Design do Livro Tátil e Ilustrado: Uma Antologia Poética e Sensorial

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Design do Livro Tátil e Ilustrado

Uma Antologia Poética & Sensorial

Autora Milena Santos Profª. Orient. Fábia Campos





Design do Livro Tátil e Ilustrado Uma Antologia Poética & Sensorial

Autora: Milena Santos São Paulo, 2021



Design do Livro Tátil e Ilustrado Uma Antologia Poética & Sensorial

Autora: Milena Santos Profª. Orient.: Fábia Campos

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Design com linha específica em Design Gráfico. São Paulo, 2021


Elaborada pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo aluno(a). Santos, Milena de Jesus Design do Livro Tátil e Ilustrado: Uma antologia Poética e Sensorial / Milena de Jesus Santos - São Paulo (SP), 2021. 337 f.: il. color. Orientador(a): Fábia Tuchsznajder Campos Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Design Gráfico) – Centro Universitário Senac, São Paulo, 2021. 1. Design Inclusivo 2. Design Editorial 3. Design de Livros Acessíveis 4. Ilustração.




Agradecimentos Muitas pessoas especiais me ajudaram nessa empreitada, e por isso, agradeço: À minha amiga querida, Evellin Lemos, que não só me ajudou a contatar pessoas e grupos para que pudessem me auxiliar com o questionário, como revisou todo o escrito da minha monografia e ainda auxiliou nos primeiros testes; Agradeço imensamente à Professora e Psicopedagoga Cecilia Pera, com quem tenho um relacionamento de longa data e assim que decidi meu tema de TCC, sabia que poderia consultá-la para maiores informações e até mesmo desmistificação de tabus, que mesmo como parte do público-alvo, eu os entendia como verdade. Agradeço de coração à Andreza Aguida, dona da página Albinismo em Foco, que muito amável me ajudou a divulgar o questionário nas redes sociais; Sou grata ao meu irmão, Rariton Santos, a segunda pessoa com baixa visão mais próxima de mim. Ele me ajudou a encontrar o tamanho das margens do livro, me deu suas impressões sobre o que via nas ilustrações e sobre o que conseguia e o que não conseguia ler... Sua experiência foi fundamental na realização do projeto;


Agradeço ao meu amigo, Victor Chaves, que muito me escutou em meio as preocupações, processos, alterações e forneceu seus conhecimentos de InDesign em momentos valiosos, como na diagramação da monografia e em partes do livro; Agradecimento sem tamanho à minha professora e querida Orientadora Fábia Campos, que me impulsionou em todas as minhas ideias, me alimentou com outras e me auxiliou em tudo o que eu precisava com muita dedicação e amizade. Sou grata ao professor Tadeu Costa, por sua ajuda com tipografia e por todos os livros que me indicou; À Professora Denize Roma, que muito amável avaliou meu projeto de TCC I e marcou presença na banca de TCC II; Sou grata ao professor Lael Lázaro, pela gentileza e por ter aceitado o convite para estar presente em minha banca de TCC II; Agradeço aos meus pais de todo o coração, por tornarem o sonho da graduação uma realidade. Este trabalho é fruto não só meu, mas deles também; Agradeço aos meus avós, tia Creunide e prima Mariana pelas orações e motivações intercedendo para que tudo desse certo, além das fotos que as duas dispuseram-se a tirar e enviar como referênciais para a poesia “Casa de Vó”.


E por último, mas jamais menos importante, a Deus que me deu a graça de chegar até aqui e me colocou em contato com todas essas pessoas maravilhosas, inclusive, com mais do que somente as mencionadas, as quais de alguma forma puderam ajudar, direta ou indiretamente e por isso, meu muito obrigado àqueles que por obra de esquecimento, eu posso não ter abordado, mas que de forma alguma tem importância diminuída neste projeto. Para todos, o meu agradecimento solene!



Resumo O presente projeto foi respaldado numa extensa fundamentação teórica, da qual as abordagens protagonistas foram a baixa visão, o livro ilustrado desde seus primórdios e a elucidação de meios adaptativos, os quais podem tornar real a inclusão do jovem com visão subnormal por intermédio de poesias, em diálogos breves e profundos sobre sentimentos comumente vivenciados, mas nem sempre refletidos. O resultado, em meio ao período de um ano, foi a pesquisa e a elaboração de um livro multissensorial, ilustrado e acessível com previsão de atender jovens desde os 12 até os 29+ anos. Dentre o processo, desafios constantes tiveram de ser superados e muitas auto indagações, testes, pesquisas mais regresso no que já havia sido levantado tiveram de ser feitos para que se alcançasse um trabalho maduro, emocionalmente tocante e que fosse capaz de levar as pessoas até o momento, muitas vezes sintetizado em uma única dupla. Por esta complexidade, o olhar de terceiros e as tantas reavaliações foram fundamentais para tomadas de decisão mais assertivas enquanto produção artística, e sem desfazer-se, é claro, da empatia e do olhar projetual, adotados pelo Design.

Design Inclusivo, Design Editorial, Design de Livros Acessíveis, Ilustração.


Onde tudo começou...



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Objetivo Este projeto de TCC tem como objetivo criar um livro acessível com foco em pessoas com baixa visão. Um livro de pequenos textos, mais precisamente parágrafos, trechos de música e pequenos versos direcionados ao público jovem, com quem há a maior intenção de se conversar temas pertinentes, que convirjam com seus sentimentos pessoais. Para ser inclusivo, este projeto editorial deve promover sensações por meio de ilustrações, relevos, texturas e complementos digitais que possam fazer conexão direta com as experiências vivenciadas por todas as pessoas, independentemente de suas deficiências e eficiências. As ilustrações deverão ter características essencialmente leves, em composição com os textos e demais elementos, que visam proporcionar momentos únicos e facilitadores a compreensão, tais como a música e a audiodescrição. Com estas considerações, o conceito do Design contribui na gestão dos elementos em conjunto a fim de proporcionar experiências tocantes e inesquecíveis.

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Justificativa Promover acesso a literatura às pessoas com deficiência é promover cultura com inclusão. Isto é: tirá-las duma redoma que enclausura e segrega e lhes dar meios adaptativos para contemplarem, sentirem e se identificarem com as diversas experiências que a literatura possibilita. Nas palavras de BRAGA (2020), trata-se de reconhecer cada indivíduo em suas particularidades de modo equitativo: ...no plano pessoal e subjetivo, somos diferentes, somos singulares. Há um dito famoso que fala sobre a impossibilidade de avaliar um peixe sobre a sua capacidade de subir em árvores, e isso é exatamente do que trata a inclusão: do reconhecimento, por um lado, das diferenças entre os seres, seus corpos, seus ritmos, e, por outro lado, da equidade no direito ao acesso aos bens culturais e à educação. (BRAGA, 2020, n.p).

E quando se fala em baixa visão, o acesso a livros pode ser transformador ao que se refere o acesso à cultura, que abre espaço ao conhecimento e a evolução social, porém, na última pesquisa Retratos da Leitura realizada pelo IBOPE em 2019, foi apurado que 48% dos brasileiros não possuem o hábito de ler, sendo uma das dificuldades apontadas o problema de visão. De acordo com a entrevista, na íntegra em anexo, realizada com PERA (2021)1 a sociedade por estar num período imediatista, onde o hábito de leitura não é tão influenciado em decorrência das novas mídias, faz com que os indivíduos, em especial jovens, acabem por absorver o ponto ¹ Cecilia Pera é Psicóloga e Psicopedagoga, especialista no acompanhamento pedagógico de crianças e jovens com deficiência visual. A entrevista encontra-se disponível nos anexos e no link: <https://www.youtube. com/watch?v=41sjYJVsD9U>

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de vista dos outros onde muitas vezes não cabe a reflexão e a investigação, coisa que a leitura abrange em maior instância. RUIZ (2015) 2, em uma linha parecida e com menção do sistema Braille, traz um ponto complementar a fala de PERA (2021), também conveniente ao texto em tinta, em que afirma que a leitura permite ao aluno fazer suas próprias pausas, tendo seu pensamento e imaginação à parte. Dentre os temas elegíveis ao livro proposto, serão contempladas as relações humanas: tais como a amizade, a relação familiar, a relação amorosa e afetiva; e as situações de caráter social e comportamental, como: timidez, ansiedade, depressão e crenças limitantes — entre outros assuntos — que serão orientados dentro de uma ² Luciana Ruiz é professora da Escola Padre Chico e cedeu entrevista à Folha de São Paulo (2019). O acesso à matéria é disponibilizado em Referências bibliográficas e no link: <https://www1.folha.uol.com.br/ folhinha/2015/05/1623194-folhinha-faz-roda-de-leitura-com-criancas-cegas-assista-a-video.shtml>

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abordagem íntima, natural e essencialmente leve. Desde mazelas até alegrias, e assim, fazer os leitores sentirem-se representados. Com esta preocupação, a escolha por um livro com textos poéticos nasceu da liberdade e desenvoltura que a poesia exerce sobre a língua materna e sobre a alma. De sua capacidade de potencializar o sensível e de seu caráter humanístico, levando o leitor a olhar para dentro de si e para além do mundo que o cerca. Ou seja, fazê-lo acessar cultura. Indo adiante, nas palavras de PAZ: A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza [...] Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem [...] Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem


primitiva. Obediência às regras; criação de outras [...] Loucura, êxtase, logos. Regresso a infância [...] nostalgia do paraíso [...] Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. (PAZ 1982, p.15).

Dadas as palavras de PAZ (1982) a poesia possibilita simbolizar; – Um escopo perfeito para a imaginação, e por conseguinte, para a ilustração – a poesia permite articulação rítmica e a brincar com as palavras; desmanchar e refazer regras, pois na poesia não há certo e errado, só há ser. Um dos gêneros literários de maior capacidade didática e expressiva que existe. Em termos educacionais, segundo SOARES 3 (2019): O trabalho com poesia ³ Esdras Soares, Técnico do Programa Escrevendo o Futuro em entrevista a CENPEC (2019). O acesso à matéria é disponibilizado em Referências bibliográficas pelo nome do autor/escritor da matéria como CASTRO, Tamara (2019).

oferece a possibilidade de reflexão sobre as palavras, escolhas linguísticas e seus efeitos de sentido.” Dessa forma, além de um gênero artístico e emocional, ele representa mais um contribuinte ao exercício da leitura e da oralidade em ambientes que iniciativas desta categoria têm espaço, como escolas e salas de recurso4. Já a escolha do público jovem, vem da preocupação em se conversar com pessoas que já vivenciaram ou estão em fase de vivenciar algumas das situações e sentimentos incorporados aos textos, porém, nada impede que o público infantil tenha acesso a esse material, uma vez que o autoconhecimento, segundo PERA (2021), quanto antes colocado à criança, melhor será para ela entender e decodificar suas emoções. Ela também acredita que quanto mais o jovem ou adulto demora a ⁴ Espaços especializados no acompanhamento pedagógico de pessoas com necessidades especiais. (MACHADO, 2009).

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falar de seus sentimentos, mais ele tende a construir barreiras e a fechar para si uma autoproteção. Para ela, um material que possibilite a chamada “expansão de consciência” numa linguagem leve, tal como o livro sugere, pode muito bem descomplicar esta conversa profunda a qual pretende-se estabelecer. Com estas considerações, o presente projeto tende a ser um encontro emocional pela provocação de variados sentidos, além da busca em incluir aqueles que se interessem por uma obra artística com representações sensíveis e sensitivas. Fatores esses que por meio do Design e da Arte, buscam combinar função e intuição a fim de proporcionar uma comunicação imersiva.

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Procedimentos metodológicos Foram realizados: leitura de livros; fichamentos; desenvolvimento teórico; questionários; entrevista; estudos de caso e estudos de concepção. Etapas que fomentaram a pesquisa e sua relevância dentre a sociedade e a função do Design em designar objetos para todos os públicos. Para a Fundamentação Teórica: A pesquisa foi desdobrada a partir de livros, artigos, matérias, “homepages” e brochuras escritas ou organizadas por especialistas, em especial das áreas da Oftalmologia, Psicologia, Psicopedagogia e do Design. Para os Resultados de Pesquisa: Foi realizada entrevista com profissional; pesquisa com o público-alvo; análise de livros ilustrados; coleta de referências; experimentações e testes.

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Aprofundando...




Terminologias da deficiência visual No ano de 1980 a Organização Mundial da Saúde definiu uma classificação universal sobre as deficiências pensadas para a pesquisa e prática clínica. Em português: Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidade e Desvantagens (CIDID). A classificação trouxe esses termos: “Deficiência”, “Incapacidade” e “Desvantagem”, dos quais a Fundação Dorina Nowill¹ ([2020]) em síntese e com tradução, trouxe em seu site institucional:

Incapacidade (“disability” em inglês) Uma incapacidade é qualquer restrição ou falta de habilidade (resultante de uma deficiência) para realizar uma atividade na forma considerada “normal” para um ser humano. Representa a objetivação de uma deficiência e, como tal, reflete distúrbios na pessoa. Desvantagem (“handicap” em inglês) Uma desvantagem para um dado indivíduo,

Deficiência (“impairment” em inglês)

derivada de uma incapacidade ou deficiên-

Uma deficiência é qualquer perda ou anor-

cia, limita ou previne o cumprimento de

malidade da estrutura ou função psicoló-

um papel que é normal para esse indivíduo

gica, fisiológica ou anatômica. Representa

(dependendo da idade, do sexo e de fatores

a exteriorização de um estado patológico

socioculturais). A desvantagem refere-se ao

e, em princípio, reflete distúrbios no nível

valor atribuído à situação ou experiência

do órgão. ¹ Organização brasileira, sem fins lucrativos, voltada à assistência de pessoas com deficiência visual.

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Com geração de certa polêmica, o uso de alguns desses termos, em especial o de “desvantagem” levou a OMS recorrer a uma classificação mais humanizada, conhecida como CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Em tradução livre, a OMS (2001) a define como: “[...] classificação de saúde e domínios relacionados à saúde. Como o funcionamento e deficiência de um indivíduo acontece em meio a um contexto […]” ou seja, diferente da CID que fornece um modelo etiológico das doenças, lesões e deficiências, a CIF integra parâmetros médicos e sociais sob uma abordagem biopsicossocial: biológica, individual e social. Desse modo, a CIF leva em consideração fatores como: funções e estruturas do corpo; atividades e participação; fatores ambientais e fatores sociais com relação às pessoas com deficiência (OMS, 2013). Essas preocupações advindas de Órgãos responsáveis denotam a importância 36

do cuidado com a linguagem e em como as pessoas devem referir-se a pessoa com deficiência, pois a linguagem define quão respeitosa ou discriminadora é a sociedade, seja voluntariamente, involuntariamente ou por falta de instrução. (Fundação Dorina Nowill, [2020]). Felizmente, ao longo dos anos os termos foram se atualizando e se tornando cada vez menos depreciativos. Segundo SASSAKI (2003, apud ROMANI, 2016) Já houve o tempo em que pessoas com deficiência eram chamadas de inválidas, incapacitadas, defeituosas entre outros adjetivos que mais às tornavam seres diminuídos, segregados e excluídos em relação a outros grupos de pessoas, porém, atualmente, mesmo não sendo a solução de todos esses problemas no que diz respeito a convivência da sociedade civil, a ONU (2006) e a Constituição Brasileira pela LEI Nº 13.146, de 6 de julho de 2015, reconhecem como o correto “pessoa com


deficiência” não mais o “deficiente” e nem mais “o portador de deficiência”, pois a deficiência quando existe é algo inerente à pessoa, que faz parte dela, sendo assim o termo atual o mais cabível e sensato. Mas então, como se referir àqueles com deficiência visual? Não foram encontradas respostas exatas para esta pergunta... mas até onde fora observado entre considerações médicas e educacionais, a forma mais apropriada apresenta-se como “pessoa com deficiência visual” quando citada no âmbito geral — a mais próxima da definição da ONU — e também, em caso de menções específicas, pelos termos “cego” e “pessoa com baixa visão”, usados constantemente por muitos autores para abordar distinções entre ambos e para relacionar um nível mais específico do resíduo visual, sendo portanto, denominações não pejorativas, comumente usadas e mais fáceis de serem articuladas. — E por esses motivos, serão essas as terminologias usadas ao longo deste trabalho.

Já em meios sociais, longe de uma tese ou pesquisa, o mais apropriado é relacionar-se às pessoas independente de qualquer deficiência, pelo seu nome, título ou ocupação: O João, a Ana Clara. O Estudante. A Atleta… utilizações respeitosas, inclusivas e até mesmo próximas, com reconhecimentos entre uns e outros.

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Fisiologia do olho humano A pessoa com baixa visão transita entre os dois universos: o da vidência e o da cegueira (FIGUEIREDO, 2018). Pelo sentido da visão é possível enxergar e tomar medidas sobre a realidade de forma sintética, enquanto os demais sentidos a complementam. Porém, ao se tratar da invisualidade, mesmo que a perda da visão signifique certo prejuízo à autonomia, a situação não deve ser encarada como um impedimento irredutível, mas sim como um desafio a ser vencido em prol da busca pela cidadania. O ato de ver é possibilitado pelo bulbo do olho, mais conhecido como globo ocular e sua ligação com o cérebro. Segundo COSTA e SANTOS (2018) o funcionamento do olho é similar ao de uma câmera fotográfica. Sua estrutura é responsável por captar a luz refletida nos objetos. Quando a luz é captada, ela cruza uma estrutura chamada filme lacrimal (a lágrima); segue

até a córnea, filme transparente por onde é possível ver a cor dos olhos; passa pela readequação da pupila, que adentrada a íris dilata-se ou fecha-se; atravessa o cristalino: a lente, responsável por focalizar os raios luminosos que se convergem na retina e são recebidos pelos fotorreceptores: “...células especializadas em transformar luz em sinal químico...” (COSTA e SANTOS, p.297, 2018) e por fim, estes sinais são transportados pelo nervo óptico até o córtex visual, onde a imagem será interpretada (COSTA e SANTOS, 2018).

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Na imagem (Figura 1), com a representação de um olho saudável é possível observar por onde faz-se o caminho da luz de forma linear, como descrito anteriormente.

