E&M_Edição 70_Março 2024 • Inteligência Artificial - O que precisamos de Conectar?

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SUSTENTABILIDADE

O IMPACTO DO PROJECTO DO MPDC QUE FORMA E EMPREGA PESSOAS DESFAVORECIDAS

PERSPECTIVAS 2024

BANCO BIG APONTA A INSTABILIDADE POLÍTICA E A DÍVIDA PÚBLICA ENTRE OS MAIORES RISCOS

CEO TALKS • FRANCISCO COSTA, BCI “PERANTE OS BONS INDICADORES ESPERAMOS QUE O BdM ADOPTE UMA POLÍTICA EXPANSIONISTA”

TALKS DAQUI

“QUEREMOS AVANÇAR DE MAÕS DADAS COM O SECTOR PRIVADO”, ANTONINO MAGGIORE, UE

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

O QUE PRECISAMOS DE CONECTAR?

A Inteligência Artificial está a mudar a forma como pessoas, empresas e governos desenvolvem as suas actividades. Moçambique enfrenta desafios estruturais e a todos os níveis do processo de transformação. A E&M vai atrás dos factores que podem ajudar a encontrar um rumo na nova vaga tecnológica.

MOÇAMBIQUE
Março • 2024 • Ano 07 • Nº 70 • 350MZN
P OWERED BY

Em Que Medida Estamos Preparados para a IA?

Recentemente, a União Europeia(UE) estabeleceu um precedente ao aprovar regras de utilização de Inteligência Artificial (IA). É o primeiro regulamento no mundo. Isto é, apesar destas soluções tecnológicas se terem tornado um instrumento indispensável na vida particular e de instituições, ainda não está salvaguardada a segurança das sociedades, das organizações e governos, respeitando os seus direitos e valores fundamentais, sem esquecer o propósito de estimular o investimento e a inovação. Assim, espera-se que as regras harmonizadas ao nível da UE ajudem a estabelecer um primeiro padrão global para a regulamentação da IA noutras jurisdições, promovendo a abordagem europeia à regulamentação tecnológica no cenário mundial.

Mesmo considerando que a Europa já veio ajudar a dar o passo inicial, é fácil notar que o resto do mundo terá de realizar um trabalho aprofundado para ajustar as suas regras às características específicas dos seus mercados e sociedades. E as perguntas são: estará atrasada a implementação dos regulamentos da IA em Moçambique? Sim, a avaliar pelo rápido aumento das soluções de IA no mercado. Mas estamos preparados para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento da IA? Pelo estado de desenvolvimento socioeconómico e tecnológico, a resposta é incerta, mas tudo indica que o País vá a tempo de estabelecer regulamentos suficientemente rigorosos para a transformação da economia impulsionada pela IA. É o que garante estar a fazer o Instituto Nacional das Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC) - órgão responsável por regular, supervisionar e fiscalizar o

sector das Tecnologias de Informação e Comunicação no País.

Entretanto, saindo da esfera legal e regulamentar para o domínio prático do nível de prontidão para entrar nesta nova era, Moçambique é um país atrasado, obviamente (dado o seu estado de desenvolvimento global), e a enfrentar desafios significativos, como a falta de infra-estruturas de Tecnologias de Informação, a par de uma grande necessidade de capacitação de recursos humanos e de garantias de implementação responsável de ética na tecnologia. A boa notícia, no entanto, é que, à medida que esses desafios forem ultrapassados, a IA pode ajudar a impulsionar o crescimento económico e melhorar a qualidade de vida de todos. E há áreas nas quais já é possível ver sinais animadores de que as soluções de IA são e continuarão a ser verdadeiramente disruptivas em sectores como a Agricultura, Saúde, Educação e no financeiro.

Paralelamente, há esforços muito visíveis para a formação de capital humano em IA, quer pelas universidades (a Universidade Eduardo Mondlane e a Universidade Pedagógica de Maputo estão na vanguarda da introdução de cursos neste domínio), quer por meio de iniciativas privadas, promovidas por empresas especializadas nos diversos domínios da IA. Isto cria grandes expectativas de ver o mercado moçambicano crescer nos próximos anos, visto que a procura por profissionais capacitados está a aumentar, oferecendo oportunidades promissoras aos que querem entrar neste campo dinâmico e inovador.

Estamos atrasados? Estamos! Estamos preparados? Ainda não! Mas vamos a tempo de transformar o mercado a nosso favor. Como? Fique a saber mais com o tema central desta edição da E&M.

MARÇO 2024 • Nº 70

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso

JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Jaime Fidalgo, João Tamura, Nário Sixpene

PAGINAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Mariano Silva

REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos

DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com

CONSELHO CONSULTIVO

Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Media4Development Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

RPO Produção Gráfica

TIRAGEM 4 500 exemplares

EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE

Media4Development

NÚMERO DE REGISTO

01/GABINFO-DEPC/2018

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 6 E DITORIAL

8 OBSERVAÇÃO

O sector energético africano volta a estar em destaque na 9.ª Cimeira Powering Africa 2024, em Washington

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OPINIÃO

“Que Comportamento Esperar da Curva de Rendimento da Dívida Pública Moçambicana em 2024?”, Nilza Tenguice e Yara Soto, Global Markets Analysts do Banco BIG Moçambique

67 ÓCIO

68 Escape Uma aventura pela praia de Jeri, entre as mais bonitas do mundo 70 Gourmet A experiência única de saborear as iguarias do restaurante Céu da Boca, no centro de Maputo 71 Adega Por que partes do mundo deve andar para experimentar o que de melhor há em termos de vinhos, em 2024? 72 Moçambicanos pelo mundo A história e o percurso de Valete, um dos ícones do rap da lusofonia 75 Artes A primeira exposição de um projecto de apoio do banco Absa às artes 76 Agenda Tudo o que não pode perder neste mês de Março 78 Ao volante do novo Porsche Macan, um dos poucos veículos totalmente eléctricos

16

ESG

A relevância da Reserva do Niassa para o equilíbrio ambiental da região e para o sustento da população local

18

OPINIÃO

“Moçambique Num Momento Crucial Para a Transição Energética”, Ernesto Gouveia Gove Jr., responsável pelos Especialistas de Sectores da Banca Corporativa e de Investimento do Absa

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NAÇÃO INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

20 Estamos preparados? Reguladores e gestores das TIC, académicos, juristas e consultores revelam o quanto o País está distante da plena implementação das soluções de IA

30 Potencial de África As consultoras PWC e McKinsey estimam que a IA seja capaz de atingir 1,2 biliões USD até 2030 e transformar a economia do continente

36 Literacia Pesquisa da consultora Oxford Insights sobre prontidão dos governos para aplicar IA revela que Executivo moçambicano estará entre os menos aptos

40

OPINIÃO

“Certificação Anti-corrupção ISO 37001: Bolha de ar da Ética em Sociedades Corruptas?”, Lucio Guente, EY Senior Manager, & Susana Lencastre, Partner | Forensic & Integrity Services

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SHAPERS

Até que ponto o dinheiro pode ser sinónimo de felicidade? A teoria mais famosa do economista escocês Angus Deaton obriga a uma reflexão sobre o poder da microeconomia

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OPINIÃO

“Dilemas Estratégicos na Gestão: Escolhas, Riscos e Incertezas (Parte 2)”, João Gomes Partner@BlueBiz

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MERCADO & FINANÇAS

Pesquisa do banco BiG conclui que a instabilidade política e o edividamento público serão os principais riscos para a economia moçambicana no presente ano

52

CEO TALKS

“Perante os Bons Indicadores Esperamos Que o Banco de Moçambique Adopte Uma Política Expansionista”, Francisco Costa, CEO do BCI

57 ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

58 BCI TALKS DAQUI

Moçambique e União Europeia renovam o compromisso de apoio conjunto ao sector privado e ao desenvolvimento socioeconómico do País

62 AutoDigital Disponibilizada pelo Grupo Fidelidade, esta é uma app capaz de detectar danos em viaturas e fazer uma avaliação detalhada de uma série de aspectos mecânicos. e até documentais

África, 2024

Um Olhar Sobre o Sector Energético

Washington, capital política dos EUA, acolhe nos dias 5 e 6 de Março, a 9.ª Cimeira Powering Africa 2024 (PAS 24), sob o tema ”Fluxos de capital que sustentam a transição energética”. O evento vai focar-se no desenvolvimento de projectos e infra-estruturas de energia e na criação de um ambiente propício para novos investimentos na África Subsaariana. A cimeira deverá contribuir com debates críticos sobre a redução dos custos com dívida para beneficiar o investimento, a par da procura de alternativas às garantias soberanas ou o desbloqueamento do

financiamento climático, prometido pelos países desenvolvidos ao sector energético africano.

É a oportunidade de que os promotores de projectos e infraestruturas energéticas, empresas inovadoras e decisores políticos precisam para promoverem relações que possam contribuir para expandir o acesso a energias limpas no continente.

Desde 2015, o evento tem vindo a facilitar a colaboração entre as partes interessadas do Governo dos EUA, o Grupo do Banco Mundial, investidores institucionais, financiadores privados e

fornecedores de tecnologia da América do Norte, com participantes ministeriais e governamentais de vários países africanos.

Nos últimos 11 anos, esta iniciativa ajudou a fornecer electricidade a 127,7 milhões de pessoas em toda a África Subsaariana. Os projectos apoiados pela Power Africa estão a gerar mais de 5500 MW de electricidade nova, limpa e fiável, ajudando a mitigar as alterações climáticas e a acabar com a pobreza energética.

FOTOGRAFIA D.R.

OBSERVAÇÃO 8 www.economiaemercado.co.mz | Março 2024

Mercado de Capitais

Transição energética de Moçambique vai exigir endividamento público, privado e soberano

O Governo prevê recorrer a financiamento misto (público, privado e com emissão de dívida soberana) para conseguir os 80 mil milhões de dólares necessários para materializar a Estratégia Transição Energética (ETS). “Dada a magnitude do financiamento, serão utilizadas diversas fontes. Para a utilização da dívida soberana, será essencial coordenar esforços para que a capacidade de endividamento do País não seja comprometida e a estratégia seja adaptada à realidade fiscal de Moçambique”, explica o documento aprovado pelo Executivo.

De acordo com o Governo, a ETS representa uma visão ambiciosa para transformar e expandir o sistema energético do País e proporcionará um impacto significativo e duradouro, impulsionando a industrialização e os esforços regionais e globais para combater as alterações climáticas.

“Garantir o financiamento para os principais activos, equipamentos e infra-estruturas é vital para concretizar este desiderato. Os programas integrados na ETS envolvem uma série de investimentos e necessidades: há projectos de infra-estruturas e custos de equipamento. Há que ter uma barragem hidroeléctrica ou soluções de cozinha limpa e implementar reformas regulamentares”, clarifica o Governo.

A estimativa inicial indica que a ETS está orçada em 80 mil milhões de dólares, entre 2024-50. A maior parte do financiamento, antes de 2030, destina-se ao sector eléctrico, sendo a produção hídrica e a expansão da rede responsáveis pela maior parte.

Mercado de capitais Bolsa de Valores de Moçambique admite mais

três empresas ao seu terceiro mercado

A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) admitiu mais três empresas para o seu terceiro mercado. Tratam-se da Zaya Group S.A, Trassus S.A e RGS AGRO S.A.

A Zaya Group, S.A. entra para o terceiro mercado da bolsa com dois milhões de acções (um metical por acção), representativos de 100% do capital social.

A Trassus, S.A entra com igual valor, mas repartido por 20 000 acções (100 meticais por acção), também re-

Finanças

presentativo de 100% do capital da sociedade. Por fim, a RGS AGRO, S.A, entra com cinco milhões de meticais representativos de 100% do capital social da sociedade, correspondente a 5 milhões de acções ordinárias.

Com a admissão destas três empresas, o terceiro mercado de bolsa passa a contar com sete sociedades: REVIMO, S.A., 2 Bussiness, S.A., Paytech, S.A., Mozambique Weiyue Internacional (MWIH), Zaya Group, S.A, Trassus, S.A e RGS AGRO, S.A.

Moçambique já é accionista do Africa50

Moçambique tornou-se accionista do Africa50, uma plataforma de investimento em infra-estruturas, tor-

Sustentabilidade

nando-se o 35.º accionista da instituição e comprometendo-se a ratificar o acordo nos termos dos estatutos da plataforma. Com a adesão à Africa50, Moçambique terá acesso ao conhecimento técnico em desenvolvimento de projectos e financiamento de nível mundial, acelerando a implementação do programa de infra-estruturas e estimulando a participação do sector privado.

O Africa50 inclui 32 países e instituições financeiras do continente, explica, em comunicado, o Ministério da Economia e Finanças (MEF).

Segundo o documento, o acordo segue-se a um Memorando de Entendimento assinado durante a COP28, visando desenvolver quatro projectos em Moçambique, incluindo três centrais solares fotovoltaicas e 400 quilómetros de linhas de transmissão eléctrica.

Projecto sobre economia azul sustentável em Moçambique submetido a consulta pública

Representantes de diferentes instituições, entre governamentais, académicas, da sociedade civil e parceiros de cooperação internacionais, realizaram, em Maputo, um encontro de consulta para colher opiniões sobre o projecto de Economia Azul Sustentável do País. A iniciativa, a ser implementada pela União Europeia (UE), entre 2024 e 2028, está orçada em 35 milhões de euros e compreende três componentes principais: o observatório da economia azul, o fortalecimento das ca-

deias da pesca e aquacultura e conservação e restauração marinha.

De acordo com o PCA do ProAzul, Simeão Lopes, o encontro organizado pela Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (GIZ) foi de extrema importância devido aos contributos cruciais para uma melhor execução do projecto.

“Temos a expectativa de que sairemos com ideias mais claras e objectivas para alcançar o sucesso desejado”, frisou.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 RADAR 10

Uma curva de rendimento, também conhecida como yield curve, é uma representação gráfica que demonstra a relação entre os rendimentos de títulos, com a mesma qualidade de crédito e diferentes prazos de vencimento. Por outras palavras, ela ilustra o rendimento esperado por um investidor ao emprestar dinheiro por um período específico. Esta curva é amplamente utilizada no mercado financeiro como uma ferramenta de análise e previsão económica, permitindo aos investidores avaliar as suas expectativas em relação às taxas de juro futuras em comparação com as taxas actuais do mercado.

A yield curve pode apresentar diferentes inclinações, as quais podem ser justificadas por algumas teorias, nomeadamente: a das expectativas, a de segmentação do mercado e a de preferência por liquidez.

A teoria das Expectativas considera que o formato que a curva de rendimentos apresenta ao longo dos vencimentos revela as expectativas de taxas do mercado para aquelas maturidades. Deste modo, as taxas de juro de longo prazo são determinadas pelo nível corrente e pelas expectativas de evolução das taxas de juro de curto prazo, podendo assim ser utilizadas para estimar as taxas de juro de curto prazo futuras.

A teoria de segmentação do mercado pressupõe não haver relação directa entre as taxas de juros que prevalecem nos mercados de curto, médio e longo prazo. Os investidores têm as suas preferências bem definidas, relativamente ao prazo dos títulos que pretendem adquirir com base no seu perfil. Assim, os vendedores e compradores que compõem o mercado de títulos de curto prazo têm características e motivações diferentes dos vendedores e compradores de títulos de vencimento de médio e longo prazo. Por exemplo, as seguradoras comummente optam por títulos de longo prazo, enquanto os bancos usualmente optam por títulos de curto prazo.

A teoria de preferência por liquidez sugere que os agentes económicos possuem uma tendência natural em preferir títulos e activos mais líquidos. O objectivo desta teoria é estabelecer um prémio de risco para investimentos de longo prazo que compense a perda de liquidez no curto prazo. Portanto, os rendimentos de curto prazo devem ser menores que os rendimentos de longo prazo. Tendo em conta as teorias acima

Que Comportamento Esperar da Curva de Rendimento da Dívida Pública Moçambicana em 2024?

citadas, a curva de rendimento pode apresentar-se em três formatos principais, listados abaixo.

A yield curve normal é a mais comum na maioria das economias, representando um cenário económico estável, que, historicamente, indica o início de um período económico expansionista, onde as taxas de juro de longo prazo são superiores às taxas do curto prazo. Neste sentido, o mercado considera que as taxas de juros de curto prazo, no futuro, irão subir, pois pode indicar um crescimento acelerado da economia, causando uma forte pressão inflacionária. Por outro lado, pode significar também que os investidores estão a considerar os títulos do Governo mais arriscados, exigindo assim maior prémio de risco.

A yield curve plana pressupõe que os rendimentos dos títulos de prazo mais longo são semelhantes aos rendimentos dos títulos de prazo mais curto. Este padrão pode indicar incerte-

Nos últimos quatro meses de 2023, a yield curve da dívida foi caracterizada por taxas de juro de longo prazo inferiores às de curto prazo

za em relação ao futuro da economia, pois os investidores não têm uma visão clara sobre as taxas de juro futuras.

Por último, a yield curve invertida, representada por taxas de juros de longo prazo inferiores às de curto prazo, ocorre quando o mercado espera que as taxas de juros de curto prazo, no futuro, irão descer, podendo indicar uma contracção económica que vai resultar na desaceleração da inflação e levar a economia a recessão. O banco central, interessado em fazer a economia recuperar e sair da recessão, força a redução das taxas de juro. Com essa expectativa de redução, os investidores intensificam as compras de títulos de longo prazo para garantir boas taxas antes da redução. E essa procura fornece dinheiro aos cofres públicos para actuar contra a recessão.

Como já explicado ao longo do artigo, o formato padrão da yield curve é positivamente inclinado, onde as taxas de juro de títulos de curto prazo são menores que as taxas de juro de lon-

go prazo. No entanto, tem-se observado, devido à aceleração da inflação e ao aumento das taxas de juro por parte dos bancos centrais na maioria das economias mundiais, que as yields curves nas principais economias globais se encontram invertidas desde Novembro de 2022, perspectivando assim o início de uma recessão global ou um ciclo de política monetária expansionista. A título de exemplo, os títulos do Governo dos Estados Unidos de 2 anos e 10 anos tinham, em 7 de Fevereiro do corrente ano, um rendimento de 4,402% e 4,104%, respectivamente, o que perfazia um spread negativo de -29,8 pontos bases (pb).

A nível doméstico, nos últimos quatro meses de 2023, a yield curve da dívida apresentou-se invertida, caracterizada por taxas de juro de longo prazo inferiores às taxas do curto prazo. A título de exemplo, a yield média de 10 anos situava-se a 16,00%, quando a média de 1 ano se situava a níveis de 18,50%. Entretanto, desde o primeiro leilão de 2024, as taxas de juro de longo prazo voltaram a estar a níveis mais altos em relação às taxas de juro do curto prazo, tornando a yield curve normal, onde, a de 10 anos se situa em redor dos 20,00% e a de 1 ano a 18,00%.

O aumento da taxa de inflação que se registou pós-pandemia, e que se agravou em meados de 2022, quando esta ultrapassou um dígito, levou o Banco de Moçambique a aumentar as taxas de referência, com o intuito de a controlar. Desde Abril do ano passado que a inflação se situa a níveis abaixo de um dígito, levando o Comité de Política Monetária (CPMO) a decidir, na sua última sessão ordinária, baixar em 75 pb as taxas de juro de referência. Tendo em conta a conjuntura económica actual, associada à consolidação das perspectivas no médio prazo de manutenção da inflação em um dígito, espera-se que ocorra uma queda gradual das taxas de juro nos próximos tempos, o que poderá resultar numa deslocação da actual yield curve para baixo nas taxas de juro de curto prazo.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 12 OPINIÃO

As Mais Populares Ferramentas de IA

A Inteligência Artificial teve o seu ano de arranque, em força, em 2023, com grandes modelos de linguagem (LLM) e geradores de texto para imagem a captarem a atenção e a imaginação de pessoas por todo o mundo.

Apesar de ainda se encontrar num estado inicial de desenvolvimento face a outras tecnologias inovadoras, como a Internet e o smartphone, a IA já dá corpo a uma série de aplicações altamente usadas.

No relatório “2024 Global Forecast Series” são compilados dados do Writerbuddy e da Coatue para classificar e visualizar as ferramentas de IA mais populares de 2023, juntamente com a rapidez de adopção da tecnologia, bem como os produtos de software que os definiram. Ao nível dos sites com IA mais visitados,

não é surpreendente que o ChatGPT, o produto da OpenAI que desencadeou o boom da Inteligência Artificial no final de 2022, tenha emergido como a ferramenta mais popular do ano, dominando mais de 60% das visitas à web entre Setembro de 2022 e Agosto de 2023, acumulando 14,6 mil milhões de entradas no site.

Depois do ChatGPT está outro chatbot, o Character.AI, que em vez de ser um LLM singular para consultas gerais e relacionadas com a produtividade do utilizador, é uma colecção de personagens (também conhecidos como “agentes de diálogo”) com os quais é possível conversar livremente. Estes vão desde personagens populares de programas de televisão e jogos de vídeo até treinadores de encontros e jogos interactivos de estratégia ou baseados em texto.

NÚMEROS EM CONTA
14 www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 % de adopção nos EUA 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 100% 80% 60% 40% 20%
dados
EUA
indicador
resto
Software
Ciclos de Adopção de Tecnologia FONTE 2024 Global Forecast Series
Gerador de Vídeo
de
de Imagem
As inovações recentes trouxeram vagas de inovação a plataformas que todos usamos. Mostramos os
dos
como
para o
do mundo...
de Criação e
Chatbot
Gerador
Texto Data Science Gerador
Tamanhodocírculo = Número de visitas

Dar Visibilidade aos “Invisíveis”. A Solidariedade no Centro da Sustentabilidade

A solidariedade pode ser um factor crucial para se alcançar a sustentabilidade, num mundo onde cresce o número de pessoas que vive à margem da sociedade. Dar alimento, educação e emprego a quem necessita acelera o desenvolvimento socioeconómico. O Porto de Maputo dá um exemplo que vale a pena conhecer

Texto Filomena Bande • Fotografia Mariano Silva

Em 2022, com o apoio do Porto de Maputo (através da Empresa de Desenvolvimento do Porto de Maputo, MPDC), nasceu o projecto Invisíveis, com o propósito de proporcionar oportunidades de trabalho e inserção na vida activa a pessoas que vivem à margem da sociedade, muitas já sem esperança, sequer, de recuperar a dignidade. Liderado pelas representantes da MPDC, Vanda Pereira e Soraia Abdula, o projecto criou um conjunto de soluções, em diversas áreas de actividade, que hoje dão relevo a pessoas que eram, de facto, invisíveis perante a sociedade.

