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O dentista que meteu Portugal a sorrir com vitória histórica em Spielberg

Miguel Oliveira retribuiu da melhor forma possível toda a confiança e apoio que todos lhe deram. Com as cores da Tech3, o português venceu a sua primeira corrida de MotoGP ao mesmo tempo que ofereceu a primeira vitória da equipa a Hervé Poncharal. Numa prova onde nada ficou decidido até à última curva, ‘o Falcão’ atacou no momento decisivo e tornou um dos seus sonhos realidade.

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Chegar ao pináculo do motociclismo não é para todos; manter-se lá menos ainda e registar a primeira vitória de MotoGP… nem todos o podem dizer que foram capazes de tamanho feito. Miguel Oliveira está em 2020 na sua segunda temporada de MotoGP e foi preciso apenas ano e maio para subir ao lugar mais alto do pódio. A temporada deste ano não tem corrido de feição ao piloto natural de Almada, depois de incidentes que este protagonizou resultado do contacto (infeliz) com terceiros. No entanto, o sinal estava lá: era uma questão de tempo até o primeiro top cinco acontecer. Em boa verdade, isso quase se tornou uma realidade recentemente, mas era reconhecido que o primeiro pódio chegaria sempre mais cedo ou mais tarde. No Grande Prémio da Estíria, Miguel Oliveira conquistou a primeira posição numa corrida onde nada ficou decidido até ao último momento. O português já tinha mostrado um bom andamento durante as sessões anteriores; andamento esse que podia fazer sonhar qualquer fã do #88 numa temporada onde ‘justiça’ nem sempre foi a palavra de ordem para o piloto da Tech3. Na antevisão para a segunda corrida na Áustria, Oliveira mostrou-se entusiasmado mesmo depois de ter registado uma queda, juntamente com Pol Espargaró, no domingo anterior. Nesse sentido, a sua mente estava focada em conseguir pontos preciosos para si como para a própria Tech3. ‘Estou muito entusiasmado para começar a segunda corrida. Depois de uma última ronda desapontante, estou desejoso de terminar a segunda corrida, conquistar alguns bons pontos para mim e para a equipa, para que possamos terminar estas três rondas de uma forma positiva e estar motivados para o que está à nossa frente’, disse em comunicado oficial de equipa.

FP1: ATAQUE FINAL VALEU TERCEIRO MELHOR TEMPO ATRÁS DE JACK MILLER E ANDREA DOVIZIOSO

O primeiro treino livre serviu para as equipas e pilotos voltarem a construir um setup competitivo para a

corrida do respetivo fim de semana. Miguel Oliveira encarou o arranque deste FP1 com um conjunto de dois pneus médios conseguindo colocar-se rapidamente no segundo 24, ou seja, entre os dez primeiros. Mais tarde, retornou para junto da sua equipa quando o relógio apontava 15 minutos restantes para o fim da sessão. Nessa altura, era o 11.º mais rápido e, logo de seguida, retornou para a pista com os mesmos pneus médios. Não melhorando o seu tempo até então, o piloto desceu para 12.º. Num terceiro ataque à tabela de tempos, o piloto da Tech3 foi para a pista com dois pneus novos: um dianteiro médio e um traseiro macio. Já nos últimos minutos desceu para 14.º, mas a partir da sua primeira volta cronometrada mostrou melhorias significativas antes de ter conseguido saltar para o topo da classificação. Não foi durante muito tempo o mais rápido, mas manteve-se entre os melhores terminando este FP1 com um tempo de 1m23,898s; o que resulta num diferencial de 0.039s para Jack Miller (Pramac Racing) e 0.035s para Andrea Dovizioso (Ducati Team).

