A redoma de vidro sylvia plath

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conhecido uma mulher. “Conhecido” no sentido bíblico, Eric salientou. Então num sábado Eric e alguns de seus colegas pegaram um ônibus para a cidade mais próxima e foram a um bordel famoso. A prostituta de Eric não tirou nem o vestido. Uma gorda de meia-idade com cabelo ruivo tingido, lábios duvidosamente grossos e pele cor de rato; ela se recusou a apagar a luz, o que significa que ele teve que possuí-la sob uma lâmpada de vinte e cinco watts infestada de moscas. Foi completamente diferente daquilo que diziam. Tão entediante quanto ir ao banheiro. Eu disse que se ele amasse uma mulher de verdade talvez não fosse tão entediante, mas Eric disse que a experiência seria arruinada pela impressão de que aquela mulher era um animal como as outras, e que ele jamais iria para a cama com alguém que amasse. Ele visitaria uma prostituta, se tivesse necessidade, e manteria a mulher amada livre de toda aquela sujeira. Na época, passou pela minha cabeça que Eric talvez fosse uma boa pessoa com quem ir para a cama, uma vez que ele já tinha passado por isso e, ao contrário da maioria dos garotos, não parecia estar só pensando em sacanagem ou besteira quando falava sobre o assunto. Mas então Eric me escreveu uma carta dizendo que achava que talvez conseguisse me amar de verdade, que eu era inteligente e cínica e ao mesmo tempo tinha um rosto bondoso que lembrava o de sua irmã mais velha. Nesse momento eu soube que era inútil, que eu era o tipo de pessoa que ele jamais levaria para a cama, e respondi dizendo que infelizmente eu estava prestes a me casar com um namorado de infância.

* Quanto mais eu pensava no assunto, mais gostava da ideia de ser seduzida por um tradutor simultâneo em Nova York. Constantin parecia bastante maduro e respeitoso. Eu não conhecia ninguém para quem ele pudesse se gabar, do jeito que universitários faziam quando dormiam com garotas no banco de trás de seus carros, espalhando a notícia para os colegas de quarto ou os amigos do time de basquete. E haveria uma agradável ironia em dormir com alguém que a sra. Willard me apresentara, como se ela fosse, em retrospecto, a responsável pela coisa. Quando Constantin me perguntou se eu gostaria de subir ao seu apartamento para ouvir alguns discos de balalaica, sorri por dentro. Minha mãe sempre me advertiu para não entrar, sob nenhuma circunstância, no quarto de um homem depois de um encontro, e aquilo só podia significar uma coisa. — Aprecio muito a balalaica — eu disse. O quarto de Constantin tinha uma sacada com vista para o rio, e era possível ouvir o barulho dos rebocadores na escuridão. Eu estava emocionada e enternecida, e tinha convicção absoluta do que estava prestes a fazer. Eu sabia que podia ficar grávida, mas aquele pensamento pairava em algum lugar muito distante e não me incomodava nem um pouco. Um artigo da Reader’s Digest, que minha mãe havia recortado e me enviado, dizia que não havia método anticoncepcional cem por cento eficaz. Havia sido escrito por uma advogada casada e com filhos e era intitulado “Em defesa da castidade”. O artigo listava todos os motivos por que uma garota devia se guardar para seu marido e só ir para a cama com ele depois do casamento. O principal argumento do artigo era que o mundo dos homens e o das mulheres são diferentes, assim como suas emoções, e que só o casamento é capaz de unir apropriadamente


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