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JOSÉ SARMENTO MATOS

Edição Porto • Ano XXIX • n.º 10.513 • 1,70€ • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos

Timothy Garton Ash

“Não podemos deixar a nação para os populistas” Entrevista exclusiva ao PÚBLICO na série A Europa e o Presente

Brasileiros são os imigrantes que mais regressam ao país de origem Dados do programa de retorno voluntário da Organização Internacional para as Migrações revelam que os brasileiros em Portugal representam 90% dos pedidos de ajuda para regressar. Joziana e Wolner chegaram antes de Bolsonaro ser eleito, mas agora só sonham voltar e “começar tudo de novo” Sociedade 12/13

CGD recusa pagar subsídio de refeição durante as férias Paulo Macedo recorreu da decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que obrigava ao pagamento p18/19

N Neuropsiquiatria Os ecrãs impedem os O jovens de desenvolver jo empatia e sem em ela as sociedades el são “brutais” sã P2

Guerra Fria? Rússia e EUA rasgam acordo nuclear

Guaidó e Maduro enchem ruas nas duas Venezuelas

Depois de Trump, Putin anunciou saída do acordo de 1987, que existia desde Reagan e Gorbatchov p20

Oposição e chavismo medem forças. Agora, os olhos estão postos na reacção da Europa p2/3 ISNN-0872-1556


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2 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

DESTAQUE

VENEZUELA

Guaidó e Maduro enchem ruas nas duas Venezuelas Oposição volta a fazer músculo em Caracas e em várias cidades pelo mundo fora, mas o chavismo também se mostrou. Agora, os olhos estão postos na reacção da Europa Alexandre Martins

A

história de dois países em que a Venezuela se transformou nas últimas semanas teve ontem mais um capítulo importante, que foi também um novo teste à verdadeira força da oposição a Nicolás Maduro. Em Caracas e outras cidades, dezenas de milhares de opositores saíram às ruas para exigir “liberdade”, enquanto no mesmo país, mas no que parecia ser uma outra dimensão, os apoiantes do Governo respondiam ao grito de Maduro: “Na Venezuela só há um Presidente!” Eram 10h da manhã quando milhares e milhares de pessoas, em pelo menos cinco grupos distintos, começaram a chegar à zona de Las Mercedes, em Caracas, para encherem a avenida principal com as cores da bandeira venezuelana. Estavam ali para reforçar a sua ideia de que os dias de Maduro como Presidente estão contados. “Acredito que o fim está muito próximo — esta semana”, disse a venezuelana Barbara Angarita, de 49 anos, ao jornal britânico The Guardian. “O país tem de ser livre, para todos os venezuelanos

e para os nossos descendentes.” Tal como outras dezenas de milhares de opositores, Angarita respondeu à chamada de Juan Guaidó, o líder da Assembleia Nacional que se assumiu como o presidente interino do país no dia 23 de Janeiro. Há uma semana, Guaidó apelou aos seus apoiantes que voltassem às ruas para se manifestarem contra Maduro, mas também para enviarem outros dois sinais: aos militares venezuelanos, para convencê-los a juntarem-se ao combate contra o Governo de Maduro; e à União Europeia, para lhe dizer que esse combate precisa do apoio europeu o mais rapidamente possível. Na quarta-feira, os opositores manifestaram-se durante duas horas, em várias cidades, na primeira das duas demonstrações de força pedidas por Juan Guaidó no fim-desemana passado. Mas o ponto alto desse apelo foi a convocação de várias manifestações para ontem, em toda a Venezuela e “em todo o mundo”, segundo as palavras do líder da oposição — em Lisboa e em outras cidades europeias e na América Latina, milhares de venezuelanos pediram também a saída de Maduro. O objectivo é manter a pressão sobre o Presidente venezuelano, numa

altura em que o apoio internacional à oposição ganhou músculo — muito mais do que em 2014 e em 2017, quando nem as grandes manifestações desses anos, que provocaram mais de 200 mortos, conseguiram manter a oposição unida e pronta para receber apoios de peso.

À espera da UE Mas desta vez foi diferente. Depois de Guaidó ter assumido as funções de presidente interino, os Estados Unidos reconheceram-no como único interlocutor legítimo da Venezuela, empurrando Nicolás Maduro para um maior isolamento internacional. Em seguida, muitos outros países acompanharam os Estados Unidos, como o Canadá, a Austrália e a maioria da América Latina. Do lado de Nicolás Maduro, estão, principalmente, a Rússia, a China e a Turquia — e conta com o apoio determinante das Forças Armadas da Venezuela, sem as quais dificilmente será possível uma transição de poder pacífica. É para tentar aumentar a lista de apoios internacionais, juntando-lhe o peso da União Europeia, que a oposição a Maduro quer manter a pressão nas ruas. Ontem, no seu discurso perante os apoiantes em Caracas, Juan Guaidó garantiu que receberá, “nas próximas horas”, o apoio de “muitos

REUTERS


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 3

MIGUEL GUTIERREZ/EPA

O líder da oposição, Juan Guaidó, garantiu que vai receber mais apoios europeus

reprimam mais”. Em resposta, o comandante da Força Aérea acusou-o de “traição”. Mais tarde, já durante as manifestações anti-Maduro, a oposição partilhou um vídeo, supostamente gravado na cidade de Barquisimeto, onde se vêem agentes das brigadas antimotim da Polícia Nacional Bolivariana a abrir caminho aos manifestantes — à medida que os agentes se afastam, ouve-se uma voz a gritar “excelente, excelente, obrigado” e vê-se um agente, fardado com capacete e escudo de protecção, a abraçar um dos manifestantes. No final, Guaidó agradeceu “às famílias, aos trabalhadores e aos jovens” por terem mostrado que “chegou o momento da democracia” e de “viver em liberdade”.

“Os invisíveis”

mais países europeus” — uma referência ao ultimato feito por Alemanha, França, Reino Unido e Espanha, a que se juntou Portugal, para que Maduro convocasse eleições presidenciais até este fim-de-semana. Se isso não acontecer, Guaidó e os seus apoiantes esperam que esses países cumpram o que prometeram: reconhecerem a sua legitimidade como presidente interino da Venezuela. Mas ninguém espera que haja um anúncio nesse sentido de toda a União Europeia, pelo menos nos próximos dias. Outros países, como a Suécia, Itália, Grécia, Chipre ou Eslováquia, já disseram que não estão interessados em dar um salto tão grande — entre as razões apontadas, está o princípio de que só se deve “reconhecer Estados, e não personalidades”, como sublinhou a Suécia. Ainda assim, este fim-de-semana começou com uma boa notícia para a oposição. Ontem de manhã, um general da Força Aérea da Venezuela, Francisco Rodríguez, declarou o seu apoio a Juan Guaidó, tornando-se o oficial de mais alta patente, até agora, a afastar-se de Nicolás Maduro. Num vídeo partilhado nas redes sociais, o oficial disse que “90% das forças armadas não estão com o ditador, estão com o povo da Venezuela”, e apelou aos militares que “não

Obrigado às famílias, aos trabalhadores e aos jovens. Chegou o momento da democracia e de viver em liberdade Juan Guaidó Presidente da Assembleia Nacional

Na Casa Branca está o Ku Klux Klan. Sinto vergonha alheia desta oposição, que recebe ordens pelo Twitter Nicolás Maduro Presidente da Venezuela

A cerca de dez quilómetros de distância, na Avenida Bolívar, Nicolás Maduro juntava também uma multidão numa manifestação de apoio ao chavismo — e de comemoração pelos 20 anos da tomada de posse do seu mentor, Hugo Chávez. Apontando para as imagens transmitidas pela televisão, Maduro chamava a atenção para outras manifestações no país, para dizer que também ele tem um grande apoio popular. “São os invisíveis que a CNN não mostra”, disse Maduro, num discurso cheio de ataques contra os Estados Unidos e os “golpistas da direita” na Venezuela: “Somos vítimas do Ku Klux Klan. Na Casa Branca está o Ku Klux Klan. Tenho vergonha alheia desta oposição, que recebe ordens pelo Twitter de Mike Pence, John Bolton e Mike Pompeo.” Num discurso combativo, em que avisou Washington para não pôr à prova o seu Exército, sugerindo que os Estados Unidos poderiam enfrentar “um novo Vietname”, Maduro voltou a propor a antecipação das eleições legislativas — mas não das eleições presidenciais, que é a principal exigência da oposição. A ouvir Maduro em Caracas, Carmen Losada, de 80 anos, resumia ao El País o estado de espírito da sua Venezuela — a que diz manter-se fiel ao Governo: “Comeremos pedras e terra, mas vamos defender a revolução. Os Estados Unidos e a oposição não nos tirarão o nosso espaço.” alexandre.martins@publico.pt

“Políticos, pensem bem de que lado estão. Só há um lado, o de Juan Guaidó” Reportagem João Pedro Pincha

O

sistema de som chegou com quase hora e meia de atraso, mas isso não impediu que os participantes de um protesto contra Nicolás Maduro em Lisboa tenham pedido inúmeras vezes à comunidade internacional, com Portugal e a União Europeia à cabeça, para ajudarem a “acabar com um governo tirano e assassino”. Na Praça do Comércio, em redor de uma grande bandeira venezuelana posta no chão, reuniram-se várias dezenas de pessoas com o lema “Quando o medo morre, nasce a liberdade” e todas as intervenções frisaram isso mesmo. “Falem, senhores! Estamos num país onde ninguém nos vai silenciar”, repetiu uma e outra vez uma pessoa da organização, incentivando os presentes a tomarem a palavra. “Há 500 mil portugueses na Venezuela”, lembrou um homem, Manuel, que defendeu que é tempo de a União Europeia reconhecer Juan Guaidó como presidente interino do país. “Por favor, precisamos de ajuda. Espero que neste momento tão complicado para o nosso país nos ajudem.” Quando o megafone finalmente chegou, foi Christian Höhn, um dos organizadores, a vincar: “A Venezuela tem um presidente que se chama Juan Guaidó. Ponto. Reconheçam-no já. Não é amanhã, não é daqui a 90 dias. Agora!” O manifestante afirmou que existem em Portugal cerca de 12 mil venezuelanos e que muitos podem votar para a Assembleia da República. Por isso deixou um recado aos partidos. “Senhores políticos, pensem bem de que lado estão, porque só há um lado – e esse é Juan Guaidó.” Ontem houve manifestações

pró-Guaidó em vários países e, em Portugal, as pessoas saíram à rua não só em Lisboa mas em cidades como Aveiro ou o Funchal. Na Madeira, mais de duas centenas de pessoas concentraramse na Praça do Município, mostrando que “estão do lado” do autoproclamado presidente interino. “Hoje a nível mundial vão saber que estamos, 90% dos venezuelanos, do lado correcto da história para alcançar a democracia e liberdade, é do lado de nosso presidente realmente eleito, Juan Guaidó”, disse Aura Rodrigues da associação Venexos, recordando que “durante a ditadura de Nicolás Maduro morreram cerca de 250 pessoas”, 45 das quais em 2019. Depois de ler o nome destas 45 vítimas, os manifestantes observaram um minuto de silêncio e entoaram os hinos da Venezuela e de Portugal. Ontem, houve manifestações em várias cidades europeias, como Paris, Madrid ou Lisboa

Em Aveiro, muitos vestidos com trajes de amarelo, vermelho e azul, outros simplesmente com chapéus tricolores, com as cores da bandeira venezuelana, juntaram-se no Rossio. Em Madrid, centenas de pessoas acorreram às Portas do Sol, onde se ouvia: “Estamos aqui pelo calor da liberdade e pelo calor da democracia!” “Juan Guaidó representa o espírito constitucional que ansiamos. Somos pacientes e esperamos que Espanha reconheça em 24 horas o legítimo presidente da Venezuela”, afirmou ao ABC Fernando Gervasi, antigo embaixador de Venezuela en Espanha. com Lusa joao.pincha@publico.pt


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4 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO

Vítor Caldeira

Habituado por dever de ofício a debitar sentenças sobre a conduta dos outros, o Tribunal de Contas (TdeC), num exercício de saudável humildade, dispôs-se a fazer uma autoavaliação. É algo raro na administração portuguesa, só as universidades costumam fazê-lo. E as conclusões do TdeC, presidido por Vítor Caldeira, sugerem que a auto-avaliação foi isenta. Identificou aspectos positivos (como a independência) e negativos (como a morosidade). A.V.

O ministro do Ambiente herdou uma situação difícil no panorama automóvel do Estado no que diz respeito às metas ambientais, mas está a fazer um esforço. Ontem, reconheceu que “há ainda muito para fazer” e enumerou os vários incentivos que lançou para a substituição de viaturas mais amigas do ambiente nos transportes públicos e nas autarquias. Alguns dos resultados só poderão ser visíveis quando Matos Fernandes já não for ministro. H.P.

Matos Fernandes

O artista António Marinho e Pinto Manuel Carvalho Editorial

N

ão é difícil nutrir uma leve simpatia por António Marinho e Pinto. As suas bengaladas verbais, a irascibilidade, a aura de enfant terrible e um certo estilo dandy dão-lhe um ar novecentista, quase queirosiano, que fica bem nesta era da política de plástico. Foram, aliás, estas qualidades em falar para elites que o elegeram para bastonário da Ordem dos Advogados e foi a sua prosápia em dizer o que o povo quer que

o levou ao Parlamento Europeu. O problema, porém, é que, se o ar durão e a mística de cruzado servem para ganhar uma eleição, é suposto que a reeleição exija mais do que passeios pela Europa fria, um partido caudilhista ou uma propensão para a incoerência que desconhece a palavra de honra. Marinho e Pinto não pensa assim. Apesar de estar “cansado” com Bruxelas e Estrasburgo, apesar de se julgar no final do “prazo de validade” há já um ano, apesar de o generoso salário de deputado lhe causar urticária moral, apesar de o Parlamento Europeu não “ter utilidade”, Marinho e Pinto decidiu devotar-se ao sacrifício e vai-se recandidatar. Ele “não queria”, note-se. Mas tem de prestar contas e, coisa transcendental, tem de

obedecer à vontade do partido que, recorde-se, criou para espelhar o seu ego. Raras vezes a democracia produziu um exemplar com tanta falta de pudor e tanto excesso de lata como Marinho e Pinto. Comparado com ele, qualquer deputado videirinho, dedicado a assinar presenças, a votar de cruz nas comissões ou a fazer declarações inócuas parece uma estrela. Porque, pelo menos, a condição dessa espécie é passar despercebido. Marinho e Pinto não. Com ele, tudo se faz com ruído. A campanha para a eleição, a saída do partido que o elegeu, a criação de um partido feito à medida para o reeleger, tudo obedece ao estrondo e à incoerência ou à falta

de memória, de exemplo e de um mínimo rubor na face. Talvez o ora recandidato acredite que os eleitores que o desprezaram nas eleições legislativas (o seu Partido Democrático Republicano obteve 1,14% dos votos) aceitem com piedade a única sincera proposta política que tem para lhes apresentar: o generoso salário de Bruxelas que tanto nojo lhe causou. Ele, que se diz “pobre” e tem “uma filha no estrangeiro”, precisa. Saber se merece, ou se o país merece, é outra coisa. Talvez, por isso, o teste das europeias seja para ele o fim do circo. Os portugueses serão crentes, mas não hão-de ser tão parvos como Marinho e Pinto supõe. manuel.carvalho@publico.pt

CARTAS AO DIRECTOR Marcelino da Mata

As cartas destinadas a esta secção devem indicar o nome e a morada do autor, bem como um número telefónico de contacto. O PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos não solicitados e não prestará informação postal sobre eles.

Email: cartasdirector@publico.pt Telefone: 210 111 000

Apreciei devidamente o entusiasmo refrescante (e ingénuo) de João Miguel Tavares no seu texto sobre Marcelino da Mata como o mais condecorado militar português de sempre. Marcelino, mais do que um militar, foi um guerreiro e, mais do que corajoso ou valente, um temerário. Representou o maior fenómeno em combate na nossa guerra de despedida do Império. Sem lhe tirar um milímetro aos seus feitos e à minha admiração por ele, até porque o conheço, obrigo-me, contudo, a esclarecer que, em relação ao escol dos combatentes metropolitanos, Marcelino, actuando no seu habitat natural, possuía duas decisivas vantagens: ser preto e falar dialectos guineenses. Podia vestir uma farda do PAIGC, entrar à vontade num acampamento e...

Marcelino da Mata, se combatesse em Portugal, seria muito bom guerreiro, mas com certeza não tão bom como, por exemplo, Abreu Cardoso, Rebordão de Brito, Daniel Roxo ou Isaías Pires. Fora do seu habitat africano, simplesmente não poderia ser a lenda, “O Marcelino”. Acresce que ele admira Alpoim Calvão, o “primus centurio” e cantor de ópera, e Carlos Matos Gomes, o comando e romancista. Ambos foram seus comandantes. Rui de Azevedo Teixeira, Porto

E agora, dr. Carlos Costa? Carlos Costa foi nomeado a 7 de Junho de 2010 governador do Banco de Portugal. No entanto, como se tem verificado, não exerceu na prática e até ao dia de hoje todas as suas competências como deveria ter feito e, antes pelo contrário, pactuou com situações

absolutamente incompreensíveis, como foi o caso da resolução do BES. Que atitude vai Carlos Costa tomar relativamente a Carlos Santos Ferreira e a Fernando Faria de Oliveira pelo comportamento que tiveram enquanto gestores da CGD? Devem continuar, depois de tudo o que fizeram, a ser consideradas pessoas idóneas para ocupar cargos de gestão bancária ou, pelo contrário, devem ser afastados dos cargos que ocupam? Será que o governador do Banco de Portugal vai, uma vez mais, olhar para o lado? Manuel Morato Gomes Senhora da Hora

Posições extremadas Nem Maduro nem Guaidó serão a solução do desumano problema com que se depara a Venezuela, pois o que dá dó são os milhões de cidadãos estarem a servir de

cobaias a quem nem lhes dá pão nem estabilidade económica e social. Já sabemos que os abutres e os falcões se perfilam para tirar dividendos da desgraça humana, sem contudo quererem solucionar o padecimento de milhões de inocentes. José Amaral, Vila Nova de Gaia

Femicídio em Portugal Aumentou o número de mulheres assassinadas em contexto familiar e o femicídio continua a deixar crianças e jovens órfãos de mãe. Honradas mulheres são metodicamente assassinadas pelos companheiros ou excompanheiros. Há mulheres que mesmo divorciadas tombaram às mãos de psicopatas. Urge um plano nacional de combate a este flagelo que não pode deixar a sociedade civil indiferente. Ademar Costa, Póvoa de Varzim


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 5

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

Paulo Macedo

O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) recusou-se a dar razão à administração da CGD, liderada por Paulo Macedo, que cancelou o pagamento do subsídio de refeição aos trabalhadores no mês de férias. Foi confirmado assim o entendimento do Tribunal da Relação de Lisboa. Mas Macedo não desiste e já recorreu da decisão para o plenário do STJ numa guerra jurídica que o opõe aos sindicatos e que está a travar desde os primeiros dias da tomada de posse. H.P.

Massimiliano Allegri

Tem sido uma semana difícil — e atípica — para a Juventus. Depois da surpreendente eliminação da Taça de Itália, graças a uma pesada derrota por 3-0 com a Atalanta, ontem foi a vez de o campeão italiano derrapar no campeonato. Num jogo em que estiveram quase sempre em vantagem (e em que Ronaldo apontou dois golos), os “bianconeri”, treinados por Massimiliano Allegri, deixaram-se empatar pelo Parma e permitiram uma ténue aproximação do Nápoles na classificação. N.S.

