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noção de maturação contínua. Sendo assim, ainda segundo Furter, o adulto é, também, um ser aperfeiçoável, perfectível, mesmo dentro dos seus limites e limitações e a capitalização das suas experiências impõem-lhe a possibilidade de modificar o seu futuro em busca do equilíbrio. Sabemos também que, ao longo da história do Homem, tem-se feito uma associação estreita entre o avançar da idade e o declínio das forças. Hoje, esta relação tem sido discutida, pois sabemos que, com o desenvolvimento da Gerontologia, abrem-se perspectivas novas para o homem em cada idade, ou seja, novas possibilidades de realização e aperfeiçoamento. Portanto, a concepção tão comum de «oslerismo», segundo a qual a velhice é forçosamente uma degenerescência, deve ser eliminada por ser uma visão pessimista a priori e não científica do curso da vida humana. Em suma, o homem é um ser que aparece imperfeito e inacabado no mundo. O seu destino, pela sua história pessoal, é ascender à plenitude. Sendo assim, não há possibilidade de definirmos «ser adulto». Podemos apenas falar em «momentos de vida» aos quais respondemos desta ou daquela maneira. Podemos, em contrapartida, recorrer aos nossos sujeitos, migrantes especialmente nordestinos em São Paulo. Eles teriam poucas possibilidades de vida digna nos seus locais de origem. Por isso, ou continuariam explorados em trabalhos insalubres, sem vínculo profissional e de baixa remuneração, os colectadores de sisal no interior da Baía, vendo os seus filhos na mesma situação, ou partiriam em busca de um espaço nesta Terra, emigrando, por exemplo, para São Paulo. Desta forma, não podemos ignorar esta situação, e portanto, apontamos o factor económico como uma das principais causas dos movimentos migratórios, não a única mas a fundamental. Assim, para os migrantes com pouca ou nenhuma escolarização em língua portuguesa, que se casaram com suecos para obterem a permissão de emigrarem, o factor económico, a luta pela sobrevivência no quotidiano, é mola expulsora destas pessoas das suas terras. Já em relação aos brasileiros em Paris, o factor económico, pelo menos entre os nossos entrevistados, não foi o motivo principal que os levou a deixarem o Brasil. Destacamos a ditadura brasileira no final dos anos 70 e, ainda, a possibilidade de estudos no exterior. Sendo assim, recorremos à figura mítica do deus Janus como símbolo da situação vivida por nossos sujeitos, (i)migrantes em situação de inserção. Tal personagem mitológica possui duas faces, uma que olha para o passado com suas perdas e rupturas decorrentes da migração, e outra olhando para o futuro, cheio de riscos e perigos desconhecidos. Acrescentamos ainda à rede de significações que pode ser atribuída a esta imagem que o (i)migrante apresenta na interacção uma face no local onde chega e outra, diferente, para o seu lugar de origem. Na primeira, a expressão facial é de pessoa cordata, submissa; já na segunda, a face é do vencedor, do corajoso; uma face de opressor, outra de oprimido. Sendo assim, a peça de bronze de 9,4 cm de altura que permaneceu na mesa de trabalho de Freud durante os últimos anos da sua vida é essencial para a nossa reflexão. Tratava-se de um balsamário etrusco do século II a. C., composto por uma cabeça de

TEXTO 8 SER ADULTO»: ALGUNS ELEMENTOS PARA A DISCUSSÃO DESTE CONCEITO E PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE «ADULTOS»

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