E&M_Edição 83_Abril 2025 • Sem Sistema!

SUSTENTABILIDADE FIELD READY CAPACITA JOVENS COM FORMAÇÃO TÉCNICA PARA GARANTIR ALTA EMPREGABILIDADE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS GOVERNO PREVÊ SAÍDA DA LISTA CINZENTA DO GAFI, MAS O PAÍS CONTINUA MAL CLASSIFICADO MOÇAMBIQUE DIGITAL O NOVO VODACOM BUSINESS DATA CENTER E A DIGITALIZAÇÃO DAS EMPRESAS

SEM SISTEMA! A digitalização promete eficiência, mas a realidade é outra: falhas constantes, fraca infra-estrutura e baixa literacia digital travam o “e-Governance”. A E&M analisa como estas deficiências deixam o cidadão sem serviços essenciais e sempre com a mesma resposta: “Não há sistema!”

Abril • 2025 • Ano 08 • Nº 83 • 350MZN

MOÇAMBIQUE

HENRI MITTERMAYER “AQUISIÇÃO DA GLOBAL ALLIANCE VEM REFORÇAR A POSIÇÃO DA HOLLARD NO MERCADO”

SUMÁRIO

22 NAÇÃO

22 Digitalização do Estado. Especialistas explicam a distância que separa a digitalização dos serviços públicos da realidade e os obstáculos à implementação de um Governo digital eficiente.

28 A realidade no terreno. Utentes dos diferentes serviços relatam situações de ineficiência e burocracia, sinais de falhas na implementação de soluções digitais em Moçambique.

30 Organizações Não-Governamentais. Centro de Integridade Pública destaca barreiras no acesso à Internet e na protecção de dados.

PNUD responde através do programa “Digital Flagship for Africa” 34 Resposta do Estado. Entidades responsáveis pela digitalização falam das respostas possíveis às ineficiências através de regulamentos e algumas acções em implementação.

38 Digitalização em África. Os melhores exemplos para procurar modelos de “e-governance” e os erros que podem ser evitados.

12 CONTEÚDO LOCAL

Mercado de Trabalho. A Field Ready, em parceria com empresas, capacita jovens com formação técnica e comportamental, combinando plataformas digitais gratuitas e programas intensivos

14 ESG

Marketing e Sustentabilidade. “O Custo Oculto do Consumo: Entre a Conveniência e a Sustentabilidade”, Filipa Neves, marketeer

16 FÓRUM BANCÁRIO

O futuro da Banca. O Fórum Bancário, uma iniciativa do Absa Bank Moçambique, defende a colaboração entre instituições financeiras para enfrentar desafios tecnológicos, de regulação e a cibersegurança

44 MACRO

Mais um prémio para a Gorongosa. O projecto demonstra como a integração entre protecção ambiental e bem-estar humano pode regenerar ecossistemas e inspirar outras nações africanas

48 SHAPERS

Esther Duflo. No mês da mulher moçambicana, destacamos a importância da equidade de género para o desenvolvimento económico, com foco na educação, no acesso ao crédito e em políticas inclusivas

OPINIÃO 10 Wilson Tomás, analista do banco BIG Moçambique 50 João Gomes, João Gomes @ BlueBiz Consultoria 60 Cláudia S. Furtado, engenheira de automação POWERED BY 32 Mazzars 18 CTJ 46 FNB

63 MOCAMBIQUE DIGITAL

64 Vodacom Business Data Center A nova infra-estrutura marca o início de uma nova era para empresas que buscam inovação e eficiência 68 Entrevista“O Desafio da Inovação e da Modernização das Infra-estruturas”, George Leal Jamil, Professor da Fundação Dom Cabral, Brasil SECÇÕES 3 Sumário 4 Editorial 6 Observação 8 Números em Conta 42 Radar África 70 Panorama

73 ÓCIO

74 Escape No mês da mulher moçambicana, cinco destinos para visitar 76 Gourmet Quais as iguarias que nos esperam na hora de terminar o mês do jejum? 77 Adega Na celebração da Páscoa, há que ter vinhos à altura 78 Moçambicanos na diáspora Sebastião Alves Langa adaptou a sua arte ao mercado europeu 80 Agenda Tudo o que não pode perder neste mês de Abril 82 Ao volante dos automóveis mais desejados pelas mulheres

52 MERCADO & FINANÇAS

Branqueamento de capitais. Apesar das reformas realizadas recentemente, Moçambique ainda enfrenta problemas estruturais que colocam em dúvida a iminente saída da lista cinzenta do GAFI

56 CEO TALKS

Mercado de seguros. Em que medida a aquisição da Global Alliance pela Hollard Moçambique fortaleceu a sua posição no sector e impulsionou a inclusão financeira, a inovação tecnológica e o crescimento sustentável?

www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2025

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EDITORIAL

Celso Chambisso Editor Executivo da Economia & Mercado

Carimbo ou Clique, Para Onde Caminhamos?

N

os corredores dos serviços públicos, em Moçambique, a tecnologia ainda convive com o peso do carimbo. Enquanto o mundo avança na digitalização, o País segue a um ritmo desigual em que algumas ilhas de modernidade coexistem com burocracia ultrapassada. A “e-governance”, tão essencial para a eficiência e transparência do Estado, enfrenta problemas estruturais, institucionais e financeiros que atrasam a transição para um modelo digital eficaz.

A saúde pública é um exemplo claro das limitações da informatização. Os sistemas de registo electrónico de pacientes ainda são incipientes, obrigando as unidades sanitárias a recorrerem a processos manuais, demorados e susceptíveis a erros. A falta de integração de dados prejudica a continuidade dos cuidados de saúde, dificultando a partilha de informações entre hospitais e centros de saúde.

Nos serviços tributários, a digitalização avançou, mas a dependência do carimbo persiste. O contribuinte pode submeter documentos online, mas, muitas vezes, ainda precisa de um carimbo físico para validar processos, num paradoxo que demonstra a resistência à mudança e a fragmentação dos sistemas.

Outro desafio são as sobreposições institucionais. A “e-governance” em Moçambique está sob responsabilidade

de múltiplas entidades, incluindo o Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC), o Instituto Nacional de Governo Electrónico (INAGE) e o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM). A dispersão de competências pode resultar em duplicidade (ou mesmo triplicidade) de esforços e dificuldades na implementação de uma agenda coesa.

A Internet cara e as deficiências na infra-estrutura digital agravam o problema. O acesso à Internet continua proibitivo para grande parte da população, o que limita a adopção de serviços digitais. Além disso, há uma desigualdade gritante entre as áreas urbanas e rurais: enquanto as cidades começam a beneficiar de serviços digitais, o campo permanece alheio à revolução, perpetuando assimetrias no acesso a direitos fundamentais.

Alguns avanços importantes não podem ser menosprezados. O serviço e-Tributação permitiu que diversas obrigações fiscais passassem a ser cumpridas online, reduzindo filas e burocracia. A informatização de alguns processos judiciais e registos empresariais também é um sinal positivo de melhoria do funcionamento do Estado.

Olhando para países africanos bem-sucedidos, fica claro que a mudança exige decisão política, investimento e uma abordagem integrada. Moçambique precisa de acelerar a transição digital, desburocratizar processos e garantir que a tecnologia beneficie todos.

Moçambique segue a um ritmo desigual em que algumas ilhas de modernidade coexistem com burocracia ultrapassada

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ABRIL 2025 • N.º 83 DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso JORNALISTAS Ana Mangana, Felisberto Ruco, Florença Nhabinde, Germano Ndlovo, Jaime Fidalgo, Luís Patraquim, Nário Sixpene PAGINAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Mariano Silva REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com CONSELHO CONSULTIVO Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Media4Development Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com IMPRESSÃO E ACABAMENTO RPO Produção Gráfica TIRAGEM 4 500 exemplares EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018

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OBSERVAÇÃO

7 de Abril

Um Tributo à Mulher Moçambicana A mulher moçambicana é o alicerce tantas vezes invisível, mas inquebrável, que sustenta a economia e a sociedade. Nos campos, nos mercados, nas empresas ou nos centros de decisão, desempenha um papel vital na criação de riqueza e no sustento das famílias.

Neste mês, a 7 de Abril, Dia da Mulher Moçambicana, celebramos a sua força, inteligência e capacidade transformadora. Que cada conquista seja um passo rumo a uma sociedade mais justa e igualitária, onde a mulher não tenha apenas de resistir, mas possa prosperar.

O futuro de Moçambique depende do reconhecimento e da valorização do papel da mulher em todas as esferas sociais.

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NÚMEROS EM CONTA RADAR

Quem Recebeu Mais Ajuda da USAID? A ajuda externa tem sido um dos principais instrumentos da política internacional dos EUA, mas que a actual administração liderada por Trump começou a cortar, fazendo soar alarmes. Em 2024, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) canalizou milhares de milhões de dólares para diversas nações, sendo a Ucrânia o principal beneficiário, seguida por vários países africanos e do Médio Oriente.

De acordo com dados do portal ForeignAssistance.gov, os EUA forneceram 6,1 mil milhões de dólares em assistência à Ucrânia: desde a invasão russa, em 2022, era um dos principais destinos da ajuda internacional norte-americana,

acumulando mais de 32,5 mil milhões de dólares. Em segundo lugar, estava a República Democrática do Congo (RDC), com 1,3 mil milhões de dólares. O país enfrenta uma crise humanitária agravada por conflitos armados internos, deslocação forçada de populações e altos níveis de pobreza.

A Jordânia, terceiro maior beneficiário, recebeu um montante semelhante (1,3 mil milhões de dólares), destacando-se pelo papel estratégico no Médio Oriente no acolhimento de refugiados da Síria e de outros países vizinhos.

Moçambique estava fora da lista dos dez mais apoiados pela USAID, apesar de receber um volume significativo de ajuda

norte-americana - 664 milhões de dólares, em 2023. Era o principal beneficiário da USAID entre os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Um valor que representava uma diferença significativa em relação ao segundo colocado, Angola, que recebeu 71 milhões de dólares, ao passo que outros países como Brasil e Timor-Leste, receberam 68 e 43 milhões de dólares, respectivamente.

A maior parte da ajuda da USAID em Moçambique tem sido direccionada para a saúde, com cerca de 400 milhões de dólares destinados a programas de combate ao HIV/SIDA. A USAID é reconhecida como o maior doador no mundo, agora à espera de um novo capítulo.

RDC

1,3

Ucrânia

mil milhões de dólares

6,1

mil milhões de dólares Sudão do Sul

727

milhões de dólares

Cisjordânia e Gaza

Nigéria

milhões de dólares

763

milhões de dólares

8

918

Jordânia mil milhões de dólares

Etiópia

1,2

mil milhões de dólares

Iémen

Afeganistão

milhões de dólares

milhões de dólares

753

1,3

Sudão

769

milhões de dólares

743

FONTE USAID

www.economiaemercado.co.mz www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro | Abril 2025

OPINIÃO

Como Proteger o Portefólio Num Período Conturbado nos Mercados

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Wilson Tomás • Analista | Research do Banco BIG Moçambique

O método All Weather enfatiza a diversificação entre classes de activos e regiões geográficas para reduzir riscos e procurar retornos estáveis. A alocação de activos é baseada no risco, e não no capital, equilibrando riscos de recessão e inflação

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esde o regresso de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, em Janeiro de 2025, a economia global tem enfrentado desafios significativos devido à introdução de políticas proteccionistas e tensões comerciais na maior economia global. A União Europeia anunciou que responderá com contra-medidas no valor de EUR 26 mil milhões, que se prevê que afectem o normal comércio com os Estados Unidos a partir do mês de Abril. Esta inversão nas políticas comerciais dos Estados Unidos estão a contribuir para uma fragmentação das relações económicas globais, aumentando a volatilidade nos mercados financeiros e criando desafios adicionais para a estabilidade económica mundial.

Assim, investidores institucionais, bancos, fundos de pensões, sociedades gestoras, seguradoras e investidores particulares precisam de calibrar as suas estratégias para proteger os seus portefólios de potenciais riscos e para torná-los resilientes em situações de stress, no curto, médio e longo prazo – assim como para poderem aproveitar as oportunidades de mercado que surgirão com esta volatilidade. Geralmente, as estratégias não procuram prever o futuro, mas criar um portefólio capaz de se adaptar e prosperar em qualquer cenário económico, proporcionando retornos consistentes e protegendo o investidor contra crises.

A Bridgewater Associates, a maior empresa mundial de gestão de investimentos alternativos, fundada por Ray Dalio, em 1975, criou, nos anos 90, uma estratégia designada All Weather, desenvolvida para oferecer retornos estáveis e resilientes em qualquer condição económica, protegendo o património no longo prazo. O conceito central é a diversificação baseada em riscos e não apenas na alocação tradicional de capital. Em vez de simplesmente dividir o capital entre diferentes activos (como acções e títulos), a estratégia distribui o risco de maneira equilibrada entre diferentes classes de activos, considerando o seu desempenho em distintos cenários económicos.

A estratégia parte do princípio de que os mercados são influenciados por dois factores principais: crescimento económico e inflação, que podem estar em al-

ta ou em baixa, resultando em quatro regimes económicos distintos. Quando o crescimento económico é forte, as empresas lucram mais e o consumo aumenta, beneficiando as acções e “commodities”, que tendem a valorizar-se. Em períodos de recessão, a actividade económica desacelera e os investidores procuram segurança em títulos de rendimento fixo, especialmente de governos estáveis, que costumam beneficiar da queda nas taxas de juro. Já em cenários de inflação elevada, o poder de compra da moeda diminui, favorecendo activos que preservam valor, como “commodities” e títulos indexados à inflação, que ajustam os seus retornos conforme a alta dos preços. Por fim, quando a inflação é baixa ou ocorre deflação, os juros tendem a cair, impulsionando o preço dos títulos de longo prazo e, nalguns casos, as acções, que podem beneficiar de custos menores e de um ambiente económico mais previsível.

O método All Weather enfatiza a diversificação entre classes de activos e regiões geográficas para reduzir riscos e procurar retornos estáveis. A alocação de activos é baseada no risco, e não no capital, equilibrando riscos de recessão e inflação através de investimentos em activos líquidos globais. Utiliza engenharia de portefólio eficiente em capital, empregando instrumentos financeiros derivados como futuros, opções e “swaps” para alavancar a exposição a activos além do desembolso inicial. Destinado a investidores de longo prazo, o objectivo passa por construir um portefólio resiliente a diferentes cenários económicos preservando e aumentando a riqueza sem necessidade de “timing” de mercado. Normalmente, inclui acções, títulos de dívida e outros indexados à inflação e “commodities”. O portefólio é reequilibrado anualmente para manter o perfil de risco e ajustar-se às mudanças de mercado. Um exemplo de ETF que segue essa estratégia é o SPDR Bridgewater All Weather ETF (ALLW), que começou a transaccionar a 7 de Março de 2025. Entre os seus benefícios, destacam-se a mitigação de risco através da diversificação, a procura por retornos estáveis em diferentes condições económicas, a simplicidade na implementação e a possibilidade de um desempenho sólido no longo prazo. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

A volatilidade dos mercados financeiros desafia investidores a adoptarem estratégias mais resilientes

SPDR Bridgewater ALL Weather ETF (ALLW) 24.96 24.90

24.74 24.67

13-mar-25

12-mar-25

valores em dólares 14-mar-25

24.70

24.68

11-mar-25

10-mar-25

7-mar-25

FONTE Bloomberg

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Em Moçambique, a implementação desta estratégia é muito limitada, devido à reduzida liquidez e pouca profundidade que o mercado de capitais moçambicano apresenta. A generalidade da liquidez é transaccionada em títulos de dívida pública e o mercado de acções é muito reduzido e inexpressivo. Embora se tenha verificado um aumento da emissão de títulos de dívida privados nos últimos anos, ainda não são suficientes para ajudar a diversificar os portefólios.

A procura de optimização de portefólios leva a que seja imperioso começar a equacionar o investimento noutras geografias, com os constrangimentos que a lei cambial causa neste momento.

Só dando este passo se poderá ambicionar a ter instrumentos suficientes para dotar os investidores moçambicanos de portefólios diversificados, com a estratégia All Weather ou outras estratégias que tenham como objectivo mitigar o risco e potenciar retornos futuros mais estáveis.

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CONTEÚDO LOCAL | FIELD READY

Qual a Fórmula Para Capacitação e Empregabilidade?

A necessidade de alinhar as competências dos jovens com os requisitos das empresas tem motivado iniciativas como a da Field Ready, uma organização dedicada à capacitação profissional Texto Felisberto Ruco • Fotografia D&R

D

esde 2015, a Field Ready desenvolve programas de formação técnica e comportamental. A sua actuação assenta em dois pilares principais: plataformas que disponibilizam formação e recursos gratuitos na Internet para melhoria das competências profissionais e formação presencial com programas intensivos (seis meses), que registam uma taxa de empregabilidade de 90%.

O objectivo da organização é proporcionar aos jovens as ferramentas necessárias para a integração no mercado de trabalho, desenvolvendo tanto competências técnicas como interpessoais.

Além de Moçambique, a Field Ready opera no Gana, Costa do Marfim, Nigéria e Reino Unido.

Parcerias com os intervenientes A actuação nacional tem sido marcada por colaborações com empresas e insti-

tuições para a criação de oportunidades de formação e emprego. Recentemente, a organização firmou uma parceria com a ExxonMobil Moçambique e parceiros da Área 4 de exploração de gás da bacia do Rovuma, com o intuito de preparar jovens para o sector. O programa prevê a formação de aproximadamente 7000 jovens em várias regiões do País. “Esta colaboração procura dotar os jovens moçambicanos das competências necessárias para ingressar no sector”, referiu Armando Afonso, director de Relações Públicas e Governamentais da ExxonMobil Moçambique.

Formação em áreas-chave Os programas da Field Ready abrangem diversas áreas, incluindo literacia digital e financeira, bem como segurança no trabalho. Entre os cursos disponíveis estão: • Literacia Digital e Literacia Digital Avançada; • Literacia Financeira e Literacia Financeira Avançada;

QUAIS SÃO AS EMPRESAS PARCEIRAS? A Field Ready colabora com diversas empresas e instituições para facilitar a colocação profissional dos formandos.

Entre os parceiros incluem-se: • MIRO Forestry & Timber Products; • TechnipFMC; • Van Oord Marine Ingenuity; • Vodacom; • Porto de Maputo; • Grindrod; • MODEC; • Petroleum Commission Ghana; • Conship (Consolidated Shipping Agencies Ltd.);

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• Tullow Oil plc; • Yinson; • GNPC (Ghana National Petroleum Corporation); • Fan Milk; • HIT Group; • CTRG (Central Térmica de Ressano Garcia); • ANEP (Autoridade Nacional da Educação Profissional); • INP (Instituto Nacional de Petróleo); • Hidroeléctrica de Cahora Bassa; • Governo de Moçambique; • MCNHR.

• Competências Pessoais Aplicadas; • Formação em Língua Inglesa; • Segurança Rodoviária e dos Peões.

Estes cursos, acessíveis online, permitem que os participantes adquiram conhecimentos alinhados com as exigências do mercado de trabalho.

Expansão e Desenvolvimento A plataforma digital da Field Ready já registou mais de 10 000 jovens, proporcionando-lhes acesso gratuito a módulos de formação e preparação para o emprego.

Com a parceria estabelecida com a ExxonMobil, prevê-se que este número aumente significativamente até ao final do ano. “O programa foca-se no desenwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Jovens aprendem novas competências, preparando-se para um futuro mais promissor no mercado de trabalho

A plataforma digital da Field Ready já registou mais de 10 000 jovens, proporcionando acesso gratuito a módulos de formação e preparação para o emprego

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

volvimento das competências necessárias para os jovens responderem às exigências do mercado de trabalho”, disse Gaspar Buque, presidente da Field Ready Moçambique. O projecto inclui diferentes fases e prevê oportunidades de estágio, facilitando a integração profissional dos participantes.

O impacto esperado Ao preparar jovens e profissionais para os desafios reais da indústria, programas deste tipo não apenas ampliam as oportunidades individuais, mas também contribuem para a qualificação da força de trabalho nacional, tornando-a mais competitiva e alinhada às necessidades do sector produtivo. Dian-

te dos desafios estruturais, que ainda limitam o acesso ao emprego formal no País, torna-se indispensável a multiplicação de iniciativas semelhantes, que integrem inovação, tecnologia e formação orientada para a prática.

O impacto destas acções vai além da empregabilidade imediata, pois fomenta uma cultura de excelência e adaptação contínua às transformações do mercado global. Ao valorizar programas como o da Field Ready, Moçambique cria a possibilidade de avançar na construção de um futuro mais inclusivo e promissor, onde a educação profissional se consolida como ferramenta essencial para o progresso económico e social.

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OPINIÃO

Filipa Neves • Marketeer

V

ivemos na era da conveniência e do consumo instantâneo. Queremos tudo, agora, sem esforço, sem complexidade e sem pensar nas consequências. O problema? Este facilitismo tem um custo ambiental gigantesco.

A sustentabilidade não pode ser apenas um tema debatido em fóruns internacionais ou uma tendência explorada por marcas em campanhas publicitárias. Ela precisa de ser um compromisso real, assumido por governos, empresas e indivíduos. O nosso planeta já dá sinais claros de esgotamento e o consumo desmedido, o desperdício de recursos e a falta de políticas eficazes só aceleram essa crise ambiental.

De quem é a responsabilidade?

Costumamos apontar o dedo às grandes empresas e aos governos, mas a realidade é que todos temos um papel a desempenhar. Se há procura, há oferta. Enquanto consumidores, temos o poder de influenciar o mercado. Ca-

O Custo Oculto do Consumo: Entre a Conveniência e a Sustentabilidade da compra que fazemos é um voto no tipo de mundo que queremos construir.

Mas será que estamos realmente conscientes do impacto das nossas escolhas?

O documentário Buy Now! The Shopping Conspiracy, lançado em Novembro de 2024 e disponível na Netflix, lança um alerta importante.

Ao expor estratégias de marketing de gigantes como Adidas, Apple e Amazon, mostra como o consumismo está a destruir recursos, a aumentar o desperdício e a alimentar um ciclo insustentável de produção e descarte.

A questão é: até quando é que vamos sustentar este modelo destrutivo?

O papel para lá do “greenwashing” Muitas marcas já perceberam que sustentabilidade vende. Mas há uma diferença entre compromisso real e marketing oportunista. O consumidor actual está mais atento e já consegue distinguir uma iniciativa genuína de um discurso vazio.

A sustentabilidade não pode ser tratada como uma campanha publicitária ou

A mudança não depende apenas das marcas, depende de cada um de nós: consumir menos, reutilizar mais e exigir transparência

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um rótulo bonito na embalagem. Tem de fazer parte do ADN da empresa, desde a criação do produto até ao descarte. Isso significa: • Reduzir o impacto ambiental na produção; • Garantir condições dignas ao longo da cadeia de valor; • Criar produtos duráveis e reutilizáveis; • Educar o consumidor sobre consumo consciente.

E o marketing? O marketing sustentável não é apenas comunicar valores ecológicos – é garantir que as empresas os vivem de verdade. Como gestora de marketing, sinto que tenho a responsabilidade de garantir que desenvolvo produtos com impacto reduzido. Se, no passado, a preocupação era apenas criar e satisfazer necessidades de consumidores, hoje o “como” tornou-se tão importante como “o quê”. É urgente que a inovação esteja alinhada com a preservação ambiental.

A verdade é que sustentabilidade já não é um factor de diferenciação competitivo – é uma obrigação para marcas que querem continuar relevantes no mercado.

O futuro exige um compromisso real A transição para um modelo económico sustentável não é apenas uma escolha inteligente – é a única escolha possível. Governos estão a apertar regulações, como o Acordo de Paris, adoptado em 2015, e os consumidores estão cada vez mais exigentes. Empresas que não se adaptarem ficarão para trás.

Mas a mudança não depende apenas das marcas, depende de cada um de nós: consumir menos, reutilizar mais e exigir transparência são atitudes essenciais. Porque, no final, quem paga o preço do nosso consumo inconsciente? O meio ambiente.

Se não mudarmos agora, em breve a factura será insuportável. A sustentabilidade não é tendência, é o único caminho para marcas que querem existir amanhã.

Como marketeer, defendo que a sustentabilidade é o futuro do marketing.

Marcas que cuidam do planeta conquistam gerações e corações! www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

FORUM BANCÁRIO

Digitalização, Cooperação e Transparência: Pilares Para o Futuro da Banca Moçambicana A I Edição do Fórum Bancário, organizado pelo Absa Bank Moçambique em parceria com a Deloitte, reuniu líderes e especialistas do sector financeiro para debater os desafios e oportunidades da indústria. Para Iuri Khan, director de compliance do Absa, o evento marcou “um ponto de viragem” na forma como os bancos devem encarar o futuro Texto Pedro Cativelos • Fotografia D.R

O

Fórum Bancário representa uma nova plataforma estratégica para repensar colectivamente o sistema financeiro moçambicano. Entre os principais tópicos em destaque, a transformação digital foi apontada como um “imperativo nacional”, essencial para a inclusão financeira, modernização do sector e resposta eficaz às exigências do mercado.

Iuri Khan reforça que o Absa pretende assumir o papel de catalisador no ecossistema financeiro, promovendo a partilha de conhecimento e fomentando parcerias que fortaleçam o sistema bancário moçambicano. A visão passa por uma banca mais aberta à cooperação entre si, capaz de ultrapassar a lógica da concorrência em áreas críticas como tecnologia e infra-estrutura de dados.

Num sector cada vez mais orientado pela necessidade de mais e melhor informação, a qualidade dos dados e a cibersegurança emergem como prioridades. Para o director de compliance do Absa Bank Moçambique, a aposta recai numa abordagem pró-activa de compliance, com investimentos na capacitação de equipas, protecção de dados e alinhamento com os mais elevados padrões internacionais, e a expectativa é que o Fórum cresça nas próximas edições, consolidando-se como uma referência de inovação e debate estratégico em Moçambique.

O “Fórum Bancário: Transformação, Crescimento e Controlo” reuniu especialistas e líderes do sector financeiro para debater temas estratégicos do sector. Que balanço faz desta primeira edição?

De uma forma geral, a avaliação que fazemos é claramente positiva. Esta iniciativa revelou-se uma oportunidade indiscutivelmente relevante para promover o debate aberto e construtivo em torno das múltiplas questões que desafiam o sector financeiro, num contexto marcado por constantes mudanças macroeconómicas, exigências regulatórias crescentes e uma rápida evolução tecnológica.

Entre as principais conclusões extraídas deste encontro, destaca-se a aposta contínua na transformação digital dos serviços financeiros, que constitui, hoje, um verdadeiro imperativo nacional, representando um activo estratégico para impulsionar a modernização e o desenvolvimento sustentado das instituições de crédito que operam no País. Para além de responder às exigências do mercado, a digitalização desempenha um papel essencial na inclusão financeira e na optimização dos serviços prestados aos clientes.