ESCRITO NA PEDRA Negligenciei a saúde. Foi um erro fundamental para a revolução, para o povo venezuelano e para a opinião pública internacional Hugo Chávez (1954-2013), ex-Presidente da Venezuela

O velho selfie

YAHYA ARHAB/EPA

SEM COMENTÁRIOS SEPULTURAS DE REBELDES HOUTHI EM SANA’A, A CAPITAL DO IÉMEN

C

Miguel Esteves Cardoso Ainda ontem

EM PUBLICO.PT Especial João César Monteiro

Um “McNamara” de 16 anos

Não há só arte em Serralves

Faria 80 anos ontem. Recuperámos os textos que fomos publicando desde 1991 sobre o cineasta. As entrevistas, as críticas e comentários, as polémicas. Os filmes. E textos assinados pelo próprio. publico.pt

Chama-se “Tony” Laureano e é visto como o “futuro do surf de ondas grandes”. Começou a surfar aos oito anos, já desceu uma onda com mais de 12 metros. Reportagem multimédia. publico.pt/1860424

Ao redor das esculturas de Anish Kapoor, e desde muito antes de estas chegarem, centenas de espécies de fauna e flora habitam no Parque de Serralves. Um novo guia de campo ilustra e apresenta 70 delas. publico.pt/p3

hega uma altura em que a denúncia de uma coisa se torna mais incómoda do que a coisa. Acontece agora com o selfie. Ao ver mais uma pessoa a tirar um selfie num parque de estacionamento ocorreume que aquilo que eu estava a ver era um comportamento humano muito antigo, tão antigo como nós humanos: fingirmos que estamos bem. Não havia telemóveis mas havia todas as outras maneiras de descrever o nosso estado de espírito. Perguntam-me “como é que estás” e, se eu me portar bem, respondo que estou bem. Se quiser ser um chato digo a verdade e ponho-me a recitar a minha lista de queixumes. As pessoas que vêem os selfies, tendo escolhido seguir quem os publica, estão efectivamente a dizer que querem saber como é que essas pessoas estão. Elas respondem que estão bem. Mentem para poupar tempo. Mentem para não incomodar. Não há nada mais antigo, mais precioso e mais digno de treino e estudo do que a mentira. Para mais, quantas pessoas acreditam que o sorriso num selfie é espontâneo e genuíno? Pode-se dizer com exactidão: nenhuma. O que o selfie diz é “cá estou eu!”. Os likes e comentários são para animar. Quanto mais mentiroso for o selfie sorridente mais essa pessoa precisa de ser animada. Sendo assim é como se estivesse a pedir bocadinhos de atenção e de elogios. É como fazer uma palhaçada para fazer rir os amigos mas, quando um deles pergunta se está tudo bem, vamos abaixo e contamos a desgraça que nos aconteceu. Um like pode ser um “não há-de ser nada”. O selfie sempre esteve connosco. E dá muito jeito.


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6 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO

Quando não há mais nada, ficam os mitos DR

Teresa de Sousa Sem Fronteiras Na imprensa conservadora, a resistência britânica a Hitler já é a resposta ao receio de um “Brexit” sem acordo

1.

Há dias, um político defensor irredutível do “Brexit” respondia a uma questão colocada por um canal de televisão, sobre as consequências dramáticas de uma saída sem acordo, que os ingleses tinham aguentado a II Guerra sem se ir abaixo. Não é o único. Na imprensa conservadora, os dias gloriosos da heróica resistência britânica às investidas de Hitler começam a ser a resposta que resta para o crescente sentimento de ansiedade que a aproximação da data da saída sem acordo está a causar. O Financial Times dá conta do regresso dos “mitos sobre a resiliência dos britânicos”, citando, por exemplo, um recente texto de Charles Moore na Spectator. Diz o jornalista: “Deste lado da costa, temos a tradição secular do contrabando e estamos preparados para ir nos nossos pequenos barcos até Dunquerque ou outro sítio qualquer e trazer de lá reluzentes alfaces, feijão-verde francês ou laranjas e limões franceses.” Esta displicência só não é ridícula porque faz parte do jeito de ser displicente dos britânicos que toda a gente conhece. Dunquerque exalta a memória dos anos 40, quando as Ilhas resistiam sozinhas à barbárie hitleriana. Os bombardeamentos contínuos de Londres e de outras cidades inglesas durante o Blitz mostram um povo que prefere cair de pé a ceder perante a pior das provações. Centenas de filmes foram e são dedicados à sua “finnest hour”. Mas era também o orgulho de um povo habituado a liderar um Império onde o Sol nunca se punha, uma grande potência marítima que “governava as vagas”, um país que escreveu a Magna Carta e a Revolução Industrial, que nunca aceitaria render-se a um líder bárbaro e demencial que alimentou o sonho louco e imperial de dominar a Europa. Os ingleses resistiram também porque Churchill era Churchill — uma figura ímpar que conseguiu traduzir em palavras e em actos esse espírito indomável, ao qual o país se rendeu e o mundo livre também. Homens e mulheres de todas as classes sociais fizeram o seu papel. Ainda hoje há uma velha anedota a gozar com a forma peculiar de falar da

aristocracia britânica recorrendo à última frase dos pilotos da RAF que travaram a Batalha de Inglaterra antes de levantarem voo: “chocks away”. 2. Nada justifica, no entanto, este espírito destituído do mínimo de bom senso ou do mais elementar realismo. O país não é alvo de qualquer agressão exterior. Aderiu à Comunidade Europeia — o pedido foi entregue em 1964, mas teve de esperar que De Gaulle saísse do Eliseu para receber o sim de Bruxelas — porque se tornou por demais evidente que os seis países fundadores, todos eles igualmente devastados pela guerra, tinham conseguido recuperar economicamente muito mais depressa. Londres tornou-se uma cidade emersa em “fog”, a pobreza tornou-se visível, a decadência também. Foi o “Inverno do Descontentamento”, com as infindáveis greves dos mineiros e de muitos outros trabalhadores, organizados em poderosas “trade unions”. Os conservadores erguiam nessa altura a bandeira europeia e os trabalhistas digladiavam-se furiosamente por causa da Europa. Foi preciso a conjugação do impacte positivo da adesão e da chegada de Margaret

A coincidência entre a eleição de Trump e o “Brexit” foram uma dupla machadada para a Europa

Thatcher a Downing Street para que o caminho se fosse lentamente invertendo. Quando John Major a substituiu, em 1991, a economia já tinha dado a volta, os homeless tinham desaparecido das ruas Londres e o Governo de sua Majestade tinha recuperado da tensão extrema que a Dama de Ferro tinha criado com Bruxelas na sequência da unificação alemã e das negociações de Maastricht, antecipando uma Europa que não seria apenas o Mercado Único mas uma união de destino. Blair reinou sobre a Cool Britannia. Que já nada tinha a invejar aos seus grandes parceiros europeus, que ganhara uma influência crescente no centro das decisões europeias, que tinha um discurso forte e comprometido com a Europa, não apenas como uma realidade política em si própria, mas como uma potência de primeira linha na nova ordem mundial. Quando, em 2005, Blair foi ao Parlamento Europeu apresentar o programa da presidência britânica da União, foi ovacionado de pé pela maioria das bancadas. Dois anos depois do início da guerra no Iraque. A “terceira via” contagiava a Europa, de Lisboa a Berlim, passando até por Paris, onde os socialistas mais moderados se interrogavam sobre as razões pelas quais a economia inglesa crescia com taxas que a francesa estava longe de conseguir alcançar. Sabemos hoje que esse período foi uma breve ilusão, quando o mundo ocidental acreditou que o seu modelo político e económico se iria expandir à escala global. O 11 de Setembro acabaria por mudar bruscamente o rumo da única superpotência, lançando ondas de choque sobre o mundo. A globalização mostrou o seu lado negro. O optimismo acabou. A profecia de Samuel Huntington sobre o “choque de civilizações” como a marca do século XXI parecia confirmar-se. A queda do Lehman Brothers desencadeou uma crise financeira à escala mundial que se transformou numa Grande Recessão. Ainda hoje curamos as feridas que deixou. Na Europa e nos Estados Unidos, a História começou a andar ao contrário. Mudaram os problemas das nossas sociedades e as democracias estão a ser testadas em quase toda a parte. Depois da esperança Obama, vivemos o pesadelo Trump. E, mais uma vez, os EUA ainda têm o poder de provocar ondas de choque no mundo inteiro quando mudam radicalmente a sua relação com o mundo. A coincidência entre a eleição de Trump e o “Brexit” foi uma dupla machadada para a Europa. E a Europa ainda não sabe como lidar com ambos. É aqui que estamos. Com o Reino Unido mergulhado numa crise existencial sem precedentes desde a II Guerra. Com o Continente sem saber como reagir. Com o risco de um descalabro que, como também

lembra o FT, os britânicos não vão receber com o mesmo espírito com que receberam as bombas de Hitler. Quanto mais não seja, porque vivem em paz há 70 anos e porque, como todos os povos europeus, se habituaram à prosperidade. Cairiam de pé, ninguém duvida. Mas nunca perdoariam a uma classe política desnorteada e mesquinha, fechada numa “casa de loucos”, que os conduziu para uma situação insustentável, incluindo o risco de fragmentação do próprio Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, o longo nome que figura nos passaportes britânicos. Perguntariam então: para quê? 3. Na América, a economia resiste à vaga de incertezas que o irredentismo da Casa Branca alimenta. Em Janeiro, criou 304 mil novos postos de trabalho, ultrapassando as melhores previsões. Na Europa, pelo contrário, as previsões entraram na fase do pessimismo, contrariando os fundamentos das economias europeias, que são, no geral, sólidos — contas equilibradas, um longo período de retoma, taxas de juro baixíssimas, inflação controlada. Só se podem explicar por razões políticas, que vão do “Brexit” às guerras comerciais de Trump, passando pela própria indefinição que paira sobre o futuro da Europa. Os próprios britânicos ainda não sentiram demasiado os efeitos antecipados da previsão de saída. Um estudo recente do Centre for European Reform demonstrava que, sem o resultado do referendo, o PIB britânico seria 2,3% mais elevado. É uma abstracção difícil de compreender pelo cidadão comum. A vida está caríssima, é sobretudo o que os britânicos mais sentem. Por mais estranho que pareça, há um número demasiado elevado de homeless nas ruas de Oxford. A contracção do consumo e do investimento está a ser compensada, em parte, pela armazenagem de bens essências pelas famílias e de matérias-primas pelas empresas. Os empresários entraram já em modo de pânico e o que dizem deveria fazer gelar o sangue a qualquer político responsável. Não é o caso. É aí que entra o Blitz. O problema é que o heroísmo precisa de uma justificação muito mais convincente do que sair de uma comunidade de países que vivem em paz, que enfrentam os mesmos problemas e enfrentam os mesmos desafios. Quando a “special relationship” já não é o que era. Quando a Commonwealth é pouco mais do que uma miragem. Quando a Europa precisava, talvez mais do que nunca, dos britânicos para enfrentar um mundo que lhe é cada vez mais hostil. Jornalista. Escreve ao domingo teresa.de.sousa@publico.pt


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 7

ESPAÇO PÚBLICO

A capacidade de julgar, distinguindo o bem e o mal, nos actuais tempos Irene Flunser Pimentel O que fazer face a todas estas situações? Só conheço uma forma. Actuar em todos os campos da sociedade em defesa da democracia

A

qui há uns dois anos, o jornalista e escritor Olivier de Guez entrevistou-me, como a outros portugueses, para tentar desfazer aquilo a que ele chamava “mistério português”, o único país da Europa onde não havia movimentos populistas de extremadireita, racistas e xenófobos importantes e muito menos no Parlamento. O resultado das entrevistas foi um artigo, intitulado La mélancolie portugaise, rempart contre le national-populisme (Points, 13/4/2017). No entanto, se o jornalista francês cá voltasse hoje, veria que a situação, embora não completamente, já é outra. Portugal, como é evidente, não é um país imune — nem poderia sê-lo, pois é europeu e também segue o “ar do tempo” — a esses fenómenos que mancham as democracias, desde logo a nossa. Democracia imperfeita, como todas as democracias, mas não preciso de citar Churchill, para lembrar que é o nosso mais precioso património, que por isso deve ser defendido e aprofundado diariamente. Aqui chegados, cabe não nos distrairmos com insultos contra as nossas instituições, bem como com lutas corporativas ou que tendem a isolar os seus protagonistas e a dividir, em vez de unir, no combate contra o inimigo principal e comum, a nível europeu e em Portugal. E este é o nacional-populismo de extrema-direita, a xenofobia, o racismo, a homofobia e o sexismo que minam a democracia (liberal). Penso assim que é um dever de cidadania juntar-me aos que alertam contra os perigos que assombram a nossa democracia e lembrar que os inimigos desta têm em comum a utilização dos próprios mecanismos e das instituições democráticas para a destruir. Muito brevemente, sem mencionar causas estruturais como o aprofundamento da desigualdade económico-social provocado pelo neoliberalismo financeiro, nem manifestações racistas e/ou sexistas que abalam internamente instituições democráticas como os nossos aparelhos judicial e policial, recordo alguns recentes episódios, reveladores dos perigos que enfrentamos. Entre estes, conta-se o facto de um

canal televisivo privado propagandear objectivamente Salazar e a sua ditadura, através da convocação de uma manifestação de carácter fascista e de uma entrevista a um neonazi confesso, preso devido a crimes de violência racista. Manifestação, aliás, cuja comunicação às autoridades não mereceram destas nenhum reparo e que, quanto a mim, não cabe no âmbito da liberdade de expressão constitucional, devendo, por isso, ter sido proibida. Já uma manifestação de jovens contra o racismo e a violência policial no bairro da Jamaica, no Seixal, sem comunicação prévia dos seus promotores, na Avenida da Liberdade, foi reprimida de forma desproporcional. Erguiam-se contra a violência policial no bairro da Jamaica (Seixal), o qual não deveria existir e, por isso, espero sinceramente que os meus impostos sirvam para realojar os seus habitantes em condições dignas de habitação. Num artigo do jornal britânico Guardian sobre estes acontecimentos, intitulado Lisbon’s bad week: police brutality reveals Portugal’s urban reality, uma jovem do bairro afirma: “Evidentemente que não queremos guerra com a polícia; no entanto, temos de lhe mostrar que temos direitos — assim como temos responsabilidades — e o seu comportamento tem de mudar.” A jovem tocou no ponto central, segundo penso: não à violência policial e à manifestação de sentimentos racistas e de extrema-direita no

seio da polícia, nem se deve insultá-la, generalizando numa inteira instituição o comportamento de alguns. É certo que, devido em parte às teorias luso-tropicalistas, que continuam a florescer por aí, o racismo em Portugal não é claramente combatido e, mesmo se ele não se expressa sempre às claras, não deixa de existir. Tem, aliás, raízes históricas importantes e múltiplas, entre as quais, a Inquisição, a escravatura, o longo colonialismo português e a guerra colonial, que apenas terminou em 1974/75. Outro aspecto preocupante é o surgimento de partidos de extrema-direita que aguardam a sua legalização, para se candidatarem nas eleições europeias, reforçando assim o mundo nacionalpopulista e eurocéptico, xenófobo e racista europeu. Como não dizem ao que vêm — da mesma forma não o fez o até

Portugal, como é evidente, não é um país imune a esses fenómenos que mancham as democracias, desde logo a nossa

NUNO FERREIRA SANTOS

agora único partido neofascista legal —, passarão provavelmente pelo crivo do Tribunal Constitucional. Ora este talvez não devesse apenas julgar o texto, mas também o comportamento já conhecido dos promotores de tais agrupamentos Ultimamente também, neofascistas e neonazis ocupam, sem vergonha, o espaço público português assediando e agredindo. Aconteceu, em Lisboa, a Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, e, em Braga, a um jovem activista antifascista. Quem pode e deve combater este tipo de violência é precisamente a polícia da democracia. Até no próprio Parlamento, pela primeira vez, a líder de um partido de direita, Assunção Cristas, perguntou ao primeiro-ministro se ele condenava actos de vandalismo. Como muito bem escreveu Marisa Morais, exministra de Cabo Verde, aqui neste jornal, nunca antes se tinha visto esse tipo de pergunta provocatória a outros primeirosministros, só podendo concluir — e bem — que a anormalidade de tal interrogação teria “por detrás uma intencionalidade” e “subjacente o preconceito”. O que fazer face a todas estas situações? Só conheço uma forma. Actuar em todos os campos da sociedade em defesa da democracia e aprofundá-la em todas as suas instituições. Criar uma ampla frente que una no combate contra a discriminação, o racismo, a xenofobia e a extrema-direita nacional-populista, que se não chegaram agora a Portugal, pelo menos se expressam de forma mais agressiva e aberta. A responsabilidade é das nossas instituições, dos partidos e dos cidadãos em geral. Nos anos 60 do século XX, a filósofa judia e refugiada Hannah Arendt recorreu ao imperativo categórico kantiano, lembrando, no seu livro Eichmann em Jerusalém, que, na Alemanha nazi, a sociedade alemã no seu conjunto sucumbiu a Hitler, num tempo em que desapareceram as máximas (morais) que determinam o comportamento social e os mandamentos da religião. Os raros seres humanos ainda capazes de distinguirem entre o bem e o mal tiveram “de julgar por eles próprios cada caso à medida que se apresentava, pois que não havia regra para aquilo que não tinha precedente”. Os tempos referidos por Hannah Arendt foram os mais sombrios do século XX e não estamos — felizmente — numa época tão terrível como então, mas as nuvens têm-se claramente adensado. Por isso, tentemos usar diariamente a nossa capacidade de julgar, baseada em princípios éticos e morais, distinguindo entre o bem e o mal, como o fez o cônsul Aristides de Sousa Mendes, em Junho de 1940. Historiadora


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8 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

POLÍTICA

Tribunal de Contas avalia-se e até faz recomendações a si próprio Se o desempenho global teve nota positiva, já a celeridade das auditorias foi apontada como ponto fraco. Controlo da boa aplicação dos dinheiros públicos é visto como um desafio que não depende só do TdC PATRÍCIA MARTINS

Contas públicas Leonete Botelho O Tribunal de Contas desenvolveu, no último ano e meio, o primeiro processo de auto-avaliação da instituição com vista a identificar os seus próprios pontos fortes e fracos e definir, com base neste diagnóstico, o plano de acção 2020-2022 e melhorar o seu desempenho enquanto instituição superior independente de controlo financeiro e jurisdicional das entidades públicas. É a primeira vez que um tribunal superior desenvolve um processo deste género que, em Portugal, ainda só é feito por algumas instituições de ensino superior. Este “exercício de transparência”, como classifica o presidente do Tribunal de Contas (TdeC), Vítor Caldeira, incidiu sobre o período entre Janeiro de 2015 e final de Junho de 2017, baseando-se em análise documental, entrevistas, inquéritos, grupos de discussão e revisão de processos de auditoria e jurisdicionais, numa amostra de 381 processos. Foi também objecto de controlo de qualidade pela Comissão Permanente e de certificação de qualidade pela Intosai Development Initiative (IDI). O seu objectivo é, acrescenta o presidente, contribuir “para fazer do Tribunal uma instituição ainda mais credível, relevante e útil para todos os concidadãos”. Em termos de avaliação global, os resultados revelam uma percepção positiva dos parceiros e entidades auditadas pelo TdeC, que sublinharam a “independência e qualidade do trabalho” desenvolvido, a “relevância e o rigor da função de fiscalização prévia, dos relatórios de auditoria e das decisões jurisdicionais”, de acordo com o relatório, a que o PÚBLICO teve acesso. Já a rapidez das decisões, a capacidade de reacção do TdeC e a sua forma de comunicação são apontados como pontos negativos. Ou, por outras palavras, “a celeridade e tempestividade dos relatórios de auditoria, a comunicação com os auditados e, de um modo geral, com a sociedade civil pode ser

O Tribunal de Contas também foi notícia em Dezembro por ter aprovado um código de conduta para os seus funcionários aperfeiçoada com vista a optimizar a oportunidade e o conhecimento das conclusões e recomendações formuladas para a melhoria das finanças públicas”. O processo de auto-avaliação evidenciou também “os desafios e oportunidades de melhoria com

Há uma percepção de “independência e qualidade do trabalho” do TdeC. A capacidade de reacção e a morosidade são pontos fracos

que o Tribunal se depara ao nível do exercício do controlo financeiro e jurisdicional da boa aplicação dos dinheiros públicos”, isto num momento de “profunda reforma dos sistemas orçamental e contabilístico das administrações públicas em curso e da recente atribuição ao Tribunal da competência para certificar a Conta Geral do Estado”. Ainda em Dezembro, no seu parecer à Conta Geral do Estado de 2017, o TdeC insistia no facto de que um dos problemas que há mais tempo marca presença nos seus pareceres às contas gerais do Estado é o da dificuldade de implementação do POCP, o plano contabilístico específico da Administração Pública, que há já mais de duas décadas está previsto na lei mas que os sucessivos

governos não conseguiram tornar numa realidade. No relatório de auto-avaliação, apontam-se como “oportunidades de melhoria”, neste contexto, “a actualização e adequação do quadro legal de referência da acção do tribunal à evolução do ambiente externo e às expectativas dos stakeholder”, assim como “a adequação à nova lógica orçamental, que aponta no sentido do reforço da orçamentação por programas, com maior importância do controlo e do exame da eficácia dos programas e das políticas públicas”. Aponta-se ainda a necessidade de “capacitação do Tribunal para certificar a Conta Geral do Estado, com enfoque na especialização dos recursos humanos, na disponibiliza-

ção dos meios técnicos e de suporte de informação adequados, bem como a certificação de qualificações profissionais”. O documento revela, no entanto, que, já posteriormente ao período analisado, têm sido introduzidas melhorias na capacidade do tribunal, como a criação de indicadores institucionais de medição de desempenho, o novo regulamento do TdeC, a nova estratégia para a certificação da Conta Geral do Estado, novos projectos de informatização e uma nova estratégia de comunicação, salientando também, por exemplo, a aprovação da Carta Ética aprovada em Dezembro passado. leonete.botelho@publico.pt


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 9

POLÍTICA

Marinho e Pinto recua e recandidata-se para “prestar contas” Parlamento Europeu Liliana Valente Eurodeputado será o cabeça de lista pelo Partido Democrático Republicano, depois de ter dito que não queria voltar ao cargo O anúncio foi feito pelo próprio Marinho e Pinto em conversa com o Expresso. O eurodeputado, de 68 anos, “não queria” por estar cansado, mas vai mesmo avançar para as eleições europeias de Maio como cabeça delista do seu partido, o Partido Democrático Republicano (PDR).

