Os Analectos - Confúcio

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da benevolência e, como tal, é de grande importância nos ensinamentos de Confúcio. Isso é confirmado por uma frase de Tseng Tzu. À observação do Mestre de que apenas um fio amarrava o seu caminho, Tseng Tzu acrescentou a explicação: “O caminho do Mestre consiste em chung e shu. Isso é tudo” (IV. 15). Há outra frase que é, na verdade, também sobre shu. Em resposta a uma pergunta de Tzu-kung, Confúcio disse: Mas, por outro lado, um homem benevolente ajuda os outros a firmarem sua atitude do mesmo modo que ele próprio deseja firmar a sua e conduz os outros a isso do mesmo modo que ele próprio deseja chegar lá. A capacidade de tomar o que está ao alcance da mão como parâmetro pode ser considerado o método da benevolência. (VI.30) Daí podemos ver que shu é o método de descobrir aquilo que os outros desejam ou não desejam que seja feito para eles. O método consiste em tomar a si mesmo – “aquilo que está ao alcance da mão” – como uma analogia [9] e se perguntar sobre o que gostaríamos ou não, caso estivéssemos no lugar do outro. Shu, entretanto, não pode ser toda a benevolência, já que se trata apenas do método de aplicação. Tendo descoberto o que a outra pessoa desejaria ou não, fazer aquilo que pensamos que a pessoa desejaria ou evitar fazer à pessoa aquilo que acreditamos que ela não desejaria depende de algo mais do que o shu. Como o caminho do Mestre consiste de chung e shu, em chung temos o outro componente da benevolência. Chung é fazer o melhor de que alguém é capaz, é dar o melhor de si, e é por meio do chung que uma pessoa põe em prática aquilo que descobriu pelo método de shu. Tseng Tzu disse em outra ocasião, “Todos os dias, examino a mim mesmo sob três aspectos” e, desses, o primeiro é: “Naquilo que fiz pelo bem-estar do outro, falhei em ser chung?” (I.4). Outra vez, quando questionado sobre como um ministro deveria servir seu governante, a resposta de Confúcio foi a de que ele “deveria servir seu governante com chung” (III.19). Finalmente, também é dito que ao tratar com os outros uma pessoa deveria ser chung (XIII.19). Em todos esses casos, não resta absolutamente nenhuma dúvida de que chung significa “dar o melhor de si”.[10] Outra resposta que Confúcio deu a uma pergunta sobre a benevolência foi “Ame seus semelhantes” (XII.22). Como ele não elaborou o pensamento, o significado não é muito claro. Mas felizmente ele usou essa frase novamente em duas outras ocasiões. Em I.5 ele disse: “Ao governar um reino com mil carruagens (...) evite gastos excessivos e ame os seus semelhantes; empregue o trabalho do povo apenas nas épocas certas”. Outra vez, o Mestre, segundo Tzuy u, disse: “o cavalheiro instruído no Caminho ama seus semelhantes e que os homens vulgares instruídos no Caminho são fáceis de serem comandados” (XVII.4). No primeiro caso, o amor pelo semelhante (jen) é contrastado com o emprego das pessoas comuns (min) nas estações corretas, enquanto no segundo caso o cavalheiro que ama seus semelhantes é contrastado com o homem vulgar que é fácil de ser comandado. Se lembrarmos que “homem vulgar” provavelmente não era a mesma coisa que “pessoa comum” ou “povo”, não


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