bons modos à mesa, sobretudo com o exemplo; Organizar um tempo de tertúlia durante a sobremesa, no qual toda a família possa intervir; jogos em família. Existem muitos e muito interessantes para todas as idades; praticar algum esporte; colaborar nas tarefas domésticas para desafogar um pouco as mães. Os encargos familiares podem gerar resultados muito bons; ir à missa juntos. Em seguida, tomar o café da manhã ou algum lanche na padaria pode ser atrativo, algumas vezes; organizar excursões, passeios ao campo, passeios de bicicleta; fazer esporte com os filhos; assistir aos seus encontros esportivos; visitar museus ou exposições que possam ser atrativas (não "enfiar a cultura à força") falar mais detidamente com algum dos filhos, sem dar lições, interessando-se sinceramente por eles. dedicar um tempo a cultivar algum hobbie.

c) Nas férias    

escolher um local apropriado. Não é obrigatório ir à praia ou lugar onde haja muita gente; as férias são momentos privilegiados para conviver com a família, visitar os parentes, dedicar tempo aos amigos, ler bons livros, aproveitar a natureza; conhecer mais e melhor a natureza e a vida que nos rodeia; ajudar nos reparos da casa;

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     

  

organizar festas familiares e convidar os amigos; brincar mais, em casa e ao ar livre; cantar em família, com os amigos, sozinhos, aprender novas canções; praticar ou adquirir algum hobbie; tomar café da manhã, almoçar e jantar com os filhos; trabalhar, conforme a idade, para ajudar alguém ou para ganhar algum dinheiro que possa ajudar a família, economizar gastos com roupas, livros, viagens... propor-se uma atividade de duração maior, como aprender um idioma, ir a um acampamento ou convivência com os amigos; um tempo dedicado a repassar alguma matéria escolar ou fazer as atividades que o colégio encomendou; estabelecer, desde o começo, um horário claro, que assegure a convivência familiar: hora de levantar-se, de fazer refeições, de ler, de ajudar em casa e de cumprir os encargos, etc. distribuir encargos de colaboração familiar entre os filhos pelos quais serão responsáveis desenvolve o hábito de preocupar-se com os demais e de manter um clima familiar acolhedor.

C. VIRTUDE DA GENEROSIDADE O homem é um ser naturalmente social. A tendência natural é a de que as relações sejam positivas e contribuam para o pleno desenvolvimento pessoal. A base destas relações humanas é a virtude da Justiça, pela qual damos a cada um aquilo a que tem direito. A justiça é o cimento que permite e facilita a convivência, a base em que se assenta outra virtude que a transcende e que vai além do mero respeito aos direitos: a Generosidade. A generosidade é a disposição firme e estável da vontade para dar tudo o que se pode, ainda que sobrepasse a medida do justo. A justiça exige dar a cada pessoa o que lhe é devido. A generosidade coloca o acento em dar mais do que a justiça exige. Não são virtudes contrapostas: a justiça é o cimento da generosidade, sua condição. A generosidade é o aperfeiçoamento da justiça. No marco dessas duas virtudes sociais, podem-se considerar as demais virtudes humanas que devem presidir a relação entre as pessoas, como a aceitação do outro, o respeito aos demais, a tolerância, a compreensão, a abertura, a aceitação das normas, 247 Solar Colégios


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a obediência, a amabilidade, a cortesia, o agradecimento, o companheirismo, a amizade, a cidadania, a participação social, o espírito de serviço, a colaboração, a ajuda e a solidariedade. A virtude da justiça As crianças aprendem, nos primeiros anos, com a orientação dos pais, professores e irmãos mais velhos, que o justo é o que "está bem", e o injusto, o que "está mal". A princípio, essa aprendizagem se adquire na relação diária com os irmãos que tem uma idade parecida e com os companheiros de jogos e brincadeiras. Para as crianças pequenas, a brincadeira é um modo privilegiado de aprender. Pode-se dizer que brincando aprendem a viver. Aceitam as regras dos jogos com facilidade e, por meio do respeito às regras, aprendem o valor da justiça. Os pais assinalam pequenas regras do que pode ou não fazer, quando pode e quando não. Logo virão as normas impostas pelo colégio e pelos companheiros. De fato, qualquer educador perceberá, com frequência, como as crianças pequenas apelam aos adultos para resolver problemas de justiça durante jogos e brincadeiras. Em contrapartida, mais ou menos a partir dos nove anos, passam a discutir as regras entre si. Até oito ou nove anos, convém introduzir uma educação de justiça que destaque certas normas nos jogos, brincadeiras, na convivência familiar e escolar, que mostrem com clareza o que é justo e o que não é. Não se trata de conquistar uma compreensão profunda dos motivos - da qual ainda não são capazes - mas de ajudá-los a adquirir hábitos com carinho, compreensão e exigência e a distinguir o justo do injusto. Por isso, é importante reconhecer o bem feito e aquele que tenha atuado mal, seja consciente de que sua conduta não foi justa. Essas ações constituem uma preparação para que, mais adiante, as crianças sejam conscientes de que as pessoas têm direitos e deveres. As crianças vão compreendendo o que é justo, em parte, por meio das regras dos jogos e da obediência aos seus pais e professores. Por isso a importância que tem o exercício da autoridade para a educação da justiça. Também percebem o que é injusto pela sensação de rebeldia interior que as situações de injustiça provocam. Convém aproveitar as situações em que sofreram uma injustiça e para ajudá-los a refletir: por que é mau o que lhe fizeram? O que você sente? O que teria sido justo? Você, numa situação parecida, o que teria feito? Essa reflexão é importante na aquisição da virtude da justiça e deve levar ao julgamento de situações, saber colocarse no lugar do outro, a compreender e perdoar.

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No caso em que o aluno seja o causador da injustiça, também se impõe a reflexão por meio do diálogo confiante como principal ferramenta educativa: se você é bom, por que agiu assim? Como se sentiria se tivessem tratado você dessa forma? Como podemos reparar o dano que você causou? Como pedir desculpas? Até os 10 ou 11 anos, as crianças começam a entender que ser justo não significa tratar a todos da mesma maneira. Devemos apoiar essa descoberta ajudandoos a considerar as diferentes idades e necessidades dos irmãos ou companheiros. As tertúlias familiares, nas quais se comentam os assuntos da atualidade e demais temas de interesse dos filhos, são muito úteis para esse fim. As sanções Para que os filhos adquiram um conceito adequado da justiça e se exercitem nessa virtude humana, os educadores - pais e professores - devem ser eles próprios justos na relação com seus filhos e alunos. Para que as sanções sejam eficazes, requerem-se algumas condições: que sejam poucas, de curta duração, proporcionais à falta cometida, educativas, aplicadas imediatamente e - se possível - avisadas com antecedência.  

Poucas. Quando se pune continuamente, ou se grita por tudo, esse meio educativo perde a eficácia. Curtas. O importante é que o filho entenda que devido a uma má atuação merece - por justiça – uma repreensão. Ordinariamente não será benéfico que "cumpra uma pena" durante semanas. Proporcionais. A sanção deve ser imposta em função da falta cometida. A desproporção frequentemente é motivada pela irritação que sentimos no momento da repreensão. Educativas. Com a sanção pretende-se modificar uma conduta inadequada da criança. Por isso, as melhores sanções são as que favorecem o hábito contrário. Por exemplo, se deixou os brinquedos espalhados pela sala de estar, um “bom castigo” seria guardá-los. Para ser mais ordenado, de pouco serve deixá-lo sem sobremesa ou sem recreio. Imediatas. Com os menores, a sanção deve ser precedida imediatamente à uma má ação. É pouco eficaz penalizar uma criança pequena no dia seguinte de ter cometido a falta. A partir dos 9 ou 10 anos pode ser conveniente que eles mesmos pensem que consequências merecem pelo comportamento inadequado. Avisado antecipadamente. É mais eficaz que na primeira vez se explique os aspectos negativos do mau comportamento e advirta as crianças de que na 249 Solar Colégios


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próxima vez haverá uma sanção. Quando as faltas são graves ou envolvem questões óbvias, não é preciso uma advertência antecipada. Se a sanção cumpre as condições necessárias, convém aplicá-la. Se habitualmente, ante as súplicas, recuamos, os alunos se acostumam a não enfrentar o que teriam merecido pelas faltas e não crescem em responsabilidade. Por outro lado, vale a pena insistir que o melhor prêmio é a alegria e a satisfação íntima que se sente ao fazer as coisas bem. Possíveis planos de ação educativa relacionados com a justiça:    

       

aprender a estabelecer acordo com irmão ou companheiro e cumpri-lo em seguida; conhecer, aceitar e respeitar as regras dos jogos; respeitar a propriedade alheia: não roubar, não rasgar, pedir permissão para usar o que é de outro, etc.; respeitar necessidades e direitos alheios: o quarto dos irmãos, o silêncio em momentos de estudo ou trabalho, escutar aos que nos falam, bater à porta antes de entrar, não interromper uma conversa... explicar-lhes o que é justo e injusto e o porquê; ajudá-los a refletir diante de fatos injustos (sofridos ou cometidos); ensiná-los a pedir perdão e a reparar a injustiça; ajudá-los a considerar a diferença de condições e circunstâncias de diferentes pessoas; ensiná-los a colocar-se no lugar do outro; devolver o que lhe emprestem no estado em que foi recebido ou até melhor; agradecer quando receber ajuda; respeitar as normas de convivência escolar e familiar.