FP2: MESMO ENTRE OS MELHORES, OLIVEIRA TERMINOU PRIMEIRO DIA COM O SEXTO MELHOR TEMPO COMBINADO

A segunda sessão de treinos consistiu em continuar a desenvolver os trabalhos realizados na sessão anterior. Desta forma, Oliveira foi para a pista pela primeira vez neste FP2 ao conseguir colocar-se entre os primeiros dez profissionais. Rodando consistentemente entre 1m24 alto e 1m25 baixo, o português estabeleceu a nona posição numa altura que restavam 15 minutos para a bandeira de xadrez. A 0,646s do líder, na altura era Pol Espargaró (Red Bull KTM Factory Racing), o português já tinha rodado com um pneu médio usado na dianteira da sua RC16 enquanto que tinha um pneu macio atrás, também ele já usado, mas com poucas voltas acumuladas (6). Na segunda ida para a pista de Spielberg, Oliveira montou, novamente, um pneu usado médio para a traseira, mantendo o mesmo pneu na dianteira. No entanto, foi no seu terceiro ataque à tabela de tempos que Miguel Oliveira conseguiu mostrar de que é feito. Sempre com um ritmo consistente, e já depois de ter estado fora do top 10, assinou uma volta de 1m24,118s já nos minutos finais da sessão, colocando-se dentro do top cinco. Nas suas últimas duas voltas, acabou por não melhorar o registo previamente feito, o que acabou por ser ultrapassado por Maverick Viñales (Monster Energy Yamaha MotoGP). Desta forma, fechou a sessão na sexta posição com uma diferença de 0,480s para Pol Espargaró. O #88 era também quarto classificado na tabela combinada de tempos, o que lhe tinha garantido, provisoriamente, acesso direto ao Q2. Finalizado mais um dia, Oliveira admitiu que as mudanças realizadas nesta última sessão não surgiram o efeito desejado. No entanto, o piloto ficou agradado com os resultados conseguidos afirmando que no sábado o foco consistia em melhorar os tempos por volta: – Hoje o dia foi bom. Começámos muito bem durante a manhã, mas há tarde fizemos algumas mudanças com os pneus usados, mas não resultaram como queríamos. No geral fiquei contente com as duas sessões. Amanhã queremos melhorar os nossos tempos por volta. Temos de ver como estarão as condições, quando e se cair chuva teremos de nos adaptar rapidamente, será igual para todos. Explicou, ainda, ao Motorcycle Sports em que zona se sentia capaz de melhorar: ‘Sinto que no setor três, nas duas curvas de esquerda, ainda posso melhorar bastante, talvez duas décimas pelo menos nesse parcial. O resto sinto-me bastante bem, sou rápido, portanto não tenho grande expectativa noutras zonas da pista em que identifique que consiga melhorar muito mais. Obviamente que a partir de agora tudo o que conseguirmos melhorar na moto serão sempre coisas muito pequenas, não vamos sentir muitas diferenças para melhor. O nosso desempenho já é muito bom, portanto a partir daqui serão pequenos detalhes tanto para ajudar às minhas sensações como à performance da moto.’

FP3 E TREINOS COMBINADOS: BASTOU SÉTIMO MELHOR TEMPO PARA OLIVEIRA SE APURAR DIRETAMENTE PARA O Q2

A terceira sessão de treinos foi a última oportunidade que os pilotos tiveram para se conseguirem qualificar diretamente para o Q2. Miguel Oliveira tinha esse acesso prematuramente garantido, mas é nesta sessão que as maiores surpresas podem acontecer. Assim, o piloto da Tech3 não podia cometer um deslize já que qualquer erro poderia significar a

passagem pelo Q1. Consciente de toda a situação, o ‘Falcão’ foi para o asfalto de Spielberg com um pneu duro dianteiro (usado), enquanto que equipou a sua RC16 com um pneu traseiro médio (novo). Completou um total de 11 voltas com algumas delas a ficarem anuladas, mas, mesmo assim, registou uma volta de 1m24,756s antes de regressar para junto da sua equipa. Sem melhorar de tempo, Oliveira foi descendo na classificação já depois do português ter regressado à pista. Nesta segunda ida, o #88 manteve exatamente os mesmos pneus conseguindo melhorar o seu registo para 1m24,448 numa altura em que a concorrência mais forte já conseguia chegar ao segundo 23. A 15 minutos da bandeira de xadrez, segurava o nono registo combinado estando o apuramento direto em risco. Todavia, foi uma questão de tempo até marcar uma volta no segundo 23. Para isso acontecer, Oliveira equipou dois pneus novos - um dianteiro duro e um traseiro macio – concluindo a sua participação neste FP3 com um sétimo tempo (1m23,725s). Com o fim de mais uma ‘guerra’ pelas melhores posições na grelha, Miguel Oliveira realizou o sétimo tempo combinado e garantiu acesso direto ao Q2. No topo da classificação ficou Joan Mir (Team SUZUKI ECSTAR) com uma volta em 1m23,456s, ficando na dianteira do português por 0,269s.

