Elaboração de projetos sociais 2018

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ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS Alinhamento, Tendências e Planejamento


Elaboração de Projetos Sociais

O que é um projeto?

CONTEÚDO O que é um projeto? ..................................................................................................................... 5 Porque fazer um projeto? ............................................................................................................. 5 Tipos de projeto ............................................................................................................................ 6 Equilíbrio dinâmico........................................................................................................................ 7 Processo histórico ....................................................................................................................... 10 Algumas qualidades e condições para trabalhar com projetos sociais ...................................... 11 Escalas de participação do público beneficiário ......................................................................... 11 Desigualdade social e concentração de renda ............................................................................ 13 Empresas, Governo e Sociedade Civil: o Novo modelo de cooperação...................................... 14 Alternativas de apoio das empresas ........................................................................................... 14 O poder do exemplo.................................................................................................................... 15 A necessidade do marco legal no Terceiro Setor ........................................................................ 16 Modelagem ................................................................................................................................. 18 Título do projeto ......................................................................................................................... 18 Identificação do proponente....................................................................................................... 18 Resumo executivo ....................................................................................................................... 19 Diagnóstico – Justificativa ........................................................................................................... 19 Objetivo Geral ............................................................................................................................. 21 Objetivos específicos ................................................................................................................... 22 Metodologia ................................................................................................................................ 22 Estratégias ................................................................................................................................... 23 Atividades .................................................................................................................................... 23 Resumo........................................................................................................................................ 24 Grade de atividades .................................................................................................................... 24 Cronograma................................................................................................................................. 24 Orçamento .................................................................................................................................. 25 Folha de pagamento ................................................................................................................... 26 Contrapartida da organização ..................................................................................................... 28 Cronograma de Desembolso ....................................................................................................... 28 Indicadores de resultados ........................................................................................................... 28 Marco Lógico ............................................................................................................................... 29 Sobre o autor............................................................................................................................... 30

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Elaboração de Projetos Sociais

O que é um projeto?

Por que projetos sociais? ............................................................................................................ 31 Planejamento .............................................................................................................................. 34 Bibliografia .................................................................................................................................. 37

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Elaboração de Projetos Sociais

O que é um projeto?

Apresentaçao Esta apostila orienta de forma simples e prática as etapas necessárias para a elaboração de projetos sociais, sem deixar de analisar as principais tendências que influenciam as organizações e empresas na tomada de decisão sobre o melhor projeto a ser elaborado para mobilizar pessoas, captar recursos e planejar o futuro. O resultado de mais de 20 anos elaborando projetos e apresentando-os em editais públicos e privados, é apresentado aqui de forma simples e prática, extraindo o que de mais importante se exige no universo do planejamento social. Para iniciarmos nosso trajeto, esta apostila foi planejada em 3 etapas. A primeira etapa trata do alinhamento conceitual. É importante que conceitos e interpretações sejam compreendidos por todos e todas, pois só assim será possível construir um caminho compartilhado a partir de uma linguagem comum. A segunda etapa fala das tendências em relação às organizações e contexto socioeconômico. Saberemos como é importante que as organizações se posicionem politicamente diante dos cenários que se apresentam e dele tracem suas estratégias de ação. A terceira e última etapa e não menos importante, é a elaboração do roteiro, para que o projeto construa sua viabilidade técnica, política e econômica atendendo à necessidade de transformação das pessoas, famílias e comunidades. Tenham todos e todas uma ótima leitura!

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Primeira etapa: Alinhamento conceitual

“Distribuir dinheiro é algo fácil e quase todos os homens tem este poder. Porém, decidir a quem dar, quanto, quando, para que objetivo e como, não está dentro do poder de muitos e nem tampouco é tarefa fácil” Aristóteles 384 a 322 A.C.

O que é um projeto?

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O que é um projeto?

O que é um projeto? Há inúmeros conceitos sobre projetos, sejam eles fundamentados em abordagens sociológicas, filosóficas, antropológicas ou outras. Todos estes conceitos enfocam o tema sob determinada ótica. Para a finalidade deste curso, emprega-se uma conceituação utilizada pela ONU, que atende aos interesses didáticos, pois é concisa, direta, precisa e de fácil compreensão.

Projeto é um “Empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas com o fim de alcançar objetivos específicos dentro dos limites de tempo e de orçamento dados” Definição da Organização das Nações Unidas

Porque fazer um projeto? O termo projeto tem o sentido de organizar idéias, pesquisar, analisar a realidade e desenhar uma proposta articulada com intencionalidade. Os projetos sociais seguem esta lógica. São construções para prever o que um grupo de pessoas quer realizar para transformar boas idéias em boas práticas. Em seu contexto, os projetos podem se transformar em ações exemplares que modificarão a realidade local. Se, além de se constituir ações exemplares, o projeto se integrar a governos locais, municipais, estaduais ou federal, poderá ser replicado em escala maior, gerando, assim, políticas públicas de qualidade na área social, cujo impacto para a coletividade é maior que o do projeto com âmbito local. Mas não podemos nos esquecer da principal razão para se fazer um projeto. É a possibilidade de transformar pessoas, famílias e comunidades, sem a qual, nada pode valer o esforço.

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Tipos de projeto

Algumas razões para se trabalhar com projetos Transformar pessoas, familias e comunidades

prever soluções e problemas Calcular riscos e oportunidades Captar recursos Tomar decisões Antever resultados Articular ações e pessoas Planejar o futuro

Tipos de projeto Há vários tipos de projetos que atendem a determinada área do conhecimento. Para cada uma destas áreas, o projeto torna-se único, com linguagem própria e com ênfase em soluções específicas. Não se aplica projetos de uma área para resolver problemas em outra.

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Equilíbrio dinâmico

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Projeto Arquitetonico Projeto ou Plano de negócio

Projeto de Lei

Projeto Ambiental

Projeto de vida

Projeto Social

Projeto Cultural

Toda esta variedade de projetos, muitas vezes cai no senso comum. Passa-se a empregar o termo “projeto” à muitas situações do cotidiano. Estes usos corriqueiros do termo são destituídos de conteúdo teórico-prático e faz com que o termo “projeto” seja desgastado pelo uso excessivo e indiscriminado: tudo é projeto, está na moda falar em projeto:

Exemplos • •

Projeto Morar Bem (propaganda de empreendimento imobiliário) Projeto Futuro Garantido (propaganda de uma escola)

Nestes exemplos o termo “projeto” é utilizado mais como um recurso de “marketing”, mas não representam tecnicamente e verdadeiramente um conjunto de atividades planejadas e coordenadas.

