Metrópole Magazine

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São José dos Campos, Julho de 2015 | 51

São José por um olhar centenário

Carol Tomba/Meon

As irmãs Flória e Genésia lembram de uma cidade que poucos conhecem

Da Redação SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

E

las conheceram a São José literalmente dos Campos. Sem trânsito, asfalto ou aviões, como estão acostumados os habitantes da maior e mais importante cidade do Vale do Paraíba. Hoje, o município contabiliza números superlativos: quase 700 mil habitantes e PIB (Produto Interno Bruto) de 28 bilhões de reais (IBGE, dados de 2012), recorde absoluto na região e que coloca a cidade na 21ª posição no ranking dos 100 municípios mais ricos do país. Mas nem sempre foi assim. Houve uma época, e nem faz muito tempo, que a cidade era tranquila, pequena e sem ambições industriais ou tecnológicas, na qual os moradores se divertiam nadando em rios, subindo em árvores, andando a cavalo e em bailes domésti-

cos, além das “paqueras pedestres” na rua 15 de Novembro. “Tá passando avião, não vai chover. É o que se dizia na roça”, lembra Genésia Gonçalves Ferreira, que chegou aos 94 anos esbanjando lucidez. Segundo ela, na década de 1920, quando nasceu, aviões eram tão raros que prenunciavam o clima e não o progresso de um novo modelo testado pela Embraer, criada apenas em 1969. “Carro tinha um só, um Ford preto em Santana”, diz ela ao lado da irmã caçula, Flória Gonçalves de Oliveira, que fará 90 anos em novembro deste ano. A idade de ambas representa mais de um terço da existência oficial da cidade, que completará 248 anos em 27 de julho de 2015. O ponto alto da festa será um show da banda de rock Titãs. A apresentação será no domingo que antecede o aniversário, às 16h, no Parque da Cidade, na zona norte.

Na roça Bem diferente da época em que as irmãs eram meninas e os principais ritmos, aqueles que os irmãos tocavam “nos bailes na casa de mamãe”, eram a valsa, as marchas, a mazurca (dança de origem polonesa) e as quadrilhas. O rock ainda era um sonho distante na cabeça de músicos norte-americanos de country e blues. “A gente se divertia à beça nesses bailes, mas tinha que ir dormir às 21h. Papai não deixava passar desse horário”, conta Flória. “As mulheres não tinham vida fácil naquela época. Não podia estudar fora de casa. A gente era preparada para ser mãe e dona de casa”. As irmãs foram criadas em uma numerosa família de 14 filhos, oito homens e seis mulheres, que vivia na região norte de São José, no bairro Bandeira. Era roça mesmo, dizem as irmãs, com estradas de chão, gado e fazendas.


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