O Invisíveis foi inspirado noutro projecto de cariz solidário, uma iniciativa denominada Kaya, que, em língua tsonga, falada no sul de Moçambique, significa lar. A iniciativa Kaya faz parte da plataforma solidária Makobo, criada por um jovem moçambicano, com a missão de dar conforto a grupos desfavorecidos. Os seus dinamizadores circulavam pelas ruas para oferecer refeições a pessoas necessitadas, na cidade de Maputo, sobretudo à população sem-abrigo.

A iniciativa foi interrompida em 2020, devido às restrições impostas para travar a pandemia de covid-19. Nesse momento crítico, a equipa da MPDC ofereceu um dos seus espaços, permitindo a continuidade da iniciativa, respeitando as condições de segurança a que a pandemia obrigava. Ao ver de

perto o que se fazia no âmbito do projecto Kaya e ao ouvir as histórias dos beneficiários, os responsáveis da MPDC desenharam formas de apoio adicional, dando origem ao programa de solidariedade Invisíveis.

Mais oportunidades, novos horizontes

Os beneficiários do programa Kaya passaram a dispor de novas oportunidades para refazer a vida. Numa primeira fase, 30 pessoas foram integradas no Invisíveis. A maior parte era composta por vendedores ambulantes que viviam nas ruas de Maputo, incluindo os que se deslocaram de outras províncias, à procura de emprego. Na primeira oportunidade que o MPDC teve para participar no Moçambique Fashion Week 2022 apresentou os integrantes do projecto: doze tiveram a oportunidade de desfilar na passerele. De desconhecidos, estes beneficiários passaram a ser notados pela sociedade de maneira positiva.

A participação no desfile de moda foi o ponto de partida para um compromisso mais profundo por parte da MPDC, que decidiu oferecer mais apoios, incluindo acompanhamento psicológico para os integrar no mercado de trabalho tradicional. Assim, duas empresas parceiras do Porto ofereceram cursos básicos a preços bonificados nas áreas de refrigeração, electricidade, massagens e depilação. A MPDC financiou os custos da formação e forneceu ‘kits’ de auto negó-

Uma das características do projecto Invisíveis é que não fornece apenas ajuda urgente, mas, principalmente, novas oportunidades e perspectivas de vida

cio. No final dos cursos, os participantes passaram a ter novas perspectivas de vida. O projecto ofereceu também uma bolsa de estudos para o membro mais jovem, já com escolaridade, enquanto outros foram contratados como estagiários pela MPDC, iniciando uma jornada de reintegração.

Uma das características do projecto Invisíveis é que não se resume apenas a fornecer ajuda urgente, que acaba por ser transitória. Oferece, principalmente, novas oportunidades e perspectivas de vida, com o propósito de restaurar a dignidade daqueles que foram muitas vezes esquecidos. É um testemunho inspirador de como a comunidade pode unir-se para criar mudanças reais e duradouras. Reconhecendo que a MPDC não pode proporcionar empregos ou estágios para todos, o projecto procura expandir o apoio, além dos sectores em que já deu formação. Comprometidos em envolver outras empresas e parceiros sociais, a ideia é que o projecto alcance autonomia, tornando-se sustentável e capaz de acolher diversos grupos ao longo do tempo.

Vidas transformadas

Emocionada, Yolanda Nevas contou à E&M como a sua vida mudou. Recordou os dias em que vivia nas ruas, a receber refeições através do Kaya. Yolanda beneficiou da formação em electricidade e refrigeração e a MPDC ofereceu-lhe um estágio no Porto de Maputo, onde está actualmente empregada, tal como outros três beneficiários do projecto.

“Naquela época, eu era uma mulher da rua, enfrentando dificuldades, mas tudo mudou quando entrei neste projecto. Deu-me um trabalho digno, mas também me ensinou a ser mais responsável, a ser dona de mim mesma”, tes-

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 16 E SG | MPDC

temunhou. A forma como Yolanda enfrenta cada dia mudou. “Agora, consigo levantar-me cedo, ir para o trabalho e, no final do dia, voltar para casa e ficar com as crianças. É uma transformação muito grande. Eu aprendi que sou capaz de fazer muito mais do que imaginava. Não tinha a esperança de aprender tantas coisas e de me tornar na pessoa que sou hoje”, revelou.

Carlos Francisco Félix, 43 anos, vivia de biscates, alguns dos quais muito duros. Carregava todo o tipo de mercadorias, arrumava sacos de arroz em porões dos navios e movimentava gelo em navios de peixe, uma experiência que hoje classifica como dolorosa. Hoje, trabalha na área da electricidade. “Já

levo sete meses de estágio no Porto de Maputo e sinto-me muito feliz por tudo o que aconteceu. Tudo começou com uma oportunidade de formação e agora consigo realizar as tarefas designadas pelos meus instrutores. Não imaginava poder alcançar este ponto na minha vida”, testemunhou.

Artur Arlindo Bila, de 19 anos, é o membro mais jovem do projecto Invisíveis. Durante a pandemia, em 2020, com o encerramento da escola, partiu da província de Gaza para Maputo à procura de trabalho. Incapaz de encontrar emprego, Artur teve de viver nas ruas, a vender pacotes de comida rápida e pipocas para se sustentar. Hoje trabalha como estafeta numa empresa,

depois de ter passado pela formação do Invisíveis. Diz que a oportunidade que recebeu foi crucial para conseguir um emprego, mesmo sem documentos de identificação e sem morada. A MPDC facilitou a viagem de volta a Gaza, para recuperar os documentos perdidos, e o regresso à capital. Artur reconhece a importância da educação e procurou a ajuda da MPDC para voltar à escola. “Participar neste projecto mudou a minha vida. Deixei de ser ambulante. Conheci pessoas boas: uma delas acolheu-me em casa, quando eu não tinha nada”, revelou, reconhecendo que a sua transformação deixou a vida mais fácil e fê-lo recuperar a esperança num futuro melhor.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 17

Moçambique encontra-se num ponto crucial da sua trajectória energética, possuindo uma riqueza de recursos que inclui hidro, solar, eólica, carvão e gás natural. Entre as iniciativas notáveis está o projecto hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa e a barragem de Cahora Bassa, ambos reconhecidos como fontes potenciais de electricidade económica não só para Moçambique, mas também para a região.

A Agência Internacional de Energia (2022) sublinha a importância duradoura da hidroelectricidade em melhorar a flexibilidade dos sistemas de energia de África. Até 2020, a hidroelectricidade contribuiu com 16% da produção de electricidade do continente, com a maior parte (90%) da geração localizada na África Subsaariana, particularmente em nações como Angola, República Democrática do Congo (RDC), Etiópia, Moçambique e Zâmbia. Olhando para o futuro, na região da África Austral, espera-se que a hidroelectricidade constitua um quarto da capacidade de fornecimento flexível total até 2030, quase duplicando a sua capacidade para quase 80 GW.

O Governo moçambicano está a embarcar em políticas mais adaptativas e reformas orientadas para o mercado, destinadas a abordar os desafios de desempenho e a fomentar o desenvolvimento geral do sector de Energia. Em linha com as tendências em várias nações da África Subsaariana, a reestruturação do sector de energia de Moçambique continua a ser um processo em curso, caracterizado por uma presença estatal significativa.

O potencial de geração de electricidade do País, em relação a muitas nações da África Austral, posiciona-o como um potencial pólo energético regional, oferecendo oportunidades atractivas para para investimento, catalisando, assim, avanços socioeconómicos.

Impulsionado por ambições de desenvolvimento sustentável e alívio da pobreza, Moçambique está a enfrentar desafios substanciais em garantir electricidade fiável, acessível para a sua população. Isto sublinha a necessidade de um exame aprofundado da paisagem energética de Moçambique, mergulhando no seu poten-

Moçambique Num Momento Crucial Para a Transição Energética

cial, estado actual, obstáculos e oportunidades na realização da electrificação universal e no fomento da sustentabilidade sectorial. A abordagem do papel das soluções de armazenamento de energia e o potencial de lítio e grafite do País emergem como centrais para impulsionar Moçambique para a vanguarda da fabrico de baterias, revolucionando assim o seu sector de Energia e alimentando o crescimento económico.

Os decisores políticos permanecem firmes nos seus esforços para enfrentar questões persistentes relacionadas com o acesso inadequado à electricidade e a fiabilidade do fornecimento, que têm prejudicado o progresso do desenvolvimento do continente. De acordo com o Africa Energy Outlook (2019), aproximadamente 600 milhões de africanos, quase metade

Moçambique deve alinhar as suas políticas e regulamentos para fomentar o crescimento da infra-estrutura de armazenamento de energias

da população, não tinham acesso à electricidade em 2018. Além disso, cerca de 80% das empresas na África Subsaariana enfrentaram interrupções regulares de electricidade, resultando em perdas económicas significativas. Com o continente a estabelecer objectivos ambiciosos de energia renovável, Moçambique deve alinhar as suas políticas e regulamentos para fomentar o crescimento da infra-estrutura de armazenamento de energia, garantindo a estabilidade do fornecimento. Políticas críticas, como tarifas de alimentação e iniciativas de modernização da rede, são indispensáveis para incentivar o investimento em tecnologias de armazenamento de energia. Cultivando um ambiente propício para os sectores público e privado, Moçambique pode acelerar projectos e abordar restrições de transmissão. Para uma maior eficiência, tanto das alocações de investimento fora da rede, quanto na rede, as soluções de arma-

zenamento de energia são fundamentais e oferecem caminhos para a mudança de energia, estabilidade de frequência e qualidade de electricidade aprimorada, cruciais para atender às demandas do mercado e garantir a segurança energética.

Para abordar eficazmente estes desafios, o País deve priorizar o investimento em infra-estruturas, incluindo projectos de extensão da rede e soluções fora da rede através de esforços concertados entre o sector público e privado. Além disso, as vastas reservas de gás natural do País apresentam uma vantagem competitiva, actuando como catalisador para o desenvolvimento industrial, melhoria dos meios de subsistência e uma transição para a energia limpa. A colaboração com parceiros internacionais e o reforço dos quadros de governança são imperativos para atrair investimento e mitigar impactos ambientais e sociais associados à extracção mineral e projectos energéticos. Empoderar o sector privado para investir em iniciativas de energia renovável pode impulsionar a inovação e o crescimento económico em vários sectores.

O vasto potencial de lítio e grafite de Moçambique coloca o País numa posição privilegiada na paisagem da fabricação de baterias, oferecendo perspectivas únicas para o crescimento económico e avanço tecnológico. Com a procura global por baterias de iões de lítio a disparar, Moçambique tem o potencial de emergir como um actor- chave na cadeia de fornecimento de baterias. Parcerias estratégicas com investidores internacionais e avanços na tecnologia de fabrico de baterias podem ainda realçar a posição de Moçambique no mercado global, impulsionando a industrialização, criação de emprego e receitas de exportação.

Em suma, Moçambique está num momento crucial da sua evolução energética, equipado com recursos abundantes, objectivos ambiciosos e oportunidades transformadoras. Ao abordar eficazmente as barreiras ao acesso à energia e à sua fiabilidade, aproveitando o potencial das fontes de energia renovável e alavancando os seus recursos de lítio e grafite, Moçambique pode desbloquear o seu pleno potencial energético e liderar o desenvolvimento sustentável e a prosperidade para os seus agentes económicos.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 18 OPINIÃO
NAÇÃO | IA

Inteligência Artificial

Estamos Preparados Para

Crescer?

O cenário internacional evidencia uma autêntica revolução tecnológica, com a Inteligência Artificial (IA) a desempenhar um papel fulcral, trazendo consigo transformações profundas em diversos sectores económicos e alterando de forma significativa o quotidiano e o ambiente laboral. Moçambique está igualmente a integrar-se nesta tendência, apesar das limitações técnicas, financeiras e infra-estruturais. Como avança a adesão a este novo paradigma e qual é a situação noutras regiões?

Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock Photo & D.R.

Ainteligência transcendeu a exclusividade do cérebro humano. Desde o advento de máquinas capazes de realizar tarefas que antes requeriam inteligência humana, como reconhecimento de voz, visão computacional, processamento de linguagem natural e tomada de decisões, que presenciamos uma transformação irrevogável na nossa forma de pensar, viver e produzir. As máquinas inteligentes já melhoram a eficiência e produtividade em várias áreas da economia, moldando radicalmente o nosso quotidiano. Assim, a Inteligência Artificial (IA) emergiu como um imperativo global, impulsionando todos os países a aderirem a esta corrida tecnológica e tornando-se um factor crítico de competitividade entre as nações.

O contexto de Moçambique

Moçambique enfrenta várias barreiras para a adopção e implementação plena da IA. Um dos obstáculos mais significativos é a carência de infra-estruturas de tecnologia de informação e comunicação, especialmente nos sectores que dependem intensivamente de tecnologia avançada. Em paralelo, há uma premente necessidade de formação de recursos humanos qualificados em ciências de dados, programação e outras disciplinas relacionadas à IA, para explorar plenamente o seu potencial. A capacitação destes profissionais, apesar de ser um processo oneroso e prolongado, é vital para assegurar uma utilização eficiente e responsável da IA em todo o território nacional. A estas fragilidades, reconhecidas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, acresce a ausência de uma regulamentação que responda aos desafios contemporâneos, uma questão que exploraremos mais adiante.

Segundo Tiago Borges Coelho, co-fundador da UX, uma empresa de tecnologia de renome internacional com origem em Moçambique, a Inteligência Artificial tem visto um aumento de utilização no País, em sintonia com as tendências globais. No entanto, destaca que a implementação de soluções baseadas em IA tem sido predominantemente liderada por entidades estrangeiras, como ONG e Agências de Desenvolvimento, em colaboração com o Governo. “São escassos os exemplos de aplicação de IA pelo sector privado em Moçambique ou, pelo menos, não são amplamente divulgados, possivelmente por razões estratégicas. Um caso concreto de utilização de IA pela nossa empresa é na plataforma emprego.co.mz, o principal portal de recrutamento digital do País, on-

“Enormes carências técnicas em Ciências da Computação, Engenharia de Software e Análise de Dados limitam a capacidade de desenvolver e implementar soluções de IA”, Bruno Dias, EY

de se aplica a IA para avaliar a adequação dos candidatos às vagas disponíveis”, mencionou.

Destacou ainda o uso de drones com IA pelo Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas em resposta aos ciclones Kenneth e Idai em 2019, como um marco no emprego de tecnologia em situações de emergência humanitária. Outro exemplo mencionado foi a adopção de uma plataforma de IA pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral para monitorizar eleições, desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Bruno Dias, líder de consultoria da Ernst & Young (EY) – uma consultora que realiza estudos de mercado e monitoriza a evolução da IA a nível nacional e internacional – partilha uma perspectiva semelhante. “Recentemente, implementámos uma solução que recorre a

tecnologias de Machine Learning num cliente do mercado moçambicano, mas este é um dos raros exemplos empresariais de adopção destas tecnologias que conheço no País”, afirmou.

Estamos atrasados e falta-nos quase tudo!

Bruno Dias proporcionou uma análise detalhada sobre o potencial da Inteligência Artificial para Moçambique, contrastando-o com o desenvolvimento e a adopção desta tecnologia noutros países africanos, que variam significativamente. Salientou que nações como Quénia, Nigéria e África do Sul registaram avanços notáveis graças ao empenho do sector privado, a políticas governamentais propícias e à existência de recursos e capacidades tecnológicas adequadas.

Contudo, identifica desafios comuns, incluindo insuficiências na infra-estru-

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NAÇÃO | IA

tura de Tecnologia da Informação, como a escassez ou o acesso limitado à internet e a capacidade restrita de processamento de grandes volumes de dados, a lacuna de competências técnicas nos recursos humanos, a limitada capacidade de investimento e a falta de políticas regulatórias e directrizes claras. Como medidas mitigadoras, sugere abordagens como a centralização do processamento de dados em Maputo para situações em que a informação não necessita de ser disponibilizada em tempo real, permitindo que os dados sejam recolhidos e disponibilizados mais tarde junto de populações ou intervenientes remotos.

Faltam dados reais para treinar a IA no País

Contrariamente a Bruno Dias, Tiago Borges Coelho, co-fundador da UX, considera que a infra-estrutura digital existente em Moçambique não constitui uma barreira ao avanço da Inteligência Artificial, argumentando que "qualquer pessoa com um computador e acesso à internet pode utilizar aplicações de IA na nuvem (cloud)". Contudo, admite que o País enfrenta um desafio significativo de-

vido à falta de grandes volumes de dados para treino e validação, o que demanda extensa capacidade de computação e armazenamento.

Borges Coelho destaca que, em Moçambique, a infra-estrutura necessária para suportar tal volume de informação não está disponível a um custo acessível, e salienta a importância dos dados enquanto elemento crucial para o desenvolvimento da IA, frisando a ausência de uma política de dados abertos que facilite a colecta e publicação de dados públicos. "Os dados são essenciais para treinar os sistemas de IA e para que estes possam processar e organizar informação, gerando conhecimento de interesse", explica.

João Gaspar, presidente da Associação das Fintech de Moçambique, também levantou preocupações, particularmente no sector financeiro, sobre restrições ao uso de tecnologias cloud para processamento de dados, devido a regulamentações que exigem a localização dos dados dentro do País. Isso limita o acesso e a utilização eficiente de infra-estruturas em nuvem. Gaspar argumenta que políticas mais abertas poderiam

facilitar a integração com bases de dados na nuvem, evitando que as empresas tenham de desenvolver arquitecturas complexas e dispendiosas individualmente.

Borges Coelho complementa, destacando que uma política de dados aberta e robusta proporcionaria aos estudantes recursos para investigar e desenvolver soluções de IA inovadoras, com potencial transformador e capaz de impulsionar significativamente o crescimento da Inteligência Artificial em Moçambique.

Mudanças à vista na regulamentação

A E&M procurou informações junto do Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC), a entidade reguladora das Tecnologias de Informação e Comunicação em Moçambique, responsável pela regulamentação actualmente sob discussão. Luís Canhemba, administrador-executivo do Pelouro Corporativo do INTIC, confirmou que, dada a reconhecida limitação da regulamentação existente, foi firmado um acordo em Dezembro passado com a Associação Moçambicana de Bancos para elaborar o Regulamento para a Computação em Nuvem. Este

NAÇÃO | IA

regulamento procura modernizar e optimizar os serviços de tecnologia da informação através da criação de directrizes para o desenvolvimento, contratação, hospedagem e operação de serviços cloud, alinhando-se à implementação da Lei de Transacções Electrónicas.

A revisão regulatória em TIC está em fase preparatória, conduzida por uma equipa multissectorial que inclui técnicos do INTIC, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, do Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique e do Banco de Moçambique, visando estabelecer uma estratégia nacional clara que facilite a implementação da IA em diferentes sectores.

Como resolver o défice de capital humano?

No que diz respeito ao desafio de capital humano, a Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo) emerge como uma instituição pioneira, preparando-se para introduzir cursos focados em IA e robótica, numa tentativa de responder

Reconhecendo as limitações da regulamentação, o INTIC e a Associação Moçambicana de Bancos celebraram um acordo para regular operações de serviços de computação em nuvem

à crescente demanda por profissionais qualificados nestas áreas emergentes. O Reitor da UP-Maputo, Jorge Ferrão, destacou o carácter ambicioso destas áreas dada a realidade moçambicana, mas sublinhou a importância das parcerias estratégicas com universidades consolidadas de países como Brasil, Portugal e Reino Unido, para superar limitações financeiras, técnicas e de recursos. A UP-Maputo planeia iniciar a leccionação destas especialidades a partir deste ano, um movimento que Ferrão considera crucial não só para a sua instituição mas como um modelo a ser seguido por outras, ampliando a base de conhecimento e de técnicos qualificados para enfrentar os desafios actuais e futuros.

“É necessária uma estratégia interinstitucional”

Uma estratégia que ligue os intervenientes: esta perspectiva, largamente

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antecipada pelo mercado, é partilhada por Bruno Dias, que advoga a criação de ecossistemas de inovação envolvendo o sector privado, o público, universidades, consultoras e empresas de TI. Tais ecossistemas poderiam desenvolver programas de capacitação, estágios e aprendizagem prática para o talento em Moçambique. “Pela minha experiência, nada é impossível. Há quatro anos, enfrentámos cepticismo ao recrutar recém-licenciados para a nossa equipa de TI em Maputo. Contudo, hoje, a EY em Maputo emprega jovens moçambicanos que prestam serviços a clientes nacionais e internacionais em áreas como Cibersegurança, Robótica, Tecnologias cloud e, sim, Inteligência Artificial”, exemplifica.

Tiago Borges Coelho, co-fundador da UX, concorda com a importância da formação, mas considera que só isso não é suficiente para impulsionar uma mudança significativa. “O caminho passa por desmistificar estas tecnologias e encorajar as pessoas a explorarem as ferramentas de IA, movidas pela curiosidade”. Ele distingue entre criar modelos de IA, que exige recursos significativos e conhecimento técnico avançado, e utilizar ferramentas de IA existentes, acessíveis a qualquer pessoa com curiosida-

“Qualquer pessoa pode aceder, por exemplo, a um ChatGPT ou a qualquer outra ferramenta de IA generativa e criar conteúdos, sem nenhum conhecimento técnico”, Tiago Borges Coelho, UX

de e vontade de experimentar. “Hoje em dia, qualquer um pode usar, por exemplo, um ChatGPT ou outras ferramentas de IA generativa para criar imagens, textos, sons ou outros conteúdos sem necessidade de conhecimento técnico prévio”.

