TFG II - Michelle Chiriboga

Page 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Curso de Arquitetura e Urbanismo

Michelle Araújo Chiriboga

A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO CULTURAL NOS SÍTIOS HISTÓRICOS: o caso da Casa de Cultura de Mariana

OURO PRETO 2015


Michelle Araújo Chiriboga

A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO CULTURAL NOS SÍTIOS HISTÓRICOS: o caso da Casa de Cultura de Mariana

Monografia apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito parcial a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Tito Flávio de Aguiar Co-orientadora: Fernanda Alves de Brito Bueno

OURO PRETO 2015


A meus pais e a minha irm達 pelo carinho e apoio constante.


AGRADECIMENTOS

A Deus por tornar tudo isso possível. Aos meus pais por acreditarem em mim e pelo incentivo constante. A minha irmã pelos conselhos, pela paciência e cumplicidade. A Roque Camêllo e a Merania de Oliveira por cederem a Casa de Cultura de Mariana e por reconhecerem a sua importância para a cidade. Ao DEARQ e especialmente professores Tito e Fernanda pelos ensinamentos e pelo auxílio ao longo das orientações. Aos meus amigos Felipe, Igor, Sandra, Bel, Amanda pela presença contínua e conversas descontraídas. Aos amigos de Viçosa, às turmas 09.1 e 10.1 pela acolhida. Por fim, gostaria de agradecer a todos que contribuíram de alguma forma para mais esta conquista.


“(...) Para bem restaurar, é necessário amar e entender o monumento, seja estátua, quadro ou edifício, sobre a qual se trabalha. (...). Ora, que séculos souberam amar e entender as belezas do passado? E nós, hoje, em que medida sabemos amá-las e entendê-las? (...)” (BOITO,2002)


RESUMO Este trabalho tem como objetivo o conhecimento, a proteção e valorização do patrimônio cultural da cidade de Mariana através da elaboração de um inventário de uma importante edificação histórica. Neste caso, foi escolhida a Casa de Cultura de Mariana, que é uma edificação colonial que sediou a primeira casa de fundição de ouro de Minas Gerais, foi casa de hospedagem de Dom Pedro II e local de reunião dos rebeldes da Revolta de Filipe dos Santos. Após a escolha do objeto, o estudo foi organizado em três partes. Na primeira, é tratada a associação da memória e do patrimônio e da descrição da evolução histórica do patrimônio cultural no Brasil. Em seguida, na segunda parte, é iniciado o inventário da Casa de Cultura de Mariana com base nos levantamentos históricos, documentais e arquitetônicos. Já na última parte é realizado o diagnóstico da edificação que será gerado por meio da elaboração de fichas cadastrais de inventário e de diagnósticos e pelo mapeamento dos danos da edificação. Desse modo, o trabalho é encerrado com o diagnóstico do estado de conservação do imóvel estudado e a partir da observação das principais patologias, propor os principais procedimentos técnicos de proteção e conservação.

Palavras-chave: Mariana. Preservação do patrimônio cultural. Inventário. Casa de Cultura de Mariana.


ABSTRACT

This work has as objetive the knowledge, protection and valorisation of the cultural heritage of the city of Mariana by drawing up an inventory of an important historical building. In this case, was chosen the Mariana House of Culture, which is a colonial building that hosted the first gold casting house of Minas Gerais, was the hosting House of Dom Pedro II and meeting place of the rebels of the revolt of Filipe dos Santos. After the choice of the object, the study was organized in three parts. At the first, is treated the Association of memory and heritage and the description of the historical evolution of cultural heritage in Brazil. Then, in the second part, starts an inventory of the Mariana House of Culture through the historical documentary and architectural surveys.At the last part is done the building diagnosis that will be generated through the development of cadastral records of inventory and diagnosis and by mapping the pathologies of the building. Thereby, the study finish with the diagnosis of the state of conservation of the property studied and from the observation of the main pathologies, propose the main technical procedures of protection and conservation.

Keywords: Mariana. Preservation of cultural heritage. Inventory. Casa de Cultura de Mariana.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 -

A cidade de Mariana no início do séc. XIX ...................................... 39

FIGURA 2 - Vista parcial de Mariana no ano de 1932. .......................................... 40 FIGURA 3 - A antiga Casa da Intendência após a construção do 2º pav. ............... 44 FIGURA 4 - Exposição dos bonecos do bloco do Zé Pereira da Chácara ............. 45 FIGURA 5 - Aula de violão no auditório da edificação ......................................... 46 FIGURA 6 - Sarau “Cantando Alphonsus” ............................................................. 46 FIGURA 7 - Vista da Rua Frei Durão obtida próxima a lateral da Catedral ............................................................... 49 FIGURA 8 - Vista da Rua Frei Durão obtida próxima ao Museu de Arte Sacra ........................................................ 49 FIGURA 9 - Boca de lobo da Rua Frei Durão ....................................................... 49 FIGURA 10 - Pavimentação em pedra São Tomé na Rua Frei Durão ..................... 49 FIGURA 11 - Pavimentação em pedra- sabão na Rua Frei Durão ........................... 49 FIGURA 12 - Poste neocolonial na Rua Frei Durão ................................................ 49 FIGURA 13 - Holofotes entre edificações na Rua Frei Durão ................................. 49 FIGURA 14 - A Casa de Cultura de Mariana ............................................................ 50 FIGURA 15 - Planta baixa do subsolo da Casa de Cultura ...................................... 52 FIGURA 16 - Planta baixa do térreo da Casa de Cultura ......................................... 53 FIGURA 17 - Planta baixa do 2º pavimento da Casa de Cultura ............................... 54 FIGURA 18 - Vista da Rua Frei Durão registrada por A. Riegel no ano de 1868 ...... 55 FIGURA 19 - Vista da Rua Frei Durão na metade do século XX .............................. 55 FIGURA 20 - Vista da Rua Frei Durão no final do século XX .................................. 56 FIGURA 21 - Esquema da possível evolução construtiva do imóvel ........................ 57 FIGURA 22 - Alvenaria estrutural de pedra do subsolo ............................................ 58 FIGURA 23 - Alvenaria estrutural de pedra do subsolo construída posteriormente .. 59 FIGURA 24 - Alvenaria de bloco cerâmico no subsolo ............................................. 59


FIGURA 25 - Tijolos maciços aparentes no topo das alvenarias de pedra do subsolo ....................................................... 60 FIGURA 26 - Tijolos maciços aparentes na parede de divisa com a edificação vizinha ...................................................... 60 FIGURA 27 - Planta falada do subsolo e do pavimento térreo. .................................. 61 FIGURA 28 - Planta falada do pavimento superior .................................................... 61 FIGURA 29 - Fachada Frontal da Casa de Cultura de Mariana ................................. 62 FIGURA 30 - Ruínas na parte posterior da edificação ................................................ 63 FIGURA 31 - Trecho da fachada posterior com as novas esquadrias ......................... 63 FIGURA 32 - Piso em tabuado de madeira ................................................................ 64 FIGURA 33 - Piso de seixo rolado .............................................................................. 64 FIGURA 34 - Piso lajeado de pedra ............................................................................ 64 FIGURA 35 - Piso cerâmico do banheiro ................................................................... 64 FIGURA 36 - Piso cerâmico da copa ......................................................................... 65 FIGURA 37 - Escada de madeira de acesso ao subsolo .............................................. 65 FIGURA 38 - Escada de pedra de acesso ao subsolo ................................................. 66 FIGURA 39 - Escada de acesso ao pavimento superior .............................................. 66 FIGURA 40 - Escada externa ...................................................................................... 66 FIGURA 41 - Forro de esteira do ambiente 06 ........................................................... 67 FIGURA 42 - Forros de esteira dos ambientes 12 e 13 .............................................. 67 FIGURA 43 - Forro de madeira do tipo tabuado liso .................................................. 67 FIGURA 44 - Abertura zenital no forro ...................................................................... 68 FIGURA 45 - Forro do ambiente 16 ............................................................................ 68 FIGURA 46 - Forro do ambiente 17 ............................................................................ 68 FIGURA 47 - Forro do ambiente 18 ............................................................................ 68 FIGURA 48 - Forro de réguas de madeira do ambiente 21 ......................................... 69


FIGURA 49 - Forro saia e camisa do ambiente 22 ...................................................... 69 FIGURA 50 - Forro saia e camisa do ambiente 20 ...................................................... 69


LISTA DE MAPAS MAPA 1 - Início do desenvolvimento urbano de Mariana .......................................... 36 MAPA 2 - Transformações urbanas decorrentes da elevação à condição de Vila do Carmo....................................................... 37 MAPA 3 - A elevação à condição de cidade e o Plano Alpoim .................................. 38 MAPA 4 - O impacto da industrialização em Mariana ................................................ 40 MAPA 5 - Configuração urbana em meadas da década de 70 ..................................... 41 MAPA 6 - Poligonal de Tombamento do Conjunto Urbanístico e Histórico de Mariana ............................................................ 43 MAPA 7 - Setores morfológicos da Poligonal de Tombamento de Mariana ............... 48


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 25

2 A MEMÓRIA E O PATRIMÔNIO ........................................................................... 27

3 A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL ..................... 30 3.1 Evolução histórica e legislação ............................................................................... 30 3.2 Instrumentos de proteção ....................................................................................... 33

4 INVENTÁRIO DA CASA DE CULTURA .............................................................. 35 4.1 Mariana: do arraial à cidade .................................................................................. 35 4.2 A Casa de Cultura ................................................................................................... 42 4.3 O entorno da edificação ......................................................................................... 47 4.4 Análise estático - construtiva da edificação ............................................................ 50 4.4.1 Sistema Construtivo ............................................................................................. 58 4.4.2 Estrutura e vedação .............................................................................................. 62 4.4.3 Cobertura ............................................................................................................. 62 4.4.4 Fachadas .............................................................................................................. 62 4.4.5 Pisos ..................................................................................................................... 64 4.4.6 Escadas ................................................................................................................ 65 4.4.7 Forros ................................................................................................................... 67

