Amplifica: a arquitetura como suporte para as ocupações não-hegemônicas do espaço público

amplifica

a arquitetura como suporte para as ocupações não-hegemônicas do espaço público

Universidade de Fortaleza Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso Dezembro/2020

Amplifica a arquitetura como suporte para as ocupações não-hegemônicas do espaço público

Maria Paula Arcanjo Medeiros sob orientação da Profa. Dr. Ana Cecília Serpa Braga Vasconcelos

Ficha catalográfica da obra elaborada pelo autor através do programa de geração automática da Biblioteca Central da Universidade de Fortaleza

Medeiros, Maria Paula Arcanjo.

Amplifica: a arquitetura como suporte para as ocupações não-hegemônicas no espaço público / Maria Paula Arcanjo Medeiros. - 2020 193 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade de Fortaleza. Curso de Arquitetura E Urbanismo, Fortaleza, 2020.

Orientação: Ana Cecilia Serpa Braga Vasconcelos.

1. arquitetura efêmera. 2. espaço público. 3. coletivo urbano. 4. cidade contemporânea. I. Vasconcelos, Ana Cecilia Serpa Braga. II. Título.

Maria Paula Arcanjo Medeiros

Amplifica a arquitetura como suporte para as ocupações não-hegemônicas do espaço público

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Ana Cecília Serpa Braga Vasconcelos

Profa. Dra. Andréa Agda Carvalho de Souza Arruda

Liana Silveira Feingold

resumo Este projeto parte de uma reflexão sobre as possibilidades de experimentação de linguagens híbridas, envolvendo as relações entre arquitetura (o edifício), urbanismo (espaço público) e o corpo do cidadão, no sentido de abrir frestas para se pensar o futuro das cidades e da atuação contemporânea do arquiteto-urbanista.

Portanto, tem como objetivo elaborar uma estrutura interativa, projetada para receber tanto o usuário singular quanto o coletivo, criando novas possibilidades espaciais para incentivar e dar suporte às interações cotidianas sociais e aos eventos culturais nos espaços públicos do centro da cidade de Fortaleza. Essa intervenção tem como base teórica de estudo as relações não-hegemônicas entre o indivíduo e a cidade, as formas e os espaços não convencionais ou oficiais, explorando a interligação contemporânea entre o espaço público e a cultura urbana. Para a aproximação com o tema abordado, fez-se necessário expandir o referencial teórico por meio do mapeamento das atuações dos coletivos urbanos e abordagens de relevância sobre a temática da investigação, desenvolvendo novos modos de observação e atuação a partir das paisagens dinâmicas ocupadas por múltiplos processos e agentes.

Palavras-chave: Arquitetura efêmera, espaços públicos, coletivo urbano, cidade contemporânea

abstract This project starts from a reflection on the possibilities of experimenting with hybrid languages, involving the relationship between architecture (the building), urbanism (public space) and the citizen’s body, in the sense of opening cracks to think about the future of cities and the city. contemporary performance of the architect-urbanist. Therefore, it aims to develop an interactive structure, designed to receive both the individual and the collective user, creating new spatial possibilities to encourage and support everyday social interactions and cultural events in the public spaces of the city center of Fortaleza. This intervention is based on the theoretical study of non-hegemonic relations between the individual and the city, unconventional or official forms and spaces, exploring the contemporary interconnection between public space and urban culture. In order to approach the topic addressed, it was necessary to expand the theoretical framework by mapping the actions of urban collectives and approaches of relevance on the theme of research, developing new modes of observation and action from the dynamic landscapes occupied by multiple processes and agents.

Keywords: Ephemeral architecture, public space, urban coletive, contemporary city

bruna . alice . mariana . lucas . felipe . giselle . marcos . karina . neto . mônica . taina . mariah . nat . camis . liana . mi. gui . tere .manu. erre. carol . rafa . ligia . mari . bia. ju. leo.

Liana Feingold, arquiteta entusiasmada e dedicada, que tenho a grata satisfação de confiar a avaliação.

A minha familia pelo carinho, amor e suporte, sobretudo, aos meus pais, Stella e João Pedro, e, ao meu irmão, João Paulo,

Agradecimentos

que me ensinaram que

a beleza é sobre colocar o coração em tudo e ter coragem. A eles que me fizeram não ter medo de sonhar.

