Tangolomango 2005

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AS MATÉRIAS DESTA PUBLICAÇÃO SÃO DE CONTEÚDO LIVRE

apresenta

DURANTE DOIS DIAS, PALESTRANTES VÃO DEBATER A DEMOCRATIZAÇÃO AO ACESSO ÀS NOVAS TECNOLOGIAS.

TANGOLOMANGO PROMOVE DIVERSIDADE E INTERCÂMBIO CULTURAL

EXPOSIÇÃO NO CAU PROMOVE A DIVERSIDADE E A PLURALIDADE DE AÇÕES CULTURAIS DE DIVERSOS GRUPOS DO PAÍS.

MOSTRA IDENTIDADES APRESENTA A DIVERSIDADE CULTURAL ATRAVÉS DE FILMES DE VÁRIOS PAÍSES

UM DOMINGO REPLETO DE ATIVIDADES CULTURAIS NO CIRCO VOADOR.


No segundo encontro, em 2003, avançamos mais um pouco, abrindo espaços para projetos que promoviam a democratização da comunicação, uma das grandes dificuldades dos grupos locais que atuam na área cultural, conforme foi apontado no debate da primeira edição. Em sua terceira edição, o Tangolomango apresentou um panorama dos novos canais de expressão das comunidades e das ações culturais locais que estão interagindo com os movimentos culturais contemporâneos. Em seu quarto ano, o Tangolomango se consolida como uma rede de produtores culturais. Esse ano, o evento destacará a democratização do acesso às novas tecnologias que incentiva e desenvolve a verdadeira inclusão social. Nesta edição, estarão presentes projetos de diferentes regiões do país, que estarão interagindo entre si, mostrando a riqueza e a qualidade das manifestações culturais presentes nas comunidades brasileiras.

Jornalista responsável: Marina Vieira de Souza, MTB 18799

Ao longo do próximo ano, estaremos ampliando e consolidado nossa proposta de reunir, trocar, difundir e criar oportunidades para que os cidadãos brasileiros se conheçam, reconheçam e respeitem as suas diferenças. E, quanto mais conhecemos projetos de comunicação e cultura espalhados por todo o país, mais acreditamos que é através da imaginação e da capacidade de realização do povo brasileiro que superaremos as barreiras para o verdadeiro desenvolvimento social.

Direção geral: Marina Vieira Editora Chefe: Ilana Strozenberg Supervisão e Edição dos textos: Fabiane Pereira e Raquel Diniz Estagiários / Repórteres: Bianca Nascimento, Bruno Boghossian, Carla de Toledo Camargo, Elaine Cotrim, Isabella Guerreiro, Mariana Ribeiro, Mariana Schreiber e Thaís Canella Programação Visual: Maria Clara Moraes

PRATICANDO A TEORIA DE MÃOS DADAS COM O TANGOLOMANGO

E assim, em 2002, o Tangolomango reuniu a produção cultural de grupos locais para que apresentassem seus trabalhos, trocassem experiências e debatessem as possibilidades de sustentabilidade de suas ações.

Ilana Strozenberg Vice-coordenadora do PACC

"Que tal trabalharmos em parceria?" Para nós, o convite de Marina Vieira para colaborarmos com o Tangolomango 2005 chegou como um verdadeiro presente. Estava nos sendo oferecida a oportunidade de participar de um projeto cultural, que nos últimos quatro anos vem se destacando por unir o debate intelectual à realização, na prática, dos princípios de diversidade, multiplicidade e colaboração que há cerca de 10 anos orientam o nosso trabalho na Universidade. Rápida, nossa resposta foi um entusiasmado "mãos à obra!". Criado em 1994, o Programa Avançado de Cultura Contemporânea - PACC - é um programa de ensino, pesquisa e documentação vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, situado na perspectiva dos Estudos Culturais - um viés metodológico interdisciplinar para estudos na área da cultura que assume o compromisso de interagir diretamente com as práticas políticas, sociais e culturais. Organizado como um ambiente de troca e convivência acadêmica, o PACC abriga pesquisadores permanentes e associados; um Programa de Pós-Doutorado em Estudos Culturais; um Programa de artista/escritor residente; a Coordenação Interdisciplinar de Estudos Culturais CIEC, um núcleo de pesquisa vinculado à Escola de Comunicação da UFRJ; além de um vasto acervo de documentação. Questões como cidadania, desigualdade social e a influência da mídia e da expansão das redes eletrônicas de informação sobre as novas políticas de inclusão social e produção cultural na sociedade contemporânea e, em especial, nas sociedades de desenvolvimento capitalista tardio, como o Brasil, têm sido objeto de estudo prioritários de nossas pesquisas. A princípio, nossa parceria seria voltada especificamente para a organização do Seminário "Software Livre - novos rumos para a cultura e a comunicação", campo em que Heloísa Buarque de Hollanda, coordenadora do PACC, vem investigando do ponto de vista de seu impacto sobre produção cultural brasileira. Por minha vez, há cerca de dois anos desenvolvo uma pesquisa sobre formação de lideranças de projetos culturais voltados para a inclusão social e sua articulação com o mercado e a mídia. Juntas, as equipes do Tangolomango e do PACC discutem formato, conteúdos e nomes, em reuniões nas quais, confesso, aprendemos muito e onde pudemos exercitar, na prática, a autoria colaborativa. Mas conversa puxa conversa, uma colaboração sugere outras, e - numa dinâmica muito própria das redes -, incorporam-se novas pessoas para novas ações. E foi assim que encampamos mais uma tarefa, ampliando os caminhos do trânsito e o universo das trocas. Dessa vez, com a participação dedicada, criativa e eminentemente colaborativa de sete alunos da Escola de Comunicação da UFRJ. No prazo de poucas semanas, Bianca Nascimento, Bruno Boghossian, Carla de Toledo Camargo, Isabella Guerreiro, Mariana Ribeiro, Mariana Schreiber e Thaís Canella atuaram como repórteres, fotógrafos e redatores, participando de oficinas, visitando projetos, fazendo entrevistas, percorrendo a cidade e navegando na internet. Assim, produziram as matérias que compõem todo o conteúdo de informação desse fanzine. A cada encontro das equipes, falávamos das informações reunidas e das dificuldades encontradas, organizávamos o andamento dos trabalhos e estabelecíamos novos prazos. Mais importante que isso, no entanto, foi fazer circular, entre nós, as impressões surgidas do contato com expressões culturais que representam as muitas e diversas identidades que integram a sociedade brasileira e com iniciativas, na área de comunicação, que investem na construção de uma realidade efetivamente mais inclusiva e democrática. Para os alunos da ECO, futuros comunicadores, a participação no Tangolomango 2005 abre, com certeza, a possibilidade de um olhar mais esperançoso para o futuro. Para nós, do PACC, a experiência dessa parceria reforça a aposta numa Universidade em que a generosidade intelectual e a livre circulação dos saberes seja a palavra de ordem.

Conheça mais sobre o PACC visitando www.pacc.ufrj.br


São cada vez mais freqüentes - e intensas - as menções e referências à principal característica da nossa cultura: a diversidade. Assim, é fácil confirmar que também acontece, e há algum tempo, um reforço visível na tentativa de incluir nesse debate os novos ingredientes - inclusive inovações tecnológicas - que afetam as maneiras de se buscar democratizar e ampliar o acesso à cultura e suas formas de expressão. Em outras palavras: estimular o reconhecimento e expandir as potencialidades dessa diversificação cultural que nos é tão peculiar. O projeto Tangolomango tem como proposta central a reflexão, o intercâmbio de experiências e o debate sobre o impacto que a tecnologia exerce na criação de novas possibilidades de acesso à produção cultural brasileira em todas as suas vertentes. Para cumprir com seu objetivo, se debruça sobre projetos nas áreas de inclusão digital, música, dança, cinema e vídeo desenvolvidos em diferentes regiões do país. Tudo isso em oficinas, mesas-redondas, seminários, mostras e exposições. Sempre atenta à sua responsabilidade social, a Petrobras, maior empresa brasileira e maior patrocinadora das artes e da cultura em nosso país, apóia a realização do Tangolomango. E faz isso por entender que as artes e a cultura são ferramentas essenciais para assegurar aos brasileiros o direito à cidadania plena. É cada vez mais urgente estimular a reflexão e intensificar a discussão sobre identidade cultural e cidadania, rompendo barreiras que separam criador e público. Para a Petrobras, apoiar iniciativas como esta faz parte de sua missão principal: contribuir, por todos os meios, para o desenvolvimento do Brasil. Um país sem arte e sem cultura, sem estímulo para sua capacidade criativa, jamais será um país desenvolvido.

No Tangolomango 2005 cariocas, baianos, pernambucanos, mineiros, paulistas, cambodjanos, portugueses, vietnamitas, franceses, finlandeses, venezuelanos e colombianos terão voz e vez. Mais uma vez o Tangolomango estará centrado na promoção da diversidade e pluralidade de ações culturais. A questão, que permeará todo o evento, será a preservação, a integração, a renovação e a recombinação dessa diversidade através do uso das novas tecnologias. Colaborativismo, generosidade intelectual, ativismo, troca, criação livre e produção compartilhada. Queremos apontar para as novas possibilidades que integram produção cultural e desenvolvimento local, e para este

Para a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura, a missão expressa em seu mandato serve a um

momento único de reapropriação da arte,

ambicioso propósito: o de construir a paz na mente dos homens , através da cooperação intelectual internacional nos campos da

mídia e tecnologia, por aqueles que até

educação, da ciência, da cultura e da comunicação. Somente através da defesa dos direitos humanos fundamentais e a existência de uma

agora foram excluídos do acesso à cultura e à

cultura democrática que garanta o respeito às diferenças e o reconhecimento das diversas formas de expressão e modos de vida, é que

comunicação.

o sonho de construir uma cultura de paz poderá ser alcançado. Neste contexto, a diversidade cultural deve ser entendida como matéria prima fundamental. É preciso considera-la sob amplos

Vamos conectar reis, rainhas, deuses, foliões,

aspectos: como processo evolutivo e fonte de expressão, criação e inovação, que assegure a sobrevivência da humanidade; como um

funkeiras, grafiteiros, jongueiros,

canal de diálogo e respeito entre as culturas e civilizações e como uma das fontes do desenvolvimento, "entendido não somente em

capoeiristas, metarecicleiros, artistas

termos de crescimento econômico, mas também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual

populares, povos da floresta e moradores de

satisfatória". Consciente do mandato específico confiado à UNESCO dentro do sistema das Nações Unidas, de assegurar a preserva-

rua, para que troquem saberes e

ção e a promoção da diversidade das culturas, a Organização vem buscando forjar um novo paradigma, elevando a diversidade cultural à categoria de "patrimônio comum da humanidade", "tão necessária para a humanidade como a biodiversidade biológica para os

experiências ou para que, simplesmente,

organismos vivos" e cuja defesa é um imperativo ético indissociável do respeito à dignidade individual.

vivam intensamente esta multiplicidade. E

Sua preservação, num mundo marcado por um acelerado processo de globalização, de acirramento das desigualdades socioeconômi-

que para que possam se apresentar sem

cas e dos chamados conflitos de "natureza cultural", encontra suporte na elaboração e aplicação dos instrumentos normativos

filtros ou pasteurização, usando seus

desenvolvidos pela Organização nos últimos anos. A "Declaração Universal da UNESCO sobre a Diversidade Cultural" aprovada por unanimidade em 2001 e a "Convenção sobre a proteção da diversidade dos conteúdos culturais e das expressões artísticas", apresentada na última Conferência Geral da UNESCO, expressam a preocupação da comunidade internacional na busca de princípios orientado-

próprios ritmos, suas próprias linguagens, seus ruídos e seus silêncios.

res e instrumentos jurídicos que garantam a proteção da diversidade cultural. Esta preocupação encontra eco nas diversas ações que vem sendo desenvolvidas no Brasil, onde podemos dizer que há um grande

Marina Vieira

movimento em torno da questão que vem sendo amplamente debatida por diversos setores da sociedade. Há quatro anos, a UNESCO vem apoiando o Tangolomango, canal de discussão e diálogo em torno dos temas ligados a comunicação, cultura e cidadania que promove o intercâmbio, a troca de idéias e o reforço dos laços entre as diferentes comunidades do Rio de Janeiro, através de suas manifestações e expressões culturais. A discussão em torno da diversidade cultural ganha reforço como eixo temático principal nesta edição de 2005. Para a UNESCO é importante a participação local associando suas aspirações com as metas mais amplas de desenvolvimento. O que é desenvolvimento, afinal, se este for destituído de qualquer identidade cultural?

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Durante o evento, dois documentários brasileiros serão exibidos no Circo Voador, na Lapa Por Bruno Boghossian e Mariana Ribeiro

Em 2005, o Tangolomango leva sua apresentação de filmes para o Circo Voador. No dia 06 de novembro, serão exibidos os documentários “Sou feia mas tô na moda”, de Denise Garcia, e “Jongo da Serrinha”, de Beatriz Paiva. O primeiro filme da sessão é “Sou feia mas tô na moda”, documentário de Denise Garcia, que mostra o mundo do movimento funk carioca e a crescente atuação das mulheres, nesse ambiente originalmente masculino. A diretora percorreu bailes funk durante um ano, documentando as performances e o dia-a-dia de artistas do funk carioca. Gravado em vídeo digital e com aproximadamente uma hora de duração, o filme conta com as participações dos MCs Cidinho e Doca, do DJ Marlboro e, em especial, das funkeiras Deise da Injeção, Vanessinha Pikachú e Tati Quebra-Barraco. “Sou feia mas tô na moda” faz sucesso tanto no Brasil quanto no exterior. O filme participou de festivais de cinema como de Belo Horizonte e de Londres e foi tema de reportagens em jornais e revistas como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, The Times e The Washington Post. O segundo filme é o média-metragem “Jongo da Serrinha”, da diretora Beatriz Paiva. O documentário mostra, através da visão das crianças, a história do jongo Cena do documentário Sou feia mas tô na moda, de Denise Garcia uma dança de roda, que, segundo a tradição oral, era dançada pelos africanos que chegavam ao Brasil. O ponto central do filme é a Serrinha - casa da escola de samba Império Serrano e grande reduto do jongo -, localizada em Madureira, no Rio de Janeiro. O documentário, com 52 minutos de duração, conta com a participação de Sandra de Sá, Beth Carvalho e Xangô da Mangueira. A diretora assistiu às apresentações e entrevistou componentes do Grupo Cultural Jongo da Serrinha, associação cultural criada em 2000, formada pela quinta geração de jongueiros, por crianças e por jovens da comunidade. O grupo tem a missão de preservar e de divulgar o patrimônio cultural afro-brasileiro.

Formação de platéias é o principal objetivo Segundo Valter Gáudio, organizador das sessões do Cinema no Circo do Tangolomango, a intenção deste evento é formar platéias, ou seja, criar gosto e proporcionar a experiência de assistir a filmes àqueles que não têm acesso à produção cinematográfica. - A nossa prioridade é o cinema nacional. E, no Tangolomango, a escolha do filme é relacionada a uma questão social e cultural - explica o organizador do evento. Valter ressalta, porém, que ainda há certa resistência do público em geral ao documentário. No Tangolomango, a intenção do Cinema no Circo também é apresentar o gênero aos espectadores, a fim de apresentar à platéia uma outra linguagem cinematográfica e de criar um público mais interessado neste tipo de filme. - Acho que o fato de os temas dos dois documentários tratarem de casos bastante conhecidos ajuda a atrair o público. E também são ótimos filmes - completa.