5 MAPEAMENTO DE DANOS DA EDIFICAÇÃO ................................................. 70 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 73


ANEXOS Anexo A - Declaração de Silvio de Vasconcellos sobre a edificação .......................... 76 Anexo B - Certidão do imóvel estudado....................................................................... 78 Anexo C - Levantamento arquitetônico do imóvel ..................................................... 82 Anexo D - Mapeamento de danos dos cortes e das fachadas ..................................... 88 Anexo E - Fichas cadastrais da edificação estudada ................................................... 91 Anexo F - Fichas de diagnóstico dos principais elementos construtivos do imóvel .. 108


25

1 INTRODUÇÃO

A partir da promulgação da Constituição de 1988 a questão do patrimônio cultural no Brasil passou a ser cada vez mais discutida e houve uma maior conscientização da importância da preservação dos bens históricos diante das transformações da cidade. Diante disso, nos dias de hoje torna-se essencial a busca pela preservação da memória não somente como objeto de estudo e de intervenção de arquitetos, historiadores, restauradores, arqueólogos e urbanistas, mas sim pela ação conjunta desses agentes junto a sociedade. Neste contexto, este trabalho se propõe a realizar um estudo de caso de uma edificação histórica relevante do município de Mariana, uma cidade que apesar de ser histórica, apresenta a falta de conhecimento e de conservação de grande parte das suas edificações antigas. A edificação escolhida para o estudo, foi a Casa de Cultura de Mariana por se tratar de uma importante edificação colonial da metade do século XVIII e que inclusive foi considerada como monumento nacional já que o integra o conjunto urbano e arquitetônico sob proteção do poder público como mostra a declaração de Sylvio de Vasconcellos (Anexo A). O objetivo do trabalho é inventariar o bem patrimonial escolhido de maneira a garantir o seu conhecimento e assegurar a sua proteção. Para isso, optou-se por utilizar o inventário como instrumento já que o mesmo possibilita o conhecimento, a valorização e a proteção do bem, como afirma Marés: “(...)A existência de inventário tem como consequência a preocupação com o bem e o reconhecimento de sua relevância. Dessa maneira, o inventário pode servir de prova em ações judiciais, sendo que sua realização criteriosa estabelece a relação de bens culturais portadores de referência e identidade cujo efeito jurídico é no mínimo prova de necessidade de sua preservação, em juízo ou fora dele. (...)” (SOUZA FILHO apud RICHTER, 2003 p.60)

O trabalho foi organizado em três partes. A primeira, consiste na abordagem da relação da memória com o patrimônio, na contextualização geral da preservação do patrimônio cultural no Brasil e dos instrumentos utilizados para a proteção. Já a segunda, trata da realização do inventário da Casa de Cultura de Mariana por meio da análise histórico-documental, estáticoconstrutiva e pela descrição dos aspectos gerais do bem em questão. Nela foi utilizada a metodologia de análise proposta por De Angelis, apresentada por KÜHL (2011) e que tem como base as teorias de Cesare Brandi. Dessa forma, será realizada a observação das três instâncias (o edifício e o seu entorno, o edifício por si só e o do edifício e seus detalhes) que resultará nas seguintes análises:


26

Análise estático-construtiva: consiste na realização de pesquisa de campo, observação do edifício de maneira a possibilitar a identificação de aspectos construtivos, patologias existentes e dos materiais empregados. Análise histórica-documental: é a gerada a partir da consulta de literaturas, documentações obtidas no Cartório de Imóveis e no Escritório Técnico do Iphan de Mariana. Análise artístico/crítico: possibilita a identificação do estilo arquitetônico da edificação com base na observação dos detalhes presentes na edificação.

Assim, após a realização das duas etapas iniciais durante o TFG 1, será realizada a terceira parte que consiste no diagnóstico da edificação. Este, será feito com base no levantamento arquitetônico e fotográfico, nas observações dos elementos construtivos. Por fim, com a finalização das análises dos dados, será feita a análise do estado de conservação do imóvel com base no mapeamento dos danos e serão geradas fichas cadastrais de identificação que contém as informações indispensáveis para o conhecimento do objeto de proteção.


27

2 A MEMÓRIA E O PATRIMÔNIO

Na discussão sobre o patrimônio pode ser frequentemente observada a ligação entre a preservação e a transmissão da memória. Ao abordar este tema, a UNESCO ressalta a importância dos bens culturais que segundo a mesma são de “(...) fundamental importância para a memória, a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas(...)”. Segundo Schmidt (1993), referências fundamentais acerca deste tema estão presentes nos estudos de Maurice Halbwatchs relativos a estrutura social da memória. Esta é retratada principalmente em três grandes de suas obras: Os quadros sociais da memória, Topografia legendária dos Evangelhos na Terra Santa e A memória coletiva (obra póstuma). Para Halbwatchs (1990), a lembrança é tanto reconhecimento como reconstrução. É tida como reconhecimento por tratar do sentimento o qual já foi identificado. Quanto à reconstrução se deve por dois motivos: pelo fato de não simbolizar uma repetição linear dos fatos e vivências do passado e sim por realizar um resgate dos mesmos no cenário atual; por ser diferenciada, estar em destaque na massa de acontecimentos e vivências evocáveis e estar localizada em um determinado tempo, espaço e conjunto de relações sociais. Dessa forma, conforme afirma Halbwatchs(1990), estes dois aspectos dependem da existência de um grupo de referência já que as lembranças recuperam relações sociais, não somente ideias ou sentimentos avulsos os quais são obtidos por meio de um fundamento comum de dados e noções compartilhadas. Ao invés disso, para ele, a memória consiste na interação entre reconstrução e reconhecimento que permite a atualização dos quadros sociais nos quais as lembranças podem permanecer e assim, articularem entre si. Com relação aos testemunhos, segundo Maurice Halbwatchs (1990) é por meio do depoimento do outro que há o apoio e o complemento do trabalho da memória, já que ele afirma que: “[...] se nossa impressão pode apoiar-se não somente na nossa lembrança, mas também sobre a dos outros, nossa confiança na exatidão de nossa evocação será maior, como se uma mesma experiência fosse começada, não somente pela mesma pessoa, mas por várias[...]”. (HALBWATCHS,1990, p.25)

Assim, com base neste autor, existem dois níveis de testemunhos. O primeiro, que é quando o indivíduo interage com si mesmo e confronta a sua visão do momento presente com suas experiências e opiniões anteriores. Já o segundo nível, consiste no diálogo entre o indivíduo e o outro que pode estar presente fisicamente ou estar internalizado, de modo que o trabalho da memória possa ser entendido como o confronto de vários pontos de vista que cohabitam o indivíduo.


28

Estes dois níveis, são então meios que auxiliam na percepção, observação e lembrança uma vez que na percepção e pela observação da realidade atual, o indivíduo recorre a sua experiência anterior e ao testemunho anterior de outro no qual pode ser constatado importantes aspectos. Desse modo, como explica Halbwatchs (1990), é impossível a existência de uma memória que seja totalmente individual pois as lembranças dos indivíduos são construídas através da relação de pertencimento com um determinado grupo. Assim sendo, a memória individual pode ser compreendida como resultado de várias influências o qual apresenta uma forma particular de articulação das mesmas e tem papel fundamental diante as interferências coletivas, como descreve Franco Cardini: “ a lembrança não se constrói sem a memória coletiva, mas ao mesmo tempo, a recordação pessoal é uma forma de testemunho que impõe limites à tirania ou à ditadura das imagens coletivas”. Em vista disso, como explica Schmidt (1993), este limite deve ser associado ao próprio interior da memória, por expressar que a experiência dos indivíduos é fundamental para a contínua criação da memória coletiva. Ainda sobre este tema há a distinção da memória individual com a memória coletiva, que é exposta por Leonardo Mesentier (2003): “[...] diferentemente da memória individual, a memória social se constrói ao longo de muitas gerações de indivíduos mergulhados em relações determinadas por estruturas sociais. A construção da memória social implica na referência no que não foi presenciado. Trata-se de uma memória que representa processos e estruturas sociais que já se transformam. A memória social é transgeracional e os suportes da memória contribuem para o transporte da memória de uma geração a outra [...].”(MESENTIER,2003,p. 03)

Por consequência, a memória coletiva pode ser considerada como uma maneira de vivenciar a história. Logo, por meio da mesma, pretende-se estabelecer uma tentativa de continuidade entre o passado e o presente de modo a promover o restabelecimento da unidade primitiva de todos os elementos que apresentaram quebra ou ruptura durante o processo histórico do grupo. Além disso, para Halbwachs (1990), a memória coletiva possui um papel muito importante nos processos históricos devido ao fato de dar vitalidade aos objetos culturais, ressaltando os momentos históricos importantes o que consequentemente promove nos grupos sociais a preservação do valor do passado. Segundo este teórico,outra razão, é pelo fato de proteger os objetos culturais que persistem por várias gerações e que podem servir de importantes documentos para as pesquisas históricas.


29

A partir desses dados, depreende-se então que a memória coletiva e social é constantemente transformada a partir das contribuições de várias gerações que repassam o legado da memória no decorrer dos anos através de suportes de memória. Por meio deles, é evidenciado a correlação entre memória e patrimônio já que os objetos culturais, como componentes do patrimônio podem exercer a função de suportes, como é exemplificado por Mesentier (2003): “[...] o patrimônio cultural edificado pode ser pensado enquanto suporte de memória social, ou seja, os edifícios e áreas urbanas de valor patrimonial podem ser tomados como um ponto apoio de construção da memória social, com um estímulo externo que ajuda a reativar e reavaliar certos traços da memória coletiva em uma formação sócioterritorial [...].” (MESENTIER, 2003, p.03)

Portanto segundo afirma Halbwachs (1990), a memória coletiva desempenha um papel fundamental durante a evolução dos processos históricos por proporcionar vitalidade aos objetos culturais, ressaltando os momentos históricos mais significativos e a partir disso, estimular a valorização do passado pelos grupos sociais. Por outro lado, também pelo fato de ser a guardiã dos objetos culturais os quais podem servir como base para a pesquisa histórica. Por fim, a conceituação de Halbwatchs com relação ao lugar da memória coletiva durante os processos históricos, é assim explicitada por Cardini(1980): “[...] a grande protagonista da história é a memória coletiva, que tece e retece, continuadamente, aquilo que o tempo cancela e que, com sua incansável obra de mistificação, redefinição e reinvenção, re-funda e requalifica continuadamente um passado que, de outra forma, correria o risco de morrer definitivamente ou de permanecer irremediavelmente desconhecido [...].” (CARDINI, 1980, p. xii)


30

3 A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL

Conforme afirma Pinheiro (2006), o início da preservação do patrimônio no Brasil ocorre efetivamente na década de 1920 com o surgimento das primeiras legislações sobre este tema. No entanto, afirma também que é necessário a observação dessa questão sobre um panorama mais amplo para compreender a evolução das iniciativas preservacionistas.