Figura 1 – Fisiologia do olho. Hospital de olhos de Blumenau

Além destas estruturas, também pode-se citar a esclera, parte branca que detém determinado fator de proteção ao olho; e os humores vítreo e aquoso, propriedades que desempenham forma, tonicidade, nutrição e regulagem de pressão ao olho (LIMA; NASSIF; FELLIPE, 2008). Diante destas considerações, torna-se importante para o entendimento de algumas das principais patologias que acometem a visão, o conhecimento de sua organização básica e funcionamento. 40


A baixa visão no Brasil e no mundo Segundo a Fundação Dorina Nowill ([2020]), é considerada pessoa com baixa visão aquela que apresenta 30% da visão — ou menos — em seu melhor olho, mesmo que já tenha feito correções com lentes, óculos e intervenções clínicas e cirúrgicas. No Brasil, conforme os últimos dados do Censo Demográfico do IBGE 2010 (Tabela 1), foram apontados que das pessoas com deficiência visual: Dados IBGE, quantidade de pessoas cegas e com baixa visão 506.377

São incapazes de enxergar (cegos) Possuem grande dificuldade em 6.056.533 enxergar (baixa visão) Tabela realizada com base em dados do IBGE sobre número de pessoas cegas e com baixa visão.

Já em dados relatados pela “World Report On Vision” de 2019, a OMS estima que no mundo ao menos 2,2 bilhões de pessoas possuem deficiência visual — cegueira ou baixa visão, corrigidas ou não — e que ao menos 1 bilhão de pessoas ou metade deste número poderiam ter evitado a cegueira ou ainda não a resolveram. Os principais problemas e doenças relacionadas a visão podem se desenvolver de forma congênita ou adquirida em decorrência de traumas, lesões e doenças crônicas, podendo afetar níveis da visão conhecidos como: acuidade visual1 e campo visual.2 1 Visão central. Por ela é possível perceber distinções dentre os objetos (SOUSA, S. 1997). 2 Visão periférica, fundamental a locomoção. Permite apreciação de conjunto. Sua perda pode ser mais significativa ao funcionamento natural da visão do que a perda da visão central (SOUSA, S. 1997).

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As medidas da acuidade visual e do campo visual são importantes para determinar a deficiência dentro da esfera legal e clínica, em valores quantitativos, como demonstrados por LIMA et al: Cegueira A acuidade visual igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica. Baixa visão A acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60°; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.

Todas as classificações apresentadas são utilizadas para o diagnóstico da deficiência visual. (LIMA et al., 2008, p.7). 42

Porém, os dados numéricos muitas vezes acabavam se tornando insuficientes para definir pessoas com deficiência que fossem elegíveis a educação especial e demais carências ditas como importantes para este público, uma vez que a cegueira e a baixa visão podem sofrer com uma linha tênue entre suas classificações, ao que dependerá do resíduo visual de cada indivíduo e de quão eficiente é sua visão. – Ou seja, como ele faz uso deste sentido. Com o tempo e mesmo com as classificações oftalmológicas já existentes, um grupo de estudos da OMS voltado a Prevenção da Cegueira a partir dos anos de 1972 propôs novas formas de definição que visassem a eficiência da visão: “...para uniformizar as anotações dos valores de acuidade visual com finalidades estatísticas.” (CONDE, 2002). Tais iniciativas renderam trabalhos conjuntos com a “American Academy of Ophthalmology” e o Conselho Internacional de Oftalmologia, dos quais a


união resultou diversas definições acerca dos novos termos, hoje também abordados sobre uma esfera educacional e pedagógica, como cita BRUNO: Portadores de cegueira: Ausência total de visão até a perda da projeção de luz. O processo de aprendizagem se dará através da integração dos sent idos: tátil - cinestésico - auditivo - olfativo - gustativo, utilizando o Sistema Braille como meio principal de leitura e escrita. Portadores de visão subnormal: Desde condições de indicar projeção de luz até o grau em que a redução da acuidade visual interfere ou limita seu desempenho. O processo educativo se desenvolverá por meios visuais ainda que seja necessária a utilização de recursos específicos. (BRUNO, 1997, p.7).

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Principais problemas oculares Os principais problemas oculares também são frisados por LIMA, et al. (2008, p.14 –15) e as figuras a seguir (Figuras de 2 a 4) são exemplos autorais produzidos com base na bibliografia de MARIEB; WILHELM; MALLAT (2014, p. 521).

Visão normal: A imagem

Figura [2 – 4] - Fisiologia do olho

da retina.

Produção autoral.

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se forma na retina. Hipermetropia: o comprimento do olho é menor do que o normal, a imagem se forma atrás da retina. Miopia: o comprimento do olho é maior do que o normal, a imagem se forma antes


Astigmatismo: a córnea não é esférica, tor-

Estrabismo: [...] desvio do eixo ocular em

nando a imagem distorcida na retina — pode

que um ou ambos os olhos estão desali-

estar associada a hipermetropia

nhados. [...] Deve ser tratado o mais cedo

e a miopia.

possível.

Presbiopia: conhecida como vista cansada,

Ambliopia: [...] situação em que a visão não

ocorre por volta dos 40 anos. Há um endure-

se desenvolve, tornando-se fraca em um

cimento gradativo do cristalino [...] acarreta

olho ou mesmo nos dois olhos. A principal

dificuldade em focalizar objetos próximos e

causa é o estrabismo. (LIMA, et al., 2008,

ler letras pequenas.

p.14 – 15).

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A hipermetropia, miopia, astigmatismo e presbiopia possuem possibilidade de serem corrigidas com o uso de óculos. Enquanto o estrabismo e a ambliopia, se identificados sob orientação médica em período adequado, podem ser remediados e enfim, curados (LIMA, et al., 2008).

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Principais doenças oculares A seguir, imagens com simulação das doenças mais frequentes que afligem as pessoas com baixa visão (Figuras de 5 a 10). As representações são autorais e foram produzidas com base nas referências de LIMA et al. (2008, p.16 – 21) bem como suas descrições.

Figura 5 - Visão normal

Figura 6 - Toxoplasmose ocular congênita / Degeneração Macular Relacionada à Idade /

Figura [5-10]

Doença de Stargardt

Produção autoral.

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Figura 7 – Glaucoma / Retinose Pigmentar

Figura 8 – Catarata congênita

Os quadros característicos desta representação, na maioria dos casos, são causados por redução do campo visual.

Em casos de catarata, este tipo de visualização é característica de uma “Opacificação do cristalino...” (LIMA et al., 2008, p.19).


Figura 9 – Albinismo

Figura 10 – Retinopatia da Prematuridade / Retinopatia Diabética

Quadro visual muito comum ao albinismo. Podem estar associados: a fotofobia1 a miopia, ao astigmatismo e ao nistagmo2.

1 Sensibilidade a luz. 2 Oscilação ocular repetitiva e involuntária. (LIMA et al, 2008).

Pode ocorrer por ocorrência de descolamentos da retina, comum em bebês prematuros que são submetidos ao oxigênio de incubadoras. Nos indivíduos com diabetes, pode ser ocasionada pela frequência de tratamentos longos e/ou repetitivos e ineficazes 49


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Instituições As instituições voltadas ao público com deficiência visual são verdadeiros modelos de acessibilidade e inclusão. A abordagem delas, trazida a este trabalho, busca retratá-las como os principais meios por onde a pessoa, cega ou com baixa visão, irá fazer entrada nos recursos e informações que ela precisa para viver uma vida digna em sociedade. Beneficiando não somente a ela, mas também os grupos sociais com quem convive ou há de conviver. Desde a tenra infância até a adolescência e vida adulta, estas organizações podem prestar serviços valiosos a família que as procura, pois juntamente com profissionais capacitados irão desenvolver a prática da independência, da cultura e da socialização, além, é claro, do desenvolvimento educacional da pessoa com deficiência visual.

Por isso, sabendo que são lugares que assistem justamente o público-alvo, para quem é dirigida esta pesquisa, o tratar das instituições mostrou-se parte fundamental, pois são potenciais lugares em que um livro acessível pode fazer relevante contribuição. Não obstante, o respeito, a credibilidade e a mudança de cenário tão representativa e até mesmo histórica exercida por esses órgãos no Brasil, tornam eles ainda mais relevantes à dissertação e até mesmo a informação daqueles que irão acessar este trabalho.

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Laramara A Laramara é uma instituição educacional voltada à sociedade civil, sem fins lucrativos e vínculos políticos ou religiosos. Fica localizada no centro de São Paulo e é conhecida como “Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual”. Segundo o site institucional, o desenvolvimento autônomo adquirido pelas pessoas com deficiência visual é resultado do esforço e determinação de profissionais e famílias dentro de um ambiente propício às oportunidades, tal como se tornou a Laramara ao longo dos anos. A todos àqueles que são atendidos, a qualidade dessa parceria é obtida em suas “perspectivas sociocultural, assistencial, educativa e psicossocial” De acordo com CORSI1 (2016) , o diferencial da instituição é justamente o de “[...] 1 Maria da Graça Corsi é pedagoga na instituição Laramara e especialista em deficiência visual. Sua entrevista, cedida ao programa Diversidade (2016) é disponibilizada em Referências bibliográficas.

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trabalhar com o empoderamento da família.” e não somente o do bebê, do jovem ou adulto que é assistido; pois a instituição orienta cuidados que serão posteriormente continuados pelos pais e responsáveis, que são acompanhantes em tempo integral, e que ao depender da faixa etária de seu filho, são os que irão buscar junto a ele os auxílios na escola; o alcance da cidadania; o acesso à gratuidade no transporte... entre outros recursos, que a família pode ou precisa recorrer para obtenção de seus direitos.

História – Laramara Lara — Filha do casal Mara e Victor Syaulis — nasceu com retinopatia da prematuridade, se tornando a influência do casal para que se fundasse a LARAMARA: junção do nome da filha — LARA — com o nome da mãe — MARA — a qual transformou dificuldade


em força para ajudar outras famílias numa época em que o acesso à informação e ao assistencialismo para pessoas com deficiência visual eram quase inexistentes. A deficiência de Lara, mais a dura realidade da falta de apoio e suporte às outras famílias levaram Dona Mara a cursar pedagogia, se especializar em deficiência visual, ganhar experiência por fora — trabalhando por 8 anos na Santa Casa da Misericórdia — para seguir com seu marido na organização de um espaço próprio que garantisse um atendimento especializado e multidisciplinar aos mais vulneráveis. Com atividades que datam desde 1991, a Laramara iniciou seu trabalho com crianças entre os 0 e 7 anos de idade. Em 1996 e 1997, as demandas aumentaram e a levaram a projetar programas também com foco em jovens e adultos. Atualmente, a instituição conta com dois programas que possibilitam a entrada numa série de projetos de integração, são

eles: Programa de Atendimento à Criança e ao Adolescente e Programa de Atendimento ao Jovem e ao Adulto. No Programa de Atendimento à Criança e ao Adolescente acontecem atividades socioeducativas, que visam a melhora de fatores como: orientação, mobilidade, desenvolvimento da eficiência visual, utilização de outros canais perceptivos e acesso ao sistema Braille. Também integram os atendimentos: atividades socioculturais e de lazer com visitas a museus, organização de piqueniques, festas comemorativas etc. São feitos ainda acompanhamento da inclusão escolar, encaminhamento da pessoa com deficiência para outras redes de apoio, auxílio na obtenção de benefícios e demais intervenções indiretas. Já no Programa de Atendimento ao Jovem e ao Adulto são oferecidos cursos, workshops e oficinas que visam a inclusão das pessoas com deficiência visual no mundo do trabalho e em manifestações 53


artísticas. Por meio destes, os jovens e adultos fazem contato com cursos de Informática; Inglês; Musicalidade; Musicalidade em Braille; Dança, Orientação e Mobilidade; Autonomia e Independência, entre outros saberes e projetos que influenciam sua inserção na sociedade, no trabalho e na cultura. A instituição iniciou seus serviços em um espaço pequeno, na antiga residência do Sr. Syaulis, no bairro da Pompéia. Hoje, a Laramara está localizada na Barra Funda, na Rua Conselheiro Brotero, contando com 10 mil metros quadrados na divisão de 3 prédios e uma equipe formada por profissionais especializados em oftalmologia, psicologia, pedagogia, fonoaudiologia entre outras especialidades com foco no desenvolvimento das pessoas cegas e com baixa visão.

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Fundação Dorina Nowill Com mais de 70 anos de atuação em assistência especializada, serviços, produção e distribuição de livros inclusivos, a Fundação Dorina Nowill ([2020]) faz história no país como uma organização sem fins lucrativos, filantrópica e com visão de ser referência mundial em inclusão e acessibilidade para pessoas cegas e com baixa visão. Sua atuação é abrangente, com pioneirismo e qualidade instaurados em gráfica e editora braille — a com maior capacidade da América Latina — que se estende a serviços de acessibilidade tecnológica, tanto para pessoas assistidas pela instituição, como para soluções visando clientes e parceiros. O impacto acontece desde livros disponíveis em versão ampliada ou em braille até audiolivros, livros digitais acessíveis, serviços de audiodescrição, acessibilidade de sites, consultoria arquitetônica entre outros empreendimentos que ressignificam o protagonismo


da instituição em promover diversas possibilidades em produções inclusivas. No que toca as pessoas que são assistidas, há vários projetos e programas disponíveis para crianças, jovens e adultos, como educação especial, reabilitação e processos de inserção no mercado de trabalho. No quesito livros, talvez a maior contribuição da Fundação, a mesma salienta em seu site institucional: Com muita dedicação à causa, ao longo das últimas sete décadas, produzimos mais de

— Dorinateca, a biblioteca digital da Fundação — e as rodas de leitura, como as da Rede de Leitura Inclusiva, ação de alcance nacional que tem apoio da Fundação Dorina. Tamanha sua importância, ainda há a estimativa que no Brasil, não há uma pessoa cega e alfabetizada que não tenha acessado ao menos um livro em braille produzido pela organização. (Fundação Dorina Nowill, [2020]).

História – Fundação Dorina

6 mil títulos, imprimimos 2 milhões de volumes em braille e mais de mil títulos neste sistema! Também foram produzidas mais de 2,7 mil obras em áudio e cerca de outros 900 títulos digitais acessíveis. (Fundação Dorina Nowill, [2020]).

Tal contribuição favorece o acesso à cultura e a informação por meio de bibliotecas parceiras, biblioteca virtual

Falar do início e do crescimento da Fundação é falar de sua fundadora: conforme o site institucional, Dorina de Gouvêa Nowill (1919 – 2010) perdeu sua visão aos 17 anos de idade, por ocorrência de uma doença ocular não diagnosticada. Como a jovem assídua na leitura que era (PERFIL, 2009), em meados da década de 30, notou a carência em relação a livros para cegos 55


no Brasil em uma época na qual não existiam livros em braille — Não por aqui. Diante deste obstáculo, Dorina deu início a Fundação Para o Livro do Cego no Brasil no ano de 1946 (Fundação Dorina Nowill, [2020]). Foi a primeira aluna cega a entrar numa escola regular; conseguiu uma bolsa fora do país e se especializou em educação de cegos na “Teacher´s College” da Universidade de Columbia, nos EUA, onde também conseguiu uma reunião com a “Kellog’s Foundation”, com a qual expôs a necessidade do Brasil em ter livros em braille e a de ter uma imprensa braille em função de sua Fundação. Em 1948, Dorina teve sua solicitação atendida, recebendo não só a imprensa como também os maquinários, papéis etc. A partir de então, teve-se notícia da primeira imprensa de livros em braille em território nacional. Dorina com todo seu protagonismo e empreendedorismo, alcançou a implementação de importantes leis e projetos 56

para os cegos no Brasil, deixando nítida sua preocupação não só na educação dos cegos, mas também na inclusão destes no mercado de trabalho e na prevenção da cegueira. Em 1979 foi presidente do Conselho Mundial Para o Bem-Estar dos Cegos; em 1985 foi presidente da ULAC – União Latino-Americana de Cegos. Em 1991 a Fundação passa a ter seu nome — Agora Fundação Dorina Nowill — e no ano 2000, de diretora-presidente se torna presidente emérita e vitalícia do instituto, cargo ao qual permaneceu até o fim de sua vida. Em meio a tantos títulos onde equilibrou sua vida pessoal com a profissional, num tempo que eram poucas as mulheres que assumiam cargos de liderança, ainda mais com alguma deficiência, Dorina acumulou diversas contribuições, sendo algumas delas abordadas a seguir, em uma linha do tempo.


Contribuições de Dorina Nowill

Dados retirados do site institucional, em seções como linha do tempo, história e parte dedicada a fundadora, Dorina Nowill. Fundação Dorina Nowill, [2020].

Colaborou para a elaboração

Ela conseguiu que o Conselho

Colaborou com a elaboração

da Lei 2.287 de 03/09/1953,

Mundial para o Bem-Estar do

da lei de integração Escolar,

que instituía as Classes Braille

Cego se reunisse no Brasil,

a qual foi regulamentada

no Estado de São Paulo.

em conjunto com o Conselho

em 1956.

Brasileiro de Oftalmologia e a Associação Panamericana de Saúde.

1953

1954

Dorina dedicou mais de 6 décadas de sua vida a filantropia, e durante sua trajetória — e até mesmo depois dela — recebeu inúmeros reconhecimentos e homenagens

1956

nacionais e internacionais, colecionando prêmios e medalhas. Em 2004 inspirou Maurício de Sousa na criação de uma personagem com deficiência visual: Dorinha, que 57


Dorina dirigiu a Campanha

Dorina lutou, também,

Quando a Conferência da OIT

Nacional de Educação de

pela abertura de vagas e

se reuniu no congresso, os

Cegos do Ministério da

encaminhamento das pessoas

representantes do governo

Educação e Cultura (MEC).

com deficiência para o

brasileiro, dos empresários e

Em sua gestão foram criados

mercado de trabalho. Durante

dos trabalhadores votaram

os serviços de educação de

a Conferência da Organização

a favor da proposta do

cegos em todas as Unidades

Internacional do Trabalho (OIT),

Conselho Mundial para o

da Federação.

em Genebra, Dorina conseguiu

Bem-Estar do Cego.

que a Recomendação 99, sobre a reabilitação profissional, fosse discutida.

De 1961 a 1973

hoje integra juntamente a outros personagens da Turma da Mônica, uma importante frente de inclusão; em 2016, sob produção e roteiro de sua neta, Martha Nowill, teve 58

1982

sua história contada em um documentário intitulado “Dorina – Para Ver o Mundo” e por último, o mais recente, mas não menos importante, em comemoração dos 100 anos


O apoio favoreceu a aprovação da Convenção 159 e da Recomendação 168, que convocam os Estados membros a cumprirem o acordo, oferecendo programas de reabilitação, treinamento e emprego para as pessoas com deficiência.

1983

que estaria realizando em 2019, o Google dedicou-lhe um Doodle em sua página inicial (Revista Galileu, 2019).