O actual eurodeputado diz que quer “prestar contas” e que isso só pode ser feito na campanha eleitoral. Uma posição que contraria as declarações que tem feito sobre o seu futuro político. No ano passado, em entrevista ao PÚBLICO, defendia que “em política os prazos devem ser limitados” e que, “além disso, há também um limite natural para as pessoas”. “Eu sempre gostei da vida. E, quer como bastonário [dos advogados] quer como deputado, tenho renunciado a muitas das dimensões da vida, das realizações pessoais que fariam a minha felicidade. Estou no meu limite, somos como os iogurtes, temos também um prazo de validade. E penso que o meu prazo está a che-

gar ao fim”, disse em Janeiro de 2018. Recusa que esta sua decisão tenha que ver com o salário de eurodeputado. Em 2014, António Marinho e Pinto criou polémica ao dizer que o ordenado de eurodeputado [cerca de O advogado foi eleito pela primeira vez para o Parlamento Europeu em 2014 pelo Movimento Partido da Terra

19 mil euros por mês] era “vergonhoso”, tendo em conta os ordenados auferidos em Portugal, mas também disse que — ao contrário do que fez,

por exemplo, o eurodeputado Rui Tavares em 2009 — não iria prescindir do salário: “Sou pobre, preciso do dinheiro”, justificou. Olhando para trás, o advogado diz que estas declarações foram retiradas do contexto. “O dinheiro que me dão não o deito fora, mas não é isso que está em causa”, explicou perante a polémica. “O que está em causa é que se pague tanto a deputados para fazerem aquilo que fazem e sobretudo para representarem politicamente os eleitores.” Noutra entrevista, ao Diário Económico, em 2015, justificava a decisão de se candidatar às legislativas desse ano — o que acabou por fazer já não pelo MPT, com o qual se incompati-

bilizou, mas pelo PDR, que fundou — com o facto de não estar satisfeito com a experiência como eurodeputado: “Verifiquei uma coisa que não sabia antes: o Parlamento Europeu não tem utilidade. É um faz-de-conta. Não manda nada, apesar de todas as ilusões, todas as proclamações, que são mentiras.” E acrescentou que só confirmou esta realidade depois de eleito: “Não há como estar lá e experimentar.” O PDR obteve 1,14% dos votos (61 mil) nas legislativas de 2015 e não elegeu qualquer deputado. Nas europeias, Marinho e Pinto (com o MPT) conseguira 234 mil votos. liliana.valente@publico.pt PUBLICIDADE


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10 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

POLÍTICA

Os espelhos de Pacheco Pereira

Opinião Luís Fazenda Na edição do jornal PÚBLICO de 26 de janeiro de 2019, na sua habitual crónica, José Pacheco Pereira ( JPP) elabora um conjunto de comentários ideológicos sobre o Bloco de Esquerda. Respeitar as suas opiniões não significa que se aceitem. Quando o Bloco atinge 20 anos de existência, conhecemos as análises já longínquas de JPP sobre um partido/movimento diferente dos partidos tradicionais. Análises baseadas num espírito dedutivo fora da realidade que somos, transpondo esquemas preconcebidos do género do “radical chic” e outros dichotes congéneres. Só para registo “identitário”, entendemos atuar na leitura da luta política de classes, na exata razão em que assumimos um projeto socialista. Coisa diversa é tomar a luta sindical e o mundo operário como únicas referências da luta de classes e do universo do trabalho. Estamos nessas e noutras. Basta seguir a intervenção do partido no Parlamento e na rua, conhecer os seus programas, ver as suas articulações externas ou até falar com os seus militantes, muitos deles oriundos da condição precária do emprego a que cada vez mais estão sujeitas as novas gerações. Que a social-democracia, por todo o lado, tenha abraçado o capitalismo liberal e assumido a competitividade do mercado contra os valores sociais, está demonstrado, bem como o personalismo de holograma de partidos como o PSD. É um acusatório plausível, bastante plausível, reconheça-se. Contudo, incorporar nessa desanda para a direita aqueles que, para além da emancipação do trabalho, lutam pela igualdade de género, pela justiça climática, pela não discriminação em função da classe, sexo ou da etnia, ou da religião, ou da origem,

não passa de uma presunção intelectualmente não justificada. Não preciso de usar a ironia do classificativo de pequeno-burguês, a que se refere JPP, para dizer que tresleu Marx sobre a luta política de classes. Marx apontou as dimensões simultâneas, económicas, estaduais, ideológicas e culturais. A luta de classes está em todas estas áreas. Nem tudo se reduz, como é óbvio, à luta de classes mas nada se dissocia dela em última instância. Aquele a quem nada do que era humano lhe era estranho acabou por ser o exemplo de um pensamento transversal sobre a própria História. Todos esses aspetos foram bem sublinhados em dois congressos sobre Marx que o Bloco de Esquerda já realizou. Esta genérica declaração de interesses serve apenas para que não se assuma, pelo silêncio ou omissão, que há algum tipo de rigor ou anuência na “narrativa” de JPP. Convivemos sem ânsias com tiradas sobre reformismo, afinal há alguém de direita que legitimamente não nos proscreve como Cavaco Silva, nem nos demoniza como a CIP. A luta anticapitalista é mais forte quando se juntam lutas diversas sobre vários tipos de opressão que até podem ser coincidentes em muitas pessoas. Do lado de lá está o sistema capitalista patriarcal. Diz JPP, “resumindo de forma simplificada, a nação não conta”. Será talvez por isso que reclamamos instrumentos de soberania face aos tratados europeus ou à NATO. Não sei como qualifique este “festival político”, para usar o mimo do autor. Olhe-se ao conteúdo do escrito de Pacheco Pereira, aquilo que funciona como mensagem: será que a razão de classe é apagada pelas “identidades”? Parece que a maioria das pessoas que sofrem na pele o racismo não são burgueses. Não será que juntam à exploração e desigualdade a discriminação étnica, de todas as cores? A mesma pergunta pode ser repetida para quaisquer outras “identidades”. Sim, estas lutas têm sido bem importantes na globalização capitalista que atravessamos. Se os percursos das

MIGUEL MADEIRA

Não foi a esquerda “fraturante” que abriu as portas ao avanço da extrema-direita “identidades” se afastam entre si, tal facto não ajuda à luta geral e, por isso, a convergência de todas as identidades é a solução, não o sectarismo ou a anulação das lutas identitárias, a começar pela luta operária. Dizer que a “melhoria da condição social” ajuda a todas as lutas é sempre uma tautologia. Por isso, o Bloco de Esquerda se empenhou na “geringonça”, não foi? Segundo JPP, as lutas “identitárias”, lutas sociais

profundas e progressivamente causas maioritárias em nome da igualdade democrática, provocam as causas dos fascistas. Estaríamos a fazer espelho para todos os bolsonaros. Cita até, entre outros, o movimento antiaborto. Sempre saudei JPP por ter sido um dos defensores da descriminalização do aborto em Portugal. Estaremos arrependidos disso? Nem creio que JPP esteja. Não devíamos ter legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Não devíamos ter despenalizado o consumo de drogas? Não devíamos ter leis abertas sobre imigração e nacionalidade? Não devemos ter leis sérias sobre violência de género? Não se pode achar, como a larga maioria dos jovens, que as touradas são um espetáculo bárbaro? Não podemos discutir o passado colonial? Com certeza que desagradamos aos reacionários quando melhoramos o estado

de direitos e a cultura plural. Isso será razão para abdicarmos de perspetivas progressistas? Se a lógica fosse essa, nem a luta sindical se aguentava. Não faz sentido. Percebe-se que JPP ache que os setores centristas e liberais passam por um mau bocado, confrontados à extremadireita e à esquerda, e uma pausa ajudaria à mítica recuperação desse espaço. O desejo é compreensível, mas não se pode exonerar os responsáveis pelo avanço da extrema-direita. Não foi a esquerda “fraturante” quem lhes abriu as portas. Culpar quem luta contra o opressor atinge ao mesmo tempo a condição e a consciência da pessoa oprimida. A esquerda não diz adeus a Marx, nem o absolutiza. O pensamento dialético, também marxista, supera dogmas e pronúncias de heresias. Felizmente, há razão. Dirigente do Bloco de Esquerda


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12 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

SOCIEDADE

Joziana só sonha regressar ao Brasil e “começar tudo de novo” Os brasileiros são a maior comunidade imigrante em Portugal mas também os que mais recorrem ao programa de apoio ao retorno voluntário da Organização Internacional para as Migrações. Às vezes, o sonho torna-se um rol de despesas Reportagem Joana Gorjão Henriques Joziana de Sena, 34 anos, e Wolner de Oliveira, 32, estão juntos desde 2000. Tinham acabado de comprar uma casa na cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais, através de um programa social quando um tio dela, imigrado em Portugal, lhes começou a falar da vida à portuguesa. Dizia-lhes: “Vem para cá, o trabalho para o Wolner aqui é bom, eu recebo vocês, ele pode começar comigo nas obras” de construção civil. Depois de algumas conversas por Whatsapp com o tio, com promessas de “mundos e fundos”, Joziana desafiou Wolner: “Vamos. Vamos dar um jeito.” Para terem dinheiro para a viagem, e por causa do plano de emigrarem, venderam as coisas todas que tinham — incluindo os móveis, que estavam “novinhos”, e o carro. Ficou para trás ainda o posto de trabalho de Wolner de Oliveira numa agência funerária, onde estava havia dois anos. Vinham em busca de uma mudança de vida, queriam “educar melhor” os três filhos: Wagner com 11 anos, Enzo com cinco e Bernardo com dois. “O que a gente não teve queria dar aos nossos filhos: uma escola melhor. As escolas aqui são melhores.” Joziana e Wolner não tinham a ilusão de que iriam ficar ricos mas queriam também ter “qualidade de vida”. Eles, mas também muitos mais brasileiros, têm essa ambição: embora o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não revele ainda dados concretos sobre o número de brasileiros que viviam em Portugal em 2018, deu ao PÚBLICO a indicação de que houve um “aumento significativo” em relação a 2017 — quando já se tinha registado uma subida de 5,1%, sendo mais de 85 mil. No consulado do Brasil não se faz

Imigrantes em Portugal que pediram apoio da Organização Internacional das Migrações para regressarem aos seus países de origem INSCRITOS

399

Brasileiros

Outras nacionalidades

616 355

279 190

Total 525

378

2014

2015

EMBARQUES

Brasileiros

437

244 2016

2017

195

2014

243 2015

2018

Outras nacionalidades

345 Total 412

684

232 52 66 2016

Fonte: Organização Internacional das Migrações

registo destes dados, mas sabe-se pelo número de atendimentos — que passaram de 300 para mais de 760 por dia — que há uma maior procura. Por exemplo, é indicativo o facto de ter mais do que duplicado o número de pedidos do certificado de registo criminal, documento necessário para obter a regularização, passando de 13.673 em 2017 para 31.129 em 2018, ainda antes da eleição de Jair Bolsonaro em finais de Outubro. Só que nem tudo corresponde ao imaginado. A 6 de Agosto de 2018, Joziana e Wolner saíram do Brasil. E mal chegaram o trabalho prometido para Wolner não aparecia. “Ele [o tio de Joziana] ia enrolando.” Ficaram uns quatro dias na casa dele, e aí sentiram que ele se estava “a tentar” encostar no casal. “Eu tinha vindo com um dinheirinho para não depender dele”, diz Joziana de Sena. Comove-se, começa a chorar. “Não calhou bem. A gente veio nesse intuito e por ele ser meu parente

261 2017

353 380

2018 PÚBLICO

para mim foi... foi acabar com a minha família. A gente vai ter que começar tudo de novo no Brasil.” Wolner de Oliveira acabou por conseguir um trabalho numa roulotte de comida, que andava por vários sítios, gerida por um brasileiro que o dispensou ao fim de quase três meses, pois, segundo diz, não queria fazerlhe contrato de trabalho. Acabou inclusivamente por não lhe pagar a totalidade do salário, dando apenas 240 euros, quando a renda de casa que pagavam na altura era de 350 euros. “Ficámos em dívida com a senhoria. Bate o desespero, estar num país que não se conhece e ficar em dívida.. O Enzo saiu da escola e ficou devendo um mês de comida”, lamenta a mãe, chorosa. No Brasil, Wolner era agente funerário, com trabalho fixo e um ordenado que dava para sustentar a família. Fazia “um pouco de tudo”, desde atendimento aos familiares do defunto, a “mexer em preparação de corpo”, motorista

Brasileiros são os que mais recorrem ao apoio a

O

s brasileiros foram, em Portugal, os que mais recorreram ao apoio da Organização Internacional para a Migrações (OIM) ao longo dos anos — em 2018, representaram 90% das 684 inscrições totais, constituindo ainda 93% dos 380 migrantes que regressaram. E é justamente o estado de Minas Gerais aquele que mais está representado nestes retornos, com a cidade de Governador Valadares — a

mesma de Joziana e Wolner — a ter grande expressividade, afirma Luís Carrasquinho, ponto focal para o Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração da Organização Internacional para a Migrações (OIM) em Portugal. Olhando para os dados de pedidos e regressos, os números variam de ano para ano. Em 2013, por exemplo, houve mais de mil inscritos, 790 desses eram do Brasil — houve 692 embarques, desses, 593


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 13

O que a gente não teve queria dar aos nossos filhos: uma escola melhor. As escolas aqui são melhores

Natural de Minas Gerais, esta família chegou a Lisboa em Agosto MIGUEL MANSO

ou venda de caixões. Estava na empresa havia dois anos, mas trabalhava na área há mais tempo, “inclusive eles [os patrões] não queriam que eu viesse embora”. Lidar de perto com a morte não lhe fazia impressão. “Para mim hoje é a coisa mais tranquila.” Foi por isso que em Portugal procurou emprego nas agências, “mas a gente não tem documento”. Este foi o principal problema de adaptação da família. Sem autorização de residência, procurar emprego tornou-se difícil; sem emprego, ter a autorização de residência é quase impossível.

Dívidas acumulam-se

ao retorno eram de brasileiros. Em 2016, por exemplo, só se inscreveram 244 imigrantes, mas em 2017 foram 437. Os pedidos variam consoante a situação económica — nos anos de crise eram mais, diz o técnico. “Se a tendência agora é para subir ou diminuir, é difícil prever.” A família de Joziana e Wolner corresponde ao padrão que tem aparecido na Organização Internacional para a Migrações, diz Luís Carrasquinho. “Nos casos

que analisámos em 2018 verificase um período de permanência curto em Portugal, regra geral inferior a cinco anos, com forte incidência de pedidos no ano de chegada ou nos dois anos seguintes. Muitos destes casos não encontram nem têm rede de suporte no país; não conseguem um trabalho fixo que lhes permite estabilizar (quando conseguem encontrar alguma coisa) e encontram-se muito rapidamente numa situação de carência e

vulnerabilidade. Estes são os principais factores mencionadas nas entrevistas.” Criado desde a década de 1990, o programa é financiado pelo Fundo Asilo Migrações e Integração em 75% e os restantes 25% pelo Governo português — em 2016, 2017 e 2018, o orçamento foi de 1,5 milhões de euros. O número de apoios ao retorno concedidos também varia de acordo com o orçamento disponível. J.G.H.