A virtude da generosidade As crianças pequenas tendem ao egoísmo. Por volta dos três anos vivem a primeira crise do "eu". É sua consolidação com o "eu-corpo", quando descobrem que são diferentes dos demais. Esta é a idade do "não", em que a obstinação (como autoafirmação) e a fácil irritabilidade tem certa semelhança com a crise da puberdade, quando viverão a segunda obstinação do eu, desta vez de si mesmo, do "eu-espírito" . Essa primeira crise não favorece a tendência ao desprendimento, mas a um grande sentido de posse. A partir dos 2 ou 3 anos, as crianças distinguem perfeitamente o "meu-teu" e gostam de deixar clara esta diferença. A partir dessa idade, deve-se estimular o hábito de dar, mais como um costume do que como uma virtude, estabelecendo a relação 250 Solar Colégios


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entre o dar com a alegria e o querer aos demais. É conveniente fazê-los ver que DAR algo constitui uma mostra de carinho; que duas pessoas que se querem bem e são amigas se dão coisas. Nessa fase, interessa que a criança aprenda a esforçar-se por ser generosa com as pessoas que quer bem ou que lhe são simpáticas, buscando agradarlhes. O sorriso, o agradecimento cheio de afetos que reconhece e aprecia o esforço alheio lhe motivarão a seguir com esses atos com outras pessoas. Convém desenvolver, na família e no colégio, entre os irmãos e companheiros a atitude de emprestar coisas uns aos outros, ainda que busquem a contraprestação. Trata-se de proporcionar muitas possibilidades de que se esforcem para dar e compartilhar, ainda que os motivos sejam em princípio, insuficientes. Além do mais, com paciência, pode-se sugerir atos de generosidade e mostrar que as pessoas têm necessidades. O período sensitivo da generosidade se vive de modo especialmente intenso entre os oito e os dez anos. Experimentam o impulso de prestar serviços e ajudar: há maior abertura frente aos pais e professores. Nessa fase, aparece o sentido natural da justiça e inicia-se a sociabilidade. Desde os seis ou sete anos, as crianças experimentam o impulso de ser generosos, de prestar serviços, de cumprir encargos. É necessário incutir essa tendência natural, fazendo-lhes descobrir a necessidade de serem generosos e a alegria depois de sê-lo. São atos de generosidade: escutar, agradecer, perdoar, ajudar em casa, cuidar de um irmão menor, emprestar coisas a um companheiro, dividir o sanduiche, repartir os doces, etc. A generosidade é uma das virtudes que mais aperfeiçoa a pessoa, já que está muito relacionada ao amor, e necessita da responsabilidade e da fortaleza para colocar-se em exercício. Nos primeiros anos escolares, a criança aprenderá com facilidade a esforçar-se por ser generosa com as pessoas que quer bem ou que lhe são simpáticas, buscando agradá-las. O sorriso, o agradecimento cheio de afeto, que reconhece e aprecia o esforço, motivar-lhe-ão a continuar com esses atos também com outras pessoas. É importante ajudá-la a descobrir a alegria que se desfruta depois de ser generosa consigo própria: a generosidade também se aprende - e de um modo profundo - sendo sujeito passivo. Agora já conseguem converter os hábitos de generosidade que foram adquirindo desde pequenos em uma autêntica virtude. Desde os 8 ou 9 anos necessitam motivos para se esforçar em ser generosos, a não buscar a contrapartida ou outro interesse nas ações em favor dos demais. 251 Solar Colégios


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É importante explicar que a generosidade e o serviço aos demais é um dever das pessoas que se sentem gratificadas pela alegria do dever cumprido e pela satisfação de realizar algo bom para os demais. Nesta idade já se compreende essa linguagem. Porém, entendem melhor se dermos exemplos gráficos da alegria de pessoas generosas e da tristeza das egoístas. Trata-se de aproveitar as oportunidades que a vida diária oferece, como uma ocasião na qual o filho ou filha se recusaram em emprestar algo ou não quiseram ajudar alguém, para fazê-los ver o mal pelo qual passou e fez passar os demais; ou, pelo contrário, o bem que sentiu ao ajudar o irmão ou a mamãe ou dar aquela esmola. A generosidade, como toda virtude, conquista-se pela repetição de atos (conscientes e queridos) até que seja algo natural comportar-se desse modo. Tudo isso é mais fácil se, na família e na escola, existe um ambiente de participação e serviço. As crianças aprenderão a ser generosos, sobretudo se respirarem este ambiente em sua própria casa e na escola. Em um ambiente no qual se vive a generosidade, fala-se bem das pessoas, sobretudo quando não estão presentes; escuta-se com paciência aos demais sem atropelá-los; escolhem-se temas de conversas que interessam aos demais; aceitam-se os encargos com alegria e satisfação por colaborar no lar; cuida-se de doentes e os visita; economiza dinheiro para poder presentear as pessoas nas festas de aniversário; dá esmola na paróquia e ajuda aos necessitados, os irmãos menores e tantas outras manifestações generosas. Trata-se de oferecer numerosas possibilidades de exercitar-se na generosidade cada vez que se oferecem motivos pelos quais é bom atuar deste modo: quando se dão conta de que os demais (em primeiro lugar seus pais, irmãos e companheiros) necessitam de sua colaboração. O valor da generosidade é muito difícil de ser apreciado objetivamente, pois depende do esforço e dos motivos internos da pessoa que dá e se dá, que do ato exterior que possamos contemplar. Dar do que sobra, dar esperando recompensa, por vanglória, para se livrar de um problema, não é generosidade. Para que um ato seja generoso deve-se dar algo de si mesmo com esforço, com a intenção de suprir uma necessidade da outra pessoa, para o seu bem. Pode-se dar com esforço algo que não reclama justiça, mas que também não é um bem para a pessoa que o recebe: é o caso dos mimos, por exemplo. As crianças saberão perdoar se nos virem perdoando, se promovemos na família e no colégio uma dinâmica que faça do perdão algo natural. A facilidade para perdoar, como tudo relacionado à generosidade, é algo que se respira no próprio ambiente. E a resistência a fazê-lo também.

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Ao educar este hábito não se deve cair no perigo de se contentar em "dar o que sobra", nem em "ficar bem", ou "aparecer", mas se trata de incentivar a decisão livre de entregar algo do que se tem para fazer a vida mais agradável aos demais. A ação, fruto da reflexão, e a decisão pessoal fomentam atitudes profundas, e constituem o principal critério educativo na formação das virtudes. Uma abordagem educativa coerente procura que os alunos prestem serviços a outras pessoas, sem ficar em meras especulações sobre as reais necessidades dos demais. Esse modo de atuar é o melhor antídoto para a concepção do desenvolvimento pessoal como um exclusivo autoaperfeiçoamento para extrair de si próprio atitudes e pensamentos egoístas. O perdão Perdoar, perdoar de verdade, de coração, é um dos atos mais perfeitos da generosidade, embora mais difíceis de realizar. Para perdoar, é necessária a segurança interior e o desejo de servir. Perdoar não é tirar importância do que gerou a mágoa, nem ser ingênuo. Mas é reconhecer a necessidade da outra pessoa de receber carinho, aceitação e confiança apesar do que tenha feito.

Possíveis planos de ação educativa relacionados com a generosidade:                

dar uma parte de seu dinheiro como esmola a uma paróquia; aprender a descobrir as necessidades de outras pessoas; emprestar material de classe aos companheiros, ainda que as vezes lhes possam estragar; ajudar um irmão ou companheiro no estudo; saber perdoar e pedir perdão; lembrar-se de agradecer; dizer por favor ao pedir algo; cuidar de um irmão pequeno; ajudar os irmãos e companheiros a cumprirem um encargo; visitar os avós e passar um tempo com eles; visitar e acompanhar os companheiros doentes; reservar um dos presentes de Natal ou de seu aniversário para dar a uma criança necessitada; brincar com os companheiros ainda que eles não lhe agradem; escutar com interesse a quem fala e respeitar a vez da palavra; emprestar roupa, brinquedos aos irmãos; praticar obras de misericórdia com a família.

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A virtude da obediência A virtude humana da obediência consiste em aceitar e realizar com prontidão e interesse as decisões de quem tem autoridade. A criança pequena obedece porque reconhece intuitivamente a autoridade dos pais. Eles lhes dão segurança e carinho, e tudo isso a leva a cumprir a vontade dos pais, ainda que, às vezes, sinta-se inclinada a desobedecer para provar sua própria força e suas próprias possibilidades de atuar com independência. Por volta dos três anos surge o que se pode chamar a idade do "não". Esse momento do processo evolutivo normal da criança supõe a nascente vontade infantil. A partir de então, surgem as primeiras argumentações dos motivos que, pouco a pouco, irão fundamentar a sua liberdade. Convém unir exigência com razões pelas quais se exige algo, de tal modo que a criança obedeça (na medida do possível) porque vê que o que lhe pedem é razoável. Também pode obedecer por carinho aos pais e professores, reconhecendo que sua obediência é um modo de manifestar isso. Os educadores correm o perigo de contentar-se com uma obediência mais ou menos cega, que produza uma aparência de paz e ordem. Desse modo, não se dão conta de que o mero cumprimento da ordem não desenvolve o hábito da obediência. Neste sentido, não se trata de conseguir que os filhos obedeçam sem motivo, mas que adquiram a virtude da obediência, ou seja, que obedeçam e queiram obedecer. É muito importante que essa virtude esteja consolidada antes da puberdade. A obediência é muito importante para o desenvolvimento moral e para a conquista do autodomínio. Quem não foi obediente a seus pais, dificilmente obedecerá à voz da própria consciência. Uma atuação coerente por parte dos educadores facilita a obediência. Dificultaríamos a aquisição deste hábito se nos comportássemos de um modo inconstante e imprevisível, segundo o estado de ânimo de cada momento, se exigíssemos algumas coisas em uns dias e em outros não. Obediência e autoridade estão intimamente relacionadas. Para que a obediência seja eficaz, deve haver autoridade. Nos anos fundamentais para a consolidação desse hábito, os pais devem exigir o cumprimento de tudo o que se manda. Não é construtivo que os pais repitam muitas vezes a mesma ordem, pois cada vez os filhos tardarão mais em obedecer. Por exemplo, não é educativo avisar quatro ou cinco vezes de que vai perder o ônibus escolar caso não se apressem. Em algumas ocasiões a crise da obediência é na realidade crise de autoridade dos pais. Os resultados costumam ser positivos quando damos uma informação:

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 

clara, já que, para obedecer conscientemente, os alunos necessitam conhecer o que se espera deles. Nos assuntos importantes pode ser interessante nos assegurarmos de que tenham entendido bem o que devem fazer, quando e como; no momento oportuno (não em momentos de irritação); apoiada em uma exigência serena, perseverante, amorosa e alegre.