Entrevista com Denise Garcia, diretora de “Sou feia mas tô na moda”.

O documentário, que já é considerado um sucesso de crítica e de público, será exibido no Cinema no Circo, no dia 06 de novembro. Como surgiu a idéia para o documentário?

O que me chama atenção para o funk é o fato de se tratar de um movimento muito genuíno e espontâneo, que bota milhões de jovens para dançar todos os finais de semana. O funk é a festa e é também o emprego de milhões de pessoas, entre MCs, DJs, motoristas, carregadores de caixas, vendedores ambulantes, etc. Além disso, promove o rompimento da invisibilidade de pessoas que estavam fadadas ao desemprego, a viver de salário mínimo, sem instrução, sem condições de participar ativamente do desenvolvimento tecnológico do mundo, fadados a lavar o chão que a classe média pisa. Não acho isso justo. Não acho justo barrar a expressão cultural de uma quantidade tão significativa da população brasileira. Então, nesse sentido, o funk vem para contribuir com uma visão muito clara de como é a vida de quem está lá dentro

da favela. E de um jeito bem humorado, que diverte. O papel das mulheres com suas letras desbocadas também ajuda a romper com a hipocrisia que cerca o assunto "sexo" quando vindo de vozes femininas. Os homens sempre cantaram sobre sedução, sexo, amor, agora as mulheres estão se expressando. Também admiro a capacidade do movimento sobreviver sem a ajuda de grandes gravadoras, sem a renda que poderia vir de contratações para shows em boates da zona sul, sem que a imprensa dê apoio. É uma demonstração muito clara da força deste movimento. Tudo isso me chamou a atenção e espero que tenha conseguido colocar no documentário.

Na sua opinião, por que o filme atraiu tanta atenção, não só do público, mas também da crítica e nos festivais de cinema?

O fato é que o movimento do funk carioca está cheio de pessoas espontâneas que sabem falar sobre as suas comunidades com muita propriedade, tanto nas músicas quanto nas entrevistas que dão. O que procurei fazer foi justamente unir o discurso sem interferência de antropólogos, sociólogos e outros estudiosos do assunto, pois acho que ninguém melhor que funkeiros para falar do funk.

Qual a importância de o filme ter sido escolhido para exibição em um evento da linha social e cultural do Tangolomango?

Acho uma oportunidade importantíssima para o filme, pois levaremos este recorte do universo funkeiro a mais funkeiros, que muitas vezes não têm tempo ou dinheiro de ir ao cinema. Nós ainda aguardamos fechar com uma distribuidora para lançar o filme comercialmente nas salas no Rio. Você acha que há um público definido para o "Sou feia mas tô na moda"? De jeito nenhum há público definido. “Sou Feia mas tô na moda” é um documentário sobre cultura brasileira. Espero que este assunto sempre desperte a atenção das pessoas, brasileiras ou não.


NA TELA DO CINEMA

De 10 a 12 de novembro, durante a Mostra Identidades, serão exibidos filmes recentes, produzidos em todo o mundo, que abordam questões sociais e de identidade cultural de diversos países. Os vídeos serão exibidos na Casa França Brasil, das 14h às 20h, com áudio original e legenda eletrônica em português para os filmes produzidos no exterior. Durante os três dias da mostra, passarão pelas telas quatro horas de filmes brasileiros e seis horas de filmes estrangeiros. A intenção é expor para os freqüentadores do evento a diversidade cultural da produção de vídeos e a realidade social de diferentes países. As abordagens dos filmes brasileiros são bastante diversificadas. “Missionários”, de Cleisson Vidal e Andréa Prates, é um documentário que acompanha a vida de três detentos do presídio Frei Caneca, no Rio de Janeiro. Fugir parece ser a melhor solução para se livrar da longa pena que precisariam cumprir, mas eles abandonam a intenção de escapar quando montam o grupo musical "Missionários do Rock".

Por Bruno Boghossian e Mariana Ribeiro

DIVERSIDADE CULTURAL

FILMES BRASILEIROS E ESTRANGEIROS ESTARÃO EM CARTAZ NO EVENTO QUE ACONTECERÁ NA CASA FRANÇA-BRASIL

“A pessoa é para o que nasce”, documentário brasileiro dirigido por Roberto Berliner Um filme conhecido do público será uma das atrações da Mostra Identidades. O filme conta a história de Regina, Maria e Conceição, três irmãs cegas, cantadoras de côco em Campina Grande, que se tornaram celebridades depois que foram personagens de um premiado curta lançado em 1998. As irmãs se tornaram tão famosas que chegaram a fazer shows com Gilberto Gil e foram entrevistadas em vários programas de tevê. Zé Pureza, Nós em rede, Acorda, O dia em que o Brasil esteve aqui, Cólera, Ira e O menino que come livro são os outros brasileiros em cartaz.

FILMES DE OUTROS PAÍSES TAMBÉM MARCAM PRESENÇA NO EVENTO Já os filmes estrangeiros exibidos durante o evento serão os vídeos mais recentes produzidos pelas oficinas dos Ateliers Varan, um renomado projeto francês de formação de cineastas, que ajudou a produzir documentários na Sérvia, Camboja, Venezuela e em muitos outros países. A diretora portuguesa Mariana Otero, membro da equipe do Ateliers Varan desde 2000, estará presente durante a Mostra Identidades para falar sobre os filmes exibidos. O projeto Varan teve sua primeira experiência em 1978 em Moçambique, com a intenção de realizar filmes que retratassem a mudança pela qual a população do país estava passando desde sua independência. O documentarista francês Jean Rouch propôs que, em vez de enviar cineastas franceses, fossem realizadas oficinas para que os moçambicanos pudessem filmar sua própria realidade.

Chantal Roussel, uma das diretoras dos Ateliers Varan

No Tangolomango, serão exibidos filmes produzidos na Colômbia, na Venezuela, na França, no Vietnã, em Portugal, na Sérvia e no Camboja. Segundo Chantal Roussel, uma das administradoras dos Ateliers Varan, a finalidade é mostrar um panorama do trabalho da instituição. - Através dos filmes, podemos perceber como culturas tão diferentes muitas vezes apresentam problemas iguais - explica a representante da organização. - O projeto Varan representa isso muito bem, porque atua em vários países, mostrando essa

diversidade de identidades. “Eu, uma moça como as outras”: curtametragem do Camboja será exibido na Casa França-Brasil “Cha da ve” (em português, "Papai Voltou"), um dos filmes do Vietnã, narra a trajetória de camponeses que decidem deixar a vida rural e tentar a sorte na cidade de Hanoi. O Camboja é representado por “Eu, uma moça como as outras”, que conta a história de uma mulher que vive com seus quatro filhos sob uma árvore no meio de Phnom Pehn, enquanto Cedo o Sol, da Venezuela, documenta a forma como o cotidiano de três velhos camponeses venezuelanos é pontuado pela presença da sobrinha de um deles. A organizadora dos Ateliers Varan contou que, quando o documentário vietnamita estava sendo gravado, em 2004, um membro do governo acompanhava as gravações para censurar qualquer conteúdo que criticasse o regime político do país. - Foi uma grande dificuldade. Mas isso também é algo interessante para o filme, pois reflete a questão social do Vietnã completa Chantal.

STA S DE A I R ATÉ AS M ICAÇÃO

PUBL DE

DO Ú E T CON

SÃO

E R V LI


Nas duas vertentes procura-se dar visibilidade e oportunidade a jovens documentaristas que buscam, com vigorosa inspiração mas recursos limitados, apresentar suas idéias através desse meio exigente e rigoroso que é o gênero documental. As mostras, no Rio e em Paris, atrairão jovens criadores e espectadores de todas as idades interessados em uma forma de expressão artística tão dramaticamente capaz de mostrar o cotidiano com seus desafios e suas esperanças. A ênfase dos documentários aqui e lá será a apresentação da diversidade cultural e a identificação de alguns fragmentos e cores deste grande, complexo e variado mosaico que é a vida cultural contemporânea. Nada é mais agradável que a identificação de novos talentos; oferecer espaço e audiência a quem tem algo novo a dizer; abrir portas, olhos e o espírito para uma nova maneira de ver e sentir e, finalmente, saber que de todos os esforços, aqui e lá, irá emergir alguma outra maneira de ver, sentir, compreender e valorizar o humano. Vamos ver com olhos brasileiros o que nos será mostrado assim como olhos franceses e de outros olharão a nossa produção em Paris. Aqui e lá o olhar do espectador completará a obra do criador naquela permanente e indispensável cumplicidade entre quem cria e quem vê.

chega às Lonas Culturais

Simultanea e simetricamente uma parte da produção audiovisual brasileira com ênfase naquilo que se relaciona com a inclusão social será apresentada na França como uma das etapas finais deste 2005 que foi o Ano do Brasil na França.

Projeto Tangolomango

A Casa França-Brasil acolhe com prazer a programação de cinema e vídeo do projeto Tangolomango no Rio de Janeiro.

É com enorme satisfação que mais uma vez a Prefeitura do Rio, por intermédio da Secretaria das Culturas, apóia o Projeto Tangolomango. O foco principal do Projeto em 2005 é promover a diversidade cultural, através da discussão de novas formas de expressão, democratizando as linguagens do novo mundo que se forma no século XXI. A exemplo do que ocorreu em 2004, o Tangolomango vai às Lonas Culturais Herbert Vianna (Maré) e João Bosco (Vista Alegre). A filosofia das Lonas condiz perfeitamente com a proposta de democratização da cultura deste projeto. Questões acerca da globalização, da inclusão digital e da evolução tecnológica ganham destaque. Entre elas, "como os projetos sociais têm sido impactados pela tecnologia?", "como estão se beneficiando ou não das novas formas de acesso à cultura?", "a realidade tecnológica massifica culturas ou é a chave para a valorização da diversidade?". O Tangolomango promove um evento reflexivo, que reunirá projetos nas áreas de inclusão digital, música, dança, cinema e vídeo de comunidades de diferentes regiões do Brasil, apresentando, difundindo e valorizando suas diversidades. As atividades desta edição, todas gratuitas, serão agrupadas em espaços específicos que valorizam e destacam as mais variadas ações desenvolvidas. Cada espaço vai promover a troca de experiências entre os grupos, que associam cultura e inclusão social, incentivando o surgimento de novas iniciativas que ampliam o exercício dos direitos de expressão e de participação. Entre as atividades estão exposições de multimídia, de fotografia, de objetos reciclados, palestras sobre gestão global da internet, democratização e software livre, mostra de cinema e vídeo, além de muitas outras atividades. No ano em que será assinada a Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural, a Secretaria das Culturas apóia o Projeto Tangolomango, que em parceria com a Unesco e outras importantes instituições, apresentará diversos trabalhos de comunidades, que têm atuação relevante na promoção da diversidade cultural em nossa cidade. Ricardo Macieira Secretaria das Culturas

Marcos de Azambuja Presidente da Fundação Casa França-Brasil

MOSTRA IDENTIDADES Andréa Cals

Igualdade de direitos, liberdade de expressão, fraternidade nas relações. Os princípios que regeram há mais de dois séculos a Revolução Francesa são os mesmos que regem neste início do século XXI o encontro entre a escola francesa Ateliers Varan e o projeto brasileiro Tangolomango. Cada qual à sua maneira, ambos buscam dar vazão às expressões de grupos menos favorecidos no afunilamento sócio-econômico-cultural dos tempos atuais. De sua parte, a escola Varan ensina a linguagem do cinema documental como instrumento para o registro das experiências e vivências desses grupos encontrados no continente europeu. Por sua vez, o Tangolomango procura a visibilidade e a valorização das mais diversas manifestações culturais produzidas por brasileiros que se encontram em situação de baixa (íssima) renda. Neste encontro que acontece mais que perfeitamente na Casa França-Brasil, o Tangolomango mostra a diversidade da realidade nacional através de uma novíssima safra de filmes produzida por uma nova

safra de realizadores que estão focados em mostrar que o "continente" brasileiro vai muito além do samba e do futebol. Já a Varan apresenta documentários de lugares que a grande maioria de nós só conhece através de jornais, tv, livros: Sérvia Montenegro, Vietnã, Cambodja, ou mesmo Colômbia, Portugal e a própria França. Lugares distantes para nós brasileiros, seja pelo corte de um imenso oceano ou pelo corte de uma imensa dificuldade financeira. O desconhecimento no entanto pára por aí. O interessante da Mostra Identidades é que ao confrontar as realidades tão diversificadas, atingimos suas semelhanças. Descobrimos que as sociedades, assim como os seres humanos, são iguais quando sentem dor; ou alegria. Que independente de sua cultura, educação, tradição, estão os interesses mais básicos de qualquer ser: viver bem, de preferência com igualdade, liberdade e fraternidade.

Andréa Cals: Jornalista, produtora e fotógrafa, coordenadora da Mostra Identidades do Projeto Tangolomango 2005


Por Bianca Nascimento e Isabella Guerreiro

NAS OFICINAS E APRESENTAÇÕES DO TANGOLOMANGO 2005 Os dias 06, 13 e 20 de novembro prometem emocionar e proporcionar uma experiência singular para o público, porque esse ano o Tangolomango inova ainda mais. Alguns dos grupos convidados para o evento se apresentarão juntos. São eles: a Cia. Étnica de Dança e o Tambolelê (06/11), o Re:Combo e os Anárquicos (13/11), o Cortejo Abayomi e o Mulungu(20/11). A escolha dos grupos e a combinação das apresentações não foram por acaso. "Os grupos convidados trabalham com arte, educação, cultura e estão à frente de questões importantes ligadas à diversidade cultural como o resgate da tradição popular e a democratização do acesso à cultura. E estas são as principais questões trabalhadas pelo Tangolomango", explica Marina Vieira, diretora geral do evento. Segundo ela, a proposta é "reunir trabalhos importantes que possuam grande afinidade, mas que ainda não tinham tido a oportunidade de se apresentarem juntos". Além desses grupos, a Casa de Cultura da Baixada Fluminense levará para o palco do Circo Voador na Lapa, no centro da cidade, no dia 06 de novembro, os jovens da Orquestra de Berimbau e as atrações

da Companhia de Jovens Griot's. Nesse mesmo dia, a Lapa vai parar com a apresentação do tradicional Grupo de Folia de Reis que existe, há cerca de 30 anos, na comunidade Santa Marta, no Rio de Janeiro, além das apresentações da Companhia Étnica de Dança e do Tambolelê. Nos dias 13 e 20 de novembro, as apresentações vão acontecer nas Lonas Culturais Herbert Vianna (Maré) e João Bosco (Vista Alegre), respectivamente. A iniciativa faz parte do objetivo do Tangolomango de levar as principais atrações do evento para outras regiões da cidade. "A escolha das lonas foi baseada na proposta de democratização do acesso à cultura, já que as lonas representam um dos poucos, se não for o único, equipamento cultural em regiões menos favorecidas", afirma Marina. Confira a seguir o trabalho de cada um dos principais grupos convidados para o Tangolomango 2005.