Por outro lado, foi sublinhada a necessidade premente de um investimento decidido e consistente na qualidade de dados. Num sector cada vez mais orientado por informação, a gestão eficiente, segu-

“É chegada a hora de repensar a banca, abandonando uma visão puramente concorrencial e adoptando uma perspectiva mais colaborativa”

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ra e transparente dos dados assume um papel central, sendo determinante para a competitividade, resiliência e sustentabilidade das instituições financeiras.

A transformação do sector bancário em Moçambique exige, inevitavelmente, colaboração entre os diversos players.

IURI KHAN

O que levou o Absa a apostar Licenciado emque Direito pela com a neste fórum contou participação maiores Universidade dedos Lisboa e pós- bancos?

Acreditamos a partilha Nova de conhecigraduado pelaque Universidade mento e aConta colaboração entre de Lisboa. com mais de 15todos são fundamentais para onos crescimento anos de experiência sectores sustentável do sector financeiro.

Este fórum surbancário e segurador, em Portugal giu para estabelecer umadiálogo e Moçambique.

Iniciou carreiracontínuo entre bancos, especialistas no Grupo Caixareguladores, Geral de Depósitos, em finanças, e demaiscomo stakeholtendo passadoclientes por instituições ders, criandoTotta, um CA espaço de Moza reflexão e o Santander Seguros, construção conjunta.

Mais 2020, do que imBanco e Banco MAIS. Desde pulsionar mudanças, queremos fomentar integra o Absa Bank Moçambique, parcerias e abrir para iniciativas onde lidera a áreacaminho de Compliance. que fortaleçam o mercado financeiro moÉ membro activo da Direcção da çambicano.

A longo prazo,deoBancos objectivo Associação Moçambicana e é consolidar estede fórum como um ponto de da Associação Bancos da SADC. referência estratégico, promovendo soluções inovadoras que tornem o sector bancário mais sólido, inclusivo e sustentável.

Um dos temas centrais foi a necessidade de colaboração entre instituições para fortalecer o sistema bancário. Qual é a sua visão sobre esta cooperação e que obstáculos devem ser superados?

A colaboração é um elemento fundamental em qualquer ramo ou sector de actividade, e na indústria financeira não poderia ser diferente. Enquanto actor relevante do sistema financeiro nacional, consideramos que a cooperação institucional é peça-chave para a edificação de um sector sólido, resiliente e capaz de responder eficazmente às exigências do mercado. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

tagonizado no sentido de reforçar a transparência do sector. São disso exemplo os esforços dedicados ao combate a crimes de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, uma agenda que se encontra plenamente alinhada com as iniciativas conduzidas pelo Gabinete de Informação Financeira de Moçambique, visando retirar o País da chamada “lista cinzenta.”

Como é que transformação digital impacta a área de compliance?

IURI KHAN Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa e pós-graduado pela Universidade Nova, conta com mais de 15 anos de experiência nos sectores bancário e segurador, em Portugal e Moçambique. Desde 2020, integra o Absa Bank Moçambique, onde lidera a área de Compliance. É membro activo da Direcção da AMB.

É chegada a hora de repensar a banca, abandonando uma visão puramente concorrencial e adoptando uma perspectiva mais colaborativa. Impõe-se, por isso, reflectir seriamente sobre a possibilidade de criação de uma plataforma conjunta, onde os bancos possam alinhar esforços, partilhar investimentos e optimizar custos, especialmente no que respeita à importação e implementação de novas soluções tecnológicas no mercado. Quanto à concorrência, creio que ficou claro ao longo desta conferência de que há consenso entre todos, que os bancos podem e devem competir em áreas como preços, qualidade de serviço, proximidade e relacionamento com o cliente. Contudo, quando se trata de soluções que visem tornar a nossa actividade mais eficiente, menos onerosa e sustentável, é essencial que deixemos de lado a lógica competitiva. A colaboração entre as instituições é imprescindível, devendo este princípio ser colocado no topo das prioridades de todos os actores, em consonância com as exigências do mercado. Acreditamos que a Associação Moçambicana de Bancos irá desempenhar um papel central neste processo de crescimento na cooperação. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Quais são hoje os maiores desafios para garantir um sector financeiro transparente e seguro no País?

Enquanto sector, creio que, ao longo dos anos, temos dado passos significativos e caminhado de forma decisiva para tornar o sistema financeiro cada vez mais transparente, apesar dos desafios que enfrentamos, muitos deles resultantes de factores meramente conjunturais. Parece-me fundamental que, enquanto sector, continuemos a cumprir rigorosamente as normas emanadas pelo regulador – o Banco de Moçambique. É igualmente crucial que a prestação de contas permaneça uma prática constante; que a partilha de informação com o mercado e com os clientes continue a ser uma regra; que a realização regular de auditorias seja reforçada; e que o aprimoramento das questões ligadas à cibersegurança se mantenha como uma prioridade máxima. Estes são, na minha opinião, pilares essenciais com os quais as instituições financeiras devem permanecer firmemente comprometidas. Destaco, ainda, o movimento positivo e digno de reconhecimento que os bancos comerciais têm pro-

A digitalização do sistema financeiro não é apenas uma tendência, mas sim um imperativo nacional. Ela desempenha um papel crucial na construção de um sector mais inclusivo, seguro e sustentável, garantindo que as instituições financeiras estejam preparadas para enfrentar desafios regulatórios cada vez mais exigentes.

Ao nível do Absa temos adoptado uma abordagem pró-activa e estratégica na conformidade regulatória, reforçando continuamente as nossas práticas de compliance, protecção de dados e cibersegurança. Estamos a investir fortemente na capacitação das nossas equipas operacionais, garantindo que estas estejam preparadas para lidar com os desafios tecnológicos actuais, protegendo os dados dos nossos clientes e assegurando a integridade das nossas operações. Além disso, reforçamos constantemente as medidas de protecção de dados e segurança digital, alinhando-nos com os mais altos padrões internacionais. A modernização tecnológica traz benefícios, mas também exige responsabilidade e robustez nos processos internos – um compromisso que mantemos e fortalecemos todos os dias.

Como tornar esta numa plataforma contínua de inovação e melhoria do ambiente bancário no País?

Esta primeira edição marcou o início de um espaço essencial para reflexão e debate sobre o futuro do sector financeiro em Moçambique. No entanto, para que este fórum tenha um impacto duradouro, é fundamental que se mantenha dinâmico e envolva cada vez mais intervenientes, promovendo a troca contínua de conhecimento e experiências. Nós, enquanto Absa Bank Moçambique, pretendemos continuar a desempenhar um papel de facilitador, garantindo que este seja um ponto de encontro para todos os players do sector – bancos, reguladores, especialistas e outros actores estratégicos. Queremos que esta plataforma evolua, trazendo para a mesa temas disruptivos, soluções inovadoras e desafios emergentes, sempre com foco no fortalecimento do sistema financeiro nacional.

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POWERED BY

A Digitalização Como Catalisador do Desenvolvimento Económico

A

Marcelo Tertuliano & Bruno Chicalia • Partners da CTJ

marcelo.tertuliano@ctjconsultoria.com bruno.chicalia@ctjconsultoria.com

A importância da digitalização do País ficou evidente no discurso de tomada de posse do Presidente Chapo e a intenção foi comprovada com a criação, pela primeira vez, de um pelouro ministerial responsável por essa meta

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história é verídica - como aliás é tudo o que escrevemos, mas, talvez desta vez, o tema vá ressoar mais para muitos e, consequentemente, gere um debate na secção de comentários na versão digital – mas não se trata de qualquer denúncia, nem pretensão de responsabilizar alguém. É apenas um testemunho de uma situação cujo “timing” não poderia ter sido mais propício.

Há alguns meses fizemos, na Conservatória do Registo das Entidades Legais (CREL), em Maputo, a reserva do nome de uma empresa que queríamos constituir para um novo projecto em que estamos a trabalhar.

Após termos concluído a tramitação da nossa documentação interna, voltámos à CREL para finalmente fazer o registo da referida empresa. Nesse momento, constatámos que, entretanto, uma empresa exactamente com o mesmo nome havia sido constituída na CREL da Beira, enquanto a nossa reserva estava vigente. Questionámos, reclamámos, mas o facto era que,independentemente da razão dos factos, a empresa da Beira já estava até constituída com aquele que era o “nosso” nome. Possível falta de criatividade nossa, não obstante, este embaraço poderia ter sido muito mais custoso para nós, quer em tempo, quer em dinheiro.

A nossa empresa já está, entretanto, criada, mas o que nos remete ao tema é a questão estrutural e não apenas o nosso problema em particular.

Este episódio é um de tantos outros que ilustram perfeitamente como Moçambique continua a enfrentar obstáculos consideráveis ao desenvolvimento, incluindo um vasto sector informal, baixos níveis de bancarização rural e uma situação fiscal deficitária que limita a capacidade de investimento do Estado. A importância da digitalização do País ficou evidente no discurso de tomada de posse do Presidente Chapo e a intenção foi comprovada com a criação, pela primeira vez, de um pelouro ministerial responsável por essa meta. Num fórum recente, intitulado “Transformação Digital nos Processos Legais em Moçambique”, Lourino Chemane, presidente do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC), destacou a determinação do Governo em modernizar os processos administrativos e partilhou algumas ini-

ciativas em curso nesta área. São passos importantes, mas como pode o sector privado contribuir para acelerar a materialização desta visão?

A digitalização surge como uma oportunidade transformadora para ultrapassar estes obstáculos e impulsionar o desenvolvimento económico, particularmente através da formalização do sector informal e da expansão da inclusão financeira.

Este artigo analisa o panorama económico de Moçambique em comparação com países em estado similar de desenvolvimento e propõe medidas concretas para implementar soluções digitais com o mínimo impacto orçamental para o Estado.

Panorama em Moçambique A economia moçambicana tem apresentado um crescimento moderado nos últimos anos que não tem sido inclusivo, com disparidades regionais acentuadas e uma grande parte da população ainda a viver abaixo do limiar da pobreza.

O sector público enfrenta desafios significativos, incluindo ineficiência administrativa, corrupção e falta de transparência.

Estes factores têm dificultado o desenvolvimento económico e desencorajado potenciais investidores. A burocracia excessiva, os processos administrativos complexos, a lentidão da justiça e a falta de informatização dos serviços contribuem para um ambiente de negócios desafiante.

No entanto, o que merece maior atenção é um relatório do Departamento de Economia e Assuntos Sociais das Nações Unidas (UNDESA, 2024), que destaca que o País tem vindo a descer consistentemente no ranking do E-Government Survey, desde 2020. É caso para dizer: “quem não avança, retrocede”, pois estamos, assim, a perder terreno em relação a outros países.

A) Exemplos de Estratégias para Atrair Investimento na Digitalização 1. Modernização da Administração Pública.

A digitalização da administração pública representa uma oportunidade crucial para melhorar a eficiência governamental e reduzir custos operacionais. A implementação de sistemas integrados de gestão financeira pode contribuir significativamente para a eliminação dos “salários-fantasma”, um problema que drena recursos públicos consideráveis. Estudos indicam que países como o Ruanda conseguiram reduzir até 20% www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

A digitalização é, hoje, um imperativo nas instituições

Índice de desenvolvimento da Administração Pública electrónica 2024 Moçambique

0,2848

Líder mundial Dinamarca

0,9847

Líder regional da África do Sul

0,8616

Líder da subregião Maurícia

0,7506 0

0.1

0.2

0.3

0.4

Média mundial

0.5

0.6

0.7

Região Média

0.8

0.9

1

Média da sub-região

Índice de desenvolvimento da administração 2024 pública electrónica

2022

2020

2018

2016

2014

2012

2010

2008

2005

2004

2003

Moçambique (Posição)

173

163

160

172

164

158

161

152

146

150

157

Moçambique (valor)

177

0,28467 0,31300 0,35640 0,31950 0,23050 0,23837 0,27859 0,22884 0,25590 0,24483 0,20290 0,17282

Figura 1: UNDESA – ranking de Moçambique no E-Government Survey.

País

PIB percapita (USD)

Sector Informal (% PIB)

Inclusão Financeira (%)

Penetração Móvel (%)

Índice de Digitalização Governamental

Moçambique

503

40%

22%

51%

0.38

Tanzânia

1,136

56%

47%

85%

0.53 0.42

Zâmbia

1,120

52%

46%

96%

Costa do Marfim

2,325

43%

41%

153%

0.47

Gana

2,445

38%

58%

1331%

0.60

Bolívia

3,345

62%

54%

100%

0.53

Camboja

1,720

48%

59%

129%

0.46

Fontes: Banco Mundial, FMI, GSMA, UN E -Government Survey, 2022 Figura 2: Indicadores Económicos e Digitais Comparativos entre Moçambique e economias similares.

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

das despesas com pessoal após a implementação de sistemas digitais de gestão de recursos humanos e folhas de pagamento.

Um aspecto crítico e frequentemente negligenciado é a segurança da informação governamental. Actualmente, muitos funcionários públicos utilizam serviços de e-mail pessoais como Yahoo e Hotmail para comunicações oficiais, comprometendo informações sensíveis do Estado. Esta prática expõe o Governo a riscos significativos de ciberataques, espionagem e violações de dados. A implementação de um sistema de email governamental seguro, com encriptação de ponta a ponta e autenticação de dois factores, é uma prioridade urgente.

Países como o Brasil implementaram o sistema Gov.br, que fornece e-mails oficiais e seguros para todos os funcionários públicos, garantindo que as comunicações permaneçam seguras.

A criação de um portal único de serviços governamentais, semelhante ao e-Estonia (na Estónia), permitiria aos cidadãos e empresas aceder a diversos serviços públicos através de uma plataforma integrada, reduzindo a burocracia e aumentando a transparência. Este tipo de iniciativa não só melhora a eficiência administrativa, como também reduz riscos de corrupção.

Além disso, é essencial desenvolver uma infra-estrutura centralizada de armazenamento de dados governamentais com protocolos de segurança robustos e políticas claras de acesso à informação. O Botsuana implementou, com sucesso, um sistema centralizado de gestão que melhorou a segurança da informação e facilitou a partilha de dados entre departamentos, aumentando a eficiência.

2. Tecnologia Blockchain para Certificação de Documentos A implementação da tecnologia blockchain para a certificação de documentos civis representa uma oportunidade significativa para Moçambique. Esta tecnologia permite criar registos imutáveis e transparentes, dificultando a falsificação de documentos e reduzindo a corrupção. A sua aplicação nos serviços de cartório e notariado poderia transformar processos tradicionalmente morosos e vulneráveis a fraudes. O caso do Gana, que implementou um sistema de registo de terras baseado em blockchain, demonstra o potencial desta tecnologia. O sistema reduziu significativamente disputas de terras e aumentou a confiança dos investidores no mercado.

Em Moçambique, onde questões fundiárias são frequentemente complexas, uma solução semelhante poderia ter impactos consideráveis.

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POWERED BY Tipo de Pagamento

Antes da Digitalização

Após Digitalização

Economia para o Estado

Salários Públicos

60% digital

98% digital

$24M USD/ano

Pensões

30% digital

93% digital

$8M USD/ano

Taxas e Impostos

15% digital

72% digital

$36M USD/ano

Subsídios Sociais

5% digital

65% digital

$12M USD/ano

Fontes: Ministère de I`Économie Numérique et de la Poste, Côte d´Ivoire, 2021 Figura 3: Impacto da Digitalização de Pagamentos Governamentais na Costa do Marfim.

Métrica

Antes da Implementação

3 Anos Após Implementação

Variação

Tempo médio para registo

16 dias

6 horas

-99%

Custo para empresas

$200 USD

$35 USD

-82.5%

Empresas formalmente registadas

18 000

22 680

+26%

Receita fiscal adicional

Base

+$15 milhões USD

+18%

Custo para o Estado

N/A

$0 (autofinanciamento)

N/A

Fontes: Rwanda Development Board, 2019 Figura 4: Resultados da Formalização Digital no Ruanda.

3. Identificação e Gestão de BD Um sistema nacional de identificação digital, integrado com diversas bases de dados governamentais, poderia revolucionar a prestação de serviços públicos em Moçambique. Este sistema facilitaria o acesso a serviços essenciais, como saúde e educação, além de simplificar processos administrativos para cidadãos e empresas.

A Índia, com o seu sistema Aadhaar, demonstra o potencial transformador da identificação digital em grande escala.

Este sistema permitiu ao Governo indiano direccionar subsídios de forma mais eficiente, reduzindo fraudes e garantindo que os benefícios chegam aos destinatários pretendidos.

Em Moçambique, algo semelhante poderia melhorar a eficiência dos programas sociais e reduzir desvios.

4. Digitalização da Saúde A digitalização do sector da saúde, particularmente na gestão da cadeia de fornecimento de medicamentos, representa uma oportunidade para melhorar a eficiência e reduzir fraudes. Sistemas de rastreamento digital de medicamentos, desde a aquisição até à distribuição de receitas aos pacientes, podem reduzir significativamente o desvio e a falsificação de produtos farmacêuticos.

A Tanzânia implementou com sucesso um sistema de gestão logística electrónica para medicamentos, que reduziu a escassez de medicamentos essenciais em unidades de saúde de 26% para 7%. Em Moçambique, um sistema semelhante poderia melhorar substancialmente o acesso a cuidados de saúde.

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B. Formalização do Sector Informal através da Digitalização O sector informal representa uma parte significativa da economia moçambicana, cerca de 40% do PIB. Este sector, embora vital para a subsistência de milhões de moçambicanos, opera fora do sistema fiscal e regulatório, limitando a capacidade do Estado de arrecadar receitas e implementar políticas económicas eficazes.

1. Estratégias de Baixo Custo para Formalização Digital Parcerias Público-Privadas para Registo Simplificado Em vez de desenvolver sistemas governamentais dispendiosos, Moçambique pode estabelecer parcerias com empresas de tecnologia para criar plataformas móveis de registo empresarial simplificado. O modelo de receita partilhada pode ser implementado, onde as empresas tecnológicas recebem uma pequena percentagem das taxas de registo ou impostos colectados através da plataforma.

O Senegal implementou o sistema “eTax” através de uma parceria com operadoras móveis, permitindo que pequenos comerciantes se registem e paguem impostos simplificados via telemóvel. O sistema não exigiu investimento inicial significativo do Governo, sendo financiado por uma pequena comissão sobre as transacções.

Micro Registo Gradual com Benefícios Incrementais.

Um sistema de formalização gradual pode incentivar comerciantes informais a entrar no sistema formal, passo a passo, com requisitos mínimos iniciais e benefí-

cios imediatos. Por exemplo, um simples registo via SMS poderia conceder acesso a microcrédito ou seguros básicos, incentivando a adesão sem custos significativos para o Estado.

O Gana implementou o sistema “Susu Digital”, que permite aos comerciantes informais registarem-se via telemóvel e acederem a serviços financeiros básicos. O sistema foi financiado por instituições financeiras privadas que beneficiam da expansão da sua base de clientes.

Expansão da Bancarização Rural através de Soluções Digitais. A baixa taxa de bancarização nas áreas rurais de Moçambique limita o acesso ao crédito, dificulta poupanças seguras e restringe o crescimento económico. A digitalização oferece soluções inovadoras para expandir serviços financeiros a áreas remotas sem a necessidade de infra-estruturas bancárias tradicionais dispendiosas.

2. Estratégias de Baixo Custo para Bancarização Rural Parcerias com Operadoras de Telecomunicações O Governo pode estabelecer parcerias estratégicas com operadoras de telecomunicações para expandir serviços de dinheiro móvel em áreas rurais. Estas parcerias podem incluir incentivos regulatórios em vez de subsídios directos, como licenças de espectro preferenciais em troca de compromissos de expansão rural.

A Tanzânia expandiu significativamente a inclusão financeira rural através de parcerias com operadoras móveis, oferecendo incentivos regulatórios para a expansão da cobertura em áreas rurais. Como resultado, a taxa de inclusão financeira aumentou de 16% para 65% em menos de uma década, sem investimento directo significativo do Governo.

Agentes Bancários Digitais O modelo de agente bancário, onde comerciantes locais actuam como pontos de acesso a serviços financeiros básicos, pode ser expandido através de aplicações móveis simples. O Governo pode facilitar este processo através de regulamentação adequada, sem necessidade de investimento directo.

O Brasil expandiu significativamente a sua rede de agentes bancários em áreas rurais através de regulamentação favorável, permitindo que pequenos comerciantes oferecessem serviços bancários básicos. O modelo não exigiu investimento governamental directo e aumentou a inclusão financeira em áreas remotas. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Blockchain para Microfinanças Rurais Plataformas baseadas em blockchain podem facilitar micro empréstimos peer-to-peer para agricultores e empreendedores rurais, contornando a necessidade de infra-estrutura bancária tradicional. O papel do Governo seria principalmente regulatório, garantindo a protecção dos consumidores sem investimento directo.

O Uganda implementou a plataforma “Agriledger”, para ligar pequenos agricultores a financiadores e compradores. O sistema foi desenvolvido por uma empresa privada com apoio regulatório do Governo, sem custos significativos para o erário público.

C. Modelos de Financiamento Alternativos 1. Parcerias Público-Privadas (PPP) baseadas em Resultados.

Em vez de investimento inicial, o Governo pode estabelecer contratos de PPP onde os parceiros privados investem na infra-estrutura digital e são remunerados com base em resultados predefinidos, como o número de registos formalizados ou contas bancárias rurais abertas. O Ruanda utilizou este modelo para digitalizar o seu sistema de registo empresarial, com o parceiro privado a receber pagamentos baseados no aumento da base tributária resultante da formalização, tornando o projecto autofinanciável.

2. Financiamento de Impacto e Doadores Internacionais Projectos de digitalização com impacto social claro podem atrair financiamento de impacto e apoio de doadores internacionais. O Governo pode actuar como facilitador, criando um ambiente regulatório favorável e coordenando esforços sem contribuição financeira directa.

O Maláui atraiu financiamento do Banco Mundial e de investidores de impacto para o seu programa de identidade digital, que foi implementado sem pressão significativa sobre o orçamento nacional.

3. Modelos de Receita Partilhada Sistemas digitais podem ser financiados através de modelos de receita partilhada, onde os promotores recebem uma pequena percentagem das transacções ou benefícios gerados pelo sistema. A Zâmbia implementou um sistema de pagamento de impostos digitais onde a empresa tecnológica recebe uma pequena percentagem da receita adicional gerada, tornando o sistema autofinanciável e alinhando incentivos para a eficiência.

D. Como fazer? - Implementação Faseada e Escalável Projectos-Piloto Localizados Iniciar com projetos-piloto em áreas espewww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

cíficas permite testar abordagens com investimento mínimo antes de expandir. Estes pilotos podem ser financiados por parceiros de desenvolvimento ou empresas privadas interessadas em demonstrar a viabilidade das soluções. O Benim implementou um sistema-piloto de identidade digital em uma província antes da expansão nacional, reduzindo riscos e custos iniciais.

Abordagem Modular Desenvolver sistemas em módulos independentes, mas interoperáveis, permite uma implementação gradual de acordo coim o financiamento disponível, em vez de grandes investimentos iniciais. A Estónia, frequentemente citada como caso de sucesso em “e-governance”, desenvolveu o seu sistema digital de forma modular ao longo de mais de uma década, permitindo que cada componente gerasse valor antes do investimento no próximo.

E. Como se paga? O Retorno do Investimento em Digitalização O investimento em digitalização apresenta um retorno considerável a médio e lon-

Investir na digitalização permite ao País ultrapassar grandes desafios estruturais go prazo. Estudos do Banco Mundial indicam que países que investiram significativamente em infra-estruturas digitais e serviços públicos electrónicos registaram melhorias substanciais na eficiência governamental e no crescimento económico.

A Estónia estima que o seu sistema de assinatura digital poupa anualmente o equivalente a 2% do PIB. Em Moçambique, onde a ineficiência administrativa representa um custo significativo para a economia, o potencial de poupança através da digitalização é substancial.

Conclusão As potenciais aplicações são vastas. Nenhum sector de actividade está aquém desta transformação e a única limitação à sua aplicação é a nossa própria imaginação. Imaginemos a simplificação do processo de inscrição de matrículas das nossas crianças e o registo digital de todo o seu desempenho até à faculdade. Imaginemos a actualização instantânea do currículo nacional e a adopção do melhor conteúdo disponível. Imaginemos todo o processo de licenciamento e de registo

do que quer que seja numa cadeia de blockchain impenetrável à duplicidade e falsificação: tal poderia aliviar os nossos tribunais e trazer confiança ao nosso sistema. Imaginemos os nossos produtores de milho, caju, chá ou algodão poderem oferecer rastreabilidade e comprovativos de qualidade dos seus produtos, poderem aceder a informação em tempo real dos preços nos mercados e libertarem-se dos cartéis que mantêm os seus preços baixos, como aconteceu no Quénia com a plataforma M-Farm.

Não será um processo fácil, sobretudo porque requer uma mudança de mentalidade e a quebra de alguns tabus com a potencial redução de emprego num país onde o emprego já é escasso. Mas a principal constatação que precisamos de ter em conta é que, depois de o génio ser libertado da lâmpada, não há como voltar a colocá-lo lá dentro. E ao invés de resistirmos aos eventuais impactos que a digitalização poderá trazer, devemos abraçar a sua inevitabilidade e a contribuição que pode dar para reduzirmos (e fazê-lo ainda mais rápido) o fosso que temos para os países mais desenvolvidos.

A transformação digital não é informatização; não se trata de disseminar o uso de computadores, mas sim de mudar todo um processo, trata-se de um cultura e forma de interacção do Estado com o cidadão. Representa uma oportunidade para a nossa economia com potencial para melhorar a eficiência governamental, reduzir a corrupção, atrair investimento estrangeiro e estimular o crescimento económico inclusivo. A experiência de países como a Tanzânia, Zâmbia, Camboja e Gana oferece lições valiosas sobre como implementar soluções digitais de forma eficaz e sustentável, mesmo em contextos de recursos limitados.

Para concretizar este potencial, é necessário um compromisso político forte, parcerias estratégicas com o sector privado e a comunidade internacional e um plano de implementação faseado que considere o nosso contexto. Ao investir na digitalização, Moçambique pode ultrapassar alguns dos seus desafios estruturais E posicionar-se como um líder regional em inovação digital, criando uma economia mais resiliente, transparente e inclusiva para todos os moçambicanos.

A jornada para a digitalização é um desafio, mas também uma oportunidade.

Ao abraçarmos esta transformação, estaremos a moldar um futuro mais próspero para Moçambique e a garantir que as gerações futuras possam beneficiar de um ambiente de negócios mais eficiente e inclusivo.

