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ProvÍnCIa
ZambéZia, a província do chá
Na província onde o primeiro sonho de qualquer jovem é ter uma bicicleta, o tempo passado é de chá. Mas há novos ventos a chegar na economia de uma das províncias mais tradicionais de Moçambique
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é comum dizer-se que, na zambézia,
a pobreza que impera faz do povo da região mais criativo na busca de saídas. Por exemplo: é uma brincadeira comum da região, dizer-se que “no dia em que se mandarem embora os quelimaneses, na capital do país, não haverá mais alguém a vender recargas de crédito de telemóvel”, um estereótipo, que, no fundo, caracteriza o lado mais adaptável e sobrevivente das gentes da Zambézia. Deixando a sociologia e focando o olhar no que é hoje a Província, a nível económico, ali existem actividades que, embora ao longo dos anos tenham perdido fôlego, continuam a ser importantes. De acordo com o Graciano Francisco, director provincial da Economia e Finanças da Zambézia, a economia da Província tem tido “uma tendência de crescimento nos últimos quatro anos”, facto relevado pela comparticipação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, “que denota crescimento, e está na ordem de 9,2%”, diz o responsável. Mas, que actividades são essas? Pela Zambézia, a tradição tem um peso grande. E são as mesmas de sempre. A agricultura, nomeadamente produção de chá, copra (polpa seca de coco), algodão, arroz e gergelim. Aliás, foram estas, as produções (especialmente o chá e a copra) que fizeram no passado com que a Província da Zambézia merecesse um lugar destacado no mercado interno que, no entanto, foi perdendo, com a quebra de produção e produtividade destas culturas. Por agora, há um sonho do governo da
província ZambéZia
capital Quelimane área 105 008 km² população 5 110 787 região Centro
Zambézia em tentar revitalizar estas culturas. E o Plano Económico e Social (PES) aprovado recentemente para 2019 já coloca o foco nestas culturas de rendimento. De acordo com o executivo provincial, o objectivo do PES de 2019, “é atrair os investidores nacionais e estrangeiros para apostar no desenvolvimento destas culturas afim de estimular uma maior contribuição para o crescimento e desenvolvimento da economia local.” E alguns desses novos ares, já se fazem notar. Nesta altura, estão já aprovados 15 novos projectos de investimento, todos concentrados na agricultura e na indústria de agro-processamento. “Queremos estimular a área de agro-negócio onde a Província da Zambézia tem enorme potencial, principalmente nos distritos do Gurué, Ile e Mocuba”, considera director provincial da Economia e Finanças. O objectivo da aprovação desses projectos, prossegue, “passa por recolocar esses distritos em pólos de desenvolvimento da Província, tentando potenciar cada vez mais as culturas alimentares e de rendimento, entre elas, a soja, gergelim, arroz, feijão bóer, chá e macadâmia.” E esses investimentos já estão a dar frutos, o que no caso, pode ser levado de forma literal, com a ampliação da área total de cultivo na Província a crescer em 15 mil hectares, dedicados à produção de oleaginosas como soja, gergelim, girassol, milho e feijão. “São investimentos que a nível provincial se fixaram na ordem de 102,6 milhões de dólares face aos 22,2 milhões que se haviam registado no ano anterior”, aponta o mesmo responsável.