FP4: QUEDA IMPEDE OLIVEIRA DE IR ALÉM DO SEXTO TEMPO

Depois de uma afinação geral já estabelecida, neste último treino livre Miguel Oliveira foi capaz de continuar a trabalhar em pequenos pormenores sem a preocupação de se qualificar para o Q2. Mesmo sem pressões adicionais, o ‘Falcão’ teve um arranque discreto na tabela de tempos antes de se colocar entre os dez mais rápidos em pista. Com o tempo, chegou ao segundo lugar ficando a 0,176s de Pol Espargaró. Antes de uma passagem pelas boxes, Oliveira tinha ido para a pista com um pneu duro usado na dianteira da sua moto. Por outro lado, estava equipado com um pneu médio novo que viria a completar toda a sessão. Na segunda ida para a pista, Oliveira fez uma alteração na dianteira ao colocar um pneu macio. O tempo previamente registado era o de 1m24,699s na esperança de o conseguir superiorizar nesta segunda ida para o asfalto de Spielberg. Mostrando-se rápido, o profissional que defende as cores da Tech3 não conseguiu melhorar face ao tempo já registado. Acabou por assinar uma queda que o deixou apenas com o sexto melhor tempo. Takaaki Nakagami (LCR Honda IDEMITSU) foi o mais rápido nesta sessão com uma vantagem de 0,249s para Miguel Oliveira.

QUALIFICAÇÃO: COM O OITAVO TEMPO, OLIVEIRA ARRANCOU DE SÉTIMO GRAÇAS A PENALIZAÇÃO SOBRE ZARCO

Nos momentos iniciais, e já depois da primeira volta registada, Miguel Oliveira chegou a conseguir estar colocado entre os cinco mais rápidos em pista. Sem conseguir melhorar na sua segunda volta lançada, e equipado com dois pneus novos (médio e macio), o piloto que comanda uma KTM começou por perder posições na classificação. De regresso ao ataque, e já depois de ter mudado para um novo pneu traseiro macio, o português desceu para oitavo. Foi capaz de ascender uma posição com uma volta em 1m23,797s. Todavia, e numa última hipótese sem sucesso, Oliveira foi suplantado por Maverick Viñales numa qualificação onde Johann Zarco – que fez o terceiro tempo – teria que arrancar da via das boxes fruto de uma penalização que teve por base num incidente que decorreu no fim de semana anterior, com Franco Morbidelli. Desta forma, o #88 tinha garantido o sétimo lugar da grelha apesar de ter feito o oitavo tempo mais competitivo. No topo ficou Pol Espargaró a 0,217s de diferença. Partindo da terceira linha para o Grande Prémio da Estíria, Miguel Oliveira admitiu que teria preferido arrancar de uma das seis primeiras posições – o que lhe daria vantagem nos momentos iniciais da corrida. Mesmo assim, o seu principal objetivo era o de lutar por uma posição dentro do top cinco: - Estaria mais contente se estivesse na primeira ou segunda fila, mas a qualificação foi ok. Saímos para a pista com o pneu médio na frente que no final, não sei se ajudou muito, temos de analisar. De forma geral estou contente porque estamos todos muito próximos, perto uns dos outros e somos todos rápidos e no final do dia tenho de estar contente com esta posição, que é melhor do que na última corrida. Penso que estamos na luta pelo top cinco e este é certamente o objetivo para amanhã. O ritmo de corrida é muito promissor, é bom de facto e espero que comecemos bem e estejamos longe dos problemas nas primeiras voltas, onde se pode perder muito tempo e depois disso começar a fazer a nossa corrida que, acredito, vá ser competitiva. A querer terminar entre os cinco pri-