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NAÇÃO | e-GOVERNMENT

A Difícil Transição Para um Governo Digital Apesar dos avanços tecnológicos, Moçambique ainda enfrenta grandes dificuldades para implementar um modelo eficiente de “e-government” (governação electrónica). A dependência do papel e do carimbo são sinal da burocracia excessiva, ao lado da corrupção. O acesso aos serviços públicos é lento e desigual. A informatização avança de forma fragmentada, com pouca integração entre instituições e com impacto limitado na vida dos cidadãos.

Será que o País está pronto para abandonar a era do papel e adoptar um governo verdadeiramente digital?

Texto Celso Chambisso e Nário Sixpene • Fotografia Istockphoto

NAÇÃO | e-GOVERNMENT

N

o universo das instituições públicas moçambicanas, o carimbo continua a reinar de forma absoluta. A sua ausência pode transformar um documento oficial num simples pedaço de papel, sem qualquer valor. O carimbo dita o ritmo da máquina burocrática do Estado. Esta dependência de processos físicos, marcada por pilhas intermináveis de dossiês e pela necessidade de assinaturas à mão em cada etapa, reflecte a lenta transição do País para um modelo de governo electrónico. A informatização avança com passos tímidos, travada por uma cultura institucional resistente à mudança e por infra-estruturas tecnológicas aquém do necessário para garantir serviços públicos céleres e acessíveis.

A burocracia, um dos traços mais enraizados na administração pública moçambicana, atrasa processos e alimenta um ambiente propício à corrupção. A multiplicação de exigências documentais e a falta de transparência na tramitação de processos criam brechas para a negociação de "atalhos" e favores, distorcendo o funcionamento normal da máquina do Estado. Num ambiente onde a celeridade pode ser comprada, o cidadão comum é forçado a circular por um labirinto de repartições e exigências que dificultam o acesso a serviços básicos, minando a confiança nas instituições.

Embora Moçambique tenha adoptado algumas iniciativas, como plataformas electrónicas para registos e pagamentos, os benefícios são limitados. Muitos recebem pagamentos por baixo da mesa e resistem à mudança: lutam pela manutenção de um carimbo que lhes permite ganhar dinheiro, cobrando favores. A modernização do Estado exige investimentos em infra-estrutura digital e uma mudança de mentalidade na gestão pública, priorizando a eficiência, a transparência e a prestação de serviços acessíveis a todos.

Só 20% da população tem Internet O acesso à Internet em Moçambique continua a ser um problema: os últimos dados do site Data Reportal e do Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM) indicam que só um quinto dos 33 milhões de habitantes têm ligação à rede mundial.

Se compararmos estes números com os dos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), as lacunas tornam-se ainda mais evidentes. Na África do Sul, por exemplo, o acesso à Internet chega a cerca de 78% da população, enquanto no Botsuana ultrapas-

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sa os 66% e na Namíbia atinge os 55%. Estes países demonstram que, com investimentos estruturados, políticas assertivas e maior empenho estatal, a inclusão digital pode ser uma realidade. Diante deste cenário, pode-se questionar a ausência de uma estratégia para a informatização no Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE). O documento, que define as principais prioridades governamentais, não faz qualquer menção a despesas públicas destinadas à transição digital dos serviços. Esta omissão lança dúvidas sobre o real empenho do Governo em acelerar a transformação e garantir que o acesso à Internet não continue a ser um privilégio restrito a uma minoria da população moçambicana e que seja mais inclusivo no meio rural e urbano.

Faltam leis sobre identidade e assinaturas digitais, por exemplo, necessárias para conferir validade jurídica aos documentos electrónicos

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quadro de interoperabilidade do governo electrónico, o Regulamento do Sistema de Certificação Digital de Moçambique (SCDM) e a Política e Estratégia Nacional de Segurança Cibernética. Falta implementá-las.

Falta empenho nas reformas

O sucesso do "e-government" também está ancorado à expansão da fibra óptica

Ainda falta quase tudo Bruno Dias, parceiro de consultoria (“consulting partner”) da Ernst & Young (EY) Moçambique, acompanha o processo de transição digital em Moçambique e aponta problemas de base: a falta de uma infra-estrutura adequada para acesso à Internet. A situação agrava-se com a dimensão do País, que amplia o fosso entre o meio rural e urbano. Os problemas de inclusão digital são ainda maiores e afectam todo um ecossistema que se possa planear. “Este vector está intimamente relacionado com a protecção de dados e a segurança cibernética, que são preocupações críticas, especialmente em relação à privacidade dos cidadãos”, defendeu. Outro problema é a escassez de profissionais qualificados www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

para gerir e operar sistemas ligados à governação electrónica, o que constitui um grande obstáculo, ao qual se acrescenta “a natural resistência à mudança."

Por outro lado, no que se refere às questões regulatórias, Bruno Dias fala da ausência de um quadro legal claro e actualizado, o que cria incertezas e problemas na implementação de iniciativas inovadoras. Faltam leis sobre identidade e assinaturas digitais, por exemplo, necessárias para conferir validade jurídica aos documentos electrónicos. Ainda assim, Bruno Dias reconhece alguns avanços registados nos últimos anos. O Governo e o Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC) têm publicado legislação importante como o regulamento do

A transformação digital dependerá da capacidade de “reformar e inovar”. Não se trata apenas de introduzir sistemas informáticos e dar formação, diz Rogério Samo Gudo, um dos responsáveis pela MCNet, entidade implementadora da Janela Única Electrónica (JUE).

A plataforma foi criada há 15 anos para facilitar o comércio internacional, integrada no topo de uma reforma. Ou seja, é a face visível de um processo mais profundo.

Samo Gudo entende que o Estado se distrai com hardware, em vez de delegar essa tarefa em quem percebe do assunto e preocupar-se com a sua função, o poder de fazer reformas. “Não faz sentido que o Estado se preocupe com cabos, servidores e hardware. Há uma necessidade urgente de desmaterializar processos e dar atenção à modernização, mental e operacional, das instituições”.

“Um exemplo: o Estado precisa mesmo de um ‘data center’ próprio? O que é necessário é garantir a segurança das transacções e a eficiência nos processos”. A infra-estrutura tecnológica – acima da rede base pública de acesso à Internet e energia – deveria ser “responsabilidade do sector privado, que tem experiência e capacidade para geri-la de forma eficiente."

Resultado: o Estado perde tempo e dinheiro, em servidores e maquinaria que exigem “actualização tecnológica, um processo oneroso e que não está dentro do seu papel”, mas que deveria estar nas mãos de privados – como acontece noutras geografias.

Samo Gudo apresenta outro exemplo, a operadora móvel Tmcel. “Porque é que precisa de ser uma empresa estatal? O Estado regula o mercado e, ao mesmo tempo, compete nele, o que gera um conflito de interesses. Esta dualidade compromete a eficiência e a competitividade do sector”. E reiterou: “O Estado deve ser um facilitador, não um entrave."

Resistência vs vontade política Sem vontade política, a resistência à mudança acabará por vencer, sugere Samo Gudo. “Devem existir políticas e decretos que obriguem à adopção de novas práticas." Ao mesmo tempo, considera fundamental que haja uma forte

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QUAIS OS SERVIÇOS DIGITALIZADOS E PORQUE FALHAM? Em Moçambique, já foram criadas soluções digitais para quase todas as áreas de serviços públicos, mas, paradoxalmente, persistem desafios significativos INSTITUTO NACIONAL DE SEGURANÇA SOCIAL

ENERGIA E ÁGUA

• Digitalização O INSS tem plataformas online para consulta e pagamento de contribuições, mas ainda não há uma cobertura completa.

• Problemas: O registo de contribuições nem sempre é eficiente e há dificuldades para os cidadãos acederem aos seus direitos.

• Digitalização A Electricidade de Moçambique (EDM) permite pagamentos via mobile banking, mas o serviço de pedidos online ainda tem falhas.

• Problemas: Já existem plataformas tecnológicas para ligações de energia e água, mas o processo é, geralmente, lento e disfuncional.

REGISTO CIVIL E IDENTIFICAÇÃO

ALFÂNDEGAS E COMÉRCIO EXTERNO

• Digitalização Existe um sistema online para agendamento e emissão dos documentos, mas a cobertura é limitada e a infra-estrutura é fraca.

• Problemas: Longas filas para obtenção do BI, registo de nascimento, óbito e casamento. Há atrasos na emissão de documentos.

• Digitalização Existe o sistema Janela Única Electrónica (JUE), mas o uso é complexo e ainda há necessidade de interacção física nos processos.

• Problemas: O despacho aduaneiro é lento, há falta de transparência e, muitas vezes, os utentes deparam-se com custos adicionais inesperados.

ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA

SERVIÇOS MUNICIPAIS

• Digitalização A Autoridade Tributária tem plataformas como o e-tributação e o e-CAF (Conta Única de Contribuinte), mas regista problemas técnicos frequentes.

• Problemas: O pagamento de impostos e taxas requer, muitas vezes, a presença física.

• Digitalização Algumas autarquias introduziram plataformas para pagamento de serviços, mas a adesão ainda é baixa e com dificuldades técnicas.

• Problemas: Pagamentos de taxas, licenças de construção e saneamento ainda são processos muito morosos e sujeitos a corrupção.

TRANSPORTE E MOBILIDADE URBANA

JUSTIÇA E REGISTOS NOTARIAIS

SAÚDE

• Digitalização Serviços como a marcação de exames de condução foram informatizados, mas ainda são ineficientes devido a falhas no sistema e à corrupção.

• Problemas: O licenciamento de viaturas, obtenção de cartas de condução e registo de veículos são demorados.

• Digitalização O registo comercial pode ser feito online, mas a plataforma (utente. srn.gov.mz) é pouco funcional e exige presença física em algumas etapas.

• Problemas: O acesso a processos judiciais é moroso e os registos comerciais e notariais são burocráticos.

• Digitalização Algumas unidades introduziram sistemas electrónicos para marcação de consultas e prontuários digitais, mas a cobertura é limitada.

• Problemas: Os processos são manuais, é difícil agendar consultas e exames e há demora nos registos médicos.

FONTE Informação recolhida pela E&M a partir de depoimentos apresentados por cidadãos, empresas e especialistas em matérias de e-governance

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www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

O País é desafiado a apostar em centros de dados modernos e na cibersergurança

componente de formação para a mudança, “para que as pessoas percebam que esta transição acontece em todo o mundo. O medo de perder a rotina é um dos maiores desafios” e tem de ser desconstruído para a inovação digital se instalar como uma reforma e não como um software descartável.

Samo Gudo chega a pôr o “dedo na ferida” ao afirmar que “a falta de vontade política é um entrave." E argumenta: “Na Janela Única Electrónica sentimos que poderíamos ter feito muito mais para integrar outros ministérios envolvidos na cadeia de importação e exportação.

Ou integrá-los na vertente de comércio, onde há um grande potencial, já que a maioria dos ministérios tem uma vertente económica”. Mas tal não aconteceu e perdeu-se a oportunidade de maximizar a eficiência.

“Se todos os ministérios com vertente económica estiverem dentro de uma plataforma digital, um governo electrónico estará implementado a cerca de 80%. Isto significa que a circulação de processos pode tornar-se digital, eliminando o papel, assinaturas físicas e transacções desnecessárias. O resultado disso seria uma base de dados robusta, que permitiria fazer análises responsáveis e www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

“Não faz sentido que o Estado se preocupe com cabos, servidores e hardware. Há uma necessidade urgente de desmaterializar processos e dar atenção à modernização, mental e operacional, das instituições”, Rogério Samo Gudo

detalhadas e uma planificação económica mais eficaz”, indicou.

Desconexão institucional Segundo Samo Gudo, a maior parte das entidades responsáveis pela transição digital opera de forma isolada. “Já tivemos encontros com ministros, incluindo titulares das áreas de comunicação e transformação digital, e há uma intenção de unificar tudo sob uma única estrutura”. Se assim for, tal vai garantir “uma maior coerência na implementação das políticas”, referiu.

"A dispersão é um problema. Já foram realizados investimentos em diversas plataformas digitais, mas é necessário adoptar padrões internacionais e exigir certificações de segurança, comuns a todos os serviços. Se, por exemplo, um candidato a um emprego tem de provar a qualificação através de certificações, porque é que o Estado não exige o mesmo para todos os sistemas?"

Apesar das críticas, há esperança. Samo Gudo acredita que a postura do novo Governo estará mais focada na transição digital – a avaliar, entre outros aspectos, pela criação de um Ministério voltado para a transformação digital. Esperemos para ver.

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NAÇÃO | e-GOVERNANCE

Processos Resolvidos “Online”? Só se For ao Balcão Da electricidade à banca, vários serviços prometem celeridade com novas plataformas online. Mas a realidade mostra que os sistemas falham e acabam por obrigar os utilizadores a várias horas em filas Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.

E

stamos no bairro de Intaka, município da Matola, nos subúrbios da capital, Maputo. Sérgio Tembe mudou-se para uma casa nova e tem de requisitar uma ligação à rede eléctrica, junto da empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM). Tentou registar-se no portal criado para o efeito, mas funciona muito lentamente. Depois de várias tentativas, o sistema deixou de processar o pedido, obrigando-o a dirigir-se pessoalmente a um balcão da EDM. Teve de esperar numa longa fila. Só teve electricidade passadas duas semanas.

Amélia Nhantumbo, dona de uma mercearia, reclama da burocracia nos bancos. “Abertura de conta online? Sim, mas depois temos de ir a uma agência para activá-la. Deveria ser totalmente digital”, refere.

José Artur, também comerciante, tem outros relatos de descontentamento. “Às vezes, vou ao banco para pagar impostos e sou informado de que não há sistema.

Obrigam-me a voltar noutro dia, a perder tempo e dinheiro.”

A Autoridade Tributária também criou plataformas online, mas os cidadãos queixam-se. “Fiz a minha declaração no portal e, mesmo assim, pediram-me para levar cópias físicas. Parece que

o sistema não comunica internamente”, relatou Ricardo Mondlane, contabilista.

A Electro Gulamo, uma empresa sediada em Lichinga, capital da província do Niassa, especializada em construção civil, instalação e manutenção de equipamentos eléctricos, utiliza com frequência o Sistema de Informação da Segurança Social de Moçambique (SISSMO), criado em 2011.

Apesar de ser fácil de usar e evitar muitas deslocações para tratar dos assuntos do dia-a-dia, Aly Issufo Gulamo, dono da empresa, queixa-se de problemas estruturais. É frequente surgirem falhas no sistema e haver demora na aprovação de despachos pedidos pela via online. Problemas que “acabam por prejudicar o funcionamento da empresa.”

Demoras da justiça e dos notários A jurista Vânia Cavel, baseada em Maputo, conhece as dificuldades de utilização dos serviços notariais e toda a burocracia que rodeia os processos judiciais.

Dá o exemplo de quem decide formalizar um pequeno negócio, mas depara-se com falhas no portal de registo comercial. A situação obriga os requerentes a dirigirem-se pessoalmente às conservatórias. “Enfrentam filas intermináveis. Às vezes, só para descobrir, no fim da espera, que falta um documento que

A Autoridade Tributária também tem tentado simplificar os processos com plataformas online para a declaração e pagamento de impostos, mas os cidadãos ainda enfrentam dificuldades

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não constava na lista online” e terão de voltar para a fila no dia seguinte. “Perde-se muito tempo, a ir e voltar, para tratar de um expediente que poderia ser resolvido com brevidade”, na Internet, de forma automática, como já acontece noutras partes do mundo.

Outro exemplo diz respeito a processos de disputa de terras. Vânia Cavel está a prestar assistência a uma viúva que luta há mais de dois anos para ter a posse de terras deixadas pelo marido. O caso deveria ser simples, mas arrasta-se nos tribunais devido à dificuldade em encontrar o processo. Cada vez que se desloca ao tribunal, recebe informações diwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

ferentes, que mostram como a informatização da justiça é ainda uma miragem.

Sinais positivos de mudança Nem tudo corre mal na transição digital em Moçambique. Para José Matavel, estudante universitário, a possibilidade de agendamento online para obter o Bilhete de Identidade foi uma grande melhoria: “Antes, era necessário madrugar e enfrentar longas filas. Agora, marco e sou atendido no horário indicado.”

No entanto, “se houver alguma inconformidade nos documentos, ainda precisamos de resolver tudo presencialmente.”

Júlia Cossa renovou a carta de condução e concorda: “O processo ficou mais rápido, mas os sistemas caem com frequência. Se tivermos um problema no dia da marcação, temos de voltar várias vezes.”

Mobilidade e pagamentos fáceis

Enchentes nos balcões de atendimento público são a prova da fraca informatização de serviços

ALY GULAMO

VÂNIA CAVEL

Empresário

Jurista

O Sistema de Informação da Segurança Social de Moçambique (SISSMO) é fácil de usar e evita muitas deslocações, mas há problemas estruturais: “falhas no sistema e demora na aprovação de despachos.”

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

“Perde-se muito tempo, a ir e voltar, para tratar de um expediente que poderia ser resolvido com brevidade”, na Internet, de forma automática, como já acontece noutras partes do mundo.

Ao lado de serviços públicos que funcionam mal, há serviços digitais em que todos confiam diariamente. As carteiras móveis são um exemplo. M-Pesa, e-Mola e Mkesh mudaram o acesso ao dinheiro, permitindo transferências e pagamentos sem necessidade de bancos.

“Pago contas, envio dinheiro para a família e até compro créditos de telefone pelo M-Pesa. Simplificou a vida de muita gente”, diz Sara Gove, uma dona de casa.

Outro exemplo de eficiência é a aplicação de mobilidade Yango, que permite pedir um carro pelo telemóvel. “Os transportes são um caos em Maputo, mas com o Yango consigo chegar ao trabalho sem perder tempo”, afirma Edson Machava, estudante de engenharia.

Edson mostra outro serviço que considera de grande utilidade: os alertas meteorológicos. “Através de mensagens de texto somos avisados sobre condições climáticas extremas, o que dá maior segurança às famílias”, apontou.

Os exemplos apresentados mostram que, apesar dos avanços na digitalização dos serviços em Moçambique, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir eficiência, acessibilidade e fiabilidade dos sistemas. Enquanto algumas plataformas melhoram a vida dos cidadãos e reduzem burocracias, muitas ainda apresentam falhas que obrigam ao recurso presencial, anulando os benefícios esperados.

Para que a transição digital seja plena, é essencial que haja investimentos em infra-estrutura tecnológica robusta, melhorias na interoperabilidade entre os diferentes serviços e garantias de que os cidadãos possam confiar plenamente nas soluções digitais.

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NAÇÃO | e-GOVERNANCE

Digitalização: Uma Promessa Distante?

Num país onde os registos em papel ainda dominam e os serviços digitais falham em eficiência, como denuncia o Centro de Integridade Pública (CIP), poderá o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) acelerar a transformação?

Texto Nário Sixpene & Celso Chambisso • Fotografia D.R.

O

Centro de Integridade Pública (CIP), organização não-governamental (ONG) focada na promoção da transparência, combate à corrupção e integridade, queixa-se da “limitada” relação entre o cidadão e o Governo através das plataformas digitais, apontando a baixa taxa de acesso à Internet como causa central. Prova disso, segundo o CIP, é que o País continua na lista dos que apresentam as piores estatísticas da região em termos de conectividade, com muitas pessoas sem qualquer tipo de acesso à Internet.

Outras até conseguem ter ligação à rede mundial, mas de forma intermitente e, muitas vezes, restrita ao ambiente de trabalho. Para o director executivo do CIP, Edson Cortez, “esta realidade reduz drasticamente a utilidade das plataformas digitais governamentais. Além disso, o custo elevado da Internet continua a ser um factor limitante, que torna a digitalização da administração pública numa promessa distante.”

Informação imprecisa Edson Cortez entende que a situação é tão negativa que, mesmo quando as plataformas estão disponíveis, impõem-se outros desafios estruturais. “Um dos problemas mais evidentes é a falta de actualização dos portais governamentais, sem reflectir mudanças administrativas e sem partilhar informações relevantes

com os cidadãos. Nalguns casos, os sites ainda exibem nomes de titulares de cargos que já cessaram funções”, evidenciando falhas na mais simples gestão e manutenção de informação.

Outro problema apontado pelo CIP é a falta de padronização no uso de emails institucionais. “É comum que altos funcionários do Governo utilizem emails pessoais, no Gmail ou Yahoo, para tratar de assuntos oficiais. Isto gera graves riscos em termos de segurança, pois, quando estes funcionários deixam os seus cargos, grande parte do acervo de comunicações e documentos relevantes perdem-se, já que os arquivos não ficam armazenados nos servidores do Governo.

Lacunas na protecção de dados Além da ineficiência das plataformas digitais, há uma grande lacuna na protecção e gestão de dados no sector público. “Nos hospitais, por exemplo, os dados dos pacientes são frequentemente anotados em papel, sem qualquer sistema informatizado que garanta a preservação e o acesso eficiente à informação médica. Este problema repete-se em esquadras de polícia, onde os registos de ocorrências criminais ainda são feitos à mão, tornando a gestão da segurança pública menos eficaz”, criticou.

Para o CIP, este conjunto de problemas decorre, em parte, da falta de visão sobre as reais necessidades do País. “Em vez de se investir na digitalização e mo-

dernização dos serviços públicos, o Estado foca-se excessivamente em benefícios e regalias para os dirigentes políticos.

O Orçamento do Estado reserva grandes montantes para aquisição de veículos de luxo para ministros e outros titulares de cargos públicos, enquanto a falta de investimentos básicos em infra-estrutura digital persiste. O montante gasto em viaturas protocolares poderia equipar esquadras e hospitais com computadores, criar redes internas e melhorar a gestão dos serviços essenciais”, observou o activista.

Um panorama geral desfavorável Com todos os problemas expostos, Edson Cortez não tem dúvida de que a informatização dos serviços públicos, em Moçambique, ainda é uma utopia. A maioria da população nem sequer tem acesso a computadores ao longo da vida. Em muitas regiões do País, os estudantes concluem o ensino secundário sem nunca ter utilizado um computador. O fosso digital entre áreas urbanas e rurais é enorme, tornando inviável qualquer estratégia de governação electrónica que não venha acompanhada de um plano abrangente de inclusão digital.

Cortez acrescenta que as poucas iniciativas existentes, como o agendamento online de emissão de passaportes e bilhetes de identidade, ainda são limitadas. Mesmo nestes casos, há dificuldades de implementação e o serviço nem sempre funciona.

Que saídas para um futuro digital?

“Um dos problemas é a falta de actualização dos portais governamentais. Em alguns casos, os sites ainda exibem nomes de titulares de cargos que já cessaram funções”, Edson Cortez, CIP

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Além da correcção das prioridades nos gastos públicos, investindo em infra-estrutura digital e reduzindo, por exemplo, os privilégios concedidos a líderes políticos, o CIP sugere a massificação do acesso à Internet, estimulando a redução do preço. “Com uma conectividade mais acessível e estável, seria possível facilitar www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

A transformação digital do País passa por equipar a educação com meios informáticos

o acesso a serviços públicos e aumentar a participação dos cidadãos no acompanhamento da governação”, defendeu. A criação de redes internas para instituições públicas, o uso padronizado de emails institucionais e a informatização dos registos administrativos são também medidas básicas que deveriam ser implementadas de imediato.

O peso do “Plano Mattei” Reconhecendo todos os problemas levantados pelo CIP, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com financiamento do Governo italiano, decidiu dar uma resposta. O PNUD está a implementar o projecto “Digital Flagship for Africa” que abrange Senegal, Costa do Marfim, Gana e Moçambique.

Para o País, estão reservados 100 milhões de dólares. O dinheiro deverá financiar incubadoras tecnológicas, “startups” e informatização dos serviços www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

públicos, reduzindo as desigualdade e capacitando instituições locais. A iniciativa também prevê suporte financeiro e técnico a entidades envolvidas na transformação digital, como o Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique (INCM).

O INCM tem desenvolvido projectos de acesso a Internet gratuita (praças digitais, Internet nas escolas, bibliotecas digitais), Televisão Digital Terrestre (TDT) para comunidades rurais e expansão da rede móvel, entre outros. Grande parte destas iniciativas conta com o financiamento do Fundo do Serviço de Acesso Universal (FSAU).

O compromisso do Estado Pretende-se que o “Plano Mattei”, entre outras iniciativas semelhantes, esteja alinhado com compromissos do Presidente Daniel Chapo para acelerar a digitalização dos serviços públicos, visando reduzir a corrupção e melhorar a eficiência administrativa. Para isso, foram

criadas entidades específicas, como o Ministério das Comunicações e Transformação Digital, a Agência de Modernização Administrativa do Estado e o Gabinete de Coordenação de Reformas e Projectos Estratégicos do Governo.

A digitalização em Moçambique continua a ser um desafio marcado por desigualdades no acesso, infra-estrutura deficiente e uma administração pública ainda dependente de processos manuais. Contudo, iniciativas como a do PNUD podem representar um ponto de viragem ao impulsionar investimentos e promover soluções inovadoras para um ecossistema digital mais eficiente e inclusivo.

Resta saber se os esforços em curso serão suficientes para transformar esta promessa distante numa realidade tangível, garantindo que a tecnologia se torne, de facto, um instrumento de desenvolvimento acessível a todos os moçambicanos.

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A Transformação Digital em Moçambique: Desafios e Oportunidades Joel Almeida • Founding Partner, of Forvis Mazars joel.almeida@forvismazars.com

A

era digital trouxe consigo uma série de mudanças e inovações que têm influenciado todos os sectores da sociedade. Uma dessas mudanças é o conceito de "e-Governance”, que se refere à utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC) para melhorar a eficiência e a transparência da administração pública. Em Moçambique, a digitalização tem ganhado destaque como uma estratégia essencial para o desenvolvimento sustentável e a modernização do País. Este artigo pretende explorar os desafios e as oportunidades que a "e-Governance" e a digitalização trazem para Moçambique.

A Importância da "e-Governance"

A "e-Governance" também tem o potencial de promover a inclusão social, garantindo que todos os cidadãos tenham acesso a serviços públicos de qualidade

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A "e-Governance", ou governança electrónica, é fundamental para a criação de um Governo mais eficiente, transparente e acessível. Esta abordagem permite que os cidadãos tenham acesso a serviços públicos de maneira rápida e conveniente, promovendo a inclusão digital e reduzindo as barreiras burocráticas. Em países em desenvolvimento como Moçambique, a implementação de "e-Governance" pode ser um motor de transformação, melhorando a prestação de serviços essenciais como saúde, educação e finanças.

Transparência e Combate à Corrupção Um dos maiores benefícios da "e-Governance" é a transparência que ela pode proporcionar. Ao digitalizar processos e tornar informações públicas acessíveis online, torna-se mais fácil monitorizar e auditar as acções das entidades. Isso reduz as oportunidades de corrupção e aumenta a confiança dos cidadãos nas instituições. Em Moçambique, que tem enfrentado vários desafios, a "e-Governance" pode ser uma ferramenta poderosa para promover a integridade e a responsabilidade na administração pública.