3.1 Evolução histórica e da legislação

De acordo com SPHAN (1980), uma das primeiras notícias sobre a proteção dos monumentos históricos ocorre no século XIX, quando Alfredo do Vale Cabral, o chefe da seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional, viaja para as províncias da Bahia, Alagoas, Pernambuco e Paraíba para o recolhimento da epigrafia dos monumentos desses locais. Porém, também afirma que apesar das iniciativas iniciais durante o reinado de Dom Pedro II e da preocupação de escritores como Araújo Porto-Alegre durante a República, não foram alcançados grandes resultados. Conforme afirma Maria Lúcia Pinheiro (2006), a situação passa a mudar em 1914, através do discurso de Ricardo Severo na conferência “A Arte Tradicional Brasileira” em que defendia o reconhecimento das raízes nacionais na arquitetura. Raízes, que segundo ele não teriam que ser encontradas “(...)nas artes elementares do primeiro indígena e sim mais perto da nossa idade e da nossa índole, após o estabelecimento dos povos que pelo século XVI partiram do Ocidente Europeu, para a descoberta do resto do mundo(...). ” (In: SOCIEDADE DE CULTURA ARTÍSTICA, 1916, pp 46-47). Como consequência disso, a visão nacionalista passa a interessar os artistas e intelectuais modernistas ligados à Semana de 1922, como expõe a apostila Inventário preparada para o curso de extensão do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix: “[...]além de pretenderem inserir o país no contexto das grandes transformações ocorridas no mundo, antagonicamente buscavam o retrato do Brasil que pudesse identifica-lo.Com este objetivo, empreenderam uma viagem a Minas Gerais, através do qual “elegeram” como referência da identidade nacional os sítios e monumentos do século XVIII que, apesar de abandonados, mantinham a integridade estilística original que refletia a tradição desejada. Como resultado dessa busca, cujo motivo era construir uma identidade nacional e também salvaguardar o patrimônio ameaçado, foram criadas legislações de proteção[...].” (CENTRO METODISTA IZABELA HENDRIX,2004, p.4)

Porém, segundo o SPHAN (1980), uma primeira iniciativa já havia ocorrido anteriormente em 1920, quando o professor Bruno Lobo, que na época era o presidente da


31

Sociedade Brasileira de Belas Artes, solicitou que o Professor Alberto Childe elaborasse um anteprojeto de lei de defesa do patrimônio artístico nacional que não alcançou bons resultados por priorizar a proteção dos bens arqueológicos em detrimento dos bens históricos e por propor a desapropriação de todos os bens. Em 1923, surge na Câmara dos Deputados, o primeiro projeto destinado a proteção dos monumentos históricos e artísticos do país, de autoria de Luiz Cedro e que ao contrário do projeto defendido por Childe, era bastante tímido e não havia grande interesse nos monumentos arqueológicos. Desta maneira, no ano seguinte, o poeta Augusto de Lima apresenta na Câmara dos Deputados um projeto que buscava a proibição da saída do país de obras de arte tradicional brasileira e que também visava a complementar o projeto de Cedro. Também afirma que nesse mesmo ano as medidas de proteção ao patrimônio cultural do país mudariam do nível federal para o estadual e seria iniciada em 1925 no estado de Minas Gerais com a criação de uma comissão para o estudo do assunto. Em 1927 ocorreria também na Bahia, por meio da criação das leis estaduais nº 2031 e nº 2032 que geraria a criação da Inspetoria Estadual de Monumentos Nacionais junto à Diretoria do Arquivo Público e Museu Nacional. No ano de 1933, surge o decreto lei nº 22.928 que apesar do seu pequeno alcance pelo seu objetivo é bastante importante pois através do mesmo, além de considerar a cidade de Ouro Preto como monumento nacional, inicia uma nova fase política. Em 1936, a pedido de Gustavo Capanema que era ministro da Educação e Saúde, Mário de Andrade cria um anteprojeto para a criação de um serviço federal de proteção ao patrimônio. No mesmo, ele estabelece definições sobre o patrimônio bem como trata da organização do plano de gestão desse serviço. Desse modo, em 1937, é realizada a criação oficial do Serviço de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Segundo Maria Lucia Pinheiro (2006), a atuação do SPHAN seria normalizada pela promulgação do Decreto-Lei nº 25 que demonstra preocupação com a conceituação do termo patrimônio, legitima o tombamento e aborda a questão do direito de propriedade. Como afirma SPHAN (1980), a fase que compreende os primeiros anos de atuação desta instituição, ficaria conhecida como fase heróica e teve como presidente, Rodrigo Melo Franco de Andrade. Durante este período que perdurou até o ano de 1967, o foco principal desta instituição era evitar que edificações civis e religiosas, semi-abandonadas, desabassem ou desaparecessem por ruínas por meio de iniciativas que promovessem a conscientização da população para da


32

importância da preservação das edificações pertencentes aos núcleos tombados assim como os bens móveis pertencentes a eles. Entre os anos de 1967 a 1979, que corresponde a segunda fase, é desenvolvida uma nova política de tombamentos a qual seria mais voltada para a preservação dos conjuntos diante do rápido desenvolvimento urbano e viário do país gerado pela crescente industrialização e que ocasionou a valorização imobiliária. Neste contexto, conforme aborda a apostila Inventário, durante a década de 1970, ocorrem importantes mudanças como a substituição do nome do SPHAN pelo IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e a criação de órgãos estaduais para complementar e ampliar as ações desse instituto. Nesse sentido, em setembro de 1971, é criado o IEPHA/MG a fim de possibilitar a proteção e promoção do patrimônio cultural histórico, natural e científico de interesse de preservação do Estado, sendo que a atuação se limitava aos bens não contemplados pela atuação do IPHAN. Segundo Carvalho (2011) outro avanço sobre esse tema ocorre com a Carta Constitucional de 1988, ao retomar ideias presentes no anteprojeto de Mário de Andrade que previa outros mecanismos de proteção do patrimônio além do tombamento. Dessa forma, conforme afirma a apostila Inventário, por meio da promulgação da Carta há atualização e ampliação do conceito de patrimônio cultural, além de definir novos mecanismos legais de proteção (inventários, registros, desapropriação), como define o artigo 216: “constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais incluem: I.as formas de expressão; II.os modos de criar, fazer e viver; III.as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV.as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados ás manifestações artístico-culturais; V.Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. ”

Portanto, a partir dessas transformações, o patrimônio que antes estava associado somente ás grandes edificações, passa a englobar outros bens como as edificações mais modestas.


33

Hoje, de acordo a apostila Inventário, a partir da criação do Estatuto da Cidade, o patrimônio passa a estar interligado com o crescimento urbano de maneira a buscar também o desenvolvimento local sustentável.

3.2 Instrumentos de proteção

A partir da Constituição de 1988, houve a inclusão de novos dispositivos legais para a preservação, de maneira a permitir a ampliação dos meios de proteção, já que anteriormente só era regulamentada a prática do tombamento. Assim, são assegurados a utilização de várias medidas de acautelamento, sendo as mais conhecidas, o tombamento, a realização de inventários e a educação patrimonial. O tombamento, segundo o IPHAN, é um ato administrativo realizado pelo Poder Público, nos níveis federal, estadual ou municipal que tem como objetivo a preservação de bens móveis ou imóveis de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, de maneira a evitar a destruição e/ou descaracterização dos mesmos. Assim sendo, esta ação age no sentido de restringir o direito de propriedade como forma de garantir a proteção do patrimônio já que se for constatado a falta de cumprimento das diretrizes estabelecidas para o bem tombado, o responsável pela edificação poderá ser penalizado pelo órgão em que foi realizada a proteção. Quanto aos inventários como expõe Yussef Campos (2013) foram amplamente discutidos através de várias cartas patrimoniais: Carta de Atenas, Carta de Veneza, Carta de Petrópolis, Carta de Lausanne, Conferência da Unesco. Mas, dentre elas há o destaque da Carta de Petrópolis em que é retratada a questão da função do mesmo, como expõe Cury: “ (...) No processo de preservação do Sítio Histórico Urbano, o inventário como parte dos procedimentos de análise e compreensão da realidade constitui-se na ferramenta básica para o conhecimento do acervo cultural e natural. A realização do inventário com a participação da comunidade proporciona não apenas a obtenção do conhecimento do acervo por ela atribuído ao patrimônio, mas, também, o fortalecimento dos seus vínculos em relação ao patrimônio(...). ” (CURY,2000, p.100)

Miranda (2008) define que esta ferramenta possibilita a identificação e o registro de bens culturais, a partir de pesquisa e do levantamento das características e particularidade dos mesmos sendo adotados para a sua execução critérios técnicos objetivos, com base na natureza histórica, artística, arquitetônico, sociológica, paisagística e etc.


