Prevenção à Violência e Redução de Homicídios de Adolescentes e Jovens no Brasil

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importância, bem como os dispositivos utilizados para realização de monitoramento e avaliação. É importante, porém, ter em mente que o programa congrega muitas ações pré-existentes, fazendo com que essa rearticulação pela gestão central nem sempre signifique uma mudança na integração real. O grande desafio do Vizinhança Segura – que é também o de todos os programas estratégicos, diga-se de passagem – é articular a característica transversal dos programas com a estrutura administrativa da prefeitura, ainda verticalizada. A cultura organizacional dominante ainda é marcada por uma lógica fragmentada de trabalho, baseada em políticas setoriais. Os programas, em tese, estão em nível hierárquico superior ao das secretarias, mas essa estrutura não é unívoca, já que as secretarias não são apenas executoras, mas também formuladoras de novas ações. Há assim uma participação ativa das secretarias no desenho do programa. Há tensões entre secretarias e programas, o que se configura como desafio tanto na manutenção do programa, como na criação de novas ações. O fato de o Vizinhança Segura ser um grande articulador de recursos colabora na construção dessa tensão. O acompanhamento do programa por parte das pesquisadoras locais mostrou-se desafiador. O escopo do programa é extenso, incorporando, num mesmo grande guarda-chuva, ações tão distintas quanto a compra de equipamentos para a guarda municipal e o atendimento a vítimas de grandes catástrofes. O trabalho de campo, assim, organizou-se, em grande parte, no sentido de mapear essas ações, especialmente através de entrevistas em profundidade com seus líderes. A disponibilidade e receptividade da grande maioria dos gestores contatados foi fundamental, pois permitiu uma melhor compreensão de um programa tão complexo. A partir dessa compreensão do desenho global do Vizinhança Segura, sentiu-se a necessidade de fazer um acompanhamento qualitativo sistemático de uma de suas práticas. Escolheu-se, assim, uma das etapas da ação Prevenção à Violência e Defesa dos Direitos Humanos, o projeto Dois Caminhos, Uma Escolha, elaborado e executado pelo Núcleo de Ações Preventivas (NAP) da guarda municipal. O projeto tem por objetivo promover debates e reflexões de alunos de escolas municipais, basicamente através de oficinas, sobre temas ligados a diversas formas de violência urbana. As oficinas são todas ministradas por guardas municipais. O Dois Caminhos, Uma Escolha também atua junto aos professores e pais, fazendo com que suas diretrizes cheguem a outros agentes ligados ao cotidiano dos jovens. Priorizam-se, na execução do projeto, escolas e turmas que apresentam altos índices de ocorrências escolares por indisciplina e também que tenham número significativo de registros na Delegacia Especial da Criança e do Adolescente (DECA). A partir dessa seleção inicial, faz-se uma conversa com os professores da instituição. Essa receptividade dos docentes, assim como sua avaliação sobre a escola no contexto de violência, é levada em conta para a continuidade do projeto. Os temas debatidos nas oficinas são retomados nas aulas. Isso ocorre através da atuação dos “professores referência”, que são aqueles que dão continuidade ao trabalho da equipe do NAP a partir de trabalhos desenvolvidos dentro da disciplina que ministra. Os temas mais trabalhados são: violência doméstica, criminalidade, drogas, direitos humanos, pichações e “valores.” O projeto, desse modo, caracteriza-se pelo trabalho preventivo feito com crianças e adolescentes em algumas escolas do município, especialmente com relação ao uso de drogas, através de oficinas. A

Onze experiências de redução da letalidade e prevenção à violência

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