Eficiência e Redução de Custos A digitalização dos serviços públicos pode levar a uma maior eficiência e redução de custos. Processos que antes eram realizados manualmente podem ser automatizados, economizando tempo e recursos tanto para o Governo quanto para os cidadãos. Em Moçambique, onde os recursos são frequentemente limitados, a "e-Governance" pode ajudar a optimizar a utilização desses recursos, melhorando a qualidade dos serviços prestados e liberando fundos para outras áreas prioritárias.

Desafios da Digitalização Apesar dos muitos benefícios potenciais, a implementação da "e-Governance" em Moçambique enfrenta vários desafios. A infra-estrutura tecnológica do País ainda é limitada, especialmente nas áreas rurais, onde o acesso à Internet e a dispositivos digitais é escasso. Além disso, há uma necessidade de capacitação e alfabetização digital, tanto para os funcionários públicos quanto para a população em geral.

Infra-estrutura Tecnológica Para que a "e-Governance" seja eficaz, é essencial que haja uma infra-estrutura tecnológica robusta. Isto inclui acesso à Internet de alta velocidade, dispositivos adequados e sistemas de segurança cibernética. Em Moçambique, o desenvolvimento dessa infra-estrutura é uma prioridade, mas ainda há muito a ser feito. Investimentos significativos são necessários para expandir a conectividade, especialmente nas regiões mais remotas, garantindo que todos os cidadãos possam beneficiar dos serviços digitais.

Capacitação e Alfabetização Digital A transformação digital requer que os cidadãos e os funcionários públicos tenham as habilidades necessárias pawww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Para que a "e-Governance" seja eficaz, é essencial que haja uma infra-estrutura tecnológica robusta

ra utilizar as tecnologias de forma eficaz. Em Moçambique, há uma necessidade urgente de programas de capacitação e alfabetização digital que possam preparar a população para a era digital. Isso inclui não apenas a formação em competências técnicas, mas também a consciencialização sobre a importância da segurança e da privacidade online.

Oportunidades para o Futuro Apesar dos desafios, a digitalização oferece inúmeras oportunidades para Moçambique. Com um plano estratégico bem definido e investimentos adequados, o País pode fazer grandes avanços na implementação da "e-Governance". Isto não só melhorará a eficiência e a transparência do Governo, como também impulsionará o desenvolvimento económico e social, criando um ambiente mais inclusivo e inovador. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Inovação e Empreendedorismo A digitalização pode ser um catalisador para a inovação e o empreendedorismo em Moçambique. Com um ecossistema digital robusto, as empresas podem desenvolver novos produtos e serviços, criando empregos e estimulando o crescimento económico. Além disso, a "e-Governance" pode facilitar o acesso a informações e recursos, apoiando os empreendedores na superação de desafios e na exploração de novas oportunidades de mercado.

Inclusão Social A "e-Governance" também tem o potencial de promover a inclusão social, garantindo que todos os cidadãos, independentemente da sua localização ou status socioeconómico, tenham acesso a serviços públicos de qualidade. Tal é particularmente importante em Moçambique, onde as disparidades entre

as áreas urbanas e rurais são significativas. A digitalização pode ajudar a reduzir essas disparidades, proporcionando oportunidades iguais para todos.

Conclusão A implementação da "e-Governance" e a digitalização de Moçambique são passos essenciais para a modernização do país e para o seu desenvolvimento sustentável. Embora existam desafios significativos a serem superados, as oportunidades são vastas e promissoras. Com um compromisso firme do Governo e da sociedade, Moçambique pode transformar-se numa nação digitalmente avançada, beneficiando todos os seus cidadãos e fortalecendo a sua posição no cenário global. A era digital é uma oportunidade que Moçambique não pode perder, e a "e-Governance" é o caminho para um futuro mais eficiente, transparente e inclusivo.

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NAÇÃO | e-GOVERNANCE

O Papel das Instituições Estatais no Mundo Digital Sabe-se que o caminho rumo à implementação da governação electrónica ainda é longo. Mas o que tem sido feito pelas diferentes entidades estatais responsáveis?

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.

A

entrada de novos intervenientes no mercado tecnológico em Moçambique é um sinal positivo, num cenário em que muito está por fazer até que a governação electrónica seja comparável ao que já se faz na África Austral. Há uma “oferta de serviços de centros de dados por parte de novas empresas a emergir, que permitem estabelecer ‘clouds’ privadas, ‘hosting’ (alojamento de sites e serviços na Internet) e ‘housing’ (aluguer de um espaço físico num centro de dados para instalar servidores)”, refere Bruno Dias, parceiro de consultoria (consulting partner) da Ernst & Young (EY) Moçambique.

Esta oferta floresce ao mesmo tempo que o Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC) colocou em consulta pública o regulamento de construção, operação, registo e licenciamento de centros de dados, bem como o regulamento de registo, hospedagem e operação de serviços de computação em nuvem.

“O principal desafio neste domínio prende-se com o alargamento aos distritos rurais”, mais carenciados de infra-estruturas para integrar o ecossistema tecnológico assente na Internet. A solução pode passar pelo acesso à Internet “com tecnologias via satélite”, defende Bruno Dias.

A lista de desafios para informatizar o Estado envolve três instituições: além do INTIC, o trabalho envolve o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM) e o Instituto Nacional de Governo Electrónico (INAGE).

O papel das instituições estatais O INTIC actua na formulação e implementação de regulamentos para o uso

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seguro de novas tecnologias na administração pública. Exemplo disto é a tradicional certificação digital de documentos, com um “Assinador Digital Avançado” que o INTIC disponibiliza no seu portal. O serviço permite, a quem tem contas junto de entidades estatais, assinar documentos electronicamente – oferecendo também a função de verificação de autenticidade a quem recebe os documentos. A solução tem possibilitado a certificação de contratos e documentos jurídicos num processo integralmente online. Segundo Lourino Chemane, presidente do INTIC, a ferramenta é usada por dez instituições da função pública e a perspectiva é de crescimento.

O INCM, por sua vez, tem investido na inclusão digital através do Fundo de Serviço de Acesso Universal (FSAU) que apoio um “projecto de conectividade rural” em 10 locais nos distritos da Manhiça (província de Maputo), Macia, Chokwe (Gaza), Massinga (Inhambane), Dondo, Gorongosa (Sofala), Nicoadala (Zambézia), Ribaue, Monapo (Nampula), e Mandimba (Niassa).

Só que os resultados práticos estão muito aquém do esperado, devido à falta de uma infra-estrutura robusta. Um dos principais entraves é a limitada cobertura da rede de telecomunicações, que impede que grande parte da população tenha acesso a serviços digitais de qualidade. Apesar dos planos de expansão de fibra óptica, a distribuição é deficiente e os custos de acesso à Internet são elevados.

Identificar as fragilidades A baixa literacia digital da população agrava as dificuldades de disseminação de novos serviços electrónicos, dificultando o aproveitamento das soluções

A baixa literacia digital da população agrava as dificuldades de disseminação de novos serviços electrónicos, dificultando o aproveitamento das soluções oferecidas pelo INCM

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Há um longo caminho a percorrer do papel para o digital

oferecidas pelo INCM. Outro factor negativo é a falta de coordenação das acções com as operadoras de telecomunicações, empresas privadas e instituições de ensino, deixando pelo caminho iniciativas como o projecto “Internet nas Escolas”, lançado em Outubro de 2023, e que previa beneficiar, na primeira fase, 300 escolas com acesso a Internet de alta velocidade.

Já o INAGE tem investido em centros de dados (“data centers”) e soluções de armazenamento remoto (na “cloud”) com a intenção de garantir maior eficiência na gestão de dados e serviços digitais. O objectivo é tornar a administração pública mais ágil, transparente, acessível e segura contra ataques inforwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

máticos. Para tal, existe uma Rede Electrónica do Governo (REG), para interligar diversas instituições públicas e facilitar a troca de informações.

Apesar destas iniciativas, o INAGE ainda enfrenta a falta de cobertura de zonas rurais e a falta de formação de funcionários públicos em tecnologias emergentes. Cabe-lhe ainda actualizar a infra-estrutura para acompanhar a evolução tecnológica e garantir níveis de segurança adequados, tarefa ingrata num contexto de restrições financeiras.

A batalha pela cibersegurança Todas as instituições do Estado ligadas a iniciativas de informatização têm departamentos que respondem pela área da

cibersegurança. O INTIC garante que todas estas equipas, mesmo representando instituições distintas, coordenam-se entre si. No entanto, os portais e serviços online do Estado continuam vulneráveis a ataques.

Bruno Dias explica que “garantir a segurança cibernética é algo extremamente complexo, que dificilmente pode ser feito, porque o desenvolvimento tecnológico faz com que as ameaças sejam cada vez mais sofisticadas e difíceis de detectar”. O que existe “são diversas medidas para tentar prevenir [problemas] e, quando tal não é possível, detectar e responder o mais depressa possível, reduzindo possíveis impactos nas organizações e instituições”, acrescentou o

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BRUNO DIAS Consulting Partner da EY Moçambique

CABOS SUBMARINOS: A ESPINHA DORSAL DA CONECTIVIDADE Os cabos submarinos formam a espinha dorsal da Internet, sendo responsáveis por mais de 90% da transmissão de dados entre os países e continentes. Moçambique está ligado a diversos cabos de fibra óptica submarinos.

• SEACOM: cabo que liga a África Oriental e Meridional à Europa e Ásia, com um ponto de ancoragem em Maputo.

• Eastern Africa Submarine Cable System (EASSy): este cabo submarino liga vários países da costa oriental da África, incluindo Moçambique, proporcionando acesso a Internet de alta velocidade.

• West Africa Cable System (WACS): o traçado principal faz-se ao longo da costa ocidental da África, com ramificações que beneficiam a conectividade de países da África Austral, incluindo Moçambique.

Além dos cabos submarinos, Moçambique possui uma infraestrutura terrestre de fibra óptica que interliga diversas regiões do País, garantindo a distribuição interna de serviços de telecomunicações.

“Planos de continuidade de negócio deverão ser criados, actualizados e testados periodicamente.

O elemento humano terá de estar preparado para a situação de crise”, Bruno Dias, E&Y consultor da E&Y. Dias defende duas vertentes de acção: primeiro, uma arquitectura de sistemas que separa dados de identidade e assente em princípios “zero trust”, ou seja, em que qualquer acesso tem de ser verificado, sem nunca confiar em acessos, contextos ou permissões passadas. Tal implica que as palavras-passe sejam complementadas por “tokens” (códigos enviados para telemóveis fidelizados, fornecidos por aplicações de autenticação ou através de chaves encriptadas).

A segunda vertente assenta no princípio da “resiliência digital”. A prevenção e detecção nem sempre são possí-

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veis, por isso, é importante que as organizações simulem e estejam preparadas para a ocorrência de um incidente e consigam recuperar o mais depressa possível. “Para isso, planos de continuidade de negócio deverão ser criados, actualizados e testados periodicamente.

O elemento humano terá de estar preparado para saber o que fazer em situação de crise.

Aqui, têm um papel preponderante os planos de consciencialização e simulacros para gestão de crise – tanto ao nível da administração, numa perspectiva processual, como a nível operacional, numa perspectiva mais técnica.”

Em conclusão, as instituições estatais de Moçambique têm dado passos importantes na implementação da governação electrónica, mas ainda enfrentam desafios consideráveis, especialmente em áreas rurais e em relação à capacitação digital da população. A falta de infra-estruturas robustas, como uma rede de telecomunicações eficiente, limita o alcance dos serviços digitais, enquanto a escassez de coordenação entre as partes envolvidas compromete o sucesso de iniciativas como a “Internet nas Escolas”. A cibersegurança, embora considerada prioritária, continua a ser uma área crítica, que exige investimentos contínuos e uma abordagem estratégica robusta. Como tal, é imperativo que o Governo, juntamente com empresas e organizações internacionais, continue a reforçar a infra-estrutura tecnológica, promova a educação digital e implemente soluções de segurança mais eficazes para garantir que a governação electrónica seja acessível, eficiente e segura para todos. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

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NAÇÃO | e-GOVERNANCE ÁFRICA

Quem Avança e Quem Fica para Trás?

Em 2022, 60% da população africana não tinha acesso à Internet. São necessários investimentos contínuos em infra-estruturas. Quem está a dar conta do recado e quem está a ficar de fora?

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.

A

digitalização da economia, em África, é um processo em ascensão, mas que enfrenta uma série de problemas. Apesar do crescente acesso à Internet e da expansão das redes móveis, a África Subsaariana sofre devido a uma infra-estrutura limitada, a um alto custo de acesso e à falta de competências digitais de grande parte da população. O Índice de Desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) de 2024, publicado pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), faz um diagnóstico a 47 dos 54 países africanos com base em seis indicadores. Vamos analisar três deles.

Acesso à Internet Segundo a UIT, o crescimento do acesso à Internet está associado à popularização dos telemóveis e à expansão das redes móveis. No entanto, a infra-estrutura ainda é um grande problema.

Em áreas rurais, a falta de torres de telecomunicações e de electricidade fiá-

vel dificultam a expansão da cobertura. Por outro lado, as operadoras enfrentam altos custos de investimento. Isto faz com que a qualidade de serviço seja desigual. Há regiões com ligações lentas à Internet que nem sempre funcionam. A conectividade limitada tem impacto directo no desenvolvimento económico e social, uma vez que restringe o acesso a oportunidades de educação online, comércio digital e serviços de saúde remotos.

Preço da Internet O custo da Internet continua a ser um dos principais entraves à inclusão digital em muitos países africanos. Embora os preços tenham caído nos últimos anos, o acesso ainda atinge valores proibitivos para grande parte da população devido ao reduzido rendimento médio. Segundo dados da Aliança para a Internet Acessível (A4AI, sigla inglesa), nalguns países, o custo de 1 GB de dados móveis representa mais de 5% do rendimento mensal de uma pessoa, muito acima da recomendação das Nações Unidas, que

GRANDES DISPARIDADES ENTRE PAÍSES A UIT destaca a subida da pontuação média para África em 3,7 pontos para 50,3 em relação a 2023, numa escala de zero (sem conectividade) a 100 (conectividade óptima). Mas esta evolução esconde disparidades que revelam estagnação (ou até regressão) nalguns países

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LÍDERES DE TRANSFORMAÇÃO

PAÍSES COM PROBLEMAS

Por um lado, existem os que lideram a transformação digital, como o Quénia, com a plataforma M-Pesa, que revolucionou o sector financeiro móvel. Ou a Nigéria, com uma crescente dinâmica de startups tecnológicas. Ou ainda a África do Sul e a Líbia.

Por outro lado, encontramos o Sudão do Sul ou o Chade, onde a instabilidade política e a falta de infra-estrutura dificultam qualquer avanço no campo digital. Infelizmente, e apesar da franca evolução nos últimos tempos, Moçambique também continua neste grupo de países.

sugere que este custo não ultrapasse 2%.

Além disso, os serviços de banda larga fixa ainda são inacessíveis para muitas famílias e limitados a áreas urbanas mais desenvolvidas.

Alguns países, como Ruanda e Gana, têm adoptado estratégias para reduzir os preços através de subsídios governamentais e promoção da concorrência entre operadores. No entanto, há monopólios nalguns mercados que impedem uma redução mais acelerada dos custos. Para superar esta barreira, a UIT sugere que a regulação do sector seja mais forte, incentivando a inovação tecnológica e expandindo iniciativas de Internet gratuita ou subsidiada para comunidades carenciadas. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

PAÍSES MAIS DIGITALIZADOS Eis os melhores exemplos a seguir, com os melhores resultados de digitalização.

LÍBIA

88,1

MARROCOS

84,7

MAURÍCIAS

84,2

ÁFRICA DO SUL

83,6

ARGÉLIA

80,9

BOTSUANA

78,7

TUNÍSIA

77,2

EGIPTO

76,8

GABÃO

74,7

PAÍSES MENOS DIGITALIZADOS Infelizmente, Moçambique está entre os dez piores de África.

As áreas rurais são as menos privilegiadas em termos de infra-estrutura

GUINÉ BISSAU

36,9

SERRA LEOA

34,3

MALÁUI

33,1

MOÇAMBIQUE

32,0

RD CONGO

31,0

REP. DO CONGO

30,7

BURKINA FASO

30,1

MADAGÁSCAR

29,9

BURUNDI

24,4

CHADE

21,3

Pontuação de zero (ausência total de conectividade) a 100 pontos (conectividade óptima) FONTE Índice de Desenvolvimento das TIC 2024, União Internacional de Telecomunicações (UIT)

“Para alargar os benefícios da conectividade, governos e empresas precisam de promover programas de acesso a dispositivos mais acessíveis e expandir redes móveis para áreas remotas”, União Internacional das Telecomunicações www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Disponibilidade de telemóveis A rápida disseminação de telemóveis em África revolucionou a comunicação e o acesso a serviços essenciais.

Com mais de 80% da população ligada entre si com dispositivos móveis, muitos países africanos estão a utilizar esta infra-estrutura para impulsionar a inclusão financeira, a educação e os serviços de saúde. Por exemplo, o sucesso de sistemas de pagamento móveis como o M-Pesa, no Quénia (estendendo-se depois a outros países, como Moçambique), mostra como a tecnologia pode transformar a vida de milhões de pessoas que antes não tinham acesso a serviços bancários formais.

Noutra área, o uso de aplicações mó-

veis está a facilitar o acesso à informação agrícola para pequenos produtores, melhorando os rendimentos do sector rural.

Apesar destes avanços, persistem problemas como a falta de acesso a smartphones modernos devido ao seu custo elevado. Muitos utilizadores ainda dependem de telemóveis básicos, sem acesso à Internet, o que limita a adopção de serviços digitais avançados. “Para alargar os benefícios da conectividade móvel, governos e empresas precisam de promover programas de acesso a dispositivos mais acessíveis e expandir redes móveis para garantir cobertura de qualidade em áreas remotas”, recomenda a UIT.

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NAÇÃO | DIGITALIZAÇÃO EM ÁFRICA

UM MUNDO CADA VEZ MAIS INTERLIGADO

O preço de acesso à Internet ainda apresenta valores muito díspares entre países

No Chade, em 2023, o preço médio de 1 GB de Internet móvel custava cerca de 4,09 dólares americanos, um dos mais elevados do continente, o que dificulta a transição digital Aprender com o melhor?

A Líbia lidera o ranking africano com 88,2 pontos em termos de digitalização dos serviços. Que factores tornaram este país numa referência, apesar das instabilidade que atravessou? E o que deve Moçambique reter e capitalizar? Primeiro, segundo a Statista, uma plataforma global de análise de dados, em 2023, o preço de 1 GB de Internet móvel na Líbia era de 0,82 dólares americanos, um dos mais baixos de África.

A IUT indica que, em Dezembro de 2022, o Governo líbio aprovou um plano estratégico para estabelecer uma rede governamental segura para o intercâmbio de dados. Esta rede funciona como pedra angular da estratégia de transformação digital, concebida para facilitar a comunicação eficiente e segura entre as entidades governamentais. Um exemplo de sucesso que Moçambique poderia estudar para aplicar nos diversos programas do Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC) e Instituto Nacional de Go-

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verno Electrónico (INAGE). Já em 2023, a Líbia iniciou um projecto de transformação digital, modernizando todas as instituições e agências estatais. Esta iniciativa centra-se no reforço dos sistemas financeiros e económicos, na promoção do desenvolvimento sustentável e na garantia da estabilidade financeira. Através da implementação de soluções digitais avançadas, o projecto garante a precisão dos dados e simplifica os serviços públicos, reduzindo eficazmente os processos burocráticos.

Evitar problemas O Chade está noutro extremo do ranking africano, com uma pontuação de 21,3.

Em 2023, o preço médio de 1 GB de Internet móvel no país era de 4,09 dólares americanos, um dos mais elevados do continente. A população gasta uma parte significativa do rendimento mensal no acesso à Internet, o que impede que muitos cidadãos tirem proveito das oportunidades que a economia digital oferece.

A pontuação média global é de 74,8 numa escala de 0 a 100, o que indica um progresso significativo na conectividade, graças a países como o Kuwait (com pontuação máxima) e os Emirados Árabes Unidos (97,5), entre outros. Mesmo assim, muitas economias encontram-se ainda na fase inicial do desenvolvimento digital. Moçambique, por exemplo, está entre os países abaixo da média global. Às economias de baixo rendimento, a UIT recomenda que se concentrem no acesso à Internet, na penetração da banda larga móvel e na acessibilidade dos preços. As economias de rendimento médio e alto precisam de melhorar a penetração da banda larga móvel e o tráfego por assinatura.

A digitalização da economia enfrenta uma série de outros desafios críticos, com destaque para a fraca infra-estrutura digital. Apenas 28% da população tem acesso à Internet, um número muito abaixo da média global. A cobertura móvel é limitada, especialmente nas zonas rurais, onde o acesso é escasso ou inexistente. A penetração de banda larga fixa é extremamente baixa e as redes de fibra óptica são raras.

A par do elevado custo de Internet, segundo o Banco Mundial, a velocidade é também uma das mais lentas do continente, com um desempenho muito aquém dos padrões globais.

Além disso, há uma falta generalizada de competências. A literacia digital é limitada e há poucas iniciativas de formação tecnológica para desenvolver mão-de-obra para uma economia digital moderna. A maioria da população ainda está afastada das novas tecnologias.

O sector privado do Chade tem também dificuldades para adoptar tecnologias digitais. Muitas empresas locais ainda dependem de métodos tradicionais de operação, como a utilização de papel e processos manuais. A digitalização de serviços no sector público quase não existe.

Até que ponto Moçambique está preparado para seguir o caminho da Líbia e evitar o do Chade? O futuro digital do País dependerá das escolhas feitas hoje.

O caminho está aberto e cabe a Moçambique decidir como trilhá-lo. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

RADAR ÁFRICA

Cabo Verde

Guiné Bissau

O Governo de Cabo Verde aguarda a concretização de um apoio financeiro que pode chegar a 10 milhões de euros, proveniente do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP), destinado à modernização das forças militares. Este investimento é considerado crucial para reforçar a defesa nacional e melhorar a vigilância da extensa Zona Económica Exclusiva do arquipélago, que supera em área muitos países.

A iniciativa, que envolve a aquisição de equipamentos e a formação das tropas, promete consolidar parcerias estratégicas e elevar o nível de segurança, contribuindo para a estabilidade regional e o combate a ameaças externas.

Na Guiné Bissau, o clima político continua tenso depois de o Presidente Sissoco ter dado ordem de expulsão a representantes da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) que tinham sido convidados para encetar diálogo com diversas entidades do país, com vista a chegar a uma calendário eleitoral consensual. O chefe de Estado não gostou que houvesse diálogo com opositores e assinou um decreto que fixa o dia 23 de Novembro para a realização das eleições gerais (presidenciais e legislativas). A medida é contestada pela oposição, que a vê como uma tentativa de manipular o processo democrático, mantendo o país num estado de incerteza.

Europa deverá apoiar defesa e vigilância marítima

Tensões políticas e eleições marcadas para Novembro

Costa do Marfim

Cacau em crise afecta chocolatarias tradicionais As dificuldades no abastecimento de cacau, causadas por condições meteorológicas adversas e doenças nas lavouras da África Ocidental, têm prejudicado as chocolatarias europeias centenárias. A região, principal fornecedora, vê os seus produtores enfrentarem uma oferta restrita que eleva os preços e obriga negócios familiares a fechar as portas.

O cenário evidencia a vulnerabilidade de cadeias históricas às variáveis ambientais. A sustentabilidade da produção e a manutenção de tradições artesanais no sector estão em debate, tendo em conta o impacto na economia regional e nos laços comerciais entre continentes. Estas ondas de choque estendem-se até às comunidades locais, com rendimentos incertos.

África do Sul

EUA atrasam verba e renovam ameaças

África Austral

Investimento de US$703M para resiliência no Zambeze Uma comissão que representa oito países da África Austral que angariar US$703 milhões junto de bancos de investimento, incluindo o Banco Mundial, para reforçar a resiliência climática na bacia do Zambeze, que desagua no Índico, em Moçambique. O projecto, com duração de cinco anos, visa combater os

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efeitos das mudanças climáticas, a degradação dos ecossistemas e o uso insustentável do solo. Os recursos são fundamentais para garantir o acesso a uma fonte de água crítica para mais de 50 milhões de pessoas, promovendo a cooperação regional e a sustentabilidade ambiental.

Os EUA interromperam a transferência de US$2,6 biliões destinados ao financiamento climático na África do Sul, gerando apreensão quanto à continuidade dos investimentos. Numa reunião recente, o travão a um desembolso inicial de US$500 milhões pode comprometer a transferência de recursos adicionais provenientes de bancos multilaterais e de outras fontes. Esta decisão pode prejudicar os projectos de mitigação das mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável do país, criando um ambiente de incerteza que pode prejudicar as estratégias nacionais de adaptação e crescimento económico. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Mali

Juntas militares afastam-se da francofonia Num movimento de reposicionamento estratégico, os regimes militares de Mali, Burkina Faso e Níger anunciaram a retirada da Organização Internacional da Francofonia, sediada em Paris.

Os governos argumentam que a instituição já não satisfaz os seus interesses nacionais, sendo percebida como um instrumento político do antigo poder co-

lonial. Esta decisão marca uma ruptura com laços históricos e culturais (nem sempre serenos), sinalizando uma nova orientação na política externa destes países. A decisão tem gerado debates acalorados tanto a nível nacional como internacional, evidenciando a procura por novas alianças que reflictam as realidades políticas e económicas.

Níger

Falta de dinheiro obriga Programa Alimentar Mundial a parar O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou para uma crise iminente, caso não seja atingido o financiamento de US$620 milhões para assistência humanitária. A ajuda poderá ser interrompida já este mês, afectando milhões de pessoas vulneráveis em países do Sahel, como Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria.

“Antevemos que milhões de pessoas enfrentam níveis de emergência relativamente à fome no pico da temporada de seca, pelo que o mundo deve intensificar o apoio para evitar que esta situação resvale para fora de controlo”, acrescentou a directora regional do PAM para a África Ocidental, Margot van der Velden.

Somália

Ataque-pirata evidencia problemas na segurança marítima Nas águas do Índico próximas da Somália, um dhow com bandeira iemenita foi abordado por piratas na região de Eyl, em Puntland, zona historicamente associada a actividades de pirataria.

O incidente, o segundo registado em apenas um mês, colocou sete sequestradores a bordo, enquanto a tripulação,

composta maioritariamente por somalis, se encontra numa situação delicada. O ataque evidenciou uma realidade: a segurança marítima na região continua a representar um risco e é preciso organizar respostas coordenadas entre as autoridades regionais e internacionais para conter a ameaça.

RD Congo

Monopólio estatal impulsiona preços do cobalto O Governo da República Democrática do Congo vai implementar um monopólio para controlar a extracção artesanal do cobalto, recurso essencial para baterias e tecnologias modernas. Com a suspensão temporária das exportações, o país planeia adquirir a pequenos mineradores e armazenar o produto para aumentar os preços e consolidar o domínio no mercado global.