TAMBOLELÊ

Contato: Tels.: (31) 3473-4010 / (31) 3077-2962 e-mail: tambolele@tambolele.com.br

Educação, arte e lazer nos ritmos dos tambores de Minas Gerais

"É preciso informar e capacitar o público sobre outras manifestações e comportamentos culturais além dos apresentados pela TV e pela rádio FM."

Trio Tambolelê

O grupo de percussão mineiro é um dos maiores do país e surgiu em 1995 durante o Festival de Arte Negra. Santonne Lobato, Sérgio Pererê e Geovane Sassá integram o Tambolelê. O nome é uma junção das palavras tambor e lelê, a primeira do idioma português e a segunda do idioma Yorùbá que significa objeto cilíndrico ou roliço. Segundo Santonne esta é uma referência à possibilidade de se "criar um som de infinito repetindo o círculo". De fato a alusão representa a proposta de proporcionar ao ouvinte uma releitura musical do imaginário da cultura popular brasileira. A criatividade dos integrantes não está apenas na produção de novos ritmos, mas também na utilização de instrumentos convencionais e não-convencionais, alguns confeccionados por Santonne Lobato, que afirma utilizar materiais como peles de jacaré (com autorização do IBAMA), de boi e de cabra, madeira e latas. Esses instrumentos já foram testados com sucesso por grandes nomes da música, como "Paralamas do Sucesso", "O Rappa", "Djavan" e "Maurício Tizumba". O Tambolelê participou da "criação da identidade do Grupo Cultural AfroReggae" no Rio de Janeiro e da montagem da trilha sonora do BH Fhasion Week no ano 2000. Nesse mesmo ano, conquistou o terceiro lugar no Festival da Música Brasileira (realizado pela Rede Globo). Em 2001, eles lançaram o primeiro Cd Tambolelê. O último

álbum do grupo foi batizado de "Kianda" e conta com as participações especiais de Chico César e Maurício Tizumba. Mas esses mineiros não fazem somente música e, em 1999, eles criaram o Centro Cultural Tambolelê. De acordo com Santonne, presidente e integrante do grupo, a idéia "surgiu da vontade de se criar um espaço que gerasse a possibilidade de acesso a todas as artes e devido à falta de investimento público na comunidade". Visando promover a integração com a arte, a profissionalização e a inserção no mercado de trabalho e através de parcerias com empresas privadas, o centro, atualmente, desenvolve projetos como o Bloco Oficina Tambolelê, o Grupo Xicas da Silva e o Grupo Mané Chico, além de várias oficinas, destinadas principalmente aos jovens. A proposta é "gerar possibilidade de acesso às artes, além de espaço de entretenimento relacionamento social e humano", afirma Lobato. O Tambolelê participa desta edição do Tangolomango produzindo a percussão musical da apresentação da Cia. Étnica de Dança e Teatro no dia 06 de novembro, no Circo Voador. Um espetáculo que promete ser inesquecível como experiência artística e humana. Por isso, para os participantes do evento, o grupo deseja uma "feliz troca e vida longa a todos".

Formação artística e cultural para a conquista da cidadania

Ser ao mesmo tempo um lugar de luta social e política e um espaço democrático de formação artística e cultural, é a proposta principal dos idealizadores da Casa de Cultura da Baixada Fluminense, criada em 1991, em São João de Meriti - RJ. O centro oferece atividades educativas, culturais, esportivas e sociais para crianças, adolescentes e adultos como instrumento de conquista da cidadania. A instituição já recebeu o prêmio Criança 2000 da Fundação Abrinq no ano 2000 e o primeiro lugar do prêmio Itaú-Unicef - Direito de Aprender em 2001. No dia 06 de novembro, a Casa de Cultura da Baixada Fluminense levará ao palco do Circo Voador (Lapa-Centro do Rio de Janeiro) o espetáculo IGBADU (a cabaça da existência) que fala da criação do mundo através do olhar do povo africano, com técnicas circenses, teatro, música e dança. Além disso, a Orquestra de Berimbaus do Grupo de Capoeira Angola Ypiranga de Pastinha, promete emocionar a público. Leia mais sobre a Casa de Cultura da Baixada Fluminense na matéria "Retalhos Culturais, Multiplicidade em foco no Centro de Arquitetura e Urbanismo". Contato: Endereço: Rua Machado de Assis, Lt 12/Q 84 - São João de Meriti - RJ CEP: 22560-140 Assessoria de Comunicação da Ong Casa da Cultura- Centro de Formação Artística e Cultural da Baixada Fluminense (Renata Oliveira) Tel.:(21) 2751-3538 / 2751-5825 / 9619-4515 e-mail: comunicacao@casadaculturabaixada.org.br site: www.casadaculturabaixada.org.br


"O Re:Combo é mais que uma banda pop: é um ensaio teórico sobre autoria e propriedade intelectual no século XXI feito para dançar." (www.recombo.art.br) O Re:Combo surgiu em 2001, em Recife, para que músicos moradores de cidades diferentes pudessem fazer música juntos. Tudo começou com as trocas de arquivos de som pela internet. O grupo é um coletivo de músicos, artistas plásticos, engenheiros de software, DJs, professores e acadêmicos, em que todos os participantes podem usar a produção uns dos outros para criar objetos novos. O nome vem dos "Combos" (pequena formação de jazz cujo número de executantes não excede os 6 a 8 músicos) e do "re:" que precede o assunto das respostas de emails. O Re:Combo é formado por cerca de 200 pessoas e sua intenção é que, futuramente, não sejam mais conhecidos como um grupo, e sim como uma atividade porque todos podem fazer Re:Combo, isto é, refazer, recombinar. O coletivo se autodenomina como "ensaio teórico" ao invés de banda pop. Um dos motivos para isso, segundo explica Yellow integrante do grupo - é o fato de que "o Re:Combo já ultrapassou em muito os limites de uma banda, criando mais do que música. O coletivo cria de tudo, desde imagens até documentos legais, como, por exemplo, a Licença de Uso Completo Re:Combo". O Re:Combo desenvolve seus projetos de arte digital e música em cidades como Recife, João Pessoa, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Caruaru, recebendo imagens e sons de lugares tão distantes quanto Lima e Budapeste. Tudo de uma forma descentralizada e colaborativa. O coletivo produz também vídeo digital, literatura, media art e software. No Tangolomango 2004, o Re:Combo deu uma palestra explicando o que é o coletivo. Este ano, eles vão subir ao palco junto com grupos do Rio de Janeiro para mostrar ao público a criatividade de seu trabalho. A apresentação promete animação, espontaneidade e interatividade: "vão subir no palco cinco participantes. Esperamos que o número se multiplique ao fim da apresentação", conta Yellow. Leia mais sobre o Re:Combo na matéria "Artistas do Mundo, uni-vos!" Contato: Site: www.recombo.art.br

"A criação coletiva é uma atividade divertida e gratificante, que pode ser feita por qualquer pessoa.” Yellow

"QUANDO UM CORPO SE

Cia. Étnica de Dança e Teatro Transformação social através da Arte

Em 28 de outubro de 1994, motivada pelo "desejo de desenvolver uma experiência artística que incorporasse elementos da diáspora negra e promovesse auto-estima de grupos discriminados por razões de diversas ordens, seja econômica, étnica ou sexual", a coreógrafa Carmen Luz funda a Companhia Étnica de Dança e Teatro. Durante onze anos, o grupo construiu um projeto A SOCIEDADE INTEIRA NÃO FICA MAIS QUIETA” cultural e social na comunidade do Andaraí, no Rio de Janeiro, para onde foram em 1997. A carência de centros culturais na região incentivou o grupo e ajudou no despertar de muitos talentos. Alguns de seus espetáculos alcançaram muito sucesso, como "Cobertores", patrocinado pela Petrobrás em 2000 e apoiado pela 1ª Mostra BNDES - Arte em ação social e "Oferenda 13" em parceria com o coreógrafo David Parson, apresentada em 2003 no Teatro Municipal. Mas a companhia também enfrentou e ainda enfrenta muitas dificuldades. Segundo Carmem Luz, "a Cia. Étnica é um grupo de arte e, como a maioria das companhias sem subvenção do Estado, padece da falta de grana e tranqüilidade para desenvolver seus projetos". Apesar disso, o Projeto Encantar - Oficina de Capacitação em Artes Cênicas que tem o patrocínio da Petrobrás e é dedicado a atividades de dança, teatro e técnicas para realização de espetáculos, vem cada vez mais encantando e até profissionalizando jovens da comunidade. Carmen esclarece que o objetivo deste projeto é capacitar, deixando os adolescentes livres para se dedicarem ou não a uma carreira profissional, já que alguns levam mais tempo do que outros para entrar em "contato consciente com o corpo e a experiência artística". - A onda do projeto é capacitar, colaborar para que o outro se torne capaz de ver, aprender, conviver com as Artes Cênicas e depois que passamos por essa experiência nunca mais somos os mesmos. Isso independente se queremos ou podemos tornar a experiência artística uma profissão -, explica a coreógrafa. O grupo já se tornou veterano no Tangolomango. A apresentação de 2004 foi acompanhada de um debate no Sesc de São Gonçalo que, na opinião da coordenadora, foi de "arrepiar". Este ano, o evento representa um novo desafio para a companhia que se apresentará no Circo Voador (Lapa - Rio de Janeiro), no dia 06 de novembro, em conjunto com o grupo musical mineiro Tambolelê. Carmen adiantou que uma equipe de quinze bailarinos está empenhada na criação e planejamento da coreografia para o evento, que será uma homenagem ao grupo mineiro porque ela acredita que o Tambolelê produz "uma música forte e sensual, que é uma lição de som." A Cia. Étnica espera que essa experiência inovadora traga um enriquecimento de vida para todos os envolvidos e deseja que o Tangolomango 2005 "encante e contamine" o público. A mensagem deixada por este grupo para todos os participantes do evento não podia ser mais emblemática: "Viva as pontes que ligam os rios!” Contato: Endereço: Rua Barão de Mesquita, 712 - Andaraí - RJ |Tel.: 2258-5986


"Esperamos que nossa brincadeira provoque alegria e se as cantorias e brincadeiras que sempre alguém tem guardado no coração estiverem dormindo, acordem.” A Cooperativa Abayomi nasceu em 1998 a partir do trabalho da artesã, educadora popular e militante das mulheres negras Waldilena Martins, que desenvolveu uma técnica de fazer bonecas sem o uso de cola ou costura. A palavra "Abayomi" é de origem Yorùbá e um de seus significados é "meu presente, meu momento". As bonecas negras são feitas com matéria-prima oferecida pela natureza e lixo urbano reciclado. Podem representar figuras do cotidiano, personagens de contos de fada, do circo ou orixás. A idéia do projeto é conscientizar e socializar o indivíduo através da arte popular. A organização, localizada no bairro de Santa Tereza, conta com 15 mulheres e cada uma tem a sua função: fazer bonecas, pesquisas, participar do cortejo e cuidar da administração. É a segunda vez que a Abayomi participa do Tangolomango. Este ano estará apresentando, em conjunto com o grupo de mulheres Mulungu, da Bahia, o Cortejo Brincante Abayomi, no dia 20 de novembro, na Lona Cultural João Bosco, em Vista Alegre. O Cortejo envolve músicas, poesias e brincadeiras populares, que estimulam a imaginação e a interatividade. As mulheres do grupo chegam cantando e rodando suas fartas saias e depois o público é convidado a participar também. Sobre a origem do Cortejo, a coordenadora Waldilena Martins conta que: - O Cortejo nasceu depois que sofremos um incêndio que acabou com tudo que tínhamos desde um acervo de 400 bonecas até computador, fotos etc. O que ficou foi a cantoria, as brincadeiras e o desejo de um mundo melhor. Durante a apresentação, o público vai poder aprender a fazer flores a partir da técnica Abayomi, sem cola e sem costura! A Abayomi espera que sua participação no Tangolomango reacenda as melhores memórias do público e que a força cultural afro-brasileira contida nas tradições populares reforce sua identidade e auto-estima. Sobre o evento de 2005, cujo tema é diversidade cultural, a cooperativa deseja que seja uma vivência geradora de intercâmbio, reconhecimento, respeito, tolerância e celebração dos grupos participantes e do público.

Lena Martins coordenadora da Abayomi.

Contato: Sede: Rua Hermenegildo de Barros 77, Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ. Tel.: 2224-6538. Email: abayomi@abayomi.com.br

"Mulheres do Abayomi"

MULUNGU

A DEVOÇÃO RELIGIOSA É UMA CONDIÇÃO DE VIDA

DO BONINAL

O Mulungu é uma comunidade negra do município do Boninal, na região da Chapada Diamantina, Bahia. O povoado é antigo, existe há mais de 150 anos e tem cerca de 600 moradores. Mulungu é também o nome de uma árvore do local que dá uma semente vermelha com o formato de um caroço de feijão. Os membros da comunidade fazem parte da Associação Comunitária de Moradores e Produtores Rurais e vivem da agricultura de subsistência. Muitos são aposentados rurais e outros trabalham temporariamente em São Paulo. No Mulungu, todas as pessoas são negras e ligadas ao catolicismo popular. E é no universo dos pastoris, reisados e lapinhas que o grupo manifesta a sua devoção religiosa. O pastoril é uma apresentação cantada e dançada, assim como o reisado, que recolhe donativos para a festa do santo. As lapinhas são presépios armados dentro das casas que recebem a visita dos Reisados, montando diversos objetos de forma criativa e pessoal Os Reisados são grupos de devotos que cantam para louvar o nascimento de Jesus, entre os dias 25 de dezembro e 6 de janeiro, em diferentes localidades. A princípio a manifestação era feita só por homens mas e acabou quando, entre 1950 e 1980, muitos reiseiros migraram para São Paulo atraídos pelas ofertas de emprego e fugindo da seca. A pesquisadora Eloisa Brantes Mendes explica como começou a participação das mulheres no Reisado: - Por causa de um surto de meningite que na década de 1970 ameaçava a região, uma das mulheres do Mulungu fez uma promessa pedindo para São Sebastião impedir a chegada da doença no lugar. Depois do milagre feito, Augusta Contato: Maria Mendes e Maria Caetano dos Santos (...) decidiram pagar a promessa cantando o Reis durante três dias e três e-mail: medrar@hotmail.com (Ieda Marques) noites na cidade de Boninal, sede do Município. (...) [e] os moradores gostaram do Reisado (...) que além da cidade de Boninal também visita muitas comunidades rurais do dia 13 de dezembro ao dia 20 de janeiro, quando todo dinheiro arrecadado pelo Reis é consumido na festa de São Sebastião. Hoje, a atual liderança do Reisado é feminina, mas os homens também participam do ato de devoção. A apresentação dos cantos e danças do Mulungu no Tangolomango 2005 vai acontecer no dia 20 de novembro, na Lona Cultural João Bosco. O grupo estará presente também na exposição realizada no Centro de Arquitetura e Urbanismo. Leia mais sobre a exposição do Mulungu na matéria "Retalhos Culturais:multuplicidade em foco no Centro de Arquitetura e Urbanismo”