Equilíbrio dinâmico As menores unidades de medidas de intervenção social são consideradas ações. Por exemplo: a doação de alimentos ou medir o peso de bebês recém-nascidos. Elas podem ser realizadas isoladamente ou em conjunto. Se forem realizadas em conjunto, possuírem uma dinâmica entre si e compartilharem os mesmos objetivos, já se tornam mais complexas e constituem-se como um projeto.

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Equilíbrio dinâmico

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Exemplo:

Doar alimentos

Medir o peso

Por sua vez, o projeto social não é uma realização isolada, ou seja, não transforma o mundo sozinho. Há sempre uma interação entre pessoas, comunidades, parceiros, ideias, através de diferentes maneiras de relação com as políticas e programas voltados para o desenvolvimento social.

Registrar a evolução

Controlar o crescimento

Um projeto não é uma ilha!

Neste sentido, os projetos sociais podem tanto ser indutores de novas políticas públicas, pelo seu caráter demonstrativo de boas práticas sociais, quanto atuarem na gestão e execução de políticas já existentes. Um projeto social atuando integrado a outros projetos similares e complementares para atingir determinado objetivo, constituem-se como o que denominamos de “PROGRAMA”. Desta forma, o programa possui uma ação mais abrangente e com poder transformador da realidade maior do que o projeto. A denominação “PROGRAMA” é utilizada em geral para designar um grupo ou um conjunto de projetos, semelhantes em termos de objetivos, abrangência territorial, público beneficiário ou área de atuação, para os quais se determinam recursos específicos. Os programas estabelecem as prioridades de intervenções, ordenam os projetos, alocam os recursos, acompanham e avaliam a execução das ações. A reunião de vários programas com objetivos gerais comuns equivale a uma política. Por sua vez, a política pública envolve um conjunto de programas continuados no tempo, composto por estruturas de formulação, controle, avaliação e financiamento com o intuito de regular a oferta de um determinado bem ou serviço, envolvendo entre estas ações, projetos e programas sociais específicos.

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Equilíbrio dinâmico

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Desta forma, as políticas atingem seu efeito em escala, necessário especialmente em grandes metrópoles onde as necessidades sociais são maiores e mais complexas.

Nível de elaboração

Ações

•Iniciativas isoladas

Projetos

•Conjunto de ações

Programas

•Conjunto de programas

Políticas

•Conjunto de programas

Sistemas

•Conjunto de políticas

•Conjunto de políticas

Sistema

Nível de execução

•Conjunto de programas

•Conjunto de projetos

•Conjunto de ações

•Iniciativa isolada

Ações

Projetos

Programas

Politicas

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Equilíbrio dinâmico

O conjunto de políticas interpretado em escala nacional constituem-se como sistemas das quais citamos o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, o Sistema Único de Saúde – SUS, o Sistema educacional, o Sistema de Justiça e Segurança Pública, o Sistema Nacional de Atendimento Sócio-educativo – SINASE, o Sistema de Garantia de Direitos - SGD. Todos estes sistemas, por sua vez, devem atual de forma interdependente.Processo histórico

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Algumas qualidades e condições para trabalhar com projetos sociais Elaboração de Projetos Sociais

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Algumas qualidades e condições para trabalhar com projetos sociais

Sensibilidade social

Habilidade para motivação e estímulo

Convicção e confiança na capacidade das pessoas de exercerem suas potencialidades visando à realização pessoal e o desenvolvimento das comunidades

aptidão para o relacionamento humano

Resiliência – capacidade de superar as adversidades

Escalas de participação do público beneficiário Há muitas formas de participação dos usuários em um determinado projeto. Desde uma participação induzida ou manipulada, até a efetiva capacidade em tomar a decisão, elaborar, implantar, controlar e avaliar um projeto. O percurso na qual as pessoas ou comunidades desenvolvem a capacidade de elaborar projetos que transformem a realidade é o que chamamos de emancipação ou autonomia. Pessoas e comunidades só podem ser consideradas emancipadas quando atingem um grau de maturidade social capaz de construírem seus próprios projetos sociais e assumirem o controle de sua própria história. Quando atingem esta etapa, os técnicos que a principio eram responsáveis e principais referências para a mobilização, implantação e implementação dos projetos, agora participam como pessoas convidadas.

Utilitária

Manipul ada

Decorati va

Simbólic a

Planeja mento e execuçã o

Decisão, planeja mento, execuçã o

Decisão/ Planeja mento/E xecução /Avaliaç ão

Decisão, Planeja mento, Execuçã oAvaliaç ão, Apropria ção dos resultad os

Todas as etapas sem educado res e técnicos.


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Escalas de participação do público beneficiário

Segunda etapa: Tendencias e cenarios

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Desigualdade social e concentração de renda

Desigualdade social e concentração de renda Em São Paulo avançamos muito, mas o cenário social revela nossa face mais controversa: “a cidade mais rica do país concentra o maior número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. São 3,4 milhões de pessoas vivendo com até ½ salário mínimo, das quais 1,4 milhões são extremamente vulneráveis (vivem com até ¼ de salário mínimo per capita). Assim cerca de 13% da população paulistana – 385.000 pessoas – estão em situação de extrema vulnerabilidade social, na sua maioria residente em favelas e locais com precariedade e baixo investimento em serviços públicos e privados. Desse total, 568.399 são crianças, adolescentes e jovens de 0 a 18 anos (Fundação SEADE, 2004). Em São Paulo, 4,15% são analfabetos, 6,02% alunos abandonam o ensino médio e 27,01% estão defasados em relação à idade ideal.