Em paralelo, em Doha, o Presidente congolês reuniu-se com o líder ruandês, num encontro mediado pelo Emir do Qatar, sinalizando uma possível aproximação entre as partes para enfrentar conflitos na região. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Ruanda

Polémica de patrocínios e tensões com vizinhos Face a disputas regionais e restrições polémicas às liberdades, o Ruanda tem envidado esforços para manter acordos de patrocínio com clubes de futebol europeus para promoção turística. O país defronta-se agora com a pressão do Congo, que acusa o Ruanda de desestabilizar zonas

ricas em recursos minerais e exige o rompimento desses laços. Para agravar o clima de tensão, o Reino Unido anunciou a suspensão de parte da sua ajuda financeira. O Congo pediu ao Arsenal, Paris Saint-Germain e Bayern Munich para cancelarem a campanha “Visite o Ruanda”.

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MACRO | PARQUE NACIONAL DE GORONGOSA

Um Parque Que Serve de Modelo Para Todo o Mundo A entrega do Prémio Mundial para a Conservação da Biodiversidade pela Fundação BBVA é o mais recente galardão atribuído ao Parque da Gorongosa.

Após duas décadas, o trabalho em equipa e atento à população promete continuar a dar frutos Texto Redacção • Fotografia D.R.

A

recuperação ecológica bem-sucedida do Parque Nacional da Gorongosa nos últimos 20 anos recebeu mais um reconhecimento internacional: o projecto foi distinguido pela Fundação BBVA (banco espanhol) com o Prémio Mundial para a Conservação da Biodiversidade.

O galardão, entregue em Fevereiro, realçou “o valor da vida em todas as suas expressões e de todos aqueles que se dedicam à sua defesa”, segundo Rafael Pardo, director da Fundação BBVA, órgão de responsabilidade social do grupo banqueiro espanhol Banco Bilbao Vizcaya Argentaria. Os Prémios de Conservação da Biodiversidade “prestam homenagem aos líde-

res que dão voz e defendem os interesses de todas as espécies com quem partilhamos o planeta. É pelos resultados extraordinários das suas acções em defesa da natureza que o projecto foi distinguido”, assinalou a fundação.

Importância do trabalho em equipa Susana Carvalho, directora do Programa de Paleo-Primatologia da Gorongosa, juntou-se a vários colegas moçambicanos ao aceitar o prémio em nome de toda a equipa. “O nosso trabalho é guiado por uma crença simples, mas poderosa: que as pessoas e a natureza podem prosperar juntas”, referiu, no seu discurso.

“Este prémio é uma celebração dos esforços colectivos. Recorda-nos a importância de trabalharmos em conjunto na con-

UMA FAMÍLIAS DE 8 MIL ESPÉCIES O projecto da Gorongosa tem procurado fundamentar as suas estratégias de conservação em dados científicos de qualidade, promovendo acções de investigação sobre a biodiversidade. O programa que mobiliza cientistas de todo o mundo já documentou a existência de quase 8000 espécies dentro dos limites do parque. Cerca de 200 eram anteriormente desconhecidas.

“Graças a este rigoroso trabalho de investigação, a Gorongosa é hoje um dos parques mais bem documentados em África em termos de biodiversidade”, referiu o director científico da Gorongosa, Marc Stalmans.

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servação de maravilhas naturais e como a Gorongosa mostra que a natureza pode recuperar se tiver uma oportunidade.”

O Projecto de Restauração da Gorongosa é uma parceria de co-gestão entre o Governo de Moçambique e a Fundação Greg Carr, uma instituição filantrópica dos EUA. Nas últimas duas décadas, o projecto recebeu atenção global como “a maior acção de restauro da vida selvagem da história” (National Geographic), além de ter sido elogiado pelo modelo integrado de conservação e desenvolvimento humano.

Duas décadas de trabalho O Parque Nacional da Gorongosa (400 000 hectares) foi em tempos considerado um dos maiores parques nacionais de África.

Mas as populações de vida selvagem diminuíram durante 16 anos de conflito civil em Moçambique. Em 2004, o Projecto de Restauração da Gorongosa começou a www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

PERCURSO DE 20 ANOS 2004 O Projecto de Restauração da Gorongosa começou a reintroduzir a vida selvagem e a mobilizar fiscais de fauna bravia recém-formados para os proteger. Nascia, assim, uma iniciativa transformadora.

2004-2024 Os animais prosperaram e excedem agora os números anteriores à guerra. Este é um dos indicadores do sucesso do projecto, ao mostrar, de forma prática, a capacidade de regeneração do espaço.

FUTURO “Aumentámos o número de animais selvagens num factor de dez”, afirma o director científico do projecto, Marc Stalmans. A promoção da biodiversidade permite delinear estratégias e novas iniciativas.

EVOLUÇÃO DA VIDA SELVAGEM Número total de animais de grande porte dentro do parque Em unidades

Gorongosa, um santuário de vida selvagem onde a natureza revela a sua grandiosidade

2004 2024

inferior a 10 000 mais de 100 000 FONTE Parque da Gorongosa

Greg Carr, um filantropo de direitos humanos, apoiou e atraiu numerosos doadores para programas de saúde, educação e desenvolvimento agrícola numa área de 600 000 hectares em torno do parque

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reintroduzir a vida selvagem. Havia menos de 10 mil animais de grande porte no parque, mas estima-se que ultrapassem os 100 mil. “Nos casos mais graves, conseguimos excelentes resultados com a reintrodução de espécies, mas outros conseguiram recuperar por si próprios. Se dermos uma oportunidade à natureza, com uma boa protecção, ela poderá recuperar espectacularmente”, referiu o director científico do projecto, Marc Stalmans.

Apostar na população A restauração e conservação dentro do Parque Nacional da Gorongosa são apenas uma parte da abordagem do projecto.

Greg Carr, um filantropo de direitos humanos inspirado por Nelson Mandela e pelo antigo Presidente de Moçambique Joaquim Chissano, apoiou e atraiu numerosos doadores para fornecer programas de saúde, educação e desenvolvimento

agrícola numa área de 600 mil hectares em torno do parque conhecida como “Zona de Desenvolvimento Sustentável”. A integração da conservação e do desenvolvimento humano tem sido fundamental para o sucesso do Projecto. “Uma parte essencial do nosso trabalho é melhorar a vida das pessoas que vivem em redor do Parque”, explicou Stalmans. “Muitos dos problemas de exploração excessiva dos recursos naturais que ameaçam a biodiversidade devem-se à pobreza e à falta de conhecimento. O nosso foco no desenvolvimento económico e na educação das comunidades locais é um factor-chave para qualquer sucesso que tenhamos alcançado. Esperamos que o nosso modelo que integra a conservação e a sustentabilidade com o desenvolvimento socioeconómico possa servir de inspiração para outros países africanos, como observou o júri do prémio BBVA”, referiu Stalmans.

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FNB Young Talent Development: Jovens Talentos Moçambicanos Iniciam Carreiras Promissoras Com o Programa de Graduados

E

O impacto que os graduados podem gerar dentro do FNB não se limita apenas à aprendizagem que irão adquirir, mas também às ideias novas que poderão trazer para a instituição

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m Janeiro deste ano, três jovens moçambicanos iniciaram uma jornada de desenvolvimento profissional através do programa de graduados FNB Young Talent Development Program, lançado pelo FNB Moçambique. Este programa tem como objectivo identificar, atrair e capacitar jovens talentos locais para uma carreira de sucesso no sector bancário, com foco na inovação, tecnologia e um profundo entendimento do mercado financeiro. A iniciativa, que terá uma duração de 12 meses, foi implementada pelo Grupo FirstRand e abrange várias subsidiárias do banco em países como a Namíbia, Botsuana, Lesoto, Essuatíni e Zâmbia.

A primeira edição do programa seleccionou três jovens graduados com idades compreendidas entre os 23 e 29 anos. Emerson Tivane, Agostinho Massango e Niels Achimo, formados em Engenharia Informática e Ciências de Dados, foram seleccionados entre mais de 300 candidatos que passaram por um rigoroso processo de selecção, que incluiu entrevistas, testes de aptidão e dinâmicas de grupo. Para estes jovens, a oportunidade de se juntarem ao FNB é um marco importante nas suas carreiras, oferecendo-lhes uma plataforma única para crescer profissionalmente.

A iniciativa vai bem além da formação práctica no sector bancário, proporcionando aos graduados uma experiência internacional. Durante a primeira parte do programa, os jovens participaram numa acção que decorreu na África do Sul, onde tiveram a oportunidade de interagir com jovens recém-graduados de outros países, ampliando assim as suas perspectivas e adquirindo conhecimentos valiosos sobre o sector bancário.

Niels Achimo, um dos graduados, destacou a importância dessa troca de experiências mostrando-se "muito agradecido por ter tido a oportunidade de participar nesta jornada. Quando tivemos a oportunidade de ir para a Áfri-

ca do Sul para interagir com os colegas de outras subsidiárias, foi muito bom para mim. Quero aproveitar ao máximo esta oportunidade para desenvolver não só as minhas habilidades técnicas, mas também as minhas capacidades pessoais”, conta.

Objectivos e expectativas dos graduados em relação ao programa A principal proposta do FNB Young Talent Development Program é preparar os graduados para trabalhar em diversas áreas da banca, como finanças, gestão de risco e inovação tecnológica. O programa busca não apenas formar profissionais, mas também trazer novas perspectivas para a Instituição. Agostinho Massango, outro graduado, destacou a importância do intercâmbio cultural e a aprendizagem em equipa durante a indução na África do Sul. "Foi uma experiência bastante profissional. O intercâmbio com os outros colegas foi muito interessante, porque lá aprendi que devemos trabalhar as nossas habilidades pessoais, criar a nossa marca. E sobre as expectativas do programa, espero crescer como profissional e aprender o máximo que puder sobre a banca, aplicando igualmente os conhecimentos que obtive ao longo da minha formação enquanto estudante".

A estratégia do FNB e a inovação tecnológica aliada aos graduados O FNB Moçambique tem como uma das suas metas expandir a sua presença e interagir de forma mais eficiente com os seus Clientes, considerando a crescente digitalização da banca. Razão pela qual, o programa dá especial ênfase à tecnologia e inovação digital, alinhando-se à estratégia do banco de se adaptar às novas tendências do mercado.

Emerson Tivane, por sua vez, destacou a sua vontade de contribuir com melhorias nos processos bancários do FNB, focando-se na experiência do cliente. "Às vezes, vemos os clientes reclamarem dos serviços dos bancos, especialmente www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Jovens talentos moçambicanos rumo ao futuro no sector bancário

na abertura de contas ou quando visitam os balcões para fazer depósitos. Isso não acontece porque os bancos não oferecem bons serviços, mas sim devido aos processos envolvidos por detrás dessas operações. No entanto, acredito sempre que podemos melhorar, e espero poder fazê-lo. Por exemplo, no processo de abertura de contas, podemos desenvolver formas de acelerar o processo e, dessa forma, aprimorar a experiência do cliente", assinala o jovem.

Segundo Melba Nhamithambo, directora de Capital Humano do FNB, para garantir uma melhor compreensão do funcionamento do sector bancário e proporcionar uma exposição prática, os graduados passarão por diversas áreas do banco, incluindo os balcões. Como é habitual no sector, "a banca começa nos balcões" e, por isso, nas primeiras duas semanas do programa, os graduados fowww.economiaemercado.co.mz | Abril 2024

ram desafiados a passar por essa etapa fundamental. Eles tiveram a experiência de interagir directamente com os clientes, compreender os processos de abertura de contas e de outros serviços bancários essenciais. “Essa experiência nos balcões é crucial para que eles tenham uma visão completa de como as operações bancárias acontecem, preparando-os para enfrentar os desafios do sector de forma mais informada e eficiente."

A contribuição dos graduados para o futuro do FNB O impacto que os graduados podem gerar dentro do FNB não se limita apenas à aprendizagem que irão adquirir, mas também às ideias novas que poderão trazer para a instituição. Niels Achimo, por exemplo, acredita que a sua visão fresca e inquisitiva pode contribuir significativamente para a evolução do banco.

"Sempre que vejo algo pela primeira vez, procuro questionar e identificar coisas que, talvez, as pessoas que já estão no banco há mais tempo não tenham conseguido detectar. Isso faz-me acreditar que posso contribuir com as minhas ideias, propondo novas formas de fazer as coisas para melhorar ainda mais a dinâmica e a qualidade dos serviços prestados pelo banco", concluiu o jovem.

O programa FNB Young Talent Development é uma plataforma para os jovens talentos moçambicanos que buscam destacar-se e desenvolver carreiras no sector bancário, especialmente num mercado cada vez mais marcado pelas novas tecnologias.

Com o apoio do FNB, os graduados estão a ser preparados para contribuir para a evolução do Banco, trazendo novas ideias e perspectivas e uma visão pautada pela inovação.

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SHAPERS | ESTHER DUFLO

Qual o Papel da Mulher na Economia?

Neste mês da mulher moçambicana, cujo dia se assinala a 7 de Abril, é oportuno destacar vozes que ajudaram a debater o papel feminino na economia.

Entre elas encontramos Esther Duflo.

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

O

trabalho de Esther Duflo tem moldado a discussão sobre igualdade de género e pobreza, um dos eternos debates em Moçambique. A desigualdade de oportunidades, em relação ao homem, verifica-se a todos os níveis, incluindo a formação e o acesso ao financiamento.

A autora escreveu sobretudo sobre os países em desenvolvimento e argumenta que a desigualdade de género não é apenas uma questão de justiça social, é um entrave ao desenvolvimento económico. Investir na educação das mulheres e garantir a sua participação activa na economia gera benefícios, a longo prazo, reduzindo a pobreza e promovendo o crescimento sustentável.

Um dos seus principais estudos explorou a relação entre a emancipação feminina e as decisões financeiras em famílias de baixo rendimento. Os resultados indicaram que mulheres com maior autonomia investem mais na saúde e educação dos filhos, quebrando ciclos intergeracionais de pobreza. Esta ideia encontra paralelos em Moçambique, onde as mulheres são frequentemente responsáveis pelo sustento doméstico, mas às quais é negado acesso a financiamento, terra e oportunidades formais de emprego.

Aplicação prática e desafios As ideias de Esther Duflo têm sido aplicadas através de políticas de microcrédito e programas de transferência de rendimento, iniciativas que, em vários países, melhoraram a inclusão económica das mulheres, mas nem sempre da mesma maneira. Nalgumas regiões, a resistência cultural e a persistência de normas patriarcais limitaram a influência das medidas. No caso de Moçambique, são necessárias soluções adaptadas ao contexto local, combinando incentivos

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económicos com intervenções sociais.

Os benefícios do acesso às tecnologias para a autonomia económica feminina tem sido um dos novos campos de estudo inspirado pelas pesquisas de Duflo.

A inclusão digital, com plataformas de serviços financeiros, pode ser a porta de entrada para oportunidades no mercado de trabalho, promovendo o empreendedorismo sem as barreiras físicas que tradicionalmente as limitam.

Quotas no mercado de trabalho Outro ponto relevante nos argumentos de Duflo é a necessidade de políticas públicas que incentivem a equidade de género no mercado de trabalho formal.

Iniciativas como quotas para mulheres em cargos de liderança e incentivos fiscais para empresas que promovam a diversidade podem ser estratégias eficazes. Moçambique pode seguir o exemplo de países que implementaram tais políticas e obtiveram resultados positivos ao nível da inclusão, caso das Seicheles, entre outros.

Uma trajectória brilhante O Prémio Nobel de Economia de 2019 foi concedido a três pessoas. A única mulher é Esther Duflo, que foi distinguida ao lado de Michael Kremer e Abhijt Banerjee. Na altura com 46 anos, a economista era a segunda mulher a ganhar o prémio nesta área (antes, apenas Elinor Ostrom tinha sido laureada com este prémio, em 2009).

O título mais famoso de Duflo, traduzido para 17 línguas ("A economia dos pobres: repensar de modo radical a luta contra a pobreza global"), reflecte a sua extensa produção dedicada ao estudo da pobreza e de políticas públicas para mitigá-la. Uma obra que transita pelas finanças, saúde, governança e educação, e que a levou a conquistar inúmeros prémios relevantes. As suas pesquisas em educação e saúde foram realiza-

ESTHER DUFLO Esther Duflo nasceu em Paris, em 1972, numa família protestante, com uma mãe pediatra, muito envolvida em obras humanitárias, e um pai professor de matemática. Formada na École des Hautes Études em Sciences Sociales (EHESS), tem também um doutoramento atribuído pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) nos Estados Unidos, onde é professora. No centro de pesquisa Abdul Latif Jameel dedicado à pobreza, que co-fundou em 2003, organiza trabalhos de campo, em colaboração com organizações nãogovernamentais.

das em diversos países, como Gana, Indonésia, Índia, Marrocos e Quénia.

Lições para Moçambique Para que Moçambique beneficie do pensamento de Esther Duflo, é fundamental investir na educação feminina, ampliar o acesso ao crédito para mulheres empreendedoras e promover programas de protecção social. É também essencial que as acções sejam acompanhadas por um esforço para mudar normas sociais que restringem a participação plena das mulheres na economia. Esther Duflo demonstra que equidade de género não é www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

apenas uma questão moral, mas uma premissa para o desenvolvimento económico. É um convite à reflexão e à acção, neste mês da mulher moçambicana: a construção de uma economia mais justa e produtiva depende da plena participação feminina.

Ênfase na educação infantil Assegurar educação inclusiva e de qualidade, com oportunidades de aprendizagem para todos é uma das prioridades defendidas por Esther Duflo, a ser levada a sério pelos governos, e sugere um caminho para alcançá-la: a www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Um dos principais estudos de Esther Duflo concluiu que mulheres que têm maior autonomia económica investem mais na saúde e educação dos filhos

educação infantil. Para a economista, a primeira etapa da educação básica não só traz grandes retornos, como evita problemas futuros. “Há muito trabalho a ser feito. Claro, parte dele tem de acontecer em todos os níveis de educação, mas a evidência sugere que o sucesso do investimento nos primeiros anos pode ter um impacto com diferentes proporções ao longo de toda a vida. E as falhas nestes anos (iniciais de educação) são difíceis de recuperar”, afirmou em meados do ano passado, por ocasião de um simpósio internacional de educação infantil realizado do Brasil.

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OPINIÃO | BUSINESS 2.0

João Gomes • Partner @BlueBiz Joaogomes@bluebizconsultoria. co.mz

V

Vem este artigo a propósito da recente e inovadora inclusão, no currículo do MBA Global Entrepreneurship for Impact1 — no qual lecciono em Harare, no Zimbabué — do módulo “NF - Negócio Familiar”.

Os NF representam 80% das empresas privadas em África. No entanto, apenas 30% chegam à segunda geração e menos de 12% à terceira. Em contraste, na Europa 40% das empresas familiares atingem a segunda geração, enquanto na América do Norte esse número chega a 50%. O Japão destaca-se com mais de 60% de continuidade devido a estruturas sucessórias bem definidas.

Casos como o Dangote Group (Nigéria) e Shoprite (África do Sul) mostram que uma transição bem estruturada pode garantir a longevidade dos NF. Neste artigo, desafio os meus leitores/as a responderem à seguinte questão: porque falha a sucessão nos negócios familiares e que estratégias poderão ser adoptadas para assegurar a continuidade?

1. Características dos Negócios Familiares Os NF caracterizam-se2 por uma i) forte interligação entre a propriedade, a gestão e a cultura da família fundadora.

Esta relação pode ser um factor de ii) estabilidade e compromisso, mas também um desafio na continuidade da empresa, exigindo equilíbrio entre tradição e adaptação ao mercado.

A iii) identidade da empresa é profundamente influenciada pelos valores da família, o que influencia directamente a formação de estratégias, a tomada de decisões e iv) a maior dificuldade na abertura a investimentos externos.

Embora a v) centralização do poder possa tornar os processos mais rápidos e eficientes, pode igualmente vi) gerar resistência à inovação e dificultar a transição geracional.

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Negócio Familiar em África: Estratégias de Sucessão A vii) proximidade entre família e negócio também pode levar a conflitos, sobretudo quando não existem regras claras para a gestão e sucessão, tornando essencial a implementação de uma estrutura organizacional bem definida.

2. A Visão dos Fundadores De acordo com as expectativas dos fundadores de NF, estes encaram a sucessão como um momento decisivo, no qual a continuidade e a preservação do legado são prioridades. Acreditam que

As tensões familiares sobre o futuro da empresa representam um obstáculo que pode comprometer a estabilidade do negócio a nova geração deve manter os valores e princípios que sustentaram a empresa, respeitando a experiência adquirida ao longo dos anos. Para muitos, uma transição controlada e gradual é essencial, permitindo que o conhecimento seja transmitido de forma estruturada e sem rupturas abruptas.

Contudo, esse processo também traz inquietações. A perda de controlo sobre a empresa é um dos maiores receios, sobretudo quando há dúvidas sobre a capacidade dos sucessores em manter a visão estratégica. O declínio do negócio após a sucessão é uma preocupação constante, pois há sempre o risco de que mudanças na liderança resultem em decisões menos eficazes. Além dis-

so, a possibilidade de conflitos familiares pode comprometer a estabilidade do negócio, especialmente quando há divergências sobre a sucessão e o futuro da empresa.

Apesar desses desafios, muitos fundadores sonham ver o seu negócio crescer e adaptar-se às novas gerações, mantendo-se relevante no mercado. O desejo de construir um legado duradouro leva-os a preparar o caminho para que os seus sucessores possam inovar e expandir a empresa, garantindo a sua continuidade e impacto no futuro.

3. A Visão dos Herdeiros De acordo com as expectativas dos herdeiros, assumir um negócio familiar representa tanto um desafio quanto uma oportunidade. Muitos desejam autonomia para inovar e modernizar a empresa, trazendo novas abordagens sem que isso signifique romper com a tradição estabelecida. A existência de um plano de formação estruturado e bem definido é vista como essencial para garantir uma transição suave e eficaz. Além disso, esperam que o processo sucessório decorra de forma transparente, sem favoritismos ou decisões arbitrárias que possam gerar tensões dentro da família.

Apesar do entusiasmo e da vontade de inovar, a sucessão desperta também inquietações. O medo do fracasso e da incapacidade de corresponder às elevadas expectativas da família e dos colaboradores pesa sobre muitos herdeiros. A resistência da geração anterior em aceitar mudanças pode dificultar a implementação de novas ideias e tornar o processo sucessório ainda mais desafiante.

Além disso, as tensões familiares sobre o futuro da empresa representam um obstáculo significativo, pois a falta de alinhamento entre os membros da família pode comprometer a estabilidade do negócio.

Ainda assim, muitos herdeiros sonham com a sucessão como uma oportunidade para expandir o negócio para novos mercados e implementar práticas de www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Negócios familiares são muito valorizados em África

gestão mais modernas e eficientes. O desejo de equilibrar tradição e inovação impulsiona-os a procurar novas formas de crescimento, garantindo que o legado familiar se mantenha relevante num cenário empresarial em constante evolução.

4. Principais Desafios na Sucessão de NF em África A sucessão nos NF em África enfrenta desafios estruturais e culturais que comprometem a sua continuidade.

A i) ausência de um planeamento formal adequado impede que a transição seja feita de forma estruturada, resultando muitas vezes em instabilidade e desorganização.

A ii) cultura do “Black Tax”, onde os rendimentos do negócio são frequentemente utilizados para sustentar familiares em vez de serem reinvestidos, enfraquece a sustentabilidade financeira da empresa, dificultando o crescimento e a competitividade.

Além disso, iii) a predominância da economia informal torna o acesso a financiamento um grande obstáculo, limitando as oportunidades de expansão e inovação.

De acordo com a International Finance Corporation (IFC), 75% das falências de empresas familiares no continente resultam directamente da falta de um plano sucessório estruturado. Esta realidade demonstra a necessidade urgente de adopção de práticas de governação mais sólidas, que garantam uma transição geracional eficiente e sustentável. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

5. Estratégias de Sucessão Bem-Sucedidas Garantir a continuidade dos NF exige uma abordagem estratégica e bem estruturada.

O planeamento antecipado permite que a transição ocorra de forma gradual e bem preparada, reduzindo o impacto da mudança e aumentando as hipóteses de sucesso da nova liderança.

A profissionalização da gestão é igualmente essencial, assegurando que a administração da empresa seja baseada em competências e não apenas na ligação familiar, o que contribui para uma governança mais eficiente e sustentável.

A capacitação dos sucessores desempenha um papel determinante no sucesso da transição, sendo fundamental que adquiram experiência e conhecimentos antes de assumirem a liderança.

O recurso a programas de mentoria, orientação de especialistas e estágios dentro e fora da empresa pode preparar melhor os herdeiros para os desafios do mercado.

Além disso, uma sucessão bem-sucedida deve ser conduzida de forma gradual e transparente, evitando conflitos familiares e garantindo que todas as partes envolvidas estejam alinhadas quanto ao futuro do negócio.

A forte interligação entre a propriedade e a gestão, que caracteriza essas empresas, pode ser uma vantagem competitiva, mas também um obstáculo quando não há um plano de sucessão bem definido. A falta de planeamento sucessório tem sido uma das principais razões para a elevada taxa de mortalidade destes negócios, com apenas uma pequena percentagem a chegar à terceira geração.

Os fundadores de NF encaram a sucessão com um misto de expectativas e receios. Desejam que o seu legado seja preservado e que a empresa continue a crescer mas, ao mesmo tempo, temem perder o controlo e que a nova geração altere a visão estratégica.

Por outro lado, os sucessores enfrentam desafios próprios, incluindo a pressão para corresponder às expectativas da família e a dificuldade em introduzir inovação num ambiente tradicionalmente resistente à mudança. A existência de um plano de formação estruturado e a promoção de uma transição gradual são factores essenciais para evitar conflitos e garantir a sustentabilidade do negócio.

A ausência de um plano formal, a dependência da economia informal e o impacto do “Black Tax” são desafios que limitam a capacidade de muitas empresas familiares africanas se adaptarem e prosperarem. No entanto, exemplos como o Dangote Group e a Shoprite demonstram que uma abordagem estruturada, baseada na profissionalização da gestão e na transparência, pode aumentar significativamente as hipóteses de uma sucessão bem-sucedida.

Garantir a continuidade destas empresas exige a adopção de estratégias que incluem planeamento antecipado, capacitação dos sucessores e implementação de boas práticas de governação.

Diante desse cenário, a questão essencial que se coloca é: estará a sua empresa familiar preparada para enfrentar os desafios da sucessão e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações?

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Promovido pela The Catolic University of Zimbabwe, em cooperação com a Università Cattolica del Sacro Cuore (Milano).