IA e ética: os perigos a ter em conta

A implementação da Inteligência Artificial transcende a mera introdução de soluções, facilidades e automatismos nos processos. Uma das preocupações prementes a nível global é a utilização ética da IA, especialmente no que toca à protecção da privacidade de dados e dos direitos humanos. Há cerca de dois anos, a UNESCO emitiu um documento orientador de 45 páginas destinado a moldar as políticas de implementação da IA nos seus países-membros. Durante um semi-

nário para jornalistas em Maputo, no início de Fevereiro, Paul Gomis, director e representante da UNESCO em Moçambique, destacou a importância deste documento como um guia essencial no processo de adopção da IA. Segundo Gomis, Moçambique e outros países africanos deveriam adoptá-lo como referência fundamental na sua jornada de transformação digital.

O documento aborda questões éticas cruciais associadas à IA, incluindo os riscos de incorporar e potencializar distorções que podem levar a discriminação, desigualdade, exclusão digital e social, ameaça à diversidade cultural, social e biológica, bem como a divisões sociais e económicas. Além disso, expressa preocupação com a possibilidade de a IA intensificar a exclusão no acesso às tecnologias, enfatizando que as esco-

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 26 NAÇÃO | IA

A UNESCO recomenda esforços, incluindo cooperação internacional, para superar a falta de infra-estruturas tecnológicas, educação, habilitações e estruturas legais essenciais

lhas de estilo de vida, crenças, opiniões e experiências pessoais, incluindo o uso opcional de sistemas de IA, não devem ser restringidas.

A UNESCO recomenda esforços, incluindo cooperação internacional, para superar a falta de infra-estruturas tecnológicas, educação, habilitações e estruturas legais essenciais. No que diz respeito à privacidade, salienta a importância de garantir que os dados manipulados pelos sistemas de IA sejam colectados, usados, compartilhados, arquivados e eliminados de forma que respeitem o Direito internacional e os marcos jurídicos nacionais, regionais e internacionais relevantes. O INTIC, ao desenvolver normas, afirma estar a considerar estas questões éticas e a consultar outras entidades internacionais, preocupadas com a temática, além da UNESCO, assegurando que a ética e a protecção dos direitos fundamentais se-

jam pilares da implementação da IA em Moçambique.

Em que se está a aplicar a IA em Moçambique?

Já existem iniciativas de aplicação da Inteligência Artificial à agricultura em Moçambique. O grupo Agritech Innovators, fundado por jovens moçambicanos, desenvolveu uma plataforma que facilita a interacção e o intercâmbio entre produtores agrícolas, fornecendo, por exemplo, orientações so bre práticas de plantio ou permitindo o acesso a imagens processadas das suas plantações, analisadas através de IA, para detalhar o estado das culturas. Adicionalmente, a plataforma envia alertas meteorológicos, permitindo aos agricultores anteciparem-se a condições adversas.

Este mesmo grupo inovou ao criar uma plataforma capaz de identificar pragas, orientando os agricultores sobre medidas

preventivas e acções correctivas para culturas afectadas.

No sector da Saúde, destaca-se o sistema de IA desenvolvido pela organização Stop TB, com o apoio da ONU, que identifica casos de tuberculose em prisões de alta segurança. Este sistema está ligado a um equipamento de raio-X e fornece resultados em menos de cinco minutos, acelerando o início do tratamento.

No âmbito financeiro, a digitalização das transacções, impulsionada pelo aumento do acesso à internet, tem beneficiado da IA para detectar fraudes e reforçar a segurança dos dados. No sector educativo, já existem programas adaptativos que personalizam o ensino às necessidades individuais de cada aluno, fornecendo feedback em tempo real e monitorizando o seu progresso.

A EY salienta que, considerando os desafios específicos de Moçambique, as capacidades da IA podem ser ampliadas para a gestão de desastres naturais, melhorando a previsão destes eventos e minimizando, potencialmente, o seu impacto destrutivo.

Assim, fica evidente que, apesar dos avanços já realizados, existe um vasto potencial para a exploração e crescimento da aplicação da IA em diversos sectores no País.

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NAÇÃO | IA
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Inteligência Artificial: Uma Oportunidade Real para África

As consultoras PWC e McKinsey estimam que o impacto financeiro da IA em África possa atingir 1,2 biliões de dólares até 2030, valor equivalente a um acréscimo de 5,6% no PIB do continente. Os analistas acreditam que a IA tem o potencial para transformar vários sectores da economia, tais como o Emprego, Agricultura, Saúde, Energia, Finanças, Transportes e Logística. Saiba que empresas e startups africanas já estão a tirar partido desta revolução

Aobra Théâtre d’Opéra Spatial, de Jason Michael Allen, gerada por Inteligência Artificial (IA) através da plataforma Midjourney, foi a primeira a vencer um concurso de fotografia nos Estados Unidos, o que levantou uma enorme polémica sobre o que é, ou não, arte. Mais recentemente, o já conhecido ChatGPT, da OpenAI, anunciou que a sua ferramenta passou com sucesso nos exames finais de Direito, da Minnesota Law School, e de Economia, da Wharton School of Business. Meete Frederiken, primeira-ministra da Dinamarca, surpreendeu o mundo ao fazer um discurso no Parlamento, escrito por ChatGPT, de modo que alertasse os deputados para os riscos da IA. Com igual propósito, o popular economista Paul Krugman, que acredita que a “IA vai revolucionar o negócio dos motores de busca”, já havia escrito parte da sua coluna no New York Times com ChatGPT. Por fim, a Github, criadora da assistente virtual de código informático Copilot, anunciou um estudo no qual a aplicação aumentou a produtividade dos programadores, em velocidade e eficácia, em cerca de 55%. Estes são apenas alguns exemplos que provam como a IA, ainda que em fase embrioná-

ria, já está a gerar mudanças radicais na forma como todos nós vivemos, trabalhamos e relacionamos uns com os outros.

Impacto económico da IA em África

A pergunta que se impõe é: qual será o impacto económico da IA nos próximos anos? E até que ponto contribuirá para reduzir, ou para alargar ainda mais, o fosso que separa os países mais avançados a nível tecnológico, dos demais? O estudo Sizing the Price, da consultora PricewaterhouseCoopers (PwC), responde a estas perguntas. Os analistas estimam que, até 2030, as tecnologias de IA farão a economia mundial crescer 15,7 biliões de dólares, mais do que a soma do PIB actual da Índia e da China. Desse total, o aumento da produtividade irá contribuir com 6,6 biliões de dólares e o impacto no consumo proporcionará 9,1 biliões de dólares. O estudo confirma também que esse efeito será diferente nas várias regiões do planeta. A PwC estima que os ganhos financeiros em África serão de 1,2 biliões de dólares até 2030, equivalente a um acréscimo de 5,6% no PIB do continente. Na China, ascenderão a sete biliões de dólares, na América do Norte serão 3,7 biliões e, na Europa, 1,8 biliões. Outro estudo similar da consultora

“África já perdeu a primeira, a segunda e a terceira revolução industrial. Estamos convictos que não iremos perder a quarta revolução”. Mahamudu Bawumia, vice-presidente do Gana
www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 30 NAÇÃO | IA
Texto Jaime Fidalgo • Fotografia D.R

CASOS EXEMPLARES DE INOVAÇÃO EM IA

Tunísia. Os media também têm referido inúmeros exemplos de criatividade e inovação em IA. A African Hustle, autora da Africa & AI Series, conta a história da tunisina InstaDeep, que recebeu fundos superiores a 100 milhões de dólares para desenvolver soluções inovadoras de IA nas áreas da Logística, Energia e Jogos.

Nigéria. Também o chatbot Kudi AI, da Nigéria, recebeu um financiamento da incubadora Y-Combinator, de Silicon Valley, para alargar os serviços financeiros às populações carenciadas.

Quénia. Na mesma linha, o famoso M-Pesa, nascido no Quénia, foi dos primeiros a utilizar a IA para permitir transacções financeiras por telemóvel aos milhares de africanos sem conta bancária.

África do Sul. Outro dos casos mais interessantes é o da plataforma Zindi, com sede em Cape Town, na qual os cientistas, engenheiros e académicos são incentivados a resolver problemas concretos em África através da IA.

Nigéria. Na Saúde, a nigeriana Ubenwa utiliza a IA para analisar o choro dos bebés e detectar casos de asfixia.

Etiópia. A Ada Health faz o diagnóstico de doenças e providencia conselhos de saúde. Graças ao apoio da Fundação de Bill & Melinda Gates, este serviço é gratuito naquele país.

Quénia. A revista Time publicou, recentemente, um artigo sobre o Quénia, onde há cada vez mais jovens a trabalharem como freelancers, através da aplicação norte-americana Remotetasks, em funções como a análise de dados ou a verificação de conteúdos impróprios.

Gana. O britânico The Guardian refere o exemplo do Gana, no qual a IA cresceu exponencialmente desde que a Google abriu um centro de investigação em Accra, em 2019. Dois anos depois, a Academic City University College de Accra tornou-se a primeira instituição de ensino do continente a lançar uma licenciatura em IA.

Continente. Na vertente económica, os progressos verificam-se sobretudo na Educação, Saúde e Agricultura. Uma das iniciativas mais relevantes, financiada pela agência de desenvolvimento alemão Giz, consiste na utilização de drones para recolher amostras e monitorizar as doenças nas plantações de caju.

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Segundo os dados da Quartz, existem 2400 empresas especializadas em IA no continente, 40% das quais fundadas nos últimos cinco anos

McKinsey, Modeling the Impact of IA on the World Economy, avança com previsões ligeiramente inferiores (13 biliões de dólares) e acrescenta que essa contribuição será dirigida, sobretudo, por ordem decrescente de importância, aos sectores do Retalho, Produtos de Consumo, sector público e social, Electrónica, Seguros, Banca, Transportes e Logística.

Por outro lado, a Quantum Black, a divisão da McKinsey para a IA, com escritórios em Joanesburgo, Casablanca, Lagos e Cairo, acredita que o

impacto no PIB do continente poderá ser maior: 9% até 2030. No estudo Accelaration AI in Africa, esse optimismo está relacionado com a sondagem realizada junto dos seus clientes de maior dimensão, em que 56% dos inquiridos no mundo disseram já ter adoptado a IA em, pelo menos, uma função, ao passo que em África essa percentagem foi de 57%. Segundo a consultora, as áreas de negócio mais promissoras são a optimização de processos nos serviços, a criação de novos produtos com base em IA, o Marketing e vendas

e a automatização das linhas de apoio a clientes (contact-centers).

Barreiras específicas em África

No entanto, a mesma sondagem apontou algumas barreiras específicas para o progresso da IA em África. Mais de 60% dos inquiridos confessam ter grande dificuldade em encontrar talento, caso dos engenheiros de software, analistas de dados, tradutores e designers, e 40% dizem que tal escassez tem vindo a agravar-se nos últimos três anos. Outras limitações referidas pelos analistas são a falta de literacia digital (a África Subsaariana tem a percentagem mais baixa de cidadãos equipados com competências digitais) e de um ecossistema de dados estruturados. Isto sucede porque a IA depende de grandes quantidades de dados para treinar algoritmos

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 32 NAÇÃO | INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Quanto pode valer a IA no mundo, segundo a PWC

A consultora PricewaterhouseCoopers (PWC) estima que, até 2030, as tecnologias de IA farão a economia mundial crescer 15,7 biliões de dólares. Os ganhos financeiros em África serão de 1,2 biliões de dólares até 2030, equivalente a um acréscimo de 5,6% no PIB do continente, ao passo que na China ascenderão a 7 biliões de dólares, na América do Norte 3,7 biliões e na Europa 1,8 biliões.

Figura 2: Quais as regiões que mais beneficiarão com a IA?

Impacto total: 14,5% do PIB

Impacto

América do Norte América Latina

(0,5 biliões de dólares)

Impacto total: 9,9% do PIB

(1.8 biliões de dólares)

Europa do Norte

Europa do Sul

Impacto total: 26,1% do PIB

(7.0 biliões de dólares)

China

Impacto total: 11,5% do PIB

(0.7 biliões de dólares)

Impacto total: 10,4% do PIB

(0.9 biliões de dólares)

Ásia desenvolvida

África, Oceânia e outros mercados asiáticos

Impacto total: 5,6% do PIB

(1.2 biliões de dólares)

FONTE Sizing the Price: What’s the real value of AI for your business and how can you capitalise?, PricewaterhouseCoopers (PWC)

Quais são os negócios mais promissores, segundo a McKinsey

A consultora McKinsey acredita que o impacto da IA será maior, por ordem decrescente de importância, no retalho, produtos de consumo, serviços públicos e sociais, seguros e banca.

Triliões de dólares

Electrónica/Semi-condutor

Banca Transporte & Logística Sistemas e serviços de saúde Automóvel e montagem Materiais de base Viagens Alta tecnologia Telecomunicações Agricultura Produtos químicos Media e entretenimento Farmacêutica Petróleo e gás Aeroespacial e defesa

Que países têm mais empresas especializadas em IA

Existem 2400 empresas especializadas em IA no continente, 40% das quais fundadas nos últimos cinco anos. Entre elas, 34% são de média dimensão e 41% startups. Por países, o ranking é liderado pela África do Sul, Nigéria, Egipto, Quénia, Marrocos, Gana, Tunísia, Camarões, Tanzânia e Uganda.

Países Africanos Número de empresas especializadas em IA

FONTE Quartz e Policy Center for the New South

Que países estão mais bem preparados para a IA?

O Government AI Readiness Index, publicado anualmente pela consultora Oxford Insights (ver artigo sobre este índice), mede o grau de preparação de todos os países do mundo para a Inteligência Artificial (IA), através da análise de vários indicadores, divididos em três dimensões: “Governo”, “Sector Tecnológico” e “Infra-estruturas de Dados”, e cuja pontuação final varia dos zero aos 100.

Na África Subsaariana, os mais bem classificados são as Ilhas Maurícias (com 53,27 pontos, que também são líder no pilar do “Governo”), África do Sul (com a melhor classificação nos pilares do “Sector Tecnológico” e da “Infra-estrutura de Dados”), Ruanda, Senegal e Benim. A fechar o top 10 regional está ainda o Quénia, Nigéria, Botsuana, Seicheles e Cabo Verde. Moçambique ocupa o 172.º do ranking mundial, com uma pontuação geral de 25,62, valor ligeiramente abaixo da média da África Subsaariana que é de 30,16. O melhor pilar do País é o da “Infra-estrutura de Dados” (37,15 pontos), seguido do “Governo” (21,9) e, por fim, o “Sector Tecnológico” (com 17,82, o sétimo pior desempenho do ranking). A nível regional, Moçambique está na 32.ª posição, entre 47 países, um lugar acima do vizinho Maláui.

Energia e mineração Operações e processos

Banca e seguros Marketing e vendas

Distribuição

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 33
Retalho
total: 5,4% do PIB (3,7 biliões de dólares)
e retalho Análise de crédito e fraudes
Compras e fornecedores Agricultura RH e gestão de talento Bens de consumoembalados Sector público e social Seguros África do Sul 726 Nigéria 456 Egipto 246 Quénia 204 Marrocos 126 Gana 115 Tunísia 103 Camarões 54 Tanzânia 44 Uganda 44 Zimbabué 44 Maurícia 35 Costa do Marfim 29 Argélia 26 Senegal 23 Ruanda 21 Zâmbia 20 Etiópia 18 Botsuana 16 República Democrática do Congo 10 1.7 1.4 1.2 1.1 1.1 1.0 1.0 0.9 0.9 0.8 0.8 0.6 0.5 0.5 0.5 0.4 0.4 0.4 0.2
Indústria
FONTE Government AI Readiness Index 2023, Oxford Insight 60 50 40 30 10 0 20
FONTE Accelaration AI in Africa, Quantum Black AI/McKinsey TOP 5 Em que negócios gera mais valor
Namíbia
Sudão
Sul Ruanda
Costa do
São Tomé
Zâmbia
TOP 5 Em que funções é mais útil
Maurícia Zimbabué Quénia Guiné Equatorial Gabão Lesoto Chade Senegal Togo Cabo Verde Mauritânia Etiópia Serra Leoa Somália Eritreia África do Sul Camarões Botsuana Mali República Unida da Tanzânia Moçambique Comores Benim Angola
Essuatíni Congo Gana Níger República Democrática do Congo
do
Gâmbia Seicheles Guiné
Marfim Maláui Libéria República Centro-Africana Nigéria Burkina Faso Uganda
e Príncipe Guiné-Bissau
Sudão Burundi

NAÇÃO

Potencial da IA: casos práticos

No que diz respeito aos sectores económicos de maior potencial para a IA em África, Abdessalam Jaldi, do Policy Center for the New South, considera que são esperados benefícios de curto prazo na agricultura, emprego, cuidados de saúde e energia.

Agricultura

Na agricultura, a IA pode ter um papel decisivo:

• na análise de dados para prever o estado do tempo e a ocorrência de cheias e secas,

• para optimizar os calendários de plantação e de colheita

• para determinar as necessidades de fertilizantes adequados.

Casos práticos na agricultura

• Por exemplo, o laboratório de IA da Google, na Tanzânia, criou a aplicação de machinelearning intitulada Nuru (“luz” em suaíli), que faz o diagnóstico precoce das doenças da mandioca e que funciona através de telemóvel, sem necessidade de ligação à Internet.

• Outras startups de IA da África do Sul, como a MySmartFarm, Aerobotics, Drone Clouds e FarmDrive, também oferecem soluções de diagnóstico de doenças, previsão de preços, consultas especializadas e acesso a serviços bancários e de Marketing.

Emprego

No emprego, um sector especialmente ameaçado pela IA (uma vez que a automatização poderá substituir o trabalho humano), o autor destaca o caso da Samasource, que recrutou mais de mil jovens no Quénia e no Uganda para desenvolver soluções de IA para as grandes empresas de tecnologia, como a Google e Microsoft.

e, se esses dados forem escassos ou pouco representativos, os algoritmos não são eficazes. Por outro lado, existem limitações legais relacionadas com a ausência de políticas governamentais que regulamentem os direitos dos utilizadores e as normas éticas e de transparência da IA.

Os países que lideram a revolução

O desenvolvimento da IA ainda está numa fase inicial e enfrenta uma série de desafios em África, até que possa ser uma força transformadora da sociedade. Ainda assim, Abdessalam Jaldi, do Policy Center for the New South, acredita que o continen-

Energia

• Abdessalam Jaldi considera que a energia é um dos sectores onde a IA é mais necessária para encontrar soluções, visto que há mais de 630 milhões de pessoas em África que ainda vivem sem acesso à electricidade.

• Nas indústrias do petróleo e gás, os sistemas de aprendizagem automática podem melhorar a capacidade de mapear o tamanho e o valor dos depósitos subterrâneos, tornando mais fácil explorar esses recursos a menor custo.

• A mesma lógica aplica-se às energias renováveis, quer na concepção e operação de parques eólicos e solares mais eficientes, quer na avaliação das alterações climáticas.

Saúde

• Por outro lado, a IA pode tornar o fornecimento de electricidade mais eficaz e adaptado às necessidades do consumidor que, por sua vez, ajustará automaticamente o seu consumo de energia em tempo real e aos melhores preços.

• Na saúde, a IBM Research, da África do Sul, foi a pioneira de um sistema de machine learning que automatiza o diagnóstico do cancro e acelera o tempo de notificação aos pacientes.

• Ainda na África do Sul, o chatbot MomConnect, do Departamento Nacional de Saúde, liga mais de 1,8 milhões de mulheres grávidas aos serviços pré e pósnatais. Através dessa aplicação as mulheres podem comunicar entre si e receber orientações personalizadas para a sua gravidez.

Embora o ‘boom’ tecnológico de África seja geralmente associado às fintech (empresas financeiras e tecnológicas), as maiores aquisições realizadas nos últimos anos centraram-se nas áreas ligadas à IA

te poderá assistir a uma aceleração rápida da IA. No estudo Artificial Intelligence Revolution in Africa, o autor defende que, embora o boom tecnológico de África seja geralmente associado às fintech (empresas financeiras e tecnológicas), as maiores aquisições realizadas nos últimos anos centraram-se na IA. Segundo os dados da Quartz, existem 2400 empresas especializadas em IA no continente, 40% das quais fundadas nos últimos cinco anos. Entre elas, 34% são de média dimensão e 41% startups. Por países, o ranking é liderado pela África do Sul, seguindo-se Nigéria, Egipto, Quénia e Marrocos. A África do Sul é um dos

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ARTIFICIAL
| INTELIGÊNCIA

países que mais têm contribuído para a elaboração de uma estratégia pan-africana para a IA, que visa auxiliar os governos a desenvolver políticas e planos que aproveitem as oportunidades da designada “quarta revolução digital”. A African Union Development Agency (AUDA-NEPAD), com sede no país, é a entidade encarregada de redigir essa estratégia continental. O Quénia foi o segundo país africano (depois das Ilhas Maurícias) a elaborar uma estratégia nacional para a IA, à qual juntou o blockchain. E a Nigéria, que tem a sua estratégia em curso, tem-se distinguido na educação. A Data Science Nigeria, por exemplo,

já formou mais de um milhão de pessoas em IA. Outras iniciativas meritórias para o avanço da IA em África são, por exemplo, a Smart Africa, fundada em 2013 no Ruanda, que visa acelerar a transição digital no continente; a Africa Intelligence For Development Africa (AI4D), criada em 2020 no Quénia, que tem uma vasta rede de laboratórios de IA em vários países, em colaboração com universidades públicas. Ou os casos mais recentes do ARCAI, centro africano de investigação em IA da República do Congo, fundado em 2022, ano em que nasceu o African Observatory on Responsible AI, na África do Sul.

GIGANTES ATENTAS À IA EM ÁFRICA

As gigantes da tecnologia também estão atentas às oportunidades no continente africano. No ano passado, a Google lançou o programa “AI First Accelerator”, dirigido a startups. E a Huawei anunciou a estratégia “Acelerar a Inteligência para a Nova África” na qual investirá 430 milhões de dólares para impulsionar a inovação em IA.

A IMPORTÂNCIA DE UM QUADRO NACIONAL

O Government Artificial Intelligence Readiness Index, publicado anualmente pela Oxford Insights, inclui sete países africanos no top 100. São eles as Maurícias (61), Egipto (62), África do Sul (77), Tunísia (81), Ruanda (84), Marrocos (88) e Benim (97). Esta classificação deve-se, sobretudo, às boas pontuações no pilar do “Governo”, que inclui os critérios da existência de uma visão nacional para a IA, o desenvolvimento de serviços online, a existência de leis de protecção de dados e privacidade e o estabelecimento das estratégias de cibersegurança.