Antes de virem para Portugal, dizem que não pesquisaram, nem perguntaram a mais ninguém como era, basearam-se nas informações do tio. Mas muita gente no Brasil os avisou para não imigrarem. “Não vai, lá não é Brasil, as coisas são mais difíceis, e não tem ninguém para ajudar”, ouviram. Sabiam que ia ser difícil por não terem documentação, mas não esperavam que fosse tanto. Agora, com os meses a passar e sem trabalho fixo, perceberam que iam ficar cada vez mais endividados. “A gente veio a pensar que seria difícil no começo, toda a gente passa por uma dificuldade, mas depois a coisa se ajeitava. Todo o mês a preocupação são as dívidas e não ter dinheiro para as pagar”, desabafa Joziana. Conseguiram finalmente encontrar uma casa por 220 euros, em Pêro Pinheiro, através da ajuda de um padre na igreja de Assafora. Depois algumas pessoas que conheceram — brasileiros e portugueses — ajudaram-nos com compras, com coisas para a casa e “até com fraldas” para o filho mais novo. O pequeno apartamento fica no rés-do-chão das traseiras de uma espécie de complexo de casas germinadas onde há outras famílias a viver. Entra-se pelo pátio, aparecem cães a ladrar. Lá dentro há dois quartos, onde as paredes brancas mostram humidade e bolor, uma sala que é mais um corredor entre a porta da rua e a cozinha, uma pequena casa de banho e um pátio com brinquedos

de rua. Os rapazes estão sentados no sofá, a ver televisão e a jogar. Recapitulando os trabalhos que Wolner conseguiu até agora, desde Agosto: dois meses na roulotte, um mês numa pastelaria onde diz que não lhe pagavam o prometido — e por isso veio embora — e agora pequenos biscates de vez em quando na padaria, durante a noite, para substituir trabalhadores que folgam. “Chamam dois dias, depois fico quatro parado, depois chamam dois”, conta. É um trabalho que dá apenas — e com dificuldade — “para a gente comer”. Ela não trabalha, e nem chegou a procurar, porque não conseguiu pôr o filho mais novo na escola, era preciso pagar a mensalidade e não há dinheiro. Quando se mudaram para Pêro Pinheiro, a única opção para o filho do meio era uma escola longe, onde teriam de o levar de carro. “Tudo requer muito gasto”, queixa-se Joziana. Mas ela tem vontade de voltar a trabalhar: “Estar o dia todo dentro de casa não é bom”, diz. Desfeito o sonho da emigração, decidiram recorrer à Organização Internacional para a Migrações em Dezembro, que tem um programa de apoio ao retorno voluntário e à reintegração, no qual se subsidia a viagem, faz o acompanhamento e ajuda na reintegração a curto ou médio prazo no país de origem, incluindo assistência na criação de um pequeno negócio, formação profissional ou assistência médica. Como são uma família grande, disseram-lhes que o processo demora. “Deram até Março, mas não sei, porque é Carnaval e as passagens são mais caras.” Joziana não dorme, com a ansiedade. Tem medo das contas, tem medo das dívidas. “A nossa vida está parada até no Brasil, a prestação da casa está atrasada. Nenhum dos familiares tem modo de nos apoiar: são cinco viagens de avião, fica puxado.” Wolner tem esperança de voltar ao antigo trabalho. “Ele não fixa num emprego aqui, não dá. O melhor é voltar para o nosso país. Lá tem os nossos parentes, aqui a gente não tem ninguém.” jgh@publico.pt


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14 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

SOCIEDADE

Cada vez menos alunos podem contar com a escola para aceder ao digital Na OCDE são muito poucos os países onde há uma quebra no número de alunos com acesso a computadores ou portáteis nas escolas. Mas Portugal é um deles e isso pode estar a agravar desigualdades RUI GAUDÊNCIO

Educação Clara Viana Uma das principais mudanças nas práticas de aprendizagem em Portugal, nos últimos anos, foi feita pela negativa: a percentagem de alunos com acesso a computadores ou portáteis nas salas de aula sofreu um forte trambolhão, tendo caído entre 12 a 33 pontos percentuais. Este é um dos resultados apontados no estudo Measuring Innovation in Education, divulgado nesta semana pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Económico (OCDE). Para avaliar as mudanças ocorridas nas práticas de aprendizagem no interior da sala de aula, nas escolas e no conjunto do sistema educativo, a OCDE utilizou os inquéritos feitos a professores, directores e alunos no âmbito dos testes internacionais que visam avaliar a literacia dos alunos aos 15 anos de idade e quando ainda estão no 4.º ano de escolaridade. Com base sobretudo nas respostas de professores e de directores de escolas, o novo estudo da OCDE dá conta de que no conjunto dos países da organização a percentagem de alunos com 15 anos de idade que têm acesso na escola a computadores de secretária desceu em média de 92% para 80%, mas que em contrapartida o uso de portáteis disparou. Entre 2009 e 2015 a proporção de alunos com acesso a portáteis nos países da OCDE subiu de 33% para 50%. Só se registaram duas excepções: o Japão, com uma queda de cinco pontos percentuais, e Portugal, onde a percentagem de alunos com acesso a portáteis na escola caiu de 55% para 43%. Mas esta redução é ainda bem mais significativa no 4.º ano de escolaridade. Por exemplo, a percentagem de alunos com acesso a computadores ou portáteis nas aulas de leitura desceu de 47% em 2011 para 14% em 2016. A OCDE não aponta causas para esta retracção, mas pelas datas é possível atribuí-la sobretudo ao fim da distribuição gratuita dos portáteis Magalhães (no 1.º ciclo de escolaridade terão sido distribu-

Fim do programa Magalhães contribuiu para alunos terem menos acesso a portáteis nas escolas

Os alunos do 4.º ano com acesso a computadores ou portáteis nas aulas de leitura desceu de 47% em 2011 para 14% em 2016 ídos cerca de 500 mil), iniciada em 2007 pelo Governo de José Sócrates e interrompida em 2011 pelo executivo de Passos Coelho. Não existe ainda uma avaliação consistente sobre se estes portáteis foram maioritariamente utilizados

nas salas de aula, embora alguns estudantes apontem para uma negativa a esta questão, mas neste seu novo estudo a OCDE lembra que o uso de tecnologias de informação de comunicação nas escolas tende a melhorar as estratégias de aquisição de conhecimentos, a reforçar métodos participados de aprendizagem e a desenvolver competências de nível mais elevado. Apesar de cada vez mais estudantes terem acesso a estas tecnologias, no estudo Measuring Innovation in Education alerta-se que continua ainda a existir o risco destas contribuírem para um agravamento das desigualdades entre alunos, caso as escolas não garantam o acesso ao mundo digital a todos os estudantes.

Os dados agora revelados colocam Portugal nesta situação de risco.

Práticas mudaram pouco O mesmo já não acontece com o acesso a recursos como laboratórios ou bibliotecas escolares. Segundo os directores entrevistados, 41% dos alunos do 4.º ano de escolaridade tinham, em 2015, laboratórios à sua disposição nas escolas, muito além da média da OCDE que então se situava neste item em 26%. E 96% podiam contar com bibliotecas nas escolas, quando a média na OCDE estava nos 88%. E quanto a práticas de ensino? No estudo agora divulgado Portugal apresenta poucas mudanças, uma vez que os professores entrevistados

assumem que no geral aquilo que faziam em 2015 ou 2016 já o praticavam cinco ou seis anos antes. A mudança mais profunda diz respeito ao modo como os professores se preparam para ensinar. Entre 2011 e 2015, a percentagem de alunos do 4.º ano cujos professores prepararam as aulas em conjunto com outros colegas passou de 38% para 87%. Na OCDE, a evolução média foi de 45% para 65%. E isto é importante porquê? Porque, deste modo, “os professores podem expressar os seus pontos de vista e aprender com os outros e assim este trabalho torna-se uma importante fonte de desenvolvimento profissional”. cviana@publico.pt


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 15

SOCIEDADE PAULO CUNHA/LUSA

Breves

Ambiente Teresa Abecasis

Segurança

Eduardo Cabrita: “Jamaica somos todos nós” O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, afirmou ontem que “Jamaica somos todos nós”, considerando que a grande acção de segurança e inclusão a fazer naquele bairro do Seixal é o realojamento dos seus habitantes. “O realojamento do Bairro da Jamaica, esse sim, é a grande acção de segurança e inclusão que este Governo está a fazer em ligação com a autarquia do Seixal, ao fim de décadas de esquecimento. Jamaica somos todos nós e, por isto, esta dimensão inclusiva de segurança e de resposta nas políticas urbanas é fundamental”, afirmou no encerramento da conferência Segurança Urbana. Dívidas

Câmara de Braga tem as contas bancárias penhoradas O Estádio Municipal de Braga era para custar 65 milhões de euros, mas 15 anos depois da inauguração a factura já vai em 180 milhões de euros. Uma derrapagem que pode não ficar aqui devido aos processos judiciais em curso. A última novidade neste processo está na acção de penhora que o consórcio da Soares da Costa e associados meteu à Câmara de Braga para obter os 3,8 milhões de euros a que têm direito, noticiou o JN. A câmara quer regularizar a dívida através de um empréstimo bancário, que pode custar 4 milhões aos cofres da autarquia por causa dos juros. Se não houver uma resposta jurídica que evite a penhora, a autarquia pode mesmo ser impedida de movimentar dinheiro.

Vai ser mais fácil reciclar CD e escovas de dentes

Separar embalagens não é suficiente. Uma nova aplicação lançada pela Quercus vai ajudá-lo a pôr o lixo no sítio certo

O ministro do Ambiente lembra que no ano passado foram comprados 170 veículos eléctricos

Carregadores públicos de veículos eléctricos são usados apenas por 5% do total de carga Mobilidade Sofia Neves Zero revela que os carregamentos já não são um obstáculo. Governo lembra investimento em autocarros e autarquias Apesar da “percepção de que a carga em postos públicos é uma barreira importante” para a captação em massa de veículos eléctricos, os carregadores públicos são usados “apenas por cerca de 5% do total de carga”. Os dados são da associação ambientalista Zero que garante que, para fazer a transição energética em Portugal, é necessário que seja assegurada em primeiro lugar uma rede eléctrica preparada para um consumo abundante. “Os dados de vários estudos mostram que a grande maioria dos carregamentos de veículos eléctricos ocorre em casa ou no trabalho e é uma falta de escolha e disponibilidade de carros eléctricos que é a principal barreira”, diz a Zero, que, em comunicado a que o PÚBLICO teve acesso, responde às perguntas que o ACP dirigiu a Matos Fernan-

des depois das declarações do ministro do Ambiente sobre o valor de troca dos carros com motor a gasóleo daqui a “quatro ou cinco anos”. Em resposta a essas perguntas, a associação ambientalista Zero afirma que há várias empresas que anunciaram investimentos para instalação de postos de carregamento e que os grandes pólos de emprego e mobilidade também os deverão incorporar “oferecendo soluções de carregamento aos seus trabalhadores, colaboradores e clientes, o que também contribuirá para satisfazer parte desta procura”. Neste momento, 4% dos veículos que entram no mercado de ligeiros são eléctricos ou híbridos, um aumento face aos 0,7% de há quatro anos.

“Há muito para fazer” Ontem, o ministro do Ambiente e da Transição Energética, Matos Fernandes, admitiu que a frota automóvel do Estado “tem de se renovar” e afirmou que para este ano está prevista a aquisição de mais 200 veículos eléctricos para a administração pública. “Há muito para fazer? Há. A frota de automóvel do Estado tem de se

renovar? Tem. Mas só no ano passado foram 170 veículos eléctricos”, disse João Pedro Matos Fernandes, citado pela Lusa, realçando ainda o financiamento por parte do Estado para a aquisição de 715 novos autocarros, parte deles para empresas públicas, e de 500 veículos para os serviços ambientais das autarquias. O PÚBLICO noticiou ontem que o actual Governo não cumpre metas para carros poluentes nas novas aquisições, ultrapassando a quota para veículos poluentes (que é de apenas 5%). Em 2017, o Parque de Viaturas do Estado só registava um veículo a gás, 17 híbridos e 55 eléctricos. Em entrevista ao Expresso, Eurico Brilhante Dias afirmou entretanto a intenção de que Portugal lidere a produção de carros eléctricos. O secretário de Estado da Internacionalização garante que já o comunicou a todas as grandes marcas automóveis. “Portugal tem as componentes, os moldes, a metalomecânica. É todo um sector muito atractivo para IDE porque temos competências e competitividade mundial”, garantiu. ana.neves@publico.pt

Cada português produz uma média de 1,32 quilos de lixo por dia e apenas cerca de 200 gramas vão para os contentores amarelos, verdes ou azuis. E o resto? A Wasteapp é uma aplicação que ajuda a encontrar o lugar certo para deitar fora o que não cabe no ecoponto tradicional. Foi lançada ontem pela Quercus e pode ser consultada através do site ou descarregada gratuitamente para os dispositivos iOS e Android. O utilizador pode pesquisar por uma palavra específica ou navegar num menu onde estão as várias opções disponíveis. Estão identificadas cerca de 50 tipologias diferentes de resíduos, como panos de limpeza, telemóveis, discos e escovas de dentes, mas o objectivo é esta lista ir crescendo à medida que forem identificadas novas necessidades. Escolhido o resíduo, a aplicação mostra, de acordo com a localização do utilizador, qual o sítio mais próximo para fazer a entrega ou os contactos das entidades responsáveis pela recolha do mesmo. A ideia para a aplicação partiu de uma necessidade identificada pela associação ambiental Quercus. “As pessoas não sabem o que colocar no ecoponto e não sabem onde colocar os resíduos”, explica Carmen Lima, coordenadora para os resíduos da Quercus, em conversa telefónica com o P3. A rede de recolha está mais próxima dos grandes centros urbanos, mas Carmen Lima salienta que quem estiver mais afastado pode entrar em contacto com os ecocentros e combinar com eles uma recolha dos resíduos, no caso de o volume o justificar. Pode ser útil, por exemplo, no caso de uma limpeza de uma garagem. Portugal produz anualmente 4,75 milhões de toneladas de resíduos urbanos e apenas 16,5% destes resíduos são colocados nos ecopontos.


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16 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

LOCAL

As vidas tombadas no Douro têm o “Lobo do Mar” a guardá-las Quando o motor do barco se avariou, Gastão Teixeira entristeceu. Mas na Ribeira os comerciantes ajudaram-no a voltar ao rio. A história do homem que só quer “ajudar os outros” já deu um livro Porto Mariana Correia Pinto texto Paulo Pimenta fotografia Gastão não seria Gastão sem o rio. Quem o diz, mais palavra menos palavra, é o próprio. Olhos postos no Douro, a puxar fios à narrativa. “Quem me dá o rio dá-me tudo.” A história de amor é longa. Tão longa quanto a memória lhe permite recuar. Nascido a 4 de Abril de 1952, no número 10 da Rua dos Canastreiros, no Porto, Gastão Teixeira não se lembra de não ter o rio como prolongamento dos dias. A barriga poisada na pedra de uma lingueta e as pernas a mexer na água. O menino destemido a saltar da ponte para o Douro. A pesca de enguia e de robalo. Depois os salvamentos. “A minha felicidade é estar aqui”, conta. “Estar na Ribeira e ajudar os outros.” Gastão Teixeira é o “Lobo do Mar”. O homem por quem todos chamam quando um corpo tomba no Douro. Vigilante do rio, zelador da Ribeira, amante do Porto. Nos 24 anos que leva desta “missão”, apenas num deles anotou quantos corpos, com ou sem vida, retirou da água. Foram 19 em 2013. Quantos terão sido em mais de duas décadas, não sabe. Nem perde tempo nessa equação se a intenção for reclamar louros. A dimensão do seu “vício”, garante, tem como protagonista apenas o desejo de amparar os outros. Bigode grisalho, pele morena de quem “trabalha” com o céu como tecto, boné do FC Porto posto. Gastão Teixeira já não tem casa na Ribeira, mas a Ribeira ainda é a casa dele. De segunda a sábado, de manhã ao pôr do Sol, é por ali que está. Os domingos, entrega-os à família: duas filhas e cinco netos. Por estes dias, recuperou o sorriso perdido quando há meses o motor do seu barco azul e branco se avariou. A solidariedade de amigos e comerciantes da Ribeira permitiu-lhe compor a máquina e regressar ao “labor”. “Estive quatro

meses sem barco.” Gastão Teixeira, 65 anos, recorda o momento e as palavras envolvem-se em emoção, como se revivesse a angústia de estar em terra sabendo que se alguém caísse ou se lançasse ao Douro ele não poderia ajudar. O motor que agora instalou na embarcação de nome Lobo do Mar — um baptismo já inscrito na madeira quando o comprou e que Gastão adoptou — “não tem a mesma força”. E isso ainda lhe rouba horas de sono, quando se põe a matutar em cenários mais trágicos. “Se alguém precisa de ajuda, não chego com tanta rapidez.”

O pai pescador e o Duque Se o rio foi sempre segunda pele para Gastão Teixeira, os salvamentos cedo se revelaram uma quase obsessão. Era menino de escola quando a irmã Irene lhe veio dar a nova: o pai tinha comprado um barco. “Desde pequenino que só via o rio por isso fiquei radiante.” Mas o direito de comandar o barco seria ganho a pulso. Um dia, estava com o pai na embarcação, ele mandou-o mergulhar. “Agora nada até à outra margem”, disse-lhe. Ele, com oito ou nove anos, começou a fazê-lo. Mas a meio do caminho as forças já falhavam. Pediu ajuda. O pai, ao lado, respondeu contundente: “Vais para terra ou vais para o fundo.” Ele seguiu. E ao chegar a terras de Gaia teve de dar a volta e nadar até ao Porto de novo. A prova superada deu-lhe novos direitos: “A partir daí pegava no barco e ia às enguias para ganhar umas coroas”, lembra sorridente. A ideia de ter um barco só dele ganhava forma de sonho. Na casa humilde da Rua dos Canastreiros eram 18. Pai sapateiro, mãe doméstica, 16 filhos. “Vivíamos com dificuldade mas não posso dizer que passámos fome”, diz. No prédio, arrendavam-se quartos a trabalhadores e a mãe e a avó eram as “subalugas”, emprego informal que lhes valia viver por ali sem pagar renda. Naqueles anos, apanhava o eléctrico 15 até às Antas e se acontecia não ter o pai

Gastão Teixeira, 65 anos, nasceu na Ribeira e aprendeu a nadar no Douro. Tirar corpos do rio é para ele uma mi


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 17

19

Em 24 anos como Lobo do Mar, apenas em 2013 contou quantos corpos tirou do rio, com ou sem vida. Foram 19 nesse ano. Quantos terão sido em mais de duas décadas não sabe

ssão

por companhia escondia-se entre as pernas dos adultos, rogando para o deixarem entrar no estádio com ele. A cidade e a Ribeira eram diferentes. Casas cheias, muitas barracas, vendedoras de melões e castanha, peixeiras. As crianças a jogar à bola. Muita miséria também. “Era uma Ribeira do povo, agora é do turismo”, avalia. As palavras do “Lobo do Mar” não encerram uma crítica feroz. Ver gente de todo o mundo encantada com a sua Ribeira é para ele uma felicidade. O turismo, avalia, “veio dar um certo ser à cidade”. Mas quando se põe a pensar como poderia ser a Ribeira habitada, sem a miséria de outros tempos, não deixa de entristecer. “O Porto está bem. Só gostava que o povo da Ribeira ainda vivesse cá. São só hotéis e hostels. E as casas do Barredo sem gente...” Gastão começou a trabalhar numa fábrica de sapatos aos 13 anos. Antes disso, e durante as férias, juntava uns trocos extra a fazer biscates nas obras. Só interrompeu o emprego para cumprir serviço militar — em Espinho, em Lisboa e na Figueira da Foz. Quando regressou ao Porto, já o 25 de Abril tinha mudado o país, “a fábrica tinha dado falência”. À época, os bairros sociais multiplicavam-se na cidade e os pais foram da Ribeira para a torre um do Aleixo. Ele casouse e mudou-se para o lado de lá do Douro. Na Cerâmica de Valadares, encontrou o emprego de uma vida: “Estive lá 31 anos, até me reformar com 48 de descontos.” Nessa altura, Gastão já tinha cumprido o sonho de menino. Comprara um barco, andava à pesca no rio e iniciara a sua missão: “Aquilo de ajudar a tirar corpos já estava cá dentro.” A inspiração era também obra do Duque da Ribeira. Deocleciano Monteiro: barqueiro, figura emblemática da cidade, sabedor das manhas do rio como nenhum outro. “Era catraio e já o admirava”, diz o “Lobo do Mar”, recusando comparações. Chegou a apanhar corpos com o Duque, numa pedreira junto à praia da Madalena, em Gaia. “Ele a dar indicações, eu ao remo”, recorda. “Ninguém fazia aquilo como ele.” O primeiro salvamento a sós fê-lo a 21 de Outubro. Gastão não decorou o ano, mas não esquece o dia, data de aniversário de um irmão. “Sei que tinha uns 18 ou 19 anos.” Um homem tombara na água. Um guarda-fiscal, aflito, assobiava no meio da ponte. E

Gastão Teixeira não hesitou. Correu para a lingueta, apanhou um bote, improvisou um remo com uma tábua. “Atirei-me e salvei-o.” Recordar aquele dia ainda lhe dá calafrios. Era de noite, o pequeno barco metia água. “Alguém me empurrou para ajudar o homem, mas tive medo. Se tive!”