34

De acordo com o IEPHA, é um exercício continuo de pesquisa, que deve ser organizado de forma sistemática, que é dividido nas seguintes etapas:

Identificação: Obtenção de levantamento de fontes orais, documentais e de campo. Fichamento: É responsável pela elaboração de fichas e cadastramento do bem no banco de dados a fim de consolidar as informações obtidas anteriormente. Arquivamento: Armazenamento dos dados coletados na memória de computador e associação deles com arquivos de iconografia e com os projetos do órgão. Disponibilização: Permite a consulta as informações contidas banco de dados que pode ser meio digital ou por cópia do inventário para a valorização do bem e realização de estudos.

Já a educação patrimonial, como informa a Apostila Inventário embora não seja considerada um instrumento legal de proteção propriamente dito, apresenta um papel fundamental na proteção do patrimônio cultural pois aponta que é por meio da divulgação de projetos direcionados a informação e conscientização da preservação dos bens culturais que irá ser estabelecida a participação da comunidade e com isso possibilitar a preservação da identidade cultural e o resgate da memória. Portanto, sempre que possível é interessante associar a educação patrimonial com os demais instrumentos a fim de proporcionar a consolidação dos ideais de preservação uma vez que muitas vezes os outros meios não são bem aceitos pela sociedade devido à falta de informação e conhecimento.


35

4 INVENTÁRIO DA CASA DE CULTURA “Defender o nosso patrimônio histórico e artístico é alfabetização” Mário de Andrade

4.1 Mariana: do arraial à cidade

Com base nas informações presentes no portal eletrônico da Prefeitura Municipal de Mariana, o município de Mariana está localizado em uma região de relevo acidentado, na área central do Estado de Minas Gerais, a 110 km ao sudeste de Belo Horizonte, sendo os principais acessos à cidade através das rodovias BR 356 e a MG 262. Do ponto de vista físico, está situada na vertente oriental da Serra do Espinhaço e sua rede de drenagem pertence a Bacia do Rio Doce. O estudo da formação histórica de Mariana teve como base principal a obra “Mariana: Gênese e transformações de uma paisagem cultural”, de Cláudia Damasceno. Segundo esta obra, este município inicia-se em 16 de julho de 1696, quando os paulistas Miguel Garcia e o Coronel Salvador Furtado descobriram um rio rico em ouro que seria nomeado Ribeirão Nossa Senhora do Carmo. Suzy de Mello (1985) afirma que nesse sítio seriam estabelecidos os primeiros assentamentos que formariam o Arraial de Mata Cavalos. Conforme afirma Cláudia Damasceno (1995) relata que esta região foi desocupada entre 1697 e 1698 e depois entre 1701 e 1702 por causa da fome e das enchentes. Como decorrência disso, surgem novas áreas de ocupação próximas desse arraial: o Arraial de Cima que daria origem ao núcleo de São Gonçalo e o Arraial de Baixo no qual foi instalado a Matriz da freguesia que mais tarde seria conhecida como catedral do bispado. Como afirma Suzy de Mello (1985), este arraial seria conectado com o Arraial de Cima, através da construção da estrada tronco como mostra o mapa 1:


36

Mapa 1 - Início do desenvolvimento urbano de Mariana

Fonte: Isabella Walter.

Com a descoberta de grande quantidade de ouro na região, Damasceno (1995) diz que ocorre um rápido crescimento do núcleo que é promovido em 1711 a condição de Vila do Carmo. Também afirma que diante dessa mudança houve a alteração da estrutura física do povoado, como consequência da criação de diversas instituições de poder administrativo. Conforme a obra “Espaço Urbano de Mariana: suas transformações e suas representações”, as primeiras modificações ocorreram no largo da matriz o qual passou a ter formato quadrangular e a abrigar os primeiros prédios públicos e o pelourinho. De acordo com essa mesma fonte, anos mais tarde, na rua lateral a matriz, conhecida como caminho de fora, haveria a instalação da casa dos juízes-de-fora e a Casa da Intendência que daria o nome a rua. Segundo Damasceno (1995), em 1719 haveria a criação do Quartel dos Dragões do Conde de Assumar nos terrenos onde mais tarde seria o prédio definitivo da Câmara e próximo a ele seria instalado um bebedouro para os cavalos, no Largo da Cavalhada (atual Praça Gomes Freire). Um ano depois, seria erguida mais uma capela, dedicada a Santana e que daria o nome ao bairro formado a sua volta (Mapa 2).


37

Mapa 2 - Transformações urbanas decorrentes da elevação à condição de Vila do Carmo Legenda:

Fonte: Isabella Walter.

No ano de 1740, ocorre uma grande enchente e dessa forma como indica Damasceno (1995), o desenvolvimento da vila que antes ocorria nas terras baixas ao longo do rio passa a ser direcionado para a direção sul, onde ficavam as terras mais altas e protegidas. Então, de acordo com esta autora, em função das enchentes foi elaborada a reconstrução da vila através do plano criado pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim no qual houve a retificação das ruas e eixos de expansão já existentes e o parcelamento de uma nova área livre da ameaça de enchentes. Para isso, Cláudia Damasceno (1995) relata que uma das alternativas adotadas por Alpoim foi a implantação das vias e dos casarios na direção longitudinal de forma que os cursos d´água ocupassem o fundo dos lotes o que permitia a sua utilização como divisa natural dos terrenos e ao mesmo tempo possibilitava o escoamento das águas servidas. Além disso, comenta que após cinco anos da ocorrência da enchente, Mariana é elevada à condição de cidade o que promove nova configuração urbana que é gerada pela criação do


38

traçado de novas praças e ruas e pelo deslocamento do eixo de poder para a região atrás da Matriz, onde seriam instalados décadas mais tarde importantes edifícios públicos e religiosos como o Pelourinho e a Casa de Câmera e Cadeia, como revela o Mapa 3.

Mapa 3 - A elevação à condição de cidade e o Plano Alpoim

Legenda:

Fonte: Isabella Walter.

Porém, segundo Damasceno (1995) no final do séc XVIII, ocorre a queda drástica da produção de ouro da cidade, o que acarreta o congelamento da paisagem e da estrutura do município, já que ao longo de todo o século XIX, poucos edifícios relevantes foram construídos e não houve a criação de novos núcleos habitacionais, como pode ser observado pela figura 1:


39

Figura 1 - A cidade de Mariana no início do séc. XIX

Fonte: Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro

Contudo, relata que no século seguinte foram retomados o dinamismo e o desenvolvimento de Mariana com a exploração da Mina de Passagem e com a criação da fábrica de tecidos São José (atual Centro de Convenções) na margem esquerda do Ribeirão, como pode ser observado abaixo pelo Mapa 4 e pela figura 2:


40

Mapa 4 - O impacto da industrialização em Mariana

Fonte: Isabella Walter.

Figura 2 - Vista parcial de Mariana no ano de 1932, autoria desconhecida.

Fonte: Projeto Mariana, memória apagada?

Segundo a autora, é também nessa época que começa a ser abordado no mundo todo a questão da preservação dos bens culturais. Diante desse cenário, no ano de 1938, é realizado o


41

tombamento federal do conjunto arquitetônico e urbanístico de Mariana, que inclui toda a cidade já que não ocorreu a delimitação de áreas específicas a serem protegidas. Em 1945, por meio do Decreto-lei 7561, recebe o título de cidade monumento e em 1969 é construído a Rodovia Inconfidentes, que liga a cidade de Mariana a Ponte Nova (Mapa 5).

Mapa 5 - Configuração urbana em meadas da década de 70

Fonte: Isabella Walter.

Por fim, no final do término do livro “Mariana: Gênese e transformações de uma paisagem cultural”, a autora conclui que a configuração do tombamento descrita anteriormente ainda persiste atualmente e já que não houve a realização de um perímetro de tombamento e o estabelecimento de normas e diretrizes de preservação para cada área dessa região. Em função disso, comenta que é prejudicada a ação do IPHAN, órgão que a partir de 1945 passa a ser responsável pela aprovação de todas as intervenções físicas realizadas no centro histórico e no seu entorno imediato.


42

4.2 A Casa de Cultura

Com base na Poligonal de tombamento do conjunto urbanístico e histórico de Mariana (Mapa 6), o casarão está localizado na Rua Frei Durão nº 84 (antiga Rua da Intendência) na região do antigo caminho novo que atualmente integra o centro histórico. Próximos ao bem analisado, estão inseridos monumentos como a Matriz (número 8) e o Museu de Arte Sacra (número 7).


Ma pa6-Po l i g o na ldet o mba me nt odoc o nj unt oa r qui t e t 么 ni c oeur ba n铆 s t i c odac i da dedeMa r i a na

Fo nt e :Es c r i t 贸 r i oT茅 c ni c oI I / I PHAN/ Ma r i a na , e di t a dopo rMi c he l l eChi r i bo g a .


44

De acordo com VASCONCELLOS (1947), a construção ocorreu na metade do século XVIII, durante o começo da vila, com a elaboração da residência do mestre-decampo Rafael da Silva e Souza sendo que a princípio a edificação teria somente um pavimento. Em 1730, a casa seria vendida para a Fazenda Real e se tornaria a moradia do primeiro intendente, o Dr. Antônio Rodrigues de Macedo, que seria nomeado no dia 14 de outubro de 1936, o primeiro intendente. (Cd. 63 D.F. no Arq. Público Mineiro, pág 4, e cód. 65, 5 v.). Nessa mesma época, conforme afirma este autor: “se instalou também a repartição arrecadadora dos produtos da capitação, do confisco de escravos, das arrematações em praça pública e de tudo quanto se entendia com o ouro destinado ao erário régio”. Depois de 1760, ocorre o repasse a particulares, é construído o andar superior (figura 3), e torna-se residência de uma pessoa ilustre daquela época.

Figura 3 - A antiga Casa da Intendência após a construção do 2º pavimento

Fonte: Vasconcellos, Salomão de. Breviário Histórico e turístico da cidade de Mariana. p. 45.