“África tem uma oportunidade de ouro. Com uma população de 1,4 mil milhões de pessoas, 70% das quais abaixo dos 30 anos, e com investimentos em IA que só este ano vão totalizar três mil milhões de dólares e que, até 2026, podem duplicar para os seis mil milhões, cabe-nos a nós não ficarmos sentados à espera que o resto do mundo venha aqui colher esses frutos. África já perdeu a primeira, a segunda e a terceira revolução industrial. Estamos convictos que não iremos perder a quarta revolução”, diz Mahamudu Bawumia, vice-presidente do Gana e líder da equipa de economistas do Governo.

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Muitas Questões, Uma Classificação: Os Governos Sabem Como Usar a IA?

Moçambique fica em 172.º lugar entre 193 países (21.º a contar do fim) na classificação da consultora Oxford Insights sobre prontidão dos governos para aplicar Inteligência Artificial nos serviços públicos. Em termos de visão sobre a matéria, a classificação é zero. Como começar a tratar o assunto?

Oano de 2023 fica na história como aquele em que se deu a massificação da Inteligência Artificial (IA). Houve avanços na IA generativa, no domínio da regulamentação (como a Lei da IA da União Europeia) e um aumento significativo de encontros relacionados com a IA a nível mundial. Em suma, a tecnologia esteve no centro das atenções. O potencial transformador da IA é inegável e os governos de todo o mundo reconhecem o seu impacto. Mas tal como noutras revoluções tecnológicas, existem grandes desigualdades e a consultora Oxford Insights dedicou-se a recolher métricas de cada país.

A empresa organizou 39 indicadores em dez dimensões, que compõem três pilares por cada país: governação, sector de tecnologia e ainda a área de dados e infra-estrutura. Em 2023, foram classificados 193 países, acima dos 181 do ano anterior.

Qual o grau de preparação de cada país para implementar a IA na prestação de serviços públicos aos seus cidadãos? Esta é a pergunta a que a classi-

ficação visa responder, sendo o primeiro classificado o mais bem preparado. O topo da tabela vai para os Estados Unidos da América, com 84,80 pontos numa escala de zero a 100, seguidos de Singapura (81,97) e Reino Unido (78,57).

A sustentar estas pontuações, há casos práticos. A Coreia do Sul (7.º lugar) está a usar a IA para melhorar as decisões públicas através da Plataforma Digital Governamental. No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde está a apoiar a investigação e inovação em novas tecnologias de rastreio para aplicação na assistência social.

Moçambique na cauda da tabela Sem surpresa, em linha com o baixo grau de desenvolvimento do país, Moçambique surge em 172.º lugar, com apenas 25,62 pontos. O pilar da tecnologia tem o resultado mais baixo (17,82 pontos), seguindo-se o pilar da governação (21,90) e o pilar das infra-estruturas (37,15). São quase cem lugares a separar o país da vizinha África do Sul (77.º lugar), que apesar de estar também ao nível zero no que respeita ao

O ano de 2023 foi marcado por avanços significativos na adopção de IA na África Subsaariana, apesar de esta região apresentar a menor pontuação média do índice global, indiciando grandes desafios

subcapítulo de visão estratégica, distancia-se nos restantes para alcançar uma pontuação global de 47,28 pontos.

Ano de conquistas na África

Subsariana

O ano de 2023 foi marcado por avanços significativos na adopção de IA na África Subsaariana, apesar de esta região apresentar a menor pontuação média do índice global, indiciando grandes desafios. Três países destacaram-se ao publicar novas estratégias nacionais - Ruanda, Senegal e Benim. O Governo das Ilhas Maurícias lidera a prontidão para aplicar IA nos serviços públicos, com 53,27 pontos, seguido pela África do Sul, Ruanda, Senegal e Benim.

As novas estratégias nacionais de IA de Ruanda, Senegal e Benim marcaram um movimento pioneiro na África Subsaariana. São países classificados pelo Banco Mundial como de baixos rendimentos (Ruanda) ou de médios

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NAÇÃO | IA
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Moçambique

GOVERNAÇÃO

TECNOLOGIA

DADOS E INFRA-ESTRUTURA

TOTAL

Disponibilidade dos dados

Representatividade dos dados

Visão estratégica

Infra-estrutura

África do Sul

GOVERNAÇÃO

TECNOLOGIA

DADOS E INFRA-ESTRUTURA

TOTAL

Capital humano

Capacidade de inovar

Maturidade do sector

Governança e ética

Capacidade digital

Versatilidade

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172.º 77.º

rendimentos (Senegal e Benim), contrariando a tendência observada noutras regiões, onde economias mais desenvolvidas ou maiores normalmente lideram a criação de estratégias nacionais de IA.

A colaboração regional e internacional também se mostrou um desafio superado, a pouco e pouco, com destaque para o fórum SARFAI da UNESCO, na Namíbia, e a colaboração da Costa do Marfim, Namíbia e Ruanda com a mesma agência da ONU para implementar uma recomendação sobre a ética. Paralelamente, a cooperação internacional foi essencial no desenvolvimento de estratégias e guias práticos específicos, como o Guia de IA no Quénia.

Perspectivas animadoras

Embora o futuro pareça promissor para a adopção de estratégias de IA na

A continuidade da cooperação internacional e o fortalecimento das políticas de protecção de dados e transformação digital são essenciais para a preparação governamental para a IA

África Subsaariana, tudo depende do desenvolvimento de base. Há uma expectativa de que os países continuem a dedicar-se cada vez à redacção de estratégias nacionais. E um trabalho altamente antecipado é a publicação e aprovação da Estratégia Continental de Inteligência Artificial da União Africana. Esta estratégia continental pode oferecer orientação valiosa e um modelo para outros países, economizando tempo e recursos preciosos no desenvolvimento e implementação de estratégias.

A continuidade da cooperação internacional e o fortalecimento das políticas de protecção de dados e transformação digital são essenciais para a preparação governamental para a IA, segundo a Oxford Insights. Iniciativas como a Transformação Digital com África, dos EUA, ou o programa IA for Development do Reino Unido e os Centros de Transformação Digital da GIZ (cooperação alemã) são exemplos de como a cooperação pode impulsionar ainda mais os avanços no continente.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 38 NAÇÃO | IA

Certificação AntiCorrupção ISO 37001: Bolha de ar da Ética em Sociedades Corruptas?

AISO 37001, publicada em 2016, é a primeira norma internacional emitida pela Organização Internacional de Normalização (ISO) para a gestão anti-suborno. Os antecedentes e o contexto remontam a vários desenvolvimentos significativos, como:

- Convenção sobre o Combate ao Suborno de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transacções Comerciais Internacionais da OCDE (1997): este acordo internacional foi um grande passo no sentido de normas globais anti-suborno, focando especificamente em subornos transnacionais.

- UK Bribery Act (2010) e US Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) (1977): leis pioneiras em estabelecer directrizes rigorosas para empresas em relação à prevenção de subornos e corrupção.

A ISO 37001 é, então, uma norma que especifica requisitos para a definição, implementação, manutenção, revisão e melhoria dos sistemas de gestão anti-suborno, concebida para todos os tipos de organizações, independentemente do seu tamanho, natureza, actividade, sector de actividade e abrange os sectores público, privado e sem fins lucrativos.

- Suborno pelos colaboradores, parceiros comerciais e de negócios; Ela aborda, entre outros:

cursos públicos (que afectam a sua canalização para áreas fundamentais da economia e sociedade), situações de ausência de transparência, implementação de padrões sólidos de ética nas empresas e negócios e, evidentemente, a desigualdade social e económica. Estes aspectos acabam por condicionar, sobremaneira, o caminho do País para o desenvolvimento.

Acresce que, na avaliação efectuada pelo Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), e atendendo à extensão dos desafios ainda colocados, Moçambique foi colocado na lista cinzenta, o que implicou a tomada de medidas correctivas. Finalmente, ainda uma chamada de atenção para a classificação no recentemente publicado Índice da Percepção de Corrupção pela ONG Transparency International, com 25 pontos de um total de 100 pontos possível e no 145.º lugar de um total de 180 países avaliados. O Índice de Percepção da Corrupção (IPC), que é uma medida global da corrupção percebida no sector público de diferentes países, é publicado anualmente, classificando os países numa escala de 0 (altamente corrupto) a 100 (muito limpo).

Quais são os desafios que podem advir da implementação de uma norma como a ISO 37001?

Moçambique, como tantos outros países, enfrenta desafios éticos em diferentes esferas da sociedade, que vão desde a política e governança, até à economia e aos negócios

- Suborno directo e indirecto (ou seja, um suborno oferecido ou aceite através de ou por terceiros).

Situação da ética em Moçambique Moçambique, como tantos outros países, enfrenta desafios éticos em diferentes esferas da sociedade, que vão desde a política e governança, até à economia e aos negócios. Estes desafios são transversais e múltiplos, tocando em aspectos que vão desde corrupção e suborno, fraude e gestão indevida de re-

A implementação da ISO 37001 pode trazer vários desafios para as organizações, sendo alguns:

- Consciência e Compromisso da Liderança: para que a ISO 37001 seja efectiva, é necessário o compromisso e apoio da alta administração das sociedades, aquilo a que em inglês se designa “Tone at the top”.

- Custos de Implementação: a implementação pode ser cara em termos de tempo e recursos financeiros, incluindo o custo da formação de colaboradores e a contratação de consultores ou auditores externos.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 40 OPINIÃO

Enquanto a corrupção prevalecer, haverá uma tendência de aumento de certificações anti-suborno

- Mudança Cultural: a implementação do sistema de gestão anti-suborno pode exigir uma mudança cultural significativa, especialmente em organizações onde a corrupção pode ser vista como uma prática normal.

- Gestão de terceiros: gerir a conformidade de parceiros de negócios, fornecedores e outros terceiros pode constituir um grande desafio. A norma requer diligências na gestão de terceiros para garantir que eles não se envolvam em suborno em nome da organização.

Mas se pensamos em desafios, pensemos também em oportunidades, nomeadamente:

- Reputação Aprimorada: implementar a ISO pode melhorar a reputação de uma empresa, demonstrando a sua dedicação ao combate à corrupção, trazendo uma vantagem competitiva e até mesmo abrir novas oportunidades de negócios.

- Protecção contra Suborno e Corrupção: a ISO 37001 ajuda as empresas a es-

tabelecerem sistemas para prevenir, detectar e responder a subornos.

- Melhor Relacionamento com Stakeholders: demonstrando o compromisso com a ética e a integridade, a empresa pode estabelecer relações mais fortes e mais confiáveis com stakeholders, incluindo clientes, parceiros de negócios e autoridades regulatórias.

- Sustentabilidade de Longo Prazo: abster-se de práticas corruptas e operar de uma maneira ética e transparente contribui para a sustentabilidade de longo prazo dos negócios.

Que futuro para as certificações anti-suborno e relacionadas?

Como a corrupção continua a ser um problema, existe uma clara tendência do aumento das certificações anti-suborno como a ISO 37001, com:

- Adopção Mais Ampla: reguladores, governos e público exigem, cada vez mais, transparência e integridade das corporações. Dado o aumento na consciencialização e na compreensão do impacto do suborno e da corrupção.

- Pré-requisito para Negócios: em alguns sectores ou regiões, a certificação ISO 37001 pode tornar-se um pré-requisito para fazer negócios.

- Novas Tecnologias: a certificação pode evoluir para incorporar novas tecnologias e metodologias. Por exemplo, a IA, a aprendizagem de máquina e a blockchain têm o potencial de melhorar a detecção e a prevenção de subornos.

- Leis Mais Rígidas: à medida que mais países adoptam leis de combate à corrupção mais rígidas, ter uma certificação anti-suborno pode tornar-se ainda mais valioso para as organizações, tanto para demonstrar conformidade quanto para se proteger contra possíveis acções legais.

Em suma, existe um futuro promissor para as certificações anti-suborno dado o seu papel enquanto ferramenta no combate à corrupção. Ainda assim, elas devem ser usadas como parte de um programa abrangente e contínuo de ética e conformidade.

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RADAR ÁFRICA

Senegal Eleições sem data: E agora Macky Sall?

O Supremo Tribunal do Senegal virou as costas à tentativa do Presidente Macky Sall de adiar as eleições, declarando ilegal a adopção, pelo Parlamento, de uma lei que atrasava a votação e estendia o mandato do chefe de Estado. O que fazer? O Senegal está numa encruzilhada. Sall desencadeou uma crise política na na-

ção da África Ocidental, que está à beira de se tornar um grande produtor de gás, ao cancelar as eleições previstas para 25 de Fevereiro. Líderes da oposição condenaram a acção como um “golpe constitucional” e contestaram o atraso nos tribunais, enquanto manifestantes protestam nas ruas.

Burquina-Faso Rússia reforça presença no Sahel

A Rússia reforçou a sua influência na turbulenta região do Sahel, na África Ocidental, com a chegada de cerca de 100 militares ao Burquina Faso, marcando a primeira grande implantação na nação. As tropas, primeiro grupo de uma força que pode ser três vezes maior, devem dar seguran-

ça a Ibrahim Traoré, chefe do recente regime militar do país, e “ao povo burquinabê”, anunciou o Russian Africa Corps. Primeiro, com os mercenários do Grupo Wagner, agora com este “Corpo Africano”, a Rússia vai expandindo influência em países como Mali e República Centro-Africana.

Níger EUA equacionam saída

O futuro de uma base militar americana de drones no Níger depende dos esforços da junta governante para restaurar a democracia e libertar o Presidente deposto, Mohamed Bazoum, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Após o golpe militar de Julho, os EUA cortaram a ajuda ao desenvolvimento e suspenderam as operações militares na base aérea do país, um activo militar estratégico na África Subsaariana. Separadamente, os militares governantes suspenderam a concessão de novas licenças de mineração de urânio, primeiro passo de uma auditoria para aumentar a receita governamental.

Nigéria

Multinacionais vão-se embora: dores de cabeça não compensam

O Presidente Bola Tinubu iniciou reformas na economia da Nigéria a um ritmo acelerado, mas já foi tarde demais para algumas multinacionais que sofreram prejuízos em mais de uma década de caos económico. Procter & Gamble, GSK, Sanofi e Bayer - entre as maiores empresas de consumo do mundo - estão a deixar o país e a transferir a operação na nação mais populosa de África para empresas com o direito de importar os seus produtos. Dificuldades em repatriar fundos, já depois de um forte corte nas margens devido ao caos cambial, são alguns dos problemas, além de um dia-adia imprevisível em que toda a logística (da electricidade aos transportes) é precária. Pode ser um mercado promissor, mas, para já, as multinacionais dão uma mensagem clara: não compensa as dores de cabeça.

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Etiópia

Atrair criptomoedas com energia ‘verde’ e barata

A Etiópia pode apresentar-se como um lar perfeito para a ‘mineração’ de Bitcoin. O fornecimento de energia disparou após a entrada em operação da barragem hidroeléctrica da Renascença, no Nilo, e espera-se que duplique quando estiver em plena capacidade. Mais importante, a electricidade é a mais barata do mundo e é gerada quase

Quénia

Negócios eólicos avançam

A multinacional eólica Vestas Wind Systems concluiu a venda da participação de 12,5% que detinha na Lake Turkana Wind Power, o maior parque eólico de África, para um fundo gerido pela financeira BlackRock. A Vestas não divulgou o valor do negócio, anunciado inicialmente em Março do ano passado, mas continuará a prestar serviços de manutenção aos aerogeradores do projecto queniano. A venda segue a estratégia da empresa de desenvolver parques eólicos para produção de electricidade, mas sem ser proprietária a longo prazo.

África do Sul

inteiramente por uma fonte renovável, ponto crucial para uma actividade (criptomoedas) ávida por energia e sob ataque por contribuir para o aquecimento global. Empresas chinesas, expulsas pelo Governo há três anos, encontraram ali um bom destino. Mas é também um teste à paciência de metade da população sem acesso à electricidade.

Zimbabué Oposição sem líder

O maior partido da oposição do Zimbábue ficou sem líder, após a renúncia de Nelson Chamisa do cargo de chefe da Citizens Coalition for Change (Coligação dos Cidadãos pela Mudança), força fundada há dois anos. A decisão segue-se a disputas internas aguerridas. A decisão favorece o ZANU-PF, que governa o país desde a independência do Reino Unido em 1980.

Sondagens pré-eleitorais: ANC perde influência

O partido Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde 1994 na África do Sul, continua em declínio, com uma nova sondagem a prever 39% dos votos nas eleições gerais deste ano. A crise generalizada, que inclui cortes programados de energia, tem causado desilusão generalizada. A sondagem da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, a pedido da formação política recentemente criada Change Starts Now, inquiriu 9000 pessoas, entrevistadas pessoalmente entre Novembro e Dezembro do ano passado. Em 2009, o ANC obteve 65,90% da votação a nível nacional, sendo que em 2014 alcançou 62,15%, baixando para 57,50% nas eleições gerais de

2019, segundo dados da comissão eleitoral. A Aliança Democrática (DA, na sigla em inglês), principal partido da oposição desde o início da democracia no país, e o partido dos Combatentes pela Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês), de esquerda radical, fundado em 2013, obteriam 19% e 16% dos votos, respectivamente, segundo a recente sondagem. Na província do KwaZulu-Natal, que é vizinha de Moçambique, o domínio do ANC caiu para 28% devido à ascensão do Partido da Liberdade Inkatha (IFP), de base tradicional Zulu, e ao recente surgimento do novo partido uMkhonto Wesizwe, do ainda membro do ANC e antigo chefe de Estado sul-africano Jacob Zuma.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 43

“Chegou a Hora de os Economistas Servirem a Sociedade”

Quando se fala de grandes decisões, investimentos, reformas ou fenómenos económicos que mudam as sociedades, a microeconomia geralmente passa despercebida. Mas é do comportamento individual que se faz um mercado e a macroeconomia. Esta foi a aposta que valeu o Prémio Nobel da Economia a Angus Deaton. O que dizia?

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

Poucos temas são tão universais como “dinheiro” e “felicidade”. O britânico Angus Deaton, professor emérito na Universidade de Princeton, ganhou o Prémio Nobel de Economia em 2015 pela sua pesquisa sobre consumo, pobreza e bem-estar. Mas diz que o seu trabalho só mexeu com a imaginação do público quando escreveu sobre felicidade. As conclusões de Deaton podem ser surpreendentes para quem pensa que a felicidade não se compra.

Sobre o significado da felicidade, filósofos discordam há milhares de anos, o que torna o conceito difícil de medir. Mas Deaton focou-se em duas perguntas: a questão de curto prazo sobre felicidade quotidiana e a indagação, mais ampla, sobre o rumo geral da vida. Ou seja, poder-se-ia perguntar, por exemplo: “aqui temos uma escada em que o degrau zero é a pior situação possível na vida e o degrau dez é a melhor”. Em que degrau se colocaria? A resposta é óbvia!

Dinheiro pode comprar felicidade

O professor Deaton revelou que se se perguntar a alguém sobre o seu grau de satisfação, a resposta terá relação directa com o rendimento. Deste modo, segundo o economista, um bilionário irá declarar maior satisfação com a vida do que alguém menos rico. “É uma escala logarítmica, em que a pessoa precisa de cada vez mais dinheiro para subir outro degrau. E a escada não tem fim”, diz Deaton. “Isso é verdade não só para indivíduos, mas entre países”, acrescentou. Para o economista, dinheiro pode comprar felicidade, pelo menos no sentido de satisfação na vida.

O que ocorre ao perguntar a alguém se teve um bom dia? Ou um dia de pressão (stress)? Angus Deaton acredita que o di-

nheiro também afecta a felicidade nesse quesito, sobretudo para quem tenha um rendimento anual inferior a 75 mil dólares (cerca de 4,8 milhões de meticais). O economista afirma que quem ganha menos tende a preocupar-se muito com dinheiro, tornando-se menos feliz. “Quando aquele medo permanente vai embora, faz uma enorme diferença e a falta de dinheiro pode afectar negativamente a disposição das pessoas no dia-a-dia”. Ganhos adicionais acima daquele “limite da felicidade” não fazem tanta diferença. Em suma, a resposta à pergunta “o dinheiro compra a felicidade?” depende de quanto dinheiro está em jogo.

Que benefícios para a ciência e para os mercados?

Em 2015, quando atribuiu o Nobel a Angus Deaton, a Real Academia Sueca de Ciências destacou que “para desenvolver uma política económica que promova o bem-estar e reduza a pobreza, devemos, primeiro, compreender as escolhas individuais de consumo. Mais do que ninguém, Deaton tem aprimorado esse entendimento”. A academia sublinhou ainda que, “ao enfatizar os vínculos entre decisões individuais de consumo e os resultados para toda a economia, o seu trabalho tem ajudado a transformar microeconomias, macroeconomias e economias em desenvolvimento”.

Atento aos fenómenos que dizem respeito às desigualdades sociais, o premiado tem lançado críticas à forma como economistas e decisores traçam o caminho de combate à pobreza e construção de sociedades mais equitativas. Uma destas críticas foi publicada no jornal britânico de The Guardian, a 7 de Outubro 2023, citando um dos seus livros (Economics in America: An Immigrant Econo-

BANGUS DEATON

Nasceu a 19 de Outubro de 1945 em Edimburgo, Escócia. É um microeconomista naturalizado americano. Educado na Faculdade de Fettes, em Edimburgo, Deaton doutorou-se na Universidade de Cambridge, em 1975, com uma tese intitulada “Modelos de procura dos consumidores e a sua aplicação no Reino Unido”. Foi bolsista no Fitzwilliam College e trabalhou no Departamento de Economia Aplicada. Deaton foi professor de Economia na Universidade de Bristol antes de se mudar, em 1983, para a Universidade de Princeton. Trabalha como professor na cátedra “Dwight D. Eisenhower” de Relações Internacionais e é professor de Economia e Assuntos Internacionais na Escola Woodrow Wilson e no Departamento de Economia de Princeton. Em 2015, foi distinguido com o Prémio Nobel de Economia pela sua “análise do consumo, pobreza e bem-estar”.

mist Explores the Land of Inequality). Fazendo menção a si mesmo, o economista revelou que, quando chegou aos Estados Unidos, apercebeu-se da existência de “uma crença muito forte de que a desigualdade não é uma área de estudo adequada para os economistas”, e que, “mesmo que alguém se preocupasse com a desigualdade, seria melhor se ficasse quieto e convivesse com isso.”

