O Teatro Longe da Razão
M.G. Sousa
De“
O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.”
- Carlos Drummond de Andrade
O teatro longe da razão | M.G. Sousa
Como gerbérias e girassóis, Como a luz ofuscante de mil sois, Como o magnífico céu estrelado, É assim que me deixas encantado.
Uma ânsia reconfortante,
Um aperto que é relaxante, Um toque, um beijo arrastado
É assim que me deixas apaixonado.
Os momentos que me sinto amado
Que sinto as borboletas esvoaçar
Sinto-me seguro, enfeitiçado
Especial e enamorado
Sem capacidade de me expressar
Como amo tanto poder-te amar…
Por mais que procure, não existem palavras para te descrever,
Por mais que tente, sem ti não consigo viver.
Pode soar ridículo ou infantil.
Porém, para mim, és todas as plantas do meu jardim.
Intensa como o vermelho das rosas,
Perigosa como os seus picos,
Firme como os seus ramos.
Delicada como o dente de leão.
Livre como o vento que o leva.
Graciosa como a tulipa.
Bela como a gerbera.
Possuis todas as cores da primavera.
Brilhas mais que qualquer estrela.
Em toda a atmosfera.
Nem todas as plantas do meu jardim.
Nem todas estas cores que possa entrever. Chegam para te fazer ver.
Que só tu, és a minha cor, o meu jardim. O meu início e o meu fim.
Sem ti não há cor.
Tudo fica cinzento.
És a minha chama, o meu sentimento.
Pele com pele sinto a tua essência. O calor das tuas mãos geladas, Reforça a minha obediência, Às tuas linhas decotadas.
Sentindo a tua respiração,
Perdendo-me em cada beijo, Perde-se também o meu coração,
Nesta perfeição que entrevejo…
Cada momento mais e mais ardente, Absolvido no teu toque intenso,
Ficas tatuada na minha mente,
Dessa tinta tão permanente, Deixando-me indefeso,
De amar tão perdidamente.
Eu escrevo para quem me quer ler E hoje escrevo para ti,
Porque de toda a bela gente És a mais bela que eu já vi.
Uma feliz infelicidade, Espontaneamente planeada.
Uma inerente cumplicidade,
Que a mim foi postulada.
Uma próxima distância, Um carinho indiferente,
Uma forte petulância, Que conforta a minha mente.
Um sonho cinzento, enevoado.
Aestrela mais reluzente, Em todo o céu estrelado.
Casa. Casa não são estas ruas
Das cidades às colheitas
Casa. Casa são tuas curvas
Perfeitamente imperfeitas
Observo linhas e entrelinhas
Nessas tuas curvas decotadas
Queria que as tuas fossem minhas
Noites encantadas
Curvas e contracurvas
Marcas e cicatrizes
Amores e lamúrias
Os meus e os que pude vislumbrar
Dos teus contornos delicados
Iluminados pelo luar
Acasa que habito são essas, Curvas onde me perco, onde moro
Esta casa por quem me enamoro
Lá vai ela
Tão bela
Com segredos por contar
Uma capa rasgada ao meio
E ninguém para a segurar
Seguro eu
Rasgo eu
Se ela me contar
Quem foi a cicatriz
Que a jurou amar
Passa o frio
Passa o vento
Sem nunca a abalar
Uma musa sem tento
Que me inspira a trovar
Uma trova de amor
Para podê-la encantar
Uma prova de clamor
Para sua capa poder rasgar
“Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele”
-Victor Hugo
VII
E aqui me encontro enclausurado Com a cabeça a mil, acelerada…
O coração sem estar descansado E a alma mais que perturbada.
Achuva estronda à janela
As paredes mingam, apertam-me
Apenas me consigo lembrar dela
Enquanto as nossas memórias cercam-me.
Triste, confuso e assustado
O que é amar sem ser amado?
Se não um sonho inacabado
Será que as borboletas a esvoaçar
Serão o suficiente para te continuar a amar?
Escapando à realidade, Em busca da felicidade,
Cada um tenta encher o seu vazio, Com todo tipo de falsidade.