O Brasil é um navio negreiro em direção ao futuro. Um negreiro, com milhões de pobres excluídos nos porões – sem comida, educação, saúde – e uma elite no convés, usufruindo de elevado padrão de consumo em direção a um futuro desastroso. O Brasil é um Titanic negreiro: insensível aos porões e aos icebergs. Porque nossa economia tem sido baseada na exclusão social e no curto prazo. BUARQUE, Cristovam. O Globo. 03 abr. 03

São milhares de indivíduos vivendo em péssimas condições de saúde, educação, renda e moradia. Já nas regiões centrais há uma concentração de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social e risco pessoal nas ruas da cidade: são 18 mil moradores de rua adultos e pouco mais de 840 crianças e adolescentes. Existem ainda cerca de 1000 crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, segundo o Censo SMADS/FIPE, 2007”1 Para se combater os graves problemas sociais enfrentados principalmente pelas grandes metrópoles, são necessários que se unam forças em prol de um objetivo comum: a melhoria da qualidade de vida de todos. Um novo modelo de cooperação surge como uma forma de dividir as responsabilidades pela solução dos problemas: a Cooperação entre Estado, sociedade civil e empresas. Não há como solucionar as graves questões urbanas sem esta tríade.

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O desenvolvimento social na cidade de São Paulo – Balanço 2005/2007. SMADS, 2008

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Empresas, Governo e Sociedade Civil: o Novo modelo de cooperação Elaboração de Projetos Sociais

Empresas, Governo e Sociedade Civil: o Novo modelo de cooperação

Alternativas de apoio das empresas

Estímulo ao trabalho voluntário dos funcionários

Apoio à gestão das organizações

Desenvolvimento da cultura da responsabilidade social

Investimento social corporativo

Constituição de fundações empresariais

Marketing relacionado à causas - MRC

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O poder do exemplo

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Alternativa de apoio dos governos

Estímulo à governança local e às redes de cooperação

Incentivo à democracia participativa

Marco legal para as organizações sociais

Combate à corrupção

Concentração de incentivos fiscais em áreas estratégicas

Reconhecimento do capital social e cultural das comunidades

Definição participativa de prioridades orçamentárias Alternativas de apoio da sociedade civil Controle social na elaboração e avaliação das políticas públicas

Protagonismo individual e coletivo

Mobilização social para a defesa de direitos

Questionamento dos modelos econômicos vigentes

Redes sociais de desenvolvimento comunitário

Investimento social familiar – alocação voluntária e estratégica de recursos da família para o benefício público

Utilização em larga escala dos mecanismos de incentivos ficais

Fortalecimento dos conselhos de direitos

O poder do exemplo • • •

Prêmios de boas práticas, reprodução de projetos bem sucedidos Profissionalização da gestão nas organizações Rigor e transparência na prestação de contas

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A necessidade do marco legal no Terceiro Setor

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Aperfeiçoamento da comunicação aos diferentes públicos

A necessidade do marco legal no Terceiro Setor A existência de um ambiente regulatório moderno, claro e estável é fator fundamental para promover a expansão e a qualificação do investimento social privado no Brasil.

Incentivos fiscais

Imunidades e insenções tributárias

Segurança jurídica

Liberdade de organização e atuação

Transparência e controle social

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Terceira etapa: Planejamento

A necessidade do marco legal no Terceiro Setor

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Modelagem

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Modelagem O formato do projeto poderá sofrer variações, dependendo da agência financiadora e do edital para a qual o projeto será elaborado. Nesta apostila você tem o roteiro básico, que possui os itens que, obrigatoriamente, devem constar. Você poderá acrescentar outros que achar relevante além dos itens obrigatórios.

Modelo geral do plano de ação Título

Resumo executivo

Identificação do proponente

Diagnóstico/ Justificativa

Metodologia

Público beneficiário

Objetivos específicos

Objetivo geral

Estratégias

Quadro de atividades

Cronograma de execução

Orçamento

Forma de prestação de contas

Avaliação

Cronograma de desembolso

Título do projeto O título do projeto deve ser curto e de fácil memorização. É recomendável que transmita a idéia básica do projeto:

Exemplos • • • • •

“Conversa em Família” – Orientação sócio-familiar “Sentido Livre” – Liberdade Assistida “Casa Porto Seguro” – Convivência de população em situação de rua “Mãos na Massa” – Padaria comunitária “Olhos que lêem, mãos que transformam” – Incentivo à leitura

Identificação do proponente A apresentação do proponente seja pessoa física ou jurídica é o cartão de visitas e referência para quem analisa o projeto. Proponentes reconhecidos, idôneos e com projetos anteriores bem sucedidos já representam forte diferencial na análise aprovação dos projetos.

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• • • • • • • •

Resumo executivo

Quem é Localização Áreas e segmentos de atuação Visão, missão, valores e princípios Breve histórico Prêmios conquistados Principais parcerias estabelecidas Representante legal

Resumo executivo O resumo executivo deve conter, de forma sintética, as principais informações do projeto, incluindo o valor de seu investimento. O investidor geralmente quer saber do que se trata o projeto antes de entrar em uma leitura mais minuciosa de seu conteúdo. Caso o resumo executivo atenda aos seus interesses como investidor, ele certamente irá debruçar-se com mais atenção sobre os detalhes do projeto. Por isso o resumo executivo deve ser claro, sucinto, transparente e bastante objetivo, como forma de transmitir o máximo de informações no menor tempo possível.

Diagnóstico – Justificativa Do grego antigo διάγνωσις significa discernimento. Consiste na identificação da natureza e da causa da realidade tal como se apresenta. Um bom diagnóstico deve priorizar as verdadeiras causas da realidade. Embora a realidade seja dinâmica, ou seja, está em constante movimento, um bom diagnóstico deve procurar ser o mais fiel possível desta realidade, mesmo sabendo a impossibilidade de entendê-la plenamente em toda a sua complexidade. Uma vez, uma determinada cidade estava investindo em projetos que atendiam a população em situação de rua, cujo número crescia desproporcionalmente em relação ao crescimento da cidade. A cada ano, mais investimentos municipais e mais projetos eram necessários para atender as necessidades desta população. Cansados de investir recursos excedentes para atender a população em situação de rua resolveram investigar melhor as verdadeiras causas do fenômeno. Após análise criteriosa e reuniões com a participação da comunidade, identificou-se que a cidade era rota de migração das pessoas em situação de rua para outra cidade. O aumento da oferta e das opções de atendimento fazia com que a população se fixasse na cidade, encontrando nela, melhores atrativos que o município destino. Seria necessário portanto, projetos de cooperação intermunicipal para resolver o problema. Foi apenas a partir de um diagnóstico preciso, ou seja, da identificação das verdadeiras causas que estavam atraindo a população de rua para a cidade, é que foi possível alocar melhor os recursos e resolver o problema.