Aos meus avos, Davi e Dina pela educação

e

pelo

amor

que

eu

A Deus, pelo dom da vida e do

sempre senti perto de vocês, e, Ari e

discernimento.

Rosilda, in memorian, pelas histórias inspiradoras que ouvi sobre vocês.

À

Universidade

despertar

em

de

Fortaleza,

mim

por

inquietações

e

Ao

Daniel,

pelo

companheirismo,

vontades de explorar, e aos professores.

amor e cuidado. Que veio de fora de

pelas

tudo o que eu conhecia e talvez por

experiências

e

ensinamentos

isso tenha me mostrado um novo

compartilhados.

mundo

de

incontáveis

referências

À Profa. Dra. Ana Cecília Serpa Braga pela

Aqueles que tive o prazer de conhecer ao

disponibilidade dedicada desde o começo

longo dessa caminhada, pelas alegrias e

da orientação. Você é inspiração de

vivências compartilhadas ao longo desses

mulher e de profissional. Obrigada por me

anos de graduação. A recordação do

fazer ir além.

caminho é sempre mais suave quando

Vasconcelos,

pela

presteza

e

lembro de vocês ao meu lado.

Aos membros participantes da banca examinadora, Profa. Dra. Andrea Agda,

À todos aqueles que me inspiraram, ainda

exemplo

que breve ou indiretamente.

de

arquiteta

acadêmica,

e

9

Lista de figuras

Figura 1 . Vista desde a Praça General Bezerril, 2020.

Foto autoria propia Figura 2 . Cena do filme “Tempos Modernos”, 1936.

Figura 3 . Empire State Building em Nova Iorque, EUA, 1930. Lewis Hine.

Figura 4 . Vista aérea de Brasília, tendo ao centro o Congresso Nacional, s.d. Arquivo Nacional.

Figura 5 . Vista aérea de São Paulo, sobre o Parque Dom Pedro II, s.d. Veja.

Figura 6 . Plaza de Santo Domingo, Murcia, 2018. Foto autoria própia.

Figura 7 . Praça General Bezerril, Centro de Fortaleza, s.d.

Igor de Melo.

Figura 8 . Resgate da memória festiva em tempos de pandemia, Ronda, 2020. Jon Nazca.

Figura 9 . Resgate da memória festiva em tempos de pandemia, Ronda, 2020. Jon Nazca.

10

Figura 10 . Montagem das imagens retiradas do vídeo Quando o passo vira dança, Rio de Janeiro, 2002. Pedro Seiblitz.

Figura 11 . Desenho de Flávio de Carvalho para a roupa “New Look”, Rio de Janeiro, s.d. Acervo: ALMANDRADE. Figura 12 . Flávio de Carvalho desfilando pelas ruas de São Paulo a roupa “New Look”. Foto dominio comum Figura 13 . O Turista, 1994. Francis Alys.

Figura 14 . Interveção do coletivo Acidum Project no Mercado Central. Arquivo Acidum Project Figura 15 . Interveção do coletivo Acidum Project na rua dos Tabajaras. Arquivo Acidum Project Figura 16 . Ação do Coletivo Avesso na praça da cidade de Fortaleza. Arquivo Coletivo Avesso Figura 17 . Ação “Bordamar”, na praia do Poço da Draga.

Te Pinheiro Figura 18 . Ação do coletivo tertulia na praia do Poço da Draga. Arquivo Coletivo Tertulia Figura 19 . Ação do coletivo tertulia na Praça General Tibúrcio. Arquivo Coletivo Tertulia Figura 20 . Espetaculo “Fortaleza”, na calçada do Theatro José de Alencar. Arquivo Cia. Dita Figura 21 . Espetaculo “Fortaleza”, na estação João Felipe.

Arquivo Cia. Dita 11

Figura 22 . Manifestantes ocupam Praça Murilo Borges, s.d. Marcos Adega/Fetamce Figura 23 . Crianças e jovens do MST tomam banho na piscina que ornamenta o Palácio da Abolição. José Leomar/Agência Diário Figura 24 . Intervenção “Cidade da Gente”, na Avenida Central, no bairro Cidade 2000, s.d. Rodrigo Capote/WRI Brasil Figura 25 . Intervenção “Cidade da Gente” no Dragão do Mar, s.d. Thiago Gaspar dos Santos Figura 26 . Intervenção Projeto “Cidade da Gente” no Dragão do Mar, s.d. Arquivo publico Prefeitura de Fortaleza.