Por Mariana Ribeiro e Mariana Schreiber

Novos Rumos da Cultura e da Comunicação Palestrantes debaterão sobre a democratização no acesso às novas tecnologias Nos dias 8 e 9 de Novembro, o Tangolomango promove, no auditório Arte Sesc, no Flamengo, o seminário "Software Livre - Novos Rumos da Cultura e da Comunicação" para discutir a importância da inclusão digital na promoção dos direitos de expressão e de participação. O Seminário será aberto com o palestrante Christopher Csikszentmihalyi diretor do Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachussets - MIT -, nos EUA, e a professora da Escola de Comunicação e pesquisadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea - PACC - da UFRJ, Ilana Strozenberg, fará as apresentações iniciais. Na mesa "Democratização e Software Livre" serão discutidas questões sobre a relação entre código aberto e democratização do conhecimento, e as possibilidades de aplicação do software livre na cultura e na comunicação. Maria Inês Bastos, coordenadora do Setor de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil, será uma dos palestrantes da mesa. Para falar sobre "Inclusão Digital e Social", foram convidados coordenadores de projetos que possibilitam o acesso às novas tecnologias de informação por parte populações que, na ausência desse tipo de iniciativas, seriam "digitalmente isoladas". Ailton Krenak falará sobre a Rede Povos da Floresta, que leva o computador e a internet a aldeias indígenas: um exemplo bastante emblemático de como projetos dessa ordem podem ter sucesso, mesmo enfrentando condições adversas. No segundo dia do seminário, Carlos Afonso, diretor de planejamento e estratégia da Rede de Informação para o Terceiro Setor (Rits), será o mediador do debate sobre "A gestão global da Internet", abordando temas como soberania compartilhada, a cooperação entre países e a criação de um Fórum global. O software livre e o direito autoral, a criação compartilhada e as diferentes modalidades de licença sob as quais programas podem ser partilhados são tópicos na pauta da mesa "Propriedade Intelectual", mediada por Caio Mariano, integrante do "Re:Combo", projeto que trabalha a produção musical de forma colaborativa. O último debate irá tratar o "Impacto cultural das novas tecnologias", levantando questões polêmicas como a dos efeitos do binômio "tecnologias e cultura" sobre os processos de massificação ou de valorização da diversidade, e a do impacto da tecnologia na democratização do acesso à cultura. César Piva, do Projeto Fábrica do Futuro, falará de sua experiência como idealizador e gestor de um centro produtor de conteúdo audiovisual na cidade de Cataguases, em Minas Gerais. Ao abordar a questão do software livre e de como ele abre novos rumos para a cultura e a comunicação sob diversos pontos-de-vista, o seminário será, sem dúvidas, uma contribuição valiosa para os que se interessam pela busca de novas iniciativas de combate às desigualdades e à exclusão social nos seus diferentes contextos e manifestações.

Por Mariana Schreiber

Software Livre

MODERNIDADE E TRADIÇÃO

LADO A LADO

Inclusão digital é ferramenta importante para valorização da cultura indígena

Muita gente ainda acredita que as sociedades indígenas têm culturas primitivas e são extremamente arraigadas aos valores tradicionais. Essa visão, entretanto, não passa de preconceito. É verdade que eles travam uma dura batalha pela valorização de sua cultura, que foi muito perseguida e desprezada nos últimos cinco séculos. Mas isso não significa que estejam fechados às novidades tecnológicas. Pelo contrário, não só os indígenas sabem da importância do acesso às novas tecnologias de comunicação para o desenvolvimento autosustentável de suas sociedades, como estão lutando pela sua inclusão digital. Através dos modernos meios de comunicação, os indígenas podem divulgar seus costumes e sua sabedoria e ter contato com outros universos. Eles acreditam que, com essa interação entre diferentes culturas, será possível promover relações de maior tolerância e respeito em nossa sociedade. Segundo Eliane Potiguara, escritora e professora indígena, que participará do debate sobre "O Impacto Cultural das Novas Tecnologias", no dia 09 de novembro, às 16hs, o contato dos indígenas com as novas tecnologias é essencial para que eles saiam da invisibilidade cultural e possam mostrar ao mundo sua importância histórica. - A inclusão digital é muito importante pois facilita o acesso dos povos indígenas à comunicação e à informação, favorecendo o exercício dos direitos indígenas e incluindo esses povos no processo de crescimento do país, inclusive dando visibilidade a esse segmento tão discriminado social e racialmente - disse a professora. Segundo Eliane, as novas ferramentas tecnológicas estão sendo utilizadas pelos indígenas em telecentros, em rádios comunitárias, na produção de programas de televisão e na Rede de Comunicação Indígena, o Grumin (www.grumin.blogspot.com), criada em 1987. - O contato com essas tecnologias tem proporcionado o acesso à comunicação e informação, além da formação dos alunos, dos professores e dos agentes de saúde e desenvolvimento comunitário. Tivemos experiências na realização de boletim on-line, livro eletrônico, educação à distância, video-conferências, material para rádios e tvs - explicou Eliane. Uma das iniciativas nesse sentido é o projeto de inclusão digital Rede Povos da Floresta, que conta com cinco pontos de acesso à internet instalados junto a povos indígenas no Brasil. Entretanto, é necessária a instalação de mais 300 pontos, em até três anos, e outros 250, em cinco anos, para conectar todas as aldeias indígenas. O grupo pretende conseguir o apoio do Ministério do Meio Ambiente, pois os pontos instalados podem servir para o monitoramento e controle ambiental e sua implementação seria mais barata do que criar uma infra-estrutura governamental. O fortalecimento das redes de comunicação entre as aldeias também é essencial para a valorização da cultura indígena. Na Conferência sobre Tecnologias de Informação, realizada em junho, no Rio de Janeiro, foi assinado um protocolo, entre os povos indígenas Navajo e os do Brasil, para que o uso dessas tecnologias possa ser realmente efetivado através de projetos nas comunidades. A conferência foi um evento preparatório para a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, que será realizada pela ONU na Tunísia, em novembro, onde os indígenas também estarão representados. Contato: e-mail: elianepotiguara@terra.com.br (Eliane Potiguara) Site - www.elianepotiguara.org.br


Não faz nem 20 anos que a internet começou a se tornar realidade no Brasil. Em 1988, um grupo reduzidíssimo - formado basicamente por pesquisadores universitários e militares - tinha acesso à rede. E no mesmo ano, exatamente no dia 8 de dezembro, um acontecimento mostraria de forma exemplar o poder e a repercussão que ela poderia ter nas vidas de todos nós. Naquele dia, no Acre, o líder ambientalista Chico Mendes foi assassinado. Um ativista que tomou conhecimento da notícia imediatamente acionou a rede para denunciar o crime. A mensagem logo se espalhou, multiplicando-se mundo afora pela ação voluntária de diversos cidadãos, gerando uma mobilização de grandes proporções. O caso gerou repercussão internacional, pressionando as autoridades a investigar o caso e identificar os culpados. O episódio chamou atenção para as possibilidades de uso das tecnologias de informação e comunicação no trabalho em rede, em benefício de causas sociais. A internet é um meio democrático e plural na sua essência: horizontal, descentralizado, aberto à participação e à expressão de qualquer pessoa. Falta, porém, democratizar o acesso à rede, colocá-la ao alcance de quem quer ou precisa ouvir e ser ouvido. Esse é o grande desafio. Desafio que serve de mote para esta edição do Tangolomango. São novas formas de expressão e comunicação. Novos canais e ferramentas de acesso à cultura. E uma outra realidade surgindo a partir das questões suscitadas por esse mundo cada vez mais globalizado e tecnológico. Temas como esses estarão em debate durante o evento. Aliás, não apenas em debate, mas também em prática. A exemplo da edição anterior, jovens integrantes de projetos sociais de comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro estarão participando da Agência de Notícias. Esses meninos e meninas, supervisionados pela equipe da Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits), farão a cobertura diária dos painéis, apurando, escrevendo e publicando as reportagens no site do evento, em tempo real. A participação desses jovens se reveste de um forte simbolismo do imenso potencial das tecnologias de informação e comunicação e da necessidade de lutar para que cada cidadão tenha acesso a elas. Citando Graciela Selaimen e Paulo Lima, no livro "Inclusão digital e software livre" (Conrad Editora), "é ingenuidade esperar que as forças e interesses dominantes, que têm conduzido o rumo da história, se ocupem de defender direitos humanos e de


Em 2004 o Seminário do Tangolomango teve como foco do debate a comunicação comunitária e o direito universal à comunicação. Ficou claro que um dos gargalos para a disseminação do conhecimento é a falta de acesso à tecnologia e de consciência crítica para utilizá-la. Deste então, procuramos conhecer iniciativas que oferecessem alternativas concretas a essa exclusão tecno-cultural. Foi durante o V Fórum Social Mundial que finalmente despertamos para a utilização do Software Livre. Pudemos perceber que estávamos diante de novos rumos sócio-tecnoculturais e o Tangolomango em 2005 precisava chamar atenção para esse fato. Daí então, foi fácil escolher o tema "Software Livre" para guiar nossos debates em 2005. Já tinha sido muito importante descobrir que este era um instrumento de difusão do conhecimento de forma livre, mas no entanto nem imaginávamos o que estava por vir... Aos poucos fomos conhecendo que sua criação era feita de forma descentralizada e colaborativa e isso muda muita coisa. Mario Teza (Associação Software Livre), que conhecemos durante o Fórum Internacional de Software Livre em Porto Alegre, nos deu as primeiras coordenadas, nos mostrou o caminho. Assim fomos amadurecendo nosso projeto aos poucos. Cada convidado contribuiu com alguma parte, de alguma maneira. Ficamos muito impressionadas como cada um tinha a maior liberdade e voluntariedade para indicar nomes, fazer contatos, colocando seus conhecimentos à disposição do Tangolomango. Foi aí que começamos a realmente entender o que estava por trás do software livre, os conceitos, as novas formas de comportamento e, sobretudo a interação. O programa do nosso seminário foi produzido colaborativamente, a partir de uma combinação de conhecimentos e idéias diversas. E isso só é possível por que, como Reinaldo Pamponet* nos ensinou o que havia aprendido com Mabuse**, há Generosidade Intelectual. O que significa dizer essa tal generosidade? Confiança, reciprocidade, cooperação, ajuda mútua, coesão social, solidariedade, compartilhamento, liberdade criativa! Acreditamos que essa é a fórmula perfeita para fazer florescer o capital social, tão indispensável à equidade e justiça social. Se já tínhamos visto revoluções tecnológicas gerarem novos bens e serviços, hoje podemos dizer que estamos vendo gerar capital social. É essa toda a diferença desse movimento de reapropriação tecnológica, de criação colaborativa, diversidade cultural e generosidade intelectual. Podemos utilizar estas forças para fazer mudanças profundas na realidade de desafios tão difíceis, como a pobreza e desigualdade. Chegou a hora de superá-los e explorar ativamente as múltiplas contribuições que a cultura, mídia e tecnologia podem trazer ao desenvolvimento social e econômico. Queremos gerar um ciclo de comunicação, que vivencie na prática o direito à comunicação e que em última analise a apropriação de forma crítica e criativa da tecnologia - do conhecimento. Queremos divulgar, discutir, multiplicar todo esse conhecimento com o público do nosso seminário, formado principalmente por organizações sociais e movimentos culturais, universitários, pesquisadores e jornalistas. Democratizar e fomentar a utilização de ferramentas tecnológicas a favor do desenvolvimento é o objetivo deste seminário. Se tivermos atraído novos parceiros para essa luta pelo acesso à comunicação, cultura e cidadania: teremos cumprido nossa missão. * Reinaldo Pamponet do Instituto Eletrocooperativa (www.eletrocooperativa.org) ** Mabuse do Re:combo (www.rebombo.art) Raquel Diniz G. Ezequiel - Coordenadora do Seminário É especialista em Desenvolvimento Local e Máster em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela UFRJ

AS MATÉRIAS DESTA PUBLICAÇÃO SÃO DE CONTEÚDO LIVRE


Pelo segundo ano consecutivo, o SESC Rio integra o evento Tangolomango, que acontece simultaneamente em vários espaços culturais da cidade do Rio de Janeiro. Neste ano de 2005, em que será assinada a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, Tangolomango elege a diversidade como temática, divulgando a cultura brasileira nas suas inúmeras vertentes e a partir de múltiplos ângulos e perspectivas. A riqueza das manifestações culturais e a multiplicidade de tradições e de expressões artísticas que caracterizam a nossa cultura estão contempladas nesta verdadeira maratona cultural. A pluralidade étnica, de costumes, de crenças, de tradições e de valores é que torna tão rica e, ao mesmo tempo, tão singular a cultura brasileira. Uma cultura generosa que acolhe todas as contribuições, respeitando suas origens, mas reelaborando-as em novos significados, imprimindo-lhes as cores e os costumes locais. Porém, não só os fazeres culturais estão presentes neste evento. Entre a fruição, a admiração, o experimentalismo, há espaço também para a reflexão. O SESC Rio associa-se ao Tangolomango através do apoio que presta à realização do seminário Software livre: Novos Rumos para a Cultura e Comunicação, excelente ocasião para se discutir uma questão de extrema contemporaneidade, ou seja, a revolução tecnológica no campo da informação. Na atualidade, a informação tornou-se um dos principais determinantes darelação de força e de desenvolvimento sócio-econômico-cultural. Conceituados especialistas reúnem-se para debater as novas formas de expressão e de comunicação nos tempos da globalização e da triunfal entrada das sociedades contemporâneas na era digital. Como lidar com as conseqüências de uma inovação tecnológica que cada vez mais torna interdependentes os países e as populações em escala planetária? Como aproveitar essas conquistas, consideradas por muitos massificadoras e esterilizadoras, nem sempre solidárias e integradoras, em benefício da ampliação do conhecimento, do exercício da tolerância e da preservação do patrimônio e da diversidade cultural? Os seminário Software livre: Novos Rumos para a Cultura e Comunicação foi idealizado com o objetivo de responder a essas e a outras inúmeras perguntas. O SESC Rio firma parceria nesse empreendimento, com a convicção de que constitui um aporte significativo para vencer os novos desafios: garantir o direito de livre expressão e promover seu uso consciente e alargar as fronteiras do conhecimento e da informação.

w w w. s e s c r i o . o r g . b r

COMO PRODUZIR C Almanaque explicando como utilizar tecnologia digital na produção de cultura será distribuído no Seminário sobre Software Livre. Quem assistir ao Seminário sobre Software Livre receberá um Cd-Rom com o Almanaque da Cultura Digital. Embora tenha sido criado para auxiliar as atividades dos Pontos de Cultura, esse almanaque será útil para todos que queiram produzir na área da cultura, de forma colaborativa e livre, usando ferramentas digitais. Por meio dele, é possível aprender o que é "metareciclagem", "generosidade intelectual", "software livre", entre outros conceitos, e como utilizar diversas ferramentas tecnológicas para produzir e fazer circular produtos culturais nas suas mais diversas expressões, como músicas, filmes, programas de rádio, televisão e computador. Durante o período do Seminário, o almanaque também estará disponível no site do Tangolomango (www.tangolomango.com.br). A equipe de produção do almanaque foi integrada por mais de 50 pessoas. Paulo Bicarato, um de seus integrantes, explicou que o texto foi escrito de maneira simples, para que pudesse ser compreendido mesmo por aqueles que nunca tiveram contato com os princípios de Cultura Digital. - Todo o conteúdo foi produzido levando-se em consideração a diversidade dos integrantes dos Pontos de Cultura. Temos pessoas com graus variados de conhecimento e o almanaque foi elaborado para ser inteligível por todas essas pessoas - disse Paulo. Para incentivar a produção cultural brasileira, o Ministério da Cultura criou o Programa Cultura Viva e implementou Pontos de Cultura em todo o país. No dia 6 de outubro, foi anunciada a criação de 328 novos pontos; com isso assim, existirão mais de 500 unidades até o fim do ano. Segundo o Ministro Gilberto Gil, "cada Ponto de Cultura será um amplificador das expressões culturais de sua comunidade". Assim, cada um deles deve oferecer as ferramentas para que a população local possa produzir cultura e divulgá-la tanto na sua região, quanto no Brasil e em todo o mundo. Nesse sentido, não se trata de uma intervenção autoritária do Estado, definindo o que deve ser produzido em cada comunidade, mas de um esforço com intuito de potencializar as atividades culturais existentes.