produção do chá tenta reerguer-se A Província de Zambézia é reconhecida cimo a terra do chá em Moçambique, mas hoje, já não se ouve falar tanto do Chá Gurué ou mesmo do Chá Licungo, marcas... que se tornaram marcantes na forma de representação local, nacional e internacional de uma Província que parece ter parado no tempo, durante anos. Perfilhando esta posição, um estudo feito pelo IESE no ano passado, aponta que “em Moçambique, a agro-indústria do chá foi uma das principais fontes de emprego na zona da alta Zambézia até princípios dos anos 1980, empregando, nos períodos de pico, pouco mais de 30 000 trabalhadores, a maioria dos quais sazonais”. No entanto, das 11 unidades fabris de processamento que existiam há algumas décadas, restam apenas quatro ainda em operação e a indústria
102,6
milhões de dólares Volume de inVestimento priVado registado na proVíncia da ZambéZia, e que será, na sua grande maioria destinado a 15 noVos projectos na área do agro-negócio. no ano transacto, esse Volume ficou-se pelos 22,2 milhões de dólares
consegue apenas empregar cerca de 10% desse volume, pouco mais de 3 000 trabalhadores nos períodos do pico. A Chazeiras de Moçambique é neste momento uma das principais produtoras de chá do país, exportando pouco mais de 1 200 toneladas ao ano, num segmento que, em tempos, era trabalhado pelos portugueses, sendo hoje gerido por empresários indianos, que tentam recolocar esta cultura no topo de produção a nível nacional. Mas, ainda é preciso fazer uma grande ginástica. Ainda assim, depois de um longo período de quebra na produção de folha de chá (38 mil toneladas na última época, de acordo com o INE), em 2017, o valor de receita gerada pelas exportações de chá proveniente da Chazeiras de Moçambique, a maior da região e uma das poucas que ainda conseguem sobreviver na área de cultivo, processamento e comercialização do chá em Moçambique, situou-se em 1,6 milhões dólares. Uma receita escassa que, no entanto não faz baixar as expectativas para o que aí vem. “A demanda do consumo de chá no mercado doméstico e no internacional é crescente de ano para ano. Para o final desta época prevemos um incremento nos preços do chá a nível internacional na ordem de 10 a 15 por cento devido à baixa de produção nos países que se evidenciam como grandes produtores de chá, designadamente Índia e Quénia”, assinala um responsável da empresa que, no entanto, lamenta a incapacidade de fazer crescer a produção, por limitações de recursos, “que vão das plantas serem já antigas, e das áreas de cultivo não terem sido aumentadas.” O governo provincial tem noção deste problema. A procura até existe, mas a oferta não está a corresponder. “O que temos feito agora, é apoiar este sector visto que as plantas em si já estão cansadas, e precisam de uma revitalização. E isso, já está a acontecer com as empresas que operam nesta área”, explica Graciano Francisco. Com a falta de crescimento dos níveis de produção do chá e da copra, a economia da Zambézia perdeu oportunidades sucessivas para crescer, ancorada nas culturas que suportaram durante décadas toda a economia da Província. De acordo com o administrador do distrito do Gurué, Costa Chirembue, ao longo de cadeia de valor do chá, desde a produção até ao processamento, a actividade “tem gerado emprego, e continua a ser a fonte subsistência para as milhares de famílias. No entanto, o ciclo da maior parte das plantas do chá já está quase no seu fim, algumas delas têm mais de 70 anos, e agora, começa uma corrida contra o tempo para a sua revitalização. São plantações de longa data, e algumas já começam a ressentir-se do tempo, perderam a sua capacidade produtiva”, sublinha Costa Chirembue. Se há anos a produção do Chá da Zambézia tinha como foco, abastecer o mercado interno, nesta fase de reinvenção de todo um segmento produtivo, a prioridade inverteu-se e é a exportação que vai fazer alavancar o cultivo e produção de folha de chá. E isso já está a acontecer, de acordo com o director provincial da Economia e Finanças da Zambézia, que assinala o facto de “actualmente, cerca de 95% da produção total” já ser destinada à exportação, tendo como principais destinos Europa, Estados Unidos de América e Ásia, os maiores mercados consumidores de chá nacional.
novos caminhos No entanto, Gurué não é apenas terra de chá sendo até, neste mesmo, um dos distritos onde mais tem crescido a produção de uma noz nutritiva e importante para a saúde humana, a macadâmia, cuja produção subsituiu (em muitos casos) a cultura da folha de chá, pela sua elevada taxa de rentabilidade. Usada na produção de cosméticos e produtos alimentares, apesar de ser uma cultura recente no país, vem conquistando, pouco a pouco, espaço naquela vila montanhosa da Província da Zambézia.