Convém que agradeçamos e estimulemos a obediência das crianças, reconhecendo o que está bem feito. A obediência é um dever, mas, se os filhos percebem que valorizamos seus esforços, terão mais interesse em obedecer. Temos que estar atentos a que:      

cumpram bem o que foi pedido; obedeçam, compreendendo a importância do que é pedido; evitem as desculpas para se esquivarem da ordem; aceitem a ordem sem tentar que outro o faça (irmão, companheiro...); obedeçam com prontidão, sem necessidade de repetir a ordem; obedeçam com alegria, sem resmungar.

Alguns objetivos de planos de ação educativa relacionados com a obediência:     

escutar com atenção as indicações dos pais e professores, assegurando-se de que entenderam bem; verificar se a ordem foi cumprida; pensar no melhor modo de fazer o que nos foi mandado; obedecer com alegria; não colocar desculpas para evitar encargos.

A virtude do companheirismo No princípio da escolarização, a criança se depara com um âmbito mais formal que o da família, no qual existem mais regras de comportamento, horários, notas... Esse fato oferece várias oportunidades para que a criança amplie o seu campo de relações sociais: em sua classe encontram-se crianças muito diferentes, com as quais terá que aprender a conviver. Os pais devem procurar saber se, no colégio, seu filho brinca e fala com os outros, se é generoso, se passa mais tempo com algumas crianças do que com outras, se ele se dá bem com os companheiros, se está fazendo amigos. Esse é um tema muito importante para falar com o preceptor.

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A criança sente a necessidade de agrupar-se. Os jogos coletivos substituem os individuais, que agora não são tão atrativos. Aos seis anos, os grupos de jogos (com uma clara predominância dos jogos de competição, nos quais colocam à prova suas capacidades e novas destrezas) podem ser maiores e mais estáveis que na Educação Infantil, o que oferece maiores possibilidades para uma correta adaptação social. No relacionamento com os demais, começa a reconhecer o seu papel dentro do grupo, o que pode dar e o que pode receber. O habitual aos seis e sete anos é que a camaradagem ainda não seja muito sólida e que o grupo seja dirigido por uma criança naturalmente mais líder. As crianças de temperamento tímido ou que tenham sido superprotegidas pelos seus pais, normalmente, encontrarão mais dificuldades de adaptação. Convém explicar frequentemente aos alunos em que consiste ser um bom companheiro e porque se deve sê-lo. Para isso é preciso estabelecer critérios:    

formar pequenos grupos ou equipes para jogar ou estudar; dar encargos compartilhados (por exemplo, colocar as coisas no quadro de avisos ou mural da sala); facilitar que vão a casa um do outro para brincar; ajudar a superar a timidez.

A partir dos oito anos compreende-se melhor o sentido das regras, a necessidade de ajustar-se a elas e a conveniência de sacrificar os próprios gostos pelo bem do grupo. O respeito às regras favorece o sentido da justiça, da lealdade e da ordem. Entre os 9 e os 12 anos aumenta a necessidade do companheirismo. Por sua vez, os grupos são mais seletivos e reduzidos que antes: aparece a "turma" ou “gupo”. A convivência com os companheiros de turma pode ser um estímulo muito positivo para o desenvolvimento da lealdade, da generosidade, do contar com os demais e de outras virtudes sociais. Além do mais, o aluno sabe que é julgado pelos companheiros, de uma maneira distinta de seus pais, o que contribui para a formação de uma imagem mais realista de si mesmo. Os pais podem ajudar os filhos a desenvolver o companheirismo procurando que os filhos tenham tempo para conviver com seus companheiros, e não somente para ver televisão, brincar no computador ou fazer tarefas escolares. Convém colocar facilidades para que os colegas vão à casa uns dos outros para brincar ou, por exemplo, para comemorar aniversário. Nas brincadeiras, ensiná-los a ganhar e a perder, a não trapacearem e a não desistirem do jogo se estiverem perdendo. Além de explicar aos alunos a importância do companheirismo e os modos práticos de vivê-lo

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no colégio, convém falar das condutas positivas de companheirismo e corrigir as faltas que se produzem, com delicadeza. Entre os 11 e os 12 anos começam as primeiras relações propriamente de amizade. Até então, somente podemos falar de companheiros de turma ou de brincadeiras. As meninas amadurecem antes e, aos 10 ou 11 anos já começam a buscar a amizade. Não é bom insistir continuamente em quais tipos de amigos convém aos filhos. Podem-se explicar os motivos e eles devem entender, porém é preciso respeitar suas preferências, sem imposições diretas, salvo casos especiais. Alguns alunos, mais introvertidos e menos sociáveis, não se empenham em fazer um grupo de amigos e, desse modo, correm o risco de perder toda a riqueza que o contato com outras pessoas de sua idade traz. Sem forçar a relação com alguém em concreto, é importante colocá-los em contato com grupos esportivos, animá-los a levar algum companheiro para estudar em casa, motivá-los a compartilhar um hobbie. Se for o caso, limitar as horas de videogame, computador, televisão ou outras atividades que potencializem o isolamento. O habitual será que nossas alunas e alunos selecionem bem as amizades, mas podemos facilitar isso, procurando que circulem por ambientes em que possam travar amizade com outros meninos ou meninas de sua idade que tenham costumes e divertimentos sadios. Em muitas cidades, existem clubes juvenis, promovidos por pais de família, para que seus filhos aprendam a conviver bem, fazer amigos em ambiente positivo e receber ajuda na formação pessoal. Essa é uma possibilidade entre muitas. A virtude da solidariedade e o espírito de serviço A educação da solidariedade e, em geral, das virtudes sociais e dos bons sentimentos (compreensão, aceitação, generosidade, colaboração, compaixão, solidariedade, justiça...) deve começar no ambiente social mais próximo à criança: a família e o colégio. Convém insistir na formação de hábitos de interesse pelos demais e pelos trabalhos de serviço na vida diária, no seio familiar, com os irmãos, familiares, vizinhos e amigos. É importante que cada filho consiga perceber as necessidades dos mais próximos (pais, irmãos, amigos...) como sinal e manifestação principal de um amor generoso e aberto a todos os homens. Cada um dos atos isolados de solidariedade não devem nunca ser considerados como fins, mas como meios para fazer nossos alunos conscientes de que na vida, ou se serve aos demais ou o egoísmo incapacita o homem para a felicidade.

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Possíveis objetivos companheirismo:      

de

planos

de

ação

educativa

relacionados

com

o

ajudar os companheiros que não entendem uma lição ou não sabem resolver um problema; levar algum dia (ou ir à casa de outros) para casa amigos para estudar ou brincar; explicar a importância de que os bons companheiros têm na vida; participar das atividades de um clube juvenil; compartilhar hobbies. visitar e anotar as tarefas de um colega doente.

Hoje é um fato comprovado, que existe uma multidão de jovens rodeados de meios materiais que ganharam sem esforço, pois, pais - com uma boa intenção mal entendida - isentaram os filhos de trabalhos e tarefas de serviço que deveriam executar até na própria família. São muitos os que não receberam a recompensa da satisfação por haver feito algo bom, útil, valioso pelos demais. Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a solidariedade:      

ajudar algum irmão ou colega com dificuldades de estudo; participar de coletas para pessoas necessitadas; viver bem os encargos de mútuo serviço em família e no colégio; ocupar-se da atenção aos doentes; atender a familiares idosos, doentes ou desvalidos; praticar obras de misericórdia em família.

A amabilidade. A cortesia. A delicadeza no trato mútuo A amabilidade significa sintonia com a situação e sentimentos de outro. Para ser verdadeiramente amável, deve-se tentar sentir-se amigo daquele a quem nos dirigimos. A amabilidade tem a sua expressão nas boas maneiras, na cortesia, quer dizer, em palavras e atitudes que fazem com que as relações que estabelecemos com outros sejam agradáveis. A delicadeza no trato mútuo manifesta-se em pequenos detalhes que têm como finalidade fazer a vida alheia mais agradável. Cada pequeno ato pode converterse em um hábito e a idade mais eficaz para consegui-lo é entre os seis e os onze anos, antes da chegada da puberdade. Algumas pequenas normas de cortesia que podem converter-se em planos de ação: 

utilizar corretamente os talheres nas refeições;

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                 

usar adequadamente o lenço e o guardanapo; vestir-se corretamente; comer e beber sem fazer barulho; evitar tocar no nariz; pedir permissão para algo que não é habitual; agradecer; evitar fazer ruídos desagradáveis (bocejos, espirros etc.); evitar passar entre duas ou mais pessoas quando estão conversando; adotar posturas corretas em classe, vestiários e corredores; evitar palavras ofensivas; evitar palavrões; dizer por favor ao pedir algo; cumprimentar e despedir-se; ceder passagem; pedir desculpas quando incomodar alguém; falar sem gritar; respeitar a vez da palavra; escutar, em silêncio a quem fala.