meiros, a escolha dos pneus para a corrida era uma decisão importantíssima. Sobre a temática, Miguel Oliveira disse ao Motorcycle Sports que ainda não tinha existido uma decisão tomada até porque o tipo de pneu a escolher depende, e muito, das condições em que a corrida decorrerá. ‘Os pneus são algo que, tal como na semana passada, iremos apenas decidir no último minuto. Precisamos de perceber qual é a temperatura da pista e quais são as condições. De momento sabemos que podemos usar os dois pneus [o médio e o duro, ambos na roda dianteira], por isso acredito que no final do dia dependerá do sentimento com a temperatura de pista na altura da corrida’, comentou.

WARM UP: CONSISTÊNCIA E RITMO FORAM AS PALAVRAS DE ORDEM PARA MIGUEL OLIVEIRA ANTES DA CORRIDA

Na sessão que antecedeu a corrida de MotoGP, Miguel Oliveira não procurou fazer um ataque à tabela de tempos. O piloto estabeleceu o 18.º melhor registo com uma volta em 1m24,999s; o que demonstrou que o #88 esteve focado em fazer uma simulação de corrida. Ao todo, o português realizou um total de 14 voltas com dois pneus médios. No entanto, além das voltas realizadas nesta Warm Up, o pneu dianteiro já tinha acumulado outras nove voltas enquanto que o pneu traseiro já tinha mais 16 voltas registadas no início desta sessão. Mesmo sendo o último no segundo 24, Miguel Oliveira fez voltas bastante consistentes no segundo 25; o que reforçou a intenção de estar totalmente focado em apresentar um bom ritmo de corrida. No final de contas, o piloto da Tech3 foi 18.º classificado segurando um diferencial de 0,873s para Andrea Dovizioso que, por sua vez, apresentou uma volta em 1m24,126s.

CORRIDA: ÚLTIMA CURVA DE RED BULL RING VOLTOU A SER PALCO DE DECISÕES COM VITÓRIA DE MIGUEL OLIVEIRA

As luzes apagaram-se e Miguel Oliveira arrancou de sétimo perdendo uma posição após três curvas do traçado de Spielberg. Atrás de Andrea Dovizioso, o piloto natural de Almada era perseguido por Valentino Rossi (Monster Energy Yamaha MotoGP) que, por sua vez, recuperou cinco posições na parte inicial da corrida. Na segunda volta, Oliveira era su-