Todo seu esforço voltou-se a Fundação e aos direitos das pessoas com deficiência visual; e em seus últimos anos de vida se preocupou em difundir sua experiência, em deixar livros autobiográficos e em fazer palestras requisitadas por empresas, escolas, universidades e instituições. Alguns anos depois de seu falecimento, seu maior empreendimento de vida continua inovando, crescendo e seguindo os passos da mulher de visão que era Dorina Nowill. A sede continua no mesmo local, situada na Vila Clementino, em São Paulo, lugar que ocupa desde 1955, e Dorina, sua fundadora, partiu aos 91 anos de idade deixando a imagem de uma mulher visionária, exemplo de generosidade, força e de alguém que podia “ver com os olhos da alma” como bem frisa a Fundação em sua memória.

59


O Design editorial do livro Ilustrado Origens do livro ilustrado LIVROS ILUSTRADOS: Obras em que a imagem é espacialmente preponderante em relação ao texto, que aliás pode estar ausente [é então chamado, no Brasil, de livros-imagem]. A narrativa se faz de maneira articulada entre texto e imagens. (VAN DER LINDEN, 2018, p.24).

O livro ilustrado vem evoluindo ao longo do tempo. Desde a xilogravura — processo que o concebeu por muito tempo até final do século XVIII — até a litografia, que faz aparição nos primeiros livros franceses do século XIX, com foco em crianças e jovens. Seu início foi marcado por obras com poucas imagens (Figura 11), de livros com ilustração, onde a imagem ainda não era vista como o cerne, ou seja, a estrela das publicações. 60

Figura 11 – Xilografia de topo, Roti Cochon por Claude Michard. VAN DER LINDEN (2018, p. 12).


Os primeiros livros ilustrados eram produzidos em dois ateliês: um para a impressão do texto e outro para impressão das imagens. Os textos eram produzidos com a ajuda de caracteres em relevo, enquanto a ilustração era produzida a partir de processos à entalhe. Com o tempo e com o desejo e surgimento de novas editoras, editores, autores, artistas e principalmente com apoio das evoluções técnicas e produtivas, o livro ilustrado moderno e contemporâneo evoluiu na diagramação, no formato e na relação entre texto e imagem, na qual a parte figurativa e artística teve seu espaço expandido, enquanto o texto se tornava algo enxuto, algumas vezes até ausente, transformando a ilustração em seu elemento principal.

O livro ilustrado moderno – Predominância de imagens Como cita VAN DER LINDEN (2018), o ano de 1919 foi o momento em que Edy-Legrand publicou seu primeiro livro ilustrado (Figura 12); o primeiro a “consagrar” a inversão de predominância entre texto e imagem. As imagens são abordadas dentro de um enquadramento quadrado que as colocam em evidência. O texto é curto e manuscrito.

Figura 12 – Macao et Cosmage, Edy-Legrand VAN DER LINDEN (2018, p.15).

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O livro ilustrado contemporâneo – Evolução dos aspectos visuais Os anos de 1950 – 60 trouxeram o período contemporâneo e foram antecipados pela diagramação de ordem semântica e pelo protagonismo da ilustração no período moderno. No início do período contemporâneo — ainda em voga — são presenciadas a importância ainda maior do aspecto visual dos livros ilustrados, em que questões como tipografia e materialidade passam a receber maior preocupação enquanto o foco pedagógico, o de ensinar algo às crianças e jovens, passa a não ser o maior objetivo de todos. Começa-se a trabalhar a representação do inconsciente no visual dos novos livros, além da cópia do real e “…inúmeras ressonâncias simbólicas”. (VAN DER LINDEN, 2018, p.17). Em anos posteriores, surgem inovações como a impressão de imagens, uso de transparências e texturas e a difusão do livro ilustrado em livros de bolso, o que o popularizou. 62

Ganhou-se o livro ilustrado para criança e o livro para expressão artística feito sob demanda autônoma dos próprios artistas e pequenas editoras. O marco da “Pequena editora” entre os anos de 1990 – 2000 é o que assume parte considerável da originalidade do setor. (VAN DER LINDEN, 2018). Parafraseando VAN DER LINDEN (2018), ao longo da história o livro ilustrado vem afirmando o status da imagem, e atualmente, frente a tantas experimentações e a evolução da tecnologia em proporcionar processos cada vez mais inovadores, pode-se dizer que não há mais limites para este tipo de obra em termos tipográficos, imagéticos, de tamanho ou fisicalidade. “O livro ilustrado requer uma leitura crítica à altura” (VAN DER LINDEN, 2018, p.21). No infográfico (Figura 13) a evolução do livro ilustrado pode ser acessada visualmente.


Figura 13 - Infográfico criado com base na

As legendas inseridas podem conter falas diretas

bibliografia de Sophie Van der Linden.

ou indiretas da autora, com o único fim de torná-

Produção autoral.

las visíveis imageticamente.

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São também livros fronteiriços ao livro ilustrado: o livro funcional, os livros-brinquedo, os livros pop-up e as HQs. Todas as obras advindas de evoluções técnicas, materiais e criativas, que só promoveram o desenvolver dos livros com imagem e dos livros-objeto, que hoje se desdobram de diversas formas.

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65


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Legibilidade e leiturabilidade Neste capítulo, serão discutidas informações que favorecem a leitura e a experiência das pessoas com baixa visão, como legibilidade e leiturabilidade. Legibilidade refere-se à identificação de caracteres isolados e quão rápido um caractere pode ser lido ou reconhecido; enquanto o conceito de leiturabilidade relaciona-se ao conforto visual presente num segmento de texto (TRACY, 1986, apud FARIAS, 2013). Para ler, as pessoas com baixa visão podem precisar do auxílio de recursos ópticos e de um ambiente adequado para concluírem a leitura de um texto com fluidez. No quesito do Design, ao que se refere a tipografia e cores, também há algumas recomendações, as quais este tópico abrangerá boa parte, como auxílio a produção do projeto final. As informações expostas são advindas de especialistas de instituições idôneas, brasileiras e internacionais,

como é o caso da Fundação Dorina Nowill, da instituição Laramara e da organização Lighthouse Guild1, da qual terá dois de seus materiais mencionados frequentemente. São eles: o “Effective Color Contrast” e o “Making Text Legible”, brochuras que exploram exemplos visuais do que fazer e do que evitar com relação às pessoas com baixa visão. Elas foram pensadas justamente para o auxílio do profissional designer na produção de materiais acessíveis.

Contraste entre cor e tipografia A utilização do contraste em cores favorece a visualização e a memorização da imagem (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006). 1 Organização norte-americana que realiza trabalhos científicos, cursos e dá assistência às pessoas com deficiência visual.

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Recomenda-se que o texto seja aplicado entre a maior relação de contraste possível. Segundo a instituição Lighthouse Guild (2018) há evidências de que letras em tons claros sobre fundos escuros podem ser mais legíveis que letras em tons escuros sobre fundos claros, mas que, esteticamente, a segunda combinação é a mais escolhida. A preferência advém de pessoas idosas ou com baixa visão. Ainda, o instituto em mais uma recomendação sobre cores em tipografia, alerta que o alto contraste em cores poder ser difícil para se obter combinações, sendo materiais impressos geralmente mais legíveis em preto e branco. As cores podem sim, serem utilizadas com fins estéticos, porém, a utilização é maiormente recomendada em manchetes e títulos. Para valorizar os efeitos contrastantes entre tipos e cores de fundo, estes exemplos de cores das Figuras 14 e 15 podem ajudar.

Figura 14 – Exemplos de contraste Letras claras são mais contrastantes em fundos escuros. Evite combinações de cores próximas. Lighthouse Guild (2018).

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Figura 15 – Círculo cromático com indicação de combinações efetivas e não efetivas. Lighthouse Guild (2018).

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Para utilizar cores com apoio do círculo cromático (Figura 16), algumas recomendações: Recomendações no uso de cores do círculo cromático • Dividir o círculo horizontalmente entre cores claras e escuras. • Escolher um tom escuro da parte inferior e um tom claro da parte superior. • Considerar que cores escuras favorecem as pessoas com baixa visão, pois estas podem apresentar certa intolerância a cores muito luminosas. • Evitar cores análogas. Elas não conferem contraste suficiente. • Evitar contrastar cores brilhantes da parte inferior com cores não-brilhantes da parte superior. • Considerar a utilização das cores da divisão inferior com valores de luz reduzidos para compensar contraste entre os objetos de primeiro e segundo plano. Pontos abordados com base em recomendações da instituição Lighthouse Guild (2018).

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Figura 16 – Círculo cromático com indicação de combinações efetivas e não efetivas. Lighthouse Guild (2018).

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Escolha de fontes Segundo LIMA, NASSIF E FELIPPE (2008) fontes fantasia, manuscritas e com serifa não são recomendadas quando o objetivo é favorecer a legibilidade. Além do cuidado preciso entre tipos e fundos coloridos, também é preciso se atentar ao contraste inserido na anatomia das tipografias escolhidas. (Lighthouse Guild, 2018). As fontes mais recomendadas por especialistas, como LIMA, et al. (2008) são as não serifadas, por não possuírem contraste acentuado em sua anatomia e por serem facilmente reconhecíveis por seu desenho retilíneo. O Instituto Lighthouse Guild (2018) confirma este posicionamento, porém, ao contrário de LIMA et al. (2008) também recomenda fontes serifadas desde que estas contenham um bom desenho que as permitam serem diferenciadas, letra por letra. Na Figura 17, alguns exemplos de aplicação, favoráveis ou não a visão. 72

Favorece a visão Arial, 36 pt

Pode favorecer Century, 36 pt

Não favorece Vladimir Script, 36 pt

Não favorece Franklin Gothic, 36 pt


Dentre as fontes que mais favorecem a visão, estão as não serifadas com seu desenho retilíneo.

Fontes serifadas para serem utilizadas precisam conter um desenho bem legível, com boa distinção entre letras. JURY (2006, apud ROMANI, 2016) cita que quanto maior a altura “x” mais legível é a fonte. Fontes manuscritas, decorativas e fantasia devem ser evitadas ao máximo e só são indicadas se a utilização for restrita a destaques. (Lighthouse Guild, 2018).

Fontes condensadas também não são recomendadas (Lighthouse Guild, 2018).

Figura 17 - Exemplo de aplicações de fontes Produção autoral com base nos autores: LIMA; NASSIF; FELIPPE (2008) e instituição Lighthouse Guild (2018).

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Além dos exemplos de famílias tipográficas, também há pesquisas que abordam sobre estilos tipográficos (Figura 17). Há evidências, segundo a Lighthouse Guild (2018), que fontes romanas são mais legíveis que fontes oblíquas, itálicas ou condensadas.

Figura 17 - Estilo de fontes Lighthouse Guild (2018).

A escolha da tipografia vai depender da mensagem, do público e de sua função. “A tipografia é uma ferramenta com a qual o conteúdo ganha forma, a linguagem ganha um corpo físico e as mensagens ganham um fluxo social.” (LUPTON, 2006, p.8).

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Ampliação de letras; O material que entrará em contato com as pessoas de visão subnormal deve ser ampliado. O mínimo recomendado em ampliação de fontes é entre 16 e 18 pontos, (Lighthouse Guild, 2018) podendo ir até os 24 pontos em textos que favoreçam a leiturabilidade, como explicitado na Figura 18. Quando o material se trata de algo pedagógico, para se trabalhar em sala de aula, o ideal é que os educadores forneçam materiais que melhor se adequem a condição visual específica do aluno, pois não é preciso que a ampliação extrapole sua necessidade (LIMA et al., 2008). Para o caso de um livro ilustrado, que terá contato com muitas pessoas e não só uma única condição, a escolha tipográfica bem como sua ampliação serão resultantes do que melhor favorecer a maioria.


Este tamanho de 24 pontos funciona bem! Este tamanho de 18 pontos, também! Já este aqui, de 12 pontos... não. :(

Figura 18 - Ampliação de textos Produção autoral com base nos autores: LIMA; NASSIF; FELIPPE (2008) e instituição Lighthouse Guild (2018).

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Entrelinhas e espaçamento entre letras Quanto ao espaçamento de entrelinhas, a Lighthouse Guild salienta que algumas pessoas com baixa visão têm dificuldade para encontrar o início da próxima linha durante a leitura, portanto, o ideal é que a entrelinha seja de 25% a 30% do

tamanho da tipografia, enquanto que referente ao “tracking”, alertam que o texto com espaço entre letras muito próximo dificulta a leitura, principalmente para quem tem sua visão central prejudicada. Para tais evidências, as Figuras 19-20, exemplificam:

Este espaçamento entre linhas está correto. Favorece a visão.

Este espaçamento entre letras está correto. Favorece a visão.

Este espaçamento entre linhas esta incorreto. Não favorece a visão.

Esteespaçamento entreletras estáincorreto. Nãofavoreceavisão.

Figura [19 - 20] - Espaçamento entrelinhas e entre letras. Produção autoral produzida com base da Lighthouse Guild.

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Margens; suporte e distinção Quanto a margens, suporte e distinção, recomendam: • Margens: Recomenda-se que sejam largas, para que facilitem a encadernação e o nivelamento do volume. Quando o livro permite uma boa abertura em superfícies planas, é interessante, pois isso facilita até mesmo o uso de recursos ópticos na complementação da leitura. Para isso, o uso de encadernação em espiral pode ajudar. • Suporte: As autoras LIMA et al. (2008) e a Lighthouse Guild (2018) não recomendam o uso de papéis com acabamento brilhante. Desse modo, entende-se que papéis de acabamento fosco são a melhor opção. • Distinção: Não só para quem tem baixa visão, mas para todos, encontrar um livro, documento ou informação pode ser difícil quando elaborados todos em volumes com customização parecida ou igual. Por isso, propor distinções pode ser uma boa solução. Uma diferenciação de cores em capítulos, livros, tamanhos etc. podem ajudar. Pontos abordados com base em recomendações dos autores: LIMA; NASSIF; FELIPPE (2008) e da instituição Lighthouse Guild (2018).

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Adaptações ópticas e espaciais Além do acesso a materiais acessíveis e adaptáveis, ainda existem outras considerações que favorecem a qualidade de leitura no ambiente onde está o indivíduo com baixa visão. Especialistas e organizações recomendam conforme os itens trazidos abaixo: Recomendações ópticas e espaciais que favorecem a leitura • Boa iluminação: Se para mais ou para menos iluminado, irá depender de cada visão. • Plano inclinado | Prancha de apoio: Bases de inclinação para suporte de livros e cadernos. • Recursos ópticos: Auxílio de lupas, telelupas, réguas de apoio, lupas com iluminação etc., quando necessário. • Recursos tecnológicos: Livros digitais; Sistema de Leitura Portátil (SLP); Livro Digital Acessível (LIDA), Livro Falado etc.

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• Aproximação entre observador e objeto: A aproximação do observador ao objeto favorece sua visão. É muito comum que crianças se aproximem da TV para enxergar o que se passa; ou que se aproximem e/ou inclinem a cabeça diante de livros e celulares. A atitude ao contrário do que muitos pensam não prejudica a visão e deve ser encarada com naturalidade. Pontos abordados com base em recomendações dos autores: LIMA; NASSIF; FELIPPE (2008) e MIN; SAMPAIO; HADDAD (2018).

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Descobrindo...

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Estudos de caso Os livros escolhidos para análise servirão de inspiração e apoio para alguns dos recursos previstos no projeto final, como por exemplo: a poesia, a ilustração, texturas e relevos. Também são fatores a serem analisados: a composição, a disposição de textos, a encadernação, a acessibilidade entre outros pontos que serão validados com base na experiência obtida ao longo de três anos de graduação e nas informações colhidas na fundamentação teórica, além de trazer alguns adicionais informativos, de outros autores, já mencionados ou não. Como este tópico da pesquisa parte de um ponto de análise majoritariamente pessoal, alguns pronomes de posse e primeira pessoa serão utilizados.

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Análise 1 Livro: Adélia Esquecida Autores: Lia Zatz e Luise Weiss Design: Wanda Gomes Análise focal: Materialidade e atributos Acesso: Livro físico O livro Adélia Esquecida reúne a composição de pequenos textos e ilustrações com baixo relevo, texturas e aromas. Sua concepção foi elaborada pelas autoras Lia Zatz, Luise Weiss e Wanda Gomes, que juntas produziram A Coleção Adélia: Adélia Esquecida, Adélia Cozinheira e Adélia Sonhadora.

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Dados técnicos Adélia Esquecida Título Autor Ilustrador Designer Editora Ano e edição Formato Valor aproximado

Adélia Esquecida Lia Zatz Luise Weiss Wanda Gomes WG Produto 2011 | 1ª Edição 20 x 25 cm R$ 58,00

Características materiais Miolo Capa Tipo de encadernação Texto x Ilustração Tipografia Paleta de cores Atributos

Papel couché fosco 230g/m², 28 páginas Capa flexível em couché fosco 230g/m² Lombada canoa / Com grampos Há maior predominância de ilustração do que de texto Sem serifa, humanista, ampliada e com sobreposição do sistema Braille.br Cores contrastantes, de alta legibilidade Texturas e relevos a partir da utilização de vernizes localizados

Tabela com base em dados técnicos da obra publicada.

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Considerações – Adélia Esquecida No exemplar de Adélia Esquecida, ao qual se obteve acesso, logo em sua apresentação a capa já abrange uma textura agradável aos dedos, aveludada, referente a ilustração de um casaco quente. As cores são chamativas e contrastantes, o que favorece a percepção das pessoas com baixa visão. Ainda na capa, há o texto com o nome do livro em uma tipografia diferente da que compõe o miolo, no caso, uma linguagem visual exclusiva, adotada para identificar a coleção, mais a adição do Braille.BR1 como sobreposição. (Figura 21).

1 O sistema Braille.br foi desenvolvido pela Designer Wanda Gomes, que tem patente requerida no Brasil. Seu processo foi obtido a partir de técnicas de serigrafia, com pontos que não cedem a pressão dos dedos, possibilitando conforto ao tato e maior durabilidade com relação ao sistema Braille, impresso convencionalmente. (WG Produto, [ca 2020]).

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Figura 21 - Capa de Adélia Esquecida Acervo pessoal.