Quer com adrenalina ou amor, Com mil e uma coisas ao seu dispor.
Abafando e afogando-se com,
Tudo que dê para esconder a sua dor.
Vivendo assim numa mentira
Numa realidade absolvida,
Feliz de passa em passa,
Contente de copo em copo,
Satisfeito de corpo em corpo,
Vivendo numa profunda desgraça.
Contra o vidro precipitava
Ferozmente o tempo gritava
E, trovejando em minha mente
Ouvia subtilmente
Abrisa que murmurava
Amores e lamúrias
Mágoas e esperanças
As noites em que dançavas
Ao som da tempestade
Em que a cada trovejar
Meu coração começava a chamar
Pelo dilúvio final
Que o poderia completar
Feliz pelo passado vivido, Seguro no presente que vivo.
Absorto num futuro dividido, Por este sentimento intrusivo.
Enganas e confundes meio mundo
Agente pura que cai na ilusão, De ofereceres algo tão profundo
Um compromisso, sem um “se não”.
Fazes-me rir, fazes-me chorar,
Fazes-me desacreditar em tudo,
Aquilo que te podia dar.
Enches e quebras o meu coração.
Fazes de mim a tua marioneta,
Neste teatro longe da razão.
Tanto preencheste o meu coração, Como o quebraste sem hesitar,
Tanto me inibiste da razão, Como ma fizeste procurar.
Vejo-te no reflexo do espelho
Ouço-te nas músicas que canto Encontro-te em todo brilho,
Em cada esquina, em cada canto.
Por ti chorei e questionei
Tudo aquilo que vivi
E tudo aquilo que sonhei.
Relembro cada frase, cada olhar
Sem algo para culpar
Além de me ter atrevido a te amar
“Amor é chama que arde sem se ver” Foi o que Camões me fez entender.
Que amar sem ser de volta amado, É a forma mais bela de morrer.
Como o cigarro que arde sozinho
Que lentamente queima e cai na desgraça. Passando de chama a fumaça, Fumado por qualquer vulgarzinho.
Uma chama que incendeia a mente Sufocando a nosso coração e Fazendo-nos amar perdidamente.
Deixando-nos por um fiozinho
Em busca de um especial alguém, Que não nos deixe arder sozinho.
Tal como as rosas, Simbolizas mil e uma prosas, Formosas, belas, mágicas, maravilhosas…
Tal como as rosas, Vestes-te de todas as cores, Mágoas, cansaço, alegrias e amores, Pois fora do teu jardim, nem tudo são flores.
Tal como as rosas, Rodeias-te de espinhos, nos espacinhos dos tempos vizinhos, Porém águas passadas não movem moinhos.
Tal como as rosas, Suave, mas severa
Amais bela das flores Que a primavera retivera
Tal como as rosas, Fazes-me crer, Que uma vida sem ti não vale a pena viver.
XIV
Como a suave brisa que sopra, Como a fumaça de um cigarro, Como o que me rodeia me mostra, O que flui, é o que me agarro.
Agarro-me à corrente, indo
Fluindo tal como ela, bela Passando pelas pedras, caindo
Neste sentimento que me cela.
Tão complexo, mas tão restrito.
Tão fluido, mas tão firme,
Um caminho liso, de atrito.
Este sentimento que restringe,
Que finge ser algo mais,
Que nos completa, mas que nos atinge,
Que nos ilude e faz sentir especiais.
XV
Amar quem não te ama
E esperar dar certo
É como esperar ferver um café
Sem acender o fogão
Um coração ardente
Uma chama efervescente Reduzida a cinzas
Deslocada de toda a gente
Impacientemente esperando Lutando, consigo própria
Em busca do amor
Em busca daquela faísca distante
Que nunca acenderá
Que nunca apagará a nossa dor
Que jamais, irá retribuir o nosso amor
“As palavras proferidas pelo coração não têm língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler.”
