Guia alimentar para a população brasileira

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PARTE 3 - AS BASES EPIDEMIOLÓGICAS E CIENTÍFICAS

por isso passíveis de prevenção. Esse grupo de doenças é considerado uma manifestação da mánutrição, evidência comprovada por estudos científicos (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1989a; WORLD CANCER RESEARCH FUND, 1997; PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 1998b; UNITED NATIONS ADMINISTRATIVE COORDINATING COMMITTEE, 2000; EURODIET, 2001; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1990a, 1990b, 2003a). No último século, essas doenças têm sido a causa principal de incapacidade e de mortes prematuras na maioria dos países economicamente desenvolvidos; contudo, conforme já mencionado, os processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional também começam a afetar os países em desenvolvimento, incluindo a América Latina (SHETTY; MCPHERSON, 1997) e o Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad), realizada pelo IBGE em 2003, incluiu um módulo destinado a aferir o acesso e a utilização dos serviços de saúde pela população brasileira que traz importantes informações sobre as DCNT (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2003). À época da pesquisa, a população brasileira residente foi estimada em 176 milhões de habitantes. Por meio de informação relatada pelos entrevistados, os resultados mostram que aproximadamente 29,9% da população informaram ser portadores de pelo menos uma doença crônica nãotransmissível. Essa proporção aumentava com a idade e variava segundo os sexos, sendo maior para as mulheres (33,9%) do que para os homens (25,7%). Até a idade de 13 anos, a parcela de mulheres com doença crônica não-transmissível era menor e, repetindo o padrão das demais variáveis de estado de saúde avaliadas, superava a dos homens em todos os grupos etários a partir de 14 anos. As informações revelam, ainda, que a proporção de pessoas com doença crônica nãotransmissível se eleva à medida que aumenta o rendimento mensal familiar: 26,7% entre aqueles com rendimento de um salário mínimo ou menos, alcançando 33,6% entre aqueles de 10 e 20 salários. Para a classe de rendimento acima de 20 salários, a freqüência foi de 32,4%. Entre as pessoas que informaram doenças crônicas não-transmissíveis, 18,5% informaram ter três ou mais doenças, sendo

este percentual de 13,4% para os homens e de 22,1% para as mulheres. Estes padrões referentes à idade e ao sexo foram semelhantes aos observados em outros países (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2003). Um outro inquérito realizado, em 2002/ 2003, pelo INCA, instituto vinculado ao Ministério da Saúde, a partir de amostra de base domiciliar, investigou comportamentos de risco e de morbidade referida para doenças e agravos nãotransmissíveis, em 15 capitais e no Distrito Federal. Essa pesquisa teve como objetivos estimar a prevalência de exposição a comportamentos e fatores de risco para as DCNT e a prevalência de hipertensão e diabetes auto-referidos. Foram entrevistados os indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos no momento da pesquisa. Os dados referem-se a uma amostra de 23.457 pessoas entrevistadas. Alguns resultados serão apresentados nas páginas seguintes, pois também contribuem para elucidar a gravidade da prevalência de DCNT em nossa população (BRASIL, 2004e). Destacam-se a seguir algumas informações disponíveis sobre doenças cardiovasculares, câncer, hipertensão arterial e diabetes que mostram a situação no Brasil, doenças estas que têm, entre seus fatores de risco, a inadequação alimentar. Doenças cardiovasculares Atualmente, as doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 18 milhões de mortes anuais em todo o mundo. Dentre elas, a doença isquêmica do coração e as doenças cerebrovasculares responsabilizam-se por 2/3 das mortes e por mais de 20% dos óbitos por todas as causas (BEAGLEHOLE et al., 2001). No Brasil, na década de 30, as doenças infecciosas e parasitárias correspondiam, proporcionalmente, a 46% da mortalidade geral, enquanto que as cardiovasculares a 12%. Já os dados de 2001 mostram uma nítida reversão desses dados: enquanto as infecciosas e parasitárias respondem por 5,0% de todas as causas de morte, as doenças cardiovasculares ascenderam a 31% (BARBOSA, 2003). Segundo estimativas do Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares (DCV) corresponderam a 1/3 dos óbitos por causas conhecidas e


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