O milagre do Xavier Salvar com vida quem se atira das pontes é um “milagre” que Gastão Teixeira só alcançou uma vez. Atento às movimentações, topou um barco atravessado debaixo da Ponte do Infante e estranhou. Segundos depois, ouvia o alerta para a Polícia Marítima e fazia-se ao rio. “Vou por ali acima e vejo um miúdo a tentar nadar.” Apanhou-o, perguntou-lhe o nome. “Xavier”, respondeu-lhe. Gastão levou-o para terra, o INEM transportou-o para o hospital. Dois anos depois, pela altura do Natal, um homem apareceu no cais à procura dele. Era o pai do adolescente, de bolo-rei na mão, sem saber como lhe agradecer a vida do filho. Há semanas, na conta de Gastão, caíram 750 euros. E ele, convencido de um engano, foi ao banco. Negou ser o dono daquele dinheiro. Mas era. “A senhora disse-me que não foi engano, foi um depósito ao balcão”, conta emocionado: “Só sabiam que tinha sido feito por alguém chamado Xavier.” O reconhecimento existe, mesmo que Gastão não o procure. Está nos cumprimentos sorridentes dos comerciantes e trabalhadores da Ribeira. No livro-biografia escrito recentemente por Francisco Silva Pereira, um polícia reformado testemunha das proezas do “Lobo do Mar” nos últimos anos. Na medalha de ouro da cidade oferecida pela Câmara do Porto em 2016. No colete dado pela protecção civil, qual confirmação de Gastão como homem da casa. “Não peço nada a ninguém”, encolhe os ombros quando se enumeram as recompensas. A morte está à distância de uma queda na vida de Gastão, não impressionável com sangue, sabedor do fim como algo natural. Mas é pela vida que ele continua. Mágoa terá apenas uma: “Saber que quando deixar de ter forças, isto deverá acabar”, pronuncia baixinho. Para já, o “radar” do “Lobo do Mar” segue no Douro. “É esta a minha missão.” mariana.pinto@publico.pt

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18 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

ECONOMIA

CGD não desiste de travar subsídio de refeição nas férias Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça dá razão aos trabalhadores, obrigando a Caixa a devolver subsídio de almoço cortado por Paulo Macedo. Mas a reposição ainda não está garantida Banca Rosa Soares A Caixa Geral de Depósitos (CGD) recorreu da decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), de Novembro de 2018, que a obrigava a repor o subsídio de almoço relativo ao mês de férias, cortado pela administração de Paulo Macedo em 2017. Em decisão unânime, que confirmou a decisão da Relação, o tribunal superior considerou que “o pagamento em 12 meses não vai contra o estabelecido na regulamentação colectiva, mas apenas além dela (...)”. Numa derradeira tentativa para alterar a decisão do tribunal superior, o PÚBLICO apurou que a Caixa recorreu para o pleno do STJ, pedindo uniformização de jurisprudência, o que é possível quando há acórdãos contraditórios sobre a mesma questão de direito. Em resposta a um pedido de esclarecimentos do PÚBLICO, fonte oficial da instituição limitou-se a dizer que “a Caixa recorreu da decisão do Supremo”. Relativamente à reposição do subsídio relativo a 2017 e 2018 no mês de Fevereiro, possibilidade antecipada recentemente pelo Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC), em comunicado, a fonte garantiu que “a Caixa cumprirá a decisão judicial que efectivamente transite em julgado”. Ou seja, será a que resultar depois de nova decisão do Supremo, que já notificou o sindicato do recurso. Na base do processo em tribunal está a decisão unilateral da administração da CGD de passar a pagar o subsídio de almoço apenas nos dias efectivos de trabalho, descontando assim os dias de férias e outras ausências, quando a prática de mais de 40 anos no banco era a de pagar o subsídio em 12 meses, exceptuando os dias de ausência

por motivo de baixa médica ou de faltas. Mas o que está em causa é um regime específico, em que a instituição pagava 21 dias de subsídio, em 12 meses (incluindo assim o mês de férias), quando a prática comum é o pagamento de 22 dias, em 11 meses (menos 10 dias por ano). Mas o regime em vigor na Caixa desde 1 de Agosto de 1977 mais não é, como resulta do acórdão, do que o pagamento do subsídio de almoço relativo a 11 meses e 22 dias por mês, mas pago durante os doze meses do ano. “Daqui se vê que, pese embora o subsídio fosse pago em 12 meses por ano, o mesmo reportava-se apenas a 11 meses, ou seja, não era devido no período de férias ainda que também nesse mês ocorresse o pagamento”, lê-se no acórdão. Esta decisão só abrange os trabalhadores com contrato individual de trabalho, correndo outro processo no tribunal administrativo para abranger os trabalhadores com contrato de provimento (anteriores a 1993). E pode ainda abranger apenas os trabalhadores filiados no STEC, situação que os outros sindicatos contestam. A CGD, que apenas obteve uma decisão favorável na primeira instância, sustenta o corte com a alteração das razões que motivaram o pagamento nos 12 meses, e, segundo diz, ficaram a dever-se ao facto de “o registo das presenças ser feito manualmente, em suporte de papel e tal conduzir a uma dificuldade de processamento salarial numa empresa com a dispersão geográfica e dimensão da Caixa”. Alega ainda a instituição que só desde 2000 é que o sistema informático descentralizado permitiu efectuar tal registo, “mas manteve-se o pagamento em causa por mera liberalidade, que teve o seu fim na medida em que existiu necessidade de redução de custos face à difícil situação económica e financeira que atravessa”. Uma situação que mudou entretanto, como demonstram os resultados

Sindicatos querem subsídio para todos os trabalhadores

A

decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) ainda não é definitiva, aguardando-se a decisão do recurso, mas também pode não se aplicar a todos os trabalhadores. O acórdão aplica-se directamente aos trabalhadores com contrato individual de trabalho, que entraram depois de 1993, e que são cerca de 6 mil. Mas há ainda perto de 2 mil trabalhadores

que têm contratos em regime de provimento (anteriores a 1993), cujo contencioso tem de ser dirimido no Tribunal Administrativo, onde o STEC apresentou um outro processo, que ainda não teve qualquer decisão. Em comunicado divulgado no seu site, o STEC adianta que “os sócios com contrato de provimento vão continuar a aguardar pela decisão

do Tribunal Administrativo, para onde, entretanto, já foi remetida a decisão do Supremo Tribunal de Justiça”. Num primeiro comunicado, o sindicato referia que, “para decisão da Administração, está a possibilidade de estes pagamentos poderem ser extensíveis, também e desde já, aos sócios do STEC com contrato de provimento, o que naturalmente implicaria a


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 19

Paulo Macedo foi rápido a decidir recorrer da posição do Supremo Tribunal de Justiça DANIEL ROCHA

de 2018, que revelaram o quarto maior lucro anual de sempre do banco.

Informação confusa

retirada do processo em Tribunal Administrativo”. Mas há outra dúvida que tem que ver com a extensão de uma decisão favorável definitiva a todos os trabalhadores com contrato individual de trabalhado e não apenas aos sócios do STEC, que foi o único a contestar a decisão da administração da Caixa em tribunal. A primeira reacção dos restantes sindicatos vai no sentido de apanhar o

comboio em andamento. Em comunicado conjunto, o Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários (SNQTB), o Sindicato dos Bancários do Norte (SBN) e o Sindicato Independente da Banca (SIB), referem que “a regularização do pagamento do subsídio de alimentação respeitante ao mês de férias ocorrerá para todos os trabalhadores da CGD que o auferiam”.

A informação que está a ser dada pelo Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC) aos trabalhadores sobre a reposição do subsídio de refeição é contraditória com a posição oficial da CGD. Contactado pelo PÚBLICO, João Lopes, presidente da direcção do sindicato que contestou a suspensão do subsídio em tribunal, recusou-se a prestar esclarecimentos, alegando “não comentar assuntos internos”. Assim, restam os comunicados oficiais do sindicato. No primeiro que foi divulgado depois de uma reunião realizada a 11 de Janeiro, o STEC dava conta que a Direcção de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (DPE) levaria à Administração da CGD, um “entendimento de princípio” sobre a operacionalização da decisão do acordo. E o primeiro princípio era: “No próximo mês de Fevereiro, conjuntamente com a remuneração, deverá ser processado o montante não pago nos anos de 2017 e 2018”. E “quanto ao ano de 2019 e seguintes, a CGD passará a processar em mês ainda a definir (provavelmente em Junho) aquela retribuição extra”. No comunicado mais recente, disponível no seu site, com data de 28 de Janeiro, o STEC refere que “a decisão do Supremo Tribunal de Justiça, de considerar que a CGD tem de pagar aos sócios do STEC, com contrato individual de trabalho, o valor respeitante aos anos de 2017 e 2018, como parte integrante da retribuição, tem de ser cumprida e vai ser cumprida”. E que “a eventualidade da CGD poder vir a apresentar qualquer recurso (...) não tem qualquer efeito suspensivo quanto à decisão do STJ”. “Quanto à reunião de 11 de Janeiro entre a DPE e o STEC, com os respectivos advogados, para definir os termos da execução do acórdão do STJ, reiteramos o entendimento de princípio a que se chegou, de efectuar o pagamento do montante em dívida de 2017 e 2018 em Fevereiro, e a partir de 2019 em Junho”, alertando para “o facto de esse entendimento ter ainda de ser sancionado pela Administração”. rosa.soares@publico.pt

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20 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

MUNDO

Putin responde à letra aos EUA e retira Rússia de tratado nuclear Washington suspendeu a participação no pacto dizendo que Moscovo o viola, Rússia nega e diz que os norte-americanos não querem negociar. Desta birra pode nascer uma nova corrida às armas SERGEI CHIRIKOV/EPA

Armamento Clara Barata Depois de os EUA terem confirmado que suspendiam a sua participação no Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou por sua vez que Moscovo suspendia a sua participação neste tratado assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov, e que não pretendia autorizar negociações diplomáticas para normalizar a colaboração nuclear entre os dois países. O receio dos especialistas de que se esteja a assistir ao nascimento de uma nova era de corrida às armas parece confirmado com o anúncio feito posteriormente pelo primeiroministro russo, Dmitri Medvedev, de que o Governo de Moscovo estava a preparar “os mecanismos necessários para financiar o desenvolvimento de novas armas nucleares”, noticiou a agência chinesa Xinhua. Putin tinha anunciado a resposta russa numa reunião com os seus ministros dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, e da Defesa, Sergei Shoigu, em que prometeu uma “resposta simétrica” à retirada norte-americana do pacto. Washington acusa Moscovo de “constantes violações” ao tratado, já denunciadas pelo vice-presidente Mike Pence numa cimeira da NATO. Em causa, para os EUA, está sobretudo o míssil russo SSC-8 (ou Novator 9M729), que dizem ter capacidade para atingir cidades europeias com uma ogiva nuclear em poucos minutos e viola o tratado. A Rússia mostrou-o para uma plateia estrangeira pela primeira vez no fim de Janeiro, num parque temático militar, nos arredores de Moscovo, insistindo que está conforme as regras do tratado do qual as duas potências agora se suspenderam. A exposição, para a qual foram convidados adidos militares estrangeiros e a imprensa, destinou-se a demonstrar “a transparência russa e a nossa aderência ao tratado”, disse o general Mikhail Matveievski ao New York Times. Putin disse que os EUA estão, há anos, a ignorar as iniciativas russas

Exposição militar nos arredores de Moscovo onde foi apresentado o míssil russo Novator 9M729 de desarmamento e “passam o tempo todo à procura de pretextos para desmantelar o sistema de segurança existente”. Por isso, o Presidente russo não quer que os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa iniciem novas negociações com os EUA. Pelo menos, frisou, até que “os parceiros norte-americanos amadu-

Teme-se também pelo tratado New START. Termina em 2021, pouco depois da tomada de posse do próximo Presidente dos EUA

reçam para acompanhar um diálogo consistente e igual”. Os EUA, por seu lado, estão também a desenvolver uma nova geração de armas nucleares em resposta aos esforços de modernização nuclear russos — mais pequenas, e por isso, pelo menos em teoria, mais fáceis de usar num hipotético campo de batalha. Isto porque teriam consequências menos devastadoras do que as mais poderosas bombas nucleares. Estas armas não estão abrangidas pelos actuais tratados. As primeiras armas deste tipo, que podem ser montadas em mísseis Trident, começaram já a ser fabricadas no Texas, anunciou a Agência Nacional de Segurança Nuclear dos EUA, no fim de Janeiro, noticiou o Guardian. Estas armas, designadas W76-2 e com uma carga explosiva de cinco quilotoneladas — ou um terço

da bomba lançada em Hiroxima — devem ficar prontas em Setembro. O tema do orçamento para o desenvolvimento de armas nucleares deve transformar-se num tema de conflito entre o Presidente Donald Trump e a nova maioria democrata na Câmara dos Representantes. O Gabinete de Controlo do Orçamento do Congresso disse em Janeiro que, durante a próxima década, o custo dos investimentos previstos para modernizar o programa nuclear norte-americano aumentou para 494 mil milhões de dólares — 430 mil milhões de euros, ou 87 vezes o montante que Trump está a pedir para iniciar a construção do muro na fronteira com o México, diz o New York Times. Neste pacote é preciso incluir também os planos para os EUA desenvolverem, pela primeira vez desde

1991, novas armas nucleares de longo alcance. Isto, diz ainda o New York Times, é algo que outras nações estão a utilizar para justificar a modernização dos seus próprios arsenais. Tudo isto se junta para compor um cenário de fim de mais de meio século de uma política de contenção de armas nucleares. Os analistas temem também pelo futuro do tratado New START, assinado pelos Presidentes Barack Obama e Dmitri Medvedev em 2010 — o seu prazo de validade termina em 2021, pouco tempo depois da tomada de posse do próximo Presidente dos EUA, e não é claro que possa ser prolongado. Este acordo foi responsável pela redução dos arsenais nucleares das duas nações ao nível mais baixo dos últimos 60 anos. cbarata@publico.pt


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22 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

MUNDO

“Os medos demoram séculos a sair da cabeça e da alma das pessoas” José Milhazes A história dos avós da sua mulher, vítimas da violência nazi e da repressão soviética, é o tema do seu último livro, Os Blumthal Entrevista João Ruela Ribeiro Há décadas que o jornalista e ex-correspondente do PÚBLICO em Moscovo, José Milhazes, põe em livros as suas investigações, que cruzam quase sempre a sua experiência pessoal durante os anos em que trabalhou na União Soviética (e os primeiros anos da Federação Russa) com a História. Desta vez, com Os Blumthal (Oficina do Livro), Milhazes foi mais longe e escolheu como objecto de estudo o passado trágico dos avós paternos da sua mulher, Siiri, natural da Estónia. Tudo começou com uma conversa inocente de família para acabar numa “vacina” para que não se repitam os erros do passado. Quando é que foi tomada a decisão de avançar para a investigação e para o livro? O trabalho foi parado várias vezes, porque à medida que apareciam documentos, e a minha mulher começava a lê-los, ela ficava completamente de boca aberta. Ela tinha as memórias dela, mas não sabia tudo pelo que tinham passado os familiares. A determinada altura dizia: “Eu não quero que este livro seja escrito.” Quase até ao momento em que o livro saiu. Foi muito importante o apoio dos meus filhos que me diziam: “Pai, escreve o livro, porque ele é muito necessário hoje.” Foi a principal razão para ela aceitar. Ela compreendeu que este livro pode ser muito importante para que as gerações futuras o leiam e não deixem que a história se repita. Era um material tão forte e até didáctico que a minha mulher compreendeu que seria bom publicá-lo. Os seus livros e investigações sempre tiveram como pano de fundo experiências pessoais ligadas à sua passagem pela União Soviética e aos laços entre a História russa e a portuguesa.

Mas desta vez os laços pessoais são ainda mais profundos. Já me perguntaram por que, tendo um material tão rico, não escrevi um romance. Isso ia matar a verdade, porque iria haver sempre uma parte inventada. Aqui só queria factos e não dar ao leitor a possibilidade [de pensar] que alguma coisa tenha sido romanceada. As personagens viveram assim, morreram assim, sofreram assim e tomaram aquelas decisões. Decisões muito difíceis e que eu tenho muita dificuldade em condenar ou não. Cada um tinha a sua razão para optar por um dos lados. A Estónia é um daqueles países europeus cujas histórias mostram o que é um povo pequeno que vive entre a Alemanha nazi e a União Soviética, e em que as pessoas tentam sobreviver, tomam várias posições: uns são vermelhos, outros são anti-soviéticos, outros são antinazis, outros vão para as tropas nazis. Todos querem o bem da sua pátria. Houve um cuidado especial para não fazer juízos de valor sobre as decisões das personagens? Claro. As pessoas optam por causa de certas razões. Naquela altura, iam para o Partido Comunista porque trabalhavam muito e ganhavam pouco. Tinham más condições de vida. Eu fui militante comunista e filiei-me conscientemente, ninguém me empurrou. O que é mais trágico é que esta gente entra num sistema que começa a autodestruir os próprios comunistas. Por outro lado, essas pessoas foram heróis na luta contra o nazismo. Por exemplo, a bisavó da minha mulher, que foi assassinada pelos nazis, e a irmã mais velha [da avó de Siiri] também. Também se lhes deve prestar homenagem porque houve coragem. Eu não condeno essas pessoas. Qual diria que é a influência das histórias familiares para a

forma como hoje as sociedades dos Estados que fizeram parte da União Soviética encaram momentos históricos como, por exemplo, a Revolução de Outubro, o terror estalinista ou a II Guerra Mundial? No caso da minha mulher, essa experiência foi muito grande, não foi só dos avós paternos, teve outros parentes mandados para a Sibéria, um deles com seis anos. E claro que isso influencia. Este tipo de contactos ajuda-nos a perceber o porquê de as pessoas defenderem umas ideias ou outras. Por que é que a Estónia quis ser independente e quer ser membro da NATO? Porque receia que a Rússia venha outra vez. Esse efeito das pequenas histórias familiares é tão grande que pode influenciar a política

É importante que se conserve a memória, porque é uma espécie de vacina. Só que a vacina não é eterna e neste momento está a perder o efeito

de um Estado? Claro. As chagas ainda estão abertas. Há muita desconfiança, e sobretudo quando se trata de países pequenos, que têm a preocupação de se tentar defender. Às vezes até são medos infundados, mas esses medos vivem dentro das pessoas. Têm medo que se repita, que sejam mandados outra vez para a Sibéria ou para campos de concentração. Mesmo que hoje o mundo seja outro. O mundo é outro para aqueles que não querem ver que as coisas se podem repetir. Efectivamente vivemos hoje noutro mundo, muito melhor do que o que está retratado no meu livro. A questão é que os medos demoram séculos a sair da cabeça e da alma das pessoas. As pessoas ouviram os avós... A mãe e


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 23

MUNDO As pessoas têm a memória histórica muito curta, o que acontece com os outros nunca acontece connosco DANIEL ROCHA

o pai da minha mulher eram vivos na II Guerra Mundial e lembram-se dos bombardeamentos, das fugas. E foi essa memória viva que levou os estónios a exigirem novamente a independência do país e que hoje os leva a terem receio da Rússia. Inicia o livro com as reminiscências da sua mulher sobre a avó, tudo aquilo que ela sabia sobre ela antes de começar a investigação. Saltam à vista os pormenores soltos, sem explicação, as histórias por contar, as perguntas por fazer. Este tipo de ocultação é comum nas famílias que passaram pela União Soviética? Sim. As pessoas não podiam dizer o que pensavam e o que sentiam. Muitas vezes tinham de esconder. Havia coisas que só se contavam em casa. Na escola diziam uma

coisa e os pais diziam: “Isso é tudo treta, não acredites.” Dei muito conta disso. Conheço a Estónia desde 1982 e encontrei muito esse tipo de comportamento: pessoas que tinham um discurso quando estavam a falar com outros e tinham outro discurso quando estavam a falar com os seus. Na cabeça das pessoas isto era algo terrível. Mantêm-se alguns traços ainda hoje. Primeiro porque há muita gente que se lembra do período soviético. Os tais medos continuam lá dentro. Os jovens, se calhar, já não têm tanto esses medos. A geração que viveu como adulta a União Soviética, que viu o sistema por dentro, continua com medo de que as coisas possam voltar atrás. E o melhor é não falar? Não é que o melhor seja não falar.