D. VIRTUDE DA RESPONSABILIDADE A responsabilidade é um reflexo da maturidade da pessoa que é capaz de viver a liberdade, que compromete a sua vida com a verdade e o bem em um projeto pessoal de vida, com todas as consequências. A melhor idade para que essa virtude se consolide é entre os seis e doze anos, já que as crianças estão em períodos sensitivos que facilitam a conduta responsável: amor à justiça, disposição para ajudar e colaborar prontamente, desejo de ficar bem, afã de superação. Essas tendências cooperam diretamente com a necessidade de cumprir o dever, escolhido ou assumido. Trata-se de predisposições que facilitam a realização dos compromissos com perfeição. O valor da responsabilidade se desenvolve quando: 

atribuímos responsabilidades aos filhos ou alunos. Conforme vão crescendo, será maior o número de situações pelas quais possam se responsabilizar e, o sentido de responsabilidade irá se aperfeiçoando. Aprende-se a ser responsável assumindo responsabilidades. Quando os pais e professores depositam confiança na criança, gera-se um forte estímulo para aderirem aos deveres propostos. 259 Solar Colégios


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damos o devido feedback. As crianças necessitam saber se o seu comportamento é o esperado pelos pais e professores. O reconhecimento do bem praticado, a satisfação manifestada pelos pais, o louvor, cumprem essa função. Também é necessário informá-los se não atuaram bem ou como se esperava. Em boa medida, aprendemos de nossos erros, por meio da experiência. ajudamos as crianças a pensar e avaliar distintas possibilidades de realizar o que foi decidido. Em sua acepção mais comum, responsabilidade é a capacidade para decidir apropriadamente e com eficácia. Os alunos precisam aprender a tomar decisões pessoais com responsabilidade. Para tanto, é muito interessante fazê-los conscientes das decisões que continuamente estão tomando e ajudá-los a prever as consequências, pelas quais também são responsáveis.

Condições para uma atuação responsável Todos os educadores coincidem no desejo de que seus filhos ou alunos sejam responsáveis, porém nem todos têm o mesmo conceito de responsabilidade. O erro mais frequente é confundi-la com obediência. Isso leva a um grande equivoco que traz enormes consequências educativas. Ao obedecer, a criança faz o que mandam, mesmo sem estar de acordo. Quando se obedece, tanto a decisão quanto a motivação são externas à criança. Entretanto, uma atuação responsável implica aceitação pessoal e livre da tarefa, bem como de uma motivação interna, pessoal, para executá-la. Uma pessoa obedece para agradar a outra, evitar castigos ou colaborar pelo bem comum; porém, atua responsavelmente quando decide o que fazer e se motiva a si mesma para fazê-lo. Quando se atua somente por obrigações impostas, não se chega a experimentar o êxito ou o fracasso como consequência de uma decisão pessoal da qual é responsável.

Para que uma atuação possa ser fruto da responsabilidade, é necessário: 

saber o que se deve fazer e como fazê-lo. Por isso é importante indicar ao aluno o propósito da tarefa e a forma de realizá-la, animando-o a fazer as perguntas necessárias para fazê-la bem. que aceite fazer a tarefa, o que supõe poder não aceitá-la (se não se pode negar, estamos falando de obediência e não de responsabilidade). Quando escolhe livremente, estará exercitando sua responsabilidade. Está claro que algumas tarefas devem cair no âmbito da obediência e as crianças devem realizá-las por obrigação. É interessante considerar que os alunos devem aprender a pensar e a decidir por si próprios. A possibilidade de dizerem "não" algumas vezes faz parte desse processo.

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capacidade de automotivação. À medida que os alunos vão crescendo, os educadores devem procurar que a motivação seja cada vez mais interna (que provenha deles próprios). Quando são menores os motivos são extrínsecos, mas na medida em que crescem, vão decidindo e agindo por vontade própria.

Se queremos alunos responsáveis, temos que correr o risco da liberdade. Somente sou responsável por aquilo que decido com liberdade (o que não significa ausência de ajuda ou conselho). Liberdade e responsabilidade Os alunos não ficam responsáveis de repente, ao completarem 16 ou 18 anos. A aquisição da virtude da responsabilidade é um processo que ocorre pouco a pouco, durante muitos anos, se aproveitarem as ocasiões que são oferecidas para atuar com liberdade e exercitar a responsabilidade. A liberdade nos faz capazes de escolher o bem, a responsabilidade de colocar em prática essas decisões e de cumprir os próprios deveres da melhor forma possível, com autonomia e iniciativa. Alguns indicadores de responsabilidade       

realizar tarefas sem que se necessite lembrar isso a todo momento; saber responder pelo que faz; não coloca a culpa nos demais sistematicamente; ser capaz de escolher entre diferentes opções; poder tomar decisões diferentes daquelas que as pessoas tomam em grupos; fazer o que diz que vai fazer; reconhecer erros pessoais sem necessidade de justificativas complicadas.

E. VIRTUDE DA ALEGRIA Podemos considerá-la como a virtude humana síntese e resumo de todas as demais virtudes. A alegria constitui o fim da educação e o fruto de uma vida virtuosa. Encontra-se envolvida com todas as demais virtudes: aproxima o homem de seu fim, da sua perfeição, da felicidade possível no tempo. A alegria é a complacência no bem e qualquer bem pode ser fonte de alegria. Essa virtude tem muitas e diversas manifestações, segundo os bens aos quais de refira. Assim, podemos falar da alegria de conhecer, de trabalhar, de contemplar, de conviver e compartilhar, de viver. Por isso podemos dizer que, de certa forma, a própria vida é uma geradora constante de alegria. A alegria se aprende e essa aprendizagem é uma 261 Solar Colégios


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das tarefas primordiais da educação. Para "ensinar alegria" é muito importante vivê-la. Nós, educadores, somos mediadores entre a criança e os valores. A tendência natural do homem à felicidade e à alegria supõe um otimismo radical e realista, fundamentado na ideia de que no mundo há algo bom, valioso, que é possível e conveniente alcançar. Trata-se de um otimismo realista. Somente existe verdadeira alegria se aceitamos sinceramente a realidade. Alguns conselhos para conquistar um ambiente alegre a) Aprender a desfrutar das coisas simples e cotidianas que estão presentes na nossa vida: conversa, descanso, trabalho, natureza, amizade...Ser conscientes de que a busca descontrolada e ansiosa pelas satisfações (em geral materiais) conduz à perda do equilíbrio interior. b) Sentido positivo diante das pessoas e acontecimentos. É o oposto ao derrotismo e às atitudes deprimentes e desesperançadas, à visão negativa da vida, que conduz à inquietude e ao desassossego. Encontraremos alegria quando nos esforçarmos por descobrir o positivo que sempre (e em maior proporção que o negativo) existe nas pessoas e situações com as quais nos deparamos. c) Aceitar as próprias possibilidades e limitações. Viver com alegria o que temos, sem renunciar a melhorar, mas sem ter atenção centrada quase que exclusivamente no que nos falta. Não perder tempo com lamentações ou queixa inúteis sobre o que já aconteceu ou é irremediável: aceitar cada filho pelo o que é e como é. d) Fazer de nossas ocupações habituais fonte de alegria. Nosso trabalho, seja qual for, é a expressão da capacidade e aporte à sociedade em que vivemos. É um dos âmbitos junto com o brincar e o amor - principais da vida humana, e, portanto, uma das fontes de satisfação e alegria mais importantes. e) Bom humor na convivência. Estar bem na família e na escola. Rir em família com frequência e contagiar a alegria. Criar oportunidades de "passar bem" todos juntos: almoços especiais, festas, passeios. Não se trata de fazer coisas muito especiais, mas de fazer especial o estar juntos, por exemplo, assistir a um vídeo em casa, com petiscos e refrescos, comemorar aniversários em sala de aula ou as conquistas das equipes esportivas do colégio. A virtude do otimismo Não é fechar os olhos à realidade, falsificando-a; nem fazer de conta que nada acontece, de forma ingênua. O otimismo supõe ser realista e buscar o positivo, ao invés de centrar-se nas dificuldades. Quando o otimista se centra nas dificuldades, é para ver que oportunidades se escondem nelas. Levar em conta as dificuldades, mas saber que, muitas vezes, são superáveis. 262 Solar Colégios


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Todos nós necessitamos viver em um ambiente de alegria. O ambiente de alegria em família ou em sala de aula provém, em parte, de que os pais e professores apoiem-se nos pontos fortes das crianças, estimulando-as nas suas capacidades e possibilidades. Este ambiente deve mostrar com clareza o carinho, que não significa superproteção. Desse modo, aprenderão a confiar em si mesmos. Às crianças capazes e confiantes em si mesmas, convém colocar metas maiores e ajudar que aprendam a encarar um "fracasso" com alegria, descobrindo o positivo de uma situação negativa. As crianças com baixa autoestima ou que fracassam frequentemente, precisam de mais ocasiões de êxito, para conseguirem, por meio do esforço e do apoio de pais e professores, o que se haviam proposto. Tratar os alunos com atitude positiva significa:    

parabenizar o que está bem feito; indicar o que se pode fazer melhor; reconhecer o esforço e as conquistas obtidas; animar para que construam uma imagem real e positiva de si mesmos e reforcem os sentimentos de eficácia e segurança.

