Prevenção à Violência e Redução de Homicídios de Adolescentes e Jovens no Brasil

Page 70

envolvidos e à articulação de programas e projetos entre si. A principal consequência dessas dificuldades seria a ocorrência de uma espécie de circuito razoavelmente fechado em si mesmo com poucas alternativas para o cumprimento das expectativas de maior integração sistêmica e dos componentes desse sistema com a sociedade e o público atendido. Acreditamos que o estudo mais detalhado de alguns casos tornará essas inferências mais evidentes. Por ora, retomemos as questões relativas às metodologias utilizadas e, de novo, ao problema da integração a partir de uma questão específica: a utilização de mecanismos de diagnóstico, monitoramento e avaliação no processo de implementação dos programas por nós mapeados.

Avaliação e monitoramento Um dos grandes problemas enfrentados por gestores e pelo poder público em geral no campo da segurança pública é a precariedade de dados e a indisponibilidade de um sistema de informações confiável, ágil e padronizado. Alguns estados, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e, mais recentemente, Pernambuco, deram passos importantes nos últimos anos, mas mesmo em alguns deles, o sistema de informações criminais está longe do desejável. Já faz algum tempo que a construção de um modelo único de segurança pública fundado em um sistema nacional de informações criminais está na agenda, mas os avanços até aqui são muito modestos. Associadas à indisponibilidade de informações precisas, temos culturas institucionais pouco afeitas à prática de estudos preliminares para definição dos objetivos das iniciativas, estimativa das dimensões do problema que se quer abordar e definição do quanto se espera de impacto com as intervenções realizadas. Cada um desses passos é condição de possibilidade para o dimensionamento dos resultados obtidos com as intervenções, a avaliação do sucesso do que foi feito e, eventualmente, a redefinição de abordagens. Referimo-nos, portanto, às dificuldades em se tratar a segurança pública mediante a utilização de recursos de dimensionamento e qualificação do problema, definição de metas palpáveis e factíveis, bem como de avaliação de resultados obtidos. Esse problema, que é extensivo a outros campos de atuação do poder público no Brasil, acaba fazendo com que gestores atuem às cegas, lidem com panoramas excessivamente genéricos, estabeleçam objetivos difusos e, consequentemente, acabem impossibilitados de aprofundar iniciativas bem sucedidas ou, em sentido oposto, descartá-las por ineficazes. A superação dessa prática tem sido apontada como um passo importante para a maximização dos recursos despendidos e de resultados obtidos. Um dos focos de interesse em nossa pesquisa foi estimar o quanto ela está presente em nosso universo. No que diz respeito ao público-alvo, pouco mais da metade dos programas atestou a realização de um estudo prévio antes da definição desse público, conforme ilustra o gráfico 13. Tendo em vista a tradição refratária a estudos preliminares, talvez a incidência de pouco mais de 50% de casos em que houve um estudo prévio para a definição do público alvo não seja ruim. Dada, contudo, a centralidade dos passos descritos no parágrafo anterior e o tempo em

68

CAPÍTULO 2


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.