2

Obras consultadas: SILVA, Marcelo “Empresas Familiares: A Construção da Perpetuidade” - Outubro de 2024. ISBN:

6. Conclusão Os negócios familiares (NF) em África desempenham um papel vital na economia do continente, mas enfrentam desafios estruturais que colocam em risco a sua continuidade.

978-6555441234.

LOURENZO, Armando “Sucessão na Empresa Familiar” - Julho de 2022. ISBN: 978-6500464214.

PARREIRÃO, Luís “Empresas Familiares: Famílias Empresárias – Onde está o Substantivo?” - Setembro de 2022.

ISBN: 978-9897028632.

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MF | BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

Avaliação de Risco ao País Gera Dúvidas As autoridades estão optimistas quanto à saída da “lista cinzenta” do GAFI, mas o Basel AML Index indica que o País continua mal posicionado quanto ao risco de branqueamento de capitais Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.

R

eina uma grande expectativa sobre a possibilidade de Moçambique sair da “lista cinzenta” do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), um instrumento de vigilância e cuidados redobrados em que foi colocado em 2022, devido a falhas no combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo. Desde então, a credibilidade e perfil do País perderam pontos no sistema financeiro internacional e a monitorização sobre a implementação de medidas em falta ficou mais apertada.

Para evitar maiores restrições - como a saída dos cartões nacionais da rede Visa ou demoras em operações bancárias com o exterior, de 72 horas para 20 dias –, o Governo implementou uma série de reformas para reforço do quadro legal, dos mecanismos de supervisão e da cooperação com parceiros internacionais.

O que já foi feito?

O Comité Executivo de Combate e Prevenção ao Branqueamento de Capitais anunciou o cumprimento de 25 das 26 acções recomendadas pelo GAFI no prazo de dois anos. O coordenador nacional, Luís Cezerilo, anunciou que o Governo adoptou diversas medidas, tais como a criação de um comité e subcomités responsáveis pela implementação das acções e estratégias de avaliação de risco de organizações sem fins lucrativos. Cezerilo garantiu que houve ajustes na legislação, nos mecanismos de supervisão

e fortalecimento da capacidade financeira, tecnológica e humana das instituições envolvidas (Ministério das Finanças, Ministério da Economia, Procuradoria Geral da República, entre outras). “O compromisso político do Governo foi determinante para o sucesso destas iniciativas, resultando no cumprimento de 25 das 26 acções previstas”, referiu.

Nem os raptos representam riscos Esta garantia é também dada por Luís Cezerilo. Os raptos de empresários que frequentemente ocorrem em Moçambique “poderiam prejudicar este processo de retirada de Moçambique da lista cinzenta” na eventualidade de “não haver investigação, acusação e condenação.” Apesar de ainda não haver “um número de condenações” satisfatório, os serviços de investigação criminal “estão a fazer bastante trabalho nesse sentido. Nos informes que prestamos ao GAFI, damos a conhecer o número de processos abertos e processados”, explicou.

Saída da lista já em Junho?

Com todas as barreiras ultrapassadas, as autoridades não esperam outro resultado: a retirada de Moçambique da “lista cinzenta” do GAFI pode acontecer em Junho, quando os inspectores visitarem o País para mais uma avaliação. “Caso se constate que as informações prestadas não correspondem à realidade, o País poderá regredir na avaliação”, admite, Luís Cezerilo. Mas esse não é o cenário que se afigura. O responsável esclarece que,

“Mais do que retirar o País da lista, o objectivo é criar um sistema sustentável de prevenção e combate ao branqueamento de capitais e de financiamento ao terrorismo”, Luís Cezerilo

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www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

REGISTO MELHORADO PARA ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS Entre as melhorias apresentadas por Moçambique está o registo de beneficiários efectivos das organizações sem fins lucrativos, passando a ser possível determinar que instituições se enquadram na recomendação do GAFI. Por outro lado, o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos propôs e obteve a aprovação da isenção de taxas para estas organizações, facilitando a actualização dos seus registos.

A partir do registo e preenchimento de um questionário será possível classificar as organizações em diferentes níveis de risco: baixo, médio ou alto, conforme as directrizes do GAFI. Paralelamente, o Governo promoveu uma campanha de consciencialização, contando com o apoio dos meios de comunicação para divulgar as medidas e incentivar as organizações a regularizarem-se.

DO ALERTA À ESPERANÇA

Muita corrupção e dinheiro fora do sistema são marcas evidentes da vulnerabilidade do País

www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Moçambique foi incluído na lista cinzenta do GAFI em 2022, após a identificação de “deficiências estratégicas” no combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, obrigando o País a acatar “rapidamente” uma série de recomendações. As medidas incluíam treino, coordenação e cooperação entre autoridades internas, dando-lhes dinheiro e pessoas para funcionarem, recolherem informação e analisarem o risco presente em Moçambique.

Diante deste cenário, o Governo iniciou um plano de acção para corrigir as fragilidades apontadas.

Fortaleceu o quadro jurídico e institucional, incluindo a revisão da Lei de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais e Financiamento ao Terrorismo. Além disso, reforçou-se a autonomia das entidades de supervisão financeira e aumentaram-se os mecanismos de partilha de informação entre diferentes instituições nacionais e internacionais.

Já em 2023, apertou-se a fiscalização de sectores vulneráveis, como os jogos de sorte e azar e os serviços financeiros não bancários.

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RISCO ELEVADO, MOÇAMBIQUE ENTRE OS PIORES

LUÍS CEZERILO Coordenador nacional do Comité de Combate e Prevenção ao Branqueamento de Capitais

O Basel AML Index 2024 continua a colocar Moçambique entre os países com maior risco de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, entre os 124 avaliados.

MYANMAR

8,17

HAITI

7,92

RD CONGO

7,73

CHADE

7,60

VENEZUELA

7,59

LAOS

7,53

REP. CEN. AFRICANA 7,49 GABÃO

7,48

REP. DO CONGO

7,28

GUINÉ BISSAU

7,28

CHINA

7,27

MOÇAMBIQUE

7,15

Pontuação de zero(menor risco) a 10 (alto risco) FONTE Basel AML Index 2024

mais do que retirar o País da lista, o objectivo é criar um sistema sustentável de prevenção e combate ao branqueamento de capitais, financiamento ao terrorismo e proliferação de armas de destruição em massa. “O compromisso do Governo e das instituições é evidente, conforme demonstrado pelo fortalecimento de estruturas especializadas, como a secção dedicada ao tratamento destes crimes na Procuradoria-Geral da República”, sublinhou.

O País continua mal classificado Apesar do optimismo das autoridades, os mais recentes dados do Basel AML Index 2024 (Índice de Basileia sobre Lavagem de Dinheiro) lançam dúvidas. O País continua mal classificado em termos do risco de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, o que sugere que os desafios estruturais persistem.

Este indicador global, que avalia a eficácia das políticas de combate a fluxos financeiros ilícitos, revela que Moçambique ainda enfrenta fragilidades significativas no seu sistema de supervisão e aplicação da lei. Apesar de o País ter melhorado seis posições em relação à classificação de 2023, o índice mais recente, divulgado em Dezembro de 2024, classifica Moçambique na 12.ª posição entre os países com maior risco de branqueamen-

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Moçambique ainda enfrenta fragilidades significativas no seu sistema de supervisão e aplicação da lei. No Índice de Basileia sobre Lavagem de Dinheiro (Basel AML Index 2024), o País é o 12.º com maior risco entre 124 países avaliados

to de capitais e crimes financeiros, com uma pontuação de 7,15 numa escala de risco de zero a dez pontos – quanto mais pontos, maior o risco. Não há detalhes sobre os critérios subjacentes à classificação. Parte da imprensa especializada especula que a melhoria da classificação de Moçambique pode estar relacionada com mudanças de critérios e com a adição de 12 países ao relatório de 2024, e não com a melhoria dos mecanismos de segurança.

As dúvidas residem no facto de o Basel AML Index basear-se em fontes reconhecidas como o próprio GAFI, o Banco Mundial e a organização Transparência Internacional. Para dissipar as dúvidas e reforçar a confiança, a divulgação integral dos relatórios de avaliação pelo Governo poderia ser um passo crucial, permitindo um debate mais transparente e informado sobre a real eficácia das medidas adoptadas no combate aos fluxos financeiros ilícitos.

Enquanto isto não acontece, exige-se, de Moçambique, maior transparência e eficácia na aplicação das leis, bem como garantias de que as melhorias alcançadas serão sustentáveis a longo prazo. A saída da lista cinzenta pode representar um alívio momentâneo, mas, sem um reforço contínuo da fiscalização e da cooperação internacional, o País corre o risco de enfrentar os mesmos problemas no futuro. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

CEO TALKS | HENRI MITTERMAYER

Hollard Reforça Liderança em Moçambique Com Aquisição da Global Alliance A Hollard Moçambique deu um passo decisivo na consolidação da sua operação no País com a aquisição de 100% do capital da Global Alliance, uma "aposta estratégica" na sua expansão no mercado nacional, na melhoria da experiência do cliente e na diversificação da oferta de produtos e serviços.

Texto M4D • Fotografia D.R.

H

enri Mittermayer, Founder Member & Managing Director da Hollard Moçambique, explica à Revista E&M que esta aquisição “não é apenas uma expansão operacional, mas um compromisso com o futuro do sector através de uma seguradora ainda mais próxima do cliente, mais inclusiva e tecnologicamente preparada para os desafios que se avizinham", assinala Com esta integração total — e não uma fusão — a Hollard assume uma posição reforçada no mercado segurador, e com ambição reforçada em construir uma seguradora ainda mais forte, resiliente e alinhada às exigências de um mercado em crescimento. Entre os principais objectivos estratégicos estão, assinala o CEO, “o alargamento da base de clientes, a modernização tecnológica das operações, o desenvolvimento de produtos adaptados às realidades locais e o fortalecimento das capacidades de resposta em sectores-chave como energia, infra-estruturas, mineração e agricultura.”

Apesar dos desafios naturais de uma integração desta escala — desde a harmonização de processos à convergência cultural das equipas — a Hollard afirma estar a conduzir uma transição fluida, com foco na continuidade do serviço, na confiança do cliente e na criação de valor.

Com a aquisição da Global Alliance aprovada pelo Regulador, quais são os principais objectivos estratégicos desta aquisição e que mudanças concretas poderão os clientes esperar?

A aquisição, pela Hollard, de 100% do capital da Global Alliance Seguros, S.A. é uma decisão estratégica destinada a reforçar a nossa posição no mercado segurador moçambicano. Trata-se de uma aquisição total, e não de uma fusão, o que significa que a Global Alliance está agora plenamente integrada nas operações da Hollard, após a aprovação por parte da Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC) e do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM).

De que forma esta aquisição reforça a posição da Hollard no mercado segurador moçambicano?

A aquisição da Global Alliance reforça significativamente a posição da Hollard em Moçambique, ao ampliar a nossa base de clientes, melhorar a nossa oferta de produtos e fortalecer as nossas capacidades operacionais. Este movimento permite-nos aumentar a penetração no mercado, servindo uma gama mais ampla de clientes — desde grandes empresas até PME e subscritores individuais.

Do ponto de vista operacional, estamos a concentrar-nos numa integração

“Esta aquisição posiciona a Hollard como uma seguradora mais dinâmica, centrada no cliente e com capacidade reforçada para impulsionar o crescimento sustentável e a liderança no mercado"

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harmoniosa que privilegie a continuidade e a experiência do cliente. Embora estejam previstas melhorias, o nosso objectivo é reunir o melhor de ambas as empresas para construir uma seguradora mais forte e inovadora. Isto inclui a modernização das operações através de plataformas digitais, agilização do tratamento de sinistros e reforço da interacção com os clientes via canais online e móveis.

Já em termos de portefólio, iremos integrar as soluções da Global Alliance com a oferta já existente da Hollard, assegurando uma gama de produtos mais abrangente e competitiva. Planeamos ainda introduzir soluções inovadoras nas áreas da saúde, vida e risco corporativo, adaptadas às necessidades actuais das empresas e indivíduos moçambicanos.

Com uma carteira de riscos mais ampla e diversificada, aumentamos a nossa resiliência financeira e a capacidade de subscrição, especialmente em sectores de elevado crescimento como energia, infra-estruturas e mineração. Isto permitir-nos-á oferecer prémios mais competitivos e melhores benefícios aos nossos clientes. Esta aquisição posiciona-nos como uma seguradora mais dinâmica, centrada no cliente e com capacidade reforçada para impulsionar o crescimento sustentável e a liderança no mercado.

Quais os desafios e oportunidades que esta integração apresenta, tanto internamente como nas relações com clientes e parceiros?

Um dos principais desafios é a fusão de dois negócios com sistemas, processos e métodos de trabalho distintos. É essencial garantir uma transição suave, sem perturbações ao serviço ao cliente. A harmonização das plataformas informáticas e dos processos administrativos é fundamental, www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

permitirá estreitar as relações com corretores, bancos e parceiros fintech. Em conjunto, poderemos oferecer soluções financeiras mais integradas, tornando os seguros mais acessíveis e relevantes para os moçambicanos.

No final de contas, embora a integração de duas empresas seja sempre um processo exigente, encaramos este passo como um grande avanço para a Hollard, e para todo o sector segurador nacional.

A Hollard apresentou recentemente os resultados financeiros de 2024. Quais foram os factores que impulsionaram o desempenho positivo da seguradora num contexto especialmente desafiante?

assegurando que os clientes continuam a usufruir do apoio a que estão habituados.

A cultura organizacional é outro aspecto importante. A Hollard e a Global Alliance contam com equipas sólidas, e queremos reunir o melhor de ambas. Para tal, é necessário promover uma comunicação clara, colaboração e um sentimento de pertença a uma visão comum. Do ponto de vista do cliente, as mudanças podem gerar alguma incerteza, sabemo-lo. Por isso, estamos empenhados numa comunicação transparente e pró-activa. Asseguramos que as apólices continuam válidas, os sinistros serão processados normalmente e, em breve, os clientes beneficiarão de um serviço melhorado e de novas opções de produtos. Depois, do lado das oportunidades, esta aquisição fortalece a posição da Hollard em Moçambique. Estamos também a investir em inovações digitais para tornar o processamento de sinistros e o serviço ao cliente mais rápidos e eficientes. Além disso, esta integração www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

HENRI MITTERMAYER Founder Member & Managing Director, liderou a entrada da Hollard em Moçambique no início dos anos 2000, desempenhando um papel central no crescimento da empresa ao longo das últimas duas décadas. Sob a sua liderança, a Hollard tornou-se a maior seguradora do País por rendimentos globais, tendo conduzido a expansão da seguradora em sectores estratégicos como os da energia, petróleo e gás. A sua visão alia inovação, responsabilidade social e compromisso com o desenvolvimento económico de Moçambique.

Sim, 2024 foi um ano muito positivo para a Hollard Moçambique! Operámos com duas licenças de seguros — a Hollard Seguros, para seguros não-vida, e a Hollard Vida, para seguros de vida — e registámos um crescimento e desempenho financeiro robustos. Em conjunto, apresentámos um lucro líquido total de 337,4 milhões de meticais, com a Hollard Seguros a contribuir com 284,7 milhões e a Hollard Vida com 52,7 milhões de meticais. Houve factores que impulsionaram este sucesso, dos quais destaco a expansão stratégica, em que apostámos em sectores de elevado crescimento como os da energia, infra-estruturas e mineração, áreas que beneficiam do desenvolvimento económico e investimento estrangeiro em Moçambique.

Depois, mantivemos o foco nas PME e no segmento de retalho, em que investimos na oferta de produtos direccionados para pequenas empresas e indivíduos que anteriormente não tinham acesso a cobertura adequada. Não posso esquecer a inovação nos produtos, em que lançámos soluções personalizadas, incluindo micro-seguros, seguros de saúde e produtos de reforma. Ao tornarmos os seguros mais flexíveis e acessíveis, sobretudo para os segmentos de rendimento médio e baixo, assistimos a uma maior adesão.

Ao nível operacional, o que contribuiu para este crescimento?

Vários factores. Apostámos na especialização não só nos canais de distribuição e parcerias, mas também nas divisões de produto. Um excelente exemplo é a nossa divisão de Benefícios para Colaboradores, que nos permitiu adoptar uma abordagem mais direccionada na prestação de soluções de seguro de valor acrescentado. Em simultâneo, expandimos as nossas capacidades digitais, introduzindo melhorias como a Heal-

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thApp — um serviço de valor acrescentado para todos os nossos clientes de seguros de saúde. Outra área de foco foi a agricultura. Lançámos a Hollard-Agri, uma divisão dedicada ao apoio ao sector agrícola moçambicano com soluções financeiras de classe mundial. Incluímos produtos de seguro paramétrico concebidos especificamente para pequenos agricultores, oferecendo-lhes protecção financeira contra riscos climáticos.

Em termos tecnológicos, desenvolvemos e implementámos sistemas de gestão de apólices online, facilitando o acesso e a gestão de seguros para clientes e intermediários. Fortalecemos ainda as parcerias com bancos, fintechs e corretores de seguros, garantindo redes de distribuição mais amplas e valiosas, com oportunidades de venda cruzada.

Investimos também na simplificação dos processos de sinistros, aumentando a flexibilidade e reduzindo os tempos de resposta — tudo com o objectivo de melhorar a satisfação dos clientes. Paralelamente, introduzimos medidas de controlo de custos e avaliações de risco mais rigorosas, promovendo decisões de subscrição mais inteligentes e melhor protecção do capital de risco dos nossos clientes. Por fim, reforçámos significativamente a detecção de fraudes e a avaliação de sinistros, reduzindo pagamentos indevidos e optimizando rácios de perda. O resultado? Prémios mais acessíveis para os clientes e uma sustentabilidade financeira robusta para a Hollard.

Quais os segmentos de mercado mais dinâmicos para a Hollard e que planos têm para sustentar este crescimento nos próximos anos?

O desempenho da Hollard em Moçambique tem sido impulsionado sobretudo por sectores de elevado crescimento, que beneficiam do investimento directo estrangeiro (IDE). Indústrias como a energia e o gás natural, infra-estruturas e construção, mineração e agricultura comercial têm sido os principais motores da procura por soluções de seguro.

A nossa estratégia tem sido apoiar as necessidades de gestão de risco de um mercado emergente, e é nesse contexto que nos posicionamos — ajudando empresas moçambicanas e PME a protegerem-se. Isto inclui a cobertura de activos críticos como edifícios, stocks, viaturas, mercadorias em trânsito e carga marítima, bem como benefícios para os trabalhadores, incluindo seguros de saúde, acidentes de trabalho, pensões e produtos de risco colectivo. Este segmento tem sido, de facto, um dos mais dinâmicos

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do sector segurador — e, por extensão, para a Hollard e a Global Alliance — nos últimos anos. Ao mesmo tempo, estamos cientes da nossa responsabilidade em promover a inclusão financeira e apoiar a classe média emergente e as populações financeiramente excluídas. Este é um ponto central, sobretudo através das nossas parcerias com instituições de microfinanças e canais de banca-seguro.

O micro-seguro e as opções de cobertura flexíveis têm desempenhado um papel essencial na nossa estratégia de expansão a longo prazo, com soluções desenhadas para pequenas empresas e produtos digitais, como os da divisão Hollard-Agri.

Como avalia a evolução do sector segurador em Moçambique?

O sector segurador em Moçambique tem registado uma transformação notável nos últimos anos, impulsionada pelo crescimento económico, actualizações regulatórias e inovação digital. Esta evolução tem permitido responder melhor às necessidades de um mercado em expansão. Contudo, persistem desafios significativos, nomeada-

mente no que toca ao aumento da penetração dos seguros e à melhoria da inclusão financeira.

Alguns desses desafios decorrem de dinâmicas sociopolíticas, desenvolvimentos macroeconómicos e do impacto crescente das alterações climáticas. Apesar dos avanços, consideramos que partes da legislação dos seguros permanecem desactualizadas e continuam a travar o crescimento. Sendo um dos maiores operadores do sector, sentimos uma responsabilidade acrescida em promover uma governação responsável no mesmo. Acreditamos que o sector beneficiaria bastante do aproveitamento do capital de risco internacional, o que reforçaria a sua resiliência e capacidade de resposta às exigências do mercado.

A taxa de penetração dos seguros no País continua relativamente baixa. Como é que, na sua opinião, se contorna esta questão?

Vemos a diversificação e a especialização como factores-chave para o alcançar. Acreditamos que, ao focarmo-nos em segmentos específicos e desenvolvermos soluções orientadas para o clienwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

ge os agricultores contra riscos climáticos e, ao contrário do seguro tradicional, efectua o pagamento automaticamente quando se verificam condições pré-definidas, como níveis de precipitação ou seca. Isto proporciona uma cobertura mais célere e fiável — essencial num país onde a agricultura tem um peso económico tão relevante.

Finalmente, estamos comprometidos em oferecer prémios acessíveis com opções de pagamento flexíveis para pequenas empresas e trabalhadores informais, garantindo que os nossos produtos sejam simultaneamente acessíveis e relevantes para os que, de outra forma, ficariam excluídos do sistema segurador.

Como é que os megaprojectos, ligados ao gás natural, podem impactar o desenvolvimento do sector segurador no País?

O crescimento do sector de GNL exigirá soluções abrangentes de seguros. Is-

cer cobertura especializada nesta área.

O crescimento do sector do gás natural será um dos grandes motores de expansão do mercado segurador em Moçambique, e a Hollard está bem posicionada para aproveitar estas oportunidades, oferecendo soluções corporativas personalizadas, seguros para PME, benefícios para trabalhadores e coberturas contra riscos climáticos.

Estão em vias de lançar o Fundo de Pensões Hollard Vida. Pode adiantar detalhes sobre esse lançamento?

O Fundo de Pensões Hollard Vida é uma adição significativa à nossa gama de serviços, concebido para complementar a nossa oferta abrangente de Benefícios para Colaboradores. A nossa oferta visa proporcionar aos indivíduos e às empresas uma solução de Open Umbrella Fund (fundo guarda-chuva) para segurança financeira a longo prazo e pla-

“Acreditamos que o sector beneficiaria bastante do aproveitamento do capital de risco internacional, o que reforçaria a sua resiliência e capacidade de resposta às exigências do mercado” te, poderemos fomentar a inovação e a criatividade. Esta abordagem permitir-nos-á criar produtos e serviços adaptados às necessidades únicas dos moçambicanos, independentemente da sua faixa de rendimento. Um dos nossos objectivos estratégicos centra-se no micro-seguro e no seguro digital, duas áreas com elevado potencial de crescimento e impacto. Pretendemos desenvolver a nossa base actual de clientes e atrair novos ao longo dos próximos três anos. Planeamos ainda expandir a nossa oferta para dar resposta a riscos emergentes, como os associados às alterações climáticas, cada vez mais relevantes para particulares e empresas.

Estamos também a investir na melhoria da experiência do cliente através da inovação tecnológica, assegurando maior acessibilidade aos nossos serviços. Isto inclui a exploração de soluções de seguros via telemóvel e produtos específicos para o sector informal, que representa uma parte significativa da economia.

Outro ponto-chave é o seguro paramétrico, desenvolvido pela nossa equipa Agri. Este produto inovador protewww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

to inclui seguros de bens e activos para infra-estruturas e equipamentos, coberturas por interrupções de actividade, seguros de responsabilidade e benefícios para colaboradores em ambientes de alto risco. Já testemunhámos isto, tendo processado sinistros de empresas afectadas pela paralisação das operações da TotalEnergies em Palma. Em paralelo com estes grandes projectos energéticos, assistimos a um crescimento indirecto do sector das PME, particularmente em áreas como logística, hotelaria, retalho e transportes. Isto gera uma crescente procura por seguros empresariais, como cobertura contra roubo, danos patrimoniais e perturbações económicas. A expansão dos sectores da energia, infra-estruturas e transportes deverá também impulsionar o crescimento dos seguros colectivos de vida e saúde, bem como de produtos de reforma e pensões, à medida que estas empresas procuram atrair e reter talento qualificado. Além disso, o foco crescente em projectos energéticos e infra-estruturais irá aumentar a exposição a riscos de responsabilidade ambiental, oferecendo à Hollard uma oportunidade para forne-

neamento da reforma. Adaptado a diferentes necessidades financeiras, o fundo combina flexibilidade, sustentabilidade e inovação, assegurando um futuro estável para os seus membros. Este lançamento reforça o compromisso da Hollard Seguros com o empoderamento financeiro individual, oferecendo produtos de ponta que evoluem de acordo com as necessidades dos nossos clientes. Este fundo representa também a nossa dedicação a soluções financeiras inovadoras, que respondem à crescente procura por poupança invidual para um planeamento estruturado da reforma. Com o forte apoio do Banco BIG Moçambique, um dos nossos parceiros de investimento — e um dos principais bancos de investimento no mercado — responsável pela gestão dos protocolos de investimento e do crescimento da nossa oferta de contribuição definida, o fundo assenta numa base sólida de estabilidade e fiabilidade.

Com o lançamento deste fundo, a Hollard reforça a sua posição como líder na oferta de soluções financeiras sustentáveis e de confiança no mercado moçambicano.

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OPINIÃO

Cláudia S. Furtado • Automation Engineer

G

arantir a capacidade de resposta resiliente na gestão de riscos, sejam eles financeiros, operacionais, de “compliance” (conformidade) ou estratégicos, é uma responsabilidade imprescindível da gestão de “risk office” tradicional. Deste modo, agir de forma consistente sobre as matrizes de esforço-impacto das equipas é fundamental, mas será isso, a jusante, uma métrica de sucesso, por si só?

A jornada da automação, da digitalização e mesmo da inteligência artificial em organizações pilares para a estabilidade e segurança do sistema financeiro não se dilui apenas na garantia do presente, mas, acima de tudo, no legado duradouro. Assim, fazer o extraordinário, é, pela minha experiência, garantir que essa visão tem um plano accionável, que a equipa age comprometida e que a monitorização regular abraça um ciclo de melhoria contínua aprimorado – ou seja, assente, em incrementos diários de 4% acima do “baseline” de conforto necessários à evolução em fluxo, não apenas de 1%.

Seguindo essa premissa, a adopção de um “risk intelligent hub” (RIH) proporciona a gestão multifuncional de dados heterogéneos, de forma mais pró-activa, precisa, ágil e eficiente. Uma plataforma que actua na cauterização da entropia de processos dos sistemas bancários, através de um centro de interoperabilidade entre unidades orgânicas, onde a qualidade da informação vai além dos limites do “business intelligence” (BI), da centralização de dados, da mitigação de redundâncias em “data warehouses” ou mesmo do “storytelling” robusto com base em atributos pré-atentivos. É através de uma “framework” de supervisão inteligente que a RIH capacita as “fintechs”, os “hedge funds” e as instituições bancárias de investimento e retalho a adoptar um plano de gestão de risco e tomada de decisão cada vez mais orientado pela modelagem preditiva na análise de “big data”. Impulsionada por tecnologias

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Risk Intelligence Banking: Redefinindo o Legado do Sector Financeiro como “machine learning”, “deep learning” e “statistical modeling”, integradas em “data science” ou como “Internet of Things”, a exploração de “insights” mais profundos nunca foi tão directa e importante.