A atitude positiva e a autoestima Essa atitude promove uma autoestima equilibrada. Uma pessoa com uma autoestima adequada: tem sentimentos e atitudes positivas de si mesmo e dos demais. É mais fácil que seja uma pessoa sorridente, acolhedora, otimista, capaz de grandes ideais e projetos. Atentar para o fato de que autoestima e soberba são diferentes. Podemos potencializar a autoestima das crianças fazendo que se sintam importantes e necessárias na família e na escola. Como melhorar a autoestima das crianças?  O amor é incondicional Reconhecer o positivo de uma pessoa ajuda-a a sentir-se bem consigo própria e a motiva a aceitar o esforço que supõe a aprendizagem, já que sente-se segura de sua capacidade. O excesso de elogios, sem propósito, pode fazer com que o motor das ações do aluno deixe de ser interno, para visar à recompensa externa, em forma de elogio.

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Os filhos devem saber-se queridos por eles próprios, pelo fato de existirem, independentemente de qualidades e aptidões e, por conseguinte, de suas notas e resultados escolares.  Primeiro, o positivo. Em qualquer filho, o positivo sempre é maior que o negativo. Para darmos conta disso, pode ser interessante fazer uma lista das qualidades positivas do filho. Frequentemente podemos ficar demasiadamente atentos para o que o filho faz mal e perdemos de vista as coisas interessantes, deliciosas, inteligentes e amáveis que faz.  Enviar mensagens positivas. Um sorriso é uma mensagem positiva. Dizer que gosta da forma como fez algum trabalho também o é. Definitivamente, é necessário dar-se conta do positivo e dizê-lo. Não se trata de elogiar por elogiar, sem moderação nem motivo. Os elogios mais eficazes são os que se referem a atuações concretas que ajudam as crianças a desenvolver uma maior consciência do bem e do mal. No tom de voz, na expressão facial, pode-se transmitir uma mensagem mais clara do que com as palavras. Cumprimentam-se os filhos com apreço, alegria e carinho na voz, o filho reconhecerá a sua alegria, que será para ele, fonte de segurança e de satisfação. Também com palavras é possível fazê-los ver o quanto somos contentes de tê-los e de estar com eles. Se continuamente qualificamos como maus e errados por cometerem erros, acabarão convencidos de que não são capazes de fazerem bem as coisas.  Dedicar a cada filho um tempo especial. É um tempo para ficarem juntos, não para dar lições ou repassar o comportamento dos últimos dias. Trata-se de ir a algum lugar do qual se goste e passar um tempo juntos, falar de coisas que o filho ou filha queiram. O trato pessoal e frequente é um gerador de confiança.  Reconhecer o esforço, o interesse, a dedicação. Mais que o resultado essa atitude é especialmente eficaz com crianças perfeccionistas ou com muito baixa autoestima, que pensam que fazem mal as tarefas que lhes são atribuídas.  Ensinar a converter as queixas e críticas em sugestões ou pedidos. Essas crianças podem ter uma imagem negativa de si mesmas e são muito autocríticas. Quando aprendem a pedir e a sugerir, a tensão ficará reduzida.  Animar para que tenham iniciativas e ajam por conta própria. 264 Solar Colégios


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Uma das grandes alegrias da infância é descobrir algo e saber-se capaz de agir por si mesma. Se a criança pode buscar uma resposta, não convém dá-la. Pelo contrário, se a damos é por que pensamos que eles não podem fazer algo bem e não lhe permitimos tentar; favoreceremos, desse modo, as dúvidas sobre sua própria capacidade, o que gera passividade e retraimento.  Escutar os filhos sem julgá-los continuamente, Escutar com o coração, com interesse sincero, sem aconselhar ou comentar continuamente o que dizem. Evitar os "interrogatórios".  Descobrir a excelência e apoiar-se nos pontos fortes. Descobrir suas qualidades especiais e informá-los sobre elas: "Você faz desenhos encantadores". Apoiar-se em pontos fortes: desejo de agradar aos seus pais, boa disposição para colaborar. etc. para conseguir que queiram melhorar em algum aspecto concreto.  Premiar, mais do que castigar. Às vezes, é necessário punir os filhos por transgredirem certas normas ou regras, porém, com mais frequência e justiça, devemos reconhecer as boas atuações, que sempre são mais numerosas. Não se trata de premiar com algo material, o que normalmente desvirtua os motivos do bom comportamento, mas de agradecer e reconhecer o bem feito. Um sorriso e umas palavras afetuosas são, muitas vezes, uma magnífica recompensa.  Exigência desproporcional. Deve haver equilíbrio entre o que a criança sabe e pode fazer, de modo que, com esforço, e, ás vezes, com ajuda, possa realizar. Não convém pedir-lhes tarefas ou responsabilidades complicadas, sem explicar-lhes bem o que se deve fazer e o que se espera deles.

F. VIRTUDE DA PIEDADE: HÁBITOS DE VIDA CRISTÃ A piedade se transmite, fundamentalmente, pelo exemplo. Os alunos devem ver seus pais e professores rezando com piedade sincera. O sentimento de confiança em Deus Pai é uma das principais atitudes religiosas. Pode-se despertá-lo prontamente nas crianças, quando a presença protetora dos pais lhes infunde segurança e confiança. Antes de incorporá-la no 265 Solar Colégios


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Projeto Snipe, as crianças devem tê-la aprendido de seus pais e professores da Educação Infantil, a rezar com pequenas frases de oração a Jesus, a Maria e a seu Anjo da Guarda. Convém reforçar a oração espontânea e confiante, com diálogos simples com Deus Pai, com Jesus e com Maria e acostumá-los a rezar ao acordar e ao deitar, ao começarem as aulas e ao terminá-las. Ensinar-lhes fórmulas simples, fáceis de memorizar, como oferecimento de obras, benção dos alimentos. Ensinar o sentido das palavras para que compreendam o que dizem. Deve-se, também, educar os sentimentos religiosos por meio de gestos simples: ajoelhar-se para rezar, beijar o crucifixo, fazer o sinal da cruz etc. Pode-se começar a desenvolver a piedade eucarística nas crianças mediante o amor a Jesus no Sacrário, ajudando-os a tomar consciência da presença misteriosa, porém real, de Jesus Sacramentado. Pode-se fazer visitas a Jesus para falar com Ele, dizer a Ele que Lhe queremos. Também é natural tratar com afeto a Nossa Senhora e a ter devoção à imagem da Virgem de seu quarto e de sua sala de aula. Aos seis anos, a consciência moral da criança começa a ser despertada, ou seja, começa a compreender que certas ações próprias agradam ou ofendem a Deus. Os pais e educadores devem ter uma grande preocupação por formar a consciência das crianças que, normalmente se estabelece por volta dos sete anos. Isso permitirá julgar a bondade ou malícia de seus atos. Por isso, convém inicia-los na necessidade de sentir um certo pesar por suas más ações, sem oprimi-los ou produzir um sentimento esmagador de culpa por suas pequenas faltas. Deve-se empregar um tom muito positivo, falar do carinho e da bondade de nosso Pai Deus e de como devemos procurar dar a Ele alegrias ao invés de desagrados, ou seja, orientá-los mais no sentido do amor do que no do temor. Assim aprenderão, pouco a pouco, o significado do pecado, do arrependimento e do perdão, sem cair nos escrúpulos, evitando produzir um sentimento esmagador de culpa. Que saibam distinguir o que é pecado e o que não é e a diferença entre pecado mortal e venial. Sete e oito anos são idades apropriadas para introduzir a criança, de maneira orgânica, na Igreja, por meio da preparação imediata à confissão e à comunhão, procurando facilitar-lhe a recepção consciente e frequente desses sacramentos. É importante fazê-los compreender a importância da Santa Missa dominical, de forma que entendam que em qualquer plano ou atividade familiar de fim de semana, leva-se em conta, em primeiro lugar, o cumprimento do preceito. Nessa idade, como já se pode prepará-los para a confissão, ensiná-los a confessar com frequência e regularidade, de forma que adquiram esse hábito com simplicidade e naturalidade, ajudando-os a descobrir o sentido positivo e alegre do 266 Solar Colégios


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sacramento da penitência. É um momento idôneo para começar a fazer um breve exame de consciência diário e uma direção espiritual periódica. A formação moral deve ter um sentido positivo, reafirmando a importância de se fazer o bem. Ao expor a lei moral e os mandamentos deve-se destacar a força e a beleza da vida cristã que reside no amor e na misericórdia divinos. Mediante o exemplo de piedade dos pais e professores, potencializar os hábitos de vida de piedade iniciados em etapas anteriores para enraizar esses hábitos que irão cristalizarse em estilo de vida e em humor próprios de quem confia em Deus e trata de agradálo. A educação na etapa do Fundamental I é um momento especialmente propício para a aprendizagem dos conceitos fundamentais da doutrina. Procurar não cair em mera memorização. Esses conceitos devem tocar na inteligência e no coração da criança. Esses são anos propícios para solidificar a religiosidade, dar as bases doutrinais que devem deixar marca profunda na alma. Nesse período, em que se desperta a admiração pelas pessoas, pelo herói, interessa suscitar a admiração e o amor por Cristo, que é a Suma Bondade e que morreu na Cruz para nos salvar. Ele é nosso exemplo, a figura mais atrativa no meio de tantas que possam nos apresentar. A sociabilidade, que desperta e impulsiona a buscar amigos especiais, é um momento adequado para falar-lhes de Cristo Amigo. A Comunhão é o encontro com Cristo, o melhor Amigo, que nunca abandona nem atraiçoa, que sempre perdoa porque nos quer. Interessa ensiná-los a falar com Jesus após a Comunhão, com palavras ou orações simples. A visita ao Santíssimo traz o sentido de estar junto ao Amigo e falar com Ele, tratá-Lo. Alguns dos "por quês" infantis serão ocasião próxima para falar-lhes de Deus com sentido sobrenatural de múltiplas incidências. Embora ainda não sejam capazes de compreender o sentido profundo de alguns conceitos religiosos, não podemos deixar de dizê-los. A catequese habitual, tanto no âmbito escolar - por meio das aulas de religião - quanto no familiar, apresenta-se como modo mais adequado para apresentar-lhes a doutrina cristã básica. Outros pequenos hábitos de piedade que os alunos podem adquirir nessa etapa são: oferecer seu trabalho a Deus, rezar três Ave Marias antes de dormir e rezar o Santo Rosário (o terço) em família.

