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Crónica

Marc Márquez,

como quatro pontos podem acabar com um campeonato

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Marc Márquez lesionou-se com alguma gravidade no GP de Espanha de MotoGP. Uma queda durante a corrida, quando procurava recuperar o segundo lugar a Maverick Viñales – somando mais quatro pontos do que aqueles que valeriam o terceiro posto.

Primeiro, um enquadramento: Marc Márquez atrasou-se no GP de Espanha de MotoGP logo na quinta volta depois de liderar. Naquela que era a primeira ronda da temporada, perspetivava-se já um resultado menos conseguido quando a vitória parecia estar ao alcance, uma vez que baixou para fora do top 15. Lutador e destemido como é seu hábito, o hexacampeão do mundo encetou uma recuperação incrível de forma gradual, até chegar ao terceiro lugar na 20.ª das 25 voltas. Aí, teve duas opções – resignar-se com o mal menor ou atacar o segundo classificado Maverick Viñales (Monster Energy Yamaha), que estava ao alcance – ao contrário do líder Fabio Quartararo (Petronas Yamaha SRT). Em vez de se contentar com o terceiro posto, Márquez continuou ao ataque e na volta 22 não evitou uma aparatosa queda na curva dois do Circuito Ángel Nieto. A corrida acabou, mas esse foi o mal menor – fraturou o úmero direito e dois dias depois teve de passar por uma cirurgia. Ainda tentou alinhar no GP da Andaluzia poucos dias depois, mas o seu corpo venceu-o. Tudo indicava que o regresso podia ser no GP da República Checa, mas um incidente doméstico obrigou a nova cirurgia e falhou a prova de Brno. As da Áustria nas semanas consecutivas também ficaram fora de questão – o que significa ficar a zeros na tabela depois de cinco provas. E aqui chegamos ao tema desta crónica – como quatro pontos, a diferença entre o terceiro e o segundo lugar numa corrida, podem ter feito Márquez perder o campeonato deste ano. Como é sabido, em pista e mesmo não estando a 100 por cento fisicamente, o #93 é capaz de impor a sua valia. E também se sabe que não é homem de se contentar com menos quando pode ter mais. Porém, na corrida do GP de Espanha, Márquez pode ter doseado mal os riscos. A temporada é mais curta e com provas coladas umas às outras, pelo que qualquer lesão pode custar caro nas contas do campeonato. Tal como aconteceu com Márquez em Jerez naquela primeira prova de 2020. Se Márquez tivesse assentado o seu ritmo no terceiro lugar, em vez de partir em perseguição de Viñales, muito provavelmente não teria caído e os 16 pontos tinham ficado no seu nome. Depois, na segunda corrida da época, poderia recuperar tendo uma prova sem um incidente como aquele que lhe custou várias posições no início do GP de Espanha. Pelo contrário, além de não ter somado os 16 pontos do terceiro lugar, o piloto de Cervera ficou sem a possibilidade de pontuar em cinco provas. Num campeonato de 15, isso tem um natural impacto significativo – que, à partida, o deixará fora da luta pelo título. Poderia Márquez proceder de forma diferente na corrida de Jerez? Arriscamos mesmo dizer que deveria, mas a verdade é que em retrospetiva é fácil falar. Sobretudo vendo de fora, não estando na pele do piloto e no calor da emoção. Seriam os quatro pontos a mais do segundo lugar essenciais na luta pelo campeonato no fim da época? É possível, sem embargo, é algo que só o tempo diria, não se podendo fazer conjeturas – não se pode partir do princípio que fosse uma temporada como a de 2019, em que Márquez só não terminou no top dois numa das 19 corridas disputadas. O que se pode dizer é que a procura de mais quatro pontos, de mais uma posição em corrida, pode ter custado a luta pelo título a Márquez. Estando sem pontos em cinco de 15 rondas – um terço do campeonato – a tarefa é muito difícil. Pondo por hipótese que o espanhol vence todas as provas desde o regresso (hipoteticamente na primeira ronda de Misano) seriam 250 amealhados – quantia que em 2017 e 2019 não daria sequer o segundo posto, até com um super-Marc Márquez em ação a absorver grande parte dos pontos. Porém, é também de notar que nesses anos houve um calendário completo de 18 e 19 jornadas. Não se pode afirmar taxativamente que Márquez já perdeu o campeonato. Mesmo que regresse apenas no GP de San Marino em Misano, ainda tudo estará em aberto – até porque não se sabe o que se passará com os seus principais rivais, que não estão imunes a lesões num desporto tão arriscado como é o motociclismo. Certo é que os possíveis quatro pontos adicionais que Márquez somaria se fosse segundo no GP de Espanha e a luta por eles que redundou no acidente e consequente lesão tornam muito mais difícil a tarefa ao #93. Mas se há algo que o hexacampeão de MotoGP já provou é que quase não há impossíveis para si. O que acontecerá no resto da época? Só o tempo o dirá…