Escolhida ao anoitecer os sobrenaturais 5° livro

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— Lamber? Matar? O quê? — o avô perguntou. — Nada — insistiu Kylie. — Eu estava falando... — Ela estava falando com o espírito, eu presumo — completou a tia, com as sobrancelhas franzidas, demonstrando preocupação. — Falando sobre matar alguém? — o avô perguntou, olhando diretamente para Kylie. Quando a neta não respondeu, Malcolm olhou em volta da sala como se estivesse nervoso. Sua expressão de medo lembrava muito a dos outros sobrenaturais de Shadow Falls. Foi nesse momento que um pensamento lhe ocorreu. Kylie tinha vindo por achar que iria se adaptar e, no entanto, mesmo vivendo num complexo de cinquenta acres do Texas com 25 outros camaleões, ainda não conseguira se entrosar. E não era só porque falava com fantasmas, mas porque era muito mais madura do que os outros quatro adolescentes que moravam ali. E eles também não pareciam muito entusiasmados diante de uma novata muito mais precoce do que eles. Os anciãos do grupo — que incluíam seu avô, sua tia-avó e mais quatro outros — achavam que o desenvolvimento precoce de Kylie devia-se ao fato de ela também ser uma protetora, uma sobrenatural com poderes extraordinários. Embora isso parecesse o máximo, Kylie não concordava com aquela descrição por várias razões. No topo da lista estava o fato de ela só poder usar esses poderes para proteger os outros, nunca a si mesma, o que para Kylie não fazia o menor sentido. Se ela tinha a incumbência de proteger os outros, não era importante que se mantivesse viva? Quem, afinal, tinha inventado aquela regra? Kylie soltou um suspiro que, ao escapar dos lábios, denunciou sua tristeza. Será que era sua sina ser uma eterna desgarrada? O avô se curvou para a frente e apoiou o garfo e a faca de prata sobre o caro prato de porcelana. — Kylie, eu detesto me intrometer nos seus... assuntos espirituais, mas por que um espírito estaria conversando com você sobre matar alguém? Kylie mordeu o lábio e tentou encontrar uma maneira de explicar sem assustá-los demais. Especialmente porque aquilo também a deixava apavorada. Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas foi salva por uma campainha. Uma campainha muito alta, mais parecida com uma sirene. As luzes do lustre sobre a mesa começaram a piscar. O avô, mais carrancudo ainda, tirou o celular do bolso da camisa imaculadamente branca e bem passada, apertou um botão e colocou-o junto à orelha. — O que é? — Ele fez uma pausa. — Quem? — perguntou com rispidez, desviando os olhos para Kylie. — Já estou indo! Ele desligou o telefone e se levantou da cadeira, depois olhou para a cunhada. — Você e Kylie, sumam daqui. Escondam-se no celeiro. Volto logo. Quando disse “sumam”, Kylie presumiu que ele estivesse se referindo a ficar invisível, outra coisa que os camaleões faziam. Desvanecer-se no ar. — O que está acontecendo? — Kylie perguntou, lembrando-se de que o fantasma a advertira de que logo ela teria companhia.


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