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Adentrando-se ao livro, já é possível se deparar com texto na página ímpar seguida de ilustração na página par. Tal alternância é contínua em toda a obra e de acordo com VAN DER LINDEN (2018) este estilo de diagramação é conhecida como dissociativa, que pode ser favorável ao oferecer uma valorização à imagem, como também, segundo a autora, pode tornar a leitura mais vagarosa. No que tange o livro em análise, conforme Figura 21, pode-se dizer que tal apropriação é benéfica, pois uma leitura cautelosa possibilita maior apreciação das ilustrações e de seus recursos compositivos. Já a tipografia adotada no miolo, a “Scala Sans”, segue a linha de tipografias humanistas e sem serifa, anteriormente mencionadas na fundamentação como bons estilos a serem atribuídos, pois estes favorecem a legibilidade. Já a ampliação do texto, segundo GOMES (2016, apud ROMANI, 2016) é de 24 pontos, em conformidade com o que é indicado por alguns especialistas e 88

em minha experiência pessoal, confortável a visão. Outro ponto não tão bom assim, ainda referente ao texto, é o da presença de viúvas nas páginas 6 e 14. Na formatação não há hifenizações, o que não caracteriza nem qualidade e nem dificuldade a leitura, porém, é um ponto observável. Quanto ao Braille.BR, sobreposto ao texto em tinta, tem um aspecto “deslizante” e não áspero, como presenciado em obras que fazem uso do Braille advindo de processos convencionais. Para provar sua real eficácia, somente uma pessoa com perda total da visão para dizer, mas em minha pouca experiência e com análise visual, o aspecto deste “novo Braille” idealizado por Wanda Gomes é bastante limpo; favorece a impressão em tinta, pois não perfura o papel e é transparente; mantendo as cores da área onde é aplicado. Aparentemente se mostra durável e não faz tanto volume quando o livro está fechado.


Figura 22 – Página dupla, diagramação dissociativa Acervo pessoal.

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Figura 22 - Presença de viúvas

Figura [23 - 24] Sobreposição

Acervo pessoal.

do Braille.BR®; Contornos com verniz UV Acervo pessoal.

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Na composição das ilustrações, a estilização é bastante orgânica, não tão iconográfica, o que pode ser o esperado num livro acessível desta categoria, porém, fora uma descoberta feliz — falando pessoalmente

— uma vez que meu estilo próprio de ilustração se caracteriza desta forma. As ilustrações, em uma proposta diferenciada, trazem contornos que são mais evidenciados pela utilização do verniz UV do que pela cor. Quando presentes em matizes, são mais visíveis, fazem uso dos tons mais escuros — como os das cores azul e violeta — utilizadas na própria ilustração em destaque. Não há presença do contorno preto, o que em minha visão manteve certa elegância e até mesmo delicadeza às ilustrações sem precisarem de demarcações extravagantes para se tornarem legíveis. Porém, como analisado nos estudos de ROMANI (2016) quando um dos livros da coleção foram avaliados por leitores cegos em sua pesquisa, houve a constatação de que o contorno em verniz com baixo relevo não favorecia a pessoa cega por ser pouco determinante. No caso da pessoa com baixa visão, considerando minha experiência pessoal, a presença de cores contrastantes no 91


conjunto da composição é boa e favorece os com visão subnormal.

Figura 26 – Uso de cores contrastantes. Acervo pessoal.

Figura 25 - Uso de cores contrastantes e verniz. Acervo pessoal.

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O suporte em papel couché fosco 230g/m² mostra uma boa performance para a sobreposição de vernizes, Braille e acabamentos texturizados, demonstrando boa resistência e pouca absorção da luz. As texturas nas ilustrações trabalhadas, foram obtidas a partir de processos como flocagem e suede. Em outro título da coleção, no livro Adélia Sonhadora, ROMANI (2016) que o analisa, especifica os acabamentos, também presentes em Adélia Cozinheira e em Adélia Esquecida: As ilustrações seguem a mesma linguagem gráfica da coleção Adélia. A proposta desta coleção é fornecer ilustrações diferenciadas do relevo pontilhado, utilizando para isso texturas obtidas pelas técnicas de acabamento gráfico, tais como verniz U.V. texturizado, tinta serigráfica “puff”, aroma microencapsulado [...] processo conhecido

plástica, Luise Weiss, ao propor as ilustrações, elaborou imagens que pudessem receber a camada de textura por cima da tinta impressa. O resultado são imagens táteis com texturas diferenciadas distribuídas ao longo da narrativa. (ROMANI, 2016, p. 117).

Quanto aos aromas sentidos, não foi possível apontar com clareza se eles vinham realmente das páginas onde são indicados. O que realmente fora notado, foi uma leve fragrância do que pareciam ser ervas ou plantas ao longo de todo o exemplar, mas com maior presença na página 24, onde há uma ilustração com folhas em primeiro plano e flores ao fundo, no segundo plano. Também há indicação de aroma na página 6, Figura 28, o qual não fora identificado.

como “raspe e cheire”, e verniz com adição de flocos de poliéster, náilon e algodão, processo conhecido como “flocagem”. A artista

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Figura 27 - Página dupla com indicação de aroma Acervo pessoal.

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Figura 28 - Página dupla com indicação de aroma, porém não identificado Acervo pessoal.

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Talvez para melhorar a experiência do livro, seria interessante ousar mais em diagramação e no uso de altos e baixos relevos juntamente com o cuidado adicional na dimensão das ilustrações e seus contornos, pois ao fechar os olhos para tentar decifrar as figuras apenas com o toque dos dedos, foi difícil imaginar se um cego realmente consegue compreender o entorno. No entanto, para quem tem baixa visão o recurso não parece ser um problema. A ilustração, bem como um texto, porém visual, também possui dificuldades no “fazer-se compreensível”, podendo apresentar ainda maior complexidade quando dirigida às pessoas com deficiência visual, no caso dos cegos e do livro em questão, talvez a falta de definição das ilustrações relatada anteriormente poderia ser resolvida com um escrito informativo ou de interpretação, alocado diretamente na página onde estaria a ilustração, como por exemplo: “flor” onde há uma flor representada, 96

para justamente indicar à pessoa cega o que se encontra diante dela. No entanto, dadas tamanhas dificuldades projetuais relatadas pelas autoras em entrevistas e no site da WG produto ([ca 2020]), é compreensível algumas das faltas ou compensações para que a obra continuasse a ser mais acessível e econômica em aproveitamento de papel, cabendo a mim, portanto, a apreciação do projeto naquilo que ele foi bem-sucedido e no que ele pode evoluir em benefício de mais pessoas e do design universal2, tão difícil de ser alcançado. De modo geral: para quem é baixa visão o livro se mostra excelente, para quem é cego, há mais do que se ponderar, não sendo possível, por mim, uma análise aprofundada neste quesito. 2 Segundo a Organização das Nações Unidas e em tradução livre: “‘design universal’ abrange o design de produtos, ambientes, programas ou serviços de modo que possam ser utilizados por todas as pessoas, na maior extensão possível, sem necessidade de adaptação ou design especializado...” (ONU, 2006, p.4).


Figura 29 - Demonstração de diagramação Acervo pessoal.

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Análise 2 Livro: Harvey: Como Me Tornei Invisível Autores: Hervé Bouchard e Janice Nadeau Tradutor: Luciano Machado Análise focal: Alcance de público-alvo, “storytelling”, estilo de ilustração e paleta cromática Acesso: Demonstração virtual – Youtube

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Dados técnicos Harvey: como me tornei invisível Título Autor Ilustrador Tradutor Editora Ano e edição Formato Valor aproximado

Harvey: Como Me Tornei Invisível Hervé Bouchard Janice Nadeau Luciano Machado Pulo do Gato 2013 | 1ª Edição 15 x 20 cm R$ 37,00

Características materiais Miolo Capa Tipo de encadernação

Papel Offset, 168 páginas Capa flexível (sem dado de gramatura) Lombada quadrada / Brochura Há uma presença quase equivalente entre texto

Texto x Ilustração

e ilustração, uma vez que ambos são indissociáveis. Diagramação associativa e compartimentada Manuscrita, representando letras formais e escrita

Tipografia

infantil com alternância entre letras maiúsculas e minúsculas Predominância monocromática;

Paleta de cores

presença da cor / efeito sépia e dos matizes cinza e preto com baixa saturação

Atributos

Não há

Tabela com base em dados técnicos da obra publicada.

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Considerações – Harvey: Como Me Tornei Invisível Com uma linguagem cinematográfica e de quadrinhos, com uso de paletas monocromáticas, “zooms” e evidenciações bem definidas, este livro-álbum trata de uma temática difícil, tanto para crianças como adultos: a morte. Com capacidade suficiente de afetar até mesmo as faixas etárias mais elevadas, a obra de modo sensível e sem menosprezar a tristeza, conta a história de um garotinho chamado Harvey (Figura 30), que de sua maneira, ao descobrir a morte do pai, tenta lidar de forma fantasiosa e imaginativa com a dor deixada pelo luto numa estação que mudou a sua vida. A escolha da obra para as análises partiu da percepção de como a mesma contempla um sentimento tão complexo com o bom uso de composições visuais, que quando bem trabalhadas, conseguem conduzir os leitores a emoção. Um “storytelling” difícil, 100

assim como alguns dos assuntos abordados no projeto final — fruto desta pesquisa. A narrativa de Harvey não se enquadra no conselho e motivação de se seguir em frente quanto a morte de alguém que amamos, mas sim na compreensão da dor a ser sentida pela perspectiva de uma criança. É uma proposta de reflexão e talvez até de auto entendimento, para aqueles que assim como Harvey, perderam um ente querido e se sentiram / sentem-se perdidos diante da nova realidade. A paleta das ilustrações trabalhadas traz consigo tons terrosos, a cor sépia dos artistas, como cita HELLER (2014) comunicando ao que parece ser a saudade, o peso, a memória ou até mesmo a sensação daquilo que está murchando, definhando, perdendo a vida... o próprio passar do luto (Figura 31).


Figura 30 - Capa Harvey: como me

Figura 31 - Harvey, em apresentação

tornei invisível

Site, Editora Pulo do Gato.

Site, Editora Pulo do Gato.

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Em termos compositivos e de diagramação, por vezes os enquadramentos lembram as aproximações e baques tidos pelo cinema, enquanto em outras nos remete às compartimentações presentes nas HQs, com diálogos advindos diretamente dos personagens em cena, em que textos e imagens são indissociáveis, como o mostrado pela Figura 32. Quanto a tipografia, a aplicação lembra o manuscrito de letras de fôrma, comum da caligrafia das crianças. Visualmente e morfologicamente, entre letras maiúsculas e minúsculas, a escolha potencializa a narrativa de primeira pessoa idealizada por Harvey e sua ingenuidade, como presente na Figura 33. Em algumas ilustrações, a percepção advém da própria perspectiva real e imaginativa de Harvey, em outras, há um “terceiro observador” que capta o menino e a visualização ao redor.

Figura 32 - Diagramação em compartimentos Site, Editora Pulo do Gato.

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De modo geral: é muito interessante como a história consegue falar tanto com crianças como com adultos. A linguagem das ilustrações não é pesada, no sentido de fazer mal a quem lê, mas tem o seu impacto, principalmente pelas cores e narrativa, junto com a cadência de diálogos e argumentações protagonizadas pelo menino Harvey. A história possibilita diferentes interpretações e pode ser lida em momentos difíceis como forma do leitor se ver espelhado e compreendido.

Figura 33 - Harvey relembra falas de seus familiares Site, Editora Pulo do Gato.

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Análise 3 Livro: Adaptação acessível da obra original: Kafka e a Boneca Viajante Autores: Jordi Sierra I. Fabra Ilustrador: Pep Montserrat Realização: Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência de São Paulo (SEDPcD); Centro de Tecnologia e Inovação (CTI) e execução por Mais Diferenças Análise focal: “storytelling”; estilo de ilustração; suporte físico com adaptação para o digital e paleta cromática Acesso: Demonstração audiovisual – Mais Diferenças e CTI. O livro, originalmente, é um livro com ilustração, mas em sua versão audiovisual, as ilustrações, mesmo que poucas, foram bem utilizadas, dando movimento a história. Os dados da tabela ao lado pertencem a obra física original.

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Dados técnicos Kafka e a Boneca Viajante Título Autor Ilustrador Editora Ano e edição Formato Valor aproximado

Kafka e a Boneca Viajante Jordi Sierra I. Fabra Pep Montsserrat Martins Fontes 2009 | 2ª Edição 20.8 x 13.8 cm R$ 32,00

Características materiais Miolo Capa Tipo de encadernação Texto x Ilustração Tipografia

Papel Offset, 128 páginas Capa flexível com orelhas (sem dado de gramatura ou papel) Lombada quadrada / Brochura Há predominância de texto em relação a ilustração Na capa, tipografia serifada com contrastes bem acentuados. No miolo, mais especificamente no corpo de texto, também. Matizes em tons frios, forte presença da

Paleta de cores Atributos

cor preta; algumas vezes, sombras bem acentuadas; adição de cores que evidenciam o clima da Alemanha. Não há

Tabela com base em dados técnicos da obra publicada.

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Considerações – Adaptação acessível da obra original: Kafka e a Boneca Viajante Franz Kafka é um importante escritor do século XX, autor de livros como A Metamorfose (1997) e O Processo (1997), que viveu uma vida cheia de dificuldades. Ainda jovem, aos 40 anos, já aparentava ser mais velho do que realmente era. Era muito doente e pouco antes do fim de sua vida, quando foi a mais um de seus passeios no parque de “Steglitz”, em Berlim, deparou-se com uma garotinha chorando pela perda de sua boneca. Com curiosidade e aperto no coração ao vê-la sofrendo, aproximou-se para entender o que a havia deixado tão triste. Quando descobriu o ocorrido, ele teve uma ideia e fez uso de sua astúcia de escritor para com fantasia, acalmar a menina, inventando para ela que sua boneca na verdade havia se tornado uma “boneca viajante” e tendo ela viajado pelo mundo, endereçou a Kafka — o carteiro de 106

bonecas — muitas cartas, para que finalmente fossem entregues a sua antiga dona — a então, jovem menina. O próprio escritor, dessa “boa mentira” para acalmar a nova amiga, ficou semanas fazendo-lhe cartas se passando pela boneca, o que a acalentou, pois Kafka a garantiu um bom destino em seu mundo de fantasia. Esta história baseada em fatos reais e escrita por Jordi Sierra I. Fabra é originalmente contida em um livro com ilustração, que no site da Mais Diferenças encontra-se disponível em vídeo acessível, com curtas animações dos personagens e elementos; audiodescrição, narração, explicação de termos e objetos presentes na história; efeitos sonoros, melodia, texto com ampliação e libras.


Figura 34 - Ilustração de introdução. Mais Diferenças e CTI.

Esta imagem (Figura 34) dá entrada ao vídeo com uma audiodescrição do ambiente. A voz neste momento é masculina. O envelope e o chapéu se mexem durante a descrição, em direção ao canto esquerdo até que ambos, enfim, desaparecem. Ambos os elementos se relacionam a Franz Kafka e sua função temporária como carteiro de bonecas. Este recurso de deixar pistas ou sinais do que acontecerá a frente na história, com elementos significativos

em “takes” anteriores ao momento em que eles enfim, farão sentido, é muito comum do cinema. Passada a audiodescrição, inicia-se a contação de história feita por uma narração feminina. Ao que parece, a alternância entre vozes masculina e feminina faz-se necessária para deixar claro aos ouvintes o que é o que: qual voz encorpa a audiodesrição e qual voz forma a narração. O vídeo ainda conta com o apoio de uma intérprete 107


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Figura 35 - Intérprete de Libras I

Figura 36 - Intérprete de Libras II

Mais Diferenças e CTI.

Mais Diferenças e CTI.

de libras, (Figuras 35 e 36) enquanto o mesmo texto narrado é passado na tela em uma tipografia slab serifada justificada à esquerda, nesse ponto, talvez seria o mais adequado um alinhamento a esquerda ao invés de uma justificação. A escolha, no entanto, da tipografia e da ampliação, se mostraram adequadas a leitura, exceto, nas vezes em que o texto é exposto em cor clara sobre um fundo claro e vibrante. Em alguns trechos, onde há pausas na história, há a exposição e descrição de algumas das ilustrações, aparentemente as

que mais demonstraram a interação estabelecida entre Kafka e a menina. Na Figura 37 é a primeira vez que Kafka se dirige a ela. Como é possível observar, a ilustração apresenta texturas e pinceladas. A paleta carrega tons frios que indicam certa melancolia, tristeza e o clima habitual da Alemanha. Com bastante presença da cor preta, há algumas contrastantes características que diferem a personalidade de Kafka da menina. Sua feição tem boas marcações, aparentemente chegadas de uma vida difícil com a complicação de seu estado de saúde.


Figura 37 - Kafka visivelmente cansado

Figura 38 - Kafka consola a menina

Mais Diferenças e CTI.

Mais Diferenças e CTI.

Tais evidências parecem ter sido representadas nos acúmulos de sombras que envolvem seu pescoço, costeletas; aproximam-se do nariz e dos olhos. Suas sobrancelhas também, da forma como estão posicionadas, atribuem-lhe uma aparência cansada. Nas imagens (Figuras 37 e 38) Kafka se aproxima da menina que desata a chorar, oferecendo-lhe consolo e perguntando sobre o ocorrido. A trama se estende entre efeitos sonoros, com o choro da menina e uma melodia ao fundo, dos quais juntos estabelecem uma perfeita harmonia.

Além disso, quando há diálogos entre Kafka e a menina, há mudanças de entonação na voz da narradora, que na maior parte da trama demonstra passividade, e que em outras, deposita altos e baixos de emoção nos momentos convenientes a história. Tal adaptação garante mais vivacidade e qualidade de leitura.

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Figura 39 - Pausas com definição de palavras.

Figura 40 - Demarcação de palavras.

Mais Diferenças e CTI.

Mais Diferenças e CTI.

Este trecho, da Figura 39, mostra uma das pausas estabelecidas a partir de algumas palavras-chave, talvez desconhecidas pelo público. Por se tratar de palavras ou termos simples, para alguns leitores / ouvintes mais experientes, pode não fazer tanto sentido, mas para as crianças, principalmente as mais novas, é um recurso bem-vindo. Sempre que essas palavras ou termos novos aparecem, é feito um destaque em amarelo como demonstrado na Figura 40 seguida de explicação, como na Figura 39. 110

Figura 41 - Momento de interação entre Kafka e a menina Mais Diferenças e CTI.


Figura 41 - Kafka lê cartas da boneca. Mais Diferenças e CTI.

De modo geral: a história é muito bonita e toda e adaptação da obra original passada para um livro acessível, com direito a variados recursos, a sustentaram muito bem. O trabalho da Mais Diferenças, na minha opinião, contempla mesmo a diversidade, fazendo o conteúdo audiovisual interessante para crianças, jovens e adultos com deficiência ou não. Além disso,

a ilustração base idealizada por Pep Montsserat, parece mesmo conseguir transmitir pelas cores e pelos traços quem era Franz Kafka, quem era a menina — ao menos na imaginação, já que não se tem notícia exatamente de como ela era — e como eram a ambientação e o experienciar das emoções e fantasias da história.