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Diagnóstico – Justificativa

Algumas prerrogativas do diagnóstico Uma das ferramentas úteis no diagnóstico é a elaboração da árvore de problemas seguido da elaboração da árvore de objetivos A partir da identificação das causas e não das consequências, pode-se traçar objetivos precisos, otimizando-se tempo, dinheiro, talentos e conhecimento na solução adequada dos problemas enfrentados. Um bom diagnóstico: • Deve aproximar-se o melhor possível da realidade sócio-econômica, embora nunca será o seu retrato fiel, pois a realidade muda a cada instante; • Deve escutar atentamente as pessoas envolvidas identificando as reais necessidades e potencialidades; • É um trabalho de pesquisa/investigação que pode levar mais tempo do que se imagina; • Deve conectar os dados, transformando-os em informações e conhecimento • Importante constar gráficos, fotos, depoimentos e análises • Deve citar as potencialidades da região (ativos sociais) • Importante mostrar o quanto o projeto se diferencia dos demais.

Exemplo A região que circunda o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga reúne 677. 633 moradores, segundo dados do IBGE, Censo 2000, distribuídos entre os distritos de Jabaquara (214.095), Saúde (118.077), Cidade Ademar (243.372) e Cursino (102.089). Desta população, 91.726 residem em favelas, ou seja, o equivalente a 13% do total dos moradores, acima da média na capital. Há na região, aproximadamente 30 focos de exclusão, caracterizados por favelas inseridas de forma heterogênea na malha urbana. Por sua vez, a região apresenta grande potencial para promover o desenvolvimento local. Concentra na área do PEFI atrativos econômicos, sociais e ambientais, cujos investimentos irão promover a sustentabilidade e a emancipação das comunidades do entorno.

Público beneficiário ou público alvo São os usuários do projeto. Podem ser pessoas, comunidades, grupos específicos, etc. o público beneficiário deve ser claramente identificado, para não haver dúvidas. O projeto por sua natureza, não detém recursos ilimitados. Por isso, é necessário que delimite qual o seu público, para que os recursos sejam bem dimensionados para atender com dignidade, qualidade e eficiência. O público poderá ser direto ou indireto. O público direto é o público que está presente durante o atendimento. O público indireto, são aquelas pessoas que irão beneficiar-se do projeto, mas que necessariamente não precisam estar presentes. Ex: familiares, comerciante locais, poder público, etc.

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Objetivo Geral

Exemplo de público beneficiário direto • Idosos com 60 anos ou mais socialmente ativos, e pessoas com mais de 50 anos vítimas de envelhecimento precoce. • Crianças de 03 a 11 anos e seus familiares, residentes nos distritos de Jabaquara e Cursino. • Mulheres chefes de família, acima de 18 anos, responsáveis pela moradia comum, residentes na região metropolitana de São Paulo

Objetivo Geral O objetivo geral deve ser coerente com a missão da organização é a razão de existir do projeto. Portanto, ele deve refletir a solução para parte dos problemas identificados na etapa anterior, o diagnóstico. É em torno dele que se alinham as expectativas criando-se sinergia entre pessoas, investimentos financeiros, recursos materiais e conhecimento. O objetivo geral deve responder qual é a mudança a ser provocada na realidade, ou seja, o seu impacto. Considerando-se que a realidade é complexa e abrangente, o objetivo geral não poderá propor sozinho a mudança, mas contribuir para tal finalidade. Ele depende de outros projetos para juntos fazerem a diferença, contribuir para o desenvolvimento local (ninguém muda sozinho). prioriza-se o esforço conjunto de pessoas, deve ser realizado a médio e longo prazo. Prioritariamente deve conter a meta, o prazo e o local onde o projeto será realizado.

Exemplo “Formar em 2 anos, 200 adolescentes e jovens para atuarem como agentes multiplicadores do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, contribuindo para dotar a população de um parque auto-sustentável, com fins educativos, de lazer e de preservação ambiental”

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Objetivos específicos

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Objetivos específicos Estes sim dependem do proponente para serem realizados. Eles são considerados etapas intermediárias para se atingir o objetivo geral. Os objetivos específicos devem traduzir a realização do objetivo geral através de metas, prazos ou localidades menores. A somatória das metas, prazos ou locais deve representar o objetivo geral. • • • • • •

Detalhamento do objetivo geral O proponente é diretamente responsável Ter uma meta verificável Incluir o tempo Ter o público alvo especificado Quanto menor a quantidade mais fácil a realização

Exemplo 1. 2. 3. 4.

Inserir 50 jovens de 15 a 24 anos em atividades sócio-educativas durante 6 meses; Capacitar em 6 meses 50 jovens de 15 a 24 anos em atividades de ciência e meteorologia Capacitar em 6 meses, 50 jovens de 15 a 24 anos em conhecimentos básicos de botânica Treinar em 6 meses, 50 jovens de 15 a 24 anos em conhecimentos básicos da fauna brasileira 5. Estimular o protagonismo e o empreendedorismo do público alvo através da vivência de 10 técnicas de turismo receptivo, em ciclo de aprendizado de 2 anos.

Metodologia Fundamentação teórica Alinhamento conceitual

Embasamento jurídico

Tecnologias empregadas

Autores de referência

Linha ideológica

As metodologias permitem alinhar e aprofundar conceitos, concepções e linguagens. A forma de trabalhar crianças, adolescentes, adultos, idosos, precisa estar clara para quem ler e executar

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Estratégias

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o projeto. É importante que a descrição do que se entende por cada um dos conceitos utilizados no projeto seja realizada de forma sucinta. É também na metodologia, que se inclui a forma de operacionalização do projeto. É preciso que se descreva cada etapa do atendimento desde a forma da origem da demanda, até o desligamento do usuário do projeto.

Exemplo O projeto em questão fundamenta-se no art. 4° do Estatuto da Criança e do Adolescente. Promove a participação democrática e baseia-se no desenvolvimento local integrado e sustentável. Segundo Pedro Demo, a família é um agrupamento de pessoas, que mantém vínculos de pertencimento, dividem a moradia comum, etc., etc., etc...