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G. VIRTUDES HUMANAS E AÇÕES INCIDENTAIS As Ações Incidentais sugeridas para o Projeto Snipe influenciam na criação do ambiente escolar e na formação de hábitos diários de vida. É fácil perceber que ações como "guardar o material quando se termina de brincar ou trabalhar", “limpar os instrumentos de trabalho após o uso”, "não jogar papel no chão", são atitudes que contribuem para formar hábitos de ordem e de determinação para fazer o que é preciso fazer. Pedir as coisas “por favor", "levantar a mão ou fazer outro sinal convencionado, para indicar que se quer falar em sala", "evitar empurrar os companheiros", "dividir o material escolar", também são ações da vida infantil que contribuem na formação de hábitos de generosidade e colaboração, base de toda a vida social. Outras ações como "manter os cadarços do tênis amarrados", "evitar roer as unhas", contribuem para a formação da autoimagem e do sentimento inicial de dignidade que começa a manifestar-se no porte pessoal. Se as ações foram tipificadas em três categorias, os hábitos que se manifestam nesses atos, também podem se referir aos mesmos três tipos de atividades. Alguns hábitos referir-se-ão ao uso das coisas, outros à imagem e conceito de si mesmo, e outros, finalmente, às relações entre pessoas. Sem dificuldade pode-se identificar os hábitos de ordem e de determinação necessários para usar e modificar, se for o caso, as coisas; os relativos ao relacionamento social, como os de justiça e generosidade, os de colaboração com os demais; e, por último, os relativos ao decoro e à autonomia pessoal. As motivações fundamentais da pessoa da criança O autoconceito ou autoestima influencia no comportamento: quando a criança se considera inepta ou má, espera fracassar e atua mal em consequência. A segurança pessoal, em contrapartida, proporciona-lhe energia para esforçar-se por conseguir novas metas e atua bem em consequência disso. Os feedbacks positivos que fazemos das crianças contribuem para a forja da autoestima com tanta força que até as atitudes negativas que a criança tem de si mesma, podem transformar-se em autoestima, se lhe é oferecido um clima de aceitação. Não se trata de enganá-las, mas de criar situações nas quais atinjam os objetivos propostos e confiem mais em si mesmas e em seus pais e professores: tratase de combinar o êxito em pequenas coisas com o apoio em momentos de fracasso. Sugere-se apoiar-se nas qualidades da criança estimulando-a de acordo com suas capacidades, sem incentivar atitudes de competição com outras. Pelo contrário, uma das motivações fundamentais da pessoa da criança é a colaboração com os 268 Solar Colégios


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demais: participação em jogos e brincadeiras, trabalhos, ajuda, em um clima de comunicação cordial. Um primeiro e muito importante sinal de estima, de valor e de apreço que se tem às crianças é o tempo e a atenção pessoal que se lhes dedica a cada dia. Devemos esforçar-nos para sermos ouvintes ativos, interessados pelo que nos dizem. A criança, mais do que saber, deve-se sentir continuamente querida. A segurança se desenvolve em um ambiente de confiança, em que inexista o medo de ser julgado. Para que as crianças sintam essa confiança, nossas palavras devem coincidir com os gestos e expressões, que as crianças captam com especial rapidez. Procurar evitar os juízos sobre a pessoa da criança: não é má, ainda que tenha feito algo mal; Não sabe fazer tal coisa, mas ainda não sabe fazê-la, mas logo aprenderá. Para as crianças desta idade, a confiança em seus pais e professores é essencial.

Principal influência das Ações Incidentais Sem a pretensão de tipificar a realidade, é possível estabelecer uma relação entre os diferentes tipos de Ações incidentais, os diversos hábitos da vida diária e as motivações fundamentais da pessoa humana. O quadro abaixo não deve ser interpretado de maneira rígida, como se o uso das coisas exercesse influência somente no hábito da ordem e no sentimento de segurança. É preciso entender as relações do quadro como relações principais, não únicas ou exclusivas.

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Condições do ambiente

Comodidade material (atividades eficazes)

Comunicação cordial

Sensação de bem-estar

Hábitos     

Ordem Laboriosidade Esforço Resiliência Limpeza e organização no material de uso diário

 Justiça  Obediência  Respeito às normas de convivência  Generosidade  Responsabilidade  Companheirismo  Solidariedade

 Amabilidade  Limpeza pessoal  Educação no relacionamento  Alegria  Iniciativa

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Motivações

Segurança

Colaboração

Autoestima


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Capítulo XII - OS PAIS DOS ALUNOS Já se tratou anteriormente do protagonismo dos pais na educação dos filhos e como o colégio pode e deve prestar-lhes assessoramento e estímulo para que desempenhem com qualidade a sua tarefa de primeiro e principais educadores. É especialmente urgente conscientizar os pais da responsabilidade como educadores, de modo que haja cada vez menos casais que, por sentirem-se despreparados para enfrentar essa tarefa, despreocupam-se e delegam essa função ao colégio. O que é verdadeiramente importante, por conseguinte, não é "integrar" os pais ao colégio, mas ajudá-los a recuperar o protagonismo na educação dos filhos, prestando-lhes o assessoramento de que necessitem. Não queremos dizer com isso que dedicar tempo e esforço para impulsionar a participação dos pais na vida do colégio careça de interesse, mas que isso deve estar em segundo plano.

A. O PRECEPTOR E OS PAIS DOS ALUNOS Os pais escolheram e promoveram o colégio porque desejam uma boa educação para os seus filhos, porém nem sempre sabem o que é educar, nem que esta é sua missão primordial. Muitas vezes, será preciso explicar que o colégio prolonga a ação educativa da família, mas não pode substituí-la. O preceptor precisa ganhar a confiança dos pais que participarão de bom grado das entrevistas e aceitarão conselhos, se perceberem que seu filho é querido, conhecido, compreendido e ajudado pelo preceptor. Isso transparecerá pelo respeito e carinho com que seu filho falará do preceptor. As entrevistas de assessoramento familiar ocorrem no colégio. O preceptor acaba conhecendo o ambiente familiar através das conversas com os pais e o aluno. É melhor não aceitar convites para almoços ou jantares na casa dos alunos que atende. Na maior parte dos casos, convém recusar, com muita delicadeza, esses convites que, normalmente, fazem-se por cortesia, mesmo quando insistem. O preceptor pode visitar um aluno doente, quando falta ao colégio por vários dias. Logicamente, combinará com antecedência e pode ir acompanhado de outros alunos de classe, se não houver perigo de contágio. A preparação cuidadosa da entrevista é uma manifestação elementar de profissionalismo e de respeito do preceptor com os pais. Munir-se dos dados mais 271 Solar Colégios


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recentes sobre o aluno e de uma pauta guia dos assuntos que devem ser tratados. O preceptor conhece, por meio dos pais, alguns dados imprescindíveis: como é o aluno, comportamento em casa, situações familiares que possam influenciar na sua formação, etc. Por sua vez, dá a conhecer aos pais a atitude de seu filho no colégio, informa sobre os objetivos educativos do momento. Essa colaboração permite esboçar o projeto educativo, de acordo com a capacidade e situação do filho. Desta forma, quando o preceptor conquista a confiança dos pais, pode realizar um autêntico trabalho de assessoramento familiar, ajudando-os a conseguir em seu lar, um clima que lhes facilite educar os filhos, a resistir às tendências gerais de sentimentalidade e falta de sentido cristão que ocorrem na sociedade e a decidir a ir contra essa corrente, conscientes de que é o único sistema para assegurar a felicidade do filho. O preceptor deve ser muito delicado, para chegar a um conhecimento completo da família. Respeitar a intimidade e evitar os pormenores desnecessários são atitudes essenciais ao preceptor que deve procurar ser o mais objetivo possível, evitar as veemências e levar em conta que, normalmente, quem conhece muito bem o aluno, com todos os antecedentes, são os seus pais. Por muito que pareça conhecê-lo muito bem o preceptor deve ter prudência de escutar primeiro os pais antes de falar e, abster-se de opinar quando não se tem dados seguros. O diálogo com os pais deve ter sempre um enfoque positivo, falar sobre o que está bem e o que pode melhorar, sempre com esperança. A conversa deve ser presidida pela sinceridade e pela fineza, para nunca dar a impressão de que se quer dar lições ou de que se está acima dos pais. A entrevista deve estar preparada pelas duas partes, para que não perca eficácia. É conveniente ver os pais por ocasião das avaliações finais, no princípio dos períodos escolares, ou ao menos, uma vez a cada trimestre. Deve-se fazer o possível para que participem pai e a mãe. Insistir com delicadeza para que os dois estejam presentes. As entrevistas ocorrerão preferencialmente em um escritório, sala de visita ou hall em volta de uma mesa, sentados em poltronas altas. Evitam-se bancos baixos ou "infantis". Quando se atende somente o pai, no caso de uma preceptora, ou somente a mãe, no caso de um preceptor, deve-se atender em local aberto (no hall, por exemplo) ou em uma sala com a porta aberta, se não for de vidro. São medidas de prudência ditadas pela experiência. Diante da pressão contrária do ambiente, a eficácia do trabalho dependerá, em boa parte, da alta qualidade profissional e humana dos meios empregados: cursos de orientação familiar, sessões informativas, ciclos de conferências, etc. O preceptor deve 272 Solar Colégios