-José Saramago
XVI
Observava a silhueta dos teus cabelos
Os contornos do teu rosto
O brilho suave das zonas iluminadas pelo luar
O mar negro estrelado, detalhado
Que te afoga nas suas águas
As águas que tu, marejas majestosamente
Hipnotizando-me, fazias-me abraçar-te e cortejar-te
Levar-me nessas tuas águas
Nesse teu brilho suave
Nesse olhar estrelado, Nessa leve silhueta
Que me abraçava, carinhosamente
Porém, ao abraçar a noite, nasceu o dia Ferverosamente mais intenso
Uma chama radiante, colorida, rodeada não de detalhes
Mas duma história completa
Uma luz ofuscante, que me mostrava não um Mas todos os caminhos…
Uma luz que me cegava
Afogava, ardia, queimava Uma luz, que não apagava
Não… suavizava, não cedia, não… não anoitava Um radiante feixe de luz, que não cessava
Que me ardia a cada vez que me abraçava
Que me cegava a cada vez que me via
Perdi esperança nesta chama
Que me queima e não me ama Voltando então para o suave luar
Que nunca será capaz de me amar Mas sempre, de me enganar
De me levar a pensar que um dia O sol não me voltará a queimar
Solstício de verão
Hora de amor e compaixão
De um fado esperançoso
Duma tarde de verão
Da saudade insofrida
Dos fados de paixão
Dos acordes coloridos
Que me enchem o coração
Num fado delicado
Conversado a doce tom
Das donzelas que me encantam
Com a sua adoração
E os seus gestos amorosos!
Os beijos calorosos
O toque delicado
Arrastado suavizar
Das mãos amorosas
Que me fazem apaixonar
Das conversas, de sedução
Das almas que houveram
E das pessoas que haverão
Mas não
Não tenho lugar eu meu coração
Para estas mãos sofridas
Que se esgotaram de paixão
Do toque fremente
Que me mente
Que me enche de falso amor
Um fado chorado
Não falado
Gritado, em plena dor
Enche-me de lágrimas
Para sarar este ardor
Atarde vira noite
O sol vira lua
As sombras iluminam
Asua figura agora nua
Saudade
Carinhosa, cuidadosa
Frágil e dolorosa
Doces as memórias
Da donzela que me encantou
Da chama que acendeu
Do amor que floresceu
Da ternura que me cuidou
Da pessoa que me abrigou
Novo fado conversado
Numa madrugada estrelada
Esperava eu sua voz
Acada badalada
Mãos sofridas, afagadas
Lágrimas, fisgadas!
Para longe de meu coração
Tão suave esta ternura
Tão doce nova paixão
Tão intenso este amor
Que jurou cuidar de mim
Com tamanha declaração
Sinos melancólicos
Ensurdeceram minha visão
Como pude ser tão cego
Em tal outra paixão?!
Mãos calejadas
Pela pedra do amor
Uma chama apagada
Pelo seu próprio ardor
Qual fado falado
Eu quero é gritar
Qual a maior ilusão
Se não a de amar?!
Ninfas enganadoras
Musas da desilusão
Saudade jamais
Roubaram meu coração
Nasce o sol
Um dia novo e percebo enfim
Se amar é viver
Um fado é falar
Nesta rua em que me encontro Na qual entro e remonto
Um começo para um fim Que fim? O meu encontro.
Um encontro traçado
Um Fado já ditado Uma dança harmoniosa pelas tiras do destino
Um amor pelos deuses invejado
Olho para estes pilares que me envolvem
Uns cinzentos, amargos e imponentes
Outros, cor-de-rosa, suaves e amorosos
Que me acolhem, que me arrastam para o chão
Este chão feito do barro que Prometeu usou
Para moldar a humanidade
O escárnio e a paixão
Nesta rua que não consigo escapar Por mais que ande não consigo encontrar
Cada ruela torna-se num beco Cada porta, numa parede
Parede a qual me abraça e cospe De volta para esta rua
Este começo que não tem fim Este encontro desencontrado
Entre o amor e as estrelas
Entre os deuses e o Fado
Oh vento!
Leva contigo as minhas cinzas
O meu último e ofegante suspiro
Oh vento, leva contigo o meu pensamento
Oh chuva!
