Catalogo Mitsp 2018

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País Clandestino: encontros além das Sa r a Ro j o fronteiras nacionais UFMG Solo voy con mi pena Sola va mi condena Correr es mi destino Para burlar la ley Perdido en el corazón De la grande babylon Me dicen el clandestino Por no llevar papel. Pa’ una ciudad del norte Yo me fui a trabajar Mi vida la dejé Entre Ceuta y Gibraltar Soy una raya en el mar Fantasma en la ciudad Mi vida va prohibida Dice la autoridad. (“Clandestino”, Manu Chao)

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título da peça alude a uma condição que não é a dos criadores, mas, sim, do país imaginário que eles constroem a partir de suas lembranças. Afirmo que “clandestino” não corresponde aos autores porque, se eles transitam pelo mundo, sua condição social (têm papéis, não estão ilegais) é diferente da de milhões de imigrantes que hoje existem no mundo em condições sub-humanas. A globalização, infelizmente, é só para alguns. Mas o grupo é capaz de fazer com esse privilégio uma proposta interessante, que transcende as fronteiras nacionais e permite pensar que podemos juntos construir outras plataformas de entendimento.

A peça é uma abertura de processo. A partir de meu olhar externo, percebo que a companhia realizou um corte (determinado talvez pela estreia) na construção de um imaginário sobre eles mesmos e seus países. Construção que poderia se estender ad infinitum, como a vida, pois não é uma representação de um referencial externo às suas próprias vivências. Essa afirmação é corroborada pelas palavras de Badiou sobre a especificidade do teatro: O teatro se distingue assim do Estado – do qual é um assunto (mas por quê?) –, da Moral – para a qual é um suspeito (mas por quê?) – e do Espectador – do qual extrai seu real – isto é, aquele que interrompe os ensaios. Sobre esse ponto, a essência do teatro radica em que haja estreia (BADIOU, 2015, p. 27). 1

País Clandestino é uma obra não representativa (mesmo que tenha momentos nos quais se representa o referente externo – as manifestações) que atinge problemáticas contemporâneas do Ocidente, que atravessam não só seus criadores. A forma de construção se dá a partir das lembranças dos artistas e daqueles que conformam seu entorno, principalmente suas famílias. Faço, seguindo Ricoeur, uma distinção entre lembrança e memória para tentar estabelecer as particularidades desse mecanismo dramatúrgico: 1 Tradução de Luciana Romagnolli a partir da versão em espanhol: “El teatro se distingue así del Estado – del cual es un asunto (¿pero por qué?) – de la Moral –para la cual es un sospechoso (¿pero por qué?) y del Espectador – del cual extrae su real – es decir; aquello que interrumpe los ensayos. Respecto a este punto, la esencia del teatro radica en que hay un estreno.”


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