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assegurar-se de que conhece bem os critérios sobre os temas éticos mais debatidos: fidelidade no matrimônio, paternidade responsável, sentido materialista da vida, despreocupação prática pela formação dos filhos, drogas, etc. Será bom recomendar aos pais livros, folhetos, vídeos que interessem a sua situação e comentar o conteúdo desses materiais em sucessivas entrevistas. É especialmente necessário incentivar a formação doutrinal-religiosa dos pais mais jovens que, em muitos casos, desconhecem os conteúdos mais elementares da fé. Quando se tem a certeza de que uma família não está vivendo em casa algum aspecto básico da formação que faz parte do currículo do colégio, é necessário esclarecer a situação, para evitar danos ao aluno submetido à confusão de critérios divergentes na escola e na sua casa. É o caso dos pais que não vão habitualmente à Missa aos domingos ou que levam para casa revistas ou vídeos inconvenientes; ou que permitem aos filhos planos, presentes ou caprichos desproporcionais; ou que não atendem de fato aos filhos, pelas frequentes e aparentemente pouco justificadas ausências do lar; ou aos que passam por crises familiares ou no casamento. Nessas situações, não se pode atuar com pressa. Na maior parte dos casos os pais vivem assim simplesmente porque não sabem viver de outra forma, pois ninguém lhes ensinou. É preciso dar-lhes uma base mínima de formação para que possam entender alguns valores que, talvez, não adquiriram na juventude. O preceptor precisa ter tato, contar com tempo e com o assessoramento do coordenador ou diretor do colégio para decidir, em cada caso, como ajudar essa família. No caso de crise matrimonial, deve-se ser especialmente prudente, sem, de forma alguma posicionar-se a favor de uma das partes. É importante que o preceptor esteja presente nas sessões gerais e nos demais meios de formação que o colégio organiza para os pais. Essas ocasiões oferecem a oportunidade de aumentar a amizade e comentar brevemente algum ponto de interesse. Os temas que podem ser tratados nas entrevistas com os pais são muito variados. O preceptor não pode limitar-se a comentar as notas do aluno ainda que aparentemente, seja esse o único assunto que preocupe os pais. Para conseguir um conhecimento amplo da família que permita uma boa assessoria educativa, será preciso adquirir prestígio diante dos pais: mostrar-lhes que conhece o seu filho e lhe quer bem. Preparar-se bem para a entrevista, comentar os resultados do plano traçado na conversa anterior, etc. Entre outros assuntos, tratar dos: a) Objetivos combinados na entrevista anterior. Falar sobre os meios colocados para alcançá-los e os resultados obtidos. Analisar os pontos mais destacados, desde a última entrevista. Comentar sobre o tema de formação vigente no colégio naquele período.

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b) Resultados acadêmicos. É importante tratar esse ponto com profundidade, tanto pelo interesse dos pais, como pela importância para a formação do aluno. Ressaltar o interesse em ajudar o aluno a ser bom profissional, a ter espírito de serviço, sem induzi-lo uma mentalidade competitiva que leva a atitudes não solidárias. c) Formação humana. Comportamento em casa e no colégio. Caráter do aluno: como ajudá-lo a desenvolver as virtudes humanas e a corrigir seus defeitos. Exemplos práticos que permitam aos pais perceberem o que queremos dizer: não é suficiente recomendar que ajudem o filho a ser muito reto, porque muitos ignoram o que é a retidão e quais são as suas manifestações na vida diária: detalhes de delicadeza no trato mútuo e de boa educação: agradecer, pedir as coisas “por favor”, não levantar a voz, comer de tudo e evitar caprichos, forma de vestir-se e de falar. d) Atitude educativa dos pais. Possíveis defeitos: superproteção e mimos, ou pelo contrário, rigidez e exigência excessivas. Exemplo dos pais nos comentários e atitudes referentes ao trabalho, às relações sociais e de amizade, à virtude da justiça, críticas e queixas. Tempo que dedicam aos filhos: atenção particular a cada um, para conversar desde pequenos, dando importância ao que para eles tem, ainda que, objetivamente, pareça "coisa de criança". Dessa forma, ganharão a confiança dos filhos que continuarão a recorrer aos pais quando, mais adiante, tiverem preocupações "importantes". e) Unidade com o colégio. Disposição para colocar em prática na vida familiar os critérios básicos que presidem a atividade educativa: participar das reuniões, colaborar nos eventos, falar, com lealdade, com o preceptor o que pode melhorar no colégio. Confiar nos professores e reforçar a autoridade deles em casa, pelo modo sereno e responsável como ouvem as possíveis críticas que os filhos fazem dos professores. f) Hobbies e interesses. Uso da televisão e vídeos. Tratar com detalhe esse aspecto, para sugerir aos pais modos que incentivem boas ocupações, em particular a leitura. Sugerir para eles um plano de uso da televisão que seja verdadeiramente educativo. Nesse ponto é frequente que os pais cedam com facilidade para conseguir com que os filhos fiquem quietos. Selecionar os programas e ver televisão com os filhos. Selecionar vídeos, revistas e publicações que entram em casa. g) Amigos. Emprego do tempo livre. Participação nos clubes juvenis. Amizades e ambientes que os filhos frequentam: influência em sua formação. Planos especiais de aprendizagem de idiomas ou outra habilidade. Cultivo de hobbies, planos para o verão ou férias: participação em acampamentos, convivências, cursos de inglês etc. Saídas com os filhos: excursões e visitas culturais. h) Valores morais e vida cristã. Exemplo dos pais. Ambiente de sobriedade, virtudes humanas e obras de misericórdia em família. A prática religiosa em casa: Missa 274 Solar Colégios


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dominical e frequência aos sacramentos. Costumes que podem ajudar na formação espiritual dos filhos e na piedade: abençoar os alimentos, rezar as orações da noite e o oferecimento de obras pela manhã etc. i) Formação dos pais. Assistência aos meios de formação que o colégio oferece. Recomendar leituras que melhoram a função dos pais como primeiros educadores. Da mesma forma que o preceptor deve guardar o segredo de ofício ante os pais sobre as questões pessoais que o aluno lhe tenha confiado, deve viver igualmente esse silêncio em relação aos assuntos da intimidade familiar que os pais relataram na entrevista. Nunca aceitar presente pessoal dos pais ou dos alunos que atende: deve recusá-lo com cortesia e firmeza, fazendo-os ver que é uma norma que sempre se viveu no colégio e que convém manter, sem exceção. Se, por acaso, receber algum presente que não seja oportuno devolver, deixá-lo com o diretor do colégio, que decidirá sobre o destino do presente. Se os pais desejam doar algo ao colégio, podem colaborar com o fundo de bolsas, presentear com algum objeto de culto para o oratório, etc. Ainda que haja muita confiança, não se pode admitir críticas estéreis sobre o colégio ou sobre algum professor. Se isso acontecer, o preceptor defenderá a retidão de quem tenha sido criticado, fará os pais perceberem que talvez não tenham visto a situação por todos os ângulos e agradecerá a informação, que levará ao conhecimento do interessado ou da direção, para melhorar o que se deva.

B. A FORMAÇÃO PERMANENTE DOS PAIS O colégio oferece aos pais, além das entrevistas de assessoramento familiar com o preceptor, um programa completo de educação familiar que permite aprofundar as diferentes facetas da personalidade dos filhos e na atuação deles como pessoas e como pais:      

Sessões gerais; Aulas permanentes; Cursos intensivos; Atividades de formação pessoal; Entrevista com o Capelão; Sessões culturais e oficinas.

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Sempre que se organizam atividades, devem ser devidamente preparados os seguintes aspectos:   

Deve haver um responsável que coordene a tarefa a realizar; é necessário preparar antecipadamente os materiais necessários; o local de trabalho deve estar em ordem.

É uma atividade que deve dar prestígio ao colégio. As Sessões gerais As sessões gerais são reuniões trimestrais com todos os pais de uma classe, na qual se trabalha sobre um aspecto concreto da educação dos filhos nessa idade e informa-os das atividades escolares e assuntos que afetem o conjunto de crianças. É muito conveniente tomar nota das observações e sugestões dos pais sobre qualquer tema da vida escolar. As Aulas permanentes São sessões periódicas (geralmente uma por mês) para pais cujos filhos estudam uma determinada etapa educativa. A assistência contínua a esse tipo de sessão facilita a necessária coesão família-escola e é ocasião de refletir sobre como se está educando os filhos e o que se pode fazer para melhorar essa tarefa. As sessões de aula permanente podem incorporar uma discussão, em que um professor ou pai encarregado modera as intervenções dos pais assistentes, que consultam suas dúvidas com o palestrante, manifestam suas opiniões e oferecem sugestões sobre os temas tratados na reunião. Podem ter formatos muito distintos, como:  

ciclo de palestras educativas, preferivelmente seguidas de discussão; mesa redonda sobre um tema concreto com vários especialistas.