Afoga os meus males
Distorce as minhas rimas
Oh chuva, leva contigo as minhas lágrimas
Oh grade tempestade que aí vem!
Guia-me pelo teu bem
Afoga-me, batiza-me
Deixa-me renascer nessas tuas águas
Atinge-me com o mais feroz dos teus raios
Para iluminar o meu caminho
Oh vento!
Faz-me dançar intensamente
Como os ramos das árvores
Que o fazem tão graciosamente
Oh vento!
Dá-me a tua voz
Deixa-me, como tu, gritar ao mundo
Fazer tremer o chão, as árvores e os lares!
Deixa-me ser eu sem me julgares
Se me levares nesse teu sopro
Que consome o espírito e a alma
Oh tempo…
Leva-me este sentimento
Lamento, mas não consigo mais
Que o amor e a razão sejam tão desiguais
Minha musa não são belas damas
Ou estas paixões simples e banais
Não são as palavras que proclamas
As falas mansas e amores fatais
Minha musa é o céu estrelado
E aquela forma radiante
Que com o seu contorno pincelado
Torna-me o seu fiel amante
Vestindo-se das mais belas cores
Brilha em mim a sua inspiração
Sem promessas de falsos amores
Sem qualquer palavra ou oração
Preenche-me com suas belas flores
O vazio que há em meu coração
O amor é uma faca de dois gumes
É um mar repleto de abraços
Que enche o vazio que há em mim
E depois quebra-o em pedaços
O amor é uma ilusão
É a chama em meu coração
Que em cada belo despertar
Tira meu fôlego, tira meu ar
O amor é dor
Mas é a angústia que nos move
Este sofrimento que nos percorre
O sangue que de mim escorre
Que verte a felicidade em Minh’alma
Uma dor que me atormenta e não escolhi
Uma vida que sofre e eu não a vivi
Por ti, amor, por ti nada senti
Mas não, senti, vivi, amei
E todo o sangue derramado É prova daquilo que dei
Do sentimento que jamais esquecerei
Dor, angústia, desilusão Não tomarão espaço em meu coração
Pois todo o homem sofre, mas pouco ama
Todo homem morre, mas pouco vive
Todo o poeta escreve, mas pouco declama
Aquilo que teve, aquilo que sente
Aquilo que o chama
Declamo então eu
O que tive, o que tenho
O que sinto e o que amo
Amor não é dor, ilusão, ou chama que arde sem se ver
Amor é amor, não é assim tão difícil de entender
O amor não são apenas sonhos e romances
Amigos, família ou amantes
O amor é um sentimento e energia tão pura
Que se sustenta a si e a tudo por si só
-M.G. Sousa
O teatro longe da razão | M.G. Sousa
O amor é uma pedra
Moldada pelo mar
Que se cobre por completo Mas deixa sempre um buraco
Para a água passar
O amor são os contornos da lua São os raios do sol
Aquelas doces curvas
Que te encantam como um anzol
O amor são as rosas de todas as cores
E seus espinhos prontos a matar
O sangue em tuas veias
E o ar capaz de te sufocar
O amor é uma nau quebrada
Perdida na neblina
Num mar de sereias que te tentam encantar
Para saltares fora do barco
Que apenas queres navegar
Guiar, consertar
Pois sem terra à vista
Apenas te perdes no mar
Sem saber quando ou onde
O teu navio irá afundar
O amor é a luz do dia
Capaz de iluminar
Um porto seguro
Onde possas descansar
Onde possas desfrutar
De um mar estrelado
Um navio consertado
E um mundo por explorar
Um mundo de sol e neblina
De ternura e tempestades
De uma chuva refrescante
Em que poucos sítios possa trovejar
Nos quais coloques um para-raios
Abraçando o choque puro
Da mais pura realidade
Que para no teu jardim crescerem rosas
Tens de aceitar a tempestade
O amor é um poema
Sem princípio, meio e fim
Ou pontuação que o possa controlar
O amor é um livro sem capa
Um manual sem instruções
De por onde começar
Pois para haver amor
Basta querer amar