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Os mortos no Titan

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Salada de Bacalhau

Salada de Bacalhau

As cinco pessoas que seguiam a bordo do submersível Titan, desaparecido no domingo durante uma visita aos destroços do navio Titanic, morreram. “Acreditamos, agora, que as vidas do nosso CEO Stockton Rush, Shahzada Dawood e o seu filho Suleman Dawood, Hamish Harding e Paul-Henri Nargeolet, foram infelizmente perdidas”, confirmou a OceanGate, proprietária do submersível Titan, em comunicado divulgado ao final da tarde desta quinta-feira (22).

Um veterano de expedições subaquáticas, um recordista do Guinness, um especialista nos destroços do Titanic, um empresário intrigado pelo mistério da existência extraterrestre e o filho, um rapaz de 19 anos fascinado pelo cubo de Rubik, eram os cinco tripulantes do submersível que estava desaparecido desde domingo.

A luta contra o relógio foi intensa, num misto de preocupação e otimismo. A captação de sons subaquáticos durante as operações de busca do submersível Titan, que desapareceu quando transportava cinco pessoas até aos destroços do Titanic, tinha sido considerada “credível”, pelos exploradores. No entanto, explicam, mesmo que o veículo tivesse sido localizado rapidamente, trazê-lo à superfície demoraria várias horas, numa altura em que já se previa que o recurso ao oxigénio começasse a escassear.

Os passageiros estariam a usá-lo desde as 6 horas de domingo (horário local), dia 18, estimando-se que o pudessem continuar a fazer até ao final da manhã desta quinta-feira, dia 22. Mas há um jogo de variáveis que poderia interferir no desfecho deste incidente, nomeadamente a taxa de respiração, que influenciará a existência de oxigénio no submersível mediante a falta de experiência de mergulho de alguns tripulantes.

Quem eram os cinco homens que desapareceram a caminho dos destroços do navio Titanic, a cerca de 600 quilómetros da costa de Newfoundland, no Canadá?

Stockton Rush, o “Capitão Kirk” de 61 anos

Era o piloto do Titan e CEO da OceanGate, empresa que organizou esta viagem e mais de uma dezena de outras expedições subaquáticas desde 2010. Rush obteve a classificação DC-8 Type/Captain no United Airlines Jet Training Institute com apenas 19 anos, tornando-se, de acordo com o site da OceanGate, o mais jovem piloto do mundo de aeronaves a jato.

Em 1984 concluiu o curso de engenharia aeroespacial na Universidade de Princeton e, cinco anos depois, um MBA na UC-Berkeley Haas School of Business. Foi nessa altura que construiu a aeronave experimental “Glasair III”, em utilização até hoje. Além disso, criou o “Kittredge K-350”, um submersível para duas pessoas com diversas modificações e no qual efetuou mais de três dezenas de mergulhos.

Em dezembro, em declarações ao “CBS Sunday Morning”, o americano defendeu que viajar no seu submersível não é particularmente perigoso, reconhecendo, contudo, a existência de um nível de risco em tudo o que é feito. “O que quero dizer é que, se tu queres estar seguro, não saias da cama. Não entres no carro, não faças nada. Em algum momento vais correr algum risco, é mesmo uma questão de risco-recompensa”, notou.

Apesar de, em criança, sonhar ser astronauta, Stockton Rush percebeu, mais tarde, que queria explorar um desconhecido diferente. “Queria ser uma espécie de Capitão Kirk”, afirmou, referindo-se ao famoso líder de “Star Trek”. “Não queria ser o passageiro que segue na parte de trás”.

Hamish Harding, um aventureiro com três recordes do Guinness

Era o presidente da empresa de aviões privados Action Aviation, um aventureiro britânico que, um dia antes de embarcar na expedição ao Titanic, escreveu nas redes sociais que estava prestes a realizar “um sonho”. “Esta missão será, provavelmente, a primeira e única tripulada ao Titanic em 2023”, partilhou. O milionário, de 58 anos, a residir no Dubai, é detentor de três recordes do Guinness: em 2021 fez um mergulho de quatro horas e 15 minutos na Fossa das Marianas, também com recurso a um submersível, realizou inúmeras viagens ao Polo Sul e, no ano passado, foi uma das pessoas a ir ao espaço com a empresa “Blue Origin”, de Jeff Bezos.

Paul-Henry Nargeolet, um apaixonado “como ninguém” pelo Titanic

Ex-comandante da Marinha francesa, Paul, de 77 anos, era considerado o maior especialista no naufrágio do Titanic. Em 1987, o francês integrou a primeira expedição para recuperar objetos do navio, liderando, desde então, várias visitas ao local para supervisionar a recuperação de milhares de artefactos. Segundo Brandon Whited, diretor da “Titanic International Society”, Paul tinha um conhecimento “incomparável” dos destroços do navio, podendo identificá-los “como ninguém”. “Conhece-o e tem uma paixão quase inacreditável por ele”, afirmou, citado pelo “The Washington Post”. Nargeolet nasceu em Chamonix, França, e também viveu 13 anos em África. Durante duas décadas, integrou a Marinha francesa, trabalhando como piloto de submarinos, capitão de navios e mergulhador. Em 2022, publicou o livro “Dans les profondeurs du Titanic”, “Nas profundezas do Titanic” em português. “Fez mais mergulhos naquele local do que qualquer outra pessoa”, confirmou Michael Findlay, que também liderou os destinos da “Titanic International Society”. “O facto de estar entre os desaparecidos é quase impossível de compreender”, referiu.

Shahzada Dawood, o empresário fascinado pelo mistério da vida

Era um empresário paquistanês, com nacionalidade britânica, e vice-presidente do grupo Engro Corp, que opera na área industrial, têxtil e de alimentos. Trata-se de uma subsidiária da “Dawood Hercules”, empresa dirigida pelo seu pai, Hussain. Também era curador do “Instituto Seti”, focado na descoberta de vida noutras partes do Universo.

Segundo Bill Diamond, presidente da instituição, Shahzada, de 48 anos, era “humilde” por natureza e fascinado pelo mistério da possível existência extraterrestre. O empresário contou-lhe que ia aventurar-se no Titan com entusiasmo, embora não fosse pessoa de correr muitos riscos. “Disse-me que ia a uma profundidade extrema num submersível, mas não parecia muito preocupado”, revelou Diamond.

Shahzada integrou várias instituições de caridade, incluindo algumas ligadas ao rei Carlos III. Já falou nas Nações Unidas e participou no Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, partilhando a sua visão de um “futuro sustentável”. Era apaixonado por fotografia de vida selvagem, jardinagem e pelo seu cão, anunciou a família, em comunicado.

Suleman Dawood, o benjamim do Titan

Era filho de Shahzada Dawood e o elemento mais jovem da expedição ao Titanic. Tinha 19 anos, cresceu em Londres e era fã de livros de ficção científica e de resolver cubos de Rubik.

Formou-se, recentemente, na ACS International School Cobham, no Reino Unido. Os vizinhos da família contaram ao Daily Mail que se tratava de um casal e de dois filhos (Suleman tem uma irmã, Alina) “adoráveis”. “São muito gentis e educados”, garantiram. JN/MS

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