Por Mariana Schreiber

U LT U R A D I G I TA L , L I V R E E C O L A B O R AT I VA O Ponto de Cultura é dotado dos equipamentos e da tecnologia necessária para viabilizar a produção artística e a criação intelectual. Como explica Gil, "onde se faz (ou se quer fazer) música, haverá um estúdio de gravação digital, com capacidade para gravar, fazer uma pequena tiragem de CDs e botar na Internet o que foi gravado. Onde se faz (ou se quer fazer) vídeo, cinema ou televisão comunitária, haverá um estúdio de vídeo digital, com câmera, ilha de edição, microfones e mala de luz. E mais: dança, teatro, leitura, artes visuais, web, enfim, o que a comunidade quiser e puder, ousar e fizer, sonhar e materializar". Todo o programa se baseia nos princípios da Cultura Digital. Isso significa aproveitar ao máximo as possibilidades geradas por meio da democratização do acesso às tecnologias digitais, estimulando, através do uso dessas ferramentas de maneira crítica e criativa, os valores da liberdade, autonomia, colaboração e compartilhamento em rede. É justamente para tornar essas idéias mais claras e explicar como se pode utilizar tecnologia para produzir cultura que foi criado o almanaque, composto de três partes. Como explica Paulo Bicarato: - O almanaque foi previsto desde o início do contrato entre o Ministério da Cultura (agência executora), o IPTI (Instituto de Pesquisas em Tecnologia da Informação - agência implementadora) e o PNUD (Programa das Nações Unidas pelo o Desenvolvimento). Ele pretende ser um guia com os princípios que norteiam todo o projeto da Cultura Digital, desde conceituações teóricas até as ferramentas práticas colocadas à disposição dos Pontos de Cultura. Na primeira parte, o almanaque discute o entrave que o direito da Propriedade Intelectual representa para a livre circulação das produções artísticas, mostrando a relevância da generosidade intelectual, exercida por meio de licenças de uso livre, para garantir a troca de experiências entre os Pontos de Cultura. A segunda parte trata das diversas ferramentas existentes na Internet para promover a troca de conhecimento, produção cultural e informação. O argumento central, aqui, é a importância da comunicação entre os Pontos de Cultura e destes com outros agentes sociais, para promover a troca de experiências, tornar visível a produção desses pontos e dar voz aos indivíduos que neles atuam. Segundo explica Paulo Bicarato: - Todos os Pontos precisam interagir e trocar informações e conhecimento entre si, para a efetivação do projeto Cultura Digital. O modo de produção do software livre é um dos exemplos mais claros de como o colaborativismo gera e multiplica o conhecimento, de forma livre e autônoma. Colaborativismo, solidariedade entre os Pontos, generosidade intelectual: esses, entre outros conceitos, fundamentam a verdadeira revolução - não só digital, mas cultural e

social - nas comunidades espalhadas por todo o país e no exterior. A terceira parte do almanaque mostra como colocar este projeto em prática. Ensina como utilizar diversas tecnologias digitais - seja na produção de metareciclagem, software livre, arte gráfica, vídeo digital, áudio e rádio livre - e como licenciar uma obra segundo modelos livres de utilização. Um trecho do próprio almanaque justifica a importância disso tudo: "a partir do acesso a estas ferramentas as pessoas voltam a ter o poder da fala, de participar da escrita da história. Por isso é importante dominar as linguagens de comunicação e, para isso, é necessário que se domine também a técnica". O objetivo do Almanaque da Cultura Digital é exatamente esse: permitir que todos possam utilizar as ferramentas digitais para se expressar e produzir cultura.

Contato: Paulo Bicarato - paulo.bicarato@gmail.com


Por Mariana Schreiber

Eletrocooperativa une o batuque dos tambores da Bahia às bases eletrônicas para promover inclusão social

O principal objetivo do Instituto Eletrocooperativa é gerar inclusão social através da inclusão musical. Criado em 2003, em Salvador, a Eletrocooperativa já atendeu mais de 400 jovens de famílias de baixa renda, promovendo sua inclusão social através do acesso à música e à tecnologia e agregando a esse trabalho a formação cidadã e a geração de renda. O filme "Futuro Primitivo", produzido pela Academia da Cultura e com roteiro escrito pela Eletrocooperativa, explica mais detalhadamente essa proposta. Ele será exibido na Mostra Identidades, que ocorrerá na Casa França Brasil, entre os dias 10 e 12 de novembro. Reinaldo Pamponete, membro da Eletrocooperativa, descreveu o conteúdo do filme: - "Futuro Primitivo" fala sobre a promoção da inclusão social e econômica por meio da música. Esse processo aconteceu fortemente na Bahia, já na década de 80. E como nossa missão é a inclusão musical com apoio da tecnologia, o filme aborda justamente essa proposta de unir o "tambor" e o "computador". Os participantes da Eletrocooperativa têm acesso a programas de informática de última geração, específicos para a produção musical, que são utilizados como suporte à composição, arranjo, gravação, edição e masterização. Nesses dois anos de atuação, foram gravados seis CD's, 196 alunos fizeram o curso de Produção Musical e 211 jovens participaram das Oficinas de DJ. No Instituto, também nasceram duas bandas: a Eletropercussiva, que já atua profissionalmente, e outra que une música tecno e percussão. Na Eletrocooperativa, também são trabalhados temas transversais como: empreendedorismo, educação sexual, cooperativismo, paternidade responsável, empregabilidade, ética, postura, higiene, relações interpessoais, entre outros. Além disso, foi implementada a Cooperativa de Produção e Serviços, composta inicialmente por 30 jovens que já passaram por todo o processo de formação previsto no Instituto. Trata-se de um projeto de auto-sustentação que visa à geração de renda e à aplicação prática do conceito de trabalho associativo com compartilhamento dos lucros. O Instituto pretende promover a distribuição e divulgação das obras por meio da Internet, dentro dos novos moldes de generosidade intelectual, tendo como suporte jurídico as licenças do Creative Commons. Para tanto, foram criadas duas ferramentas: a Rádio Eletrocooperativa (http://radioeletro.multiply.com) e o Portal Eletrocooperativa (www.eletrocooperativa.org). A Rádio é integralmente mantida pelos alunos, desde a seleção musical e produção de textos, entrevistas e gravações, até a edição do material, disponibilização na web e sua divulgação. A Rádio pretende difundir não só os trabalhos do Instituto, mas a produção musical da cidade de Salvador e de outras localidades, além de servir como canal de comunicação entre os alunos, comunidade artística, produtoras, núcleos de pesquisa, faculdades e fóruns musicais. Atualmente, o Portal oferece apenas algumas informações sobre as atividades da Eletrocooperativa, mas, a partir de novembro, estará totalmente reformulado. A proposta é criar uma ferramenta de difusão, comercialização e divulgação

da produção artística de uma forma alternativa, inovadora e gratuita. Os seis CD's produzidos pelos alunos do Instituto estarão disponíveis no Portal. Para saber mais sobre as propostas e a filosofia do Instituto, leia o artigo "O que me interessa é o main-stream de Irará", de Reinaldo Pamponete. Ele também participará do debate sobre “O Impacto Cultural das Novas Tecnologias”, dia 09 de novembro, às 16hs. Contato: Reinaldo Pamponete - reinaldo@eletrocooperativa@org Site - www.eletrocooperativa.org


De que adianta todo esse movimento de inclusão digital e de globalização se a população de Irará não puder conhecer a obra do Mestre Almiro Oliveira? Para que que serve todo esse movimento batizado de "world music" se o meu "world" não está lá? O que significa a opinião de uma gravadora multinacional que a seguinte música de raiz não vende. Ah! o sabonete já não é mais o mesmo, digase de passagem. De que adianta toda essa potencialização de home studios e dos próprios artistas produzirem os seus próprios trabalhos com independência e liberdade? Que bom, esse gargalo já não é mais o mesmo. Fazer um disco hoje não é mais um bicho de sete cabeças, isso para quem leva a sua arte a sério. A Eletrocooperativa surgiu com muito poucas respostas e com muitas perguntas e questionamentos. Tínhamos e temos a sensação de que o desafio estava e está em possibilitar e pregar o exercício do fazer em busca de possibilidades concretas, recheada de um compromisso de realizar mais e discursar menos. Na Eletrocooperativa temos o objetivo claro de promover a inclusão musical - buscar a música e potencializá-la, abrindo espaço para que ela se

manifeste e siga o seu caminho. Enfrentamos hoje uma crise, crise esta na indústria que muitos ainda insistem em chamar de indústria do disco...ufa! ainda temos uma grande oportunidade de buscar modelos que privilegiem a música e não o seu formato industrial. Como é bom se ver e se identificar...e como é maléfico ser forçado a pertencer e a consumir o que o mercado define como regra. Abaixo a censura mercadológica para a arte! A nossa força está em Irará, em Arcoverde, em Cachoeira e em diversas outras cidades do nosso país que produzem música e, acima de tudo, arte, cultura e história. Quem gosta de música eletrônica que escute música eletrônica, quem gosta de música clássica também, se outros gostam do que se intitula de música brega, música sertaneja, entre outras, que curtam as suas respectivas preferências. O que não vale é definir que a música do Brasil agora é o pagode, a sertaneja, o hip-hop, o rock'roll, o axé. Opa... cada um na sua, meu irmão. Cada cidadão tem o direito de ouvir o que quiser, o que lhe dá prazer, alegria e, acima de tudo, o que faz sentido para si e/ou para a sua história. Vamos dar o próximo passo...vamos construir o Futuro Primitivo. Vamos potencializar a

música regional, a música local, a música municipal, a música "bairral", a música comunitária. Ela fala mais no coração de cada um. Nem todo mundo quer ser cidadão do mundo. Conheço muito mais pessoas que não fazem questão de ir além de Macajuba ou de Feira de Santana. O que há de errado nisso? Será que o erro não está em querermos direcionar as pessoas para irem para onde não se encontram? Pois é. É chegada a hora de pararmos de vez com defesas de modelos falidos ou interesses de determinados grupos que não contribuem em nada para preservar nem promover os movimentos culturais brasileiros. Sejamos acima de tudo generosos intelectualmente e vamos nos preparar para o salto. O que fazer com a música de raiz? A proposta da Eletrocooperativa é potencializá-la para que crie o seu próprio público e, por que não dizer, o seu próprio mercado. É pretenciosa essa proposta? O artista precisa do público e o que estamos fazendo é simplesmente facilitar o acesso do público aos conteúdos produzidos pelos artistas estabelecendo, assim, o retorno da identificação entre artistas e suas respectivas artes e o seu público.

Por Mariana Schreiber

Re:combo prova que com tecnologia e generosidade intelectual é possível produzir arte em conjunto. Em 2001, o Re:Combo, até então "apenas" um grupo de música pernanbucano, percebeu a enorme importância da abertura das fontes de seus trabalhos e resolveu permitir que eles fossem utilizados livremente por outras pessoas. Na sua própria definição, atualmente o Re:Combo é "um coletivo de músicos, artistas plásticos, engenheiros de software, DJs, professores e acadêmicos, que trabalha em projetos de arte digital e música de uma forma descentralizada e colaborativa". Sua proposta é que pessoas espalhadas por todo o globo produzam arte e informação em conjunto. Esse projeto é viabilizado pelo o uso de mídias digitais modernas e pelo o princípio da Generosidade Intelectual, que defende a criação livre de amarras jurídicas e burocráticas, exatamente o oposto do que representa o direito de Propriedade Intelectual. Além disso, toda obra desse coletivo - seja música, imagem estática ou em movimento, textos, instalações - pode ser reutilizada em outras produções artísticas, contribuindo para um verdadeiro mosaico de criação que desafia a noção de autoria. Como explica o advogado Caio Mariano, integrante do Re:combo: - O Re:combo questiona o conceito de autoria ao longo de seu processo colaborativo de criação. Realmente, é difícil atribuir a autoria a uma obra criada colaborativamente por co-autores que muitas vezes nem se conhecem ou que não têm como definir sua parcela de colaboração dentro do processo criativo. Buscando assegurar que os produtos desse processo colaboracionista de criação não fossem nunca registrados como propriedade intelectual, mesmo depois de modificados, fez-se necessária a criação da Licença de Uso Completo Re:combo

(LUCR). A LUCR saiu efetivamente em 2003 e sua criação foi colaborativa, assim como as músicas e demais produções do coletivo. Segundo disse o VJ Yellow, integrante do Re:combo, em palestra na edição de 2004 do Tangolomango, nenhuma criação feita sob a LUCR estará sujeita a direito autoral: - Qualquer pessoa pode usar, contanto que a obra fruto do uso desse objeto também seja submetida à mesma licença. Com o tempo, os membros do coletivo repararam que essa iniciativa era uma semente para a expansão do direito autoral livre. - A partir do momento que vários objetos começassem a ser feitos sob essa licença, isso se expandiria exponencialmente e, com o tempo, o direito autoral seria eliminado - explicou Yellow. Em reconhecimento à importância de seu trabalho, o Creative Commons homenageou o coletivo, em 2004, modificando o nome de sua licença voltada para a recombinação de músicas para Licença Recombo. A recombinação musical baseia-se na técnica de sample, que consiste em capturar e registrar digitalmente sons, frases musicais ou timbres sonoros, por meio de um aparelho chamado sampler, com o propósito de manipulá-los e recombiná-los musicalmente. Em busca de um nome mais explicativo, o Creative Commons renomeou mais uma vez a licença, que agora se chama Samplemy. A discussão em torno dos direitos autorais dá muito pano pra manga. Caio Mariano, outro integrante do coletivo, falará mais sobre o assunto no debate sobre Propriedade Intelectual, dia 09 de novembro, às 14hs. Este ano, o Re:Combo também fará uma apresentação musical coletiva, como tudo que é produzido pelo o grupo. O show será na Lona Cultural Herbert Vianna, na favela da Maré, dia 13 de novembro, a partir das 17hs.