Por volta da metade do século XIX pertenceria a família marianense dos Souza Novais, que ocuparia o casarão por quase um século, como consta nos registros presentes no Cartório de Imóveis:


45

- Em 17/07/1963, Silvio Ribeiro adquiriu de Domingos de Souza e s/m D. Izabel de Souza Novais; Maria Madalena Novais Corrêa; Eleutério de Souza Novais; Hélio Murta Novais; Conceição Macêdo Novais; Abigail de Souza Novais; Elcira Novais de Godoy; Mercedes Novais Murta e s/ marido Martinho José Murta; Vicente de Paula Novais e s/m Julieta Albanêza Novais; Martinho Alexandre Novais e s/m Gina Lotti Novais; Corino de Souza Novais Filho e s/m Hilda Rosa Novais; D. Carolina Novais de Godoy; Eulalia de Souza Novais; Geraldo Maciel Novais. (Livro 3-J, fls 203/204 e nº de ordem: 7.586) - Em 18/10/1963, foi realizado o espólio de Dª Leopoldina Rosa de Souza Novais. (Livro desconhecido, nº de ordem 7668). - Em 01/12/1970, é movida pelo Estado de Minas Gerais, uma ação de desapropriação contra Silvio Ribeiro e Eubéia Eulália, que eram os proprietários do imóvel. (Livro 3-O, fls. 158/159 e nº de ordem 10.635). Além disso, segundo a segunda publicação do Guia Cultural Mariana- Passagem de Mariana-Ouro Preto, este monumento civil foi casa de hospedagem de Dom Pedro II, residência do poeta inconfidente Cláudio Manoel da Costa, local de encontro dos sediciosos liderados por Felipe dos Santos. Atualmente é a sede da Academia Marianense de Letras e da Academia InfantoJuvenil de Letras, Ciências e Artes. Nesse local também ocorrem aulas de violão e ocasionalmente eventos culturais tanto na parte interior como exterior da edificação como mostra as figuras 4,5 e 6.

Figura 4 - Exposição dos bonecos do bloco do Zé Pereira da Chácara

Fonte: Cia Navegantes. 30 ago. 2011.


46

Figura 5 - Aula de violão no auditório da edificação

Fonte: Rafael Santos. 15 abr. 2015.

Figura 6 - Sarau “Cantando Alphonsus”

Fonte: Cultura em Revista, edição maio/2014.


47

4.3 O entorno da edificação

Segundo o Dossiê de Tombamento do Núcleo Histórico de Mariana, a partir da proposta de Norma de Preservação para o Sítio Histórico Urbano criada pelo IPHAN no ano de 2008, foi estabelecido um zoneamento a partir da criação de setores morfológicos (Mapa 7) em que são definidos parâmetros urbanísticos para serem utilizados sobre intervenções e/ou novas construções. Dessa forma, baseado nesse estudo, percebe-se que o imóvel estudado está na região correspondente ao setor 1. Está região é caracterizada pela grande quantidade de atividades comerciais, edificações coloniais preservadas que geralmente são constituídas pelas edificações religiosas e pelos sobrados. Nessa região também é possível identificar a Praça Gomes Freire que está localizada no encontro das ruas Barão de Camargo, Dom Viçoso, Frei Durão e Travessa João Pinheiro. Esta, é a única que apresenta um notável tratamento paisagístico, no qual foram elaborados canteiros e caminhos bem definidos, bem como a construção de um lago e a utilização de diversas espécies de árvores que promovem grandes áreas de sombreamento. A rua Frei Durão apresenta disposição na direção transversal e possui declive no sentido leste, para o vale do córrego do Seminário. Ao contrário das demais ruas dessa região, a Rua Frei Durão é conformada por uma via mais larga, em que a extensão transversal comporta até quatro carros, de maneira que dos dois lados da via há locais onde os veículos podem estacionar a 90º do passeio. Sua rede de drenagem foi realizada por meio do posicionamento de bocas de lobo com sistema de captação vertical do tipo grade e que utiliza ferro de construção civil nas sarjetas. O calçamento desta via é do tipo paralelepípedo e o das calçadas que apresentam largura superior a 1m apresentam revestimento de lajotas de pedra sabão e placas e de pedras São Tomé. A iluminação da rua do imóvel é realizada por meio do emprego de postes do tipo neocolonial ao longo das calçadas e, na edificação estudada e em alguns trechos da rua foi observada a utilização de holofotes.


Ma pa7 -Se t o r e smo r f o l 贸 g i c o sdapo l i g i na ldet o mba me nt odac i da dedeMa r i a na

Fo nt e : GRI LLO& WERNECKpr o j e t o sec o ns ul t o r i aLTDA.


49

Figura 7 - Vista da Rua Frei Durão obtida próxima a lateral da Catedral

Fonte: Mariana Rabelo. Jul/2009.

Figura 9 - Boca de lobo da Rua Frei Durão

Fonte: Mariana Rabelo. Jul/2009.

Fonte: Michelle Chiriboga. 24 jun. 2015.

Figura 10 - Pavimentação em pedra São Tomé na Rua Frei Durão

Fonte: Mariana Rabelo.Jul/2009.

Figura 11 - Pavimentação em pedra-sabão na Rua Frei Durão

Figura 8 - Vista da Rua Frei Durão obtida próxima ao Museu de Arte Sacra

Fonte: Mariana Rabelo.Jul/2009.

Figura 12 - Poste neocolonial na Rua Frei Durão

Fonte: Mariana Rabelo. Jul/2009.

Figura 13 - Holofotes entre edificações da Rua Frei Durão

Fonte: Mariana Rabelo. Jul/2009.


50

4.4 Análise estático - construtiva da edificação

A edificação (figura 14) apresenta características do estilo colonial o qual representa a arquitetura realizada pelos portugueses no território brasileiro durante o período da colonização (1530-1820). Segundo Reis Filho (1978), durante este período, a produção arquitetônica e o desenvolvimento dos núcleos urbanos tiveram como base o trabalho escravo o que ocasionou o baixo nível tecnológico e a utilização de técnicas construtivas mais primitivas como o pau-apique, adobe ou taipa de pilão nas residências mais modestas e, nas mais importantes utilizavase pedra e barro, tijolos, pedra e cal. Conforme este autor, em geral as vilas e cidades tinham aspectos uniformes, com casas térreas e sobrados construídos sobre o alinhamento das vias públicas e nos limites laterais dos terrenos. Afirma ainda que a uniformidade dos terrenos é acompanhada pela regularidade arquitetônica já que em certos casos as padronizações das casas eram fixadas através das Cartas Régias ou por meio de posturas municipais. Desse modo, as configurações das aberturas, o pédireito dos pavimentos e os alinhamentos com as edificações vizinhas eram exigências correntes no século XVIII para proporcionar uma aparência portuguesa.

Figura 14 - A Casa de Cultura de Mariana

Fonte: Michelle Chiriboga. 23 de maio de 2015.


51

Com base na certidão do imóvel (Anexo B), na parte do título de desapropriação é estabelecido que as divisas do terreno ocorrem pelas laterais e pelo quintal. Nas laterais, é dividida por um dos lados pela casa de Maria da Conceição Guimarães e pelo outro por meio de um portão que a divide com a propriedade de José Estanislau da Silva. Já o quintal da edificação presente nos fundos da edificação é dividido pelo córrego do Seminário, e pelos com quintais de Maria da Conceição Guimarães, Agenor Loreto, Manoel Teixeira Chaves e José Queiroz. Segundo o levantamento arquitetônico (Anexo C) realizado pelo INBI-SU no ano de 2002 e revisado ao longo deste trabalho, o casarão possui área construída de 494,07 m² e apresenta três níveis: o subsolo, o térreo e o pavimento superior. A figura 15 mostra a planta baixa do subsolo e as figuras 16 e 17, a planta baixa do pavimento térreo e do pavimento superior. No subsolo pode ser verificado que nos ambientes 01 e 02 os espaços estão em desuso, no ambiente 03 a existência de um depósito que no ano de 2002 era um atelier e, no ambiente 04 uma grande área livre. Já no pavimento térreo podem ser observados espaços como a recepção, o auditório, a biblioteca e áreas de apoio como a copa, o banheiro e o despejo. Além disso, no pavimento superior pode ser verificado a concentração das galerias de arte/salas de arte, a sala de música e a área de despejo.


52

Figura 15 - Planta baixa do subsolo da Casa de Cultura - s/ escala

Fonte: Inventário de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados/INBI-SU,IPHAN,2002, editado por Michelle Chiriboga.


53

Figura 16 - Planta baixa do pavimento térreo da Casa de Cultura - Desenho s/ escala

Fonte: Inventário de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados/INBI-SU, IPHAN,2002, editado por Michelle Chiriboga.


54

Figura 17 - Planta baixa do 2º Pavimento da Casa de Cultura - Desenho s/ escala

Fonte: Inventário de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados/INBI-SU, IPHAN, 2002, editado por Michelle Chiriboga.

De acordo com o livro “Breviário Histórico e turístico da cidade de Mariana” de Salomão de Vasconcellos, inicialmente a edificação possuía somente um pavimento e somente depois de 1760, época na qual a mesma já era residida por particulares, é que ocorre a construção do andar superior e do acréscimo dos fundos. A partir desses dados e pela análise de registros fotográficos antigos da Rua Frei Durão, representados nas figuras 18,19,20, foi possível elaborar uma hipótese da evolução construtiva do casarão.


55

Como mostra o esquema abaixo representado pela figura 21, inicialmente havia somente o subsolo e o pavimento térreo. Trinta anos mais tarde, seria construído o segundo pavimento e ocorreria uma primeira expansão na parte posterior da edificação a qual encontra-se hachurada no desenho. Anos mais tarde, haveria uma nova ampliação nos fundos do casarão de modo que a nova configuração do anexo também foi representada por hachura no desenho. Com o passar do tempo, há a queda gradativa do acréscimo e dessa forma, no final do século XX é possível perceber a perda completa dos acréscimos da parte posterior e que corresponde a atual configuração do imóvel.

Figura 18 - Vista da Rua Frei Durão registrada por A. Riegel no ano de 1868

Fonte: Projeto Mariana do fundo do Baú

Figura 19 - Vista da Rua Frei Durão na metade do século XX, autoria desconhecida

Fonte: Acervo pessoal.