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Perfil do público-alvo – Questionário voltado às pessoas com baixa visão O público-alvo foi traçado a partir de uma pesquisa híbrida: quantitativa e qualitativa, onde a intenção era captar algumas percepções pessoais que pudessem auxiliar a criação de um produto não somente direcionado às pessoas com baixa visão, mas com a participação delas no processo. Portanto, as perguntas levaram em consideração questões como: preferência por temáticas — dentro das diretrizes do projeto — preferência de atributos, experiência já obtida e experiência desejada. A divulgação do questionário abrangeu as principais mídias sociais, como: • Facebook – Em página pessoal e grupos como Albinos do Meu Brasil e do Mundo; Pessoas com Deficiência; Portal da Deficiência Visual; Deficiência visual e seu espaço entre outros. • WhatsApp – Em conversas individuais — “chats” — e grupos; • Instagram – Em conversas individuais — “directs” — página pessoal, “stories” e página do Albinismo em foco.

Também se obteve ajuda por parte de amigos e colegas, que compartilharam com aqueles que conheciam e faziam parte do público-alvo. 113


Imagens de divulgação Por se tratar de um público-alvo muito específico, ainda mais pela busca daqueles que apresentavam 30% ou menos da visão de seu melhor olho mesmo com correção; a filtragem do público-alvo foi feita a partir do recorte de porcentagem exposto logo na apresentação do questionário, como um aviso. Nos grupos e nos textos de divulgação onde eram atribuídas as imagens das Figuras 42 e 43, o mesmo aviso também foi adicionado às legendas. Neste momento, em que ainda não se tinha nada visível do projeto final, a identidade visual para as peças foi pensada de modo estratégico, visando o momento e o que se desejava construir dali para frente.

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Figura [42 - 43] Imagens de divulgação Produção autoral.

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Dos resultados obtidos – Público traçado Em uma análise geral: 49% das pessoas que responderam são adultos enquanto 50,8% das pessoas estão no grupo de adolescentes-jovens, jovens-jovens e principalmente no grupo dos jovens-adultos. As classificações de nomenclatura seguem como base o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a tendência internacional. (ANDI, [2020]). Desse modo, a pesquisa irá considerar o público com maior evidência (Figura 42): dentre os 12–29+ anos para a concepção do formato, estilo de ilustração, abordagem temática e demais recursos.

Figura 44 - Público traçado. Produção autoral.

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Das impressões pessoais O questionário trouxe as impressões de diferentes pessoas com base em suas experiências pessoais. Alguns indicaram tamanhos específicos de fonte; outros comentaram sobre a ergonomia, funcionalidade, paleta de cores... opiniões valiosas, reais e que serão consideradas na etapa prática. Estas foram algumas das respostas dadas a pergunta número 2:

Você já teve contato com livros ilustrados e acessíveis? Se sim, com quais? E se não, o que você acredita que melhor auxiliaria na leitura de um livro ou texto? “Eu leio livros convencionais, entretanto creio que noções de Ergonomia Visual possam ser bem úteis como: fonte grande, e sem serifa, contraste, não misturar cores fortes e tons pastéis etc.”

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“Sim, mas foram livros de reproduções feitas por universidades/fundações em braille ou mesmo projetos acadêmicos. No geral, acho válido considerar fontes maiores que 12, espaçamentos e margens.”


“Nunca tive contato com livros ilustrados e acessíveis. Atualmente eu procuro livros que tenham fontes maiores ou quando não encontro livros com esse tipo de fonte eu leio com o auxílio de uma lupa.”

“Na minha infância, tive contato com muitos livros ilustrados. A maioria dos livros infantis possuem ilustrações... Alguns deles eram acessíveis, pois a fonte era grande, facilitando minha leitura, outros nem tanto. Para mim o que melhor auxiliaria na leitura de um livro é um texto com fonte ampliada.”

“Sim, mas não lembro os nomes. Livros produzidos pela empresa Mais Diferenças que julguei bons. E alguns que reprovei. O que é belo aos olhos de quem vê não é acessível como na prática.” 119


“Nunca tive contato com livros ilustrados e acessíveis. Atualmente eu procuro livros que tenham fontes maiores ou quando não encontro livros com esse tipo de fonte eu leio com o auxílio de uma lupa.”

“Na minha infância, tive contato com muitos livros ilustrados. A maioria dos livros infantis possuem ilustrações... Alguns deles eram acessíveis, pois a fonte era grande, facilitando minha leitura, outros nem tanto. Para mim o que melhor auxiliaria na leitura de um livro é um texto com fonte ampliada.”

“Sim, mas não lembro os nomes. Livros produzidos pela empresa Mais Diferenças que julguei bons. E alguns que reprovei. O que é belo aos olhos de quem vê não é acessível como na prática.” 120


“...O que acredito que facilitaria na leitura de um livro/texto é o tamanho e tipo de fonte. Mas, em viagem ao exterior, em alguns museus que visitei tive acesso a guias acessíveis. Eram encadernados com letras gigantes (maiores que tamanho 18) disponíveis nas salas de exposição, que traziam os textos daquelas plaquinhas que geralmente ficam ao lado dos quadros/esculturas e que possuem letras minúsculas. Isso tornou a experiência muito mais agradável. Hoje em dia, de modo geral, os livros têm saído cada vez mais com letras com tamanho de fonte reduzido. Já desisti de ler alguns livros impressos por conta disso.”

“Nunca tive contato com livros táteis, mas acredito que seja algo muito bom para pessoas com baixa visão.”

“É difícil encontrar livros com fonte igual ou maior que 12, fonte de pelo menos 14 seria o ideal.” 121


Das preferências das pessoas com relação aos complementos e temáticas propostas As pessoas que responderam também puderam escolher entre os complementos que mais consideravam interessantes e acessíveis. Ganharam em votação, conforme Tabela: Preferência por complementos; Resolução de Questionário Audiodescrição Interpretação Música Relevo e textura Outros

70,6% 51% 51% 2% 6% citaram o uso de pequenos vídeos (2%) fonte ampliada (2%) e atribuição de outros recursos que não fosse áudio (2%).

Tabela feita com base na resolução do Questionário voltado ao público-alvo.

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Também, puderam escolher e indicar as temáticas das poesias que irão constituir o livro, conforme Tabela: Preferência por temáticas; Resolução de Questionário Amizade

70,6%

Amor Família Ansiedade Timidez Depressão Saudade Outros

70,6% 62,7% 62,7% 58,8% 41,2% 37,3% 18%

Tabela feita com base na resolução do Questionário voltado ao público-alvo.

É interessante perceber que as pessoas preferiram os temas neutros, leves ou até mesmo alegres ao invés dos temas tristes ou de impacto negativo, como depressão e saudade. Também na escolha “Outros” onde era possível escrever a preferência específica por algum tema, os participantes indicaram temas como: educação, responsabilidade social, diversidade de raça e gênero; inclusão e autoaceitação; história, filosofia e romance entre outros, inclusive alguns que se distanciaram do foco do projeto, como contabilidade e economia. O questionário encontra-se disponível em Anexos.

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Considerações – Entrevista com Cecilia Pera Cecilia Pera é Psicóloga e Psicopedagoga no SEAPP em São Paulo, com experiência no acompanhamento pedagógico de crianças e jovens com cegueira ou baixa visão. Quando foi feita a entrevista com PERA (2021) ainda não era certo se o público a ser trabalhado seriam as pessoas com deficiência visual no geral — cegos ou com baixa visão — ou somente as pessoas com baixa visão; e nem se seriam crianças ou se seriam jovens na faixa-etária a ser definida. Sua entrevista fomentou a justificativa da pesquisa, quando era necessário avaliar o público-alvo e quais eram os potenciais nas possíveis escolhas. A fala de PERA (2021) trouxe conhecimento e entendimento acerca dos efeitos que poderiam ser alcançados a partir de uma experiência dimensionada das emoções em formato de livro. Além disso, destacou que muito do que a pessoa com deficiência visual interpreta, 124

depende muito de seu repertório, o que foi esclarecedor às considerações, uma vez que antes de sua fala, era tido que a responsabilidade do entendimento das pessoas sobre uma determinada ilustração, relevo ou similares partia majoritariamente do Designer ou Ilustrador, quando na verdade não há necessidade de sempre se prender a regras tão restritivas, ainda mais no tratar de algo artístico e no direcionamento da obra às pessoas que ainda possuem a visualidade mesmo com certa limitação, não significando, portanto, sua perda total. As perguntas da entrevista bem como o link que dá acesso às respostas de PERA (2021) estão disponíveis em Anexos.


Figura 45 - Entrevista com Cecília Pera A identidade da imagem segue a linha das peças de divulgação do questionário. Produção autoral.

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Fazer, expandir e enfim, Sentir

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Desenvolvimento A etapa de desenvolvimento foi intensa e prazerosa. Intensa pelos desafios, e prazerosa porque estive em contato com mais de uma técnica e tipo de material, para os quais foram necessários o estudo prévio, e com isso, replanejar as etapas para se trabalhar com o desconhecido e tirar bons resultados a partir dele. E confesso... que aprender o novo é uma das coisas que mais me motiva e presenteia com a emoção da primeira vez, da exploração, em que se fez também presente um pouco da ansiedade. No fim deu tudo certo, e o elemento ao qual mais precisei me atentar a todo o momento foi ao tempo. Ele que muitas vezes parecia no controle e noutras simplesmente escapava dentre os dedos. Quanto aos desafios, referencio-me a eles: o de trazer uma sensação reduzida a uma dupla de página e ainda manter suas informações acessíveis; o de filtrar o que

era essencial e o que não era — o que para mim, com um estilo detalhado de ilustração, às vezes era difícil prever e conter — e o de trabalhar as cores muito bem ornadas e ainda assim contrastantes, o que com o andar do projeto, foi ficando mais fácil. Apesar de tudo, foi um processo enriquecedor; e a única coisa que ficou ainda em aberto foi conseguir trazer ainda mais poesias ao conjunto do livro, mas como é sabido... um projeto como este não se finda na banca de TCC. Sendo assim, quando possível em um segundo momento, ainda retornarei a este livro, farei possíveis melhorias e até mesmo complementações e novos volumes, algo já nos planos.

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Formato O formato é o primeiro requisito avaliado, pois abrange a organização tanto em páginas isoladas como em duplas, sendo determinante para a expressão e articulação entre textos e imagens (VAN DER LINDEN, 2018). A princípio, estudou-se a utilização de um formato quadrado ou horizontal para maior exposição das ilustrações, algo que lhes atribuísse certa continuidade. A ideia inicial era que o tamanho fosse estabelecido dentro de uma tradicional A4, com previsão de um maior aproveitamento de papel. Este requisito, que até então não havia sido definido, foi sujeito de uma análise apurada, uma vez que era preciso pensar no valor do produto final, o qual receberá diferentes acabamentos. Portanto, se é possível um corte econômico sem prejuízo ao resultado do livro-objeto, melhor será, tornando-o ainda mais acessível.

São algumas das opções pensadas, seguidas de referências como a obra “Adélia Esquecida” avaliada nos Estudos de caso, Análise 1 e outros como “Quero Colo” de Stella Barbieri e Fernando Vilela e “Amizade Especial”, produção autoral realizada em projeto de extensão cujo formato quadrado é bastante agradável e adentra-se a uma folha A4. Os primeiros tamanhos pensados foram os seguintes: •

20x25 cm (vertical/retrato) –

Inspirado no tamanho de “Adélia Esquecida” •

24x20 cm (horizontal/paisagem) –

Inspirado no tamanho de “Quero Colo!” •

20x20 cm (quadrado) – Inspirado

nos livros autorais realizados no projeto de extensão Brincar – Ludicidade e Inclusão do Centro Universitário Senac (Figura 46).

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Figura 46 - Livro autoral, Amizade Especial Publicação disponível em: <http://www. divulgacaocientifica.sp.senac.br/wp-content/ uploads/2019/10/Amizade-Especial-capacontra-capa-miolo-e-carta-ao-leitor.pdf> Acervo pessoal.

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Para a concepção do formato, foram feitos primeiramente dois bonecos manuais para teste. O ponto de partida foi pensar na área disponível para ilustração e se o livro seria majoritariamente sustentado pelas mãos ou colocado sobre uma base, como mesas e planos inclinados. Um foi feito com um formato retangular e o outro feito em um formato quadrado (Figuras 46 - 47, nas páginas seguintes).

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Figura 46 - Formato horizontal / paisagem aberto: 48x20 cm; com Indicações dos elementos que irão compor as páginas. Produção autoral.

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Figura 47 - Formato horizontal / paisagem fechado: 24x20 cm; com Indicações dos elementos que irão compor as páginas. Produção autoral.

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Figura 48 - Formato quadrado fechado e retangular aberto: 40x20 cm; com indicações dos elementos que irão compor as páginas. Produção autoral.

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Figura 49 - Formato horizontal / paisagem fechado: 20x20 cm; com indicações dos elementos que irão compor as páginas. Produção autoral.

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Depois dos testes manuais, dei início a etapa no computador, para certificação dos espaços e equilíbrio dos elementos na página. O teste no digital foi realizado com a música “Você Pra Sempre em Mim” de Tiago Iorc. A tipografia incorporada ao texto é a “Century Gothic”, que por mais que seja uma fonte recomendada, até mesmo por não ser serifada e ter um desenho geométrico simples, ainda não é a definitiva. O espaçamento entrelinhas também não é o definitivo. Como mencionado anteriormente, o teste consistiu maiormente na visualização inicial da posição dos elementos: o texto, o “QR Code” e a ilustração em funcionamento dentro da unidade do livro. Nas Figuras 50-54 é mostrado o processo de ilustração do menino “marcado” pela pessoa amada, a qual ele sente falta, e em seguida é mostrado sua aplicação na página dupla em um modelo de diagramação simples. Nesta ilustração de teste há uma iconografia com desenho de mão em vermelho, aparentemente de fácil leitura e com possibilidade de ser complementada com textura.

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Figura 50 - Esboço para música Você Pra Sempre em Mim Produção autoral. Compilação do autor.

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Figura 51 – Esboço com indicações dos elementos sensoriais Produção autoral.

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Figura 52 – Página dupla de 24x20 (fechada) e 48x20 (aberta). Margens superiores, inferiores internas e externas de 2 cm. Uma linha azul também foi traçada estrategicamente para alinhar o “QR Code” e não deixá-lo oculto pela medianiz. O corpo de texto foi definido em 24 pontos. Produção autoral.

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Figura 53 – Teste com a posição dos elementos na página. Mesma imagem da Figura 52, mas sem as indicações. O corpo de texto nesta dupla é o de 24 pontos. Produção autoral.

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Figura 54 – Teste com a posição dos elementos na página. Formato de 20x20 (fechado) e 40x20 (aberto). Margens superiores, inferiores internas e externas de 2 cm. Uma linha azul também foi traçada estrategicamente para alinhar o “QR Code” e não deixá-lo oculto pela medianiz. O corpo de texto é o de 24 pontos. Produção autoral.

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Dentre as escolhas demonstradas, o formato de 24x20 foi tido como o mais eficaz, tornando-se então a escolha definitiva, pois em meio aos objetivos compositivos, foi o tamanho que melhor atendeu aos efeitos especiais e semânticos desejados, dos quais são: amplitude; efeito espetacular; espaços vazios; reflexão; expressão; recortes e focos; surpresas e destaques, além de reservar espaço suficiente para os complementos sonoros e sensoriais, sem que estes viesse poluir a página. A diagramação dos testes anteriores foi elaborada de modo simples; e é certo que para propôr inovações, houveram mais estudos, que logo serão demonstrados no processo das páginas finais, tanto de composição como de ilustração. Inclusive com a invasão das ilustrações na página dupla e não somente na página sem conteúdo textual. Como já fora mencionado anteriormente, para a escolha do formato, segundo VAN DER LINDEN, 2018, é interessante pensar como o livro será sustentado, ainda mais com relação as necessidades da pessoa com baixa visão. No formato escolhido, foi visto nos testes de baixa fidelidade, com os bonecos manuais e impressão simples, que seu tamanho poderia garantir uma leitura mais agradável sobre uma superfície, tal como o apoio de uma mesa e/ou plano inclinado, ainda mais por se tratar de um livro extenso horizontalmente.

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Margens O formato também abrange a questão do tamanho do livro. Os manuais de diagramação distinguem três categorias de tamanho em função da mão do leitor: livros que abertos são segurados facilmente com uma mão, como os de bolso; livros que podem ser pegos com uma mão quando fechados, mas que seguramos com as duas durante a leitura; livros que pegamos com as duas mãos e devem ser lidos com algum suporte. Essa distinção permite determinar espaços e margens que precisam ser reservados para as mãos do leitor (VAN DER LINDEN, 2018, p.55).

Como elucidado pelo texto, as margens também se baseiam no formato e no manejar do livro. Nos primeiros testes, ocorreu-me a indagação: como fica o posicionamento das mãos sobre as bordas? Para encontrar respostas, inicialmente tomei como referência as margens de obras ilustradas já disponíveis, conforme Figuras 55 e 56. Na Figura 56, com base em todo o efeito semântico desejado, em testes e nas referências, foi acertado um tamanho de margem em definitivo.

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Figura 55 – Análise de margens, (Imagem 1) Livro Pedro Vira Porco Espinho, Janaina Tokitaka.

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Figura 57 – Análise de margens, (Imagem 2) Livro Quero Colo!. Stella Barbieri e Fernando Vilela.

Na Figura 57, é perceptível como a ponta do polegar se alinha com a margem do bloco de texto, posicionado logo acima, na parte superior da página ímpar. Dos livros analisados, notou-se que o tamanho das margens reservam espaço de 2 até 3 centímetros. As medidas foram tomadas como referenciais para a realização dos testes anteriores e também serão levadas para o projeto final. 147


Figura 58 – Teste sobre margens e sustentação. O tamanho das margens neste teste é de 2 cm. O usuário em questão tem idade de 28 anos e tem baixa visão, representando parte do públicoalvo. A leitura, mesmo que possível sem apoio, propõe exploração pelo toque, uso do celular e outros elementos, e portanto, foi vista como mais confortável sobre apoio. Acervo pessoal.

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Atmosferas - Inspirações No que diz respeito às cores, uma grande inspiração são as artes do ilustrador Willian Santiago, (compilado da Figura 57) que trabalha tanto paletas com tons contrastantes como paletas de tons monocromáticos, mas sempre exercendo pontos de destaque. A compilação abaixo demonstra sua boa relação com cores, texturas e simbolismos. Mesmo em ilustrações simétricas e simplificadas com formas, é interessante perceber como ele consegue deixar tais formas mais complexas com o uso de efeitos de sombra e profundidade. Em meu trabalho, que faço uso de transparências, pintura característica da aquarela e lápis de cor, a sua influência sobre meu processo para o livro poderá aparecer em iconografias presentes na ilustração, tal como no teste anterior (Figura 50).

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Figura 59 – Ilustrações diversas, Willian Santiago Behance, Willian Santiago. Compilação do autor.