Uma das oportunidades prementes do uso integrado destas tecnologias é a identificação de eventos “near miss” de risco operacional relacionados com tecnologias de informação e comunicação (TIC).

Recordando artigos da comunicação social, em 2024, reportou-se que só nos primeiros cinco meses do ano foram registadas oito mil fraudes electrónicas, com perdas financeiras de cerca de 112 milhões de meticais, seguindo um históri-

A RIH não é apenas uma inovação tecnológica marcante. É, já hoje, uma valiosa mudança de paradigma co de 180 milhões de meticais em 2023.

Para casos como estes, a gestão de risco com recurso à RIH permite, em situações perfeitas, eliminar o “dwell time”, aumentando a capacidade de prevenir incidentes relacionados com falhas de sistemas de informação, ataques de “social engineering”, como “phishing” ou “pretexting” ou outro tipo de falhas de cibersegurança, pois os modelos utilizados são treinados e dinâmicos. Objectivamente, esta capacidade renovada de vigilância nas instituições, mais relevante ainda para períodos de alerta ou padrões de fraude críticos, precipita-as para a adopção de novas metodologias de análise de vulnerabilidades dos seus sistemas. Leva-as tam-

bém para a preparação de planos de mitigação verdadeiramente conscientes da reengenharia necessária para actuar sobre as falhas de segurança internas, ou seja, antes mesmo de elas se materializarem em perdas efectivas.

A par disso, analisando as directrizes da European Banking Authority (EBA), é claro o aumento da relevância regulatória na uniformização dos grupos organizacionais, bem como na prontidão de informação em maior volume e complexidade; falar de instituições tão preponderantes como o Fundo Monetário Internacional (FMI), do Comité de Basileia para a Supervisão Bancária (BCBS) ou mesmo do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB) não é, de todo, dissemelhante.

Assim, a RIH não é apenas uma inovação tecnológica marcante para o futuro é, já hoje, uma valiosa mudança de paradigma na forma como nos propomos gerir os riscos. Este impulso para a migração de planos de mitigação de riscos centrados na reacção (quase numa óptica de “lessons learned”), para um modelo pró-activo (baseado na identificação de “outliers” em tempo real), é um passo hercúleo, não só para a robustez das instituições financeiras, mas, em última análise, para a robustez da economia de forma lata.

Desta feita, se a estratégia de gestão de riscos não contemplar, a curto ou médio prazo, “frameworks” de “data science” ou um piloto de RIH, a questão central passa a ser: que estratégia adoptar na organização? Deve a transformação ser planeada, em primeira instância, para a aceleração dos “early warning systems” (EWS), para a monitorização de “key risk indicators” (KRIs) em tempo real ou para a alavancagem do “framework” de “stress testing”?

O guião que garante a transformação sustentável, qualquer que seja a escolha, passa pela responsabilidade imprescindível das equipas garantirem que as prioridades conduzem ao sucesso de fazer o extraordinário. Esta é, em toda a sua subtileza, a redefinição decisiva do legado do sector financeiro. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

moçambique digital 64

VODACOM BUSINESS DATA CENTER

Inaugurada no final de Março, esta infra-estrutura de última geração oferece soluções tecnológicas avançadas para pequena, médias e grandes empresas que pretendam ganhar eficiência, segurança e resiliência. Saiba tudo sobre o Vodacom Business Data Center.

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OPINIÃO

“O Desafio da Inovação e da Modernização das Infra-estruturas”, por George Leal Jamil, Professor da Fundação Dom Cabral, Brasil

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PANORAMA

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo

MOÇAMBIQUE DIGITAL

BUSINESS DATA CENTER

Um Passo Estratégico Para a Digitalização Empresarial em Moçambique A Vodacom Moçambique acaba de inaugurar o seu novo Data Center empresarial, um investimento estratégico que promete acelerar a transformação digital no País. Esta infra-estrutura de última geração oferece soluções tecnológicas avançadas para empresas que pretendam ganhar eficiência, segurança e resiliência. Com certificação Tier 3 e capacidade de expansão, o Vodacom Business Data Center afirma-se como um pilar essencial para o ecossistema digital moçambicano Texto M4D • Fotografia D&R

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inauguração do novo Vodacom Business Data Center, que aconteceu no final de Março, representa um marco significativo para o ecossistema digital em Moçambique.

Localizado na Matola, este centro de processamento de dados de última geração surge como uma solução de ponta para as empresas nacionais e internacionais que procuram fortalecer a sua presença digital, garantir maior resiliência operacional e optimizar as suas infra-estruturas tecnológicas.

O Contexto Digital em Moçambique Moçambique encontra-se no centro de uma revolução digital, com milhões de pessoas a conectarem-se e a impulsiona-

rem a inovação diariamente. Assim, a digitalização está a transformar a forma como se comunica e se fazem negócios, criando novas oportunidades para empresas e indivíduos. Neste contexto, a Vodacom Moçambique assume um papel estratégico ao disponibilizar uma infra-estrutura que responde às exigências de um mercado cada vez mais dependente da tecnologia.

Vantagens para as Empresas Num mundo onde a transformação digital é cada vez mais imperativa, o novo Data Center da Vodacom oferece às empresas moçambicanas uma oportunidade única de modernização.

Ao disponibilizar um ambiente seguro e fiável para a hospedagem e gestão de dados, este investimento ajudará a reduzir os riscos associados à perda de infor-

Projectado para as exigências tecnológicas de empresas locais e internacionais, ocupa uma área de 2.600m2 e arranca com 128 racks e a possibilidade de expansão para mais de 500 racks

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Benvinda Levi, Primeira-Ministra de Moçambique, inaugurou o Data Center da Vodacom no final de Março

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MOÇAMBIQUE DIGITAL

mações críticas e facilitará uma maior eficiência operacional.

Para as empresas que buscam escalabilidade e flexibilidade, a adesão ao novo centro de dados proporciona vantagens estratégicas. O modelo de conectividade neutra da infra-estrutura permite que as organizações escolham livremente o seu provedor de telecomunicações, tornando-o uma opção acessível e adaptável às necessidades de diferentes indústrias.

Tecnologia e Inovações Com uma área de 2.600m2, o Data Center inicia operações com 128 racks, com possibilidade de expansão para mais de 500 racks. Projectado para suportar as exigências tecnológicas de empresas locais e internacionais, e equipado com tecnologia de última geração, o Data Center da Vodacom assegura um desempenho optimiza-

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A descentralização da gestão de dados, com servidores locais, permite um acesso mais rápido e seguro às informações armazenadas, reduzindo a dependência de infraestruturas externas

do para as operações empresariais. Com sistemas avançados de refrigeração, energia redundante e medidas rigorosas de controlo de acesso, esta infra-estrutura foi concebida para garantir um ambiente de inovação e operações ininterruptas.

Além disso, a Vodacom Moçambique obteve a certificação Tier 3 pelo Uptime Institute, o que garante elevados padrões de resiliência e disponibilidade para as empresas que utilizam os seus serviços.

A adopção de tecnologia de ponta neste centro é um catalisador para o desenvolvimento de soluções de cloud computing, inteligência artificial e big data. Com mais empresas a recorrerem à digitalização para impulsionar os seus negócios, a disponibilidade de uma infra-estrutura robusta localmente contribui para o crescimento do sector tecnológico moçambicano. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

penho com menor consumo energético, reforçando o compromisso da Vodacom com a eficiência e sustentabilidade.

Sustentabilidade e eficiência A Vodacom incorporou sistemas inteligentes de monitorização e refrigeração adaptativa, promovendo o uso eficiente da energia e reduzindo desperdícios.

O Vodacom Business Data Center apresenta um dos melhores índices de eficiência energética em África, posicionando-se como uma referência na adopção de práticas sustentáveis no sector tecnológico.

Impacto na Inovação Com a sua infra-estrutura de ponta, a Vodacom está a contribuir activamente para a transformação digital em Moçambique, promovendo a inovação e o desenvolvimento tecnológico do País, e do seu tecido empresarial.

Além de fornecer serviços essenciais às empresas, a operadora tem apostado no envolvimento de talentos locais, fomentando o crescimento do sector tecnológico moçambicano.

Competitividade e menores custos

O Vodacom Business Data Center obteve a certificação Tier 3 pelo Uptime Institute, o que garante elevados padrões de resiliência

Segurança e Protecção de Dados Num contexto onde a cibersegurança se torna uma preocupação central, o Vodacom Business Data Center foi desenhado para oferecer as mais elevadas características de protecção de dados. O centro de controlo 24/7 assegura a monitorização contínua de todas as operações, garantindo segurança e fiabilidade.

As medidas implementadas incluem: • Segurança física rigorosa com vigilância permanente e muros perimetrais; • Equipa de segurança dedicada; • Controlo de acesso por autenticação biométrica e cartões electrónicos; • Monitorização por câmaras de vigilância.

Além disso, a conformidade com padrões internacionais de segurança da informawww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

A competitividade dos preços e a relação custo-benefício são factores determinantes para as empresas e, ao eliminar a necessidade de investimentos elevados em infra-estruturas próprias, as organizações que optem pelo Vodacom Business Data Center podem focar-se no seu core business enquanto beneficiam de um serviço optimizado e seguro.

Esta abordagem não só reduz custos operacionais como também melhora a eficiência e a produtividade de pequenas, médias e grandes empresas.

O papel da Vodacom no Futuro ção serve como reforço da confiança das empresas na adopção desta solução inovadora no mercado.

A descentralização da gestão de dados, com servidores locais, permite um acesso mais rápido e seguro às informações armazenadas, reduzindo a dependência de infra-estruturas externas.

Conectividade e energia A conectividade é um dos pilares fundamentais do novo Vodacom Business Data Center. A infra-estrutura conta com ligações de fibra óptica de alta velocidade, garantindo um serviço fiável a nível nacional e global. Para assegurar a continuidade das operações, o centro dispõe de fontes de alimentação redundantes e UPS avançados.

Os sistemas de refrigeração foram optimizados para garantir máximo desem-

A aposta da Vodacom na construção deste Data Center não só reforça a sua posição como líder em inovação tecnológica no País, mas também contribui significativamente para o fortalecimento do ecossistema digital Moçambicano.

Empresas de diferentes sectores poderão beneficiar das vantagens de um centro de dados moderno, seguro e altamente eficiente.

Num cenário onde a digitalização é crucial para o crescimento empresarial, esta nova infra-estrutura criada pela Vodacom Moçambique representa uma oportunidade estratégica para que as empresas moçambicanas alcancem novos patamares de competitividade e inovação.

Este é, sem dúvida, um passo importante rumo a um futuro mais tecnológico e seguro para os negócios em Moçambique.

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ENTREVISTA

George Leal Jamil • Professor da Fundação Dom Cabral, Brasil

O Desafio da Inovação e da Modernização das Infra-estruturas

Moçambique tem a oportunidade de tirar partido das inovações infra-estruturais para capacitar profissionais, agentes públicos e privados e toda a sociedade no planeamento, implementação e gestão de infraestruturas modernas e sustentáveis

o testemunhar, mesmo à distância, a história recente de Moçambique, discutir os aspectos de inovação na infra-estrutura leva-nos, de imediato, a reflectir sobre o avanço das instituições, da sociedade e da participação global do País no processo. Trata-se, portanto, de um desafio notável e essencial.

Em primeiro lugar, importa fazer uma breve avaliação das condições necessárias para inovar no sector das infra-estruturas. As teorias da inovação, reforçadas pelos estudos de Joseph Schumpeter, James Utterback, Peter Drucker e Clayton Christensen, entre outros, demonstram a importância das bases infra-estruturais como alicerces para a inovação.

A necessidade de infra-estruturas é descrita nestes trabalhos como um factor essencial para garantir que as inovações tecnológicas, comerciais, mercantis e sociais tenham êxito, mas que sejam também sustentáveis – aqui empregando intencionalmente o termo no seu duplo significado, referindo-se tanto à sustentabilidade comercial e estratégica como ao respeito pelo meio ambiente.

Diversos estudos mostram que investir e compreender a inovação em infra-estruturas é um factor estratégico de duplo impacto: por um lado, estabelece a base para o desenvolvimento de outras inovações e, por outro, é uma fonte de progresso exigida pela sociedade em geral, tendo em vista a modernização de uma região, de uma nação ou até mesmo de um continente.

A jovem nação moçambicana, que este ano celebra 50 anos de independência, tem registado um crescimento significativo do seu Produto Interno Bruto (PIB), mas enfrenta, simultaneamente, os desafios de amadurecimento num mundo turbulento. Esse contexto, por vezes, gera um desenvolvimento desigual, difícil de

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administrar e coordenar. Assim, as inovações infra-estruturais poderão ajudar a mitigar os impactos desta possível heterogeneidade de crescimento, fornecendo as bases para outras inovações e modernizando a organização social.

Num primeiro momento, as inovações em infra-estrutura abarcam diversas áreas estratégicas, tais como os sistemas viários – estradas, portos, aeroportos e as respectivas infra-estruturas de suporte (túneis, docas, pistas, entre outros) – bem como os sistemas de comunicação, que nos últimos anos passaram a enfrentar o desafio da conectividade global via Internet, com exigências crescentes de desempenho, segurança e acessibilidade.

Além disso, incluem-se neste cenário os sistemas logísticos, que abrangem o armazenamento e transporte de produtos naturais, sendo a agricultura e a mineração sectores essenciais para o crescimento económico de Moçambique, conforme dados do Banco Mundial e das Nações Unidas. Por fim, destaca-se o sector da energia, uma vez que Moçambique é produtor de petróleo e gás e dispõe de uma localização geográfica privilegiada, permitindo-lhe explorar, de forma eficiente, energia de fontes renováveis, como a eólica e a solar, além das tecnologias emergentes de produção através dos movimentos das marés.

As inovações podem assumir várias formas, indo além dos produtos tradicionalmente associados ao conceito de inovação – como foi o caso do lançamento do iPhone, dos veículos eléctricos modernos ou do uso de grafeno para ecrãs maleáveis em dispositivos electrónicos e electrodomésticos.

Para além das inovações em produtos, é fundamental considerar outras formas de inovação, como: • Inovações de processos, que dizem respeito a mudanças nos métodos e formas www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

O aparecimento de novos grupos de consumidores abre espaço para oportunidades inovadoras

de atingir metas estratégicas, exemplificadas pela introdução de canais digitais (websites e aplicações móveis) em empresas que anteriormente operavam apenas presencialmente; • Inovações na estrutura organizacional, como a terceirização ou internalização de determinadas actividades empresariais, sendo este um aspecto crucial na execução de parcerias público-privadas para a construção e gestão de infra-estruturas como portos, armazéns, estradas e aeroportos; • Inovação através da criação de novos mercados, um conceito essencial para países jovens e dinâmicos como Moçambique. O surgimento de novos grupos de consumidores, muitas vezes impulsionado por tendências tecnológicas e sociais, abre espaço para oportunidades inovadoras em áreas como o marketing digital, o entretenimento doméstico e a produção e consumo de conteúdos informativos.

Outro aspecto importante da inovação infra-estrutural está na descoberta e utilização de novas matérias-primas. Neste sentido, os países emergentes devem procurar ascender na cadeia de valor, passando de meros fornecedores de recursos para dominarem o seu processamento e aplicação final em sectores estratégicos como a electrónica, a construwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

ção civil, o desenvolvimento farmacêutico e os serviços especializados de transporte e comunicação.

Todas estas questões geram uma ampla gama de oportunidades para inovar nas infra-estruturas. Para validar esse potencial, importa realizar estudos específicos que confirmem a viabilidade e o impacto destas inovações.

Por exemplo, o desenvolvimento de modelos de negócios para a gestão do transporte pode transformar aeroportos e portos em hubs internacionais, ligando infra-estruturas locais às redes globais de comércio e turismo. Este processo permitiria que Moçambique não fosse apenas um ponto de passagem de passageiros e mercadorias, mas um centro estratégico para negócios, serviços de saúde e transacções financeiras internacionais.

Outra área relevante é a inovação na construção em climas tropicais, um sector que enfrenta desafios acrescidos devido às condições ambientais e às mudanças climáticas. O desenvolvimento de novas tecnologias de construção, materiais inovadores e metodologias integradas pode aumentar a produtividade e a durabilidade das infra-estruturas, permitindo que estas sejam mantidas por períodos mais longos e com menores custos de manutenção. Neste contexto, a aposta em fontes de energia renová-

vel – nomeadamente solar, eólica e tecnologias não poluentes – torna-se num diferencial competitivo para Moçambique, reforçando a importância de investimentos em pesquisa e desenvolvimento nestas áreas.

Conforme exposto ao longo deste artigo, a inovação em infra-estruturas representa um elemento-chave para o desenvolvimento social e económico, podendo contribuir para o amadurecimento e a inclusão das comunidades no contexto global.

Para além do benefício directo do crescimento regional e nacional, o conhecimento gerado nestes processos pode ser partilhado e comercializado em escala internacional, fortalecendo o papel de Moçambique como um actor relevante na inovação infra-estrutural.

Tal como acontece no Brasil, Moçambique tem a oportunidade de tirar partido das inovações infra-estruturais para capacitar profissionais, agentes públicos e privados e toda a sociedade no planeamento, implementação e gestão de infra-estruturas modernas e sustentáveis.

Os nossos países sempre demonstraram resiliência para enfrentar desafios e superá-los. A inovação, especialmente nas infra-estruturas, constitui um caminho estratégico para impulsionar o nosso desenvolvimento.

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PANORAMA

Serviços públicos

Plano do Governo prevê cartas de condução digitalizadas

Cooperação

Itália apoia transformação digital de Moçambique com 100 milhões de dólares O Governo italiano lançou o projecto “Digital Flagship with Africa” com o objectivo de promover um crescimento inclusivo aliado à transformação digital. Moçambique é um dos quatro países seleccionados para a iniciativa impulsionada pelo Plano Mattei para África.

As verbas deverão financiar a modernização de infra-estruturas digitais, o acesso a ferramentas tecnológicas e ecossistemas digitais inclusivos. O investimento totaliza 100 milhões de dólares. A iniciativa é desenvolvida em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Ministério das Comunicações e Transformação Digital (MCTD) e a Agência Digital Italiana (AGID).

Edo Stok, representante residente do PNUD em Moçambique, indicou que o Digital Flagship pode representar uma nova realidade no contacto com o mundo digital. Já o Governo espera que o projecto acelere a digitalização do País, fortaleça a competitividade económica e impulsione um crescimento sustentável.

Além de Moçambique, o Digital Flagship também inclui Senegal, Costa do Marfim e Gana. A iniciativa surge num momento em que o continente precisa de 1,6 biliões de dólares para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. De acordo com o relatório African Development Dynamics 2023 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e da União Africana (UA), esta necessidade de financiamento é urgente.

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Como forma de reduzir os custos e tornar a carta de condução mais acessível a todos os Moçambicanos, o Ministério dos Transportes e Logística anunciou a digitalização deste documento. “Já orientámos o INATRO (Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários) para avançar com a digitalização das cartas de condução. O formato digital é mais acessível e muito mais barato para todos. Quem já conduziu na África do Sul conhece este sistema”, afirmou o ministro dos Transportes e Logística, João Matlombe, citado pela Rádio Moçambique. Além de reduzir os custos, a medida pretende combater o mercado ilegal de aquisição de cartas de condução, que beneficia intermediários em vez do Estado.

No início de 2024, foi lançada uma plataforma digital para facilitar a renovação e emissão de cartas de condução em Moçambique, reduzindo filas e agilizando processos burocráticos, algo que já começa a dar resultados. O INATRO planeia ainda receber uma viatura multifuncional para apoiar na identificação de condutores em situação irregular e facilitar a renovação de cartas de condução para quem reside fora das grandes cidades.

A digitalização da carta de condução já estava nos planos do Governo em 2022.

Na altura, o então vice-ministro dos Transportes e Comunicações, Amilton Alisson, destacou a importância de adoptar soluções digitais para modernizar os serviços e reduzir a sinistralidade rodoviária.

Inovação

Google acrescenta “modo de Inteligência Artificial” para pesquisas avançadas e personalizadas em tempo real

A Google anunciou o lançamento de um “modo de inteligência artificial” nas pesquisas, um separador semelhante aos das imagens ou notícias, mas associado a um “chatbot”. Através desta opção, é possível “perguntar qualquer coisa e obter uma resposta útil, com tecnologia de IA, além da possibilidade de acrescentar perguntas complementares e “links” da

web, numa espécie de diálogo, explicou a gigante tecnológica.

Com esta ferramenta, a Google procura competir com o Perplexity ou o ChatGPT Search, que oferecem sistemas de pesquisa semelhantes com IA. “Como acontece com qualquer produto de IA em fase inicial, nem sempre acertamos.

Por exemplo, embora o nosso objectivo seja que as respostas de IA apresentem informação com base no que está disponível na web, é possível que algumas respostas possam, involuntariamente, assumir uma personalidade ou reflectir uma opinião específica”, alertou a empresa.

Um alerta feito numa altura em que uma dos maiores falhas apontadas à IA generativa são as chamadas “alucinações”, ou seja, respostas bem estruturadas, mas falsas.

Ciência

Investigadores desenvolvem roupa inteligente com computador integrado e sensores avançados Um grupo de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) criou roupa inteligente capaz de armazenar dados e vigiar a saúde do utilizador. A inovação, liderada por Yoel Fink e sua equipa, foi divulgada na revista Nature.

De acordo com o portal New Scientist, cada fio de tecido pode conter 256 kilobytes de memória integrada, mais ou menos o mesmo que uma calculadora simples. O processo de fabrico envolve a colocação de microchips num tubo tão fino que pode ser coberto com algodão ou fibra sintética. A equipa está a testar as roupas feitas

com estes “computadores de fios” numa expedição ao Árctico, como parte da Operação NANOOK, um exercício militar do exército canadiano. A inovação poderá ser mais ágil na detecção de acidentes, como uma queda perigosa ou problemas de saúde, explicou o investigador Theo Hughes-Riley. O que torna este vestuário distinto de outras soluções é o facto de não precisar de ter sensores interligados entre si, o que torna a sua aplicação mais prática e simples. E os fios até podem ser lavados – mas só com água, que há cuidados a ter quando falamos de roupa tecnológica. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

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ócio

A águia-peixe, o emblema nacional da Zâmbia, adorna o monumento e a fonte numa rotunda em Lusaca, na estrada do Cairo, na zona comercial da cidade.

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ESCAPE

RAMADÃO

ADEGA

DIÁSPORA

AGENDA

África No mês da mulher moçambicana, cinco destinos para visitar em segurança

Gastronomia Quais as iguarias que nos esperam na hora de terminar o mês do jejum?

Páscoa Com tanto sabor à mesa e a família reunida, há que ter vinhos à altura

Langarte Sebastião Langa mostra como a arte estabelece pontes entre vários países

Abril Todos os eventos nacionais e globais que não pode perder, incluindo as artes

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VOLANTE

Desejados Quais os automóveis eleitos pelas mulheres? Este júri revela os vencedores

MÊS DA MULHER

ESCAPE

Lugares inspiradores, sem sair do continente africano

Cinco Destinos Africanos NO DIA 7 DE ABRIL celebra-se o Dia da Mulher Moçambicana, uma data que homenageia a força, a resiliência e a independência feminina.

Neste contexto, viajar sozinha torna-se um símbolo de liberdade e emancipação. Siga estas sugestões para uma experiência enriquecedora, explorando novos horizontes, culturas e histórias O continente africano, com a sua diversidade de paisagens e povos acolhedores, oferece uma combinação quase ilimitada de destinos. Para as mulheres que desejam aventurar-se sozinhas e em segurança, o número de opções é igualmente tentador. Seja em cidades vibrantes, praias paradisíacas ou reservas naturais, há opções tranquilas e inspiradoras para quem procura novas experiências sem abrir mão do bem-estar. Desfrute do mês da mulher moçambicana nos países mais seguros de África, de acordo com estatísticas analisadas pela Altezza Travel. Eis a lista:

Ilhas Maurícias Capital: Port Louis População: 1,3 milhão No Índice Global de Paz (GPI) que mede áreas co-

Seguros Para Explorar Sozinha mo a segurança e convivência em 163 países, esta nação insular do sudeste da África surge como uma das mais bem cotadas do continente. Supera a maioria dos países do mundo, incluindo Espanha, Noruega, Itália, Reino Unido, Suécia e EUA. No índice Global de Terrorismo (GTI), está na zona verde com uma pontuação de zero, indicando o menor nível de ameaças. Está em 83.º lugar entre 146 em termos de taxa de criminalidade.

Gana Capital: Acra População: 34,5 milhões Ao longo da sua costa, o Gana espreita continuamente para o oceano Atlântico e, em terra, faz fronteira com Togo, Costa do Marfim e Burkina Faso. Apesar da sua localização, o país é conhecido por ter um sistema judicial independente, democracia multipartidária e liberdade de expressão, incluindo uma imprensa livre.

Em termos do Índice Global de Paz, supera a Moldávia, Bósnia e Herzegovina, França, China e até mesmo a Jamaica. No Índice de Terroris-

mo, está entre os países com pontuação zero. Além disso, a taxa de criminalidade é menor do que a do Canadá, Grécia ou Austrália. Em relação ao Relatório de Segurança Global e ao Índice de Desenvolvimento Humano, o Gana fica atrás de todos os países do “primeiro mundo”, mas supera a maioria das nações africanas, incluindo destinos turísticos populares como Quénia, Etiópia e Madagáscar.

Zâmbia Capital: Lusaca População: 21,1 milhões Localizada na parte sul do continente, a Zâmbia desfruta de estabilidade política desde que conquistou a independência, em 1964. Na última década, registou um acelerado crescimento económico, se comparado com muitos países africanos, o que se reflecte directamente nos níveis de segurança doméstica. Assim como Gana, a Zâmbia fica atrás de muitos países ocidentais e europeus, líderes no Índice Global de Paz, mas permanece perto do “nível superior”.

Notavelmente, supera destinos turísticos populares como Tailândia, Nepal, China, Índia e até mesmo França. A Zâmbia ocupa o segundo lugar mais baixo no mundo em risco de terrorismo, e a sua taxa de criminalidade está abaixo da Grécia, Itália, Austrália, Reino Unido e outros países prósperos.

Namíbia Capital: Windhoek População: 2,8 milhões

Passadiço ao longo de uma praia acolhedora, nas Ilhas Maurícias

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A Namíbia faz fronteira com a África do Sul, Botsuana, Angola e Zâmbia. Olhemos para esta última linha de confluência: embora a fronteira com a Zâmbia seja de apenas 247 km, as duas nações têm muito em comum.