PERFIL Heloísa Buarque de Hollanda é professora da Escola da Comunicação da UFRJ e coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC/UFRJ). Nesta entrevista, ela fala sobre a questão do impacto cultural das novas tecnologias, tema que também será abordado na mesa de que fará parte como palestrante, dentro do seminário produzido pelo Tangolomango. 1. De que forma o uso de novas tecnologias de informação abre caminho para democratização do acesso à cultura? H: Num livro clássico, Arjum Appadurai define os novos tempos, entre os outros vetores, como um mediascape (a nova paisagem promovida pelo avanço e onipresença da mídia) e como um ideoscape (o horizonte aberto pelas novas possibilidades de divulgação intensiva de idéias e ideologias). Ou seja, aposta todas as suas fichas nas transformações tecnológicas em curso como um panorama propício à consolidação de uma disseminação, sem precedentes, da informação e das manifestações culturais transnacionais e locais. Eu compartilho do otimismo de Appadurai, sabendo, entretanto, que, nos paises periféricos ou semiperiféricos da globalização, a luta deve ser no sentido de possibilitar esse acesso aos segmentos sociais excluídos dos recursos disponíveis nas classes media e alta destas sociedades.

2. Quais são os pressupostos dessa democratização? Ela se resume ao acesso à máquina? Qual a sua importância dentro do projeto de inclusão social? H: Acho que não se trata apenas do acesso à máquina e à alfabetização digital. Isso é, obviamente, fundamental, mas a agenda do momento deve ainda incluir como preocupação também muito importante a discussão do software livre e das questões em torno da propriedade intelectual. Senão essa democratização continuará dependente das grandes corporações transnacionais, limitando o poder de inclusão real de todos no novo universo possibilitado pela tecnologia e pela revolução digital.

Por Mariana Ribeiro 3. Como estas novas tecnologias modificaram o tráfego de informações entre projetos culturais? A troca de experiências é maior hoje? A diversidade cultural tem sido absorvida ou rechaçada? H: A importância das novas tecnologias para a criação de trabalhos em colaboração, troca de experiências, e construção de redes culturais ou de solidariedade está sendo testado com evidente sucesso. Como esse fluxo de trocas se intensifica, o contato entre diferentes projetos culturais regionais e nacionais possibilita a abertura de novos espaços públicos virtuais ou presenciais de grande importância. Os debates em torno do direto à informação e à cultura, à singularidade das experiências locais e aos diretos humanos adquirem fóruns privilegiados de solidariedade e afirmação política. 4. Qual a importância de eventos como o Tangolomango abrirem espaço para a discussão sobre como as novas tecnologias de informação transformam as relações do cenário cultural? H: Nesse momento, a criação de espaços onde se encontrem e dialoguem representantes dos movimentos sociais, ONGs, artistas e representantes da academia são vitais para a troca de experiência e saberes, para a formulação de estratégias de ação e tomadas de decisão política. É nesses encontros onde se privilegia o saber compartilhado e não hierarquizado, como é o caso do Tangolomango, que vejo como possível o desenho de um futuro mas democrático e socialmente justo.

A Fábrica do Futuro é uma iniciativa focada na produção de conteúdo audiovisual e suporte digital, envolvendo jovens da cidade de Cataguases e municípios vizinhos, em Minas Gerais. Todo conteúdo criado é baseado na cultura regional e difundido através de novas mídias e de novos suportes criados com o avanço da tecnologia. Segundo César Piva, idealizador e gestor cultural da Fábrica, na prática, os jovens participam da produção de uma televisão comunitária local: - Na Fábrica do Futuro, eles participam de núcleos de pauta, pesquisa, jornalismo, edição e filmagem, produção e logística, luz e áudio e vídeo, ilhas de edição, camarim... Eles estão tendo uma experiência completa do que seria produzir um programa de televisão para transmissão ao vivo, inclusive - explicou César. - Esses jovens participam da produção, na prática, de uma televisão comunitária local. Estão participando de núcleos de pauta, pesquisa, jornalismo, edição e filmagem, produção e logística, luz e áudio e vídeo, ilhas de edição, camarim... Eles estão tendo uma experiência completa do que seria produzir um programa de televisão para transmissão ao vivo, inclusive - diz César Piva, idealizador e gestor cultural da Fábrica. A principal missão do projeto - que ainda está em fase inicial - é contribuir para a transformação social, com a experimentação de políticas públicas inclusivas baseadas na tríade "cultura, comunicação e cidadania". César Piva, que será um dos palestrantes da mesa sobre "O impacto cultural das novas tecnologias", prevê que a Fábrica do Futuro criará as condições para que Cataguases possa receber, dentro de pouco tempo, um Pólo de Criação e Produção Audiovisual que atenda a demanda do setor em Minas Gerais. O projeto pretende ainda mobilizar ações em rede de vários municípios, sobretudo, com o intercâmbio de jovens, visando a instalação de novas unidades do projeto, em especial, na região mineira.



Por Thaís Canella

COM QUANTAS FOTOS SE FAZ UM P

Fotos tiradas durante a oficina de pinhole pelo fotógrafo Miguel Chikaoka

Oficina de Pinhole monta painel no Tangolomango O Tangolomango apresentará no CAU (Centro de Arquitetura e Urbanismo, na Rua São Clemente nº 117) um trabalho artesanal realizado por jovens do Rio de Janeiro: um painel de fotos tiradas por meio da técnica pinhole. Uma imagem do Pão de Açúcar pixelizada (ou seja, em resolução tão baixa que é possível visualizar os píxeis) servirá como modelo para a montagem do mural, com cinco metros de largura e dois e meio de comprimento. Os retratos foram resultado de uma oficina oferecida pelo Instituto de Imagem e Cidadania, que funciona no Sobrado Cultural, em Vila Isabel. A chuva adiou as atividades por quatro dias de trabalho, mas o mau tempo não desanimou os jovens participantes. A princípio, a oficina se realizaria no Centro de Tradições Nordestinas, a popular Feira de São Cristóvão. Contudo, a idéia foi se modificando e outros lugares foram escolhidos para os ensaios fotográficos, cujo tema foi a diversidade cultural. Quando o tempo melhorou, um sol forte aqueceu os ânimos e mobilizou a todos. Munidos de câmeras artesanais, lá se foram eles registrar imagens em preto e branco, utilizando o princípio da câmara escura, base do pinhole. Essa técnica consiste na utilização de uma câmera fotográfica de fabricação artesanal e de um tripé. A câmera é feita com um tubo de embalagem de filme fotográfico fechado, contendo,em seu interior, um pedaço de 4cmx4cm de papel fotográfico. Na lateral do tubo, faz-se um furo minúsculo com a ponta de uma agulha, por onde um feixe de luz deve passar. Para que o papel não seja velado devido ao excesso de luz, o tubo é protegido com uma tira de papelão. Na tampa da máquina, uma seta indica a posição exata do furo. Tudo isso fora apoiado em uma placa de madeira, que serve de tripé. Para tirar fotos dessa

forma, é necessário girar a tampa até a seta incidir sobre a parte cortada do papelão. O fotógrafo deve mirar o objeto a ser fotografado, apoiar a máquina em alguma superfície fixa para não tremer, e esperar alguns segundos. O tempo de exposição varia de 6 a 12 segundos, se o objetivo for tirar fotos no sol ou na sombra, respectivamente. A idéia de fazer uma oficina com essa técnica no Tangolomango surgiu de um projeto semelhante realizado pelo fotógrafo Miguel Chikaoka no mercado "Ver o Peso", em Belém, quando ele recebeu uma proposta da prefeitura de Belém para fotografar o mercado, que é considerado um cartão postal da cidade: "O mercado Ver o Peso é multifacetado. É como o Corcovado ou o Pão-de-Açúcar aqui no Rio de Janeiro", diz Chikaoka. Sua foto seria exposta no museu da cidade, mas o fotógrafo achou mais interessante realizar um trabalho coletivo. "As fotos a partir de câmeras artesanais permitem que pessoas que não conhecem fotografias façam as fotos", disse, esclarecendo a escolha da técnica. Chikaoka veio, à convite de Marina Vieira, para o Rio ensinar aos jovens como fazer as máquinas, retornando depois para a fase intermediária do projeto, com o objetivo de ensinar os jovens a montar o painel. A preparação foi intensa, pois, em duas semanas, a equipe do Sobrado Cultural teve que montar todos os tripés e máquinas. A oficina previa produzir aproximadamente seiscentas fotos por dia. As máquinas eram colocadas dentro de um saco preto e desmontadas. Logo em seguida, elas eram retiradas do tripé e colocadas novamente em outro saco preto, para acrescentar um novo tubinho com papel fotográfico. A turma do Sobrado é composta por oito pessoas que se dividiam em dois grupos: quatro pessoas participavam das saídas para fotografar e descarregavam os tripés dentro dos sacos pretos. As outras quatro, no laboratório do Sobrado Cultural, revelavam e positivavam as fotos em diversos tons de cinza. Esses oito ajudantes são jovens que trabalham no núcleo fotográfico do Instituto de Imagem e Cidadania. Já os participantes da oficina chagaram até ela de diferentes maneiras. Tatiana Altberg, 30 anos, é designer e dá aulas de fotografia no conjunto de favelas da Maré, em um projeto da ONG Centro de Estudos e Ações Solidárias na Maré - CEASM - e tem sete alunos, que estudaram com ela por um ano, que agora fazem exposições e trabalhos diversos. Amiga de Miguel Chikaoka, foi convidada a participar da oficina, e levou seus alunos para participarem da produção de fotos. Bruno Cândido, de 17, já conheceu a oficina de maneira diferente. Ex-aluno do


Sobrado Cultural, ele havia estudado com Josye Santos, da equipe do Instituto de Imagem e Cidadania. Após dois anos do término de suas aulas, Josye o contactou e convidou para integrar a oficina. Como já havia trabalhado com pinhole antes, aceitou na hora. Bruno gosta dessa técnica por ser artesanal. Para ele, o melhor momento é ver a sua foto revelada. O mais curioso é que Bruno conheceu o Sobrado através de um primo, que já conhecia os cursos, e só então teve um contato direto com a fotografia. - Eu pretendo trabalhar com fotografia sim, no futuro. Por enquanto não dá, porque estou em outro trabalho. Fiquei muito feliz quando a Josye me chamou para tirar essas fotos, pois sou apaixonado por fotografia - disse o rapaz, sem conter a satisfação. Outro jovem, Kleyton Lucas, de 17 anos, tomou conhecimento do Sobrado Cultural através de um projeto de aulas de fotografia na Cidade Alta, onde reside. Foram cinco meses de cursos sobre as fotos, os filmes, as poses e os enquadramentos, além de outros. Nunca tinha tido conhecimento das técnicas fotográficas antes, porém, como Bruno, se apaixonou pela arte. - Mas eu não quero trabalhar com fotografia não. Eu gostaria de ter sempre essa prática, mas como um hobby e não como meio de vida - esclareceu em seguida. Para a montagem do painel, o trabalho foi ainda maior. Chikaoka escolheu uma foto que tirou do Pão-de-Açúcar, a partir do plano (a foto foi tirada no Aterro do Flamengo) e diminuiu a sua resolução, para que fosse possível ver os pixeis, e tratou a imagem em um programa de edição para torná-la preto e branco. Enquanto isso, a equipe do Sobrado Cultural separava todas as fotos, que

O espaço do Sobrado Cultural pertencia, antigamente, ao produtor cultural Emílio Paulino Sobrino. Após sua morte, o lugar foi alugado e passou a funcionar como uma oficina mecânica. Seu filho Cláudio Paulino e sua esposa Marjorie Botelho, para homenagear o antigo dono, decidiram transformar o espaço na sede do Instituto de Imagem e Cidadania. Fundado em Oito de Março de 1998, o local se reduzia apenas ao primeiro andar. Hoje, após sete anos, o Sobrado ocupa três andares e já ganha importância na região da grande Tijuca. Segundo Marjorie, o principal objetivo do Instituto de Imagem e Cidadania é a democratização da educação e da cultura, estimulando a garotada ao contato com a produção de vídeos, fotos, documentários, jornais e mais ações relacionadas à comunicação. - Como a zona

chegaram a quase seiscentas, em quatro categorias, de acordo com a sua revelação : branco, preto, cinza e normal. Como as fotos foram positivadas em diferentes tons de cinza, é possível encontrar até mesmo três imagens iguais em escalas de cores diferentes. Para montar o painel, o retrato do Pão-deAçúcar foi dividido em seis blocos e mapeado, sendo que cada píxel é associado a uma fotografia. Finalmente, as fotos foram coladas em seus devidos pontos, de acordo com a sua cor. O resultado desse trabalho pode ser conferido durante o mês de Novembro, no CAU.

norte é bastante desprovida de espaços culturais, a possibilidade de novas interações permite expandir o conhecimento dos jovens - disse a coordenadora principal do Sobrado. Apesar da possibilidade de formação profissional, a ONG não trabalha na perspectiva do mercado. Para a equipe do sobrado, o mais importante é que os alunos participem ativamente das atividades da casa e do Instituto. Assim, os apoios que a instituição recebe não sustentam as práticas desenvolvidas no sobrado. Quando a situação financeira está complicada, são os próprios coordenadores que arcam com os gastos. Às vezes, até abrem mão de horas-aula para ajudar nos pagamentos de contas. O vínculo com jovens próativos também ajuda a manter o instituto em funcionamento. Esses jovens, em

geral, são ex-alunos que passam a atuar nos núcleos do Sobrado. As atividades do Instituto de Imagem e Cidadania estão divididas em três programas: a formação, a nucleação e a produção. A formação consiste em cursos de rádio, fotografia, teatro, vídeo dentre outros, oferecidos aos jovens. A nucleação é a fase seguinte. Terminado os cursos, os participantes podem fazer a formação continuada e atuar no núcleo de imagem (fotografia e vídeo). Por último, a produção envolve o desen-volvimento do jornal Geração e da TV Tela Livre. Além disso, o Sobrado conta com um banco de imagens de registros de movimen-tos culturais. Esse banco possui fotogra-fias do MST, encontros GLS e da Grande Tijuca.

O Sobrado Cultural se localiza na rua Gonzaga Bastos, 312, em Vila Isabel. Os telefones para maiores informações são: 3185-5921 e 3238-0650.

Fotos tiradas durante a oficina de pinhole pelo fotógrafo Miguel Chikaoka


Multiplicidade em foco no Ce ntro de Arquitetura e Urbanismo Por Carla de Toledo Camargo e Elaine Cutrim

Em sua 4a edição, o Tangolomango investe em duas principais linhas de ação, que se confundem e se complementam. Por um lado, o debate intelectual estará centrado nas questões de software livre e propriedade intelectual. Por outro, o evento foca a promoção da diversidade e pluralidade de ações culturais em comunidades do Rio de Janeiro e de outros pontos do Brasil. É com esta proposta que o Centro de Arquitetura e Urbanismo (Rua São Clemente, 117, Botafogo) abriga o espaço "Multiplicidade". De 4 a 27 de novembro, o público poderá visitar uma exposição multimídia, que conta com trabalhos de fotografia, grafite, vídeo, instalação e outras formas de expressão. Palco da confrontação de trabalhos tão diferentes entre si, a exposição do CAU certamente comprirá os objetivos dos organizadores do Tangolomango: mostrar "manifestações culturais de grande qualidade e singularidade". Mosaico de expressões artísticas originais, o Centro de Arquitetura e Urbanismo é parada obrigatória durante o mês de novembro. Os protagonistas da mostra do CAU estão relacionados abaixo. Antes de visitar a exposição, saiba mais sobre a história, a proposta e o trabalho desenvolvido por cada um deles.