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Estilos de ilustração Além das ilustrações da Figura 57, trago a exposição de ilustrações autorais e de outros ilustradores que admiro, os quais com seus estilos me influenciaram no traço e nos acabamentos do livro tátil e ilustrado. As ilustrações autorais (Figura 58 – 62) dispõem de detalhes. No caso do livro tátil e ilustrado esse detalhamento foi mantido, porém com a estratégia de trabalhar atributos que sintetizam a informação quando preciso.

Figura 60 – Memórias Produção autoral. Compilação do autor.

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Figura 61 – Extensão, Memórias Produção autoral. Compilação do autor.

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Figura 62 – O Assistir do Eclipse, Livro não publicado: Eclipse Produção autoral.

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Figura 63 – Enola Holmes Produção autoral.

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Figura 64 – Detalhes, Enola Holmes Produção autoral.

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Estas ilustrações das Figuras 65-67 inspiram pelo uso da reflexão (Keith Negley) uso de objetos concretos e afetivos (Willian Santiago) e cores vibrantes (Catarina Sobral). Suas obras foram exibidas, respectivamente:

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Figura 65 – Keith Negley

Figura 66 – Willian Santiago

Portfólio do autor.

Portfólio do autor.


Figura 67 - Catarina Sobral Portfólio do autor.

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Temas A principio, pensou-se muito se haveria a divisão das poesias por temas, mas durante a produção da representação das mesmas, percebeu-se que não valeria a pena a divisão marcada/anunciada, pois tal ação cortaria parte da surpresa e do impacto emocional que o virar de páginas de uma dupla a outra podem proporcionar. Por este motivo, houve sim uma reunião de poesias separadas pelos temas de ansiedade e depressão, amor, família, saudade e amizade, porém, o leitor só terá ciência desta divisão e do que se trata cada poesia pós leitura do conjunto ou texto isolado, preservando assim a novidade e a curiosidade, desejadas em sua trajetória perante a obra. Além disso, um ponto importante a ressaltar, é que os temas, as composições e as escolhas de poesias tiveram como maior ponto de seleção tudo aquilo que era tocante e emocional, portanto, não somente o questionário realizado com o público-alvo influenciou as escolhas, mas também a influência do lado de fora: das músicas, dos textos lidos e das próprias experiências. Tudo que fora abordado, foi pensado não só na revelação do interno mas também na empatia com os leitores, que provavelmente, já vivenciaram algumas das emoções e acontecimentos, registrados no livro.

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Grids - Livro

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Grids - Monografia

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Grids - Monografia

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Tipografia A seleção da tipografia foi um dos momentos mais complexos do projeto como um todo. Felizmente, o respaldo ganho na Fundamentação Teórica direcionou a procura por famílias de fontes compatíveis com os conceitos desejados, e ainda, foi possível contar com o apoio de pessoas especialistas no assunto, no caso, o professor Tadeu Costa, que muito gentil, compartilhou materiais que auxiliaram na guia de testes e na escolha tipográfica definitiva. Conceitos desejados • • • •

Próxima Amigável Acessível (de fácil leitura) Poética

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Congenial Font - Medium


Como será visto nos testes, a seguir, a tipografia que melhor cumpriu todos os requisitos buscados, inclusive em legibilidade e ar poético, foi a Congenial Font, família produzida por Laura Worthington, a qual foi lançada em 2015. Uma tipografia recente, mas com referência humanista. ”Congenial” em tradução livre significa “agradável” atributo marcante em sua anatomia pelos traços caligráficos e sinuosos, quebrando um pouco com o geometrismo, muito comum, visto nos livros para o público com baixa visão. Em seu guia de usos, sob tradução livre, Laura Worthington destaca os atributos da tipografia, realmente vistos nos testes e que enfim facilitaram a decisão por sua escolha: Com pesos mais leves, os traços tornam-se quase monoline, mas a tendência humanista ainda é evidente - veja as curvas graciosas e decididamente não geométricas do k, e, e do g. Como convém em seu nome, Congenial é uma fonte amigável e convidativa com uma generosa altura-x e caracteres altamente diferenciados. Na verdade, olhe de perto e você não verá uma reta modernista em qualquer lugar. Como um hospedeiro perfeito, Congenial atrai pouca atenção para si mesma, mas convoca tudo para um conforto sem esforço - então você pode concentrar-se em comunicar tudo o que precisa dizer. WORTHINGTON, LAURA, 2015, (n.p).

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Figura [68 -70 ] - Seleção de fontes; Fonte selecionada sobre teste 1; Fonte selecionada sobre teste 2. Produção autoral.

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Congenial Font - Especificações 1 0 pesos: Hairline, Ultra Light, Thin, Extra Light, Light, Regular, Medium, Bold, Heavy, Black. Caracteres: 413 caracteres por peso. DisponÍvel em: LauraWorthingtonType.com ou Adobe Fonts. Lançamento: Maio de 2015.

NOTA: Ainda, que na ausência de itálicos, a tipografia foi considerada, pois os itálicos, quando necessários, foram substituídos pelo uso de aspas simples sobre escrito ou pelos pesos light, medium e bold. Além disso, o uso de itálico não é recomendado para materiais destinados às pessoas com baixa visão (vide Fundamentação Teórica). Em seu lugar, recomenda-se as com eixo/estilo humanista, como é o caso da fonte Congenial.

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Processo das ilustrações Ao todo, foram trabalhadas 15 poesias. Cada qual demandou seu próprio processo. Na maioria delas, as palavras-chave e os textos de experiência planejada eram destacados em suporte específico. Quer fosse em um caderninho, “post-it”, software ou até mesmo nas próprias pranchetas/espaços de criação da ilustração. Passada esta etapa, era hora de organizar um “moodboard” e pós “moodboard”, de investir nos primeiros esboços. Quando não feito dessa forma... em alguns casos, a poesia visual era vislumbrada antes mesmo da textual, algo que ocorreu na maioria, senão em todas, as poesias autorais, pois estas antes de qualquer coisa, eram alimentadas por lembranças, das quais depois de rascunhadas, influenciavam a poesia escrita sem maiores dificuldades. Nas páginas a seguir, numa imersão sobre o processo criativo, as etapas que solucionaram cada dupla serão mostradas gradativamente, desde os pontos mais importantes até os mais complexos e de plena experimentação. A linearidade da sequência será guiada a partir da montagem do livro: Expandir e Sentir e trará como foco a explicação dos conceitos, dos pontos altos da elaboração e da finalização. Neste capítulo, por se tratar de uma produção pessoal, a abordagem será feita em primeira pessoa.

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Bagunça - Texto Por fora É tudo tão organizado... Alinhado, no lugar... Aparentemente, até esbanja alguma imponência Segurança e bem estar Mas aqui dentro... Ah, aqui dentro... É tudo tão bagunçado, Revirado, Por fazer... Que até custa me encontrar. — Milena Santos

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Ilustração, Poesia: Bagunça Tem audiodescrição/música?: Sim Possui atributos sensoriais? Não Harmonia em cores definida?: Sim, complementar, tríade e monocromática. Paleta dominante: Cores frias; cor azul. Desdobramento: Sobre dupla com face que quando aberta, lembra o mecanismo de um “folder”. Tema: Ansiedade e depressão


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Bagunça - Processo Na ilustração do texto Bagunça, a ideia é ter uma pilha de roupas bagunçadas, ilustrando tanto a bagunça tangível como a intangível da pessoa que as veste e personifica, pois esta está tão fora do eixo quanto o seu entorno; e sua visão fragmentada reflete esta questão. A questão de que muitas vezes a pessoa ansiosa deixa as coisas pela metade, entra em conflito consigo mesma e se perde em meio às suas emoções e afazeres, tentando progredir mas falhando muitas vezes. É uma interpretação majoritariamente pessoal passada ao leitor. Para as cores, procurou-se alcançar uma harmonia entre matizes quentes e frios. Entre os elementos, o rosto da personagem é visto como ponto focal, a começar pela composição de sua face: estando um de seus olhos, boca e nariz a mostra. A face de uma pessoa geralmente chama atenção em primeira instância em comparação com 176

outros elementos, haja visto os anúncios em que se apropriam da face de modelos. Sendo assim, a ideia central foi equilibrar as cores por diferentes direções, com base na vibração, de modo que a cor mais vibrante fosse de encontro com a o rosto da personagem, tornando-a foco da composição. Em termos de complexidade, esta ilustração foi avaliada como a mais difícil em comparação com às das páginas seguintes, tanto para a interpretação, pela quantidade de elementos e acontecimentos sincronizados, como pela gestão dos pontos essenciais. Para tal, como complemento adaptativo e de facilitação, foi prevista uma audiodescrição em “QR code” - Que estará disponível somente na apresentação deste projeto.


Neste esboço, a ilustração foi pensada de modo que os elementos fossem colocados em lugares aleatórios, numa verdadeira desordem. No desenho, há peças de roupa e membros do corpo da personagem, junto a falas que indicam seu descontrole.

Figura 71 – Primeira ideia para a ilustração do texto: Bagunça. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura 72 – Mais ideias, Bagunça Acervo pessoal. Produção autoral.

Já neste desdobramento da ideia 1, procurou-se pensar a ilustração em uma dupla, entre articulação de textos e mecanismos. Aqui, surgiu a ideia de trazer um guarda-roupa, com membros e peças de roupa configurando-se de forma conflituosa, num duplo sentido, mas sem ser ilegível.

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Figura 73 – Bagunça sem espaço físico I Acervo pessoal. Produção autoral.

Neste esboço, já pronto em uma folha para pintura, a ideia se baseia na primeira imagem desta sequência, em que os elementos não ocupam um campo físico em específico, mas estão flutuando, desalinhadamente. O mesmo se repete na Figura 74, na página a seguir.

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Figura 74 – Bagunça sem espaço físico II Acervo pessoal. Produção autoral.

Tal ideia foi descontinuada (Figura 74), e foi dada preferência a ideia do item 3, da Figura 72. Esta mostrou-se mais atrativa, até mesmo pelo mecanismo de porta, explorada na dupla. Decidiu-se então, até para melhor gestão e flexibilidade dos elementos em separado, difundi-la no digital, conforme a Figura ao lado.

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Abaixo, foi experimentada a técnica de escala de cinza sobre o esboço final. A técnica consiste em promover uma visualização prévia sobre os valores de luminância, do que está claro e do que está escuro, permitindo uma coordenação mais assertiva no planejamento do contraste: no que chamar mais ou menos atenção, e então, passar a imagem para o colorido delimitando melhor os contrastes. Por se tratar da primeira ilustração realizada, esta etapa foi importante para driblar a insegurança no uso das cores.

Figura 75 – Esboço digital + Valores. Produção autoral.

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Figura 76 – Ilustração Bagunça, processo no computador. Peça descontinuada. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura 77 – Bagunça, peça descontinuada. Acervo pessoal. Produção autoral.

No processo de pintura e na alocação de novas peças do vestuário, houveram tentativas falhas e descontinuadas, como o progresso das peças nas Figuras em questão.

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Por este motivo, em meio aos erros, a revisita na Fundamentação Teórica (Aprofundando...) e em outras fontes que tratavam sobre cor, contraste e legibilidade, foi importante para fechamento das seguintes conclusões: • Uso de cores complementares para que uma rebata a outra, e dê mais atenção para o que "deve" ser visto primeiro. • Algumas peças foram pensadas de modo que mesmo estando bagunçadas, possam ser reconhecidas, enquanto outras, ao fundo e numa vibração de cor menor, servem como complemento e simulação de volume a composição, dando palco às roupas mais identificáveis, mesmo que uma ou outra peça coadjuvante possa ter algum detalhe passível de ser observado.

Pós estes alinhamentos, foi dado prosseguimento a ilustração, entre alternância de cores, composição, rotação, acréscimo de roupas etc. sendo o foco sempre o de rebater cores entre elementos próximos. o resultado final pode ser visto na Figura 80.

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Figura 78 – Ordenando a composição Acervo pessoal.

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Assim desdobrou-se o processo da página contendo o guarda roupa e elementos.

Figura 79 – Progresso, Bagunça 1 Acervo pessoal.

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Figura 80 – Progresso, Bagunça 2 Acervo pessoal. Produção autoral.

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A porta, face que abre e propõe uma breve interação com o leitor, também passou por algumas versões anteriores à definitiva (página ao lado). A maior dificuldade neste ponto, foi dar ao interior do guarda roupa certa personalidade, atribuídos a personagem. Com efeito, foram feitas experimentações, sempre cuidando da legibilidade, para que fosse mantida o máximo possível.

Figuras [81 – 82] - Versões anteriores de porta Produção autoral.

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Figura [83 – 84] - Frente e verso. Porta com adesivos e posteres que revelam a personalidade e o estado emocional da personagem. Acervo pessoal.

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Brincar de Pensar - Texto Mas devo avisar. Às vezes começa-se a brincar de pensar, e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar conosco. Não é bom. É apenas frutífero. — Clarice Lispector

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Ilustração, Poesia: Brincar de Pensar Técnica: Aquarela, caneta nanquim preta e finalização digital. Tem audiodescrição/música?: Não. Possui atributos sensoriais? Não. Harmonia em cores definida?: Sim, tríade, análoga, monocromática sobre fundo negativo. Paleta dominante: Cores frias; cor azul. Desdobramento: Dupla. Tema: Ansiedade e depressão.


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Brincar de Pensar - Processo Nesta ilustração, o objetivo maior foi expandir o sentido semântico do poema para algo visual. Tendo como ponto de partida o verso “...o brinquedo é que começa a brincar conosco” que a ideia de trabalhar os pensamentos maiores do que o próprio ser pensante apareceu, e logo, a transferi para o papel. Na paleta, foram trabalhadas cores que contrastam e chamam atenção para pontos específicos e ainda, cromas com base nas emoções e “humores flutuantes”. Tais como a alegria vista no “humor amarelo”, e a tristeza, no “humor azul”. Pensando na abertura de página dupla, a personagem sobre a cama fica alocada ao lado direito e as emoções ao lado esquerdo. Numa visão em perspectiva que é vista de cima, as emoções estão suspensas no ar. Todos os elementos representando tais emoções, foram trabalhados com maior escala em relação a página da direita para que fossem melhor visualizados. O desenho foi iniciado e pintado parte no papel, em aquarela com contorno de caneta nanquim e finalizado no computador com o experimentar de tipos diferentes da principal.

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Figura 85 – Brincar de pensar, esboço.

Figura 86 – Brincar de pensar, menina

Acervo pessoal. Produção autoral.

Acervo pessoal. Produção autoral.

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Na dupla. foram trabalhados variados simbolismos, tais como: sonhos (representados pela figura de um balão); “humores flutuantes”; horas que “voam”; pensamentos que se multiplicam e formam redundâncias (tais como asas em balão, relógios e números repetidos) e lembranças (representada pelo “vislumbre” de uma casa e pelas crianças correndo ao seu redor). Tudo acontecendo num plano irreal, apenas na mente... Do mesmo modo que ocorre o pensar da mente ansiosa e até mesmo, o maltratar da bipolaridade. A página com os pensamentos começou sendo editada dando maior vasão aos elementos feitos manualmente. Posteriormente, editando e explorando o programa Photoshop e as diferentes tipografias para a obtenção dos números, chegou-se finalmente numa composição mais satisfatória de técnica mista, vista a seguir.

Figura 87 – Humores flutuantes Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura 88 – Início de edição, Brincar de Pensar Acervo pessoal. Produção autoral.

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O fundo branco foi substituído por um fundo escuro para evidenciar a força e o volume dos pensamentos. Os relógios, feitos manualmente, foram trocados pelos feitos no digital, por desempenharem melhor leitura e acabamento.

Figura 89 – Início da edição, 2 Produção autoral.

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Figura 90 – Experimentação, técnica mista, final Acervo pessoal. Produção autoral.

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Meu Coração - Texto E todas as pessoas que falam pra me consolar Parecem um bocado de bocas se abrindo e fechando sem ninguém pra dublar Eu já disse adeus antes mesmo de alguém me chamar Não sirvo pra quem dá conselho Quebrei o espelho Torci o joelho, não vou mais jogar [...] — Arnaldo Antunes

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Ilustração, Poesia: Meu coração. Técnica: Aquarela. Tem audiodescrição/música?: Sim. Possui atributos sensoriais? Não. Harmonia em cores definida?: Sim, tríade e complementar. Paleta dominante: Não há. Desdobramento: Dupla. Tema: Ansiedade e depressão.


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Meu Coração - Processo A ideia para esta dupla consistiu em trazer diversidade em meio às combinações complementares. Variadas bocas “...se abrindo e fechando sem ninguém pra dublar...”. Tal trecho retratado de forma literal foi o que mostrou-se como o mais coerente, dado que um elemento quando repetido muitas vezes (mesmo com variações) pode tornar a identificação da mensagem simplificada, pois é visto que a figura de uma boca confirma a outra.

Figura [91 – 92] - Testando cores Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura 93 – Pintura segundo harmonias pré-definidas Acervo pessoal. Produção autoral.

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Lua Adversa - Texto Tenho fases, como a lua, Fases de andar escondida, fases de vir para a rua… Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! [...] - Cecília Meireles

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Ilustração, Poesia: Lua Adversa. Técnica: Digital. Tem audiodescrição/música?: Não. Possui atributos sensoriais? Sim. Harmonia em cores definida?: Não. Paleta dominante: Alto contraste atribuído com cor vermelha. Desdobramento: Dupla. Tema: Ansiedade e depressão.


Lua Adversa - Processo Para a poesia de Lua Adversa, da autora Cecília Meirelles; foram pensadas cerca de três ideias, sendo a mostrada por etapas a escolhida, por representar uma melhor performance de identificação por parte da pessoa com baixa visão. Primeiramente, foi pensado que a feição de uma personagem poderia estampar alternados dias das semanas de um calendário, representando cada fase. Uma ideia de simples representação, mas talvez não com tanta dramaticidade como era pretendido. Por isso, pensando mais, pensei em representar ainda com uso de uma personagem, seus diferentes “estados de humor” com o apoio de uma ênfase maior, pois se tratando de uma poesia dentro da temática de ansiedade e depressão, não faria sentido se a personagem demonstrasse contrastes sutis, mas sim perceptíveis, notadamente advindos de uma espécie de distúrbio, que

senão ansiedade ou depressão, algum próximo ou entre eles, tal como o transtorno de bipolaridade. A partir deste pressuposto, busquei fazer leitura de textos que tratassem com maior profundidade o assunto de mudanças de fases atrelada às fases da lua e do ciclo menstrual; e também leitura de como funcionam as mudanças repentinas de humor numa pessoa bipolar, para que fosse possível compor as possíveis relações numa ilustração. Foi como cheguei no resultado final de Lua Adversa, desdobrado neste processo.