Capitalismo predatório nos EUA Deaton perseverou, construindo uma reputação de opositor, ao examinar minuciosamente a ortodoxia prevalecente de que um mercado livre, irrestrito, proporcionaria maior igualdade económica e liberdade individual, e que a intervenção e regulamentação governamental minariam ambas. O resultado, de acordo

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 44 SHAPERS | ANGUS DEATON

O trabalho do economista Angus Deaton ajudou a transformar micro e macroeconomias em desenvolvimento

com Deaton, é um tipo predatório de capitalismo nos EUA que enriquece as empresas e os mais ricos à custa dos trabalhadores, aprofundando as desigualdades (de riqueza e de oportunidades).

“Se alguém precisa de uma ambulância, não está na melhor posição para encontrar o melhor serviço ou para negociar preços. Em vez disso, está indefeso e é a vítima perfeita de um predador”, cri-

tica o economista. Os resultados são claros: os salários reais estagnaram desde 1980, enquanto a produtividade mais do que duplicou. Os 10% mais ricos dos EUA possuem agora 76% da riqueza. Os 50% mais pobres possuem apenas 1%.

Por isso, o Nobel argumenta que chegou a hora de os economistas voltarem a servir a sociedade. “A disciplina desvinculou-se da sua base adequada, que é o estudo do bem-estar humano”, escreveu, assinalando a lista de prémios Nobel de Economia conquistados pelas mentes mais conceituadas da escola de Chicago, incluindo Milton Friedman e George Stigler. Angus Deaton não duvida do que chama de contribuições intelectuais. “No entanto, é difícil imaginar um conjunto de trabalhos mais antitético à preocupação com a desigualdade”, constatou.

Noutra ocasião, Angus Deaton argumentou, em mea culpa, que o foco dos economistas nos mercados, na eficiência e o apego às teorias tiveram consequências de vida ou morte para milhões. Tratava-se de mais um ataque à sua profissão e a algumas das suas figuras mais célebres.

A principal reclamação de Deaton neste contexto é que a profissão de economista ficou intoxicada com mercados e dinheiro, perdendo de vista a sua missão principal, tal como estabelecida nos seus primeiros dias por Adam Smith, John Locke e outros que chegaram à economia através da Filosofia e de outros campos, em vez do comércio. “A disciplina desvinculou-se da sua base adequada, que é o estudo do bem-estar humano”, escreve Deaton no seu livro.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 45

Vem este artigo a propósito de um projecto de consultoria que liderei1, com o objectivo de antecipar as qualificações profissionais e competências do, e com futuro, em Cabo Verde, até 2030. E o mesmo dá continuidade ao artigo que aqui escrevemos, com igual título (parte I).

Que dilemas e como condicionam eles as nossas escolhas estratégicas, enquanto líderes de empresas, de organizações e de nós mesmos?

Analisaremos, nesta edição, mais dois Dilemas Estratégicos (DE) e, para cada um deles, veremos:

- Em que consistem;

- Ferramentas de apoio à decisão;

- Recomendações práticas;

- Exemplos práticos, de e para África;

- Bibliografia de referência;

- Conclusão.

Fruto da extensa investigação realizada para o projecto acima referido, uma larga colecção de DE foi organizada. Prometo, aos meus leitores, aqui continuar a partilhar em próximas edições.

O Dilema da Complexidade;

O Dilema do Capital;

O Dilema do Crescimento;

O Dilema da Mensurabilidade;

O Dilema do Consumidor;

O Dilema da Ignorância;

O Dilema da Concorrência;

O Dilema da Oportunidade

O Dilema de Planear sem Bússola;

O Dilema de Subestimar o Futuro;

O Dilema da Informação;

O Dilema da Diversificação vs. Especi alização;

O Dilema da Aceleração;

O Dilema da Globalização vs. Localização;

O Dilema da Inovação;

O Dilema da Transformação Digital;

O Dilema da Eficiência;

O Dilema da Liderança Adaptativa.

Dilemas Estratégicos na Gestão: Escolhas, Riscos e Incertezas (II)

A. Análise Específica de Dilemas Estratégicos

1. O Dilema do Consumidor vs. Eficiência Operacional

a. Em que consiste?

O Dilema do Consumidor destaca a importância de entender profundamente os consumidores, para além das suposições baseadas em dados e tendências. As empresas e organizações devem equilibrar a eficiência operacional com um compromisso genuíno de compreender e atender às necessidades dos consumidores.

b. Elementos do Dilema

A detecção deste DE passa por reconhecer os seguintes sinais:

Empresas tendem a focar em racionalização e eficiência, negligenciando a necessidade de actividades de conhecimento dos seus clientes

Percepção vs. Realidade: existe uma discrepância entre o que os especialistas em Marketing acreditam que os consumidores querem e o que realmente desejam.

Eficiência vs. Compreensão do Consumidor: a busca por eficiência, muitas vezes, supera o esforço para entender verdadeiramente as necessidades do consumidor.

Automatização do Atendimento ao Cliente: a tendência de automatizar o atendimento ao cliente pode levar à perda de contacto pessoal e compreensão do consumidor.

c. Ferramentas de apoio à resolução deste dilema

As seguintes ferramentas são recomendadas:

Testes de Mercado: experimentar novos produtos em mercados seleccionados para obter feedback directo dos consumidores;

Segmentação Flexível: adaptar a segmentação de mercado para reflectir a diversidade e a mudança nas preferências dos consumidores;

Engajamento Directo com o Consumidor: promover a interacção directa com os consumidores para entender as suas necessidades e desejos reais.

d. Recomendações práticas para lidar com este Dilema

Para a resolução deste DE, as seguintes melhores práticas são recomendadas:

Equilíbrio é Chave: equilibre a eficiência operacional com um entendimento profundo das necessidades do consumidor;

Comunicação Transparente: mantenha um diálogo aberto e contínuo com os consumidores para entender suas expectativas e feedback;

Foco no Longo Prazo: construa relacionamentos duradouros com os consumidores, em vez de buscar apenas vendas imediatas.

e. Exemplos práticos em África

Sector do Retalho de Moda na África do Sul

Desafio: adaptar-se às mudanças nas preferências dos consumidores, que estão cada vez mais inclinados para a moda sustentável e ética.

Solução: uma grande cadeia de retalho de moda sul-africana implementou uma linha de produtos sustentáveis, utilizando materiais reciclados e processos de produção éticos.

Resultado: a empresa não só atraiu um novo segmento de consumidores conscientes ambientalmente, mas também fortaleceu a sua marca como líder em moda sustentável na região.

Sector de Alimentação e Bebidas no Quénia

Desafio: atender à crescente procura por produtos alimentares locais e orgânicos face à competição de importações baratas.

Solução: uma startup queniana de alimentos e bebidas focou-se na produção de ingredientes locais e na promoção de produtos orgânicos e saudáveis.

Resultado: a empresa conseguiu criar um nicho de mercado, atraindo consumi-

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 46 OPINIÃO

As empresas investem cada vez mais na segurança para tornar o seu sucesso previsível

dores preocupados com a saúde e o bem-estar, e estabeleceu uma forte presença no mercado local.

f. Bibliografia

“Using Trends and Scenarios as Tools for Strategy Development - Shaping the Future of Your Enterprise”.

Autor: Ulf Pillkahn.

ISBN: 978-3-89578-294-1

Resumo: este livro fornece um guia prático para utilizar tendências e cenários na formulação de estratégias empresariais, ajudando líderes a moldar proactivamente o futuro de suas organizações.

“The Paradox of Choice: Why More Is Less”.

Autor: Barry Schwartz.

ISBN: 978-0060005696

Resumo: Schwartz explora como o excesso de escolhas disponíveis na sociedade moderna pode levar à paralisia da decisão e à insatisfação, sugerindo caminhos para uma tomada de decisão mais satisfatória.

2. O Dilema de Subestimar o Futuro a. Em que consiste?

O dilema de subestimar o futuro destaca a importância de olhar além do presente e preparar-se para mudanças imprevisíveis. A falta de foco no futuro pode levar as empresas a perderem oportunidades cruciais e enfrentarem desafios inesperados.

b. Elementos do Dilema

A detecção deste DE passa por reconhecer os seguintes sinais:

Busca por Segurança: empresas anseiam por segurança e previsibilidade, desejando que os investimentos sejam rentáveis e o sucesso empresarial seja previsível.

Pressão do Presente: CEO e gestores seniores sentem-se, frequentemente, pre-

sos às demandas imediatas, sem tempo para pensar no futuro devido à pressão por desempenho de curto prazo.

Preferência por Eficiência Imediata: há empresas que tendem a focar-se em racionalização e eficiência, negligenciando a necessidade de actividades de conhecimento dos seus clientes.

c. Ferramentas de apoio à resolução deste Dilema

As seguintes ferramentas são recomendadas:

Análise de Cenários: explorar diferentes cenários futuros para antecipar mudanças e tendências;

Inovação Aberta: colaborar com parceiros externos para obter novas ideias e perspectivas;

Aprendizagem Contínua: promover a educação e a formação contínua para adaptar-se às mudanças do mercado.

d. Recomendações práticas para lidar com este Dilema

Para a resolução deste DE, as seguintes melhores práticas são recomendadas:

Fomentar a cultura de Inovação: encorajar a experimentação e a aceitação do risco;

Monitorar Tendências e Tecnologias Emergentes: manter-se actualizado sobre desenvolvimentos relevantes;

Desenvolver Parcerias Estratégicas: colaborar com outras organizações para compartilhar conhecimentos e recursos.

e. Exemplos de, e para África

Alguns exemplos ajudam a ilustrar como este DE foi solucionado em países africanos:

Sector Agrícola no Quénia: desafio: lidar com as mudanças climáticas e a sustentabilidade;

Solução: implementação de práticas agrícolas sustentáveis e tecnologias de previsão climática;

Resultado: melhoria na resiliência e produtividade agrícola.

Sector do Turismo na África do Sul

Desafio: flutuações no turismo devido a factores externos.;

Solução: diversificação das ofertas turísticas e promoção do turismo doméstico;

Resultado: redução da dependência do turismo internacional e aumento da estabilidade do sector.

f. Bibliografia

Thinking About the Future: Guidelines for Strategic Foresight, Andy Hines e Peter Bishop

ISBN: 978-0978931700

Resumo: este livro fornece ferramentas e técnicas para incorporar o pensamento de longo prazo e a previsão estratégica nos negócios.

Flash Foresight: How to See the Invisible and Do the Impossible, Daniel Burrus

ISBN: 978-0061922299

Resumo: Burrus explora como antecipar mudanças futuras podem levar a oportunidades de negócios inovadoras e transformadoras.

D- Conclusões

Neste artigo, continuámos a sublinhar a intrincada teia de escolhas, riscos e incertezas que os líderes enfrentam no panorama empresarial contemporâneo.

A viagem através dos dilemas do consumidor e de subestimar o futuro revelou não apenas a complexidade inerente à tomada de decisões estratégicas, mas também a riqueza de oportunidades para inovação e crescimento sustentável.

Através da análise meticulosa e da partilha de exemplos concretos, especialmente focados no contexto africano, procurámos desvendar as camadas de cada dilema, oferecendo perspectivas e ferramentas que possam servir de farol no processo de navegação destes desafios.

Encorajo-vos, caros leitores, a reflectir sobre estes dilemas no contexto das vossas próprias organizações.

Como podem as lições aprendidas e as estratégias discutidas serem aplicadas para superar os desafios específicos que enfrentais? Como líderes, qual será o vosso próximo passo, na jornada, para antecipar e moldar o futuro, não só para as vossas empresas, mas também para as comunidades e sociedades em que operais?

1 Para o Governo de Cabo Verde, com o apoio financeiro da LUXDEV - Agência de Desenvolvimento Luxemburguesa.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 47

Instabilidade Política e Endividamento Público São os

Maiores

Riscos Para

a Economia Nacional

O alerta consta de um estudo do Banco BiG junto dos principais investidores institucionais do País. No que refere aos negócios, 85% dos gestores estão optimistas quanto ao crescimento e apenas 15% estimam um abrandamento, ou até uma estagnação. Nas recomendações de investimento, 69% dos inquiridos pretendem aumentar a sua exposição em bilhetes do tesouro. E, em sentido contrário, 62% tenciona reduzir o peso das obrigações do tesouro na sua carteira de investimentos

Texto Jaime Fidalgo • Fotografia D.R

OBanco BiG Moçambique publicou a primeira edi-

ção de um estudo de mercado sobre o “Investimento Institucional” em Moçambique, que visa antecipar a evolução dos principais indicadores macroeconómicos do país para os próximos dois anos. O inquérito foi baseado em entrevistas a um painel diversificado de investidores institucionais (CEO, CFO e gestores de activos) provenientes de empresas de seguros, sociedades gestoras de fundos de pensões, sociedades gestoras de fundos ou activos financeiros e institutos de previdência social.

A maioria dos inquiridos acredita que o PIB irá crescer entre 5% e 7,5%, em linha com as previsões do Governo e dos analistas internacionais. Em relação aos principais riscos para a economia em 2024, a sondagem destaca a instabilidade política (com 90% de respostas), o elevado endividamento público (80%) e a vulnerabilidade aos desastres naturais (75%). Outros fatores externos como as guerras (30%) ou a ocorrência de

uma nova pandemia (20%) foram considerados riscos de menor relevância. Ao nível de oportunidades, o estudo sublinha o impacto positivo que a anunciada retoma de actividades da TotalEnergies poderá gerar na economia. Menos de um terço dos inquiridos (31%) estima que esse efeito irá ocorrer já no primeiro semestre de 2024; 46% no segundo semestre e 15% só em 2025.

No que refere aos negócios, 85% dos gestores estão optimistas quanto ao crescimento das suas empresas em 2024, ao passo que os restantes 15% estimam um abrandamento, ou até uma estagnação. Paralelamente, 69% preveem um aumento da concorrência no seu sector, sendo o segmento mais representativo o dos seguros. Nos investimentos, a maioria (69%) revela que utiliza a taxa dos bilhetes de tesouro (BTs) como benchmark e que o principal critério para selecionar investimentos é a rentabilidade (90%), seguido da consistência dos rendimentos (80%), o nível de risco (76%), a liquidez (60%) e os critérios ESG (50%).

Num ano de eleições, grande parte dos gestores de empresas antevê a eclosão de uma instabilidade política capaz de impactar negativamente no desempenho da economia

Conheça, seguidamente, as previsões detalhadas para os indicadores-chave da economia, para a política monetária e para as estratégias de investimento.

Economia

PIB cresce, inflação cai, metical estabiliza. Os analistas do BiG recordam que o PIB expandiu 5,92% no terceiro trimestre de 2023, comparativamente ao período homólogo de 2022. O sector do gás e a recuperação da indústria transformadora foram os que mais contribuíram para o crescimento, a somar à expectativa de instalação de mais uma plataforma flutuante no projeto Coral Sul FLNG e à anunciada retoma da TotalEnergies ao projecto de gás da Área 1 na Bacia do Rovuma.

Produto Interno Bruto (PIB)

Para 2024, 54% dos inquiridos estimam que o PIB irá crescer entre 5% e 7,5% (uma percentagem em linha com a estimativa de 5,5% do Governo e de 5% de instâncias internacionais como o FMI), enquanto 38% estimam um crescimento entre 2,5% e 5,0%. Para 2025, 69% estimam que a economia irá crescer entre 5% e 7,5%.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 48 M&F | PERSPECTIVAS 2024

Inflação

A taxa desceu de forma ao longo de 2023, culminando, em Dezembro, com uma inflação homóloga de 5,3%, enquanto a média dos últimos 12 meses se situou em 7,13%. Para 2024, 69% dos inquiridos estimam que a inflação se situará no intervalo de 5% a 7,5%, em linha com a previsão do FMI de 6,5% e com a meta de 7% definida no Plano Económico Social e Orçamento do Estado (PESOE-2024).

Mercado cambial

O metical registou, em 2023, uma apreciação cumulativa face ao rand de 8,75%, uma depreciação face ao euro de 4,17% e ao dólar de apenas 0,05%. O ano terminou com o dólar a valer 63,9 meticais. Para o primeiro semestre de 2024, 69% dos inquiridos estimam que o câmbio face ao dólar se mantenha entre os 62,5 e os 65. Para o segundo semestre, as opiniões divergem: 38% mantêm a previsão; 31% prevêem uma apreciação para 60 a 62,5 e 31% estimam uma desvalorização para 65 a 67,5 meticais por dólar.

Reservas Internacionais Líquidas (RIL)

Após atingir o valor mínimo de 2,5 mil milhões de dólares (equivalente a

Maioria dos gestores prevêem crescimento do PIB e da inflação

Para 2024, 54% dos inquiridos estimam que o PIB e a inflação irão crescer entre 5% e 7,5%, em linha com as metas do Governo

Estimativa de crecimento do PIB

Estimativa da inflação homóloga

Gestores acreditam que os negócios vão crescer, mas identificam riscos

85% estão optimistas quanto ao crescimento em 2024. A instabilidade política foi considerada a principal ameaça

Estimativas de evolução das actividades das empresas em 2024

Principais riscos para economia moçambicana por ordem de importância

Onde investir em 2024: investidores preferem bilhetes do tesouro

Para 2024, os inquiridos prevêem reforçar o investimento em bilhetes de tesouro (69%), papel comercial (38%) e imobiliário (38%). 77% irá diminuir a exposição às acções não cotadas, 62% às obrigações de tesouro e 46% às acções cotadas e aos depósitos à ordem

Exposição da carteira de investimentos nos próximos 12 meses por classe de activo

Caixa e Depósito à Ordem

Depósitos a prazo

Bilhetes de Tesouro

Obrigações do Tesouro

Dívida corporativa

Papel comercial

Acções cotadas

Acções não cotadas

Imobiliário

Activos em moeda estrangeira Outros

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 49
Dez. 2023 Dez. 2023 Dez. 2024 Dez. 2025 Jun. 2023 Dez. 2024 54% 46% 31% 46% 54% 69% De 2,5% a 5,0% De 0% a 2,5% De 2,5% a 5,0% Acima de 7,5% De 5,0% a 7,5% De 5,0% a 7,5% 15% 8% 8% 8% 38% 54% 69% 69% 15% 15%
nos investimentos Aumento das taxtas de juro Guerras internacionais Pandemias e epidemias
Instabilidade política Endividamento público Desastres naturais Atrasos
90% 80% 46% 38% 15% 15% 15% 15% 62% 31% 23% 46% 77% 31% 38% 31% 62% 8% 38% 23% 31% 38% 8% 15% 23% 31% 38% 38% 38% 31% 23% 15% 54% 31% 69% 75% 70% 50% 30% 20% Redução 8% Estagnação 8% Crescimento 85% FONTE Banco BIG
Diminuir Manter Aumentar
(% dos inquiridos)
(% de crescimento do PIB) (% de crescimento da inflação)
(% dos inquiridos)

Embora o ambiente seja predominantemente de riscos, prevalece a esperança de que a retoma da TotalEnergies ao projecto Coral Sul possa melhorar as perspectivas de um crescimento robusto em 2024

3,2 meses de importações) em Setembro de 2022, as RIL têm vindo a recuperar fechando o ano com 3,4 mil milhões (4,3 meses de importações). A maioria dos gestores (54%) estima que as RIL no final de 2024 se mantenham (a percentagem desce para 46% em 2025), enquanto 38% antecipam um aumento em 2024 e em 2025.

Exportações

O ano de 2023 foi marcado pelo contraste entre o aumento das exportações de gás natural e o decréscimo nos outros sectores da indústria extractiva. Para os próximos dois anos, a grande maioria dos inquiridos (85%) estima que as exportações deverão crescer em 2024 e 2025, enquanto os restantes (15%) acreditam num cenário de estabilização.

Endividamento público

Apesar do aumento contínuo do stock de dívida pública (66% de origem externa e 34% interna), o rácio da dívida em % do PIB reduziu para 90% graças ao aumento expressivo do PIB para cerca de 19 mil milhões de dólares em 2023. Mais de me-

tade (54%) dos inquiridos estimam um aumento deste rácio em 2024. Já em 2025, 77% creem que se mantenha ou diminua e apenas 23% dizem que irá aumentar.

Política monetária: contexto restritivo está para durar

O estudo refere ainda que, na última reunião de 2023, o Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique, decidiu manter inalteradas a taxa de juro de política monetária (MIMO) em 17,25% e as restantes taxas do Mercado Monetário Interbancário (MMI), assim como os coeficientes de reservas obrigatórias (RO). Acrescenta que o Banco Central tem adoptado uma política monetária restritiva desde 2021 para controlar a inflação em torno de um dígito e 85% dos inquiridos concordam em classificar o actual contexto como restritivo.

Taxas de juro

Para o primeiro trimestre de 2024, 62% dos gestores estimam que a taxa MIMO permanecerá inalterada; 31% antecipa um aumento e apenas 8% uma redução. Para os trimestres seguintes as

opiniões apontam maioritariamente para a descida de taxas.

Reservas obrigatórias (RO)

Para o primeiro semestre, 69% prevê a manutenção do coeficiente de RO em moeda nacional e 31% prevê uma diminuição, uma percentagem que cresce para 46% no segundo semestre. Em moeda estrangeira, apenas 23% prevê uma redução.

Mercado de capitais

A Bolsa de Valores de Moçambique registou um crescimento do volume de transações de 33% em 2023. Os destaques vão para o aumento das emissões de papel comercial (total de nove emissões) e de Obrigações do Tesouro com cupão fixo a dez anos.

Estratégia de investimentos: bilhetes do tesouro em alta

Para os próximos 12 meses, 69% dos inquiridos pretendem aumentar a sua exposição em BTs. Em contrapartida, 62% pretende reduzir a sua exposição em obrigações de tesouro. Porém, a maioria (77%) acredita que ambas irão manter, ou reduzir, as taxas de rentabilidade em 2024.