Polarity Photo

perado por Brad Binder (Red Bull KTM Factory Racing) relegando o português para o nono lugar. Os dois pilotos nunca ficaram muito afastados entre si pelo que a diferença era de 0.240s, oito voltas mais tarde. Esta batalha também contou com a presença de Maverick Viñales e Iker Lecuona – colega de equipa de Oliveira – com estes quatro nomes a fechar o top dez. O português manteve a sua consistência numa altura que Dovizioso mostrava dificuldades em manter o ritmo frenético em pista. Ultrapassando o italiano, o #88 era sétimo classificado. Já a rodar na sexta posição, Oliveira detinha uma diferença de oito décimas para Binder; diferença essa que o sul africano começou por reduzir. Nas voltas seguintes não se verificou alterações significativas até Maverick Viñales perder os travões da sua M1. O espanhol conseguiu reduzir um pouco a velocidade da moto, mas foi forçado a atirar-se ao chão em prol da sua segurança. A corrida foi, então, alvo de bandeira vermelha. Corrida retomada e Oliveira ficou logo em destaque passando para o quarto lugar. Pol Espargaró estava no lugar mais baixo do pódio e Binder fechava o top cinco. O #33 voltou a ultrapassar Oliveira com o piloto de Almada a responder e a recuperar a posição perdida. Focado em conseguir o seu primeiro pódio de MotoGP, Miguel perseguia Espargaró que estava a pouco menos de meio segundo. Com três voltas completadas, de um total de 12, Oliveira estava a 0,250s de Joan Mir que, entretanto, tinha perdido posição para Espargaró. Nesta fase, o português era quarto classificado. Entretanto, Oliveira atacou o piloto da Suzuki chegando ao pódio provisório antes de Espargaró ter conquistado a dianteira da corrida. Ultrapassar Miller passou a ser a prioridade do piloto da Tech3 já que a diferença entre os dois homens era de 0,144s. Cinco voltas completadas e estava tudo em aberto com duas décimas a separar os três primeiros pilotos. Com uma volta para a bandeira de xadrez, Espargaró estava ainda na frente da corrida. Miller aproximou-se do #44 na abordagem à curva três e Miguel Oliveira assistiu de perto esta aproximação. O piloto oficial da KTM tinha assumido uma postura defensiva na curva três que lhe prejudicou na saída parar a reta seguinte. Miller aproveitou este facto e ultrapassou Espargaró na abordagem à curva quatro. Com esta troca de posições, Oliveira aproximou-se, também, dos dois pilotos e passou a ter maiores probabilidades de vencer a corrida. Na disputa de posição em plena última curva, Miller atacou Espargaró. O australiano conseguiu assumir a liderança da corrida por breves momentos, mas a trajetória assumida acabou por prejudicar o piloto australiano que, também, viu Espargaró a falhar o apex. Desta forma, e com estes dois pilotos a não terem a saída de curva perfeita, Miguel Oliveira abordou a última curva a pensar

numa melhor saída. O resultado saiu como esperado e o #88 ultrapassou tanto Miller como o seu colega de fábrica mesmo nos últimos metros do Grande Prémio da Estíria. Miller acabou em segundo e Pol Espargaró terminou em terceiro. Com este resultado, Miguel Oliveira conquistou a sua primeira vitória de MotoGP assim como o primeiro triunfo da equipa de Hervé Poncharal. O português chegou a este segundo fim de semana austríaco no 14.º lugar da geral com apenas 18 pontos e uma diferença de outros 49 para Fabio Quartararo – líder do campeonato. Assim, e agora com mais 25 pontos em sua posse, Miguel colocou-se em nono lugar da geral com um total de 43 pontos. A distância para o líder do campeonato - ainda Quartararo - passou a ser de 27 pontos. Em termos de pilotos independentes, Miguel Oliveira passou de sexto a quarto com Fabio Quartararo a ser líder, também, desta classificação.

MOTOGP, REAÇÕES,

Miguel Oliveira fechou este fim de semana único com o melhor resultado possível. Num momento singular e com muitos sentimentos à flor da pele, o português agradeceu aos mais próximos que têm acompanhado de perto esta jornada, onde ainda afirmou que esta vitória não é só de si, mas, também, de todos os portugueses. ‘É um momento muito emocionante. Tenho muito a dizer, mas não vou conseguir dizer tudo. Muito obrigado a todos os que acreditaram em mim, há tantas coisas que me vêm à ideia, a começar pela família que está em casa. À equipa, aos meus patrocinadores e a todos os portugueses: Sim, somos mesmo os melhores! Obrigado a todos pelo apoio. Hoje fizemos história, para mim e para o meu país. Não podia estar mais feliz por conseguir fazer isto em casa da KTM e da Red Bull. Obriga-