O melhor é prevenir. Quando a Rússia invadiu a Crimeia em 2014, os estónios ficaram a pensar que podiam ser invadidos. Alguns optimistas falavam do artigo 5 do tratado da NATO [a garantia de segurança mútua em caso de ataque a um Estado-membro]. Mas outros diziam que pode aparecer um outro tratado RibbentropMolotov [aliança entre a Alemanha nazi e a União Soviética durante a II Guerra Mundial que definia uma divisão da Europa entre as duas potências]. Isso é algo que está presente e ainda vai levar muito tempo a sarar, pode levar duas, três gerações. Isto, se as coisas correrem bem, se a União Europeia não se desintegrar e começar a haver guerras no continente. Escreve que uma das razões para avançar com o livro foi a

“actual situação no mundo”. O que é que tem em mente, em termos concretos? Os populismos que venceram no século XX, nomeadamente o nazismo e o comunismo. Basta olhar para a Europa e ver o que acontece com a extremadireita. Em Portugal, não é esse o problema. Temos uma extrema-esquerda forte porque não há extrema-direita. Mas estes extremos, nestas situações de crise, aparecem como salvadores e há muitas pessoas que vão atrás. Em França, o caso mais paradigmático é a Marine Le Pen, mas o que pode acontecer se o Macron falhar é que volte a aparecer uma extrema-esquerda também forte. Estamos a ver partidos neonazis com cada vez mais influência na Europa, como na Alemanha. O remédio para isso é recordar a História? Temos de conversar e discutir. Numa situação em que há uma degradação clara dos valores políticos, a UE corre o risco de se desintegrar, temos de discutir como vamos solucionar estes problemas sem “salvadores”. Isso só pode acontecer através do aperfeiçoamento da própria Europa e das suas instituições. O reaparecimento desses “amanhãs que cantam” mostra que alguma coisa está mal, e muito mal, na UE. O que deveria levar os dirigentes europeus a olharem para a História e dizer: “Ou tomamos medidas a sério ou então...” Um dos factores preocupantes é a degradação da elite política europeia e mundial. Lenine dizia que até uma cozinheira podia dirigir um Estado. E nós começamos a ver que grandes potências não são dirigidas por cozinheiras, mas as cozinheiras são melhores do que esses dirigentes. Não é contraditório que a carga histórica, por um lado, faça países como a Estónia terem tanto receio da Rússia, mas, por outro, no resto da Europa a memória não esteja assim tão presente quando se fala dos tais populismos? A Europa viveu um grande período de paz e a maioria dos europeus dá a paz como eterna. É isso que não deve acontecer.

Temos de trabalhar para que a paz se mantenha. É por isso que, ou a UE se reforça e se vira para os cidadãos, ou então vamos ter problemas, porque a desintegração da Europa vai provocar guerras. Mas por que é que a tal vacina da História funciona quando se trata da Rússia e não quando se trata destes partidos populistas? A Guerra Fria continua. As pessoas têm a memória histórica muito curta, o que acontece com os outros nunca acontece connosco. É uma questão de olharmos um pouco para a frente, que é coisa que os nossos políticos não fazem. Eles olham para os próximos quatro anos para ganhar eleições. Isto é perigoso. São precisos pactos de regime entre os principais partidos para definir as linhas mestras cuja realização será muito mais longa do que os quatro anos que um partido está no poder. A opção europeia, por exemplo, tem de ser de longo prazo. Não se pode estar a fazer referendos de quatro em quatro anos. Percebe-se que Leida deixa de acreditar no ideal oferecido pelo comunismo depois de várias decepções. Acredita que há semelhanças com aquilo que também lhe aconteceu, apesar de ser numa época e em circunstâncias diferentes? Há um traço comum. Mas, no meu caso, essa desilusão acontece não só em relação ao comunismo, mas também às receitas empregues para resolver os problemas do mundo de hoje. É mais amplo. Se fosse só esquecer o comunismo, não havia grandes problemas. Mas é também o descontentamento ao olhar-se para o nosso país e dizer “o país podia ser muito melhor”. Como cidadão, começo a ficar desiludido com determinados partidos políticos, ou correntes, que outrora foram importantes para a Europa, que criaram a Europa social — estou a falar da social-democracia, da democracia cristã — que hoje nada têm que ver com o que existia antes. Isso também é preocupante e frustrante. Olha-se e não se vê uma saída, e isso leva-me a recear que os falsos profetas cheguem ao poder e que a História se repita. joao.ruela@publico.pt


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24 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

CULTURA

Os arquitectos portugueses têm medo da palavra “património”? Uma exposição no Museu de Arte Popular quer mostrar intervenções recentes de arquitectos conhecidos. No lançamento do catálogo, houve quem defendesse que se fala demasiado de beleza Arquitectura Isabel Salema Qual é a ligação entre a prática da arquitectura portuguesa e o debate patrimonial nos últimos 50 anos? Esta e várias outras questões foram elencadas pelo arquitecto Jorge Figueira na sessão de lançamento do catálogo da exposição Físicas do Património Português. Arquitectura e Memória, que estará no Museu de Arte Popular, em Lisboa, até ao final de Setembro. A sessão desdobrou-se numa mesa-redonda intitulada Património ou Arquitectura?, uma “provocação” lançada por Jorge Figueira (também crítico de arquitectura do PÚBLICO) para sublinhar que a relação entre estas duas culturas não está isenta de polémicas, pois como esclarece o comissário logo na abertura do catálogo, respondendo em parte à pergunta lançada na mesaredonda, “a prática da arquitectura em Portugal está intimamente ligada ao património”, sendo um dos factores constitutivos da sua identidade. Mas, paradoxalmente, nota o comissário, para os arquitectos portugueses “património” é “uma expressão algo pesada, não-moderna, quando o objectivo é fazer projecto, levantar paredes”. Se “o tema é tabu”, ele é “normalmente deixado a especialistas”. Quando falam de património os arquitectos preferem, então, o termo menos comprometedor “preexistência”, que tudo pode incluir, desde as rochas da Casa de Chá da Boa Nova e da Piscina das Marés, ambas em Leça da Palmeira, apropriadas por Álvaro Siza em meados do século passado, até às paredes antigas do Convento de Santa Maria do Bouro, que serviram a Eduardo Souto de Moura para reconverter o edifício em pousada em 1989, no mesmo ano em que Siza apresentava o plano de recuperação para o Chiado depois do incêndio.

Na cronologia que vemos nas paredes da primeira das duas salas da exposição, que começa no século XIX com Alexandre Herculano a denunciar o abandono dos monumentos e apelando à acção, temos que chegar a 1920 para ver aparecer a antepassada da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), a entidade que corresponde hoje à Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), organizadora da exposição e o braço-armado do Ministério da Cultura para o património. Jorge Figueira identifica alguns momentos fundadores capazes de explicarem a relação actual algo enviesada dos arquitectos portugueses com o património. “Com o advento do Estado Novo a DGEMN torna-se um instrumento fundamental de propaganda do regime e de exaltação patriótica”, afirma o comissário, com uma intervenção nos monumentos que efabula um Portugal arcaico e austero. O apogeu desta arquitectura produzida com uma memória patrimonialista é a Exposição do Mundo Português, em 1940, altura em que é erguido o Museu de Arte Popular onde se apresenta esta exposição. “Depois há o momento contrapropagandístico, em que uma geração mais nova de arquitectos modernos, como Francisco Keil do Amaral ou Fernando Távora, faz o Inquérito à Arquitectura Popular. Já não estão resignados à casa portuguesa, nem à arquitectura monumental, mas interessa-lhes uma intervenção contemporânea com uma cultura antropológica. É esta geração que passa a valorizar as preexistências.” As operações do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), criado depois da revolução de 25 de Abril e em que trabalham arquitectos como Siza, ampliam esta experiência de inquérito junto das populações, fazendo com que o projecto seja participado pelas comunidades que o vão habitar.

Há sítios tão míticos, despojados e difíceis, que são ilhas cuja intervenção está votada ao fracasso Jorge Figueira Arquitecto e curador

“O SAAL é anti tábua rasa, não deita tudo abaixo para começar de novo. É famosa a relação que Siza estabeleceu com os muros do Bairro de São Vítor no Porto. Depois, mais tarde, há ainda o programa das pousadas, onde a plasticidade da arquitectura portuguesa encontra muitas formas de dialogar com as preexistências. Por isso, há quatro momentos muito diferentes, que passam por algumas batalhas ideológicas, que ainda ecoam hoje”, diz-nos Jorge Figueira numa visita à exposição antes do lançamento. Uma herança que dá aos arquitectos portugueses uma “naturalidade na forma como se relacionam com a questão do património, sem teorização ou culpa, como um terreno de prática”, escreve Jorge Figueira no catálogo. Essa capacidade plástica de fazer conviver antigo e novo, de “entrar dentro do edifício sem pedir muita licença”, tem pro-

vocado algumas críticas, algumas delas entre os convidados para a mesa-redonda que contou com os arquitectos Gonçalo Byrne, João Pedro Falcão de Campos, José Aguiar, Paula Araújo da Silva (directora da DGPC), Victor Mestre, Sofia Aleixo e ainda o historiador do património Jorge Custódio. A exposição mostra 12 projectos em que está espelhada esta relação mais orgânica, mais líquida com o património: Convento de Jesus ( João Luís Carrilho da Graça), Igreja de São Francisco (Adalberto Dias), Sede do Banco de Portugal (Byrne, Falcão de Campos), Teatro Thalia (Byrne, Patrícia Barbas, Diogo Seixas Lopes), Solar Porta dos Figos (António Belém Lima), Igreja e Torre dos Clérigos ( João Carlos dos Santos), Reservatório da Pasteleira (Alexandre Alves Costa, Sergio Fernandez), Casa Museu de Vilar (Paulo Providência), Museu Abade Pedrosa (Siza, Souto


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 25

O Museu de Arte Popular, que viu algumas das suas pinturas murais serem recuperadas para a exposição Físicas do Património Português. Arquitectura e Memória FOTOS: MARCO PIRES/ PHOTODOCUMENTA

os historiadores ou arqueólogos. João Pedro Falcão de Campos explicou que procura manter os seus projectos em aberto durante muito tempo. “Gosto de estar disponível para poder acolher um espectro largo de contributos”, mas a verdade, lembrou, “é que não podemos deixar todos os estratos às várias cotas e a certa altura é preciso desenhar [o projecto].”

Património e memória

de Moura) e Biblioteca Municipal de Caminha (Nuno Brandão Costa).

1989, o ano-chave Ao lado dos 12 projectos líquidos, encontramos seis grandes maquetas em madeira, que mostram monumentos nacionais como o Cabo Espichel, a Alta de Coimbra ou o promontório de Sagres, que, nas físicas do património evocadas no título da exposição, estão num estado da matéria “sólido”, defende Jorge Figueira: “Há sítios tão míticos, despojados e difíceis, que são ilhas cuja intervenção está votada ao fracasso. São sítios que mostram que nem tudo são facilidades, nem tudo se pode transformar num pavilhão de congressos ou pousadas. Há lugares com um carácter tão forte que não os imaginamos sem serem eles próprios, que não admitem um reuso.” Se voltarmos ao ano de 1989, ao plano de Siza para o Chiado e ao

projecto de Souto de Moura para a Pousada do Bouro, Figueira explicanos que o primeiro está na fronteira entre o líquido e o sólido e o segundo é nitidamente um exemplo do líquido. “No Chiado é quase impossível intervir, mas o Siza, de modo muito arguto, indo atrás do traçado pombalino, consegue estabelecer uma intervenção com uma certa liquidez. Ele consegue aquilo que é raro: intervém em estruturas com muito carácter, realinhando-as e introduzindo contemporaneidade.” Na opinião do comissário, o Chiado é patrimonial sem ousar dizê-lo: “É o traçado pombalino, é essa contenção, mas é também a descoberta da cidade, dos interstícios dos edifícios.” Já no Bouro, vemos uma estética da ruína: “Há uma famosa discussão entre o Távora e o Souto de Moura, em que este aconselha a que sejam repostos os telhados como existiam. O Souto de Moura recusa-se e vai pela ideia de estarmos perante qualquer coisa incompleta. Essa imagem de uma extrema competência do ponto de vista da reabilitação, mas de um extremo ascetismo do ponto de vista da imagem, é completamente avassaladora e cria uma escola muito forte que perdura até hoje. O Chiado volta ao que estava acrescentando, o Bouro volta a uma coisa que nunca esteve.” O comissário da exposição, que teve a assistência de Carlos Machado e Moura, diz que esse tour de force transforma aquele património numa obra “souto-mouriana”. “É a plasticidade a impor-se sem ninguém poder acusar a obra de ser pouco rigorosa ou de aldrabar. O Souto de Moura tem essa capacidade de ser muito rigoroso e depois poder

Não há uma única maneira de intervir. Há outras pessoas que pensam de maneira diferente e agem com a mesma coerência Victor Mestre Arquitecto efabular. É a ordem do estético, de uma linguagem arquitectónica, que se impõe.” O ano de 1989, que podemos considerar chave nas últimas décadas, porque é o arranque das encomendas patrimonialistas do Estado no pós-25 de Abril — “não há reabilitação urbana sem se pensar no Chiado, nem recuperação conventual sem se pensar no Bouro” —, não esteve em discussão na mesa-redonda, mas Gonçalo Byrne defendeu que o arquitecto trabalha dentro de um tempo curto com os valores da contemporaneidade. “Um edifício são fragmentos de contemporaneidades sucessivas. O Museu Machado de Castro [um dos seus projectos de reabilitação] é o desfilar de um espólio arquitectónico”, afirmou Byrne, acrescentando que aos seus projectos, muitas vezes feitos em co-autoria com outros arquitectos, também reconhece uma co-autoria com

Jorge Figueira já tinha introduzido várias outras questões, subsidiárias da primeira, lembrando que a exposição dava o ponto de vista da arquitectura a olhar para o património. A plasticidade das intervenções, muitas vezes celebrada, pode ser prejudicial perante bens de alto valor patrimonial? Uma visão mais contida de intervenção no património é realista? Há intervenções que não estão a ser tuteladas verdadeiramente, algo que nos escapa nos últimos anos de grande voracidade reabilitadora? José Aguiar, especialista em reabilitação e professor da Faculdade Arquitectura da Universidade de Lisboa, disse que pensamos demasiado na beleza e pouco na “firmitas”, “na importância das materialidades e das compatibilidades”. Depois, elogiando a exposição, lembrou que há outros projectos de reabilitação “notáveis” que não estão no Museu de Arte Popular: “um dos melhores exemplos é o de José Adrião na Rua dos Fanqueiros”, na Baixa de Lisboa. Mas há ainda, acrescenta, o MUDE-Museu do Design e da Moda, de Ricardo Carvalho e Joana Vilhena, antes das actuais alterações; a reabilitação do Centro Histórico de Guimarães; a conservação e restauro da Charola do Convento de Cristo de Tomar; o restauro do Arco da Rua Augusta/Estátua D. José ou os restauros sucessivos do Mosteiro dos Jerónimos, entre outros. Victor Mestre, que é autor da recuperação do Liceu Passos Manuel com Sofia Aleixo, quis fazer o contraditório da exposição: “Não há uma única maneira de intervir. Há outras pessoas que pensam de maneira diferente e agem com a mesma coerência.” A coerência pode estar em nada fazer, como a dupla de arquitectos decidiu em relação ao Convento dos Capuchos de Alferrara, situado na Arrábida (Setúbal), optando por uma acção que apenas procurou parar a degradação da ruína. Como

explicaram ao PÚBLICO depois da mesa-redonda, quiseram evitar repetir programas que já há por todo o país, dando tempo à sua equipa e ao cliente, a associação dos municípios de Setúbal, para conhecer melhor o edifício e decidir com tempo um programa adequado. “Na exposição não encontramos o património, central no título da exposição e da cronologia, mas os autores, numa selecção clânica, na senda de mostras anteriores”, afirmaram os dois arquitectos, numa conversa já por email, explicando que são sempre os mesmos arquitectos e os mesmos alinhamentos a aparecerem nas exposições sobre arquitectura e património. “No âmbito da reabilitação do património, não reconhecemos representatividade nas obras seleccionadas, mas apenas correntes do pensamento autoral em arquitectura, ficando excluídas outras visões e conceitos de conservação, restauro e reabilitação do património.” Quanto à preferência pelo termo preexistência, Victor Mestre e Sofia Aleixo afirmam que “ela desvincula o arquitecto de uma responsabilidade de transmissão de um legado cultural para um mero entendimento físico do edificado, anulando o carácter histórico e de continuidade que o termo ‘património’ representa.” Por último, continuam, liberta ainda o arquitecto dos deveres éticos, “ignorando a estima pública e a herança de valores sócio-culturais que o património lega ao presente para benefício futuro”. No final da exposição com projecto expositivo de Pedro Pacheco, ainda podemos ouvir várias entrevistas gravadas em vídeo a arquitectos e historiadores que têm trabalhado a questão do património e da memória: Alexandre Alves Costa, Walter Rosa, Raquel Henriques da Silva, Rui Tavares e Paulo Pereira. Uma das perguntas várias vezes repetida é sobre a questão do turismo, que só aqui é abordada, o estado gasoso desta exposição: o que está a acontecer nas Baixas de Lisboa e do Porto, o “fachadismo” por exemplo, era inevitável? As respostas estão no Museu de Arte Popular, que viu algumas das suas pinturas murais serem recuperadas para a exposição Físicas do Património Português. Arquitectura e Memória. is@publico.pt


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26 • Público ClassiÄcados • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

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O INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE, I.P.) Pretende admitir 1 Técnica/o Superior em Estatística na modalidade de contrato de trabalho em funções públicas por tempo indeterminado. Ao procedimento concursal só podem concorrer candidatas/os com vínculo de emprego público, que reúnam as condições expressas no anúncio publicado na 2.ª Série do Diário da República, n.º 23 de 1 de fevereiro de 2019, através do Aviso n.º 1836/2019. A informação detalhada sobre o lugar posto a concurso encontra-se disponível no site do INE: www.ine.pt.

• Cheque à ordem da LOTAÇOR - Serviço de Lotas dos Açores, S.A., no montante de 10% do valor do preço de compra proposto; • Comprovativos de situação regularizada perante a Autoridade Aduaneira e Fiscal e à Segurança Social. Condições mínimas e minutas de contratos e contrato-promessa de compra e venda: podem ser solicitadas na sede da LOTAÇOR Serviço de Lotas dos Açores, S.A., sita na Rua Eng. Abel Ferin Coutinho, n.º 15, 9500-191 Ponta Delgada ou através do correio eletrónico: info@lotacor.pt. Horário de levantamento da documentação: Das 09h00 às 12h00; das 14h30 às 17h00, de 2.ª a 6.ª feira. Ponta Delgada, 28 de janeiro de 2019 A Administração Cíntia Machado Ruben Farias

O INE, I.P. - INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA abre procedimento concursal para o preenchimento de um cargo de Direção Intermédia de 2.º Grau: Diretor/a do Serviço de Inquéritos por Autopreenchimento, do Departamento de Recolha de Informação. A divulgação do concurso foi efetuada no Diário da República, 2.ª Série, n.º 23 de 1 de fevereiro, através do Aviso n.º 1926/2019. Para mais informações pode desde já consultar o Portal do INE (www.ine.pt/recrutamento).