província

Quelimane é a capital da bicicleta, na Província que é capital do chá, que aposta agora na macadâmia
Hoje, a soja (acompanhada de tabaco, chá, algodão, castanha de caju, milho e feijão bóer) tornou-se uma das principais culturas de rendimento da Província, mas há ainda muito por fazer
Uma cultura relativamente recente, que só ganhou verdadeira expressão em Moçambique a partir de 2012, mas que, leva o governo zambeziano a não hesitar em afirmar que, “o seu impacto é já visível na economia da Província.” E segundo o administrador do distrito do Gurué, o crescimento é forte, anuindo aos 800 mil dólares que, ainda recentemente, foram adjudicados para fazer crescer a área de plantio (mais de três mil hectares). “Já estamos a passar daquela fase de instalação do investimento para a fase de produção propriamente dita”, sublinha. “Esperamos atingir as 200 toneladas de produção da macadâmia em 2020, e a partir de 2021, produzir perto de duas mil toneladas por época”, aponta o governo local. O maior desafio para já, é agregar mais volume de hectares para a produção da matéria-prima, sendo que, prossegue, “para o bom desempenho da agricultura é preciso melhorar cada vez mais a rede eléctrica e as vias de acesso”. Outra das imagens que temos da Zambézia, são as florestas de palmeira (palmares de coco) e que, mais do que paisagem, eram uma importante fonte de riqueza. Com o tempo, as doenças (amarelecimento letal) e o abandono, afectaram a floresta, apesar dos vários projectos que foram sendo desenhados (nem todos implementados) para revitalizar os palmares da Zambézia. Desde que os palmares da Província foram fustigados pelo amarelecimento letal, a Zambézia que até detinha o epíteto de “baía dos cocos”, a produção caiu a pique. As extensas filas de coqueiros nesta Província foram suficientes para Moçambique ostentar o estatuto de ‘maior palmar do mundo’ que chegou a deter, em meados do século passado, estatuto este que há muito já se perdeu, e que hoje é ostentado pelas Filipinas. Entretanto, parece haver a vontade de investir neste segmento, mas será preciso mais do que isso. Até porque os resultados disso, não tardariam a surgir, uma vez que o coqueiro é, sem dúvida, uma ‘árvore da vida’, que dá tudo, desde a casca utilizada para carvão ecológico, às folhas, do fruto ao tronco, passando pelas fibras e óleos essenciais, com utilizações na cosmética e na alimentação, muito procurados nos mercados desenvolvidos. Instado pela E&M, o governo local mostra-se, igualmente atento a esta questão, e refere estar “numa fase da busca de investimentos”, assinala. “Há um estudo que o governo fez para revitalizar a cadeia de valor do coco, e estamos optimistas para que, que em breve, a Zambézia poderá voltar a ostentar o título de ‘rei dos palmares’ no país.” Actualmente, o palmar na Província da Zambézia, reduziu para menos da metade comparando com o efectivo que existia há quatro décadas. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), nesse período, Zambézia produzia entre 50 a 60 mil toneladas, sendo que hoje, produção reduziu radicalmente para valores igualmente abaixo da metade. De acordo com o director provincial de Agricultura e Segurança Alimentar da Zambézia, Jabula Zibia, passa pela agricultura, o futuro económico da Província, sendo que o sector é responsável por empregar mais de 80% da força de trabalho. “A produção do chá, arroz e soja tem envolvido muita mão-de-obra, e agora temos também a macadâmia”, enfatiza Jabula Zibia. A soja é, de resto, outra das culturas que tem crescido, e feito aumentar a receita da Província. Zibia diz mesmo que, nos últimos anos, foram injectados para esta cultura, investimentos de grande vulto, sobretudo oriundos do estrangeiro. “Actualmente estão aqui operar na soja, algumas das grandes empresas agrícolas, e estão a ocupar milhares de hectares de terra e a empregar uma mão-de-obra considerável nos períodos de pico da campanha agrícola. Para além da soja, estas empresas, também se têm dedicado ao desenvolvimento de culturas de rendimento como o feijão, o milho e o gergelim”, reitera. Hoje, a soja (acompanhada de tabaco, chá, algodão, castanha de caju, milho e feijão bóer) tornou-se as principais culturas de rendimento na Província e a sua cadeia de produção envolve todo de tipo de agricultor, desde o familiar até às grandes corporações. E é por isso que o governo provincial estabeleceu a meta de “fazer aumentar o volume produção” para patamares mais próximos do potencial de uma região que, parecendo abençoada, parece ter caído em desgraça por alguns anos.