Cursos intensivos São programas intensivos de educação familiar, normalmente abordam um momento evolutivo concreto. São dirigidos por professores especialistas em Orientação Familiar e apoiados na análise de situações familiares. São muito úteis para que os pais assistentes aprofundem a sua missão de educadores. Podem desenvolverse de um modo intensivo em um fim de semana ou distribuídos em 7 ou 8 semanas seguidas. Atividades de formação pessoal A Capelania do colégio organiza retiros espirituais para os pais que desejem essa formação. Os pais ou mães, se quiserem, podem manter entrevistas pessoais com os sacerdotes do colégio. 276 Solar Colégios


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Sessões culturais e oficinas A escola deve ser um foco de cultura para a família. É uma experiência muito positiva organizar ciclos, conferências, mesas redondas, jantares, convivências para os pais de alunos. Em algumas escolas femininas realizam-se "oficinas de materiais". Um grupo de mães ajuda o colégio e colabora com a equipe de professoras nas seguintes atividades:  

plastificar gravuras de contos usadas nas atividades de linguagem, na introdução dos centros de interesse, etc.; preparar fantasias e adereços para festas de Natal ou fim de ano;

Os pais também encontram muitas possibilidades de colaboração com o colégio:    

decorar áreas de externas, enfeitar com plantas, etc. acompanhar as crianças em visitas culturais e romarias; facilitar visitas culturais a variados locais de trabalho, etc. dar alguma palestra aos alunos sobre aspectos interessantes da profissão que exerce.

C. CASAIS ENCARREGADOS DE CLASSE (CEC) Corresponde a todos os pais escolher uma educação congruente com seus ideais de vida e fixar os objetivos para tais convicções. Os pais devem envolver-se ativamente nesse direito-dever. No entanto, é oportuno que um grupo de pais assuma esta responsabilidade, de forma estrutural, e estenda essa ação a todas as famílias do colégio: são os CEC - casais encarregados de classe. Sua função primordial é conseguir, por meio de um contato assíduo com as famílias da turma, o progressivo envolvimento no processo educativo de cada filho: fixação de objetivos, acompanhamento, dedicação de tempo familiar etc. Nos colégios deve haver pelo menos um CEC por classe, ainda que possa haver mais de um. Os CEC são nomeados pela Direção do colégio junto com a Associação de Pais, para um ano letivo e podem ser reeleitos durante todos os períodos que se considerem oportunos. Perfil do CEC 

disponibilidade pessoal e "real": deverão dedicar uma tarde da semana. Uma para o colégio, as outras, para tratar as famílias.

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        

ter certa experiência no colégio e ter demonstrado atitude eficaz e positiva na colaboração família-colégio (interesse pela preceptoria, preocupação pelas atividades do colégio, assistência às sessões informativas...) ser bom comunicador: saber dialogar, ser cordial, otimista... ter certa autoridade moral sobre as famílias; não ter, se possível, filhos problemáticos; ter iniciativa para conhecer e tratar as outras famílias; assumir a missão e se comprometer a desenvolvê-la; conhecer e ser conhecido por todas as famílias da sua turma; ter alto nível de sociabilidade e gostar da relação social; ter ambos os cônjuges possibilidade de participar; manter entrevistas periódicas com o PEC.

Função dos CEC         

adquirir máxima capacitação possível, que o colégio lhe proporcionará; realizar entrevistas periódicas com as famílias que lhes sejam designadas; dispor de algum sistema de controle para as entrevistas com os casais designados; impulsionar a realização das entrevistas de assessoramento educativo com o preceptor; programar atividades com as famílias, dentro e fora do colégio; manter reuniões periódicas com a Direção do colégio e os representantes da Associação de Pais. resguardar, sempre, o segredo natural no exercício do seu encargo; atender prioritariamente os pais novos e dando informação e orientação; transmitir à Direção do colégio as queixas e insatisfações das famílias e colaborara na melhor forma de resolvê-los.

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Capítulo XIII - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS E TEMPOS

A. ORGANIZAÇÃO MATERIAL DA AULA Para que os alunos dessa etapa possam desenvolver ao máximo todas as suas capacidades, é necessário encontrar, no colégio, um ambiente rico em estímulos e afeto. A organização dos materiais é parte integrante desse ambiente educativo de que a criança necessita. Uma classe bem organizada deve ser um mundo cheio de estímulos, as paredes cheias de vida. Todo o material de aula estará ao alcance das crianças em um local previsto e conhecido. Um mural ou uma cortiça onde se exponham os trabalhos dos alunos não deve faltar na sala de aula. Para evitar que as classes fiquem saturadas de material - só deve estar o que as crianças vão usar pela temporada - interessa dispor um local pequeno ou um armário grande que cumpra a função de armazém de recursos materiais. A ordem e a catalogação desse material facilita o uso frequente e eficaz. Convém que a equipe educativa estabeleça turnos e horários de utilização (por exemplo, um ou dois dias por semana) para o material de uso compartilhado. Assim, se faz possível aproveitar ao máximo os recursos disponíveis. Os professores devem zelar pela adequada conservação dos materiais didáticos e que os defeitos se reparem com prontidão. A equipe educativa proporá, quando necessário, a aquisição ou atualização do material pedagógico.

B. ORGANIZAÇÃO DO TEMPO. HORÁRIOS No horário, estarão previstas todas as atividades que se realizarão e o tempo que se empregará para executá-las. As atividades devem ser variadas e de curta duração, o que evitará aborrecimento e facilitará os pequenos esforços de atenção. Progressivamente, as atividades exigirão um maior tempo de atenção continuada. Ao elaborar o horário, convém levar em conta:

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 

As dificuldades: as limitações espaciais, a ocupação das salas multiuso ou do ginásio, o descanso de outros alunos, a disponibilidade dos professores; As vantagens e os recursos com os quais se conta: possibilidades de acesso a outras dependências, localização de laboratórios, possibilidade de cultivar uma pequena horta etc.; A alternância de atividades de que necessitam as crianças dessa idade:  tempo entre as atividades de classe e trabalho pessoal;  entre os momentos de exploração e os de assimilação de informações;  entre as atividades de grupo coloquial, individuais e as de colaboração em pequenos grupos;  entre as atividades que necessitam atenção e as que exigem ação.

O estabelecimento de rotinas diárias contribui para estruturar a atividade da criança e facilita-lhe a interiorização dos marcos de referência temporal. Uma clara sucessão de atividades ajuda o aluno a construir sua ordem interior. Um dos hábitos básicos que se deve reforçar nesta etapa é a ordem.

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Capítulo XIV - AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

A. AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO A avaliação dos processos de ensino está estreitamente vinculada ao processo de aprendizagem dos alunos. Trata-se agora de constar quais aspectos da intervenção educativa tem favorecido a aprendizagem e quais poderiam incorporar mudanças ou melhorias. Desse modo, as intervenções educativas melhorarão e se adequarão às necessidades dos alunos, às atuações individuais e da equipe educativa, bem como se unirá a reflexão à ação educadora, o que resultará maior aperfeiçoamento profissional. A equipe de professores avaliará: 

A distribuição das unidades didáticas (objetivos, atividades de motivação, ensino/aprendizagem e de avaliação, seleção de materiais didáticos) e sua distribuição ao longo do ano letivo (programação/planejamento). As atividades de ensino-aprendizagem o são adequadas aos objetivos propostos? Estão adaptadas à realidade e interesses dos alunos? Há um progresso razoável nos conteúdos? É possível trabalhar de modo globalizado? Levam em conta as diferenças individuais? Promovem a aquisição de habilidades do pensamento e de hábitos de conduta? Os recursos o Pessoais: Como tem se orientado e desenvolvido as atividades? Como tem sido a coordenação entre os professores de cada turma e cada ano? Como tem sido a relação com as famílias: regularidade das entrevistas pessoais com os preceptores, assistência às reuniões organizadas pelos pais. Participação dos pais nas atividades de aprendizagem sugeridas para desenvolver em família. Qualidade dessa relação. Relação dos alunos entre si e com os professores. Materiais o material utilizado o adequação das atividades previstas o necessidade de novos materiais Espaços o funcionalidade e motivação do ambiente na sala de aula o adequação do espaço externo às atividades previstas

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o organização material da sala de aula (mobiliário, decoração, iluminação, ventilação etc.) Tempos o a duração programada da unidade didática tem sido correta? o há tempo suficiente para a realização da atividade prevista? o há tempo para atividades espontâneas e individuais? o sugestões sobre modificações no horário A eficácia dos métodos de ensino utilizados Os resultados das medidas adotadas para a atenção à diversidade de aprendizagem nos Objetivos Fundamentais e Individuais

O principal procedimento para essa avaliação é a reflexão da equipe educativa, (que se reunirá com uma periodicidade pelo menos mensal, com uma pauta estabelecida previamente), troca de experiências, a análise dos progressos realizados pelos alunos etc.

B. AVALIAÇÃO DO PROJETO CURRICULAR Ao final de cada ano letivo, nas jornadas de avaliação, a equipe de professores avaliará o Projeto Curricular vigente e elaborará as propostas de modificações que serão encaminhadas para a equipe de Direção, visando a elaboração do Plano escolar do próximo ano. Interessa contar também, com a opinião dos pais dos alunos, por meio dos canais de colaboração estabelecidos no colégio. Também serão levadas em conta indicações e sugestões emanadas a partir da assessoria de Solar Colégios.

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