Onde investir em 2024

Os inquiridos preveem aumentar os seus investimentos em bilhetes do tesouro (69%), papel comercial (38%) e imobiliário (38%). Paralelamente, 77% pretendem diminuir o peso das acções não cotadas, 62% das obrigações de tesouro e 46% das acções cotadas. No que se refere à exposição aos instrumentos de taxa fixa, a média actual entre os inquiridos é de 66,6%, uma percentagem acima da exposição ao risco soberano cuja média é de 51,7%.

Onde aplicar a médio prazo

54% dos inquiridos mostrou preferência em investimentos de rentabilidade mais curta como os bilhetes de tesouro ou o papel comercial, ao passo que 38% aplicaria em alternativas de médio prazo, por exemplo, obrigações e tesouro corporativas. Apenas 8% aplicaria em depósitos a prazo e nenhum escolheu os depósitos à ordem ou as acções.

De referir que a maioria (77%) dos investidores institucionais que responderam ao estudo do banco BiG detinha activos sobre gestão ou carteiras de investimentos superiores a 250 milhões de meticais em 2023 e 54% acima de um milhão, das quais 69% apresentaram rentabilidades médias superiores a 10% em 2023 e 38% acima de 15%.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 50

“Perante os Bons Indicadores Esperamos Que o Banco de Moçambique Adopte Uma Política Expansionista”

Na sua primeira entrevista como presidente da comissão executiva do BCI, Francisco Costa aborda os desafios económicos e financeiros enfrentados por Moçambique em 2023, a importância da internacionalização da economia nacional e as expectativas para a economia e o sector bancário em 2024

Na sua primeira grande entrevista desde que assumiu a presidência da comissão executiva do BCI, Francisco Costa começa por relembrar o contexto “desafiante” que a economia, e o sector financeiro em particular, enfrentaram no ano passado, com a alteração das reservas obrigatórias e com a finalização do processo de transição para rede SIMO, mas olha também para o presente, sem descurar o futuro, do banco, do sistema financeiro e, em jeito de overview, sobre a economia nacional.

Esta entrevista acontece poucos dias após a primeira edição das “Talks Daqui”, uma iniciativa conjunta entre a revista E&M e o BCI, e que na sua primeira edição debateu a relação económica e comercial entre a UE e Moçambique, tendo como foco a internacionalização das empresas moçambicanas. Gostaria de começar por aí, e por lhe pedir um balanço do evento e, mais do que isso, que explicasse como é importante para o BCI este tema da internacionalização da economia moçambicana.

O tema que trouxemos à discussão é particularmente interessante porque a relação entre a União Europeia (UE) e Moçambique tem-se desenvolvido de forma muito significativa. A UE é hoje o primeiro destino das exportações de Moçambique e o segundo maior importador dos produtos moçambicanos, a seguir à África do Sul. Dito isto, todos conseguimos

perceber a importância que este mercado tem e pode vir a ter. Aproveito para recordar que o embaixador da UE em Moçambique, Antonino Maggiore, esteve presente neste evento e fez questão de referir a Estratégia Global Gateway que tem 150 mil milhões de euros para investir em África. Penso que é absolutamente crítico que Moçambique consiga aproveitar este pacote de investimentos.

E a banca, de uma forma geral, acaba por ser o principal canal de ligação de um vasto conjunto de instituições internacionais como a UE, o Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Mundial, como também um parceiro na dinâmica de importação e exportação das empresas nacionais. De que forma?

Sem dúvida! A banca tem produtos de trade finance que permitem às empresas dinamizarem os seus negócios e garantir a segurança necessária ao comércio internacional. Portanto, o recurso à banca nestes processos é absolutamente crítico porque, geralmente, o exportador não conhece o importador e precisa de garantir a segurança das transacções. É assim que o mercado funciona há centenas de anos e, como tal, é bom que continuemos a trabalhar desta forma. O BCI tem esta vantagem, regressando aqui à dinâmica UE-Moçambique: nós temos dois accionistas portugueses - o maior banco português, que é a Caixa Geral de Depósitos, e o BPI, que pertence ao maior grupo financeiro es-

“Será positivo que esta tendência se mantenha e as taxas de juro continuem a baixar porque a banca serve para financiar e dinamizar a economia”

panhol. Há um potencial de oportunidades que o BCI pode oferecer às empresas moçambicanas. Já percebemos que existe apetência por parte da Europa para os produtos moçambicanos, mas é necessário que as empresas consigam ter mercado. Para isso, o País deve continuar a criar capacidade para acrescentar valor às suas exportações.

Esta questão de ser um banco com matriz europeia (Portugal e Espanha) pode, de algum modo, potenciar o ‘apetite’ de empresas dessas geografias pelo mercado moçambicano?

As perspectivas para Moçambique são positivas, como todos já sabemos. A atractividade do País, nomeadamente para empresas portuguesas, espanholas, francesas, etc., vai sempre existir. Eu diria que o facto de termos dois grandes accionistas europeus vai, seguramente, potenciar a capacidade, quer de empresas portuguesas, que já são clientes da Caixa Geral de Depósitos ou do BPI, quer de outras, a investirem e a fazerem negócios em Moçambique e a contribuírem para a internacionalização das empresas moçambicanas. Isto tem de ser feito, procurando, todos nós, apoiar a capacitação das empresas moçambicanas para a exportação de produtos com maior valor acrescentado.

Uma questão que habitualmente se coloca é, por um lado, o facto de a banca moçambicana ser financeiramente robusta (em termos de liquidez em metical) e anunciar, por norma, bons resultados ao nível dos principais bancos e, por outro, os empresários queixarem-se muito das elevadas taxas de juro. Pode comentar?

Consideramos que são os empresários que têm de criar dinâmicas e a

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 52 CEO TALKS | FRANCISCO COSTA

BFrancisco Costa

Natural de Lisboa, Francisco Pinto Machado Costa é licenciado em Gestão de Empresas pelo Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e Pós-Graduado em Gestão Bancária Avançada pela Universidade Católica Portuguesa em parceria com o Instituto de Formação Bancária (IFB).

É, actualmente, presidente da Comissão Executiva do BCI, sendo, igualmente, um dos vice-presidentes do conselho de administração daquela instituição de crédito. Na área da Banca, desempenhou variadas funções noutras empresas do Grupo Caixa Geral de Depósitos.

banca responde a elas, alavancando as ideias e os projectos que os empresários têm e nos apresentam. Por isso, consideramos que deverá haver uma dinâmica empresarial pública e privada que possibilite à banca fazer a sua intervenção. Eu diria que a banca moçambicana está disponível para apoiar a economia e as empresas, porque tem a solidez e a liquidez. E estamos em condições de apoiar também a internacionalização das empresas nacionais para novos mercados. Mas uma vez mais, reitero, é absolutamente crítico que as empresas criem essa mesma dinâmica.

O ano passado foi especialmente desafiador para o Mundo, para o País, a vários níveis, e também para o sistema financeiro. Tivemos o aumento das Reservas Obrigatórias – em moeda nacional de 10,5% para 39,0%, e em moeda estrangeira de 11,5% para 39,5% —, a finalização da migração para a rede SIMO, a introduação dos cartões ‘contactless’, etc. Gostava que falasse sobre

ficientemente sólida e líquida para poder acomodar todas estas iniciativas do regulador.

Como lidaram com todos os desafios que se impuseram à vossa actividade? A gestão passa pela capacidade de nos adaptarmos às alterações do mundo, dos mercados e das circunstâncias e posso dizer que o fizémos com alguma tranquilidade. Com dificuldades, como é evidente, porque impactou de forma significativa, mas com tranquilidade, tendo em conta que o mercado continuou a funcionar. Por outro lado, é preciso relembrar que temos tido uma estabilidade cambial significativa no País, fruto também da política monetária que se tem seguido, o que é muito benéfico a todos os níveis, quer para o nível das importações (não temos inflação importada), quer para a atractividade do investimento externo. Depois, ao nível dos sistemas, tivemos, como disse, a alteração da plataforma de suporte às transacções

“O levantar da cláusula de “força maior” da TotalEnergies, criaria uma dinâmica económica e uma expectativa nos agentes económicos que nos permitiria ver 2024 e 2025 com maior optimismo

os aspectos de mercado que mais afectaram o BCI e como é que fizeram face a todo este cenário que pesou nas operações de todos os bancos no mercado?

Vou fazer um enquadramento para tentar explicar um pouco aquilo que aconteceu: 2023 acabou por ser um reflexo de 2022, um ano de transição, que trouxe um novo paradigma para o mundo. Por exemplo, a guerra Rússia-Ucrânia trouxe um conjunto de novas perspectivas geoestratégicas, geopolíticas, geoeconómicas, com impactos no mundo e, obviamente, em Moçambique. Uma das consequências foi o recrudescimento da inflação, que trouxe um novo paradigma para os bancos centrais de todo o mundo, que estiveram ao longo de 2022 e 2023 muito focados no controlo e combate à inflação e a fazer o possível para garantir níveis de crescimento do PIB. É preciso não esquecer que a inflação atingiu quase 11% em Dezembro de 2022, tornando-se na grande preocupação do Banco de Moçambique que, só com o aumento da Taxa de Reservas Obrigatórias conseguiu controlá-la. Mas é preciso dizer que só aplicou esta medida porque a banca nacional estava su-

de toda a banca. Ao nível das transacções electrónicas, passámos para a nova plataforma da Euronet. A esse nível, basta pensarmos na dimensão do mercado, no histórico de anos em que utilizávamos a plataforma anterior e de repente termos de transferir tudo para uma nova plataforma. Era um projecto absolutamente complexo, dificílimo e, no cômputo geral, sem querer ser politicamente correcto, a transição para a Euronet correu muito bem. É evidente que ainda temos um conjunto de situações por mitigar rumo à estabilização de todo o sistema. Mas é preciso recordar que, neste mesmo processo, englobámos, dentro da rede única nacional, a interoperabilidade com os operadores de moeda electrónica, e, portanto, o nível de transacionalidade da rede é verdadeiramente assustador ao nível da quantidade de operações. Recordo, só para dar o exemplo daquilo que é o BCI, que transferimos 1,4 milhões de cartões para a nova rede e tivemos de o fazer num período temporal relativamente curto. Substituímos mais de 10 mil terminais de pagamento (POS) e 520 caixas automáticas (ATM), portanto, foi todo um processo gigan-

tesco que, reitero, e apesar de problemas pontuais, correu muito bem.

Já o ano de 2024 começou com alguns sinais de que os juros eventualmente irão baixar ao longo dos próximos meses. Se isso transmite um sinal positivo para a economia real, nem sempre é bom para os bancos que vivem, também, dessa rentabilidade. Prevê que esta tendência de descida das taxas de juro se mantenha ao longo do ano?

Antes de mais, deixe-me dizer que, para os bancos, também é positivo que as taxas de juro baixem, porque a banca serve para financiar e dinamizar a economia. Volto a referir a ideia de que as taxas de juro servem à política monetária para controlar a inflação. Portanto, estávamos com a inflação razoavelmente controlada no final de 2023. O Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique já anunciou recentemente mais uma pequena descida das taxas de juro e isso é relevante para o mercado, porque pode influenciar os agentes económicos ao nível das suas expectativas. Todos esperamos que, ao longo de 2024, se verifiquem novas

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 54

descidas das taxas de juro que, obviamente, irão impactar de forma positiva a economia. Estamos todos à espera que, perante estas circunstâncias, seja possível o Banco de Moçambique fazer uma política mais expansionista.

Os bancos, enquanto sector representado pela Associação Moçambicana de Bancos, estão alinhados a este nível?

Há uma lógica comum, até de alinhamento, entre os bancos todos e o regulador. A Associação Moçambicana de Bancos (AMB) existe exactamente para isso: não numa perspectiva de lobby ou cartelização, mas numa perspectiva de discutirmos as dinâmicas e as preocupações que temos relativamente ao sistema e à economia nacional. E é partilhado por todo o sistema que esta redução das taxas de juro vai criar uma dinâmica que é positiva para todos os moçambicanos, para as empresas que estão a trabalhar em Moçambique e que precisam que a economia tenha um novo impulso e aceleração em 2024.

A banca também acaba por ser um propulsor da economia e, ao mesmo tempo, um beneficiário, se de facto es-

tiver a crescer. Como é que vê hoje a economia moçambicana?

Há várias formas de olhar para a economia moçambicana. Existe uma tendência natural de olhar para a ver como muito dependente ou quase só dependente dos projectos de gás natural. Mas eu penso de outra forma e considero importante que todos nós pensemos de outra forma. O País tem um conjunto de potencialidades ao nível dos minerais, da área agrícola e, portanto, é importante que olhemos de uma forma mais holística e que não nos limitemos a olhar para a importância do gás. Ou seja, existem todos os outros sectores de actividade que possibilitarão, num futuro muito próximo, na minha perspectiva, que Moçambique reinicie um processo de crescimento a taxas compatíveis com a sua riqueza natural e com as expectativas que nós todos temos. Estamos a falar de taxas de crescimento que têm de ser, seguramente, acima de 5% e 6%. Nesse sentido, eu diria que num curto espaço de tempo, entre um a dois anos, começaremos a sentir impactos positivos da nova dinâmica económica em Moçambique.

Temos falado muito, ao longo do último ano e meio, da questão da Inteligência Artificial (IA). Lembro-me de o BCI estar muito activo na abertura de balcões pelo País. Em que medida esta explosão tecnológica veio alterar a dinâmica da presença física dos bancos?

Provavelmente, a banca do futuro será uma empresa tecnológica com uma licença bancária. Mas eu diria que, relativamente a Moçambique, ainda temos um grande percurso a fazer, porque é um país com um nível de transacionalidade em cash [notas e moedas físicas] elevadíssimo. Tendo em conta estas características, a existência de agências ou a capilaridade das redes bancárias, ainda é um aspecto relevante para o negócio bancário e, obviamente, para a bancarização e para o sistema funcionar. Estamos muito alinhados, mas também atentos às novas tecnologias. Estamos também já à procura de adaptar a IA e outro tipo de tecnologias de ponta. Mas não podemos descurar a lógica da presença física nos vários distritos do país, tendo em conta que ainda há uma necessidade muito grande de transacção física.

Já a terminar a nossa conversa, gostaria de ouvir de si o que gostaria que fosse o balanço do seu mandato.

Antes do mais, vim para uma casa com uma dinâmica extraordinária e o BCI é, de facto, o banco, o líder do mercado num conjunto de itens e de matérias. O banco tem tido uma postura favorável em relação àquilo que é, no nosso entender, o propósito da existência da banca: apoiarmos a economia, os moçambicanos e o desenvolvimento. Ao nível do mandato, eu diria que não estou satisfeito. Um gestor nunca está satisfeito com os resultados que obtém, nem com aquilo que entrega, mas estou satisfeito com o valor agregado do que fazemos pela sociedade moçambicana. Temos procurado agregar valor à sociedade, quer ao nível dos consumos e dos financiamentos que fazemos. Diria que os meus colegas, os meus colaboradores e o banco como um todo está de parabéns pelo trabalho dos últimos anos.

O que gostaria muito que acontecesse em 2024?

O levantar da cláusula de “força maior” da TotalEnergies, não pondo aí todas as fichas, mas, acima de tudo, porque tenho a certeza de que isso criaria uma dinâmica económica e uma expectativa nos agentes económicos que nos permitiria ver 2024 e 2025 com um optimisto que Moçambique merece e precisa para poder enfrentar as dificuldades do futuro.

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especial inovações daqui

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58 TALKS DAQUI

A primeira edição de uma série de debates promovido pelo BCI em parceria com a Media4Development, recentemente, promete abrir uma nova página na cooperação entre a UE e o sector privado nacional. Mas muitos outros debates se esperam ao longo do presente ano ano

AUTODIGITAL PANORAMA

A app que detecta danos e realiza a inspecção dos aspectos mecânicos e documentais em viaturas

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As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo.

“Queremos Avançar de Mãos Dadas Com o Sector Privado Moçambicano”

Na primeira edição das Talks Daqui, sobre a relação comercial entre Moçambique e a União Europeia, o orador convidado foi o embaixador da UE em Moçambique, Antonino Maggiore, que abordou a proximidade, a vários níveis, com a economia nacional

Texto Nário Sixpene • Fotografia Mariano Silva

OBCI e a Media4Development, publisher moçambicana detentora da revista E&M, do Diário Económico e do portal de informação económica e financeira em língua inglesa 360º Mozambique, realizaram, em Fevereiro, a primeira edição de uma série de eventos designada ‘Talks Daqui’. Esta iniciativa vai fomentar um conjunto de debates, ao longo do ano, com parceiros de cooperação e desenvolvimento, sector privado e sistema financeiro, para abordar temas que influenciam o universo das pequenas, médias e grandes empresas moçambicanas.

Esta primeira edição contou com a presença do embaixador da União Europeia (UE), Antonino Maggiore, do presidente da EUROCAM, Simone Santi, e da chefe da equipa de infra-estruturas e sector privado na delegação da UE em Moçambique, Veerle Smet. O tema em debate foi “A Parceria Económica UE-Moçambique” e a sua relevância para o incremento do comércio bilateral, a internacionalização das pequenas, médias e grandes empresas moçambicanas, bem como a atracção de investimento para a economia nacional.

Compromisso de investir na economia, na paz e no desenvolvimento

Na sua intervenção, o embaixador da UE no País, Antonino Maggiore, abordando o tema “o presente e o futuro das relações comerciais e as principais áreas e sectores de impacto e interesse das empresas da UE em Moçambique”, começou por recordar que se assinalou, a 24 de Fevereiro, o segundo aniversário da invasão da Rússia à Ucrânia, um evento que marcou o mundo e desencadeou dificuldades económicas para muitos países, especialmente os

africanos. O cenário “complicou significativamente a situação, a nível global, com consequências por todo o mundo, incluindo Moçambique”.

Por outro lado, este ano há eleições no País, “mas também em países importantes, no contexto global, como os EUA” e Maggiore referiu: “todos sentiremos o impacto disso”.

Prosseguindo com a sua análise focada no País, o embaixador da UE reiterou que a parceria com Moçambique engloba o apoio à manutenção da paz (a UE tem contribuído para o treino militar visando a supressão da instabilidade em Cabo Delgado) e, evidentemente, as relações económicas. “Mantemos uma parceria muito forte. A UE está empenhada em investir no plano económico e em apoiar activamente o desenvolvimento do País. A nossa colaboração é abrangente, cobrindo áreas cruciais que incluem o sector da Segurança, onde, por meio da missão de treino militar em Cabo Delgado, já formámos 1500 soldados moçambicanos para enfrentarem o desafio da crise no norte do País, um aspecto que deve ser prioritário”, salientou.

Adicionalmente, Maggiore apelou ao empresariado nacional: “queremos avançar de mãos dadas com o sector privado”, sustentando que “não pode haver crescimento sem a acção das empresas e dos empresários. São vocês o factor de prosperidade da economia e do desenvolvimento sustentável do País”.

A banca como instrumento de apoio à internacionalização das empresas

Por sua vez, o presidente da Comissão Executiva (PCE) do BCI, Francisco Costa, reiterou o posicionamento do banco no apoio ao empresariado nacional para a internacionalização dos seus negócios. “Considerando as exi-

gências dos mercados de exportação, em termos processuais e regulamentares, o BCI, com o suporte dos seus accionistas e parceiros na UE, coloca-se à disposição das empresas moçambicanas”. O banco assume a posição de parceria “no acesso aos mercados” e na “realização de transacções, tornando-as menos complexas e mais seguras”.

O responsável destacou ainda uma tendência visível: “apraz-nos observar que as trocas comerciais entre Moçambique e a UE têm estado a crescer. Há expectativas de que este crescimento se consolide, o que abre boas perspectivas para as empresas moçambicanas relativamente à exportação dos seus produtos para o Velho Continente”.

Round Table Talks: do Global Gateway à necessária mudança de posicionamento das empresas no estrangeiro

O evento prosseguiu com uma apresentação sobre as soluções de exportação, feita por Diogo Bragança, director Central de Operações do BCI, e com o debate que juntou o administrador da instituição bancária, Raul Almeida, a chefe da equipa de Infra-estruturas e sector privado na delegação da UE em Moçambique, Veerle Smet, e Simone Santi, presidente da EUROCAM.

Nesta sessão, os intervenientes abordaram a necessidade de se melhorar a imagem do País nos mercados europeus. Defenderam uma mudança na percepção, que por vezes se observa, de um mercado pouco apelativo ao investimento externo e demasiado dependente do gás natural.

“Moçambique tem este problema de percepção externa: é, muitas vezes, mal percebido lá fora. E tudo começa aí, com o entendimento geral que a Europa tem de África. As notícias negativas sobre o continente espalham-se rapidamente e têm um impacto extraordinário. Por

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exemplo, quando ocorre um desastre, fala-se, globalmente, do assunto, mas quando acontecem factos positivos, é difícil encontrar um jornal europeu que os explore positivamente”, explicou Simone Santi.

O presidente da EUROCAM acrescentou, no entanto, que nota sinais de que “esta realidade está a mudar”, embora reconheça que este processo “é moroso”.

“Infelizmente, Moçambique é conotado, ainda e por vezes, como uma nação de desgraças, e tal não ajuda na atracção de investidores. É também esse o nosso papel. Quando estou fora do País, ressalvo sempre as muitas oportunidades a serem exploradas e aproveitadas por grandes investidores externos”.

“No entanto”, prossegue, “existem esforços a fazer pelas autoridades e par-

“Não pode haver crescimento sem a acção das empresas e dos empresários. São vocês o factor de prosperidade da economia e do desenvolvimento sustentável do País”, Antonino Maggiore

ceiros na área da certificação de qualidade das empresas nacionais, por exemplo. Claro que é preciso olhar para a questão da competitividade, pois não é fácil ter uma produção com transformação no território nacional”, ou seja, que pegue nos produtos e lhe dê valor acrescentado. “Os custos são muitos e a produtividade é baixa. Mas temos de olhar para esse factor, em vez de apenas exportar matéria-prima em bruto. Governo, empresas e sistema financeiro, temos, todos, de fomentar a industrialização e a criação de valor para podermos, aí sim, assistir à criação de riqueza, ao crescimento económico e desenvolvimento do País”, acrescentou. Na sequência do primeiro

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fórum de negócios “Moçambique-UE e o Global Gateway”, que se realizou em Novembro do ano passado, em Maputo, a chefe da equipa de Infra-estruturas e sector privado na delegação da UE, Veerle Smet, defendeu uma ideia-base. Em causa, “a necessidade de as empresas nacionais aproveitarem as diversas linhas de financiamento disponibilizadas pela UE em sectores-chave de desenvolvimento sustentável no território nacional”.

