Garotas de Vidro

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Eu beberico, abaixo a caneca, sem derramar, e fecho os olhos. Respire, ele disse. Eu respiro panquecas e batatas fritas. Cheiros nervosos. —Continue respirando, — ele ordena, sua voz é o estrondo de um trovão distante. O cozinheiro coloca algo na grelha e esse algo sibila. Pernas de cadeiras arranham o chão quando o cara sentado à mesa próximo de nós sai. Alguém levanta uma estante de copos que tilintam juntos como chuva. Um casal de mulheres ri, suas vozes tropeçando uma na outra. A porta do banheiro range. —Pronto? — ele pergunta. —Abra seus olhos. Não pense. Apenas abra os olhos e fique quieta. A lanchonete volta ao foco: mesas, cadeiras, luzes, cozinha. Cartazes cobrindo as paredes. Através do buraco no lóbulo da orelha de Elijah eu posso ver a lua crescente e estrelas pintadas na parede sob o relógio. A menina sentada ali perto não é Cassie. Nem o garçom reenchendo sua caneca. Eu me viro no meu lugar para olhar ao redor. Ninguém aqui é Cassie. Estou segura. —Melhor? — ele pergunta. —Melhor. Obrigada. —Sem problemas. — Ele lança um garfo de waffle encharcado em xarope de bordo. —Você teve um momento de instabilidade. Acontece. — Ele leva o waffle até sua boca. —Espere, — eu digo. —De onde isso veio? Ele aponta para a mesa ao nosso lado. A garçonete não a limpou ainda. Sua nota de cinco dólares ainda está presa sob o saleiro, um copo meio vazio de café, um garfo sujo, e um lugar vazio no guardanapo manchado com xarope.


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