Estratégias Trata-se de um agrupamento de atividades organizadas conforme sequencia lógica. É através das estratégias que os objetivos específicos serão cumpridos.

Exemplos 1. 2. 3. 4.

Atividades aquáticas Esportes de quadra Fitness Artes marciais

Atividades Atividades aquáticas

Esportes de quadra

Fitness

Artes marciais

1. Natação 2. Hidroginástica 3. Recreação

4. 5. 6. 7.

8. Ginástica de solo 9. Ritmos 10. Alongamento

11. Capoeira 12. Judô 13. Karatê

• • •

Futebol Volei Basquete Tenis

São as tarefas a serem desenvolvidas pelo projeto Essencial para definir os custos e o prazo Agrupadas e relacionadas entre si formam as estratégias

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Resumo

Resumo

Grade de atividades Distribuição das atividades em planilha de forma que a fácil visualização permita o acompanhamento sistemático da rotina. As atividades podem ser planificadas de forma a atender a melhor dinâmica da organização.

Cronograma O cronograma distribui ao longo do período de execução do projeto, as principais atividades planejadas. Quanto maior o detalhamento destas atividades, menor é o risco de surgirem

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Orçamento

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imprevistos após o início da execução do projeto. O cronograma é flexível e deve ser constantemente revisto.

Atividades Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez elaborar o planejamento revisar em equipe apresentar e aprovação da diretoria negociar com o poder público assinar o convênio recrutar candidatos selecionar os cadidatos contratar aprovados treinar a equipe designar funções preparar as instalações divulgar inscrições matricular beneficiários iniciar o atendimento prestar contas

Orçamento O orçamento significa o registro de todas as despesas e receitas do projeto. Tem como finalidade a identificação de todos os custos dos itens que serão empregados na sua operacionalização. Deve ter prazos coincidentes com o prazo estabelecido no projeto. É classificado basicamente por conjuntos de despesas que podem ser: •

Despesas com pré-produção, produção e pós-produção – Ex. projetos culturais

Despesas de pessoal e despesas de custeio – Ex: projetos sociais

Despesas com atividades diretas (atendimento) e despesas com atividades indiretas (administrativas).

quant. Cargo Jornada 1 Coordenador 40H 1 assistente de coordenação 40H 2 assistente social 40H 1 psicólogo 40H 1 pedagoga 40H 1 auxiliar de escritório 40H 1 manutentor 40H 1 instrutor de teatro 40H 3 auxiliar de limpeza 40H 12 Subtotal Encargos sociais Vale transporte Vale Refeição Total RH Consumo material escritório higiene/limpeza pedagógico manutenção/reparos complement.alimentar utilidade pública prestação de serviços de terceiros subtotal Total geral

salário 3.000,00 2.000,00 1.800,00 1.800,00 1.800,00 1.000,00 800,00 800,00 600,00 35,37% 9,80 8,00

total 3.000,00 2.000,00 3.600,00 1.800,00 1.800,00 1.000,00 800,00 800,00 1.800,00 16.600,00 5.871,42 117,60 96,00 22.685,02 1.000,00 1.000,00 800,00 500,00 1.000,00 900,00 600,00 5.800,00 28.485,02


Elaboração de Projetos Sociais

Folha de pagamento

No orçamento ainda podem ser incluídos as despesas com a implantação, treinamento de pessoal, depreciação dos equipamentos e instalações.

Implantação Os projetos também demandam despesas de implantação. A implantação pode envolver a aquisição de novos equipamentos, adaptação das instalações físicas, treinamento inicial da equipe, etc. Alguns financiadores não cobrem estas despesas, ficando estas a cargo da organização proponente.

Folha de pagamento A folha de pagamento deve comtemplar todos os gastos com pessoal para operacionalizar o projeto. Deve incluir necessariamente todas as obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais. O registro de trabalhadores que não considerarem a legislação podem sofrer ações trabalhistas e multas severas pelo descumprimento da Lei. A folha é formada pelos seguintes itens em caso de contratação através da C.L.T.: •

Salário ou honorários - Remuneração do trabalhador, ou seja, aquela que foi estabelecida no contrato de trabalho;

Encargos sociais – pagamento de fundo de garantia por tempo de serviço e PIS;

Provisão – reserva financeira para pagamento de férias, 13ºsalário e multa por demissão sem justa causa.

Benefícios Ainda no caso da CLT, há exigências legais como o vale transporte e a refeição em caso de período superior a 6 horas de trabalho diário. Outros benefícios são de livre escolha - (ex. plano de saúde, cesta básica, etc.). Geralmente o piso de cada categoria e os benefícios são previstos em convenções coletivas de trabalho, entre o sindicato patronal e o sindicato dos empregados.

Consumo O consumo representam o conjunto de despesas para a operacionalização das atividades. A cada atividade executada corresponde a um custo. • Material pedagógico • Material de escritório • Concessionárias públicas (gás, água, luz, Internet,) • Reparos e manutenção • Alimentação • Prestação de serviços de terceiros (fretes, correio, taxas bancárias, auditoria, etc.) Obs: O projeto poderá prever verbas para implantação das atividades, ou seja, para contratações, formação de estoque, reparos nas instalações, etc.

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Elaboração de Projetos Sociais

Folha de pagamento

CLT – EX: funcionários que mantém local fixo de trabalho, periodicidade e vinculo de subordinação.

Autônomo (ISS, INSS) Ex: especialistas, consultores, etc. são profissionais que prestam serviços esporádicos, sem vinculo de subordinação nem periodicidade.

Cooperado- é um trabalhador autônomo que deve ser vinculado necessariamente à uma cooperativa. Muitas cooperativas são formadas com o intuito de sonegação de impostos e o risco de ações trabalhistas é grande.

Temporário- funcionário com carteira de trabalho registrada, mas com tempo de início e fim do contrato previamente estabelecido, por ultrapassar 3 meses, renovável por mais 3 meses.

Estágio- pode ser curricular ou extracurricular. Ambos devem ter a autorização oficial da instituição de ensino responsável pelo estagiário e o plano de estágios.

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Contrapartida da organização

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Jovem Aprendiz – regime conforme a lei do aprendiz, regulamentada pelo governo federal. Emprega adolescentes a partir dos 14 anos, até 17 anos e 11 meses.