“Reapropriação tecnológica para transformação social". Este é o lema do grupo MetaReciclagem. Indo além da inclusão digital, o objetivo é reciclar. Não somente as máquinas em si mas, principalmente, o posicionamento das pessoas em relação a elas e ao sistema de intercomunicação global. Para os metarecicleiros, como Ricardo Ruiz, dar acesso não é sempre sinônimo de produção crítica. Ao contrário, uma postura passiva caracteriza a interação com o computador: para Ricardo, quem se conecta via telecentro "não necessariamente produz, mas acessa bate-papo, Globo.com, UOL, os grandes portais". Reciclar significa, portanto, retrabalhar esta interação, para que a máquina possa se tornar um instrumento de expressão do indivíduo - e não um objeto distante contemplativo. Por isso, dar nomes e novas aparências (através do graffiti, por exemplo) à máquina são estratégias adotadas para construir uma relação pessoal com o computador. - O mais bacana é a subversão da técnica. A pessoa precisa conhecer a técnica para isso. É aí que o software livre entra na jogada. Não porque é de graça, mas porque não teria como fazer tudo isso com software proprietário. Quem acessa via telecentro não tem como conhecer a técnica do software proprietário, porque é fechado.- explica Ricardo. O MetaReciclagem surgiu de uma rede de pessoas espalhadas pelo país, ligadas à produção de mídia independente. Em 2003, o evento Mídia Tática Brasil - Arte, Mídia e Tecnologia - aconteceu em São Paulo, como parte da 4a edição do festival holandês "The Next Five Minutes". Isto possibilitou o contato com instituições estrangeiras como Waag Society, da Holanda, e Sarai, da Índia, que hoje apóiam o projeto. A partir daí, também foi possível a parceria com o Governo Brasileiro, especialmente com o Ministério da Cultura. Nos últimos meses, 260 Pontos de Cultura aderiram ao projeto de reapropriação tecnológica e se tornaram metarecicleiros. Apesar do financiamento do MinC e dos apoios internacionais, o projeto enfrenta dificuldades: MetaRecicleiros

- A gente vai sobrevivendo. Não há separação entre a vida pessoal e a vida profissional. Não é que vai fácil, mas também não vai difícil: vai organicamente. Mantém-se. E se não se manter, acaba. As máquinas ficarão esperando para acontecer em outros momentos. Nós não somos um lugar físico. - diz Ricardo Ruiz. "Nós" se refere a metarecicleiros em São Paulo, Brasília, Recife, Belo Horizonte, Manaus, Rio Grande do Norte e localidades no interior do país. O MetaReciclagem acontece, portanto, de maneira descentralizada. Seus participantes não encaram aquilo que fazem como uma organização, mas como um modo de abordar e pensar a tecnologia. Não há uma sede, mas esporos responsáveis pela pesquisa e estudo das estruturas do projeto. Não há lideranças ou fundadores: todos são metarecicleiros. Qualquer um, em qualquer lugar, pode fazer MetaReciclagem.


GRUPO

EC

No ano em que o software livre e a questão da propriedade intelectual estão em foco no Tangolomango, a participação do MetaReciclagem é indispensável. Durante a primeira quinzena de novembro, haverá oficinas funcionando no Ponto de Cultura da Estação Barão de Mauá, na região central do Rio de Janeiro. Aí será produzido um "telecentro metareciclado" que, depois de pronto, será exposto no Centro de Arquitetura e Urbanismo. Enquanto o telecentro não fica pronto, haverá no CAU projeções do que ocorre na Estação Barão de Mauá em tempo real, e de oficinas já realizadas em outras regiões do país. Uma vez exposto o telecentro, o foco passa a ser a "mimoSa", uma máquina de correção informacional e intervenção urbana que coletará depoimentos de pessoas nas redondezas das oficinas e de diferentes pontos de atividade do Tangolomango, inclusive as imediações do próprio CAU, em Botafogo. A mimoSa não tem forma ou procedimento pré-definidos. Ela pode ser um banheiro químico, um capacete gigante, um mini gravador ou um computador convencional. Ela se define por sua função: coletar depoimentos, criando informação. A mimoSa é, fundamentalmente, mídia independente. À semelhança do que ocorre na primeira quinzena, as oficinas da mimoSa serão projetadas no CAU, mostrando intervenções passadas. Na Estação Barão de Mauá, haverá várias outras atividades: Burn Station (na qual os participantes poderão gravar em CD virgem material disponibilizado em Copy Left); palestras sobre MetaReciclagem, generosidade intelectual e software livre; produção de áudio e vídeo; xilogravura; fotografia digital; criação de página web, entre outros. As oficinas são direcionadas especialmente aos participantes de Pontos de Cultura do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. No entanto, qualquer um que deseje participar será bem-vindo: o Tangolomango será metarecicleiro.

O

Ecos de Diversidade

Em 1976, moradores da favela Santa Marta fundavam o Jornal ECO. Das reivindicações do jornal surgiu a motivação para propôr soluções aos problemas da comunidade. Formava-se, assim, o Grupo ECO, organizado pelos fundadores do Jornal. Itamar Silva, Josafá do Nascimento e José Henrique Silva foram três destes fundadores. 29 anos depois, eles ainda lideram a ONG que ajudaram a criar. Todos os domingos, os integrantes do Grupo ECO se reúnem sob sua tutela para discutirem projetos e eventos que organizam, além de tratarem de questões relativas à vida da comunidade. O principal projeto da ONG é a Colônia de Férias, que acontece todos os anos e chega à sua 27a edição. Durante o mês de janeiro de 2006, 320 crianças do Santa Marta passearão pela cidade, conhecendo praias, museus e diferentes bairros, acompanhadas por voluntários de dentro e fora da comunidade. "Com a colônia de férias, eles podem ir a lugares que não iriam normalmente", afirma Juan de Souza Silva, membro da ONG e filho de Itamar. A ONG é responsável também por uma escola de informática, transformada em telecentro em 2001. É uma escola independente, que também funciona como cyber café para a comunidade. Os moradores dispõem ainda de uma intranet gerenciada pelo próprio Grupo ECO como parte do projeto Favela On-Line, que repassa computadores reciclados a famílias por um preço acessível, além de fornecer acesso à Internet com banda larga compartilhada. O Grupo investe em outras atividades, como dança de salão - temporariamente sem aulas, mas contando com muitos dançarinos -, coral e o grupo cênico-musical (que trabalha com a interpretação teatral de canções), além do TV Favela, projeto nascido em 1999, com o objetivo de registrar os eventos e discutir a vida da comunidade. Há ainda cursos de rádio e a proposta ("para um futuro próximo", segundo Itamar) de criar uma rádio da comunidade. A ONG organiza outros eventos como "ECOS de alegria" oficinas de pintura de rosto e lambaeróbica, esportes e brincadeiras com crianças -, Festa Junina, exposições fotográficas e apresentações de música e dança. Para o Tangolomango, o Grupo ECO prepara parte de seu grande acervo fotográfico, a ser exposto no Centro de Arquitetura e Urbanismo. Ismael Santos, coordenador de projetos do Grupo, é o responsável pela organização da mostra, que contará ainda com vídeos sobre a comunidade. A prosposta é que o ambiente da exposição remeta o visitante a uma casa de favela. O Grupo ECO inaugurará o evento no dia 3 de novembro, com a tradicional Folia de Reis do Mestre Diniz. A Folia começará no Santa Marta e terminará no Centro de Arquitetura e Urbanismo, marcando o início das atividades. Durante o mês de novembro, membros do Grupo pretendem fazer a cobertura do que acontece nos diferentes pontos do Tangolomango. Os recursos dos cursos de rádio e da TV Favela serão utilizados para recolher imagens e informações que planejam mostrar no encerramento do evento, no Circo Voador. Simone Lopes, ex-moradora do Santa Marta, entrou no Grupo ECO em 1986, através do grupo de teatro (cujas atividades estão paralisadas). "Mas foi a colônia de férias que realmente mexeu comigo. A alegria das crianças me tocou muito" , conta ela. Simone é mãe de Cairé, 2 anos, e Aruana, 5 meses. Hoje estudante de Jornalismo na FACHA, afirma que seu envolvimento com projetos como o TV Favela motivou seu ingresso na universidade. "Eu gosto dessa convivência que há no grupo. Gosto de ajudar. Uma coisa legal aqui é que você contribui e participa até onde você pode". Além de moradores e ex-moradores, como Simone, o Grupo ECO conta com parceiros e colaboradores fora do Santa Marta e, até mesmo, fora do país. Itamar e Juan estão em permanente contato com estudantes estrangeiros, como italianos, americanos e suecos, interessados no projeto. O interesse desses estudantes é compreensível. A ONG, com sua pluralidade de atividades e campos de ação, luta pelo acesso - digital e social - de maneira dinâmica, promovendo no interior da própria comunidade a diversidade cultural, este ano celebrada no Tangolomango.


Nós do Morro Pintura teatral

Espetáculo e Tecnologia

O trabalho do grupo Nós do Morro já é amplamente reconhecido em todo o país - e até fora dele - graças à qualidade de seus espetáculos teatrais e ao destaque de seus atores no cinema e na televisão. O absoluto sucesso do filme "Cidade de Deus" e da série televisiva "Cidade dos Homens" é naturalmente vinculado ao grupo e à atuação de jovens como Douglas Silva. Guti Fraga, ator, diretor e idealizador do projeto nascido em 1986, sempre lutou pela qualidade de suas intervenções. Apesar dos objetivos sociais de acesso e de quebra de estereótipo em relação às comunidades carentes e seus moradores, o Nós do Morro tem a produção artística de qualidade como sua prioridade absoluta. O que certamente explica o porquê de tamanho sucesso. Há três anos o grupo participa do Tangolomango através de mostra de filmes, documentários e materiais audiovisuais em geral. No ano passado, foi montada no Castelinho do Flamengo uma instalação que consistia num barraco com apresentação de imagens e sons da favela. Este ano, em que participam de uma mostra de filmes brasileiros na França, com produções como "Mina de Fé", "O jeito brasileiro de ser português" e "Neguinho e Kika", vão expor no Tangolomango uma faceta um pouco escondida do grupo: seu trabalho na área de artes plásticas. O grupo tem aulas de artes visuais desde 2002, ano em que a artista Gabriela Maciel e o professor Pedro Rossi iniciaram as aulas de desenho. - Afinal, para o Nós do Morro, a formação de seus integrantes deve abraçar, senão todas, o maior número possível de expressões artísticas. - justifica Ester Moreira, responsável pela parte administrativa do grupo.

A questão da formação no campo das artes, destacada por Ester, soma-se à necessidade de auxiliar as turmas na reflexão acerca das peças que criam e/ou participam. Pedro Rossi explica em que consiste este auxílio: Os temas das peças são desenvolvidos em sala de aula através de exercícios de desenho e pintura, estabelecendo uma ponte conceitual e formal com o tema a ser abordado. Por exemplo, no ano da montagem do espetáculo "Sonhos de uma noite de verão" os alunos foram orientados a fazer um passeio por seus sonhos. Atualmente, o grupo está trabalhando o retrato, mais especificamente, o "busto". A ênfase maior é na produção de auto-retratos. Alguns deles apontam mesmo para um aprofundamento em direção à abstração: a figura do pintor é mesclada a personagens emblemáticos, como Baudelaire e Mao Tse Tung (as grandes preferências dos jovens artistas). Esse trabalho estará sendo inaugurado no dia 4 de novembro no CAU. Pela primeira vez, será exposto como um conjunto de obras, e não pinturas isoladas. “Eu diria que todas as pinturas destes artistas estarão formando um só trabalho, que discute as particularidades estéticas da vida na favela”. - conclui Pedro Rossi.

A ONG Spectaculu foi formada em 2000, com o objetivo de complementar a formação de jovens de comunidades de baixa renda na área da produção artística e cultural. O projeto foi concebido pela atriz Marisa Orth, o artista visual Gringo Cardia e a diretora cultural Lúcia Coelho. A escola funciona num galpão industrial na área portuária do Rio de Janeiro e conta com a participação de 180 jovens em diferentes cursos. Primeiramente voltada para as Artes Cênicas, com o núcleo Spectaculu (Escola Fábrica de Espetáculos), a ONG conta hoje com quatro outros núcleos, notadamente a Kabum! Escola Telemar de Arte e Tecnologia, fundada em 2003 e responsável por atividades ligadas ao que poderíamos chamar de "artes digitais", como Design, Computação Gráfica, Vídeo e apesar de ofecerem especializações em áreas diferentes, ambas as escolas têm uma base comum. Matérias obrigatórias no currículo são História da Arte, Oficina da Palavra, Temática e Inclusão Digital. Os participantes do projeto dispõem de almoço, lanche e uma bolsa mensal de R$80,00. Há ainda o suporte do núcleo Encontro Marcado, que pretende incluir as famílias dos jovens no processo da escola, através de suporte psicológico e psicanalítico, além de oferecer oportunidades de aprimoramento profissional. Os dois núcleos restantes são Núcleos de Trabalho nos quais se organizam alunos já formados por suas escolas. Aí desenvolvem projetos para eventos e empresas como o Fashion Rio e o Canal Futura (no caso da Kabum!) ou são direcionados a trabalhos remunerados em produções artísticas da cidade (no caso da Spectaculu). Durante o mês de novembro, a diversidade da ONG entra em cena no CAU. A Escola Fábrica de Espetáculos expõe bolsas confeccionadas pelos jovens que aprendem Adereço Cênico e maquetes de palco italiano concebidas pelos alunos de Carpintaria Cênica. A Kabum! também participa da mostra com fotos e videos animações.

"A Kabum! Escola Telemar de Arte e Tecnologia é um projeto do Instituto Telemar coordenado em conjunto com a ONG Spetaculu."


Educar através da comunicação. Esta é a bandeira que a ONG Cipó-Comunicação Interativa levanta desde 1999, quando foi fundada em Salvador (BA). A ONG comporta uma pluralidade de projetos: desde portais jovens que estimulam atitudes políticas (www.soudeatitude.org.br) a ações de formação e inclusão digital (Cibersolidário), passando por estudos de mídia em questões relativas à infância e à juventude (Central Cipó de Notícias - CCN). Assim, o aluno participa ativa e permanentemente de sua própria educação. Um dos principais objetivos do Cipó é incitar à reflexão e à análise do mundo midiático tal como ele se apresenta aos jovens, baseando-se sempre em valores éticos e humanitários. Convidada a participar do Tangolomango, a ONG vem ao Rio de Janeiro mostrar no CAU mais um de seus muitos projetos. A exposição Design Popular - Cultura da Bahia é parte de uma pesquisa maior: o Museu de Soluções. Adolescentes e educadores do Núcleo de Webdesign desenvolveram exaustiva pesquisa acerca da cultura popular regional baiana. Fruto deste estudo, a exposição vem mostrar objetos que surgem da criatividade de pessoas geralmente simples para solucionar necessidades cotidianas. Muitos dos materiais utilizados vêm do lixo das indústrias para se encaixar no dia-a-dia dessas pessoas, na forma de candeeiro, carrinho de café, fogão. O objetivo da exposição é, portanto, exaltar a riqueza da criação popular, mostrando suas curiosidades e inovações.