56

Figura 20 - Vista da Rua Frei DurĂŁo no final do sĂŠculo XX, autoria desconhecida

Fonte: Acervo pessoal.


Fi g ur a2 1 -Es que madapo s s í v e le v o l uç ã oc o ns t r ut i v adoi mó v e i

Fo nt e :Mi c he l l eChi r i bo g a . 2 5j un. 2 0 1 5 .


58

4.4.1 - Sistema construtivo

O sistema construtivo executado no pavimento do subsolo é predominantemente em alvenaria estrutural de pedra. Segundo Vasconcellos (1979) em geral eram utilizadas alvenarias de pedra e cal, sendo empregados outros sistemas menos resistentes quando fosse impossível a obtenção da pedra, ou da cal. Márcia Braga afirma também que as alvenarias de pedra e cal eram executadas normalmente para receberem revestimento de reboco, porém quando bem executadas por seus autores poderiam ser deixadas a vista. Como pode ser observado pela figura 22 representada abaixo, no casarão, existe tanto alvenaria de pedra e cal com revestimento de reboco quanto sem esta camada. Segundo relato de Rafael Santos, um dos responsáveis pela administração da edificação, pode-se perceber também a existência de alvenaria de pedra executada em tempo posterior a construção das demais (figura 23). Neste pavimento também foram executadas alvenarias de tijolos cerâmicos, provavelmente como fruto de uma intervenção posterior. Em um trecho da mesma é possível identificar o bloco cerâmico aparente, como mostra a figura 24.

Figura 22 - Alvenaria estrutural de pedra do subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 25 jun. 2015.


59

Figura 23 - Alvenaria estrutural de pedra do subsolo construĂ­da posteriormente

Fonte: Michelle Chiriboga.

Figura 24 - Alvenaria de bloco cerâmico no subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 25 jun. 2015.


60

Quanto ao pavimento térreo e superior de modo geral apresentam sistema construtivo executado em tijolo maciço já que o mesmo pode ser verificado em alguns locais como na parte superior das alvenarias de pedra do porão e na parede de divisa com a edificação vizinha, como mostram

as

figuras

25

e

Figura 25 - Tijolos maciços aparentes no topo das alvenarias de pedra do subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 25 jun. 2015.

Figura 26 - Tijolos maciços aparentes na parede de divisa com a edificação vizinha

Fonte: Michelle Chiriboga. 25 jun. 2015.

26.


61

Por fim, com base na observação das configurações das alvenarias e por meio da sonoridade obtida por meio do toque nas mesmas, foram elaboradas plantas faladas com os sistemas construtivos (figuras 27 e 28). Figura 27 - Planta falada do subsolo e do pavimento térreo -Desenhos sem escala.

Fonte: Inventário de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados/INBI-SU,IPHAN 2002, editado por Michelle Chiriboga.

Figura 28 - Planta falada do pavimento superior - Desenho sem escala.

Fonte: Inventário de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados/INBI-SU,IPHAN 2002, editado por Michelle Chiriboga.


62

4.4.2 Estrutura e vedação

A edificação apresenta estrutura autônoma de madeira e acredita-se que inicialmente possuía vedação em pau-a-pique o qual posteriormente foi substituído por tijolos maciços pois segundo Silvio de Vasconcellos (1958) apud Colin (2010) este tipo de estrutura e vedação foi a mais utilizada na arquitetura colonial residencial de Minas Gerais.

4.4.3 Cobertura

A cobertura apresenta quatro águas sendo duas delas pertencentes ao corpo principal. Foram utilizadas telhas do tipo capa e bica. Embora durante o desenvolvimento do trabalho não tenha sido possível ter acesso a mesma, de acordo com a tipologia construtiva frequentemente utilizada nas construções coloniais do período analisado, a estrutura possivelmente foi é do tipo paladiana e foi realizada com peças de madeira.

4.4.4 Fachadas

As esquadrias da fachada frontal (figura 29) apesar de apresentarem medidas variadas podem ser divididas em três tipologias básicas: porta articulada com abertura em duas folhas executada em madeira almofadada e com enquadramento em verga reta; porta com abertura em duas folhas executada com madeira do tipo calha e com enquadramento em verga reta; porta de acesso as sacadas com abertura em duas folhas com madeira almofadada, postigo com vedação externa de madeira e vidro e enquadramento em arco de círculo de madeira.

Figura 29 - Fachada Frontal da Casa de Cultura de Mariana

Fonte: Michelle Chiriboga. 23 maio.2015.


63

A fachada posterior passou por modificações ao longo do tempo, as quais são evidenciadas pela presença de ruínas nos fundos da edificação (foto 30) e pela observação das esquadrias, já que é possível identificar que algumas foram recentemente substituídas (foto 31).

Figura 30 - Ruínas na parte posterior da edificação

Fonte: Michelle Chiriboga. 24 jun.2015.

Figura 31 - Trecho da fachada posterior com as novas esquadrias

Fonte: Michelle Chiriboga. 24 jun.2015.


64

4.4.5 Pisos

Os pisos do sobrado são em sua maioria do tipo tabuado de madeira (figura 32) com réguas de dimensões que variam entre 15 a 40 cm e que são assentadas sobre barrotes de madeira. Mas, também é possível identificar outras tipologias como no subsolo, no qual o piso é de seixo rolado de pedra quartzo e quartzito (figura 33). Outra tipologia pode ser vista na recepção e no depósito do pavimento térreo, onde foram utilizados pisos lajeados de pedra quartzo (figura 34). Além desses casos, pode-se notar pisos mais recentes no corredor, na copa e nos banheiros que estão localizados na parte de trás do auditório do pavimento térreo em que foram utilizadas cerâmicas brancas de dimensões 33x33cm (figura 35) e cerâmicas vermelhas de dimensão 20x20cm (figura 36).

Figura 32 - Piso em tabuado de madeira

Figura 33 - Piso de seixo rolado

Fonte: Michelle Chiriboga. 16 mar. 2015.

Fonte: Michelle Chiriboga. 16 mar. 2015.

Figura 34 - Piso lajeado de pedra

Fonte: Michelle Chiriboga. 07 de maio de 2015.

Figura 35 - Piso cerâmico do banheiro

Fonte: Michelle Chiriboga. 16 mar. 2015.


65

Figura 36 - Piso cerâmico da copa

Fonte: Michelle Chiriboga. 16 mar. 2015.

4.4.6 Escadas

As escadas que dão acesso ao subsolo e ao pavimento superior são de madeira sendo que no primeiro, há também um trecho da escada que é de pedra. Já a escada externa localizada na parte posterior do sobrado surgiu de uma intervenção mais atual já que é do tipo pré-moldada em concreto.

Figura 37 - Escada de madeira de acesso ao subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.


66

Figura 38 - Escada de pedra de acesso ao subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.

Figura 39 - Escada de acesso ao pavimento superior

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.

Figura 40 - Escada externa

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.


67

4.4.7 Forros

Os forros do pavimento térreo são do tipo esteira de taquara com pintura a base de cal como pode ser observado nas figuras abaixo:

Figuras 41 e 42 - Forros de esteira dos ambientes 06, 12 e 13

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.

No pavimento superior foi identificado o forro de madeira do tipo tabuado liso no hall próximo a escada, sendo que em uma das molduras presentes no mesmo é possível identificar a entrada de luz por uma abertura zenital (figuras 43, 44).

Figura 43 - Forro de madeira do tipo tabuado liso

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015.


68

Figura 44 - Abertura zenital no forro

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015.

Nos ambientes 17,18,19 foram utilizados forros do tipo gamela feitos de alvenaria e de madeira e que apresentam diferentes tipos de cimalhas (figuras 45,46,47).

Figura 45 - Forro do ambiente 16

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015.

Figura 46 - Forro do ambiente 17

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015

Figura 47- Forro do ambiente 18

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015


69

No ambiente 21 foi utilizado forro de réguas de madeira que foram pintados de branco, como mostra a figura 48: Figura 48 - Forro de réguas de madeira do ambiente 21

Fonte: Michelle Chiriboga.

Por último, nos ambientes 22,20 (figuras 49,50) foram utilizados forros de madeira do tipo saia e camisa que apresentam peças de madeiras mais estreitas que as utilizadas na forma tradicional desta tipologia, o que é um indício de que os mesmos podem ter sido originados de uma intervenção mais recente.

Figuras 49, 50 - Forros saia e camisa dos ambientes 22,20

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015


70

5 MAPEAMENTO DE DANOS DA EDIFICAÇÃO

Para a elaboração do diagnóstico, foram realizadas duas etapas. Na primeira, houve o mapeamento dos danos o qual foram representados por meio de desenhos gráficos que foram realizados após a realização dos cortes e das elevações. (Ver anexo D). A partir dos mapeamentos foram detectadas como principais patologias: sujidades, descolamento da pintura, trincas, bolor. Os dois primeiros fatores são geralmente causados pela falta de manutenção periódica da edificação e o bolor é ocasionado pela umidade que é agravada pela exposição as intempéries e pela falta de reparo. Quanto as trincas possivelmente foram geradas por causa das movimentações térmicas e a incompatibilidade das propriedades entre os diferentes materiais o que provoca movimentações diferenciadas. Após a primeira etapa, iniciou-se a segunda na qual foram elaboradas as fichas cadastrais do inventário (Anexo E) que contém informações gerais do imóvel e as fichas de diagnóstico (Anexo F) nas quais houve a identificação das esquadrias, dos forros e dos pisos. No total foram confeccionadas 41 fichas de esquadrias, das quais 14 eram de janelas e 27 eram de portas e 18 fichas de forros e piso sendo que em todas as fichas foram identificados os estados de conservação e quando existentes, as principais patologias e suas possíveis causas. Nas fichas das portas, as patologias foram especificadas pelo código iniciado pelas letras Po. As mais frequentes foram: sujidades, descolamento da pintura, manchas de tinta branca e proliferação de insetos xilófagos, o que possivelmente foram ocasionadas pela falta de limpeza e manutenção; erro na execução da pintura; existência de madeira seca, de rachaduras e frestas na estrutura. No caso das janelas, as patologias foram identificadas através do código iniciado pela letra J. Dentre todas as identificadas, as mais frequentes foram: descolamento da pintura, manchas pretas no caixilho, formação de bolhas de tinta, trincas e manchas de tinta branca. Em geral são causadas pela má execução da pintura e pela umidade. Nos forros, as patologias foram representadas pelo código iniciado pela letra F e as principais foram: manchas no forro, descolamento da pintura na região próxima a luminária e trinca na cimalha. As possíveis causas das mesmas estão relacionadas a umidade, má execução da pintura, falta de manutenção e a deformação do material devido a incompatibilidade das propriedades dos materiais. Já as patologias presentes nos pisos foram especificadas pelo código iniciado pela letra P. As mais comuns, foram detectadas nas réguas de madeira sendo elas: as manchas, trincas e ranhuras e proliferação de insetos xilófagos. Estas, foram causadas pela má utilização; falta de


71

manutenção; pela existência de madeira seca, rachaduras e frestas na estrutura e condições ambientais propícias ao desenvolvimento dos insetos xilófagos; Dessa forma, pela análise do diagnóstico percebe-se que grande parte das patologias podem ser resolvidas com pequenas intervenções de manutenção como por exemplo com a limpeza, substituição das peças que apresentam falhas e com a execução da pintura.