Figura 27 . Pré-carnaval de rua no entorno do Mercado dos Pinhões, 2020. Camila Lima/SVM. Figura 28 . Projeto do volume técnico, 2013. Grupo Sp. Figura 29 . Implantação do Museu Difuso, 2013. Grupo Sp. Figura 30 . Ocupação do espaço da rua pela artista Dominique Gonzalez-Foester, 2013. Grupo Sp. Figura 31 . Pintura do artista Federico Herrero em uma empena cega, 2013. Grupo Sp. Figura 32 . Bilheteria com um índice remissivo da exposição urbana, 2013. Grupo Sp. 12

Figura 33 . Vista lateral do Panthéon, com a implantação dos mobiliários do projeto Les MonumentalES, 2018.

Arquivo Collectif Etc. Figura 34 . Uso dos mobiliários do projeto Les MonumentalES, 2018. Arquivo Collectif Etc. Figura 35 . Instalação do escritório in situ, 2018. Arquivo Collectif Etc. Figura 36 . Perfomance coletivo de teatro, 2018. Lucas Bonnel.

Figura 37 . Maquete da implantação, 2018. Arquivo Collectif Etc. Figura 38 . Vista de fora do Pavilhão 120 Portas, 2014.

Socks.

Figura 39 . Perspectiva Axonometrica do Pavilhão 2014.

Socks.

Figura 40 . Interação dos usuários com a estrutura dinâmica, 2014. Socks.

Figura 41 . Vista da Rua General Bezerril, desde a Praça General Tibúrcio, 2020. Autoria própria.

Figura 42 .Imagem do espetaculo “Fortaleza”, na cadeia pública. Arquivo Cia. Dita Figura 43 .Imagem do Coletivo tértulia numa ação da Praça General Tibúrcio. Arquivo Coletivo Tértulia

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Figura 44 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Calçada do Theatro José de Alencar e a Praça José de Alencar. Elaborado pela autora.

Figura 45 .Estátua José de Alencar, localizada na praça José de Alencar, s.d. Desconhecido.

Figura 46 .Perspectiva do Theatro José de Alencar, 2020.

Autoria própria.

Figura 47 .Evento musical na calçada do Theatro José de Alencar. Assessoria da Imprensa Secult.

Figura 48 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Praça do Ferreira.Elaborado pela autora.

Figura 49 .Relógio da Praça do Ferreira, 2020. Autoria propria.

Figura 50 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Praça do Ferreira.Elaborado pela autora.

Figura 51 .Vista do centro da Praça General Tibúrcio, 2020. Autoria própria.

Figura 52 .Vista da Praça General Tibúrcio, 2020. Autoria própria.

Figura 53 .Imagem aproximada do edificio que abria o bar Lions, 2020. Autoria própria.

Figura 55 .Vista da Travessa Crato, 2020. Autoria própria.

Figura 54 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Travessa Crato.Elaborado pela autora.

14

Figura 57 .Vista para a Avenida Alberto Nepomuceno, sobre o viaduto, 2020. Autoria própria.

Figura 56 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno do Viaduto do Mercado Central.Elaborado pela autora.

Figura 58 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Praia do Poço da Draga.Elaborado pela autora.

Figura 59 .Foto dos “meninos peixes”, desde a Ponte Velha, 2019. Autoria própria.

Figura 60 .Foto da Praia do Poço da Draga, desde a Ponte Velha, 2019. Autoria própria.

Figura 61 .Foto “ O centro já está vivo”, 2020. Alice Dote.

Figura 62 .Evolução processual a partir de croquis I. Elaborado pela autora.

Figura 63 .Evolução processual a partir de croquis II. Elaborado pela autora.

Figura 64 .Evolução processual a partir de croquis III. Elaborado pela autora.

Figura 66 .Estudo dos materiais e suas dimensões.

Elaborado pela autora.

Figura 65 .Croquis de detalhamento das peças.Elaborado pela autora.