Voluntário – deve preencher a termo de adesão do voluntário, com atividades e horários descritos no termo. Não há remuneração pelos serviços prestados.

Microempreendedor individual – nova modalidade de vinculo empregatício que considera quem ganha até determinado limite por ano. Pode prestar serviços como pessoa jurídica fornecendo nota fiscal.

Penas e medidas alternativas – obrigatoriedade de prestação de serviços imposto pela justiça para cumprimento de pena por crimes leves como danos, depredação, desacato, não pagamento de pensão, etc.

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Contrapartida da organização A contrapartida é o conjunto de recursos que a organização disponibiliza para a execução do projeto. Eles podem ser recursos financeiros, humanos, materiais, mobilização de outros parceiros, instalações físicas ou mesmo conhecimento. É preferível que a contrapartida da entidade seja convertida em valores financeiros de acordo com o que é usualmente praticado pelo mercado. Por exemplo: o valor que as instalações físicas custariam quanto se tivessem que ser alugadas. A contrapartida é exigida por alguns financiadores e significam um indicador do risco que o investimento no projeto representa. Geralmente quanto maior for a contrapartida da organização proponente, menor o risco, ou seja, maior será o envolvimento da organização para que os recursos sejam melhor aplicados.

Cronograma de Desembolso Significa a distribuição dos valores ao longo do período de execução do projeto. Caso haja verba de implantação, ela deve ser citada. Itens

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Total

Recursos Humanos

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

22.685,02

272.220,24

Consumo

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

5.800,00

69.600,00

Total

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

28.485,02

341.820,24

Indicadores de resultados Os indicadores podem ser de impacto, de projeto ou de atividades.


Marco Lógico

Elaboração de Projetos Sociais

Os indicadores de impacto comparam os índices oficiais com as oscilações nos índices obtidas na área de abrangência do projeto. EX: o projeto reduzir em 30% o índice de analfabetismo no município de Ferraz de Vasconcelos. Os indicadores de projeto monitoram o desempenho do projeto em relação aos objetivos específicos propostos e ao que foi executado, de acordo com as metas estabelecidas. Os indicadores de atividade monitoram o desempenho das atividades realizadas pelo projeto. EX: aquisição de hábitos de higiene – saber escovar os dentes, pentear o cabelo, tomar banho sozinho, etc.

Marco Lógico São as relações lógicas verticais de causa-efeito entre as diferentes partes do projeto. Essas relações lógicas correspondem aos quatro níveis ou fileiras da matriz que relacionam as atividades (insumos), os componentes (produtos), o propósito e o fim como conjunto de objetivos hierarquizados do projeto. O princípio da correspondência (lógica horizontal), que vincula cada nível de objetivos à medição do resultado atingido (indicadores e meios de verificação) e às condições que podem afetar sua execução e posterior desempenho (fatores chaves de sucesso). Descrição

Metas e indicadores

Meios de verificação

Fatores chaves de sucesso

Impacto

Contribuir para a redução em 10% dos índices de criminalidade do Pq. Fernanda, através da prática esportiva para crianças e jovens.

10% de redução dos homicídios

1. Dados do INFOCRIM, 2. boletins de ocorrência

Acessibilidade dos jovens ao centro esportivo

Projeto/ Resultados

1.

30 crianças formadas no desporto 10 atletas preparados para competições

1. Lista de freqüência 2. Avaliação cardiovascular 3. Inscrições realizadas em torneios

Quadro de professores capacitados e habilitados

2.

Formar 30 crianças no desporto Treinar 10 atletas em competições

Componentes Estratégias

Esportes formativos e competitivos (quadra, atividades aquáticas, artes marciais, fitness)

40 horas destinadas ao esporte formativo 80 horas destinadas ao esporte competitivo

1. Aulas práticas, 2. treinos em quadra, 3. lista de freqüência, 4. Fotos 5. Depoimentos

Quadras e piscina em bom estado de conservação

Atividades

Volei, futebol, basquete, natação, judô, caratê

Recursos humanos 12.000,00 Consumo 5.000,00 Equipamentos 2.000,00

Orçamento, balanço, fluxo de caixa

Regularidade dos pagamentos,

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Elaboração de Projetos Sociais

Sobre o autor

Sobre o autor Mauro Di Domenico Leite Psicólogo, educador, cursou MBA em gestão estratégica e pós-graduação em gestão empresarial. É especialista no enfrentamento da violência doméstica contra crianças e adolescentes, concluiu o curso de formação de governantes pela Escola de Governo. Foi diretor executivo de programas sociais e culturais em organizações da sociedade civil captando recursos junto às empresas, governos e agencias financiadoras. É proprietário e diretor de projetos criativos da K Cultural, empresa de gestão cultural e planejamento de projetos. Elabora e inscreve projetos para incentivo fiscal, já tendo inúmeros projetos aprovados e captados. na área da assistência social, ministra cursos para municípios brasileiros na formação de conselheiros tutelares, medidas socioeducativas/SINASE e serviços de acolhimento institucional – abrigo. Atua pelo SENAC na educação profissional de adolescentes privados de liberdade.

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Elaboração de Projetos Sociais

Por que projetos sociais?