PROdutORes assistidOs Pela GaPi abastecem Os meRcadOs Producers assisted by GaPi are reachinG out to the markets
Produzir mais e com melhor qualidade e, sobretudo, poder escoar toda a produção é sonho de todo o agricultor. o Prosul está a torná-lo real Producing more and with higher quality and, above all, to drain the whole production is the dream of every farmer. Prosul is making it happen
oito distritos com grande poten-
cial agrícola situados nos corredores de Maputo e Limpopo, nomeadamente: Moamba, Marracuene, Namaacha, Boane, Chokwe, Guija, Manjacaze, Chibuto e Xai-Xai, estão a assistir a mudanças decisivas no processo de produção de alimentos, fruto da implementação do Projecto de Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos corredores de Maputo e Limpopo (PROSUL), cuja cadeia de produção de hortícolas está a ser implementada pelo consórcio Gapi-SI/Novedades Agrícolas. A par da melhoria nas técnicas de produção, maior disponibilidade de sistemas de irrigação e outros meios que possibilitam o cultivo ao longo de todo ano, os produtores têm também melhores canais de acesso aos mercados e já conseguem escoar a sua produção, através das redes de supermercados, que recorrem às hortícolas nacionais, devido à sua qualidade. “Muitos clientes estão a comprar para revender nos mercados da capital”, testemunha Salomão Machava, líder da Associação 44 hectares, que alberga 78 membros e funciona em Mahelane. Segundo Hairton Panguana, técnico da Gapi e coordenador provincial da cadeia de hortícolas em Maputo, a ligação com os mercados é feita através de um ‘focal point’ instalado em cada regadio, e que tem a responsabilidadede de contactar os mercados em cada colheita, informando sobre as quantidades disponíveis e os respectivos preços de referência, uma estratégia que tem estado a produzir resultados. “O trabalho que realizamos nestas duas províncias, é parte de uma estratégia de modernização da agricultura, que estamos a desenvolver à escala nacional. Com o apoio de parceiros como o IFAD, DANIDA, Banco Mundial, BAD e BADEA, os negócios de centenas de eight districts with great agricultu-
ral potential located in the corridors of Maputo and Limpopo, namely: Moamba, Marracuene, Namaacha, Boane, Chokwe, Guija, Manjacaze, Chibuto and Xai-Xai, are witnessing decisive changes in the food production process due to the implementation of the Value Chain Development Project in the Maputo and Limpopo corridors (PROSUL), whose horticultural production chain is being implemented by the Gapi-SI/Novedades Agrícolas consortium. In addition to improved production techniques, increased availability of irrigation systems and other means that create the possibility to generate growth and productivity in the crops throughout the year, producers also have better access to markets and are already able to channel their own production through mozambican supermarkets, which choose national horticulture because of their quality. “Many customers are buying to resell in the capital markets,” said Salomão Machava, leader of the 44-hectare Association, which houses 78 members and operates in Mahelane. According to Hairton Panguana, Gapi’s provincial coordinator for the horticultural chain in Maputo, the link with the mass markets is being made through a focal point installed in each irrigated area, which has the responsibility of contacting the markets in each harvest, informing on the quantities available and their reference prices. A strategy which has been producing results. “The work we are doing in these two provinces is part of a all strategy for the modernization of agriculture, which we are developing at the national level. With the support of partners such as IFAD, DANIDA, the World Bank, AfDB pequenas empresas foram consolidadas, através da disponibilização de soluções de financiamento, combinadas com serviços de assistência técnica em vários domínios, entre os quais o uso de novas técnicas e tecnologia; introdução de sementes melhoradas; e ligação aos mercados”, reforçou.

apoio técnico Nos distritos onde actua, o consórcio Gapi/Novedades Agrícolas montou estufas para manter o nível de produção e produtividade estáveis ao longo do ano; introduziu o sistema de rega gota-a-gota (que além de poupar água), assegura



and BADEA, the business of hundreds of small farmers has been consolidated through the provision of financing solutions combined with technical assistance services in various fields: the use of new techniques and technology; introduction of improved seeds; and linkage to markets“ he added.
technical support In the districts where it operates, the consortium Gapi/Novedades Agrícolas has set up greenhouses to keep a stable level of productivity throughout the year, introduced the drip irrigation system (fundamental to save water), ensures accuracy in the system, and has provided improved seeds. In each irrigation system there are resident technicians to guide the producers in the process and to secure technical training. it’s these trained technicians who are implementing the methodology of knowledge transfer, called ‘Escola na Machamba do Camponês’. “We have motor pumps and piping for the drip irrigation system, we were provided with quality seeds and we are receiving assistance in farming techniques“ says Hélio Herculano, Coordinator of the Irrigation Association of Manguiza, with 65 beneficiary members.
precisão no sistema; e tem fornecido sementes melhoradas. Em cada regadio há técnicos-residentes para orientar os produtores no processo produtivo e dar formação técnica. São estes técnicos formados que estão a implementar a metodologia de transferência de conhecimento, designada Escola na Machamba do Camponês. “Temos moto-bombas e tubagem para o sistema de rega gota-a-gota, foram-nos facultadas sementes de melhor qualidade e estamos a receber assistência em técnicas de cultivo”, testemunha Hélio Herculano, Coordenador da Associação Regantes de Manguiza, com 35 hectares e 65 membros beneficiários.