Por exemplo, a Namíbia fica só um pouco atrás da Zâmbia, tanto no Índice de Paz, www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

quanto no Índice de Terrorismo, superando a maioria dos países do mundo em ambos. De acordo com o Relatório de Segurança Global, supera o Quénia e muitos dos seus vizinhos. Um quadro semelhante é pintado pela ONU: o desenvolvimento humano do país está num nível mais alto do que na Zâmbia, Nepal, Ruanda e metade das nações da África, Médio Oriente e Ásia.

De acordo com sondagens da Gallup, os países onde os residentes mais relatam sentir-se inseguros nas ruas, ano após ano, estão principalmente na África Subsaariana, América Latina e Caribe, sendo a Namíbia (e Maláui) as excepções à regra. A eleição presidencial de 2024 foi um bom indicador de estabilidade política e social.

Vida quotidiana na cidade africana de Kumasi, Gana

Seja em cidades vibrantes, praias paradisíacas ou reservas naturais, há opções tranquilas e inspiradoras para quem procura novas experiências sem abrir mão do bem-estar

Marrocos Capital: Rabat População: 39,2 milhões Marrocos é um país reconhecido como um dos pólos económicos do continente. Faz fronteira com a Europa, através do Estreito de Gibraltar (Espanha). De acordo com a Global Finance, este país difere da maioria dos outros africanos em termos do seu ambiente político estável, mercados financeiros desenvolvidos e infra-estrutura moderna.

No Índice Global de Paz, Marrocos supera Nepal, França, China e quase uma centena de outras nações. A influência do terrorismo é zero e a taxa de criminalidade é menor do que no Reino Unido, Nova Zelândia, Suécia, Estados Unidos e outros países frequentemente considerados como referências.

Uma conclusão semelhante pode ser tirada do Relatório de Segurança Global da ONU. Texto Ana Mangana Fotografia D.R www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

Amanhecer soalheiro sobre a muralha da Kasbah dos Udayas, Marrocos

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EID AL-FITR Conheça as iguarias gastronómicas desta época festiva

GOURMET

Durante o Ramadão e o Eid al-Fitr, pratos especiais ganham destaque, reflectindo a tradição local

O RAMADÃO é o mês muçulmano dedicado à reflexão espiritual e à oração. Durante este período sagrado (celebrado, este ano, entre 28 de Fevereiro e 30 de Março), o jejum é praticado desde o amanhecer até ao pôr-do-sol. O momento diário de quebrar a privação, conhecido como “iftar”, é sempre aguardado com expectativa.

No final do Ramadão, assinala-se o Eid al-Fitr, que significa literalmente “celebração do fim do jejum”. É um grande encontros entre familiares e uma refeição especial.

Em Moçambique, a culinária deste momento é marcada por uma fusão de influências africanas, árabes e portuguesas. Durante o Ramadão e o Eid al-Fitr, pratos especiais ganham destaque, reflectindo a tradição local. Vamos explorar algumas das receitas mais populares, com ênfase nas opções oferecidas pelo restaurante Istambul, uma casa de gastronomia turca no Maputo Shopping Center, na baixa da cidade.

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Eid al-Fitr em Moçambique que especial de temperos do Médio Oriente.

Rissóis Os rissóis são outra opção de entrada durante o Ramadão, populares pela textura crocante e recheio suculento. Podem ser preparados com camarão e fritos até ficarem dourados por fora, mantendo o recheio bem temperado e suculento por dentro. São servidos com molho de iogurte ou outro molho fresco.

Tâmaras e frutas frescas As tâmaras são tradicionalmente consumidas logo após o pôr-do-sol para quebrar o jejum. Ricas em nutrientes, fornecem a energia necessária após um longo dia de abstinência. No restaurante Istambul, são servidas com frutas frescas, como melancia, uvas e morangos, criando uma combinação doce e refrescante para iniciar o iftar.

As entradas tradicionais do Iftar Chamuças (samosas)

Kebab, uma proposta para o Eid al-Fitr Kebab

As chamuças, ou samosas, são um clássico indispensável nas mesas de iftar. No contexto do Ramadão, elas são preparadas com uma crocante camada externa e um recheio saboroso e bem temperado. O restaurante Istambul serve chamuças recheadas com carne ou peixe, ambas com um to-

O prato principal sugerido pelos nossos anfitriões é um dos mais preparados durante o Eid al-Fitr: o kebab. Preparado com carne de vaca ou frango, é uma celebração de temperos árabes, cuja combinação define a alma deste prato.

A carne é marinada com especiarias e depois grelhada até fi-

Uma Celebração Gastronómica car dourada e suculenta. O kebab é geralmente servido com arroz basmati, batatas, salada e apas, formando uma refeição equilibrada e cheia de sabores.

gengibre, criando uma bebida revigorante, refrescante e que ajuda na digestão.

A supremacia dos doces: Baklava de pistácios e mel

Em Moçambique, as frutas tropicais são um ingrediente essencial em muitas receitas.

Durante o Ramadão, cocktails feitos com manga, ananás e limão são uma excelente escolha para quem deseja uma bebida refrescante e cheia de sabor. Juntar hortelã fresca e gengibre cria um toque extra de frescura e complexidade, tornando-os perfeitos para relaxar após o iftar.

A baklava é uma sobremesa tradicional que nasceu no Médio Oriente e evoluiu ao longo dos séculos. Feita com camadas finas de massa, pistácios triturados e mel, a baklava é crocante por fora e doce e delicada por dentro.

Doce de tâmaras com amêndoas e coco As tâmaras são fundamentais durante o Ramadão, sendo consumidas de várias formas.

Um exemplo típico é o doce de tâmaras com amêndoas e coco, uma sobremesa leve e rica em nutrientes. Esta combinação traz um equilíbrio perfeito entre a doçura das tâmaras e a crocância das amêndoas.

Bebidas refrescantes: Limonada com toque especial A limonada é uma das opções mais refrescantes para hidratar o corpo após um dia de jejum.

No restaurante Istambul, a limonada ganha um toque especial, com a adição de hortelã fresca e uma leve pitada de

Cocktails de Frutas Tropicais

A Magia do Eid al-Fitr em família Além da variedade de pratos, a experiência do Eid al-Fitr é enriquecida pela atmosfera. Decorações com lanternas tradicionais, tapetes coloridos e velas aromáticas são características que ajudam a criar um ambiente acolhedor e festivo.

O iftar ou o Eid al-Fitr em Moçambique são mais do que momentos de quebrar o jejum: são uma celebração de fé, cultura e amor. Cada prato é uma expressão de hospitalidade e de respeito pela tradição.

Texto Florença Nhabinde Fotografia D.R www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

A Páscoa é uma oportunidade para reunir amigos e familiares em torno de uma mesa farta e celebrar a vida. Lembre-se que as combinações de vinhos e pratos podem variar de acordo com as preferências individuais

Páscoa com Vinhos: Descubra

Vinhos brancos: leveza e frescura e sofisticação Em primeiro lugar, vamos falar sobre os vinhos brancos, que são uma excelente opção para acompanhar pratos leves e de frutos do mar. Um vinho branco refrescante, como um “sauvignon blanc”, é uma escolha infalível para combinar com um delicioso peixe assado ou camarões refogados. Além disso, a leve acidez e os aromas cítricos desse tipo de vinho complementam perfeitamente pratos à base de limão, alecrim e outras ervas comuns na culinária da Páscoa. Por outro lado, um “chardonnay” mais encorpado pode ser a escolha certa para quem prefere um vinho branco com mais estrutura. Esse tipo de vinho liga-se muito bem com pratos à base de queijos suaves.

Um brinde à Páscoa: que cada taça celebre a renovação e a alegria

as Melhores Combinações dez e taninos suaves complementam perfeitamente com peças tenras desta carne que se desmancham por entre temperos vigorosos, criando uma combinação irresistível.

Por outro lado, um “merlot” mais encorpado pode ser a escolha certa para pratos mais robustos. A maciez e a riqueza de sabores desse tipo de vinho criam uma harmonização perfeita com a carne, proporcionando uma experiência gastronómica inesquecível para a celebração de Páscoa.

Espumantes e Champanhes: brinde à alegria Se há festa em família, não podemos esquecer os espumantes e champanhes, perfeitos para brindar em momentos especiais. Um espumante “brut” associa-se bem a aperitivos, salmão defumado ou canapés de quei-

jo, criando um contraste deliciosamente refrescante. Por exemplo, um champanhe “rosé” é uma escolha elegante e sofisticada para acompanhar a sobremesa, especialmente se houver chocolates envolvidos. A doçura subtil de um “rosé” complementa perfeitamente a intensidade e o creme do chocolate, criando uma harmonização luxuosa para o final da refeição de Páscoa.

Em suma, a Páscoa é uma oportunidade maravilhosa para reunir amigos e familiares em torno de uma mesa farta e celebrar a vida. Lembre-se de que as combinações de vinhos e pratos podem variar de acordo com as preferências individuais, então sinta-se à vontade para experimentar e explorar novas harmonizações.

Texto Ana Mangana Fotografia D.R

ADEGA

A PÁSCOA é um momento de celebração, tradição e união em torno da mesa, onde pratos especiais ganham destaque. Claro está que a escolha do vinho certo pode elevar a experiência gastronómica a outro nível. Mas como harmonizar vinhos com tanta variedade de sabores?

Descubra combinações perfeitas para cada prato típico da Páscoa.

OCASIÃO ESPECIAL

Vinhos tintos: versatilidade à mesa de Páscoa Muita atenção aos vinhos tintos, que são conhecidos pela capacidade de combinação com uma ampla variedade de pratos. Um “pinot noir”, por exemplo, é uma excelente escolha para acompanhar pratos à base de carne de porco, como leitão assado. A aciwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

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AOS 44 ANOS, apesar de viver em Espanha, Sebastião Alvez Langa mantém viva a ligação com Maputo, terra natal. Quer continuar a inovar na arte do batique e reforçar a presença da arte moçambicana no mundo.

Ao longo dos anos, o empreendedorismo e a arte têm-se revelado um meio eficaz de transformação social e cultural. Para muitos moçambicanos que deixam o País em busca de novos horizontes, o caminho nem sempre é fácil. Mas para aqueles que encontram na arte um espaço de expressão, os desafios tornam-se degraus para o sucesso, como mostra Sebastião Alves Langa. Nasceu a 17 de Novembro de 1980, no bairro do Aeroporto, em Maputo. Cresceu num ambiente onde a arte fazia parte do quotidiano.

Desde a adolescência, sentia-se atraído pelo esse outro mundo e, com o passar dos anos, a paixão transformou-se num verdadeiro ofício. Langa teve o seu primeiro contacto com o ba-

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MOÇAMBICANOS NA DIÁSPORA

SEBASTIÃO ALVEZ LANGA Artista Moçambicano

Sebastião Alvez Langa: talento que ecoa além-fronteiras

EMPREENDEDOR

Para os jovens artesãos que queiram explorar novos horizontes, o artista deixa um conselho: “Primeiro, trabalhem muito na qualidade”

Arte, Uma Ponte Entre tique (uma técnica tradicional de pintura em tecido, utilizando cera e corantes naturais) graças a um mestre experiente, que vivia no bairro.

Começou a perceber que a arte podia ser mais do que um passatempo: era um meio de expressão pessoal.

A disciplina e a aprendizagem contínua tornaram-se parte integrante do seu percurso.

Primeiros trabalhos em 1994 “Comecei a fazer os meus trabalhos em 1994, no bairro do Aeroporto, rodeado de artesãos, escultores, pintores de batique e outros artistas . Interessei-me muito por tudo aquilo. Na altura, fazíamos acabamentos

Moçambique e o Mundo

sob a instrução dos mestres”, conta. Anos depois, conseguiu fazer parte da Muteco Uau (expressão que significa “nosso trabalho”), nome de uma associação de artesãos onde amadureceu, como artista. Durante esse período, além de aperfeiçoar a técnica, aprendeu com a experiência de outros artistas e ganhou uma visão mais ampla sobre o mercado da arte.

Além disso, havia pequenos eventos para os visitantes e aulas de pintura de batique.

“Criámos também uma atração de turismo urbano, uma forma de chamar clientes para a cidade, para os mercados, para que vivessem a realidade da vida da capital”.

Um sonho europeu Realizado” O mercado europeu estava sempre presente nas suas reflexões. Langa observava o fluxo de turistas que visitavam as feiras criadas pela associação e a forma como as obras de arte eram valorizadas fora de Moçambique: “Fazíamos batiques em grandes quantidades e o destino era a Europa”, recorda. Em particular, Itália, Espanha e França. A partir daí, surgiu o desejo de expandir a sua arte além fronteiras.

Em 2015, Langa decidiu mudar-se para a Cantábria, norte de Espanha. A adaptação a um novo ambiente cultural e a superação dos desafios buwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

VERSATILIDADE E INOVAÇÃO As principais caraterísticas de Langa são a versatilidade e inovação. Não se limita ao batique tradicional e procura constantemente novas formas de utilizar a técnica, alargando o repertório artístico. Além de pinturas, desenvolve também mochilas, malas, carteiras de mão ou para telemóveis, laços para cabelo e até abajures, utilizando capulana, uma das suas principais fontes de inspiração.

OPORTUNIDADES NOS MUNICÍPIOS

rocráticos não foram fáceis.

No entanto, em 2016, conseguiu participar, pela primeira vez, numa feira de artesanato em Castro-Urdiales. A aceitação do público foi positiva e isso abriu portas para outras exposições e feiras ao longo dos anos. Como é que a relação com o novo país começou?

Os primeiros passos em Espanha “É verdade que tudo foi complicado, no início. Quando cheguei a Espanha, como turista, deram-me um visto de três meses. Passei os primeiros dias a procurar forma de me legalizar, de obter autorização de residência”, afirma. “Para me integrar como artista, em primeiro lugar, tive de registar-me como artesão profissional. Fiz isso em 2015. Logo a seguir comecei a participar em feiras excluwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

sivas e importantes. Foi assim que surgiu a minha marca, Langarte”.

Conhecer os gostos europeus A transição para o mercado europeu não foi instantânea. Sebastião teve de aprender a compreender as preferências e os gostos dos clientes estrangeiros, o que se reflectiu na sua produção artística. Passou a seleccionar capulanas que se aproximavam mais dos gostos europeus, aprendendo a misturar cores e estilos, de acordo com as estações do ano: “Quando cheguei com capulanas muito coloridas, na primeira feira, os clientes começaram a falar-me das cores de cada estação”, ganhando experiência sobre os sentimentos de mercado, ajudando a melhorar o trabalho.Hoje, a chegar aos 30

anos de experiência, continua a explorar novas formas de se expressar através da arte, mantendo-se fiel às raízes e aos ensinamentos dos mestres: “Acho que a aceitação é positiva, não me posso queixar”. Além de participar em feiras e noutros eventos, o currículo já conta com seis exposições e diversas colaborações com outros artesãos.

Para os jovens artesãos que queiram explorar novos horizontes, o artista deixa um conselho: “trabalhem muito na qualidade, em primeiro lugar. Se quiserem manter os clientes, têm de ser muito criativos e apostar muito na qualidade e num bom acabamento, seja pintura, costura, qualquer coisa. Qualidade e diversidade.

Inovar, sempre”.

As principais caraterísticas de Langa são a versatilidade e inovação. Não se limita ao batique tradicional e procura novas formas de utilizar a técnica, alargando o repertório artístico. Além de pinturas, desenvolve mochilas, malas, carteiras de mão ou para telemóveis, laços para cabelo e até abajures, utilizando capulana, uma das suas principais fontes de inspiração.

O FUTURO PASSA POR UMA LOJA Langa gostaria de abrir uma loja, não só na Internet, mas também uma presença física, além de contratar e formar mais artesãos para o ajudarem na produção – e assim participar em mais feiras. “Neste momento, limito-me a ir a uma ou a outra exposição. Se tivesse uma loja, pessoal e um stock de material, poderia participar em mais eventos”, aponta.

Texto Germano Ndlovo

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A AGENDA DE ABRIL

AGENDA

Todos os eventos globais, da sustentabilidade ao desporto, passando pelas artes

É A MAIS ANTIGA E PRESTIGIADA maratona do mundo.

São 30 mil atletas a percorrer o icónico trajecto da Maratona de Boston, em Massachusetts, nos EUA. A atmosfera festiva ao longo de todo o percurso faz deste evento anual um acontecimento que ninguém quer perder.

No nosso continente, a cidade de Marraquexe, em Marrocos, vai receber a 3.ª edição da Gitex África, uma das maiores mostras de tecnologia e “startups” do continente africano. Impulsionar África para a economia global da inteligência artificial é o tema que vai marcar

O Que Não Pode (Mesmo) o evento, integrado na estratégia nacional “Marrocos Digital 2030”.

Em Maputo, realiza-se a RENMOZ 2025, 4.ª Conferência Empresarial de Energias Renováveis de Moçambique, ponto de encontro dos principais intervenientes e especialistas do sector. No rescaldo da COP29 e de um novo acordo global para “financiamento climático”, a RENMOZ 2025 dará destaque à implementação e financiamento da Estratégia de Transição Energética, aprovada, no ano passado, pelo Governo mo-

TECNOLOGIA

Maratona de Boston Massachusetts/EUA 21 de Abril baa.org É uma das corridas mais prestigiadas do mundo e conhecida pela atmosfera festiva e apoio entusiástico dos espectadores ao longo de todo o trajecto. Famosa pela sua história e tradição, a Maratona de Boston foi realizada pela primeira vez em 1897. É a mais antiga maratona anual do mundo e atrai corredores de elite e amadores.

Esta 129.ª edição realiza-se no dia 21 de Abril, conhecido como o “Dia do Patriota” ou “Dia de Boston”.

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Com o alto patrocínio do rei Mohammed VI, Marrocos recebe a 3.ª edição da Gitex África, uma das maiores mostras de tecnologia e “startups” do continente africano. Impulsionar África para a economia global da inteligência artificial é o tema que vai marcar o evento, integrado na estratégia “Marrocos Digital 2030”. Com o apoio do Ministério da Transição Digital e da Reforma Administrativa (MTNRA) e da Agência de Desenvolvimento Digital (ADD), em parceria com a Kaoun International, a Gitex Africa pretende acelerar a transformação digital e reforçar as sinergias entre os diferentes ecossistemas digitais africanos e internacionais.

çambicano. No mundo de opções do “streaming”, destacamos a estreia da 4.ª temporada de “The Godfather of Harlem”. Com o carismático Forest Whitaker no papel de Bumpy Johnson, a série acompanha o submundo criminal, mas também o Movimento dos Direitos Civis numa das épocas mais tumultuosas dos EUA. A não perder, estas e muito mais sugestões de peso.

Texto Luís Patraquim

STREAMING

Gitex África Marraquexe /Marrocos De 14 a 16 de Abril gitexafrica.com

ATLETISMO

Perder em Abril

SUSTENTABILIDADE RENOVÁVEIS

RENMOZ 2025 Maputo / Moçambique De 23 a 24 de Abril amer.org.mz Depois de se afirmar como a maior conferência do sector energético em Moçambique, em 2023, a RENMOZ - Conferência Empresarial Renováveis em Moçambique chega à quarta edição e será o ponto de encontro dos principais intervenientes e especialistas do sector das energias renováveis.

Neste evento serão partilhados os mais recentes desenvolvimentos e oportunidades de investimento.

“Godfather of Harlem” T4 / MGM+ Dia 13 A série acompanha o submundo do crime, mas também o Movimento dos Direitos Civis numa das épocas mais tumultuosas dos EUA. No centro da trama, o infame criminoso Bumpy Johnson (Forest Whitaker), que, nos anos de 1960, regressa a Harlem depois de ter estado mais de dez anos preso em Alcatraz. Controlado pela máfia italiana, o seu bairro está num caos e Bumpy vê-se forçado a enfrentar a família Genovese para recuperar o seu território. Durante a batalha, Bumpy Johnson forma uma aliança com Malcolm X (Nigel Thatch), cuja ascensão política começa a criar tensões sociais que ameaçam despedaçar tudo o que resta de Harlem. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2025

ARTES

Sofia Vasco lança “Minha Capulana, Meu Alicerce” na cidade de Pemba A professora Sofia Ahamad de Jany Vasco lançou, recentemente, o livro “Minha Capulana, Meu Alicerce – Símbolo de Identidade, Tradição e Cultura Moçambicana”. A obra foi apresentada no anfiteatro da Universidade Íris, na cidade de Pemba.

“Minha Capulana, Meu Alicerce” resulta da tese de doutoramento da autora, tem 186 páginas e está dividido em duas partes e nove capítulos. Na primeira parte, a obra apresenta, entre vários assuntos, a evolução histórica da capulana, o seu significado e simbolismo, e os desafios e preservação da tradição. A segunda parte do livro aborda, de forma abrangente, o “Projecto Ikuru”, uma iniciativa que une arte, cultura e transformação de vida por meio da capulana.

Para a autora, o livro é “uma homenagem às nossas raízes, à riqueza da nossa cultura e ao poder que a capulana tem de contar histórias, unir gerações e fortalecer a nossa identidade.”

De acordo com Ibraimo Hassane Mussagy, Vice-reitor da Universidade Rovuma, que assina o prefácio, “as palavras ‘Minha Capulana, Meu Alicerce’, logo no título, são reveladoras da apropriação, de pertença da mulher, deste pano de quem o lê. À partida, a autora visa revelar a importância, a força vincada e a interferência cultural e identitária diária que este pano possui nas mulheres moçambicanas.” Na mesma linha, escreve a professora Alice Albertina Nhamposse, da Universidade Católica, que “a obra nos convoca a uma reflexão crítica sobre o papel que a cultura desempenha na formação da identidade colectiva, através da capulana, enquanto veículo de honra.”

Sofia Ahamad de Jany Vasco é doutora em Ciências da Comunicação, com especialização em Comunicação e Marketing.

Possui mais de oito publicações científicas em revistas indexadas, nacional e internacionalmente.

LIVROS

O Fantasma Chinês Autor: Christoph Giesen, Philipp Grüll, Frederik Obermaier e Bastian Obermayer • Editora: Casa das Letras • Género: História Moderna A ameaça da Terceira Guerra Mundial volta a pairar sobre a humanidade e é provável que Karl Lee, um nome de que poucos ouviram falar, tenha uma palavra a dizer sobre o assunto. Misterioso e quase invisível, este empresário, com cerca de 50 anos, é dono de uma agenda explosiva e uma peça-chave no tráfico de armamento.

A partir de uma zona recôndita, no extremo leste da China, controla o comércio global de componentes essenciais para o fabrico de mísseis. Fintando as sanções internacionais, fá-los chegar a vários destinos - entre os quais, países hostis ao Ocidente, como o Irão ou a Coreia do Norte.

Não admira que Lee, também conhecido como Li Fangwei, seja um dos homens mais procurados pelo FBI, que oferece uma recompensa de cinco milhões de dólares pela sua captura. Até agora, porém, tanto o prémio como os esforços dos serviços secretos de diversos países de nada valeram.

Ninguém conseguiu ainda apanhar o Fantasma Chinês.

STREAMING

Outros Lançamentos Dia 3: Devil May Cry (Netflix), Pulse (Netflix) e The Bondsman (Prime Video) Dia 4: Dying for Sex (Disney+) e Carma (Netflix) Dia 8: How to Sell Drugs Online (Fast) T4 (Netflix) e The Handmaid’s Tale T6 (Hulu) Dia 11: Your Friends & Neighbors (Apple TV+) Dia 12: Doctor Who T2 (Disney+) Dia 14: The Last of Us T2 (Max) Dia 15: A Redoma (Netflix) Dia 16: Government Cheese (Apple TV+) Dia 17: Ransom Canyon (Netflix), Law & Order: Organized Crime T5 (Peacock) e Leverage: Redemption T3 (Prime Video, não em Portugal) Dia 23: Andor T2 (Disney+) Dia 24: You T5 (Netflix) Dia 30: El Eternauta (Netflix), Carême (Apple TV+) e Astérix & Obélix: O Combate dos Chefes (Netflix)

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CARROS FEMININOS 2025

VOLANTE

Estilo, conforto e potência.

Conheça os carros favoritos das mulheres modernas

Os Carros Mais Desejados O WOMEN’S WORLDWIDE CAR OF THE YEAR (WWCOTY), um prémio que reconhece os melhores carros do ano, através de um júri exclusivamente feminino de jornalistas de automóveis, revelou os vencedores para a edição de 2025, trazendo novidades importantes para o cenário automobilístico.

Este prémio reconhece marcas e modelos que se destacam em diversas categorias. Nesta edição, veículos de marcas como Kia, Mini e Audi foram altamente apreciados, atraindo o interesse do público feminino pelas suas características inovadoras e acessíveis. Entre os 81 candidatos, seis destacaram-se nas categorias principais.

Pelas Mulheres em 2025

Os modelos premiados no WWCOTY 2025

China lidera nas tecnologias

Nesta 15.ª edição do prémio WWCOTY, o Mini Cooper foi eleito como o Melhor Modelo Urbano. Este veículo, conhecido pelo design compacto e pela agilidade na condução, oferece versões a combustão e eléctricas. Outra vitória me-

No segmento de Novas Tecnologias, a chinesa BYD foi premiada pelos avanços significativos em baterias de fosfato de ferro e lítio, marcando um salto em densidade energética e segurança. Resultado final: carros elétricos

morável foi a do Kia EV3, que conquistou o título de Melhor SUV Compacto devido à impressionante autonomia e relação custo-benefício, concluiu o júri.

No quesito de Melhor Carro de Grande Dimensão, o Audi A6 e-Tron despontou como favorito. Este modelo é apreciado pela flexibilidade em termos de design, oferecendo tanto a versão Sportback quanto a Avant. O Hyundai Santa Fé também recebeu reconhecimento, ganhando como Melhor SUV Grande graças à capacidade e opções híbridas. Junto a eles, o Toyota Land Cruiser reafirmou-se como líder entre os 4×4.

No quesito de Melhor Carro de Grande Dimensão, o Audi A6 e-Tron despontou como favorito graças ao seu design

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com autonomia mais próxima dos automóveis de motor de combustão. Enquanto isso, a Volvo foi homenageada pelo compromisso contínuo com a igualdade de género, evidenciado desde 1995 nos seus inovadores testes de segurança. A evolução tecnológica demonstrada pelas marcas destaca a interseção entre segurança, sustentabilidade e inovação no design automóvel.

Opção de performance e luxo Os carros de performance e luxo tiveram lugar de destaque através do Porsche Panamera, que se destacou pelo uso de tecnologia de ponta e ampla gama de motorizações. Este modelo, cuja potência varia entre 350 e 800 cavalos, oferece uma experiência de condução superlativa, alinhando tecnologia e requinte nos acabamentos.

Ao basearem-se num júri feminino, numa área historicamente dominada por homens, a distinção reforça a importância de dar ouvidos a todos.

Texto Ana Mangana Fotografia D.R

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