Revista Duo - 034

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Últimas palavras

Por Marinaldo de Silva e Silva mdesilvaesilva@hotmail.com

Histórias Joinvilenses:

Zeppelindo Foto: Arquivo

15h Querido diário, neste primeiro de julho de 1934, muita coisa está acontecendo no mundo, e me deixando de cabelo em pé. Guerra na Espanha, constituição no Brasil sendo reformada, um belga chamado Paul Otlet dizendo que vai nos conectar por meio de ondas de rádio com o objetivo de transmitir informações por todos os povos! Aonde chegaremos, meu Deus! Lá em casa a discussão é dividida entre a Copa do Mundo e a eleição do Presidente Getúlio Vargas, fora a minha avó Olinda, que, hipocondríaca, disse que andou lendo no nosso periódico 1Kolonie Zeitung, que o médico sanitarista Carlos Chagas está com chagas, ou seja, a doença dele é seu próprio sobrenome. Ah, e tem ainda a história da Univeridade Southern, da Califórnia, que disse, no início do verão de lá, ou seja, há poucos dias atrás, que descobriram a cura do câncer. Tá lá, registrada na revista Science Magazine. Ufa! Deixa eu me apresentar: meu nome é Annelore, e estou saindo correndo dessa confusão, escondida, de chapéu, luva e sombrinha, para meu primeiro escontro secreto com um jovem boticário que trabalha na Pharmácia Minâncora. Que fique registrado: Ele é um pão! Nota: 1 – Jornal de Joinville impresso até maio de 1942; 2 – Rua Nove de Março ; 3 – Rua das Palmeiras

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17h Tenho uma pergunta a fazer: Ainda é primeiro de julho? De 1934? Vocês tem certeza? Amigos me belisquem, pois tive uma síncope! Quando eu virava a 2Haffenstrasse, morrendo de medo em ser vista pelo Opa ou pela Oma que trabalham ali perto, eu o vi, era a coisa mais linda do mundo! Brilhante, cintilante, chamava a atenção de todos. Todo mundo parecia correr em direção a ele, devia ser coisa do céu porque gente até se benzia com o sinal da cruz, e começaram a aparecer fotógrafos e crianças, fiquei assustada, imagina eu ser fotografada, e amanhã aparecendo na capa do Kolonie Zeitung por acidente! Mas o impacto daquele objeto oval gigante, medindo 1,27 metros de comprimento – segundo o burburinho – foi como se o apocalipse tivesse chegado, ou como se tivessemos avançado séculos no tempo. Ninguém da nossa Joinville tinha visto algo parecido, ou imaginado que ali em cima das Palmeiras da 3Alameda Brustlen, aquele Zeppelin – este é o nome dele – passaria, indo em direção a Buenos Aires. Perdão meu amor, se você ler esse diário um dia, eu acabei não indo ao seu encontro porque o Zeppelin parecia um ímã que me atraía, tanto quanto você, mas ele era passageiro, você continuará ali na Minâncora, de jaleco branco e olho azulando de tão preto, sempre lindo, zeppelindo eternamente na minha imaginação.


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