CONSELHO METROPOLITANO DO PORTO EDITAL

LITERATURA

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EDUARDO VÍTOR RODRIGUES, Presidente do Conselho Metropolitano do Porto, FAZ SABER, em cumprimento do disposto no artigo 56.º do Anexo I da Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, aplicado por força do disposto no artigo 104.º da citada Lei, que, na 14.ª Reunião do Conselho Metropolitano do Porto, realizada em 21 de dezembro de 2018, na Sede da AMP, sita à Avenida dos Aliados, 236, 1.º, Porto, foram tomadas as seguintes deliberações: Período da Ordem do Dia: 1. Ata da reunião do Conselho Metropolitano do Porto de 30 de novembro de 2018; Aprovada, por unanimidade, dos presentes na reunião de 30 de novembro. 2. Plano de Atividades, Orçamento, Plano Plurianual de Investimentos e Mapa de Pessoal da AMP para 2019: Aprovados, por unanimidade. 3. Proposta de designação do Auditor Externo da AMP: Aprovada, por unanimidade. 4. “Protocolo de Cooperação e Partilha de Informação” entre a AMP e a AMT - Autoridade de Mobilidade e Transportes: Aprovada, por unanimidade. 5. Passe Único na AMP - proposta de divisão da comparticipação dos Municípios para o ano de 2019: Aprovado, por unanimidade, a divisão equitativa da comparticipação pelos 17 Municípios. 6. Proposta de descentralização: diplomas de transferência de competências para as entidades intermunicipais - Decretos-Lei n.ºs 99/2018, de 28 de novembro; 101/2018, 102/2018 e 103/2018, de 29 de novembro: Aprovado, por unanimidade, a Área Metropolitana do Porto aceitar a transferência de competências previstas nos Decretos-Lei n.ºs 99/2018, de 28 de novembro; 101/2018, 102/2018 e 103/2018, de 29 de novembro, ficando esta aceitação dependente da obtenção do prévio acordo de todas as assembleias municipais que a integram, nos termos estabelecidos nos referidos diplomas. 7. Procedimento concursal relativo ao contrato de serviço público de transporte rodoviário de passageiros na Área Metropolitana do Porto - ponto de situação: Foi feito o ponto de situação. 8. Alterações ao PDCT - Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da AMP 2020, apresentadas pelos Municípios: Oliveira de Azeméis, Matosinhos e Vila Nova de Gaia: Aprovadas, por unanimidade. 9. PDCT AMP 2020 (Pacto de Desenvolvimento e Coesão Territorial) - ponto de situação: Foi feito o ponto de situação. 10. Novas instalações da AMP: Foi dado conhecimento das negociações para arrendamento das novas instalações no edifício do Palácio dos Correios, tendo sido obtido o apoio unânime do Conselho Metropolitano para que a Comissão Executiva Metropolitana formalize o mesmo. 11. Compromissos plurianuais assumidos ao abrigo da autorização prévia genérica concedida pelo órgão deliberativo: Aprovados, por unanimidade. 12. Outros assuntos de interesse metropolitano. Porto, 27 de dezembro 2018

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O Presidente do Conselho Metropolitano do Porto Eduardo Vítor Rodrigues

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Público ClassiÄcados • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 27

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28 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

DESPORTO

Sporting-Benfica: um duelo de revoluções em andamento O primeiro foi em Agosto passado, o terceiro será na quarta-feira. Hoje, em Alvalade, cumpre-se o segundo de quatro confrontos da época entre “leões” e “águias”, equipas bem diferentes do que eram há cinco meses MIGUEL A. LOPES/LUSA

Futebol Marco Vaza Quando se defrontaram a 25 de Agosto do ano passado, Benfica e Sporting eram “animais” bem diferentes do que são agora. Lembram-se de Rui Vitória? Está na Arábia Saudita. E de José Peseiro? Foi visto pela última vez nos Emirados Árabes Unidos, a assistir ao vivo a jogos da Taça da Ásia. E Sousa Cintra? Voltou para os seus negócios. Facundo Ferreyra? Emprestado ao Espanyol, para formar dupla de ataque com o melhor chinês da actualidade. Hoje, mais de cinco meses depois desse duelo que deu empate (1-1), os dois rivais de Lisboa voltam a defrontar-se em Alvalade, na 20.ª jornada do campeonato, numa altura em que ambos os lados estão em processo de revolução, dois projectos a pensar no futuro. Mas que também têm de funcionar no presente. Claro que as revoluções são diferentes nos dois lados da Segunda Circular. No Benfica, mudou-se apenas de treinador, com o fim de ciclo para Rui Vitória e a promoção de Bruno Lage, mas o antigo técnico da equipa B fez algumas mudanças estruturais que devolveram o futebol e os golos às “águias”. Mudou o sistema, fez alterações no “onze” titular e o Benfica voltou a ser uma equipa que joga bem e marca golos, em vez de ser aquela equipa das vitórias sofridas e das exibições cristalizadas na mediocridade. Tem corrido bem no campeonato e só a derrota na “final four” da Taça da Liga estragou um início perfeito de Lage. Seferovic afirmou-se como um goleador inesperado na ausência de Jonas (que fica de fora do derby), João Félix assumiu-se como o novo “golden boy” da Luz e houve um emagrecimento do plantel com um reconhecimento implícito de que o recrutamento de Verão não correu bem — Castillo, Ferreyra e Alfa já saíram, Lema deverá ter o mesmo destino — em paralelo com a promoção de uma mão-cheia de jovens da formação — Zlobin, Ferro, Florentino e Jota são os primeiros. Estes são alguns dos méritos de Lage, que também podem funcionar em

Nani e João Félix marcaram os golos que ditaram o resultado do derby da primeira volta, no Estádio da Luz (1-1) Estádio José Alvalade Lisboa

17h30 SPTV1

Sporting 4-3-3 Renan Bruno Coates André Pinto Jefferson Gaspar Gudelj B. Fernandes

Wendel

Raphinha

Nani Bas Dost

João Félix Seferovic Pizzi

Rafa Gabriel Grimaldo

Jardel

Samaris André R. Dias Almeida

Vlachodimos

Benfica 4-4-2

proveito do próprio treinador. Passou de interino a médio prazo e o que resta da temporada é o tempo que tem para mostrar que o lugar pode ser (ou não) seu em 2019-20. Mais profunda tem sido a revolução “leonina”. Depois da invasão a Alcochete em Maio passado, os “leões” entraram em convulsão total, que incluiu a destituição de Bruno de Carvalho, a rescisão unilateral de alguns dos melhores jogadores, uma pré-época desenhada em cima do joelho, o regresso de alguns dos “fugitivos” e eleições que conduziram Frederico Varandas à presidência. Basicamente, é uma época que já vai com três presidentes e quatro treinadores. Mesmo nestas condições, foram os “leões” a conquistar o primeiro título do ano, a Taça da Liga, numa “final four” com os quatro primeiros classificados. O que começou com Mihajlovic

e continuou com Peseiro e Tiago Fernandes está agora nas mãos de Marcel Keizer, que entrou no futebol português com sete vitórias em sete jogos e 30 golos marcados. Mas a vocação superofensiva dos “leões” tem abrandado nos últimos tempos, não só porque os adversários descobriram o antídoto, mas também porque este plantel se tem revelado curto para tantos jogos. E foi por isso que o Sporting foi um dos mais activos no mercado de Inverno (Ilori, Phellype, Doumbia, Borja, Geraldes), já a pensar na próxima época, mas ainda a tentar ser feliz nesta. E muito passará por este duplo duelo com o “velho” rival e pelo terrível mês de Fevereiro, que incluiu mais um embate com o Sp. Braga e o compromisso europeu com o Villarreal. Qual das revoluções está a correr melhor? É difícil dizer, mas são duas revoluções em que nenhum pode dei-

xar de olhar para o presente e, tendo em conta a forma dos outros candidatos, um empate não serve a ninguém. É que há o FC Porto tranquilo no topo e o Sp. Braga a consolidar o seu estatuto entre os primeiros. Nas contas a dois, o Benfica está melhor, isolado no segundo lugar e a uma distância (cinco pontos) recuperável em relação ao líder, enquanto o Sporting não pode perder mais pontos (está a dez do FC Porto, a cinco do Benfica e a quatro do Sp. Braga), correndo o risco de ficar de fora até da luta pelos lugares mais baixos do pódio. Fora das contas e fora das revoluções, um Sporting-Benfica é sempre um Sporting-Benfica, mais um capítulo de uma rivalidade desportiva que já dura há 111 anos. E daqui a três dias, a contar para as meias-finais da Taça de Portugal, há mais. mvaza@publico.pt


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 29

DESPORTO JOSE COELHO/EPA

O intervalo despertou o Sp. Braga candidato Futebol Minhotos venceram o Desp. Aves e subiram provisoriamente ao segundo lugar da Liga, à espera do fim da jornada Foi uma segunda parte de candidato ao título. Na Vila das Aves, o Sp. Braga andou escondido do jogo durante 45 minutos, mas reentrou em campo com a autoridade de uma equipa de primeira linha. Venceu por 0-2 (e podiam ter sido mais) na 20.ª jornada, assaltou o segundo lugar da Liga à condição e agora fica à espera de ver o que acontece hoje, em Guimarães e em Lisboa, para saber ao certo quanto lucrou neste fim-de-semana. Com Augusto Inácio ao leme, a organização defensiva foi o momento que mais sobressaiu no Desp. Aves, na recepção ao Sp. Braga, que começou a partida com Claudemir e Palhinha na zona mais baixa do meio-campo. A melhor ocasião do primeiro tempo surgiu ao cair do pano, com Paulinho a desviar de cabeça ao poste da baliza de Beunardeau após um livre indirecto. Os visitantes precisavam de outra ideia. Sem mexer no 4x4x2 habitual, Abel Ferreira trocou Palhinha por Fransérgio ao intervalo e o brasileiro aproximou as duas primeiras linhas bracarenses. Resultado? A equipa pressionou mais alto e praticamente sufocou o adversário nos primeiros minutos do segundo, com os dividendos a caírem em duplicado.

CLASSIFICAÇÃO I LIGA Jornada 20 Rio Ave-Tondela 2-2 Desp. Chaves-Marítimo 1-0 Boavista-Feirense 2-0 Desp. Aves-Sp. Braga 0-2 Nacional-V. Setúbal 15h30, SPTV Santa Clara-Portimonense 15h, SPTV Sporting-Benfica 17h30, SPTV V. Guimarães-FC Porto 20h, SPTV Belenenses SAD-Moreirense amanhã, 20h15, SPTV

Desp. Aves

0

Sp. Braga

2

Goiano 60’, Paulinho 66’

Estádio do Clube Desportivo das Aves, na Vila das Aves. Desp. Aves Beunardeau, Rodrigo Soares, Diego Galo, Carlos Ponck, Jorge Filipe, Falcão (Fariña, 70’), Vítor Gomes, Mama Baldé a50’, Vítor Costa (Braga, 69’), Luquinhas a39’ (Erik, 84’), Derley. Treinador Augusto Inácio Sp. Braga Tiago Sá , Goiano a33’, Raúl Silva a34’, Bruno Viana a84’, Sequeira, Claudemir, Palhinha a31’ (Fransérgio, 46’), Ricardo Horta (João Novais, 78’), Ricardo Esgaio, Paulinho, Dyego Sousa (Wilson Eduardo, 89’). Treinador Abel Ferreira Árbitro Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Aos 60’, Goiano fez um diagonal interior e surgiu à entrada da área a rematar para o 0-1, após bom trabalho de Dyego Sousa. Aos 66’, o avançado tabelou com Ricardo Horta, que assistiu Paulinho para uma emenda fácil, ao segundo poste. O Desp. Aves arriscou o que pôde, com Fariña e Braga, e conseguiu ter mais presença no meio-campo ofensivo nos últimos minutos, com os minhotos à espreita de um convite para a transição ofensiva. Mas o esforço dos anfitriões não foi suficiente e vão ter de esperar por outra oportunidade para fugirem à zona de despromoção. OCTÁVIO PASSOS/LUSA

Goiano celebra com os colegas o primeiro golo da noite

No jogo da primeira volta, o Vitória surpreendeu no Dragão

“Bom resultado no derby é a vitória em Guimarães” Futebol Treinador do FC Porto desvaloriza o clássico e o embate da primeira volta, mas alerta para o ambiente no D. Afonso Henriques Quando V. Guimarães e FC Porto entrarem em campo esta noite (20h), no D. Afonso Henriques, já terão conhecimento do resultado do clássico entre Sporting e Benfica. Sérgio Conceição, porém, garante que o mais importante para o líder do campeonato é cumprir a missão no Minho e que o desfecho do jogo da primeira volta em nada influenciará este embate. “Estamos atentos ao que se passa ao nosso lado, principalmente com os nossos rivais, as equipas que estão perto de nós. Nesse sentido, obviamente que se ganhar o Sporting, ninguém fica chateado. Se disser outra coisa, vão dizer que sou maluco. Mas mais importante é o nosso jogo. A vitória do FC Porto em Guimarães é o melhor resultado”, afirmou o treinador dos “dragões”. O Vitória foi a única equipa a conseguir vencer no reduto do FC Porto nesta temporada, na Liga, mas Conceição acredita num resultado distinto nesta 20.ª jornada. “As duas equipas estão diferentes desde esse jogo no Dragão. Espero um desafio difícil dentro de um ambiente difícil, provocado pela grande paixão que os adeptos do clube têm. Vai ser um jogo complicado, como todos os que

temos disputado nesta Liga. Mas vamos focados para conseguir os três pontos, que é o nosso objectivo principal nesta caminhada”, frisou. Já com o “mercado” de transferências encerrado, o treinador dos “dragões” comentou pela primeira vez a transferência de Sérgio Oliveira para os gregos do PAOK e a chegada de Loum, por empréstimo do Sp. Braga. “Começou bem a época, teve baixa de forma dois meses depois de começarmos a época. Foi perdendo espaço, achou que era melhor para a carreira dele ter mais minutos, mais jogo e acabou por, momentaneamente, deixar o grupo”, anotou, acerca do médio português. Sobre a chegada de um concorrente para Danilo, na zona mais recuada do meio-campo, falou numa “boa solução”. “Já conhecia o Loum há algum tempo. Mas ele evoluiu muito, tem uma margem de progressão grande. Estávamos atentos à forma de trabalhar e às qualidades dele. Dentro do possível para a realidade dos clubes portugueses, garantimos boas alternativas e boas soluções”, considerou. O mesmo não pode dizer Luís Castro. O treinador do Vitória assumiu que o plantel precisava de mais dois jogadores e que o clube não teve capacidade de atrair os alvo definidos, num mercado cada vez mais inflacionado. Para bater de novo o pé ao FC Porto, sublinha, eis o que vai ser necessário: “Teremos de estar num dia muito bom para conseguir um resultado positivo”, vinca, sabendo que não poderá contar com o médio André André.

1. FC Porto 2. Sp. Braga 3. Benfica 4. Sporting 5. V. Guimarães 6. Moreirense 7. Belenenses SAD 8. Portimonense 9. Rio Ave 10. Santa Clara 11. V. Setúbal 12. Tondela 13. Marítimo 14. Boavista 15. Nacional 16. Desp. Aves 17. Desp. Chaves 18. Feirense

J

V

E

D

M-S

P

19 20 19 19 19 19 19 19 20 19 19 20 20 20 19 20 20 20

16 14 14 12 9 10 7 8 6 6 5 5 6 5 5 5 5 2

1 4 2 3 4 1 8 3 7 3 5 5 2 4 4 3 3 8

2 2 3 4 6 8 4 8 7 10 9 10 12 11 10 12 12 10

41-11 38-17 43-18 36-20 24-19 21-24 23-21 26-29 31-32 26-29 18-22 25-31 12-24 15-26 20-35 22-34 15-28 12-28

49 46 44 39 31 31 29 27 25 21 20 20 20 19 19 18 18 14

Próxima jornada Moreirense-FC Porto, Marítimo-Desp. Aves, Portimonense-Rio Ave, Tondela-V. Guimarães, Sp. Braga-Desp. Chaves, Boavista-Santa Clara, Benfica-Nacional, Feirense-Sporting, V. Setúbal-Belenenses SAD

II LIGA Jornada 20 Mafra-Benfica B 1-1 Sp. Covilhã-Varzim 1-0 Académica-V. Guimarães B 1-1 Leixões-Estoril 11h, SPTV Sp. Braga B-Farense 15h Cova da Piedade-Oliveirense 15h FC Porto B-Penafiel 15h, PortoCanal Arouca-Ac. Viseu 15h P. Ferreira-Famalicão 5 Fev., 20h15, SPTV1

1. Paços Ferreira 2. Famalicão 3. Benfica B 4. Estoril 5. Mafra 6. Académica 7. FC Porto B 8. Penafiel 9. Farense 10. Varzim 11. Leixões 12. V. Guimarães B 13. Ac. Viseu 14. Sp. Covilhã 15. Cova Piedade 16. Sp. Braga B 17. Oliveirense 18. Arouca

J

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19 19 20 19 20 20 19 19 19 20 19 20 19 19 18 19 19 19

14 12 10 10 9 9 8 8 6 7 7 5 5 5 5 6 4 4

1 4 28-9 43 5 2 26-13 41 5 5 29-18 35 3 6 30-20 33 5 6 28-23 32 4 7 23-23 31 4 7 23-23 28 2 9 24-24 26 7 6 23-19 25 4 9 19-24 25 3 9 18-20 24 6 9 21-26 21 5 9 19-32 20 5 9 18-26 20 5 8 12-25 20 1 12 23-25 19 7 8 21-28 19 6 9 20-28 18

D

M-S

Próxima jornada Ac. Viseu-FC Porto B, Farense-Leixões, Penafiel-Sp. Braga B, Benfica B-Académica, Estoril-Cova da Piedade, Oliveirense-Mafra, Paços Ferreira-Varzim, Arouca-Famalicão, V. Guimarães B-Sp. Covilhã

MELHORES MARCADORES I Liga 13 golos Dyego Sousa (Sp. Braga) II Liga 9 golos Kwame N’Sor (Ac. Viseu)

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30 • Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

DESPORTO

Leonardo Jardim reanima Mónaco com primeira vitória no Louis-II Gelson Martins decisivo nos dois golos. Rúben Neves e André Gomes marcaram na vitória dos “wolves” sobre o Everton. Juventus e Barcelona empatam em casa apesar dos bis de Ronaldo e de Messi Futebol internacional Augusto Bernardino