Textos de apoio Por que projetos sociais?2 Os projetos sociais nascem do desejo de mudar uma realidade. Os projetos são pontes entre o desejo e a realidade. São ações estruturadas e intencionais, de um grupo ou organização social, que partem da reflexão e do diagnóstico sobre uma determinada problemática e buscam contribuir, em alguma medida, para “um outro mundo possível”. Uma boa definição é formulada por Domingos Armani: “Um projeto é uma ação social planejada, estruturada em objetivos, resultados e atividades, baseados em uma quantidade limitada de recursos (...) e de tempo” (Armani, 2000:18). Os projetos sociais tornam-se, assim, espaços permanentes de negociação entre nossas utopias pessoais e coletivas – o desejo de mudar as coisas –, e as possibilidades concretas que temos para realizar estas mudanças – a realidade. A elaboração de um projeto implica em diagnosticar uma realidade social, identificar contextos sócio-históricos, compreender relações institucionais, grupais e comunitárias e, finalmente, planejar uma intervenção, considerando os limites e as oportunidades para a transformação social. Os projetos sociais não são realizações isoladas, ou seja, não mudam o mundo sozinhos. Estão sempre interagindo, através de diferentes modalidades de relação, com políticas e programas voltados para o desenvolvimento social. Um projeto não é uma ilha. Neste sentido, os projetos sociais podem tanto ser indutores de novas políticas públicas, pelo seu caráter demonstrativo de boas práticas sociais, quanto atuarem na gestão e execução de políticas já existentes. Políticas públicas são aquelas ações continuadas no tempo, financiadas principalmente com recursos públicos, voltadas para o atendimento das necessidades coletivas. Resultam de diferentes formas de articulação entre Estado e sociedade. A tomada de decisão quanto à direção das ações de desenvolvimento, sua estruturação em programas e procedimentos específicos, bem como a dotação de recursos, é sancionada por intermédio de atores governamentais. Num modelo de gestão participativa, é desejável que estas políticas resultem de uma boa articulação da sociedade civil com o Estado, permitindo que a sociedade civil

2

Stephanou, Luis; Muller, Lúcia Helena; Carvalho, Isabel Cristina de Moura. Guia para a elaboração de projetos sociais. Porto Alegre. Editora Sinodal e Fundação Luterana de Diaconia. 2003.

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Elaboração de Projetos Sociais

Por que projetos sociais?

compartilhe não apenas a execução, mas, sobretudo, os espaços de tomada de decisão, atuando no planejamento, monitoramento e avaliação destas políticas. O desafio das políticas públicas é assegurar uma relação de participação e boa articulação entre os setores sociais envolvidos nas instâncias de gestão compartilhada. Este é o caso dos conselhos gestores que vêm se estabelecendo em várias áreas das políticas sociais tendo como finalidade um modelo de gestão participativa. Um projeto social é uma unidade menor do que uma política e a estratégia de desenvolvimento social que esta implementa. Os projetos contribuem para transformação de uma problemática social, a partir de uma ação geralmente mais localizada no tempo e focalizada em seus resultados. A política pública envolve um conjunto de ações diversificadas e continuadas no tempo, voltadas para manter e regular a oferta de um determinado bem ou serviço, envolvendo entre estas ações projetos sociais específicos. Finalmente, vale lembrar que há também muitos projetos sociais que não estão diretamente ligados a uma política pública governamental. Operam com recursos públicos e privados provenientes de agências de cooperação internacional. Mas, ainda assim, nestes casos, os projetos estarão ocupando um espaço de mediação e interlocução com as políticas públicas nacionais no campo do desenvolvimento social. Ou seja, também são públicos. Por que, atualmente, se fala tanto em projetos sociais? Por que, cada vez mais, as formas de intervenção ou iniciativas de ação social acontecem em forma de projetos? Por que, de forma crescente, o mais variado tipo de instituições vêm exigindo a apresentação de projetos? Os projetos sociais são uma importante ferramenta de ação, amplamente utilizada pelo Estado e pela Sociedade Civil. Para entender porque os projetos sociais tornaram-se esta ferramenta tão difundida, é necessário perceber as mudanças ocorridas nas últimas décadas, tanto nas esferas estatais como na Sociedade Civil brasileira. Tais mudanças apontam para formas alternativas de implementação das políticas sociais. Em outras palavras, houve uma democratização em aspectos fundamentais da intervenção do Estado na sociedade, tais como eleições livres e diretas, descentralização, formação de mecanismos mais amplos de comunicação e de controle social, implementação de instrumentos de governança com maior visibilidade, além de novas formas de participação na elaboração dos orçamentos e das políticas públicas. Estamos falando de orçamentos participativos, conselhos de direitos, elaboração de estatutos de cidadania, fóruns, entre outras formas de democratização das atividades do Estado. Ao mesmo tempo em que a Sociedade Civil, com sua heterogeneidade, vem se fortalecendo e desenvolvendo novas formas de organizações (não-governamentais, redes, entre outras), ela se converte em protagonista da ação social. Isto quer dizer que vem atuando de forma direta nas questões sociais e também participando ativamente na elaboração de políticas públicas.

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Elaboração de Projetos Sociais

Por que projetos sociais?

Atualmente, um amplo conjunto de organizações sociais consegue uma melhor articulação entre si e com o Estado no desenvolvimento de agendas de ação conjunta. A partir dessas mudanças, se configura um novo quadro de relações entre o Estado e a Sociedade Civil.

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Elaboração de Projetos Sociais

Planejamento

Planejamento Celso dos S. Vasconcellos Planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada. É buscar fazer algo incrível, essencialmente humano: o real ser comandado pelo ideal. O núcleo do planejamento envolve três dimensões: a ação a ser realizada, mas não uma ação qualquer, é uma ação que visa a um fim, e, por sua vez, tanto o fim quanto à ação estão referidos a uma realidade a ser transformada. Pode ser entendido como “atividade consciente do homem que concede uma coisa futura como possível e dependente dele, que para isto tende pelo desejo e vontade, e se esforça pela sua realização” (LALANDE). Planejar é também se comprometer com a concretização daquilo que foi elaborado enquanto plano. O planejamento é uma mediação teórico-metodológica para a ação consciente e intencional. Tem por finalidade procurar fazer algo ver à tona; fazer acontecer, concretizar, e para isto é necessário “amarrar”, “condicionar”, estabelecer as condições – objetivas e subjetivas -, prevendo o desenvolvimento da ação no tempo (o que vem primeiro, o que vem em seguida), no espaço (onde vai ser feita), as condições materiais (que recursos, materiais, equipamentos serão necessários), bem como a disposição interior, para que aconteça; caso contrário, vai-se improvisando, agindo sob pressão, administrando por crise. É fazer história: uma tentativa de fazer elo consciente entre passado, presente e futuro. Independente de o sujeito planejar ou não, há um “fluxo” do tempo. Planejar é tentar interferir neste fluxo, no devir. O planejamento enquanto processo reflexivo envolve, pois, dois subprocessos: elaboração e realização interativa. Tem de haver elaboração do plano de ação. Mas isto não basta: se não houver a tentativa de colocação em prática, tendo como referência aquilo que foi planejado, estará rompida a unidade do processo, se estabelecerá uma dicotomia entre pensar e fazer, conceber e realizar, o que caracteriza uma atividade alienada. A elaboração do planejamento se dá tendo como referência as três dimensões da ação humana consciente: realidade, finalidade e mediação.