A Casa de Cultura da Baixada - Centro de Formação Artística da Baixada Fluminense - é uma Organização Não Governamental que atua em São João de Meriti desde 1991 e tem como preocupação fundamental a promoção da cidadania da população local, que vive em condições sócio-econômicas precárias. Para alcançar esse objetivo, a Casa de Cultura é organiza movimentos artísticos e sociais, como a Semana do Meio Ambiente,

A riqueza da simplicidade

Fundação Abrinq, concedido a empresas, entidades, Ong's e personalidades que desenvolvem ações em benefício da criança e adolescente. Em 2001, eles ganharam o primeiro lugar do prêmio Itaú-Unicef - Direito de Aprender. A Casa de Cultura vai apresentar quatro trabalhos diferentes no Tangolomango. A exposição de fotos "IGBADU" estará no CAU e é um trabalho desenvolvido com base no espetá-

a Semana de Conscientização da Sociedade sobre o Negro, a Semana de Combate à

culo da Cia. de Jovens Griôt's, que retrata a grandiosidade da cultura negra, seus reis e

Violência contra a Mulher e o Mutirão de Combate à Desnutrição Materno-Infantil.

rainhas, deuses e deusas e todo o misticismo da natureza e do ser humano.

O problema da desnutrição ainda é um dos maiores obstáculos de São João de Meriti,

"Dos becos a avenida, passos a transformação" também poderá ser visto no CAU e mostra

por isso o Mutirão acontece mensalmente na sede da Casa de Cultura ou em outros

o cotidiano dos foliões, o trabalho no barracão e a magia da transformação de pessoas

pontos da cidade e consiste na pesagem das crianças de 0 a 5 anos, que são acompanha-

comuns em destaques na passarela. Junto à exposição serão apresentados os figurinos que

das por médicos e assistentes sociais e encaminhadas para programas públicos de

estão nas fotos. Os dois trabalhos foram produzidos pelo artista plástico e fotógrafo amador

assistência.

Marcos Paulo da Silva.

Para as crianças de 3 a 14 anos, a Casa de Cultura oferece aulas de música e técnicas

No Circo Voador, no dia 6 de novembro, será apresentado o espetáculo "IGBADU, a cabaça da existência", que fala da criação do mundo através do olhar do povo africano.O espetáculo tem duração de 90 minutos e conta com técnicas circenses, teatro, música e dança. O roteiro é baseado no livro de Adilson de Oxalá e dirigido por César Marques. A outra apresentação fica por conta da Orquestra de Berimbaus do Grupo de Capoeira Angola Ypiranga de Pastinha com o trabalho do Mestre Manel. A representação de vários ritmos ganha uma interpretação afro, que será acompanhada pelo som do berimbau e terá duração de 60 minutos. O grupo de capoeira tem parceira com a Casa da Cultura e possui sede em Bonsucesso.

circenses, além de reforço escolar e futebol. Já as mulheres, mães de crianças atendidas ou vítimas de violência doméstica, participam de cursos de artesanato, aulas de biodança e 'capacidad', uma terapia que contribui para o alívio do estresse. Além disso, em parceria com a Petrobrás, a instituição criou o Projeto Jornadas Culturais. Os adolescentes acima de 14 anos têm aulas de capoeira, oficina de contadores de história (especificamente história negra), balé afro e teatro. O trabalho que a Casa da Cultura desenvolve com as crianças já foi reconhecido socialmente em 2000, quando a instituição recebeu o prêmio Criança 2000 da


O CINEMA FOTOGRAFA

A COMUNIDADE

Jovens ligados ao Hip Hop, artistas, lideranças comunitárias e trabalhadores em geral decidem se encontrar tendo um objetivo em comum: valorizar os talentos das periferias. Dessa reunião surge a Central Única das Favelas (CUFA), que atua em diversas comunidades cariocas e tem o hip hop como principal forma de expressão. Na CUFA são desenvolvidas atividades que visam à capacitação dos jovens através de cursos, promoção de debates, mesas-redondas e congressos. Além disso, buscase desenvolver a cultura hip hop através da produção e veiculação de discos, vídeos, shows, programas de rádio, festivais, oficinas de arte, exposições e outros. Dentre os projetos desenvolvidos pela Ong estão o 'Lendo o Rap', que consiste na criação de bibliotecas públicas a partir da doação de livros, o 'Núcleo de Vídeo da CUFA', que capacita integrantes para a produção audiovisual, a Oficina de Graffiti, onde os grafiteiros das comunidades carentes têm a oportunidade de expressar sua arte e outros. Para o Tangolomango, a CUFA traz o trabalho dos graffiteiros, que vão deixar a marca dessa arte em painéis que ficarão expostos na fachada do Centro de Arquitetura e Urbanismo durante o período da exposição.

Lembra do filme Cidade de Deus? Pois é, a história do Nós do Cinema está bastante ligada a ele. Em agosto de 2000, os diretores Fernando Meirelles e Kátia Lund iniciaram um processo seletivo de jovens atores para compor o elenco do filme. Depois das filmagens, a diretora Kátia Lund continuou oferecendo sessões semanais de estudo por mais um ano para 50 jovens que tiveram destaque durante as gravações. Em 2001, o Nós do Cinema ganha vida, e forma a primeira turma que aprendeu todas as etapas de uma produção cinematográfica. Desde então, são oferecidos cursos profissionalizantes, capacitação em cinema e capacitação em informática. Os alunos já participaram de produções próprias e estagiaram em grandes produções, como Olga, um filme do diretor Jaime Monjardim. No Tangolomango, os jovens do Nós do Cinema vão apresentar uma exposição de fotografias da comunidade da Cidade de Deus, RJ.

A favela vista de dentro Muita força de vontade aliada a uma boa dose de ousadia são os principais ingredientes do sucesso alcançado pelo CEASM - Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, uma associação civil sem fins lucrativos criada em 15 de agosto de 1997 e que atua nas 16 comunidades da Maré, complexo de favelas do Rio de Janeiro, com cerca de 130.000 moradores. A Associação, fundada principalmente por moradores que chegaram à universidade, tem por objetivo intervir na sociedade, através de educação e cultura. Os projetos desenvolvidos visam superar as condições de exclusão e pobreza na Maré, apontado como o terceiro bairro de pior índice de Desenvolvimento Humano na cidade. A sede da Ong está localizada no Morro do Timbau e no início abrigava o pré-

vestibular comunitário. Atualmente, nas salas de aula batizadas com os nomes de moradores importantes para a história da comunidade, são oferecidos cursos de informática, pré-vestibular, idiomas, fotografia, produção gráfica, formação em vídeo música, capoeira, entre outros. As atividades são desenvolvidas através de parcerias com os poderes públicos, empresas públicas e privadas, Ongs, instituições e pessoas físicas. Para o Tangolomango, o artista plástico e morador da Maré, Marcelo Pinto Vieira vai montar uma instalação com roupas penduradas em um varal e nelas projetar fotografias dos moradores das comunidades. "Eu já venho trabalhando o conceito da estética da favela há algum tempo, o cotidiano, aquilo que a gente vê todos os dias. Agora vou colocar esse trabalho em prática", conta o cenógrafo.


Instalação do cotidiano

ZONA DO BECO A "Zona do Beco" é uma instalação onde o público entra e se depara com fotografias, desenhos e diversos objetos espalhados junto com materiais utilizados pela construção civil. Este é mais um dos projetos de Gabriela Gusmão, que também produziu "Rua dos Inventos", retratando a arte da sobrevivência de vendedores ambulantes e moradores de rua de diferentes cidades. Esse trabalho começou em 2002, com um livro e uma exposição, viajou por várias capitais do Brasil, como Fortaleza, Salvador, Brasília e São Paulo e será apresentado na França no mês de novembro.

MULUNGU

Retalhos do cotidiano As mulheres da região de Mulungu, município de Boninal, na Chapada Diamantina, Bahia, vão trazer um pouco do canto e da dança que se manifesta no catolicismo popular para o Rio de Janeiro. A apresentação vai acontecer no dia 20 de novembro, na Lona Cultural João Bosco. No CAU, o grupo expõe um painel de fotos retratando o cotidiano da população do Boninal. As fotografias serão fixadas sobre uma colcha de retalhos, trabalhada em diferentes técnicas artesanais. Leia mais sobre o Mulungu na matéria "Oficinas e Apresentações do Tangolomango 2005".

Centro de Arquitetura e Urbanismo: Rua São Clemente, 117, Botafogo (entre as ruas Dezenove de Fevereiro e Muniz Barreto, próximo à rua Bambina). Tels.: 2286-8606 e 2539-2220

Mulungu: medrar@hotmail.com (Ieda Marques)

CEASM: laol.luiz@terra.com.br (Luis Antônio)

CUFA: www.cufa.com.br; crizgrafihutus@terra.com.br Nós do Cinema: www.nosdocinema.org.br; ana@nosdocinema.org.br (Ana)

Casa da Cultura da Baixada: casadacultura@casadaculturabaixada.org.br

Cipó: www.cipo.org.br; isabel@cipo.org.br

Spectaculu/Kabum: coord.exec@spectaculu.org.br

Grupo ECO: ismasantos2004@yahoo.com.br (Ismael Santos); juass@globo.com (Juan Silva) Nós do Morro: www.nosdomorro.com.br; nosdomorro@uol.com.br

MetaReciclagem: www.metareciclagem.org; rio.metareciclagem.org; boreste@gmail.com (Giuliano)

Contatos:


CRÉDITOS AGRADECIMENTOS

DIREÇÃO GERAL: MARINA VIEIRA ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: RAQUEL DINIZ PRODUÇÃO: VALTER GAUDIO COORDENAÇÃO EXECUTIVA: ELAINE MATTOS COORDENAÇÃO DE BASE: FABIANE PEREIRA PROMOÇÃO E MARKETING: MARCIA SUZART ASSESSORIA DE IMPRENSA: CLAUDIA OLIVEIRA PROGRAMAÇÃO VISUAL: MARIA CLARA MORAES FOTOGRAFIA: VANOR CORREIA IDENTIDADES - MOSTRA DE CINEMA E VÍDEO COORDENAÇÃO: ANDRÉA CALS MULTIPLICIDADES - EXPOSIÇÃO: CURADORIA DA EXPOSIÇÃO: MARINA VIEIRA COORDENAÇÃO DA EXPOSIÇÃO: LILIU CASTELLO BRANCO INCLUSÃO - SEMINÁRIO COORDENAÇÃO RAQUEL DINIZ / PRODUÇÃO: ELAINE MATTOS DIVERSIDADE - APRESENTAÇÕES COORDENAÇÃO: VALTER GAUDIO SITE: TERESA GUILHON, NENA BRAGA E BENITO RODRIGUES AD JUNIOR; ADRIANA KOMIVES, ADRIANE GAZZOLLA, ANA BORELLI, ANA LÚCIA RIBEIRO, ANA LUNA, ANA TONI, ARNALDO NISKIER, CARLOS ANTONIO, CECÍLIA OSWALDO CRUZ, CECÍLIA CASTELLO BRANCO, CELINA LYRA, CÉSAR PIVA, CHANTAL ROUSSEL, CLARA NUNES, CLÁUDIO PAOLINO, CLOTILDE VIDAL, DENISE GARCIA, DELANIA CAVALCANTE, DIDADO AZAMBUJA, DUDA FERNANDES, EDMILSON ALVES DE SOUZA; ELIANE COSTA, ELEONORA FIGUEIREDO, ELOÍSA BRANTES, EURICO ROCHA, EURICO ZIMBRES, FABIANNE BALVEDI; FAUSTO REGO, FERNANDA ALFINITO, FERNANDA SENATORI, FRANCISCO CÉSAR FILHO, GRACIELA SELAMEIN, GIULIANO DJAHJAH BONORANDI; GUILHERME LUSTOSA, GRACIELA SELAMEIN, HELANO; HELOISA BUARQUE DE HOLLANDA, HERMANO VIANNA, IEDA MARQUES, ILANA STROZENBERG,JACQUELINE THOMPSON, JAQUELINE VEIGA, JÔ SOUZA; JOANA FONSECA PEREGRINO, JOSÉ ARIADNE COSTA;JOSY DE ALMEIDA, JOYCE BOER; LENA (ABAYOMI); LOANA MAIA, LOUIS MARCELO, LUISA NUNES, MARIA ARLETE GONÇALVES, MARIA EDUARDA MATTAR, MARIA INÊS BASTOS, MARIA JUÇÁ, MARJORIE BOTELHO, MARTA GERUDE, MARIA TEREZA MORAES, MARIO TEZA, MIGUEL CHIKAOKA; MILTON GURAN; MIRANE ALBUQUERQUE, NÁDIA REBOUÇAS, NÉWITON CALDAS, PAULA IBARRA, PATRÍCIA COSTA, PATRÍCIA MONTE-MÓR; PATRICIA MENEZES; PEDRO NUNES, REGINA NOVAES, REINALDO PAMPONET, RICARDO FILIPO, RICARDO MACIEIRA, RICARDO RUIZ, SANTONE LOBATO, SEBASTIÃO SANTOS, SILVIA SENISE, SIMONE BUSTAMANTE, STELA COSTA, VJ YELLOW, VERA SANTANA.

GRUPOS

PARTICIPANTES ABAYOMI; ASSOCIAÇÃO FOTOATIVA; ATELIERS VARAN; BECO DOS INVENTOS; CASA DA CULTURA; CASA DAS ARTES DA MANGUEIRA; CEASM; CIA ÉTNICA DE DANÇA; CIPÓ COMUNICAÇÃO INTERATIVA; CONEXÃO FELIPE CAMARÃO; CUFA; FACHA/NECC; FOLIA DE REIS; GRUPO ECO; INSTITUTO DE IMAGEM E CIDADANIA; ADAIR AGUIAR; AMANDA GOMES. AMANDA DE OLIVEIRA, ANA LUIZA SILVA, ANGÉLICA PAULO, DAVID FERREIRA, EVELYN MOREIRA, FAGNER FRANGO, FELIPE OLIVEIRA, JOSY DE ALMEIDA, LEANDRO SOARES, LEONARDO, LUANA OLIVEIRA, MOISÉS, KARINE PAES, RENATO ROSA, RAFAEL VASCONCELOS, PRISCILA LOPES, REJANE PEREIRA, ROSALI SODRÉ, PATRÍCIA COSTA, TATIANE ALTBERG, CINTHIA SANTIAGO, LAÍS NUNES; RENAN FERNANDES, INSTITUTO ELETROCOOPERATIVA; KABUM!; JONGO DA SERRINHA; MÃO NA LATA; METARECICLAGEM; MULUNGU DO BONINAL; NÓS DO CINEMA; NÓS DO MORRO; OFICINAS KINOFORUM; ORQUESTRA DE BERIMBAUS; PERCUSSÃO SANTA MARTA; RE:COMBO, SPECTACULU, TAMBOLELÊ; TV MORRINHO, TV VIVA; VILLA-LOBINHOS

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