CLASSIFICAÇÕES INGLATERRA

Leonardo Jardim regressou ao principado com uma vitória importantíssima para a recuperação do Mónaco, antepenúltimo da Liga francesa, a par de Amiens e Caen. O português conquistou o primeiro triunfo da época no Estádio Louis-II, a quarta na prova, na qual os campeões de 2016-17 não venciam desde Dezembro, frente ao Amiens (com Thierry Henry no comando). Duas assistências de Gelson Martins para Golovin (15’) e Fàbregas (62’) encaminharam um triunfo vital para o Mónaco. Jardim, que havia vencido apenas na primeira jornada do campeonato, em Agosto, promoveu a estreia de Adrien Silva (ex-Leicester) e Carlos Vinícius (exRio Ave/Nápoles), levando a formação a uma vitória sofrida (2-1), com o Toulouse a testar ainda Subasic num par de situações-limite. Na Premier League, o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo venceu (1-3) o Everton de Marco Silva, no Goodison Park, num duelo com sotaque e golos portugueses. Os “wolves” abriram um fosso de cinco pontos para os “toffees”, que entraram no jogo a sofrer um golo de penálti convertido por Rúben Neves (7’), que abandonaria por lesão no início da segunda parte. André Gomes, com um golo espectacular (27’), ainda igualou, mas Raúl Jiménez (45+1’), na sequência de um livre de João Moutinho, deu nova vantagem aos visitantes. Dendoncker (66’) estabeleceria o resultado final, deixando a equipa de Espírito Santo em sétimo, a sete pontos do Manchester United. Imparável, o Chelsea goleou (5-0) o lanterna vermelha Huddersfield, com o argentino Higuaín a estrearse a marcar pelos “blues” com um bis (16’ e 69’). Hazard também bisou (45+1’, g.p., e 66’), tendo o brasileiro David Luiz (86’) fechado as contas que deixam a equipa de Maurizio Sarri à espera do Manchester CityArsenal de hoje, no Etihad. Voltando aos portugueses, destaque para Cristiano Ronaldo, que

Jornada 25 Tottenham-Newcastle 1-0 Brighton-Watford 0-0 Burnley-Southampton 1-1 Chelsea-Huddersfield 5-0 Crystal Palace-Fulham 2-0 Everton-Wolverhampton 1-3 Cardiff-Bournemouth 2-0 Leicester City-Manchester United 14h05 Manchester City-Arsenal 16h30 West Ham-Liverpool amanhã, 20h 1. Liverpool 2. Tottenham 3. Manchester City 4. Chelsea 5. Arsenal 6. Manchester United 7. Wolverhampton 8. Watford 9. Everton 10. Bournemouth 11. Leicester City 12. West Ham 13. Brighton 14. Crystal Palace 15. Newcastle 16. Southampton 17. Burnley 18. Cardiff City 19. Fulham 20. Huddersfield

O Mónaco regressou aos triunfos com Gelson Martins em destaque

Lionel Messi marcou o 12.º golo consecutivo, somando 20 em 19 partidas da Liga espanhola — 28 em 26 encontros nas diferentes provas assinou o quarto bis na Serie A. Insuficiente, ainda assim, para segurar a vitória da Juventus, que o Parma, de Bruno Alves, impediu aos 90+3’, graças a outro bis, de Gervinho, a ditar o 3-3 final. O costa-marfinense deixou a Juve — ainda na ressaca da eliminação (3-0) na Taça de Itália, ante a Atalanta — sem reacção, ferida no orgulho com seis golos sofridos em dois jogos consecutivos. O Nápoles vencera (3-0) antes a Sampdoria e aproximou-se ligeiramente da formação de Turim, que está agora a nove pontos. Também em Espanha, o líder foi

surpreendido em casa. O Barcelona evitou, ainda assim, a segunda derrota da época em Camp Nou, empatando 2-2 frente ao Valência, com o bis de Leo Messi a revelar-se providencial. Os “blaugrana” lideram a tabela, mas podem ver o Atlético de Madrid encurtar distâncias caso vença hoje o Betis, em Sevilha. Messi marcou o 12.º golo consecutivo, somando 20 em 19 partidas da Liga espanhola, num total de 28 em 26 encontros. O Barcelona evitou a segunda derrota em pleno Camp Nou, depois de ter sido batido na recepção ao Betis, na 12.ª jornada. Em Vigo, Miguel Cardoso conduziu o Celta a uma importante vitória sobre o Sevilha de André Silva, saltando à condição para o 14.º lugar.

Bayern surpreendido O Bayer Leverkusen, sétimo classificado da Bundesliga, bateu o Bayern Munique (3-1), interrompendo a série de sete vitórias consecutivas dos bávaros e deixando o Borussia Dortmund, que empatou (1-1) em Frankfurt (ante o quinto da tabela, o Ein-

tracht), um pouco mais confortável na liderança, agora com sete pontos de vantagem sobre o hexacampeão germânico. Quem aproveitou foi o Borussia Mönchengladbach, que assumiu a vice-liderança na sequência da vitória (0-2) sobre o Schalke 04, em Gelsenkirchen. O Bayern Munique esteve em vantagem, graças a um golo de Goretzka (41’), mas a segunda parte revelouse desastrosa para a equipa de Renato Sanches (rendeu Rafinha a 11 minutos dos 90’) e James Rodríguez (substituído dois minutos antes da entrada do português). Em Frankfurt, Marco Reus (22’), com assistência de Raphael Guerreiro — que penetrou imparável na área contrária em sucessivos dribles —, colocou o Dortmund em vantagem, mas Luka Jovic (36’) estabeleceu o resultado final para a equipa do avançado português Gonçalo Paciência, que voltou a não sair do banco depois de ter regressado às opções do técnico Adi Hutter. augusto.bernardino@publico.pt

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V

24 25 24 25 24 24 25 25 25 25 24 24 25 25 25 25 25 25 25 25

19 19 18 15 14 13 11 9 9 10 9 9 7 7 6 5 6 6 4 2

E 4 0 2 5 5 6 5 7 6 3 5 4 6 5 6 9 6 4 5 5

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M-S

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1 6 4 5 5 5 9 9 10 12 10 11 12 13 13 11 13 15 16 18

55-14 51-24 63-19 45-23 50-33 48-35 33-32 33-34 36-36 37-44 30-30 30-37 27-36 26-33 21-33 27-42 26-46 22-46 25-55 13-46

61 57 56 50 47 45 38 34 33 33 32 31 27 26 24 24 24 22 17 11

ITÁLIA Jornada 22 Empoli-Chievo Nápoles-Sampdoria Juventus-Parma SPAL-Torino Génova-Sassuolo Udinese-Fiorentina Inter Milão-Bolonha Roma-AC Milan Frosinone-Lazio Cagliari-Atalanta

2-2 3-0 3-3 11h30 14h 14h 17h 19h30 amanhã, 18h amanhã, 20h J

1. Juventus 2. Napoli 3. Inter Milão 4. AC Milan 5. Roma 6. Sampdoria 7. Atalanta 8. Lazio 9. Fiorentina 10. Torino 11. Parma 12. Sassuolo 13. Génova 14. Cagliari 15. SPAL 16. Empoli 17. Udinese 18. Bolonha 19. Frosinone 20. Chievo

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22 19 22 16 21 12 21 9 21 9 22 9 21 9 21 9 21 7 21 7 22 8 21 7 21 6 21 4 21 5 22 4 21 4 21 2 21 2 22 1

E 3 3 4 8 7 6 5 5 9 9 5 8 5 9 6 6 6 8 7 9

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M-S

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0 3 5 4 5 7 7 7 5 5 9 6 10 8 10 12 11 11 12 12

46-15 42-18 31-15 28-20 40-29 39-29 47-30 30-25 32-24 27-22 24-30 33-32 28-38 19-30 19-30 27-44 17-29 16-34 16-42 19-44

60 51 40 35 34 33 32 32 30 30 29 29 23 21 21 18 18 14 13 9


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Público • Domingo, 3 de Fevereiro de 2019 • 31

DESPORTO IGOR KOVALENKO/EPA

Inglaterra ganha e assume favoritismo Râguebi David Andrade Com um triunfo justo em Dublin (32-20), os ingleses ficam em vantagem para voltarem a vencer o Torneio das Seis Nações Os irlandeses entraram em campo como favoritos, detentores do título e com uma sequência de 12 vitórias consecutivas em casa, mas uma exibição consistente da Inglaterra chegou para surpreender a selecção comandada pelo neozelandês Joe Schmidt. Com a vitória com ponto de bónus ofensivo na Irlanda (20-32), os ingleses, que tinham perdido seis dos últimos sete jogos realizados em Dublin no Torneio das Seis Nações, passam a ser os favoritos à vitória da 125.ª edição da competição. Após um primeiro semestre de 2018 negativo (seis derrotas consecutivas), a Inglaterra mostrou em Dublin que terá que ser levada a sério no Mundial 2019, que terá início em Setembro, no Japão. A equipa liderada por Eddie Jones esteve bem no jogo ao pé e, com um “pack” avançado poderoso fisicamente, alcançou o que apenas a Austrália, em Junho do ano passado, tinha conseguido nos últimos 19 jogos: uma vitória contra os irlandeses. Com uma boa circulação de bola, o “XV da Rosa” marcou o primeiro ensaio ao fim de 92 segundos e, ao intervalo, tinha sete pontos de vantagem (10-17). Na segunda parte, três pontos de Johnny Sexton ainda reequilibraram o resultado (13-17), mas dois ensaios de Henry Slade e mais uma penalidade de Farrell (13-32) acabaram com as esperanças dos irlandeses, que ainda reduziram a diferença final com um ensaio de Cooney no último minuto (20-32). Na outra partida, apesar de uns maus dez minutos finais, a Escócia confirmou o favoritismo em Edimburgo e bateu a Itália. Em cima da hora de jogo, Chris Harris colocou a diferença em 30 pontos (33-3), mas após Simon Berghan ver um cartão amarelo aos 70’, os italianos aproveitaram a superioridade numérica para marcarem três ensaios, fixando o resultado em 33-20. dandrade@publico.pt

Breves

Mamona iguala recorde de Portugal

Basquetebol

Atletismo

Oliveirense vence FC Porto e mantém comando partilhado João Sousa perdeu o encontro de singulares com Kukushkin

À terceira, ainda não foi a vez de Portugal Ténis Pedro Keul Selecção desperdiçou a terceira ocasião para aceder ao Grupo Mundial da Taça Davis João Sousa e Gastão Elias ainda mantiveram a esperança, mas a experiência de Mikhail Kukushkin e as condições de jogo mais favoráveis à selecção da casa ditaram o triunfo do Cazaquistão sobre Portugal, por 3-1, e o apuramento para a fase final da Taça Davis. Em Astana, o ténis português desperdiçou a terceira oportunidade para aceder ao Grupo Mundial, este ano com um novo formato, alargado para 18 equipas. “Tentámos fazer o nosso trabalho da melhor maneira. Na minha estreia como capitão, gostaria de ter começado com uma vitória e a fazer história para Portugal, até porque estes jogadores já o merecem pela dedicação e por tudo o que têm feito pelo país”, frisou Rui Machado à agência Lusa. O capitão de Portugal mostrou-se “honrado” por liderar esta selecção e salientou o “profissionalismo” na preparação desta eliminatória, depois de ter assistido às vitórias de Sousa/ Elias sobre Aleksandr Nedovyesov e Timur Khabibulin, por 3-6, 6-3 e 6-4, e de Kukushkin sobre o número um luso, em dois sets: 6-4, 6-1. “No geral, o Cazaquistão jogou melhor do que nós. Nos pares, a nossa dupla precisou de algum tempo para se habituar e ganhar ritmo, mas depois jogou muito bem. Mostraram mais uma vez o porquê de jogarem os pares, de representarem tão bem

Portugal e darem boas memórias aos portugueses. Foi uma boa vitória. Mas depois o Kukushkin jogou melhor do que o João, que tentou de tudo para o contrariar, mas não foi possível, não havia nada a fazer”, resumiu Machado. Tal como na véspera, Kukushkin esteve muito sólido a servir, não tendo enfrentado qualquer break-point no segundo set, em contraste com o desacerto da resposta de Sousa que, com excepção de um contra-break no quarto jogo, só ganhou nove pontos no serviço adversário. “As estatísticas dizem tudo. Não consegui jogar bem, não consegui ser fiel ao meu estilo de jogo, ser agressivo. Se calhar por mérito do adversário, mas não fui competitivo, nem consegui fazer o meu jogo”, reconheceu o vimaranense. Para Vasco Costa, jogar fora de casa e a maior experiência de Kukushkin foram decisivos. “Jogar fora é sempre difícil na Taça Davis e a selecção do Cazaquistão só perdeu uma vez em casa nas últimas 12 eliminatórias. Quando jogam a Taça Davis, os nossos jogadores dão o máximo, até por isso acusam mais a pressão do que deviam. O que eventualmente correu menos bem foi terem assumido tanta responsabilidade e vontade de chegar ao Grupo Mundial”, explicou o presidente da Federação Portuguesa de Ténis. O Cazaquistão é uma das 12 selecções que se vão juntar às já qualificadas Croácia, França, Espanha, Estados Unidos, Argentina e Grã-Bretanha. Portugal regressa ao Grupo I, no qual, em Setembro, irá tentar ganhar novamente um lugar no qualifying, no início de 2020. pkeul@publico.pt

A Oliveirense deu ontem seguimento à grande temporada que está a fazer na Liga de basquetebol, ao bater o FC Porto, em Oliveira de Azeméis, por 93-80, na 17.ª jornada da prova. Thomas Thaey e James Ellisor fizeram 21 pontos cada para o campeão nacional, Will Sheehey (19 pontos) destacou-se nos “dragões”, que ocupam o terceiro lugar agora a quatro pontos da Oliveirense e do Benfica. Os “encarnados” regressaram ontem aos triunfos diante do CAB Madeira, impondo-se, no pavilhão da Luz, por 105-91 — Earl Jr. marcou 26 pontos para os insulares, enquanto Micah Downs anotou 21 para as “águias”. Hóquei em patins

Benfica continua a derrapar no campeonato À derrota em casa diante do Sporting, o Benfica respondeu com um empate (1-1) no pavilhão do Sp. Tomar, na 15.ª jornada do campeonato nacional de hóquei em patins. Sem contarem com Diogo Rafael e Carlos Nicolía, as “águias” voltaram a ceder terreno na luta pelo título, já que o FC Porto e a Oliveirense aproveitaram. Os “dragões” venceram, em casa, a Juventude de Viana, por 7-5 (Hélder Nunes fez um hat-trick), ao passo que a equipa de Oliveira de Azeméis derrotou, também no seu recinto, o Paço d’Arcos, por 9-1 (Jorge Silva também marcou por três vezes). Na tabela, a Oliveirense lidera com 38 pontos, mais um que o FC Porto e cinco que o Sporting, que recebe hoje o Riba d’Ave.

Atleta do Sporting fez cinco ensaios acima dos 14 metros na prova do triplo salto do meeting de Karlsruhe, na Alemanha A atleta olímpica Patrícia Mamona igualou ontem o recorde de Portugal do triplo salto feminino, que já lhe pertencia, ao saltar 14,36 metros no decorrer do meeting de Karlsruhe, na Alemanha. Numa das competições que integram Circuito Mundial de Pista Coberta da IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo), a atleta do Sporting conseguiu um concurso de grande nível, com cinco saltos acima da fasquia dos 14 metros. A vencedora da prova foi a espanhola Ana Peleteiro (saltou 14,51m, marca que representa um recorde pessoal), medalha de bronze nos Mundiais de pista coberta em 2018, com a segunda classificada a ser a venezuelana Yulimar Rojas (14,45m), campeã mundial de pista coberta em 2018, vice-campeã olímpica e campeã mundial ao ar livre em 2017. Duas atletas que, curiosamente, integram o grupo de treino de Nelson Évora. No mesmo meeting, mas nos 400 metros, o benfiquista Ricardo dos Santos, na sua primeira prova deste ano, foi segundo classificado na primeira série, com a marca de 47,82 segundos, a cerca de cinco décimas da qualificação para os Campeonatos da Europa de Glasgow 2019. O melhor nos 400 metros foi o vencedor da série 2, o polaco Pavel Maslak, com 46,78 segundos. Nas restantes provas, o sueco Thobiass Nilsson Montler e o cubano Juan Echevarria saltaram a mesma distância no comprimento (8,08 metros), enquanto os quenianos Vincent Kibet (3m38,23s) e Bethwell Birgen (3m38,69s) dominaram os 1500 metros. Ainda assim, o melhor resultado do dia surgiu no salto em altura masculino, com o japonês Naoto Tobe a saltar nada menos do que 2,35 metros, marca que constitui recorde do Japão, do meeting e melhor marca mundial do ano. Lusa


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Domingo, 3 de Fevereiro de 2019

BARTOON LUÍS AFONSO

A ESQUINA DO MUNDO

Basta de cegueira e hipocrisia sobre a Venezuela Vicente Jorge Silva

C

omo madeirense sintome particularmente sensível ao destino de muitos milhares dos meus conterrâneos e seus descendentes que vivem a maior encruzilhada das suas vidas na Venezuela (ou de regresso forçado à terra natal). Entre ontem — dia de manifestações porventura decisivas contra a ditadura de Maduro — e o início da próxima semana — quando uma parte significativa dos países europeus, incluindo Portugal, deverão reconhecer Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela — o futuro desses meus conterrâneos vai confundir-se, como nunca até agora, com o futuro do principal destino da emigração madeirense ao longo de muitas décadas. Mas essa encruzilhada ultrapassa, de longe, uma esfera de proximidade territorial e afectiva, para envolver questões tão dramáticas como a de saber se um país exposto a condições de vida cada vez

mais insuportáveis e a um regime ferozmente opressivo pode aspirar a eleições livres e democráticas sem cair numa sangrenta guerra civil. É isso, de facto, que se joga por estes dias na Venezuela, mas o que ali se passar irá ter reflexos fora das suas fronteiras e num xadrez geopolítico onde se confrontam, indirectamente, as maiores potências mundiais. O facto de Guaidó ser apoiado por Trump, com quem terá acertado a sua fulgurante entrada em cena, parece explicar a recusa de algumas forças políticas em reconhecer a sua legitimidade como Presidente interino da Venezuela. Só que há aqui uma grande dose de má-fé, incurável cegueira ideológica (é o caso do PCP) e crónica hipocrisia política (caso do Bloco de Esquerda), já que Guaidó, para além das reservas que possa suscitar, é a única alternativa que existe a Maduro — um déspota destituído de legitimidade democrática — e a única garantia de realização de eleições livres naquele país. Guaidó intitula-se Presidente interino precisamente porque representa um Parlamento saído de um acto legislativo legítimo que Maduro e a respectiva trupe se recusaram a aceitar — e a sua autoridade transitória é a única

MIGUEL GUTIERREZ/EPA

Por vezes, não há soluções quimicamente puras para ultrapassar becos sem saída

que resta para proporcionar a convocação de eleições. Se o PCP, refém irremediável dos seus eternos reflexos “antiimperialistas”, é definitivamente um caso perdido, já o Bloco padece da clássica postura de Pilatos, lavando as mãos quando se coloca a necessidade de escolher entre duas alternativas que não correspondem à sua enviesada perspectiva “politicamente correcta”. Qual seria então a possibilidade de convocar eleições livres — como advoga também o Bloco —, se não houver alguém que protagonize essa possibilidade

além de Guaidó? Não se trata, contrariamente ao que pretendem os bloquistas, de reconhecer a mera legitimidade de Guaidó como Presidente interino mas o seu papel como único protagonista da convocação desse acto eleitoral. Guaidó não poderia avançar se não tivesse apoio americano? Qual seria então a alternativa? A de deixar a situação venezuelana apodrecer até ao caos e desespero absolutos? Eis um exemplo de que, por vezes, não há soluções quimicamente puras para ultrapassar becos sem saída. Para já é imperativo que Maduro saia de cena e, depois, que a Venezuela possa reencontrarse com a democracia e se levem a cabo programas de governo que respondam minimamente às aspirações de um povo desesperado. P.S. Chamo a atenção para os recentes artigos de José Pedro Teixeira Fernandes no PÚBLICO online, excelentemente documentados sobre a questão do petróleo venezuelano. Quando teremos o gosto de o ler mais regularmente — ainda que em versões mais curtas — na edição em papel? Jornalista

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