Augustine Gabaza/Polarity Photo

do a todos’, disse em parque fechado. Mais tarde, em conferência de imprensa, Oliveira revelou que o segredo da sua vitória foi a escolha do pneu dianteiro. Para a corrida, o português tinha escolhido um par de pneus novos médios. No entanto, com a bandeira vermelha a parar a prova, Oliveira teve a oportunidade de mudar os ‘sapatos’ da sua RC16 escolhendo dois pneus novos: um dianteiro duro e um traseiro médio. ‘Estou orgulhoso. Há sem dúvida muitos motivos para estar feliz hoje. Foi um triunfo na casa da KTM e da Red Bull, é ainda mais especial e por ser a minha primeira. Fizemos um bom trabalho ao longo de todo o fim de semana, tive a sorte de ter uma segunda oportunidade durante a corrida porque pude mudar o pneu da frente, o que me permitiu ser muito mais competitivo na segunda corrida. Tenho os pés bem assentes no chão, mas a cabeça está um bocado na lua. Estou muito contente pela minha família e pelos meus adeptos portugueses’, disse em conferência de imprensa. Hervé Poncharal, patrão da Tech3, teceu grandes elogios ao seu piloto depois de ter feito um breve resumo dos últimos meses. O responsável admitiu que sempre manteve a confiança em Miguel Oliveira mesmo que o último meio e meio tenha sido marcado por alguns azares no meio do percurso: – É claro que estou contente por vencer na Áustria, diante dos nossos patrocinadores da Red Bull e da nossa fábrica. E conseguir fazer isto com o Miguel é incrível pois o ano dele de novato não foi fácil em 2019, onde passou metade da época lesionado. Este ano sabíamos que ele tinha melhorado muito. A moto melhorou mais que muito. Em Jerez fomos quintos [na grelha] e tivemos um incidente na curva um [com Brad Binder]. Depois na República Checa, o Miguel cometeu um erro no FP3 e tivemos um mau lugar na grelha para ficarmos melhor que o sexto lugar que conseguimos. Na semana passada, de novo, havia a possibilidade do pódio, mas não conseguimos por causa de um incidente de corrida. Em comunicado oficial, continuou: ‘Eu sabia que Miguel podia conseguir ganhar, mas não queria falar demasiado e isso também me deixa muito contente porque ele foi um bocado subvalorizado por parte de alguns órgãos de comunicação e por parte de alguns adeptos, pelo que fico muito feliz por ele mostrar o seu verdadeiro nível. Isto só vai servir para o motivar mais e ele vai ser cada vez melhor. É preciso ser veloz e ele é veloz, mas há que ser inteligente e manter a calma. A esse nível ele é quase britânico na forma como se comporta e isso é uma grande mais-valia para um piloto de MotoGP.’ Pit Beirer, diretor do departamento de desportos motorizados da KTM, declarou que este resultado de Miguel Oliveira é consequência do trabalho e da abordagem assumida pela fábrica de Mattighofen: ‘É difícil encontrar palavras para descrever um dia tão fantástico. Lembro-me muito bem do nosso primeiro GP no Qatar quando começámos em último e o que eu disse ao nosso CEO, o senhor Pierer, foi que íamos dar a volta e ter as nossas motos do outro lado da grelha. Tivemos a pole position e uma vitória em casa na MotoGP e Moto3, com quatro pilotos da MotoGP no top dez, dois deles no pódio. O projeto tem sido, no geral, fantástico. Abordámos a MotoGP à nossa maneira e essa abordagem está a compensar. O espírito de equipa e o ambiente com tanta gente no circuito e na fábrica com todos a darem tudo está a dar resultado. É como um sonho tornado realidade. Vai ser preciso algum tempo para perceber bem o que aconteceu nestas últimas semanas’, partilhou em comunicado oficial.

