Igarota4

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Brett tentava evitar ficar sozinha com ela em público. Mas só o que ela disse foi "claro". Sob a cobertura do moletom amassado, Brett pôs a mão no joelho de Kara e apertou delicadamente. Num mundo perfeito, ela seria capaz de se inclinar e beijá-la ali mesmo, sentindo o gosto do gloss de grapefruit. Brett sentiu uma dor funda no estômago mas ignorou-a e se levantou. Olhou para Kara com o suéter preto de gola rulê e o colete cinza da linha de atletismo da mãe. Era tão estranho olhar uma menina e pensar no quanto queria beijá-la. — Volto já — prometeu ela. Brett serpenteou pelo monte de gente que se esparramava pelos mantos. A multidão que via o filme tinha diminuído um pouco, o que não era de surpreender, parecia haver uma multiplicidade de outras diversões sem supervisão fora do campus. Como é que Tinsley conseguiu aprovação para isso? E onde é que estava a Tinsley, aliás? Mas as reflexões de Brett sumiram no fundo de sua mente quando ela percebeu que as pessoas estavam meio que cochichando enquanto ela se aproximava. Será que estavam... falando dela? Seu rosto corou imediatamente, mas ela conseguiu ir para a fila da cerveja com elegância suficiente. No entanto, enquanto batia a ponta do tamanco Stuart Weitzman na grama dura e seca, ela ouviu alguma coisa na frente na fila que quase transformou seu sangue em gelo. "A Brett? Quer dizer que ela é...gay!‖ Ela ficou enjoada. A porra do Heath Ferro. É claro. Aquele dedo-duro baixo nível e tarado degenerado. De imediato, Brett girou nos saltos e disparou para seu manto, obviamente se esquecendo completamente da cerveja e pisando em outros mantos sem o menor cuidado. Do nada, um Ryan Reynolds muito bêbado e cambaleando apareceu e passou o braço em seus ombros magros. — Acha que posso participar um dia desses? — Vai se foder—sibilou ela, enxotando seu braço e continuando a marchar pelo gramado, meio cega pela escuridão e pela raiva. Enfim, ela conseguiu afundar no manto onde Kara estava sentada. — Qual é o problema? — perguntou Kara, vendo de imediato que havia algo errado. — Cadê o Heath?—Brett mal conseguiu pronunciar as palavras, todo o corpo tremia muito. — Eu vou matar esse sujeito agora mesmo. Na frente de todo mundo. Os olhos de Kara se arregalaram. — Do que você está falando? Brett cerrou os lábios, tentando se acalmar. Mas seu coração batia a mil por minuto e ela só conseguia pensar em dar um murro na cara convencida e idiota de Heath. — Ele contou a todo mundo. Todos eles sabem. Todo mundo sabe. — Ah. — Kara olhou em volta e Brett entendeu que ela queria abraçá-la, pegar sua mão ou fazer alguma coisa para que ela se sentisse melhor, e isso a deixou ainda mais irritada com toda a situação. — Mas ele não faria isso. — Bom, ele fez. — Brett passou a mão no cabelo ruivo, esquecendo-se completamente de como foi bom sentir Kara penteando-o com os dedos dez minutos atrás. Mas tudo mudara agora, tudo. Tudo porque o merda do Heath não conseguiu manter a maldita boca fechada. Ele tinha de se vangloriar, não é? Contar a todo mundo? — Quem mais poderia ser? Kara mordeu o lábio, preocupada. — Não sei. Talvez não seja o fim do mundo que as pessoas saibam, né? — Uma mecha de seu cabelo sedoso caiu no rosto, escondendo parte dos olhos inquisitivos. Brett olhou a cara doce e linda de Kara, desejando poder concordar. Ela sabia que era


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