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Figura 67 .Planta baixa do módulo. Elaborado pela autora.

Figura 68 .Fachada módulo. Elaborado pela autora.

Figura 69 .Corte AA módulo. Elaborado pela autora.

Figura 71 .Detalhamento da estrutura da porta.

Elaborado pela autora.

Figura 70 .Perspectiva explodida da porta. Elaborado pela autora.

Figura 72 .Situações possíveis do módulo. Elaborado pela autora.

Figura 73 .Montagem do módulo. Elaborado pela autora.

Figura 74 .Perspecita explodida do módulo. Elaborado pela autora.

Figura 75 .Ilustração etapas vida útil da estrutura do módulo. Elaborado pela autora.

Figura 76 .Ilustração implantação dos mobiliários complementares. Elaborado pela autora.

Figura 77 .Implantação do módulo na Praça General Tiburcio em situação de montagem. Elaborada por Juliana de Boni Fernandes.

Figura 78 .Implantação do módulo na Calçada do Theatro José de Alencar, em situação de expositor/passagem.

Elaborado por Juliana de Boni Fernandes.

16

Figura 79 .Implantação do módulo na Praça do Ferreira, situação servidor. Elaborado por Juliana de Boni Fernandes.

Figura 80 .Implantação do módulo na areia da Praia do Poço da Draga, como luminária urbana. Elaborado por Juliana de Boni Fernandes.

Lista de mapas

Mapa 1 . Mapa da atuação dos coletivos no Centro de Fortaleza. Desenvolvido pela autoria.

Mapa 2 . Mapa das áreas de intervenção. Elaborado pela autora, sobre a base da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2010).

Mapa 3 . Mapa com os condicionates ambientais.

Elaborado pela autora, sobre a base da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2010).

Mapa 4 . Mapa com zoenamento urbano.Elaborado pela autora, sobre a base da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2010).

Mapa 5 . Mapa com zoenamento especial .Elaborado pela autora, sobre a base da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2010).

17

Sumário

1.

introdução

Justificativa

21

Objetivo geral

26

Objetivos específicos

26

Metodologia

27

2.

cidade contemporânea

Caracterização

33

Os lugares e os espaços públicos

39

Pandemia covid-19

3.

42

arte, movimento e ocupações

Práticas não-hegemônicas de ocupação do espaço público: coletivos urbanos de Fortaleza

59

Acidum Project

62

Coletivo Avesso

64

Coletivo Tertúlia Black Vândal

67

Cia. Dita

68

4.

caminhos

O espaço público frente ao planejamento urbano atual de Fortaleza

75

Ações estratégicas

80

Por uma nova interpretação

87

5.

referências projetuais

33° Panorama da Arte Brasileira (MAM)

91

Les MonumentalES - Place Du Panthéon

96

Pavilhão 120 Portas

6.

7.

100

o centro de Fortaleza

A área de estudo

107

Delimitação da área de intervenção

112

Calçada do Theatro José de Alencar à Praça José de Alencar

114

Praça do Ferreira

118

Praça General Tibúrcio

122

Travessa Crato

126

Viaduto Mercado Central

128

Praia Poço da Draga

130

Condicionantes físicos e ambientais

134

Legislação urbanística

136

Características socioeconômicas e culturais

141

a proposta de intervenção

Diretrizes projetuais

149

Processo projetual

151

Definição do programa de necessidades

156

O projeto

159

A montagem

166

Vida útil

170

Do efêmero ao permanente

172

8.

conclusão

Considerações finais

185

Referência bibliográfica

187

Introdução

1.

Justificativa

Este trabalho final de graduação é uma reflexão sobre as possibilidades de experimentação de linguagens híbridas, envolvendo as relações entre arquitetura (o edifício), urbanismo (espaço público) e o corpo do cidadão, no sentido de abrir frestas para se pensar o futuro das cidades e da atuação contemporânea do arquiteto-urbanista O fundamento deste pensamento parte de uma análise sobre a cidade contemporânea e suas transformações, que incorpora contribuições do debate pós-moderno.