72

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade de Mariana assim como várias outras cidades históricas, passou por várias transformações

urbanas

e

arquitetônicas

ao

longo

dos

anos.

Infelizmente, grande parte das edificações mais antigas que remontam a época do desenvolvimento das vilas, já se perderam e, das que restaram, em geral apresentam muita pouca informação a respeito e encontram-se em mau estado de conservação. Dessa forma, esse trabalho surge da preocupação de resgatar a memória da cidade de Mariana e procura promover a valorização e preservação do seu acervo arquitetônico. Diante da grande importância arquitetônica e histórica da Casa de Cultura de Mariana, a mesma foi escolhida como objeto de estudo para a realização deste inventário que tem por objetivo possibilitar informações gerais sobre a mesma e a partir das análises geradas poderá servir como material de apoio diante de possíveis intervenções de restauro dessa edificação. Por fim, para o melhor entendimento dos aspectos construtivos do bem, recomenda-se que haja a execução de prospecções no local e que seja realizado um novo levantamento arquitetônico do casarão a fim de verificar e completar os dados presentes no antigo levantamento já que o mesmo se encontra desatualizado por ter sido realizado no ano de 2002.


58

4.4.1 - Sistema construtivo

O sistema construtivo executado no pavimento do subsolo é predominantemente em alvenaria estrutural de pedra. Segundo Vasconcellos (1979) em geral eram utilizadas alvenarias de pedra e cal, sendo empregados outros sistemas menos resistentes quando fosse impossível a obtenção da pedra, ou da cal. Márcia Braga afirma também que as alvenarias de pedra e cal eram executadas normalmente para receberem revestimento de reboco, porém quando bem executadas por seus autores poderiam ser deixadas a vista. Como pode ser observado pela figura 22 representada abaixo, no casarão, existe tanto alvenaria de pedra e cal com revestimento de reboco quanto sem esta camada. Segundo relato de Rafael Santos, um dos responsáveis pela administração da edificação, pode-se perceber também a existência de alvenaria de pedra executada em tempo posterior a construção das demais (figura 23). Neste pavimento também foram executadas alvenarias de tijolos cerâmicos, provavelmente como fruto de uma intervenção posterior. Em um trecho da mesma é possível identificar o bloco cerâmico aparente, como mostra a figura 24.

Figura 22 - Alvenaria estrutural de pedra do subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 25 jun. 2015.


59

Figura 23 - Alvenaria estrutural de pedra do subsolo construĂ­da posteriormente

Fonte: Michelle Chiriboga.

Figura 24 - Alvenaria de bloco cerâmico no subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 25 jun. 2015.


60

Quanto ao pavimento térreo e superior de modo geral apresentam sistema construtivo executado em tijolo maciço já que o mesmo pode ser verificado em alguns locais como na parte superior das alvenarias de pedra do porão e na parede de divisa com a edificação vizinha, como mostram

as

figuras

25

e

Figura 25 - Tijolos maciços aparentes no topo das alvenarias de pedra do subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 25 jun. 2015.

Figura 26 - Tijolos maciços aparentes na parede de divisa com a edificação vizinha

Fonte: Michelle Chiriboga. 25 jun. 2015.

26.


61

Por fim, com base na observação das configurações das alvenarias e por meio da sonoridade obtida por meio do toque nas mesmas, foram elaboradas plantas faladas com os sistemas construtivos (figuras 27 e 28). Figura 27 - Planta falada do subsolo e do pavimento térreo -Desenhos sem escala.

Fonte: Inventário de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados/INBI-SU,IPHAN 2002, editado por Michelle Chiriboga.

Figura 28 - Planta falada do pavimento superior - Desenho sem escala.

Fonte: Inventário de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados/INBI-SU,IPHAN 2002, editado por Michelle Chiriboga.


62

4.4.2 Estrutura e vedação

A edificação apresenta estrutura autônoma de madeira e acredita-se que inicialmente possuía vedação em pau-a-pique o qual posteriormente foi substituído por tijolos maciços pois segundo Silvio de Vasconcellos (1958) apud Colin (2010) este tipo de estrutura e vedação foi a mais utilizada na arquitetura colonial residencial de Minas Gerais.

4.4.3 Cobertura

A cobertura apresenta quatro águas sendo duas delas pertencentes ao corpo principal. Foram utilizadas telhas do tipo capa e bica. Embora durante o desenvolvimento do trabalho não tenha sido possível ter acesso a mesma, de acordo com a tipologia construtiva frequentemente utilizada nas construções coloniais do período analisado, a estrutura possivelmente foi é do tipo paladiana e foi realizada com peças de madeira.

4.4.4 Fachadas

As esquadrias da fachada frontal (figura 29) apesar de apresentarem medidas variadas podem ser divididas em três tipologias básicas: porta articulada com abertura em duas folhas executada em madeira almofadada e com enquadramento em verga reta; porta com abertura em duas folhas executada com madeira do tipo calha e com enquadramento em verga reta; porta de acesso as sacadas com abertura em duas folhas com madeira almofadada, postigo com vedação externa de madeira e vidro e enquadramento em arco de círculo de madeira.

Figura 29 - Fachada Frontal da Casa de Cultura de Mariana

Fonte: Michelle Chiriboga. 23 maio.2015.


63

A fachada posterior passou por modificações ao longo do tempo, as quais são evidenciadas pela presença de ruínas nos fundos da edificação (foto 30) e pela observação das esquadrias, já que é possível identificar que algumas foram recentemente substituídas (foto 31).

Figura 30 - Ruínas na parte posterior da edificação

Fonte: Michelle Chiriboga. 24 jun.2015.

Figura 31 - Trecho da fachada posterior com as novas esquadrias

Fonte: Michelle Chiriboga. 24 jun.2015.


64

4.4.5 Pisos

Os pisos do sobrado são em sua maioria do tipo tabuado de madeira (figura 32) com réguas de dimensões que variam entre 15 a 40 cm e que são assentadas sobre barrotes de madeira. Mas, também é possível identificar outras tipologias como no subsolo, no qual o piso é de seixo rolado de pedra quartzo e quartzito (figura 33). Outra tipologia pode ser vista na recepção e no depósito do pavimento térreo, onde foram utilizados pisos lajeados de pedra quartzo (figura 34). Além desses casos, pode-se notar pisos mais recentes no corredor, na copa e nos banheiros que estão localizados na parte de trás do auditório do pavimento térreo em que foram utilizadas cerâmicas brancas de dimensões 33x33cm (figura 35) e cerâmicas vermelhas de dimensão 20x20cm (figura 36).

Figura 32 - Piso em tabuado de madeira

Figura 33 - Piso de seixo rolado

Fonte: Michelle Chiriboga. 16 mar. 2015.

Fonte: Michelle Chiriboga. 16 mar. 2015.

Figura 34 - Piso lajeado de pedra

Fonte: Michelle Chiriboga. 07 de maio de 2015.

Figura 35 - Piso cerâmico do banheiro

Fonte: Michelle Chiriboga. 16 mar. 2015.


65

Figura 36 - Piso cerâmico da copa

Fonte: Michelle Chiriboga. 16 mar. 2015.

4.4.6 Escadas

As escadas que dão acesso ao subsolo e ao pavimento superior são de madeira sendo que no primeiro, há também um trecho da escada que é de pedra. Já a escada externa localizada na parte posterior do sobrado surgiu de uma intervenção mais atual já que é do tipo pré-moldada em concreto.

Figura 37 - Escada de madeira de acesso ao subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.


66

Figura 38 - Escada de pedra de acesso ao subsolo

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.

Figura 39 - Escada de acesso ao pavimento superior

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.

Figura 40 - Escada externa

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.


67

4.4.7 Forros

Os forros do pavimento térreo são do tipo esteira de taquara com pintura a base de cal como pode ser observado nas figuras abaixo:

Figuras 41 e 42 - Forros de esteira dos ambientes 06, 12 e 13

Fonte: Michelle Chiriboga. 17 abr. 2015.

No pavimento superior foi identificado o forro de madeira do tipo tabuado liso no hall próximo a escada, sendo que em uma das molduras presentes no mesmo é possível identificar a entrada de luz por uma abertura zenital (figuras 43, 44).

Figura 43 - Forro de madeira do tipo tabuado liso

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015.


68

Figura 44 - Abertura zenital no forro

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015.

Nos ambientes 17,18,19 foram utilizados forros do tipo gamela feitos de alvenaria e de madeira e que apresentam diferentes tipos de cimalhas (figuras 45,46,47).

Figura 45 - Forro do ambiente 16

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015.