O fórum de Novembro juntou, pela primeira vez, no País, centenas de empresas de vários sectores de actividade, governantes moçambicanos, europeus, e delegados de todo o mundo, focado, principalmente, no ambicioso programa de investimentos da UE que consigna 150 mil milhões de euros em investimento para o continente africano nos próximos anos. Veerle Smet fez um balanço positivo da primeira edição do encontro: “acreditamos que foi um evento marcante para nós e para o sector privado. Tivemos uma grande participação - estiveram presentes decisores políticos, investidores e banca”

“Esta foi uma plataforma na qual os empresários dialogaram e debateram com a presença do Governo e acreditamos que tal teve um impacto importante”, Veerle Smet

“Foi uma plataforma na qual os empresários dialogaram e debateram com a presença do Governo, e acreditamos que o impacto foi importante. Permitiu-nos perceber, também, com maior exactidão, quais são e de que forma as empresas europeias estão presentes ou olham com interesse para o potencial de Moçambique. Revelou, de forma mais abrangente, algumas das oportunidades em áreas como as energias renováveis, o turismo, as infra-estruturas e outras relacionadas com o desenvolvimento sustentável, que é uma das linhas em que se baseia a presença e apoio da UE. A sustentabilidade e os princípios do ESG são fundamentais para nós, no presente e no futuro de todos”, assinalou.

Raul Almeida, da direcção de Grandes Empresas do BCI, por sua vez, colocou a tónica na relação entre as empresas e a banca, que, na sua opinião, deve ser um parceiro de desenvolvimento e ajuda à internacionalização dos negócios. Ainda assim, “os empresários têm de fazer o seu caminho”.

“Enquanto banco de referência, com um histórico de apoio à economia que fala por si, estaremos sempre disponíveis para sermos parceiros das empresas que acreditam, como nós, em Moçambique. Mas temos de dizer que não é apenas a banca que o deve fazer, sozinha. Somos um parceiro de crescimento e as empresas têm de fazer o seu papel”, concluiu.

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AUTODIGITAL

Fazer a Vistoria de um Automóvel? Agora, Basta um Clique

Moçambique ganhou uma app capaz de fazer a avaliação detalhada de diversos aspectos em veículos automóveis, seja ao nível da mecânica ou dos documentos. A novidade nasce no sector do seguro automóvel. Como funciona?

AOK! Seguros, uma companhia pertencente ao grupo Fidelidade, líder em Portugal na comercialização de seguros através dos canais directos (Internet e telefone), especializou-se na criação de soluções inovadoras na relação com o cliente. A app AutoDigital permite gravar vídeos com tecnologias de realidade aumentada e Inteligência Artificial (IA) para fazer a vistoria a um automóvel onde quer que esteja. “Esta solução pioneira permitirá aos clientes efectuarem a vistoria à viatura de forma autónoma, onde e quando desejarem, sem depender de terceiros ou de agendamento com um técnico”, explica o presidente da Fidelidade Ímpar, Carlos Leitão.

Como funciona?

A AutoDigital conta com um conjunto de tecnologias de ponta para detectar danos em automóveis, recorrendo a algoritmos de IA bastante avançados. “A plataforma é de muito fácil utilização, é rápida e muito interactiva”, refere Célia Ferreira, directora de Negócio Automóvel da Fidelidade Ímpar. É uma app que está disponível para qualquer dispositivo móvel, iOS ou Android, e que se revela muito intuitiva logo após a instalação. Ao entrar na plataforma, o utilizador recebe indicações que o vão assistir a par e passo, desde a introdução de um código (recebido via SMS), que permitirá estabelecer ligação com um mediador ou agente comercial para iniciar o processo de vistoria. A tarefa requer a captura de algumas imagens do veículo, tudo sob o comando da app.

Célia Ferreira realça que o uso da Internet só é necessário em dois mo-

mentos: o primeiro, na fase em que o utilizador acede à plataforma e insere o código que recebe via SMS. Depois, pode fazer a vistoria, ou seja, tirar fotografias sem Internet, pois só voltará a ser necessária uma ligação para fazer o upload (o segundo momento). “Se no local da vistoria não houver cobertura de rede móvel com Internet, é possível fazer as fotografias e, posteriormente, proceder ao carregamento das mesmas quando tiver acesso à Internet”, acrescenta.

De onde veio a inspiração?

“Nós, como exploradores directos e digitais que somos, temos muitos processos online. Os nossos clientes já fazem simulações online”, exemplifica. “Depois, e em particular no processo de contratação dos seguros, devem deslocar-se para fazer uma vistoria”. Esta deslocação, numa óptica de conveniência, pode não ser o ideal, e é aqui que entra a aplicação AutoDigital. “Nós precisávamos de resolver este problema e fomos à procura de soluções no mercado, antes de desenvolvermos uma solução dentro do grupo. Em Portugal e noutros países não encontrámos aquilo de que precisávamos, por isso desenvolvemos a app AutoDigital”, destaca Célia Ferreira.

Experiências pelo mundo

A aplicação é uma inovação em Moçambique, assim como noutros mercados. Segundo o administrador-delegado da Ok! Seguros, Gonçalo Santos, em Portugal, a marca é a única “a oferecer este tipo de tecnologia. E noutros mercados não conhecemos uma app que forneça este tipo de serviços.

É uma inovação efectiva em qualquer mercado. É tecnologia de ponta”, destaca.

Segundo refere, o uso desta solução tem sido uma experiência positiva que já utilizada por 80% dos clientes. “Isto não aconteceu de um dia para o outro, porque, como imaginam, a adopção de tecnologias mais disruptivas e inovadoras traz sempre desafios”. A evolução tem sido progressiva. Foi necessário explicar aos clientes o valor acrescentado desta nova proposta. “Foi um desafio mostrar a grande importância e conveniência que isto adicionava, mas temos tido muito bom feedback por parte dos clientes que já a utilizam”.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2024 62 APLICAÇÃO
TEXTO Ana Mangana • FOTOGRAFIA Mariano Silva & Istock Photo

BPROJECTO Autodigital

SECTOR

Seguros

EMPRESA Fidelidade Ímpar

CRIAÇÃO 2023

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Fintechs

Banco de Moçambique lança novo ensaio para fintechs

Digitalização Moçambique pode unificar sistemas de pagamentos

Moçambique pode tornar-se no primeiro país africano a unificar os diversos sistemas de pagamentos numa única plataforma móvel. O projecto está a cargo da fintech norueguesa Softec, que já desenvolve soluções financeiras na Europa. O director-executivo, Frank Karlsen, visitou Moçambique para se familiarizar com a legislação e o mercado. O responsável acredita que a nova plataforma será uma vantagem para os turistas.

“Temos de acompanhar o movimento para serviços mais modernos, capazes de responder a essa tendência”, disse. A implementação do sistema unificado de pagamentos vai depender de uma decisão do Governo. Karlsen assegurou que se o Banco de Moçambique aprovar a plataforma, esta poderá estar operacional até final do primeiro semestre, podendo abranger também zonas remotas e sem Internet.

Inteligência Artificial Robôs resilientes vão explorar o espaço?

Uma equipa de investigadores da escola de engenharia de Harvard, Estados Unidos, está a trabalhar com a agência aeroespacial, NASA, para desenvolvimento de robôs resilientes e preparados para explorarem as profundezas do espaço por si próprios. O projecto come-

çou em 2019 e, desde então, as equipas de investigadores conseguiram desenvolver novos tipos de braços e pinças robóticas, assim como sistemas concebidos para melhorar a colaboração entre autómatos e humanos.

A equipa de desenvolvimento revelou que um dos grandes desafios no desenvolvimento dos robôs é conseguir fazer com que sejam realmente multifuncionais, tendo em conta as limitações de envio de carga para o espaço. Cada robô deve fazer o máximo de coisas possível.

A pensar nas futuras colaborações espaciais, os investigadores conceberam uma forma de fazer com que robôs autónomos sigam astronautas, sem precisarem de informação adicional sobre as tarefas que têm de realizar ou os objectivos que têm de cumprir.

O Banco de Moçambique lançou a 5.ª edição do Sandbox Regulatório que tem como objectivo promover a criação e regularização de empresas tecnológicas de serviços financeiros. Estão inscritas quase duas dezenas de iniciativas em várias áreas como serviços bancários, avaliação de crédito, gestão de microcréditos, finanças pessoais, agregação de pagamentos e criptomoedas.

O Sandbox Regulatório faz parte da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira e as edições anteriores levaram à aprovação de uma dúzia de fintechs. Duas dessas empresas já foram licenciadas pelo Banco de Moçambique nas áreas de pagamentos electrónicos e serviços de transferência de fundos.

Sustentabilidade Zambiano produz combustível a partir de plástico

Um jovem zambiano, Jowetti Mwambazi, 19 anos, criou uma fórmula sustentável de produzir combustível (diesel e óleo) a partir de garrafas de plástico. O combustível foi testado em cinco motociclos e os resultados são satisfatórios. Com a ajuda das autoridades municipais de Chipata, o jovem participou numa teleconferência internacional sobre possíveis colaborações, financiamento e rentabilização da ideia.

A invenção já está a ser aproveitada pelos membros da comunidade, na região oriental da Zâmbia. Para o desenvolvimento da ideia, foi atribuído um montante não revelado ao jovem Jowetti para “patentear a descoberta científica junto da PACRA”, uma agência de registo de patentes na capital da Zâmbia.

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ESCAPE Brasil

Uma passagem pela deslumbrante praia do Jeri. A mais bonita do mundo?

GOURMET Céu da Boca

Um mistura de paladar e hospitalidade, no coração de Maputo

ADEGA Enoturismo

O vinho serve de guia nestes roteiros turísticos pelo mundo

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ARTES “Ecos à Penumbra”

AGENDA Março 2024

A história, o percurso e o legado de um dos ícones do rap da lusofonia

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VOLANTE Porsche

Todos os eventos globais que não pode perder, desde a sustentabilidade ao desporto.

ócio
Chegou a segunda geração do modelo Macan, totalmente eléctrico 70 71
VOZES LUSÓFONAS Valete
A primeira exposição de um projecto de apoio do banco Absa às artes

A praia de Jericoacoara fica no Ceará, Nordeste brasileiro, e proporciona aos visitantes uma experiência única

eBrasil

Será Esta Uma das Praias

A vila de Jericoacoara, ou simplesmente Jeri, no coração do Nordeste brasileiro (Ceará), continua a ser daquelas que surgem nas listas das praias mais bonitas do mundo que, volta e meia, circulam pela Internet. Porquê?

Jeri atrai numerosos turistas locais e estrangeiros em busca de uma experiência extraordinária. Desde caminhadas tranquilas até às actividades mais emocionantes, como sandboard ou windsurf, o destino oferece uma variedade de opções para os aventureiros ou nem por isso. As majestosas dunas, ideais para caminhadas, conduzem os exploradores a paisagens de tirar o fôlego, culminando com a Lagoa do Paraíso. A fama já tem décadas. A beleza virgem da praia ganhou projecção num artigo de Cal Fussman publicado no Washington Post em 1987 e hoje apresenta-se como uma jóia do turismo de luxo. Eis as principais atracções:

Duna do Pôr-do-Sol

Uma duna à beira-mar, onde todos podem contemplar o pôrdo-sol, como se o astro ansiasse por mergulhar nas águas no

Mais Bonitas do Mundo?

final do dia, é uma das maiores maravilhas de Jericoacoara. Tornou-se uma tradição da região: ao anoitecer, os turistas sobem a duna para apreciar este belo espectáculo. Para aqueles que desejam adicionar um toque de aventura, é possível alugar um cavalo e galopar até ao topo da duna. No regresso, pode ainda assistir a uma roda de capoeira na praia.

Lagoa do Paraíso

É um clichê, é certo, mas quem não gosta de relaxar numa rede com areia branca sob os pés e uma lagoa cristalina para apreciar? E se fosse possível colocar a rede dentro da lagoa? Bem, essa é outra opção em Jericoacoara. Além do mais, existem restaurantes ao redor da lagoa, onde é possível tomar uma bebida na rede ou comer uma deliciosa porção de frutos do mar sem precisar de sair da areia. Para chegar lá, basta alugar um buggy, que também pode conjugar com outras atracções pelo caminho, como a Lagoa Azul e a Ár-

vore da Preguiça, que tem os seus galhos fincados na areia.

Pedra Furada

É uma formação rochosa com uma fenda central que se destaca na paisagem. Durante o mês de Julho, é possível testemunhar o pôr-do-sol através desta fenda, como se estivesse a enquadrar todo o cenário com uma moldura natural. Para lá chegar, a partir da vila de Jeri, percorra a orla marítima na maré baixa, passando pela bela Praia da Malhada, muito procurada por praticantes de windsurf. Outra opção é a Trilha do Serrote, que é mais fácil de atravessar por ser percorrida em qualquer horário.

Passeio de buggy até Tatajuba

Tatajuba é um povoado que já foi encoberto pelas areias e posteriormente reconstruído. Por esta razão, os seus habitantes referem-se a ele como “Tatajuba Velha”, a parte submersa na areia, e “Tatajuba Nova”, a vila que foi reerguida do outro lado do estuário. O passeio é feito

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pela manhã, partindo das pousadas e hotéis da vila de Jericoacoara, percorrendo a costa oeste. O caminho inclui a praia principal de Jeri e a praia de Mangue Seco, onde é feita uma paragem de barco para ver cavalos marinhos. Em seguida, uma balsa que atravessa o rio Guriú chega aos mangais. Depois, há um passeio de buggy ao longo de dez quilómetros até ao Lago Grande.

Dunas Secas

Ao contrário das dunas mais comuns, que mudam com o vento, estas não são afectadas e permanecem cristalizadas na paisagem. Nas proximidades das Dunas Secas é possível praticar sandboard. Por outras palavras, é possível descer uma duna numa prancha e fazer manobras, à semelhança do snowboard, na neve. Se a modalidade não for do seu agrado, pode sempre fazer o skibunda… sentado na prancha.

As atracções e o ambiente certo

Com praias deslumbrantes, dunas espectaculares e uma atmosfera cultural envolvente, Jeri já conquistou um lugar entre as praias mais bonitas do mundo há muito tempo. Além disso, há serviços turísticos de altos padrões de qualidade, impulsionados por resorts exclusivos e experiências únicas, que têm contribuído significativamente para a economia local. Os visitantes podem ficar alojados em hotéis de renome, como o Villa Nautica Boutique Hotel, que se destaca pelo seu excelente serviço. A rica oferta gastronómica e cultural da região complementa a experiência de luxo, proporcionando aos turistas uma imersão completa na autenticidade de Jericoacoara.

Esta vila e sua praia, no coração do Ceará, nordeste brasileiro, consolida-se como um ícone do turismo brasileiro e investimentos contínuos em infra-estruturas, e prometem aliar sustentabilidade para preservar este pedaço de paraíso para gerações futuras.

Com praias deslumbrantes, dunas espectaculares e uma atmosfera cultural envolvente, Jeri já conquistou um lugar entre as praias mais bonitas do mundo

COMO CHEGAR?

Jericoacoara é uma praia localizada na vila com o mesmo nome no município de Jijoca de Jericoacoara, Estado do Ceará, Brasil. Para lá chegar, é possível voar até Fortaleza, capital estatal, e viajar 295 quilómetros para noroeste. Já constou das listas de praias preferidas do The Washington Post e do Huffington Post. É um dos locais mais frequentados por praticantes de windsurf e faz parte do Parque Nacional de Jericoacoara.

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Localização:

Sommerchild, Av. Kwame

Nrumah

Contacto:

852872874

gLocalizado no bairro da Sommerschield, mesmo à beira da avenida Kwame Nkrumah, o restaurante Céu da Boca é uma representação de resiliência, característica inspirada no seu fundador, Tito Lívio Pereira Ferrinho. Não é o das historiografias; é um jovem moçambicano que muito cedo foi viver para Portugal e lá começou a sua carreira de empreendedor no ramo da restauração.

Abriu dois restaurantes com o mesmo nome, Céu da Boca, um jogo de palavras, numa alusão aos sabores gastronómicos, representando um paraíso para o paladar. Tito explica que a escolha também remete para a sua primeira casa de restauração em Portugal, no Montijo, onde uma abóbora servida como entrada lembrava a imagem do céu de uma boca. Na Sommerschield, o car-

Céu da Boca, o Paraíso do Paladar no Coração

dápio diversificado do restaurante inclui pratos moçambicanos e portugueses, destacandose mariscos, caranguejo, peixe, polvo e lula. A frescura dos produtos é o que faz a diferença: todos os dias, Tito Lívio vai ao mercado comprar ingredientes frescos. A política de manter uma reserva mínima, combinada com preços acessíveis, contribui para a singularidade do estabelecimento. Os pratos de cartaz incluem o caranguejo ao natural, bife à Céu da Boca e uma tábua mista de carnes.

O bife ao Céu da Boca é um dos segredos da casa. É quase pecado passar por lá sem o provar. Leva um molho especial (que é a essência do segredo), fiambre, queijo e ovo estrela-

O Céu da Boca procura ser mais do que um restaurante. É uma experiência gastronómica e social. A ligação entre inovação e hospitalidade

do. Só experimentando dá para apreciar o sabor incrível de que é feito. Além disso, o bife desfaz-se na boca, numa sensação inigualável.

Além da excelente comida, o ambiente descontraído e divertido do restaurante é um atractivo adicional - especialmente às sextas-feiras, quando é palco do after work, oferecendo música seleccionada, DJs, promoções de cervejas, cocktails e outras bebidas. A programação das sextas tem em mente momentos de diversão e convívio para quem termina uma semana de trabalho, criando um espaço apetecível até às 21h00.

Um percurso curioso

Nascido em Nacala, província de Nampula, Tito Lívio viveu em Moçambique até os 8 anos, mudando-se depois com a mãe e irmãos para Portugal. Em 1999, durante as férias em

de Maputo

Moçambique, decidiu permanecer no País. Antes mesmo de decidir ficar de vez, brincava com a família sobre esse eventual regresso, que acabou por se concretizar.

Pioneiro na família a investir no ramo da restauração, em 2020, a enfrentar a crise da covid-19, viu uma oportunidade no cenário adverso. Depois de perder o emprego, optou por investir as poupanças na abertura do Céu da Boca, desafiando as circunstâncias, num cenário em que muitos restaurantes e operadores turísticos encerravam portas. O que é que o motivou para esse investimento? O medo de ficar em casa, sem produzir, a contar apenas com dinheiro que talvez só o sustentasse durante um ano.

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CÉU DA BOCA
Há 85 países que promovem o vinho com actividades de enoturismo e muitos deles passaram a organizar festivais e salões, reunindo diversas quintas vinícolas

Enoturismo: Saiba Por

Pelo título, muitos leitores poderão questionar-se: “então, a E&M desistiu de trazer-nos as novidades da adega?” Nada disso! Pelo contrário. O enoturismo é uma actividade turística, sim, mas tem como pano de fundo viagens motivadas por sessões de prova de vinhos, tradições e cultura das localidades que os produzem. Este segmento do turismo vai além do simples degustar de um bom vinho, é uma experiência completa que combina a paixão vinícola com turismo, cultura, história e gastronomia. O enoturismo proporciona uma imersão nas tradições e nos costumes das regiões vinícolas, revelando a ligação profunda entre o vinho e a história dos povos. Além disso, é uma maneira de valorizar e promover o turismo sustentável e a economia local, já que incentiva a preservação de áreas rurais e de tradições, gera emprego e rendimento para as comunidades locais.

Ao todo, há 85 países que promovem os seus vinhos em actividades de enoturismo e muitos deles passaram a organizar festivais e salões, reunindo diversas regiões vinícolas. Embora se diga que o vinho teve a sua origem no Egipto, as rotas do turismo especializado mais conhecidas estão em países como França, Itália, Portugal, Espanha, Argentina, Chile, África do Sul, Austrália, Estados Unidos, entre outros. Seja amante do vinho ou apenas curioso, deixamos aqui sugestões relacionadas com os maiores festivais vinícolas deste ano, em que se espera que o consumo de vinho chegue a cerca de 232 milhões de hectolitros, segundo a Organização Internacional do Vinho (OIV).

Salão do Vinho (Punta del Este/Uruguai)

O resort é reconhecido pelo roteiro Punta Wine Trips, pacote que oferece aos apreciadores uma experiência gastronómica completa, tendo como parceiras as principais quintas vinícolas da região. O salão reúne, anualmente, produtores, empreendedores e amantes do vinho. Este ano, a organização espera receber mais de 100 expositores e mais de mil tipos de vinho. O evento vai também acolher a Cimeira Global de Enoturismo Responsável, que acontece de 19 a 21 de Março.

Festival do Vinho (Bordéus/França)

Em França, realiza-se a 20.ª edição do Bordeaux Fête le Vin, a decorrer de 27 a 30 de Junho, na cidade de Bordéus. Há duas décadas, a Bienal do Vinho de Bordeaux e Nouvelle-Aquitaine tornou-se referência na celebração dos vinhos da região. O festival proporciona uma experiência autêntica e acessível, na qual os visitantes são convidados a percorrer a rota do vinho, um trajecto de três quilómetros ao longo do rio Garona onde existem 80 bares, representando as diversas denominações oferecidas por mil viticultores e comerciantes da região. Além disso, as paragens gastronómicas ao longo do percurso celebram a rica culinária da regiões de Nova Aquitânia, incluindo Périgord, Béarn, Landes e Charente.