Inserida em uma conjuntura de aceleradas mudanças e transformações socioespaciais, essa análise considera os fenômenos que Santos (2006) aponta como “espaços da fluidez”, levando em conta os subespaços onde há uma grande circulação e investimento, representando a cidade legal, e os “espaços viscosos”, que correspondem aos outros espaços menos representativos. A coexistência desses espaços dificulta um olhar único sobre a cidade, que se dissolve, se esvai e não se fixa, dificultando a apreensão da cidade real.

23

Figura 1 . Vista desde a Praça General Bezerril, 2020. Foto autoria propia

24

Ademais, a pesquisa, desenvolvida ao longo do ano de 2020, desenrola-se frente a um processo atual de medidas de reclusão social, uma crise sanitária que impulsiona ideias para um caminho ainda a ser descoberto. Ocorre que todos os países se encontram diante de uma Pandemia da Covid-19. Uma doença infecciosa causada por um novo vírus SARS-CoV-2, identificado em humanos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal recomendação é o isolamento permanente da população, com intuito de postergar o contágio.

Assim, de acordo com Kimmelman (2020), as cidades são epicentros do capital e da criatividade, projetados para serem ocupados coletivamente e as pandemias são anti-urbanas, atacando o desejo humano de conexão. A humanidade está enfrentando um experimento social sem resultado previsível, porém uma constante na equação é a pertinência da arquitetura e urbanismo como instrumento de planejamento e projeto voltado para a garantia de acesso saudável à cidade.

Sennett (2001) chama a atenção para o valor humano de se viver na cidade, apresentando, como virtudes urbanas, a sociabilidade, que consiste na possibilidade de se aprender a viver com estranhos, e a subjetividade, que se refere ao conhecimento de si mesmo, quando confrontado com os sistemas sociais complexos da cidade. Contudo Amin (2009) complementa que a sociabilidade no espaço público não é uma condição suficiente para a cidadania cívica e política.

Sobretudo a experiência da prática insurgente, corporal e dissensual sobre o espaço público tem um papel importantíssimo enquanto material empírico (JACQUES, 2009). Segundo David Sperling (2011), frente aos ideais 25

da cidade como lugar de consenso e de consumo, as ocupações temporais do espaço resgatam o valor de uso, revelam diferentes necessidades e carências e, inclusive, potencializam a criatividade e o imaginário subjetivo.

As intervenções que serão discutidas aqui correspondem às ações contestatórias no espaço urbano contemporâneo, especificamente na cidade de Fortaleza, Brasil.

Intencionalmente temporárias, tratam-se de atuações de atores coletivos que contém o desejo de transformação do espaço público, advindo de uma forma contemporânea de pensar e agir, com caráter efêmero.

A motivação vem da percepção de que Fortaleza, muito mais do que antes, tem tido diversas experiências no espaço público que se sobressaem do planejado oficial. Artistas, arquitetos, designers, associações civis, população em geral, resistindo às ações padronizadoras de comportamento, engajam-se, gradativamente, em ações de reconquista do espaço público, em tempos onde este nem sempre resulta estritamente “público”.

Alguns exemplos recentes já são bastante conhecidos, e, de certa forma, se misturam à informalidade cotidiana da cidade, como as apropriações espontâneas de roda de samba na Travessa Crato, as ocupações e intervenções de arte urbana do Coletivo Avesso (SALLES, 2019) e Acidum Project, bem como as festas do Coletivo Tertúlia (FORTE, 2019) realizadas na calçada do Theatro José de Alencar e na areia da Praia do Poço da Draga.

Para tanto, o espaço e o lugar aqui em questão não se restringem a seus limites construtivos ou geométricos, mas englobam também as recordações de quem os ocupou, 26

de quem ainda os ocupa, de quem os vivencia, de algum modo, caracterizando dessa maneira sua transformação no tempo.

Portanto, o mote desta investigação foi de compreender como se ocupa a cidade, considerando as relações não hegemônicas entre o corpo e a cidade, as formas e os espaços não convencionais ou oficiais, explorando a interligação contemporânea entre o espaço público e a cultura urbana, de modo a manter uma tensão permanente no espaço.

Esta investigação deu subsídios à proposição de um projeto urbanístico/arquitetônico que promova o suporte e a qualificação dos espaços públicos, considerando as ações e ocupações não hegemônicas que neles acontecem, revelando novos potentes usos ao espaço. Sendo parte de um processo que se estende ao longo da vivência da cidade, da percepção, compreensão e apropriação dos espaços.