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Figura 94 – Enquadrando as luas. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura 95 – Esboço das personalidades. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura 96 – Lua nova; Crescente. Os atributos sensoriais estariam presentes nas luas, em textura camurçada. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura 97 – Lua cheia; Minguante. Os atributos sensoriais estariam presentes nas luas, em textura camurçada. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Quando Meu Rosto Contemplo - Texto Quando meu rosto contemplo, o espelho se despedaça: por ver como passa o tempo e o meu desgosto não passa. Amargo campo da vida, quem te semeou com dureza, que os que não se matam de ira morrem de pura tristeza? - Cecília Meireles

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Ilustração, Poesia: Quando Meu Rosto Contemplo. Técnica: Aquarela. Tem audiodescrição/música?: Não. Possui atributos sensoriais? Não. Harmonia em cores definida?: Não. Paleta dominante: Azul e vermelho. Desdobramento: Dupla. Tema: Ansiedade e depressão.


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Quando Meu Rosto Contemplo - Processo Aqui, a vida do eu-lírico é entendida como uma flor enquanto o vaso com água representa a fonte de onde esta mana suas forças para continuar vivendo. Forças essas próximas de se esgotarem... é uma vida que está murchando, e ao encarar seu próprio reflexo feito de lágrimas, ela chora ainda mais, copiosamente. Para esta dupla com texto de Cecília Meireles, inicialmente pensei em uma interação vertical, em que o leitor poderia virar o livro. Após este pensar, segui com a ideia e a esbocei finalmente. Pintei as partes escuras e depois as claras e vibrantes. Me foi um caminho, mas a flor ainda não satisfazia... Tentei mais uma vez, e tomei como referência a flor da primeira ideia. Quando feito o novo esboço, este aparentou mais dramaticidade que sua versão anterior – primeira flor já colorida – então segui com ela. Após esta segunda tentativa que deu certo, na diagramação ainda sem saber como encaixar, foram feitas experimentações e a ideia da flor na vertical foi abortada, tanto porque passou a não fazer sentido como porque poderia causar ruído na percepção do público-alvo.

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Figura 98 – Primeiro esboço, flor em vertical

Figura 99 – Flor sobre papel final

Acervo pessoal. Produção autoral.

Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [100 – 101] Primeira tentativa, descontinuada Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [102 – 103] Segunda tentativa, final Acervo pessoal. Produção autoral.

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Você Pra Sempre em Mim - Texto A lembrança do teu jeito Me faz querer te amar uma vez mais Teu riso Meu norte Na tua mão Meu coração Quero te abraçar, te beijar Quero te amar devagar E pra onde for vou te levar Meu amor Por você não vai ter fim E eu sei Que vai ser pra sempre assim Você pra sempre em mim - Tiago Iorc

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Ilustração, Poesia: Você pra sempre em mim. Técnica: Aquarela. Tem audiodescrição/música?: Sim Possui atributos sensoriais? Sim Harmonia em cores definida?: Sim, complementar e análogas. Paleta dominante: violeta, azul e amarelo. Desdobramento: Três duplas. Tema: Amor.


Você Pra Sempre em Mim - Processo As ilustrações de “Você pra Sempre em Mim” foram pensadas de modo a mostrar as marcas de amores tanto tangíveis como intangíveis. Tal poesia convida o leitor para que experiencie “marcas” e sinais de amor e afeto. As ilustrações não finalizam a compreensão no ponto onde são mostradas. Elas abrem possibilidades enquanto a música, tanto escrita como ouvida, nos convida a suspirar e memorar um amor... o amor de uma mãe, o amor de um filho, o amor que para nascer deixou sinais no corpo físico ou até mesmo na alma. Qualquer amor. Para a coloração, procurou-se por matizes que conversassem tanto com o sentimento de amor, como a tradução daquilo que é pequeno, como na relação com o menino e a cor rosa + a concentração de pigmentos com características místicas, para representar a alma, tal como o violeta e o lilás. Outras cores, como o amarelo e o azul, foram escolhidas de modo a orientar atenção e contraste para pontos específicos, como nos pontos focais com uso de amarelo e vermelho; e de divisão, por intermédio da cor azul. O fundo em amarelo contrastante, já fora desde o início previsto, dado que o contorno possivelmente seria feito em azul ou violeta e o amarelo cor complementar. Assim como foi anteriormente previsto, logo, resultou a combinação que melhor pareceu adequada.

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Figura [104 - 107 ] Andamento de todas as ilustrações Acervo pessoal. Produção autoral.

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Visualização - duplas

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Visualização - duplas

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Bilhete - Texto Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda... - Mário Quintana

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Ilustração, Poesia: Bilhete. Técnica: Digital. Tem audiodescrição/música?: Não. Possui atributos sensoriais? Não. Harmonia em cores definida?: Sim, monocromática; lineart sobre fundo negativo. Paleta dominante: Rosa, lilás e verde. Desdobramento: Dupla, com interação de um envelope. Tema: Amor.


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Bilhete - Processo Bilhete trabalha com a temática do amor jovem ou com a paixão que está se transformando em amor. Uma interpretação pessoal sobre o texto de Mário Quintana. O amor, que é um sentimento duradouro, sublime, leve... Não acorda passarinhos com alarde, mas se deixa sentar tranquilamente e contemplar seus cantos. A partir deste entendimento, o bilhete tem sua incorporação mais silenciosa, porém marcante e com acabamento que lembra o artesanal, que de modo sutil, convida o leitor a interagir e participar do poema no abrir de um envelope.

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Figura 108 - Padrão para parte interna do envelope. Produção autoral.


Figura 109 - Envelope, esboço.

Figura 110 - Bilhete, decalque para tentativa

Acervo pessoal. Produção autoral.

manual. Esta ideia não foi levada a frente dando preferência ao bilhete digital. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura 111 - Bilhete e envelope feitos no digital. Parte do texto que detém fonte manuscrita, só foi inserida em destaque e chamadas. Medidas Bilhete: 13x16 - Aberto. Medidas Envelope: 14x10. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Dentro do “bilhete” o passarinho é o que aparece como o possível ser incomodado pela amada do eu-lírico, a quem ele deseja que fale baixinho e não “...espante os passarinhos” Para o leitor, ele servirá como um indicativo de que há alguma novidade na página ao lado, num movimento curioso, quase como se dissesse: “O que é que há ali?” O objetivo é fazer com que o leitor encare o envelope e támbém fique curioso. As linhas utilizadas para dar vida ao curioso personagem são medianas mas delicadas. Medianas para ainda agregarem contraste a baixa visão; e delicadas para passarem leveza, sutileza... como é característico do sentimento amoroso. Por esta questão e por também dar foco ao envelope endereçado a pessoa amada, não foi trazido nenhum preenchimento à imagem do pardal.

Figura [112 - 113] - Pardal. Rascunho e final, respectivamente. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Esconderijo - Texto Procuro esconderijo Encontro um novo abrigo Como a arte do seu jeito E tudo faz sentido Calma pra contar nos dedos Beijo pra ficar aqui Teto para desabar Você para construir - Ana Cañas

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Ilustração, Poesia: Esconderijo. Técnica: Aquarela e lápis de cor. Tem audiodescrição/música?: Sim. Possui atributos sensoriais? Não. Harmonia em cores definida?: Não, pintura baseada em cores realistas. Paleta dominante: Não há. Desdobramento: Dupla. Tema: Amor.


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Esconderijo - Processo Em “Esconderijo” o objetivo foi registrar o amor real, o amor abrigo e porto seguro. Esta foi uma ilustração, que sem tamanho planejamento prévio, me permitiu guiar-se mais intuitivamente dentre as cores, trazendo uma referência mais realista sobre um pequeno fundo mesclado entre laranja e vermelho, indicando amor e conforto. Tal composição unida a música de Ana Canãs, podem permitir um agradável sentimento de felicidade por amar e ser amado.

Figura [114 - 119] - Andamento, Esconderijo Acervo pessoal. Produção autoral.

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Coração Vagabundo - Texto Meu coração não se cansa De ter esperança De um dia ser tudo o que quer Meu coração de criança Não é só a lembrança De um vulto feliz de mulher Que passou por meus sonhos Sem dizer adeus E fez dos olhos meus Um chorar mais sem fim Meu coração vagabundo Quer guardar o mundo Em mim Meu coração vagabundo Quer guardar o mundo Em mim - Caetano Veloso

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Ilustração, Poesia: Coração Vagabundo Técnica: Aquarela com intervenção digital. Tem audiodescrição/música?: Sim. Possui atributos sensoriais? Não. Harmonia em cores definida?: Majoritariamente monocromática com focos de atenção em mais cores. Paleta dominante: Rosa e bordô. Desdobramento: Dupla. Tema: Amor.


Coração Vagabundo - Processo Em ilustração, Meu Coração Vagabundo retrata os presentes de um amor ou de amores passados. Mesmo passado, há momentos, lembranças e até mesmo pertences que as pessoas querem guardar e por isso "meu coração vagabundo quer guardar todo mundo em mim..."

Figura [120 - 121] - Andamento, Cartas de Amor Acervo pessoal. Produção autoral.

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Café da Mãe - Texto Abri os olhos, Pisei no chão... Senti o doce aroma e o aquecer do coração - Milena Santos

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Ilustração, Poesia: Café da Mãe. Técnica: Digital. Tem audiodescrição/música?: Não. Possui atributos sensoriais? Não. Harmonia em cores definida?: Não, mas procurou-se estabelecer cores quentes, com o laranja e o marrom. Paleta dominante: Laranja e marrom. Desdobramento: Dupla. Tema: Amor e família.


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Café da Mãe - Processo Café de mãe brinca com diferentes sentidos: “Abri os olhos, pisei no chão, senti o doce aroma...” o poema é simples e real. A referência direta foi o café feito por minha mãe, do qual em todas as manhãs ao acordar, sentia seu aroma e sabia logo que estava em casa. Quanto às escolhas de cores, elas foram selecionadas de modo a trabalharem o próprio aroma e aquecer do café. A forma do bule é simples e a busca foi torná-lo facilmente reconhecível, além de amplo na relação que o leitor fará com sua própria história e figuras próximas, que muitas vezes podem não ser a mãe, o pai, o tio... mas ainda um alguém querido, cujo o café é muito bom. Figura 122 - Primeiro esboço, mãe fazendo café Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [123 - 126] - Andamento, ilustração final, Café da mãe Acervo pessoal. Produção autoral.

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Eu com Minha Boneca, Você com Seu Discman - Texto O ano era 2007 e o mês era outubro. Eu tinha 8 e você 14. Eu ganhara uma boneca e você um “Discman”. A união sempre nos fora um presente e a música também. - Milena Santos

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Ilustração, Poesia: Eu com minha boneca e Você com Seu Discman. Técnica: Aquarela e lápis de cor com intervenção digital. Tem audiodescrição/música?: Não. Possui atributos sensoriais? Sim. Harmonia em cores definida?: Majoritariamente monocromática, com pontos focais em contraste maior e cores reais. Paleta dominante: Rosa, bordô e violeta. Desdobramento: Duas duplas. Tema: Amor e família.


Eu com minha Boneca, Você com Seu Discman - Processo Estando a ilustração maiormente sob o clima afetuoso da cor rosa, a paleta monocromática remete a uma doce lembrança ocorrida entre irmãos: entre meu irmão e eu. A representação encontra-se no imaginário, e os elementos concretos, tal como o “Discman” e a boneca, se sobressaem pelo fato de até o momento terem resistido ao tempo e serem os pontos focais da poesia textual, logo, também da ilustração.

Figura [127 - 128] - Esboços para Eu com Minha Boneca, Você com seu Discman Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [129 - 131] - Referência real; Esboço e desenho final, respectivamente. Acervo pessoal. Produção autoral.

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A ilustração se desdobrou em 3 folhas, tomando 2 duplas do livro. Entre os desafios encontrados, o principal: o de unir as partes, que no computador pareciam desalinhadas quando juntas. No Photoshop, em pranchetas que uniam duas partes cada, o problema foi resolvido. Nas imagens, que fogem a exposição da ilustração, as referências reais. Figura [132 - 133] - Referência real; Andamento, desenho final, respectivamente Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [134 - 135] - Detalhes; União entre ilustrações, respectivamente. Acervo pessoal. Produção autoral.

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Problema na unificação posteriormente resolvida. Também, onde há uma marcação clara de lápis saindo do “Discman”, é onde

estará presente a intervenção digital do fio dos fones de ouvido.

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Visualização - duplas

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Visualização - duplas

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Casa de Tia - Texto Saudade das tardes douradas e das guloseimas da tia... - Milena Santos

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Ilustração, Poesia: Casa de tia. Técnica: Aquarela, lápis de cor com intervenção digital. Tem audiodescrição/música?: Não. Possui atributos sensoriais? Sim. Harmonia em cores definida?: Complementar, complementar dividida, tríade e análoga. Paleta dominante: Amarelo, laranja e vermelho. Desdobramento: Dupla. Tema: Família e saudade.


Casa de Tia - Processo Nesta ilustração, buscou-se a utilização de cores e elementos evidenciados na memória do momento infantil e pessoal. Uma memória, talvez, muito parecida com a de outras pessoas que também nutrem suas lembranças de família. Para esta arte uniu-se juntamente às referências de desenho e decoração, o clima familiar e os elementos familiares, os quais em conjunto me despertaram a memória e ajudaram na ligação entre criação, observação e lembrança, em que pontos em comum apareceram, tal como: a toalha de mesa quadriculada; do bolo de cenoura, do bolinho de chuva, especialidade da minha tia... enfim, as mais doces lembranças unidas em uma representação. Tanto pelo sentimento da saudade como pelas guloseimas e alegria sem fim das tardes pós brincadeiras. A paleta cromática trabalhada traz cores análogas e complementares. Em análogas estão os elementos coadjuvantes, em complementar, complementar dividida e tríade, os objetos de maior foco, como por exemplo o “bowl” com bolinhos de chuva, realçando os matizes azul, vermelho e amarelo (uma harmonia em tríade). A caneca em cores análogas de rosa e violeta, a caixa de leite em tom de verde, contrastando com a toalha... Desde o alto ao médio contraste.

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Do estilo de pintura utilizado... em alguns pontos, especialmente no que é exposto à mesa, buscou-se um "falso realismo" como é visto nos pequenos bolinhos, para quando recebida sua atenção, a pessoa imagine seu sabor e quem sabe, volte no tempo em um momento similar. O mesmo com o bolo de cenoura e um pouco menos explorado com os outros elementos da composição, que mais compõem a cena como coadjuvantes; e sem poder esquecer: as mãos, que trabalham em função do que é exposto. Elas aparecem como sinais/figuras de pessoas afetivas em ação e a serviço do outro e dos elementos.

Figura [136 - 139] - Andamento, Casa de Tia Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [139 - 140] - Finalizado parte 1 e 2, Casa de Tia Acervo pessoal. Produção autoral.

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Casa de Vó - Texto Com a visão da mais inocente infância, lembro bem: Do berço da Matriarca Da cor da nostalgia Das “Sementes de Amor” que quando floridas, desabrochavam nos mais sublimes momentos, agora, emoldurados dentre a passagem do tempo. Nunca esquecidos... Sempre lembrados! Quer estejam dentro de uma cristaleira ou até mesmo acima das portas estreitas: Assim revivem os olhos marejados. - Milena Santos

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Ilustração, Poesia: Casa de Vó.. Técnica: Aquarela, lápis de cor e intervenção digital. Tem audiodescrição/música?: Sim. Possui atributos sensoriais? Sim. Harmonia em cores definida?: Análogas; complementares e base no real. Paleta dominante: Amarelo, laranja e vermelho. Desdobramento: Dupla. Tema: Família e saudade.


Casa de Vó - Processo As ilustrações preparadas para o texto “Casa de vó” trazem referência de elementos reais da casa de Saturnina de Jesus e José Francisco Urcino (“in memoriam”), meus avós maternos; juntamente com o sentimentalismo de saudade e alegria que adentram o lar da matriarca da família, com seus atuais 98 anos. Minha avó e meu avô criaram juntos 13 filhos e são praticamente o berço de 4/5 gerações estruturadas por seus filhos, netos, bisnetos e até tataranetos. Com objetos que denunciam pequenos lapsos do tempo em passagem e com um cantinho que acarinhou e ainda acarinha a visita de tanta gente, o registro afetivo da casa de origem simples localizada no sul da Bahia, tornou-a indispensável a documentação. O interessante do processo dessa ilustração, é que além da lembrança das tardes na casa da minha vó e do cenário já propício de recordações amistosas, foi ainda possível contar com a cooperação da família, em que prima – Mariana – e tia – Creunide – fizeram questão de registrar cantos específicos da casa e de enviarem tais registros via Whatsapp para que fosse possível a produção da ilustração.

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As cores: reais, com pequenos pontos de luminância e foco. Detalhes mais apurados no móvel com quadros e xícaras e também na porta, imitando a madeira e revelando a potência do material utilizado – O lápis de cor - em que o móvel / cristaleira por exemplo, o fundo da coloração contou com pigmento amarelo em aquarela, lápis de cor em diferentes tons de marrom e bordô; mais camadas de aquarela na finalização, em amarelo, “burnt sienna” e “english red”. Os elementos digitais: as molduras e pequenos traços foram produzidos no digital por atribuírem maior contraste, controle e capacidade de fluidez, logo, de legibilidade, com o objetivo de tornar pequenos detalhes mais aparentes, o que poderia não ocorrer tanto com o lápis de cor, dada a gramatura do papel e os possíveis erros com pouca abertura a correções. Neste quesito, a finalização no digital tornou-se mais flexível. Composição: Para ordem dos objetos, anterior ao esboço final, foi traçada uma regra dos terços, não tanto para delimitar pontos de foco mas mais para delimitar proporções. Contém: Toca discos da Gradiente, Móvel / Cristaleira com molduras e fotos, além de xícaras;, sofá, disco de vinil do Amado Batista e mais molduras na página à direita, com algumas fotos.

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Figura [141 - 144] - Referências reais, Casa de Vó Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [145 - 146] - Andamento, Casa de Vó, Cristaleira Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [147 - 148] - Andamento; Fotos reais para composição Acervo pessoal. Produção autoral.

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Figura [149 - 150] - Finalizado, Casa de Vó Acervo pessoal. Produção autoral.

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Nossa Casa - Texto [...] A nossa casa é onde a gente está A nossa casa é em todo lugar A nossa casa é onde a gente está A nossa casa é em todo lugar. [...] - Arnaldo Antunes

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Ilustração, Poesia: Nossa casa Técnica: Aquarela com intervenção digital. Tem audiodescrição/música?: Sim. Possui atributos sensoriais? Não Harmonia em cores definida?: Tríade, dupla complementar e análoga, em alguns pontos. Paleta dominante: Verde, vermelho e violeta. Desdobramento: Dupla. Tema: Família e amizade.