Realidade Planejar, como vimos, é tentar “prever”, amarrar os acontecimentos no tempo futuro ao nosso desejo. Para isto é preciso dominar o movimento do real, tendo em vista nele entrar, seja no sentido de usufruir ou de transformar. Tanto o para que quanto o que estão referidos à situação, à realidade. Ela é o ponto de partida e o de chegada (só que já transformada). Ao ser conhecida, a realidade pode trazer possibilidades não exploradas, à medida que revela o que temos, portando, os meios que dão condições para nossas eventuais realizações. Só é possível planejar por existirem regularidades; é o que permite prever, caso contrário, caos: nada a planejar, só deixar fluir. O grande desafio é o domínio dessas regularidades (determinações).

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Elaboração de Projetos Sociais

Planejamento

Finalidade Diz respeito aos fins, ao estado futuro de coisas, à direção para transformar o que é naquilo que deve ser. Ao assumir finalidades, o homem nega a realidade presente e afirma outra ainda não existente. A determinação da ação passa a vir não simplesmente do passado ou do presente, mas também do futuro. A atividade propriamente humana só se verifica quando atos dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou finalidade, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real. Neste caso, os atos não só são determinados casualmente por um estado anterior que se verificou efetivamente – determinação do passado pelo presente -, como também Poe algo que ainda não tem uma existência efetiva e que, não obstante, determina e regula os diferentes atos antes de culminar num resultado real; ou seja, a determinação não vem do passado, mas sim do futuro. (VÁSQUEZ, p. 187). A finalidade deve ser aberta, um projeto dinâmico. Aqui, a atividade reflexiva característica é a teológica, que se refere a uma realidade futura, portanto ainda inexistente. É a construção de representações mentais sobre o que se deseja. Trata-se da intencionalidade, do alçar vôo, antever, projetar ou explicitar finalidades. Tem como resultado os objetivos, o “produto” ideal, entes que “ainda-não-são”. O caráter finalista que reveste certas idéias provém do engajamento do homem no mundo, da sua luta pela sobrevivência, da sua não-adaptação, por isto a atividade ideológica traz implícita uma exigência de realização, em virtude da qual se tende a fazer da finalidade uma causa de ação real. (VÁZQUEZ, p. 191). A teoria serve também para a projeção, para esboçar o novo, para abrir novas possibilidades, criar o ainda não existente: o possível cognitivo é essencialmente invenção e criação. (PIAGET, v. 1, p. 8). Para a transformação da realidade é necessária a imaginação, a criatividade para se projetar uma possibilidade de organização diferente da que temos. Podemos lembrar outra colocação de Einstein: Nada existe na ciência que não tenha estado antes na imaginação. ...O possível, o virtual, o futuro não se representa senão através do imaginário. Trabalhadas, elaboradas, essas representações se tornam utopias afirmativas ou negativas. De tal modo que o imaginário possui uma “função” igual ou superior à do saber que se refere ao “real”. (LEFEBVRE, p. 63.). Para planejar é importante imaginar, porém não uma imaginação descomprometida, mas sim baseada em experiências anteriores.

Mediação É a previsão das ações, do movimento, da seqüência de operações a serem realizadas para a transformação da realidade.

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Elaboração de Projetos Sociais

Planejamento

A atividade reflexiva projetivo-mediadora é característica dessa dimensão. São idéias que tem a função de poder representar prefiguramente uma ação a fazer. Trata-se de buscar construir a imagem mental do caminho a ser seguido, ser capaz de visualizar o movimento na situação futura: como ocupar o tempo e o espaço. Tem como resultado o projeto, a produção de propostas de atividades, o “processo” a ser assumido.

Dinamismo da consciência Não há uma lei previamente determinada que oriente todo o trabalho. Há fatores comuns que permitem certo grau de previsão, porém não de forma absoluta, variando de acordo com as condições concretas, peculiares. O que significa que a consciência não pode limitar-se a traçar um objetivo ou modelo ideal imutável. O dinamismo e a imprevisibilidade do processo exigem também um dinamismo da consciência. (VÁZQUEZ, p. 242). A consciência tem de estar atenta durante todo o processo, tendo em vista as mudanças necessárias. Diante de uma mudança na realidade, por exemplo, o sujeito poderá manter o objetivo e rever a mediação, ou alterar o próprio objetivo, etc. Os fins não são, portanto, produtos acabados, mas estão neste processo de interação com a realidade e as formas de mediação.

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Elaboração de Projetos Sociais

Bibliografia

Bibliografia ARMANI, Domingos. Como Elaborar Projetos? Guia Prático para a Elaboração e Gestão de Projetos Sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000. ÁVILA, Célia M. de - Gestão de projetos sociais - coordenação. – 3ª ed. rev. – São Paulo : AAPCS – Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária, 2001. – (Coleção gestores sociais) CHIANCA, Thomaz; Marino, Eduardo e Schiesari, Laura. Desenvolvendo a cultura da avaliação em organizações da sociedade civil. São Paulo: Instituto Fonte, 2001 CRUZ, C. M.; ESTRAVIZ, M. Captação de diferentes recursos para organizações sem fins lucrativos. São Paulo: Global, 2003. DRUCKER, Peter - Administração de Organizações Sem Fins Lucrativos: Princípios e Práticas. São Paulo: Pioneira, 1994. KISIL, Rosana. Elaboração de projetos e propostas para organizações da sociedade civil. São Paulo: Instituto Fonte, 2001 REIS, Liliane G. da Costa. Avaliação de Projetos como instrumento de Gestão. São Paulo: RITS, 2000 STEPHANOU, Luis Guia para elaboração de projetos sociais / Luis Stephanou; Lúcia Helena Müller; Isabel Cristina de Moura Carvalho – São Leopoldo, RS: Sinodal, Porto Alegre/RS: Fundação Luterana de Diaconia, 2003. Site: http://www.idis.org.br/biblioteca/artigos/elaboracao-de-projetos-o-que-e-e-por-querealizar/?searchterm=elabora%C3%A7%C3%A3o%20de%20projetos

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