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Objetivo geral

Esta pesquisa tem como objetivo geral, por um lado, investigar as práticas não-hegemônicas na cidade de Fortaleza e observar a qualidade da apropriação dos espaços públicos da cidade; por outro, elaborar uma estrutura interativa, projetada para receber usuários singulares e coletivos, criando novas possibilidades espaciais para incentivar e dar suporte aos eventos culturais e interações cotidianas sociais nos espaços públicos do centro da cidade de Fortaleza.

Objetivos específicos

i) Compreender a dinâmica das cidades contemporâneas, assim como as novas tendências do desenvolvimento urbano; ii) Compreender a interligação entre o espaço público e a cultura urbana; iii) Compreender o indivíduo e a sua relação contemporânea com o espaço ; iv) Identificar e analisar as práticas não-hegemônicas nos espaços públicos do centro da cidade de Fortaleza, considerando seus agentes e intermediários. v) Ampliar o entendimento das possíveis atuações dos arquitetos e urbanistas;

28

Metodologia

O principal propósito foi expandir o referencial teórico por meio do mapeamento de autores e abordagens de relevância sobre a temática da investigação. Isto é, combinado com um estudo comparativo de uma série de iniciativas urbanas alternativas que, entre outras abordagens, explora o uso temporário como resposta aos desafios contemporâneos.

Direcionado ao eixo da problematização, procura-se estabelecer relações entre diferentes autores e suas abordagens que contribuem ao debate, tomando por referência: François Ascher (2010), a sua contribuição com o olhar do gerenciamento do planejamento urbano; Lynch (1997) ao explorar as imagens da cidade ao mencionar a formulação dos conceitos e contextos históricos; Paola Berenstein (2004) ao explorar a relação contemporânea do corpo na cidade e o corpo urbano; o arquiteto Christian Norberg-Schulz (2013) e sua contribuição para uma melhor compreensão do caráter do lugar, estabelecendo relação na medida em que assinala o conceito de lugar vinculado ao acúmulo de experiências. Além da aproximação de novos autores e perspectivas multidisciplinares.

Para a aproximação com o tema abordado, fez-se necessário expandir o referencial teórico por meio da invetigação, mapeamento e levantamento das atuações dos coletivos urbanos da cidade de Fortaleza, principalmente, aqueles que possuiam a sua atuação no centro da cidade.

Os dados foram coletados a partir da mídia (facebook, instagram, twitter, blog, entre outros).

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Ademais, após a investigação desses coletivos da região central, foram identificadas formas de apropriações presentes nesses lugares e, transformadas em temáticas, ou seja, indicadores de possibilidades de uso.

Desenvolvendo novos modos de observação e atuação a partir das paisagens dinâmicas ocupadas por múltiplos processos e agentes.

Tendo isso em vista, a proposta projetual não pretende ser definitiva, mas ser aberta e mutável, que possam de modificar conforme as transformações do corpo da cidade e dos cidadãos.

30

31

Cidade Contemporânea

2.

Caracterização

Há diversas formas de caracterizar o que é uma cidade, assim como é possível encontrar diversas abordagens determinando sua origem.

A estrutura e a estabilidade necessárias para a preservação das cidades já encontrava sua origem na aldeia. Esse modelo organizacional pressupõe uma divisão técnica, social e espacial da produção, e ainda é, de algum modo, base para as cidades contemporâneas, pois foi se replicando ao longo do tempo e se complexificando na medida do seu crescimento territorial (ASCHER, 2010).

O século XVIII, com a Revolução Industrial, trouxe, através da inovação da ciência e da tecnologia, uma redefinição da noção de tempo, de velocidade, da obsolência dos lugares e das coisas (LINARDI, 1994). Contudo, segundo Ascher (2010) as cidades passaram por uma reforma e planejamento urbano para se adequarem às novas necessidades da população. A pluralidade e ambivalência são as marcas da sociedade moderna, e que na cidade contemporânea se multiplicam.

35

Figura 2 . Cena do filme “Tempos Modernos”, 1936.

Figura 3 . Empire State Building em Nova Iorque, EUA, 1930. Lewis Hine.