Nossa Casa - Processo Em “Nossa Casa”, foram trabalhados valores como Intimidade, proximidade, bem-estar e amizade em uma atmosfera amistosa e familiar. O entendimento semântico da ilustração é de que a nossa casa se faz do lugar que estamos com as pessoas que nos fazem bem, com quem nos sentimos bem e são felizes conosco. Aqui, o pisar na grama simboliza a abertura espontânea de se estar a vontade com as pessoas queridas. É estar vulnerável, sem precisar de sapatos. É expandir laços com quem realmente se têm grande conexão. Além disso, os “amores-perfeitos” na ilustração trazem a tradução tanto do amor perfeito de boas companhias, como na própria configuração das flores, que são “amores-perfeitos”. Uma espécie de flor que leva esse nome e que também aparece na música de Arnaldo Antunes, acessada por “QR Code”, no trecho: “ Na nossa casa amor-perfeito é mato e o teto estrelado também tem luar...”. E assim, estabelecem relação direta, música e poesia visual. Cores: aconchegantes, quentes e reais, que delimitam eficazmente o que é fundo, personagem ou elemento de cena. Pontos com cores onde há menos luminância: grama verde para atrair atenção aos pontos mais iluminados e vibrantes - pernas, vestimentas e cão.

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Figura [151 - 155] - Andamento, Nossa Casa Acervo pessoal. Produção autoral.

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Cabana (s.f.) - Texto Abrigo para se morar com brinquedos e brincadeiras, Amigos imaginários e histórias. Dimensões inteiras acima das cabeças! Sonhos e trajetórias. - Milena Santos

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Ilustração, Poesia: Cabana (s.f). Técnica: Aquarela e lápis de cor com intervenção digital. Tem audiodescrição/música?: Sim. Possui atributos sensoriais? Sim. Harmonia em cores definida?: Complementares e análogas. Paleta dominante: Amarelo, laranja e magenta. Desdobramento: Dupla. Tema: Saudade.


Cabana (s.f.) - Processo A poesia cabana partiu de uma referência pessoal, sendo uma das brincadeiras favoritas da infância a qual a lembrança ainda é latente. Assim que havia feito o primeiro esboço, colocando sobre o papel minhas memórias de criança, esta, em especial eu logo pensei: “Preciso desenhar!”. E assim a fiz. Nas formas orgânicas, tracei com ajuda de referências visuais um ambiente confortável com uma personagem vivendo feliz em seu próprio “mundinho”. Tendo todas as imaginações possíveis. A experiência desejada para esta ilustração é fazer com que o leitor se sinta dentro da cabana ou até mesmo como um narrador observador. Na coloração, parte mais complexa do processo, foram trabalhadas bases, do mais claro ao mais escuro e então, foram demarcadas as cores predominantes e os detalhes. Com marcação aparente da silhueta, a menina é o ponto focal da ilustração, tanto que seu vestido é vermelho, enquanto seu entorno beneficia todo o contexto: entre almofadas, edredons, luzes aconchegantes e tetos dobráveis - No caso, os lençóis. Na música acessada por “QR Code”, intitulada “Dream” da cantora Priscilla Ahn, o leitor tem a experiência de lembrar de seu passado infantil com lamentar ou nostalgia ao se ver saudoso desta época feliz.

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Figura [156 - 160] - Andamento, Cabana Acervo pessoal. Produção autoral.

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Ilustração realizada em lápis de cor e posteriormente complementada e editada com brushes digitais do Adobe Photoshop.

Ajuste de cores e ganho de climas também foram atribuídos.

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Capa - Ideia e produção Assim como o resumo de uma monografia ou sinopse de um livro, a capa foi reservada para os momentos finais da produção, bem como as guardas. Para ambas, a escolha da representação da fluidez e do pigmento que se alastra sobre o papel, foi a ideia que melhor se adequou a proposta da obra. Na capa em específico, foi trabalhado o conceito de expandir da emoção em sentimento, algo buscado no alcance das ilustrações sobre o leitor, que ao contemplá-las, passará da observação, para interpretação, emoção, lembrança e enfim, o sentimento; sobre o qual o conjunto da poesia irá desempenhar seu papel. Tais etapas trazem o literal do título “Expandir e Sentir” e são empregadas de modo abstrato em uma única mancha. Nas guardas, a ideia de um mosaico trazendo as ilustrações sempre fora algo presente, uma ideia conjunta com a orientadora. De início, foi feito um mosaico encaixando imagens do processo de modo racional, em retângulos verticais divididos sob medida, depois, foi ainda pensado um mosaico, porém numa organização mais fluída e despretensiosa, como será visto adiante.

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Figura [161 - 162] - Abstração mancha Expandir

Valores atribuídos:

e Sentir e capas, monografia Design do Livro Tátil e Ilustrado e livro Expandir e Sentir Acervo pessoal. Produção autoral.

• Aconchego (pela cor) • Aproximação (pela cor) • Expandir (simulação de pigmento em camadas expandidas sobre papel).

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Estudos - Capa Todas estas experimentações foram tentativas para a capa. Mesmo que só uma delas tenha sido a escolhida, as demais foram utilizadas em folha de rosto, infográfico e entradas de capítulo da monografia.

Figura 163 - Versões de capa Acervo pessoal. Produção autoral.

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Guardas Exposição do processo de modo fluído foi a escolha final.

Figura [164 - 165] - Primeiro mosaico, guarda; Segundo mosaico guarda, final Acervo pessoal. Produção autoral.

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Algumas considerações •

As entrelinhas, em todas as páginas do livro, foram trabalhadas

com tamanho de 25% a 30% do tamanho da tipografia utilizada, por dupla. Ou seja, em todas as páginas, a entrelinha é diferente. Tal recomendação é seguida com base na Fundamentação Teórica. •

Às vezes o título pode aparecer, e em outras vezes, não. Tudo é ques-

tão de adaptação e recorte. Seu uso pode ser interessante quando a ilustração da dupla em questão é mais complexa, reunindo mais detalhes. O título nesses casos pode empregar um “achado”, uma localização e um contexto prévio. •

Em todas as duplas, o “QR Code” tem a mesma cor. Isso acontece

por mantimento de um padrão e porque na cor azul raramente ele chamará a atenção antes mesmo do texto ou da ilustração, estando então, entre os dois. •

Todas as páginas do livro que dão acesso para músicas e audio-

descrição - Bagunça e Casa de Vó - estão funcionando.

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Estrutura do livro Visualizações do livro Expandir e Sentir e de seus elementos compositivos e sensoriais no 3D.

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Guarda-roupa interativo.

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Contorno em baixo relevo.

Inserção de textura camurçada na iconografia da mão.

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Poema interativo. Ao abrir o envelope, poema está dentro.

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Baixo relevo no entorno do Pardal.


Bilhete.

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Baixo relevo no fio dos fones de ouvido.

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Baixo relevo no fio dos fones de ouvido.

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Baixo relevo presente no entorno da personagem.

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Memorial Descritivo - Expandir e Sentir Título Subtítulo Autor Ilustrador(a) Softwares utilizados Concepção das ilustrações Número de páginas Capa Formato fechado (miolo) Formato aberto (miolo) Acabamento Miolo Tipografia Paleta de cores Atributos Fechamento de arquivo Visualização 3D

Expandir e Sentir Uma antologia Poética e Sensorial Vários Autores Milena Santos Adobe Photoshop, Adobe Illustrator e Adobe InDesign Aquarelas Lukas Aquarell Studio e KOOH I-NOOR; lápis de cor Faber-Castell Super Soft e Eco-Lápis + Lápis aquarelável HERO e concepção digital no programa Adobe Photoshop 2021. 27 Rígida | 24,3x20,3 cm | 4x0 24 x 20 cm | 4x4 48 x 20 | 4x4 Laminação fosca com verniz localizado no título. Papel Couché fosco 230 g/m² Congenial Font Várias cores, separadas por climas e harmonias de cores pré definidas. Elementos sensoriais, que permitem toque e interação. PDFX1A - 2001 - Exportação a partir do Adobe InDesign 2021. Rhinoceros 7

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Considerções finais Como pessoa com baixa visão, posso dizer que desde o início aprendi muito. Tanto sobre questões envolvendo a deficiência, quanto sobre técnicas de representação que configuram todas as ilustrações e a unidade do livro, tais como: ilustração digital, aquarela, composição diagramação etc. conhecimentos esses que até então, eu me via apenas como iniciante (que ainda sou) mas que nesse longo período de um ano, aprendi a todo momento e descobri minha capacidade. Sobre a pesquisa que me trouxe até o livro, produto desta monografia, sua extensão e aprofundamento foi maiormente viabilizada pelo período pandêmico em que o entender da deficiência, das instituições, dos livros ilustrados e de todo este universo foi facilitado pelas “homepages” oficiais, livros abertos em sites e pdfs que discutiam tais assuntos, além de vídeos; lives e outros materiais em um momento em que as atividades puderam ser realizadas em casa, excluindo o longo período passado dentro dos metrôs e trens. Suspeito que, se não a situação, boa parte dos assuntos abordados, talvez teriam de ser cortados ou até subtraídos para que o caminhar do projeto não fosse prejudicado.

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Sobre o produto: seu resultado final e processo me deixam feliz, tanto pelo estágio alcançado como pela parceria de pessoas tão queridas que me trouxeram até aqui. Como já venho dizendo há algum tempo, este projeto é a extensão de várias mãos, que me ajudaram a construí-lo, página por página, e eu, sou extremamente grata. Por último, mesmo sobre imperfeições, complementos e ajustes que haverão de ser feitos no futuro, tenho fixo que todo esforço atribuído até então valeu a pena, não só pela conclusão de um ciclo, no fechamento de um bacharelado em Design; mas porque esta área tão genuína, que projeta justamente às pessoas, me permite enquanto ser emocional tocar outros de modo profundo, como no apoiar de uma necessidade e acessibilidade real. Só por estes motivos, posso dizer que justificaram-se todas as dificuldades, os transtornos, as noites mal dormidas e dias sobrecarregados para que fosse possível a entrega de uma obra capaz de contribuir com a sociedade, tal como esta, que tem seu potencial.

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Referências Bibliográficas 7 livros para conversar sobre a morte e outros assuntos difíceis. Direção de Daisy Carias. Realização de A Cigarra e A Formiga. 2015. Vídeo, son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=MxSYGtNfkkQ&t=78s>. Acesso em: 28 abr. 2021. ALMEIDA, Maria Clara de; CARIJÓ, Filipe Herkenhoff; KASTRUP, Virgínia. Por uma estética tátil: sobre a adaptação de obras de artes plásticas para deficientes visuais. Fractal: Revista de Psicologia, v. 22, n. 1, p. 85–100, 2010. ANDI. Qual a diferença entre adolescente e jovem? [2020]. Disponível em: <http:// www.andi.org.br/help-desk/qual-diferenca-entre-adolescente-e-jovem>. Acesso em: 18 jan. 2021. ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: Uma Psicologia da Visão Criadora. São Paulo: Pioneira, 1991. BRAGA, Pedro. Diversidade, inclusão e arte. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2020. E-book Disponível em: <https://www.bibliotecadigitalsenac.com.br/?from=listasde-leitura#/legacy/epub/2598>. Acesso em 18 fev. de 2021. BRASIL (Estado). Constituição (2015). Lei nº Nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa Com Deficiência (Estatuto da Pessoa Com Deficiência). Brasília, Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 29 mar. 2021.

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Livros ilustrados analisados: BOUCHARD, Hervé; NADEAU, Janice. Harvey: Como Me Tornei Invisível. 1ª. ed. São Paulo: Pulo do Gato, 2013. FABRA, Jordi Sierra I. Kafka e a boneca viajante. Mais Diferenças e Centro de Tecnologia e Inovação: Martins Fontes, 2009. Disponível em: <https://www.cti. org.br/site/videos/kafka-e-a-boneca-viajante/>. Acesso em: 3 maio 2021. VILELA, Fernando; BARBIERI, Stella. Quero Colo!. 1ª. ed. São Paulo: SM, 2016. TOKITAKA, Janaina. Pedro Vira Porco Espinho. 1ª. ed. São Paulo: Jujuba, 2017. ZATZ, Lia. Adélia cozinheira. Ilustração Luise Weiss. São Paulo: WG produto, 2010.

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Anexos Anexo A - Questionário com o público-alvo Pesquisa para concepção de livro tátil e ilustrado Olá! Tudo bem? Muito prazer! Me chamo Milena e sou estudante de Design Gráfico no SENACSP. Estou no último período da graduação e, como projeto de TCC, quero elaborar um livro ilustrado e acessível para pessoas com baixa visão*. Caso você faça parte deste público, conto com a sua contribuição para orientar minha pesquisa :) Muito obrigada! 💖 *OBSERVAÇÃO IMPORTANTE*: Considera-se pessoa com baixa visão aquela que apresenta 30% (ou menos) da visão de seu melhor olho, mesmo tendo feito correções com lentes, óculos e intervenções clínicas ou cirúrgicas. Fonte: Fundação Dorina Nowill 329


*Obrigatório 1. Qual a sua idade? * Marcar apenas uma  12 - 14 anos  15 - 17 anos  18 - 24 anos  25 - 29 anos  30 ou + 2. Você já teve contato com livros ilustrados e acessíveis? Se sim, com quais? E se não, o que você acredita que melhor te auxiliaria na leitura de um livro ou texto? * ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________

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3. Marque os componentes que os livros que você acessou traziam: * Marque todas que se aplicam.  Ilustração  Ilustração com relevo  Ilustração com textura  Acesso a botões com dispositivos sonoros  Acesso à caneta com dispositivo sonoro  Acessos a QR Codes ou links com audiodescrição e melodias  Texto com fonte ampliada  Braille  Nunca tive contato com um livro acessível  Outro: ________________________________________

4. Quais elementos você julga os mais legais e acessíveis para complementar um livro? (Pode escolher mais de um!) *  Música: enquanto é feita a leitura do texto e da ilustração, o leitor pode acessar por meio de QR code (ou outro) melodias que o introduzam a experiência difundida pela poesia, frase ou citação.  Audiodescrição: conteúdo auditivo que descreve as pessoas, os ambientes e os objetos.  Interpretação: explicação semântica (de significado) sobre determinado texto. Este 331


complemento é auditivo.  Outro: ________________________________________ 5. Quais assuntos você gostaria que fossem inseridos em um livro ilustrado? (Pode escolher mais de um!) * Marque todas que se aplicam.  Amizade  Amor  Família  Saudade  Timidez  Ansiedade  Depressão  Outro: ________________________________________

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Anexo B - Entrevista com Cecilia Pera

TCC I - Entrevista com profissional - Cecilia Pera 1 - Meu livro pretende trabalhar com poesias para jovens com baixa visão. Um livro que traz experiência emocional que visa propor reflexão. Como interpretação aos textos, será utilizada ilustração ora com textura ora com relevo para prestar acessibilidade. Também é minha intenção inserir complementos digitais, como música e áudio-transcrição, descrição e interpretação para alongar a experiência do leitor e incluí-lo de mais de uma forma. Por motivos de fundamentação, minha pergunta é: em sua visão psicopedagógica, você considera que assuntos como o amor, a alegria, a amizade; e mais delicados como a ansiedade e a depressão em versos, frases e citações... Podem ser bem trabalhados com jovens a partir dos 12 anos de idade mais do que com crianças abaixo dessa faixa? Por quê? Teria alguma referência teórica para indicar? 2 - Em minhas pesquisas, percebi que há um grande volume de obras ilustradas e acessíveis voltadas ao público infantil. E para o público jovem? Você saberia apontar se existem muitos títulos desta categoria que se dirijam para eles? Entre 12-29 anos. 3 - Na visão da psicologia, qual a importância do acolhimento e de se falar sobre sentimentos e refletir sobre eles? (O livro não pretende ensinar sobre emoções nem a como gerir as mesmas, mas sim refletir tristezas e alegrias. Uma conversa aberta sobre as vulnerabilidades que todos nós compartilhamos).

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4 - Segundo informação do IBOPE: “Leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo


(O livro não pretende ensinar sobre emoções nem a como gerir as mesmas, mas sim refletir tristezas e alegrias. Uma conversa aberta sobre as vulnerabilidades que todos nós compartilhamos). 4 - Segundo informação do IBOPE: “Leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses.” Na última pesquisa Retratos da Leitura de 2019 foi apurado que 48% dos brasileiros não têm o hábito de ler, sendo uma das dificuldades apontadas o problema de visão. Com esses dados, qual a sua perspectiva sobre a importância da inclusão e da acessibilidade para as pessoas com deficiência visual quando pensamos no acesso delas a literatura e a cultura de um modo geral?

Indicação de referências Você teria indicações de pesquisas, artigos e livros de autores que produziram obras similares ou que dialoguem com alguns dos temas que pretendo abordar em minha pesquisa? Tal como a inclusão.

Link para acesso: <https://www.youtube.com/watch?v=41sjYJVsD9U>

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Anexo C – Termo de consentimento PARTICIPAÇÃO DE PESQUISA São Paulo, 22 de fevereiro de 2021. Curso/Unidade: Bacharel em Design LFE Design Gráfico – Centro Universitário Senac São Paulo Título da pesquisa/estudo: Trabalho de Conclusão de Curso - Design do Livro Tátil e Ilustrado – Uma Antologia Poética e Sensorial Nome(s) do pesquisador(es): Milena de Jesus Santos Nome do Orientador: Fabia Tuchsznajder Campos Você está sendo convidado(a) para participar da pesquisa acima. Sua participação será voluntária e a qualquer momento você poderá desistir. Assim como há liberdade para aceitar, há também liberdade para recusar sua participação, sem qualquer prejuízo pessoal.

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Para que você possa decidir, os objetivos desta pesquisa são: Levantar informações e pedir consentimento para o uso dessas informações na construção teórica da monografia do TCC. Para atingir estes objetivos, os procedimentos que serão utilizados envolvem: Entrevistas e questionamentos por escrito. Os possíveis riscos envolvidos com estes procedimentos são: a) para você: Não há riscos. b) para a entidade na qual trabalha: Não há riscos. Por outro lado, os benefícios esperados são: Seguir com fidelidade as orientações propostas. Ressaltamos que os resultados desta pesquisa serão divulgados no meio científico ( X ) havendo ou ( ) sem haver a possibilidade de sua identificação em função do método adotado. Todavia sua privacidade está garantida quanto aos dados considerados confidenciais. Se você considera que as informações aqui apresentadas são suficientes para esclarecer os objetivos, os procedimentos, os riscos e os benefícios de sua participação na pesquisa, e se você concorda em participar, assine a declaração abaixo. 336


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