Rio Wine and Food Festival (Rio de Janeiro/Brasil)

Na sua 11.ª edição, o Rio Wine and Food Festival acontece de 7 a 16 de Junho na cidade carioca, levando a uma imersão no universo do vinho, através dos especialistas Marcelo Copello e Sérgio Queiroz, fundadores do evento. O festival es-

Onde se Aventurar

tende-se por dez dias, ocupando diversos pontos estratégicos da cidade, com o desafio de desmistificar o vinho e revelar a sua versatilidade. A variedade de atracções inclui aulas sobre vinho com enólogos, jantares especiais, passeios de autocarro com degustações e uma feira de vinho.

Budapest Wine Festival (Budapeste/Hungria)

O Festival do Vinho de Budapeste transforma a capital húngara no epicentro para entusiastas e apreciadores. É realizado num dos principais pontos turísticos da cidade, o Castelo de Buda. O local, que vai receber o evento no período de 12 a 15 de Setembro, atrai a cada ano cerca de 40 mil visitantes de todo o mundo, com quintas vinícolas húngaras a oferecer degustações de uma variedade de vinhos e espumantes. O festival, que teve início em 1992, apresenta cerca de 200 produtores e uma infinidade de actividades relacionadas com a cultura do vinho.

ViniMilo Etna Wine Festival (Milo/Itália)

O ViniMilo Etna Wine Festival acontece anualmente há mais de 40 anos no coração de Milo, na ilha da Sicília, Itália. Agendado para decorrer entre 28 de Agosto e 10 de Setembro, o evento é conhecido como a “Noite dos Vinhos Vulcânicos”, com mais de 100 rótulos para degustação gratuita. O festival serve como importante vitrine de promoção de produtos vinícolas do sul de Itália e destaca-se também pelos espaços dedicados à gastronomia local, aos mercados orgânicos, ao artesanato e aos eventos culturais. O ViniMilo reúne anualmente cerca de 40 mil visitantes e turistas, transformando as ruas e praças da vila num animado cenário, preenchido com música.

TEXTO Filomena Bande • FOTOGRAFIA D.R

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Vozes Lusófonas

Valete, Um Artista da Lusofonia

Valete, nome artístico de Keidje Lima, dispensa apresentações. É autor dos venerados discos Educação Visual e Serviço Público e, mais recentemente, do EP Aperitivo. Artista nascido no início da década de 80, nos subúrbios de Lisboa, transcende estilos, gerações e barreiras culturais. Além de músico, é poeta, pensador e, não menos importante, criador de pontes. De que pontes falamos?

Valete cria pontes entre a lusofonia, pontes que lhe permitiram estender a sua música além-fronteiras e oceanos, onde descobriu ouvidos que, apesar de geograficamente distantes, acharam refúgio, alento e inspiração nas suas palavras. Ambos com saudades das noites quentes de Maputo, é em pleno Inverno lisboeta que nos encontramos, para discutir a sua carreira, a sua relação com Moçambique e a restante lusofonia e os seus planos para o futuro.

Recuemos no tempo: em 2004, Valete lançava Poesia Urbana Vol. 1, compilação editada pela Horizontal Records, editora discográfica por si fundada, para a qual convidou mais de 20 artistas. Entre esses estava Duas Caras, da GPRO Fam, a assinar a canção Geração TV, ao lado de Sam The Kid, um dos mais importantes nomes da música portuguesa. Se não uma colaboração inédita, esta foi uma das primeiras vezes em que o rap feito em Moçambique se cruzou com aquele criado em Portugal. A canção é um dos destaques da compilação - hoje tida como um disco fundamental do rap português - e permitiu que Duas Caras chegasse a um público que, até então, o desconhecia.

Além disso, foi a primeira vez que inúmeros portugueses escutaram a voz de um MC moçambicano e conheceram o rap que se fazia além do Equador. Para essa mesma complicação, Valete também convidou Ikonoklasta, MC angolano, provando que o seu ouvido não chegava somente a Moçambique: “100 Paus, Dinastia Bantu, MCK… eu acompanhava a carreira desses manos todos!”

Em 2006, lança o seu segundo álbum, Serviço Público. Apesar da sua edição totalmente independente, sem cobertura mediática ou airplay radiofónico, o disco teve um impacto ímpar: vendeu mais de 15 000 cópias e conseguiu projectar a sua música por toda a lusofonia - bendita Internet do início dos anos 2000, local de descoberta e partilha, quando a minha avó ainda não fazia fotomontagens no Facebook e eu não estava em 230 grupos de WhatsApp, com pessoas que só vi uma vez na vida.

“O Serviço Público foi o boom!”

O seu disco anterior, Educação Visual, teve um grandíssimo impacto no circuito underground português - e eu que o diga, ouvi tantas vezes aquele disco de peculiar capa laranja, a caminho da escola e no intervalo das aulas, que o meu velho e defeituoso discman riscou-o por completo. O disco teve direito a duas edições, vendeu 7000 cópias e, com o tempo, ganhou estatuto de clássico. “Mas, mano, esquece: o Serviço Público foi o boom! Começaram a chegar-me mensagens de toda a lusofonia. Os meus familiares diziam-me que começavam a ouvir as minhas músicas na rua, nos transportes. Valete tornou-se popular!” Canções como Subúrbios, Roleta Russa e Anti-Herói tornaram-se autênticos hinos e fizeram dele um dos mais queridos e transversais artistas da lusofonia. Não havia quem não tivesse ouvido falar na infame Vanessa ou não houvesse decorado o impactante último verso de Subúrbios.

Seguiram-se os convites para concertos: primeiro pisou Angola, depois Moçambique, Brasil, São Tomé… Ano após ano, visita após visita, encheu salas de espectáculos, recintos e estádios. Usualmente exímio com palavras, faltam-lhe adjectivos para descrever o público lusófono, aquele mar de pessoas que ruma

ao seu encontro, eufórico e emocionado, para escutá-lo frente a um microfone: “É um amor diferente, maior, mais intenso. É um amor difícil de descrever”. Foi depois do lançamento de Serviço Público que conheceu Azagaia, de quem se tornou, para além de colaborador, amigo. Valete levou as palavras de Azagaia a terras lusas e este, ao longo dos anos, também espalhou o nome de Valete pela lusofonia. Aquando da sua partida [Azagaia morreu a 9 de Março de 2023], foram muitas as homenagens que lhe foram feitas: em Bissau, foi pintado um gigante mural em sua homenagem; em Portugal, 22 artistas pisaram o palco da Casa Independente para perpetuar a sua memória e mensagem; em Angola, o músico Kid MC lançou uma canção em sua honra: Para Sempre Azagaia. Tais homenagens não apenas celebraram a sua vida e obra, mas também ressoaram como um lembrete da importância de uma lusofonia unida, capaz de transcender qualquer distância física.

Moçambique: “sinto-me verdadeiramente em casa”

É assim que Valete abre Colete Amarelo, single lançado em 2019: “mão no ar, Luanda; Maputo, mão no ar! Bissau, mão no ar! São Tomé, São Vicente, Sal! Isto é de-

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dicado aos nossos irmãos da Beira - estamos convosco!”, dizendo-nos exactamente para quem fala - não para mim, ou para ti, mas para todos nós, a lusofonia inteira. E assim voltou a fazê-lo quando, no Inverno de 2023, voou para Moçambique para apresentar Aperitivo, o seu mais recente EP. Como é hábito, salas esgotaram para escutar as suas palavras. Valete tem uma ligação especial a Moçambique e, sobretudo, às suas pessoas - e essa ligação é recíproca. A sua chegada ao aeroporto é sinónimo de aparato – são-lhe pedidas fotos e autógrafos, abraços e entrevistas. “Eu sinto que sou um rapper africano com muito respeito em Portugal – e não o oposto. Lá (em Moçambique), sinto-me verdadeiramente em casa”. Valete é um caso de popularidade ímpar – a Wikipedia descreve-o como um “artista de hip-hop político”. Quantos artistas de índole política e social, de trajecto independente, temos tão populares como Valete? Poucos, se alguns. A sua carreira parece, hoje, irreplicável.

Quando lhe pergunto o que será necessário para mais artistas terem este sucesso lusofonia afora, sobretudo se seguirem um percurso semelhante ao seu, orgulhosamente alternativo e afastado dos holofotes

“Eu sinto que sou um rapper africano com muito respeito em Portugal – e não xaMoçambique), sintome verdadeiramente em casa”, Valete

dos meios de comunicação convencionais, Valete não hesita: união, apoio e a massificação da Internet. No mundo que partilha o português, somos quase 270 milhões de pessoas – um vasto mercado que rivaliza em número com países como os Estados Unidos da América, e duas vezes superior ao do Japão. A união de forças é vital para que os nossos artistas construam uma presença marcante e duradoura neste imenso mercado: para tal, não só é crucial uma maior interacção entre artistas, mas também um compromisso político e empresarial, de maneira que ultrapassemos distâncias e barreiras físicas e fortaleçamos laços culturais. Além disso, a potencial massificação da Internet em toda a lusofonia – idealmente sem restrições de tráfego – será também fundamental para criar mais oportunidades para os nossos músicos. Esta massificação não só permitirá a sua internacionalização, mas também facilitará a sua independência financeira, ao serem capazes de colher as receitas financeiras de uma multitude de plataformas digitais. As oportunidades que o mercado lusófono nos fornece são infinitas! Resta-nos somente trabalhar para que, como Valete, mais casos de sucesso existam!

Futuro próximo: Valete & The Jazz Swingers

A noite vai longa: alongamo-nos em demasia no diálogo, e ambos temos outros compromissos. Despedimo-nos, não sem antes Valete nos revelar, em primeira mão, o que planeia para o futuro próximo: Valete & The Jazz Swingers, o seu novo projecto musical, misturará hip-hop com jazz e o primeiro single tem data de lançamento marcada para Abril. Este projecto levará o poeta português a paisagens sonoras ainda não exploradas ao longo da sua carreira. Valete mostra-se ansioso por provar a sua competência musical sem, no entanto, se afastar do lirismo que tão vincadamente o caracteriza. Confessa-nos, também, que pretende voltar a Moçambique em breve - seja este retorno a solo ou, idealmente, acompanhado do seu novo conjunto e projecto. E aqui estaremos para recebê-lo, escutar as suas sempre importantes palavras e agradecer por tudo aquilo que faz pela lusofonia!

(Podemos acompanhar o trabalho de Valete através de https://www.valeteoficial.com e de https://www.instagram.com/ valete_oficial/)

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FOTOGRAFIA João Tamura
TEXTO &

É uma

evolução do concurso Galeria Absa, que abriu espaço para artistas e novos talentos exibirem as suas criações no Balcão Premier, em Maputo

O Absa Bank Moçambique fortaleceu a sua presença no campo da arte e cultura, dando espaço e oportunidades aos artistas locais. No final do ano, anunciou o programa Ready for Art (Prontos para a Arte) que visa impulsionar a carreira artística. Juntou mais de 30 artistas de diferentes regiões de Moçambique durante quatro dias, numa formação em que 16 foram seleccionados para expor as suas obras. A primeira exposição, “Ecos à Penumbra”, foi inaugurada a 8 de Fevereiro, em Maputo, com os retratos feitos em tela por Maria Chale. A mostra “reflecte os vestígios ou elementos que carregamos da nossa cultura, tradição e identidade, os quais desejamos compartilhar com o mundo, daí o termo ‘Ecos’. Já a escolha de ‘Penumbra’ justifica-se pela maneira como nos

“Ecos à Penumbra”, o Primeiro Fruto do projecto

apresentamos ao mundo. Buscamos representar da melhor forma possível a nossa identidade, como membros de uma comunidade, portadores de uma tradição que, em contextos ou tempos distintos, não é mais interpretada da mesma maneira”.

“Ecos à Penumbra”, de Maria Chale, explora as metamorfoses decorrentes das nossas vivências, acções e tradições e destaca essas transformações, convidando-nos a reflectir sobre a necessidade contínua de adaptação e reinterpretação da nossa herança cultural.

Tânia Oliveira, directora de Marketing e Relações Corporativas do Absa, explica que todos os artistas escolhidos pa-

O ReadyforArt é um projecto sustentável na medida em que, além de apoiar as artes, capacita os artistas para se tornarem autónomos

ReadyforArt do Absa

ra expor receberão apoio, desde a curadoria, até à produção adicional de obras para preencher as vitrinas – sem implicar apoio financeiro directo. Tânia Oliveira descreve o Ready for Art como um projecto sustentável, na medida em que capacita os artistas, fornecendo-lhes as ferramentas necessárias para que se tornem autónomos e independentes. “O objectivo é que o impacto dos seus trabalhos não se limite à exposição, mas perdure ao longo da vida. O sucesso duradouro dependerá da inteligência e da habilidade dos artistas em aproveitar as ferramentas proporcionadas”, explicou.

O projecto vai oferecer-lhes suporte contínuo, possibilitando-lhes capitalizar as exposições subsequentes, comercia-

lizando as suas obras e promovendo-as através das redes sociais, contando com divulgação por parte do banco.

O Ready for Art é uma evolução do concurso Galeria Absa que abriu espaço para artistas e novos talentos exibirem as suas criações no Balcão Premier, em Maputo. Agora, a iniciativa expande a sua influência para o centro e norte do País. Mateus Sithole, curador do projecto e artista moçambicano, desempenhou um papel crucial como orientador na formação, consolidando o seu papel como mentor das exposições nas montras do Absa, em que ele mesmo expôs, em 2022.

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READY FOR ART

O Que Não Pode (Mesmo) Perder

Do regresso da F1 ao The Regime e um livro sobre Produtividade

Março é mês de regresso da Fórmula 1, há sustentabilidade na agenda e estreias imperdíveis no streaming.

Este é o mês pelo qual os entusiastas da velocidade, quer em duas, quer em quatro rodas, aguardam ardentemente. Assinala o começo das temporadas da Fórmula 1 e do MotoGP. Os primeiros a “rugir” serão os motores dos automóveis, no Grande Prémio do Bahrain, a 2 de Março. Poucos dias depois, será a ocasião para as motos se fazerem ouvir no Grande Prémio do Qatar, a 10 de Março.

Em Luanda, Angola, o CEsA - Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento, do ISEG – Universidade de Lisboa, e o Ministério de Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação angolano organizam o III Encontro de Jovens Investigadores da CPLP sobre África (EJICPLP), sob o lema “A Ciência para a Concretização dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030”.

A cidade de Victoria Falls, no Zimbabué, será palco da Conferência dos ministros africanos das Finanças, Planeamento e Desenvolvimento Económico, que este ano se debruça sobre a transição para a economia verde em África. Com o tema “Financiar a transição para a economia verde em África: imperativos, possibilidades e meios de acção”, o evento é uma iniciativa da Comissão Económica das Nações Unidas para África (CEA).

/ FÓRMULA 1

GP do Catar (MotoGp) 10 de Março

GP do Bahrain (Fórmula 1) 2 de Março motogp.com • formula1.com

A temporada de MotoGP 2024 terá um recorde de 22 etapas previstas, incluindo a segunda tentativa do GP do Cazaquistão e o retorno da etapa de Aragón. A temporada 2024 começa no dia 10 de Março com o GP do Catar, que retorna à abertura após ter sido relegado para o fim do ano, em 2023, devido a reformas no circuito de Losail. Destaque negativo do calendário é o alto número de “choques” com a F1 em 2024: 11 GP de ambas as categorias serão realizados nos mesmos fins-de-semana, representando 50% da temporada do MotoGP.

FÓRUM / INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

III Encontro de Jovens Investigadores da CPLP sobre África (EJICPLP)

Luanda / Angola

De 27 a 29 de Março encontrojovensinvestigadorescplp.org

O CEsA - Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento do ISEG –Universidade de Lisboa e o Ministério de Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação de Angola vão realizar o III Encontro de Jovens Investigadores da CPLP sobre África (EJICPLP). Sob o lema “A Ciência para a Concretização dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030”, este evento visa a promoção da investigação científica entre os jovens dos países de língua portuguesa. O tema desta edição é o papel da ciência no progresso e realização dos ODS até 2030, tendo em conta que a investigação científica e a inovação são instrumentos essenciais para o desenvolvimento.

A grande novidade do mês para os “amantes do sofá” é “The Regime”, a mini série que narra a vida dentro dos muros de um regime autoritário moderno à medida que este começa a desmoronar-se. O elenco inclui nomes como Kate Winslet, Matthias Schoenaerts, Guillaume Gallienne, Andrea Riseborough, Martha Plimpton e Hugh Grant.

De leitura obrigatória é o livro revolucionário “Feel-Good Productivity”, de Ali Abdaal, especialista em produtividade com o maior número de seguidores a nível mundial, que propõe um caminho mais simples e jubiloso para alcançar o sucesso, baseado não na disciplina, mas na alegria.

SUSTENTABILIDADE / ECONOMIA VERDE

Conferência dos ministros africanos das Finanças, Planeamento e Desenvolvimento Económico Victoria Falls / Zimbabué De 28 de Fevereiro a 5 de Março

A cidade de Victoria Falls, Zimbabué, acolhe a Conferência dos ministros africanos das Finanças, Planeamento e Desenvolvimento Económico, que este ano debate a transição para a economia verde em África. Tendo como tema “Financiar a transição para a economia verde em África: imperativos, possibilidades e meios de acção”, o evento é organizado pela Comissão Económica das Nações Unidas para a África (CEA).

STREAMING

“The Regime” • HBO Max 4 de Março

A mini-série terá um total de seis episódios e, como conta a sinopse da HBO Max, contará “a história da vida dentro dos muros de um regime autoritário moderno à medida que começa a desmoronar-se”. No elenco encontramos nomes como Kate Winslet, Matthias Schoenaerts, Guillaume Gallienne, Andrea Riseborough, Martha Plimpton e Hugh Grant. A realização é de Stephen Frears (“A Rainha”) e Jessica Hobbs (“The Crown”) e o guião ficou a cargo de Will Tracy (“Succession”). Ingredientes de sobra para ficar preso ao ecrã.

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MOTOGP

LIVROS

Feel-Good Productivity

Em Março

STREAMING

Outros Lançamentos Que Merecem a Nossa Atenção

Dia 1: BMF T3 (Starz), The Completely Made-Up Adventures of Dick Turpin (Apple TV+), Fúrias (Netflix), Blood & Water T4 (Netflix)

Dia 5: The Cleaning Lady T3 (FOX) e Alert: Missing Persons Unit T2 (FOX)

Dia 6: Animal Control T2 (FOX), Family Guy T23 (FOX), Supersex (Netflix) e Extraordinary T2 (Disney+)

Dia 7: O Sinal (Netflix)

Dia 11: Young Royals T3A (Netflix)

Dia 13: Bandidos (Netflix)

Autor Ali Abdvaa • Género - Desenvolvimento Pessoal • Editora Vogais

Temos tendência a pensar que o segredo da produtividade é o trabalho árduo. Mas e se houver outra forma? Ali Abdaal - o especialista em produtividade com mais seguidores a nível mundial - descobriu um caminho mais simples e feliz para alcançar o sucesso, não ancorado na disciplina, mas sim na alegria.

Neste livro revolucionário, o autor revela-nos como a ciência do método Feel-Good de produtividade pode transformar a sua vida, dando a conhecer os três energizantes ocultos que sustentam a produtividade Feel-Good, os três bloqueadores que é preciso ultrapassar para combater a procrastinação e os três sustentadores que previnem o burnout e ajudam a alcançar uma satisfação duradoura.

Recorrendo a histórias inspiradoras de empreendedores, atletas olímpicos e cientistas galardoados com o prémio Nobel que personificam os princípios deste método de produtividade, Ali Abdaal dá a conhecer as mudanças simples, mas transformadoras, que podemos fazer para nos tornarmos mais produtivos e realizados no trabalho.

Dia 14: 9-1-1 T7 (ABC), Grey’s Anatomy T20 (ABC), Station 19 T7 (ABC), Girls5eva T3 (Netflix), Invincible T2B (Prime Video), Apples Never Fall (Peacock) e The Girls on the Bus (Max)

Dia 15: Manhunt (Apple TV+)

Dia 18: Young Royals T3B (Netflix)

Dia 20: Palm Royale (Apple TV+)

Dia 21: 3 Body Problem (Netflix)

Dia 28: We Were the Lucky Ones (Hulu)

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PORSCHE

MACAN

Marca:

Porsche

Modelo:

Macan

Potência:

639 cv

Velocidade:

260 km/h

vO novo Porsche vem equipado com motores eléctricos de última geração nos eixos dianteiro e traseiro e oferece até 639 cavalos de potência

A PORSCHE APRESENTOU

Novo Porsche Macan: Totalmente Eléctrico, Ainda Mais Desportivo!

AO MUNDO, a partir de Singapura, a segunda geração do modelo Macan, totalmente eléctrico. Dez anos após o lançamento do modelo original, esta nova versão chega ao mercado em duas versões, o Macan 4 e o Macan Turbo. E apesar de o turbo ser um componente dos motores de combustão, sempre foi sinónimo de potência acrescida, aliando aqui a força da palavra ao desempenho destes automóveis eléctricos, digno de um carro desportivo.

O novo Porsche vem equipado com motores eléctricos de última geração nos eixos dianteiro e traseiro. Combinado com o Launch Control, o Macan 4 oferece 300 quilowat-

ts (kW), o equivalente a 408 cv de (super)potência, enquanto o Macan Turbo impressiona com 470 kW (639 cv!). Ambos atingem velocidades máximas de 220 e 260 quilómetros por hora (km/h), respectivamente, com uma aceleração de zero a 100 km/h em 5,2 segundos para o Macan 4 e nuns incríveis 3,3 segundos para o Macan Turbo.

A autonomia é impressionante, alcançando 613 quilómetros. O carregamento rápido permite passar de 10% a 80% de bateria em 21 minutos – uma bateria de iões de lítio alimentada pela inovadora plataforma Premium Platform Electric (PPE) da Porsche,

com arquitectura de 800 volts. O interior do carro apresenta-se como uma obra-prima de tecnologia composta por três ecrãs, incluindo um painel de instrumentos curvos de 12,6 polegadas e um ecrã central de 10,9 polegadas que inclui o sistema de entretenimento.

Além disso, a Porsche Driver Experience inclui uma projecção que recorre a tecnologia de realidade aumentada, integrando setas de navegação no mundo real. Uma inovação que eleva a experiência de condução para outro patamar. Os novos modelos já estão disponíveis para encomenda, com as entregas programadas para o segundo semestre deste ano.

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