Figura 46 - Forro do ambiente 17

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015

Figura 47- Forro do ambiente 18

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015


69

No ambiente 21 foi utilizado forro de réguas de madeira que foram pintados de branco, como mostra a figura 48: Figura 48 - Forro de réguas de madeira do ambiente 21

Fonte: Michelle Chiriboga.

Por último, nos ambientes 22,20 (figuras 49,50) foram utilizados forros de madeira do tipo saia e camisa que apresentam peças de madeiras mais estreitas que as utilizadas na forma tradicional desta tipologia, o que é um indício de que os mesmos podem ter sido originados de uma intervenção mais recente.

Figuras 49, 50 - Forros saia e camisa dos ambientes 22,20

Fonte: Michelle Chiriboga. 15 de maio de 2015


70

5 MAPEAMENTO DE DANOS DA EDIFICAÇÃO

Para a elaboração do diagnóstico, foram realizadas duas etapas. Na primeira, houve o mapeamento dos danos o qual foram representados por meio de desenhos gráficos que foram realizados após a realização dos cortes e das elevações. (Ver anexo D). A partir dos mapeamentos foram detectadas como principais patologias: sujidades, descolamento da pintura, trincas, bolor. Os dois primeiros fatores são geralmente causados pela falta de manutenção periódica da edificação e o bolor é ocasionado pela umidade que é agravada pela exposição as intempéries e pela falta de reparo. Quanto as trincas possivelmente foram geradas por causa das movimentações térmicas e a incompatibilidade das propriedades entre os diferentes materiais o que provoca movimentações diferenciadas. Após a primeira etapa, iniciou-se a segunda na qual foram elaboradas as fichas cadastrais do inventário (Anexo E) que contém informações gerais do imóvel e as fichas de diagnóstico (Anexo F) nas quais houve a identificação das esquadrias, dos forros e dos pisos. No total foram confeccionadas 41 fichas de esquadrias, das quais 14 eram de janelas e 27 eram de portas e 18 fichas de forros e piso sendo que em todas as fichas foram identificados os estados de conservação e quando existentes, as principais patologias e suas possíveis causas. Nas fichas das portas, as patologias foram especificadas pelo código iniciado pelas letras Po. As mais frequentes foram: sujidades, descolamento da pintura, manchas de tinta branca e proliferação de insetos xilófagos, o que possivelmente foram ocasionadas pela falta de limpeza e manutenção; erro na execução da pintura; existência de madeira seca, de rachaduras e frestas na estrutura. No caso das janelas, as patologias foram identificadas através do código iniciado pela letra J. Dentre todas as identificadas, as mais frequentes foram: descolamento da pintura, manchas pretas no caixilho, formação de bolhas de tinta, trincas e manchas de tinta branca. Em geral são causadas pela má execução da pintura e pela umidade. Nos forros, as patologias foram representadas pelo código iniciado pela letra F e as principais foram: manchas no forro, descolamento da pintura na região próxima a luminária e trinca na cimalha. As possíveis causas das mesmas estão relacionadas a umidade, má execução da pintura, falta de manutenção e a deformação do material devido a incompatibilidade das propriedades dos materiais. Já as patologias presentes nos pisos foram especificadas pelo código iniciado pela letra P. As mais comuns, foram detectadas nas réguas de madeira sendo elas: as manchas, trincas e ranhuras e proliferação de insetos xilófagos. Estas, foram causadas pela má utilização; falta de


71

manutenção; pela existência de madeira seca, rachaduras e frestas na estrutura e condições ambientais propícias ao desenvolvimento dos insetos xilófagos; Dessa forma, pela análise do diagnóstico percebe-se que grande parte das patologias podem ser resolvidas com pequenas intervenções de manutenção como por exemplo com a limpeza, substituição das peças que apresentam falhas e com a execução da pintura.


72

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade de Mariana assim como várias outras cidades históricas, passou por várias transformações

urbanas

e

arquitetônicas

ao

longo

dos

anos.

Infelizmente, grande parte das edificações mais antigas que remontam a época do desenvolvimento das vilas, já se perderam e, das que restaram, em geral apresentam muita pouca informação a respeito e encontram-se em mau estado de conservação. Dessa forma, esse trabalho surge da preocupação de resgatar a memória da cidade de Mariana e procura promover a valorização e preservação do seu acervo arquitetônico. Diante da grande importância arquitetônica e histórica da Casa de Cultura de Mariana, a mesma foi escolhida como objeto de estudo para a realização deste inventário que tem por objetivo possibilitar informações gerais sobre a mesma e a partir das análises geradas poderá servir como material de apoio diante de possíveis intervenções de restauro dessa edificação. Por fim, para o melhor entendimento dos aspectos construtivos do bem, recomenda-se que haja a execução de prospecções no local e que seja realizado um novo levantamento arquitetônico do casarão a fim de verificar e completar os dados presentes no antigo levantamento já que o mesmo se encontra desatualizado por ter sido realizado no ano de 2002.


73

REFERÊNCIAS

BOITO, Camilo. Os restauradores. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.p.32. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. BRAGA, Márcia ( Org.).Conservação e Restauro: Arquitetura Brasileira. Rio de Janeiro. Ed. Rio, 2003. Volume III. CAMPOS, Yussef. O inventário como instrumento de preservação do patrimônio cultural: adequações e usos (des) caracterizadores de seu fim. Revista CPC, São Paulo, nº 16, p. 119-135. CARVALHO, Antônio Carlos. Preservação do patrimônio histórico no Brasil: estratégias. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS Unirio | MAST - vol. 4 no 1 – 2011. Disponível em: <http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/195/ 158>. Acesso em: 02 jul. 2015. COLIN, Sílvio. Técnicas construtivas do período colonial. Instituto histórico. IMPHIC, 2010. CHOAY, Fraçoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo, Ed. UNESP/Estação Liberdade, 2001. Tradução de Luciano Vieira Machado. CURY, Isabelle. Cartas patrimoniais. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000. FÉRES, Luciana Rocha. A evolução da legislação brasileira referente à proteção do patrimônio cultural. In: Cidade, Memória e Legislação: A preservação do patrimônio na perspectiva do direito urbanístico. Belo Horizonte: Instituto de Arquitetos do Brasil, 2002. FONSECA, Cláudia Damasceno. Mariana: Gênese e transformação de uma paisagem cultural. Instituto de Geociências, UFMG: Belo Horizonte,1995. FONSECA, Cláudia Damasceno. Espaço Urbano de Mariana: sua formação e suas representações. In: LISLY, Andrea & POLITO, R. Termo de Mariana. História e Documentação. vol.I. Ouro Preto: Editora da Universidade Federal de Ouro Preto, 1998. p.27. IEPHA. Inventário de proteção do acervo cultural de Minas Gerais- IPAC/MG. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br/images/stories/downloads/IPAC/sobre%20o%20ipac_mg. pdf>. Acesso em: 05 jun. 2014. INBI-SU. Inventário de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados, IPHAN, 2002.


74

IZABELA HENDRIX. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Inventário. Belo Horizonte: Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix/ Curso de Extensão,200[]. mimeografado. KÜHL, B. M. Seminário de Estudos sobre restauração arquitetônica: "Técnicas Analíticas e de Diagnóstico de Bens Culturais: Experiências Italianas Recentes." São Paulo: Pós, v.18,n. 29, 2011. MEC/SPHAN/PRÓ-MEMÓRIA, Proteção e Revitalização do Patrimônio Cultural no Brasil: uma Trajetória. Brasília, 1980. MELLO, Suzy de. Barroco mineiro. São Paulo: Brasiliense, 1985. MESENTIER, Leonardo. Patrimônio urbano, construção da memória social e da cidadania.IPHAN,2003. MIRANDA, Marcos Paulo de Souza. O inventário como instrumento constitucional de proteção ao patrimônio cultural brasileiro. Jus Navigandi, 2008. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/11164/o-inventario-comoinstrumentoconstitucional-de-protecao-ao-patrimonio-cultural-brasileiro>. Acesso em: 05 jun.2014. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 4.ed. São Paulo: Perspectiva, 1978. 214 p. PINHEIRO, Maria. Origens da Noção de Preservação do Patrimônio Cultural no Brasil. Revista Risco, São Carlos, v. 3, 3 ed. segundo semestre de 2006, p.4-14. Disponível em: <http://www.iau.usp.br/revista_risco/Risco3-pdf/art1_risco3.pdf>. Acesso em: 02 jun.2014. PREFEITURA MUNICIPAL DE MARIANA. Dossiê de Tombamento do Núcleo Histórico de Mariana. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0BzWEne8NnkDqdXNDeDhrT0s2d1E/view>. Acesso em : 04 jul. 2015. RICHTER, Rui Arno. Meio ambiente cultural: omissão e tutela judicial. 1.ed. Curitiba: Juruá. Curitiba. 2003. p.60. SANTA ROSA BUREAU CULTURAL. Guia Cultural, Mariana, Passagem de Mariana, Ouro Preto: roteiro por caminhos, trilhos e trilhas culturais/Coordenação editorial: Santa Rosa Bureau Cultural.Belo Horizonte: Santa Rosa Bureau Cultural, 2013. 2ª edição. SANTIAGO, Rodrigo. Lembranças digitais: memória e patrimônio cultural em ambientes virtuais [dissertação]. São Carlos: Escola Engenharia de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Núcleo de estudos de habitares interativos; 2006. Disponível em: <http://www.eesc.usp.br/nomads/processos_de_design/patrimonio_midia/CAPITULO1 _qualificacao.pd>. Acesso em: 30 maio 2014.


75

SANTOS, Boaventura de Souza. 1997. Pelas mãos de Alice: o social e o político na pós- modernidade, (4ª. Ed.). São Paulo: Cortez. UNESCO. Patrimônio Cultural no Brasil. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/cultural-heritage/>. Acesso em: 27 maio 2014. VASCONCELLOS, Salomão. Breviário histórico e turístico da cidade de Mariana.Vol. XVII. Biblioteca Mineira de Cultura, 1947. p.44-45. VASCONCELLOS, Silvio de. Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 1979.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.