Voluntariado Digital

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Alguns se mostraram preocupados com a excessiva informalidade do recrutamento dos voluntários on-line, citando o caso de tradutores cujo nível de experiência e habilidades não são suficientemente comprovados com antecedência; acreditam que isso possa fazer perder tempo às organizações e aos voluntários.

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As mudanças no nível de participação da sociedade nas questões políticas são visíveis a olho nu: maior número e cada vez mais concorridas manifestações populares. Quanto às mudanças individuais, um participante deu o exemplo da mudança de atitude da mãe dele quando conheceu na internet uma campanha do Greenpeace, publicando uma lista de produtos alimentícios modificados geneticamente. Após discussões entre ambos sobre as implicações desses alimentos, a mãe mudou os padrões de compra e isto foi o início para mudar outros pontos de vista e decisões de consumo relacionados com a proteção do meio ambiente. A opinião do grupo foi unânime ao declarar que o ciberativismo pode nascer sem organização e direção, de forma espontânea e individual, mas que o Voluntariado Digital (que engloba maior variedade de ações) costuma fazer parte de uma estratégia mais ampla e com objetivos definidos em organizações estabelecidas e estruturadas; dessa forma, os resultados concretos são mais facilmente alcançados. Especificamente para este estudo foi também realizada uma pesquisa de opinião on-line junto aos 2.200 membros das diversas redes globais de IAVE (International Association for Volunteer Effort). Disponível durante uma semana em três idiomas (inglês, português e espanhol), o questionário recebeu 164 respostas. Quando foram solicitados a mencionar palavras em reação imediata à expressão Voluntariado Digital, as mais mencionadas foram tecnologia, ajuda, ferramentas, internet.

humanos

A tecnologia é uma ferramenta eficiente para a defesa de causas do desenvolvimento social, econômico e ambiental, porque reduz o investimento de tempo e recursos materiais para cumprir seus objetivos; isto foi ouvido no encontro com nove jovens estudantes de pós-graduação em Sustentabilidade no Royal College de Londres, em um grupo focal virtual que fizemos em 2013 para colher subsídios para esta pesquisa. Provenientes de oito países, México, Colômbia, Brasil, Estados Unidos, Grécia, Holanda, China e Índia, o encontro foi mediado pelo mexicano Rodrigo Morales, Mestre em Desenvolvimento Sustentável. Eles compartilharam suas vivências nos seus países de origem e a primeira constatação é que se necessita de um certo esforço para manter vivo o tema ou a causa on-line, porque “é muito fácil que tudo fique esquecido rapidamente se não houver tempo de dedicação para animar o grupo”. Embora considerem que a conscientização por meio da conectividade é efetiva, já que consegue informar a mais pessoas que com os meios convencionais, vários expressaram suas dúvidas quanto à eficácia dos abaixo-assinados pela internet, por exemplo, que mobilizam muita energia e criam muita expectativa, mas nem sempre conseguem resultados concretos.

digital

Ciberativismo e voluntariado digital

cultura

informação

tecnologiaciborgue antropologia

comunicação

mundo

vidaInternet

Revisamos neste capítulo algumas das novas formas de ação solidária, voluntariado e ativismo social que as novas tecnologias de comunicação e conectividade nos permitem e que seriam impensáveis dez ou 15 anos atrás. Uma das conclusões que surge naturalmente é a ampliação em progressão geométrica das possibilidades de se conectar com quem precisa e de realizar ações sem as limitações impostas pelo deslocamento nas grandes cidades e diminuindo as distâncias afetivas de maneira assombrosa. Mais ações são possíveis. Diferentes possibilidades são criadas todo dia. Formas originais de trabalhar por uma causa inventamse a toda hora. Cocriação, colaboração, ação em rede estão na ordem do dia. O mundo parece menos distante e menos fragmentado. Causar um impacto positivo à distância é possível. A participação virtual ou em microações dá ao voluntário a sensação de estar aproveitando bem o seu tempo.

O que a tecnologia por si só não parece ter modificado profundamente é o nível de motivação. Embora o que fazer esteja mais disponível e ao alcance de um clique, e cada vez mais coalhado de opções como se fosse um caleidoscópio, o por que fazer continua uma escolha individual, que vem através dos valores pessoais: quem é solidário por natureza aproveita os novos recursos para ampliar sua ação, mas eles não são os fatores determinantes para a escolha. Por outro lado, no que se refere a apoiar causas, aderir a abaixo-assinados e outras formas de participação cívica, o clique na ponta dos dedos motiva muitas pessoas que não teriam pensado em se mobilizar por essas causas até esse momento. Se uma porcentagem dos clicktivistas por impulso tomar consciência das causas dos problemas sociais e se interessar por participar com assiduidade, o mundo terá muito a ganhar.

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