A Portuguesa ouviu-se

pela primeira vez no Mundial de MotoGP

Licínio Santos Diretor de Parcerias da Cofidis Portugal

Há cerca de um ano, escrevi um artigo com o título “Miguel Oliveira precisa de mais e melhor KTM”. Num momento em que o super piloto português demonstrava ter qualidade individual de sobra para repetir os sucessos obtidos no mundial de Moto3 e Moto2, a KTM RC16 que pilotava, não parecia estar à altura do seu talento, e eram evidentes as necessidades de evolução da moto, quer ao nível do chassis, como mecânicas e eletrónicas, não só para poder elevar os seus níveis de competitividade, mas também para participar no feedback construtivo e de desenvolvimento da moto, e ainda, para manter os seus níveis motivacionais em alta. 2020 está, pelas razões que se conhecem, a ser um ano verdadeiramente atípico em todas a sua amplitude. No que diz respeito ao Mundial de MotoGP, a temporada iniciou muito mais tarde, e essencialmente centrada na europa, por questões sanitárias, de segurança e coordenação logística. Tenho gravada na minha memória uma frase do Gestor António Horta Osório que li numa sua entrevista à revista Exame, no início da minha vida profissional, que era tão e simplesmente “A sorte, tende a privilegiar quem trabalha arduamente e se encontra melhor preparado”. Nem mais, muitos anos se passaram, mas a expressão continua(rá) a fazer sentido, e este atraso no início do campeonato significou para o piloto português mais tempo de preparação, quer do ponto de vista físico, quer mental, tendo ele trabalhado durante toda a quarentena, desde as várias dimensões do treino até à nutrição, não negligenciando qualquer dos fatores críticos de sucesso para se ser um vencedor. O campeonato iniciou em Jerez de la Frontera, e o piloto Português igualou na primeira corrida da época a sua melhor classificação de sempre em MotoGP, com um sólido 8º lugar. Este resultado não só refletiu imediatamente o seu bom momento, como também a evolução da KTM ao seu dispor. Seguiram-se as próximas corridas, em que os sinais eram de evidente progresso quer da moto, quer dos níveis de pilotagem do Miguel, apresentando-se a KTM de forma regular nos melhores registos dos diferentes circuitos, todavia a sorte parecia tardar em sorrir ao jovem português, que foi derrubado em competição por dois colegas de marca em corridas diferentes, quando revelava ritmos de corrida prometedores. No fim de semana de 15/16 de Agosto na Áustria, forçado a abandonar a corrida depois de um adversário lhe ter provocado a queda, o Miguel sereno e ponderado que todos conhecemos foi protagonista de um episódio cujas imagens correram mundo, ao entrar na Box da equipa visivelmente transtornado e pontapear uma cadeira. Ao longo de toda a semana seguinte, os comentários foram surgindo, assim como as reações da imprensa internacional e a troca de palavras entre diferentes pilotos e equipas. A inteligência emocional do nosso super piloto, seria mais do que nunca, testada aos limites, até porque no mesmo circuito e no fim de semana seguinte, um novo grande prémio seguir-se-ia. Sobre esta corrida, vou apenas focar-me no final! O Miguel entra na derradeira volta ao circuito na terceira posição, espreitando o seu primeiro pódio e a sua melhor classificação de sempre, estava perto, seguia nos limites da sua moto a discussão do mais alto lugar do pódio entre o Australiano Jack Miller e o Espanhol Pol Espargaró, quando na última curva do traçado austríaco, ambos em luta acesa se excedem na gestão da velocidade de entrada em curva, e o português, cumprindo a curva numa trajetória perfeita, arrecada para Portugal a primeira vitória na categoria, escrevendo uma nova página na história do Motociclismo nacional. São momentos como este, em que se misturam gritos de euforia com lágrimas de alegria e emoção, que nos fazem recordar as vezes em que acordamos a meio da noite para o ver competir do outro lado do mundo, as vezes em que observamos à distancia a sua capacidade de sacrifício, empenho e resiliência na perseguição de um objetivo em que ele e poucos mais acreditavam, e que hoje é uma absoluta realidade. Relembro também com alguma emoção, a primeira reunião com o Paulo Oliveira, seu pai e agente, em início de 2015, com vista a discutirmos de que forma poderíamos estabelecer uma parceria com valor para ambas as partes, Miguel Oliveira e Cofidis. 5 anos volvidos, a Cofidis é líder de mercado destacada no financiamento de motos em Portugal, e o Miguel Oliveira inscreveu hoje o seu nome na história de Portugal e do desporto nacional, ao vencer na categoria máxima da mais relevante competição de Motociclismo mundial. Obrigado Miguel, por esse espírito de conquista, e por elevares tão alto a bandeira portuguesa, o nosso logo e os nossos valores comuns, como a audácia e a simplicidade. Aguardamos ansiosos pelos próximos capítulos, até porque estamos todos certos de que o melhor ainda está para vir!