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Entrevista

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Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil

Portas abertas para o cooperativismo financeiro

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Na gestão de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central do Brasil, as cooperativas de crédito vêm ganhando cada vez mais espaços, com a instituição adotando medidas que vêm permitindo ao setor ampliar o seu campo de atuação. Estes e outros pontos são destaque nesta entrevista exclusiva do presidente do Bacen à revista BR Cooperativo.

BRC - Durante a sua sabatina no Senado, antes de assumir a Presidência do Banco Central do Brasil, o senhor declarou que “as cooperativas de crédito, por trazerem os cooperados para o centro das decisões, criam um ambiente para a troca de experiências, que promovem a consolidação do espírito empreendedor e de importantes conceitos financeiros”. Gostaríamos que comentasse a declaração e como vê o papel do cooperativismo financeiro hoje no cenário nacional.

As cooperativas de crédito possuem características peculiares, que as tornam distintas das demais instituições financeiras. Elas são constituídas pela livre associação de pessoas naturais e empresas, com interesses compartilhados. São instituições centradas nas pessoas, em que o cooperado é cliente e proprietário ao mesmo tempo. Com isso, elas tendem a oferecer serviços mais personalizados e seus resultados são destinados a seus associados e, também, revertidos de alguma forma à comunidade na qual atuam.

As cooperativas desempenham um papel importante na inclusão e na educação financeira dos seus cooperados, na medida em que elas proporcionam o acesso de pessoas com baixa disponibilidade de atendimento pelo sistema tradicional a produtos e serviços financeiros. A participação dos associados na gestão das cooperativas, por meio da participação nas assembleias, também contribui para a formação de uma consciência financeira nesses indivíduos.

Em relação ao cenário atual, estou convicto de que o cooperativismo tem um papel importante a cumprir para a retomada da economia. Ele promove a concorrência no sistema financeiro, o que contribui para a diminuição de taxas de juros para o tomador final, para o aumento da oferta de crédito e para a eficiência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) como um todo.

Além disso, pelas características particulares da atuação das cooperativas de crédito, de captar recursos e conceder crédito no âmbito de um grupo delimitado, o crédito cooperativista costuma ter um comportamento diferente do conjunto do restante da economia, podendo apresentar um papel anticíclico relevante.

BRC - No meio da pandemia do novo coronavírus, as cooperativas de crédito vêm desempenhando um importante papel na concessão de crédito, renegociação de dívidas, alongamento de prazos para pagamentos de créditos concedidos e soluções com foco na educação financeira para seus cooperados. Como o senhor avalia esse diferencial de foco na função socioeconômica das sociedades cooperativas?

O cooperativismo tem crescentemente ganhado importância, e isso é verdadeiro também no período de crise. Em junho, pesquisa da Sebrae/ FGV com empresas de pequeno porte (microempreendedores individuais e micro e pequenas empresas) mostrou a importância do cooperativismo na concessão de crédito nesse período de pandemia. Segundo a pesquisa, o Sicoob e o Sicredi foram sozinhos responsáveis por 16% do total de pedidos de empréstimos feitos em todo o sistema financeiro pelas empresas de pequeno porte. Mais significativo, ainda, é o dado que mostra que essas duas instituições foram aquelas que apresentaram a maior taxa de sucesso na obtenção de empréstimos dentre todas as instituições financeiras do País. Ou seja, essas duas instituições foram aquelas onde as empresas de pequeno porte tiveram a mais alta taxa de aprovação de pedidos de empréstimo (17% no Sicoob e 13% no Sicredi).

Mas o bom desempenho do cooperativismo não se limita ao período da pandemia. Ao longo dos últimos anos, o cooperativismo de crédito tem se destacado por sua contribuição à expansão do crédito no país. A participação das cooperativas no mercado aumentou bastante nesse período, beneficiando principalmente as micro, pequenas e médias empresas, além das pessoas físicas, com ênfase nos produtores rurais. Isso ocorre porque as cooperativas estão inseridas no dia-a-dia dos locais e regiões de atuação, conhecem a realidade de cada comunidade de perto. Com isso, conseguem avaliar melhor as necessidades, os potenciais e as oportunidades.

Além disso, conforme mencionei, a peculiaridade do modelo cooperativo, em que o cliente e usuário dos serviços financeiros é também o dono do negócio, leva a maior envolvimento e conhecimento da instituição em relação à comunidade em que atua.

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