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De acordo com Carvalho (2014) “culturalmente, a cidade a partir do século XVIII é chamada de cidade moderna” (p.

22). Contudo, este conceito de modernidade causa um certo desconforto nos debates contemporâneos, pois a cidade já não é mais a mesma.

No entanto, ainda se busca uma terminologia adequada, que possa dar conta da realidade contemporânea, que contempla uma revolução tecnológica e uma revolução comunicacional, em plena efervescência, que propõem novas relações entre as formas de produção e circulação de corpos completamente diferentes daquela que foi concebida nos tempos modernos.

A partir disso, é possível verificar que há um ponto de partida para a modernidade, a questão, então, é definir se há um ponto de chegada, que delimite seu fim. Para caracterizar os tempos mais recentes, diversos autores fazem uso de diferentes abordagens e terminologias.

Segundo Sérgio Paulo Rouanet (1987) a sua crítica “ilusão à ruptura” defende que não há uma ruptura histórica radical que nos permita afirmar que vivenciamos um novo momento histórico, para além da modernidade. Anthony Giddens (1991) se assemelha, até certo ponto, à crítica desenvolvida por Rouanet, mas se situa num estágio antes do pós-moderno, definindo-a como a “modernidade radicalizada”. Já Gilles Lipovetsky (2004) chama esse mesmo período temporal, que vai dos anos 70 aos dias de hoje, de “hipermodernidade”, conceito que pode ser observado em obras como Os tempos hipermodernos. Marc Augé (2009) utiliza o conceito de “sobremodernidade” para qualificar o tempo ao qual o livro Não-lugares (1990) se refere.

Zygmunt Bauman (2001) prefere trabalhar com a ideia de “modernidade líquida”.

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Percebe-se, por fim, que não há um conceito comum a todos os autores, mas o que fica claro é que grande parte das abordagens teóricas têm uma relação com a modernidade. Ou seja, é a partir das contribuições dos discursos da modernidade que se determinam as possibilidades e impasses do mundo atual.

Utiliza-se, portanto, o termo “contemporâneo” para qualificar o tempo presente, ao qual a pesquisa se refere. Assim, fica explícito que a cidade sobre a qual se estuda é a cidade moderna sob efeito: globalizado e multifacetado, evidenciando a sua dimensão sociocultural e a sua pluralidade; fragmentada e diversa, constituída por diferentes camadas e grupos sociais; tradicional e emergente, revelada numa malha rígida em meio as novas normas e normativas de planejamento urbano.

Neste aspecto, de acordo com Bernardo Secchi (2012, p.89): Muitas vezes interpretada como dispersão caótica de coisas e pessoas, de práticas e de economias, a cidade contemporânea, nas diversas escalas do espaço físico, social, econômico, institucional, político e cultural, caracteriza-se por um mesmo grau de fragmentação, produto de racionalidades múltiplas e legítimas, mas muitas vezes simplesmente encostadas umas às outras, atravessadas por limites não só invisíveis, como difíceis de superar.

É exatamente devido a essa mudança de paradigma que este trabalho ganha sentido: pensar a cidade de uma forma geral (global), que se expande em informações, comportamentos e relacionamentos.

38

Figura 4 . Vista aérea de Brasília, tendo ao centro o Congresso Nacional, s.d. Arquivo Nacional.

Figura 5 . Vista aérea de São Paulo, sobre o Parque Dom Pedro II, s.d. Veja.

39

40

Os lugares e os espaços públicos

Refletir sobre o conceito de espaço público motiva a pensar o espaço como um recurso, um produto e como uma prática: sensorial; social; política e simbólica (NARCISO, 2009). A partir desta percepção, Lefebvre (1974) define três momentos na produção social do espaço: o espaço concebido; o espaço vivido; e o espaço percebido. Para tanto, o filósofo deduz que o espaço traduz um conjunto de diferenças, ou seja, é o lugar da pluralidade e das simultaneidades de padrões, de maneiras de viver a vida urbana.

De acordo com Narciso (2009) o espaço público é um espaço próprio e característico da vida urbana. A cidade, portanto, é revelada por meio do espaço público. Nele aprendemos a caminhar e a descobrir a cidade. Ademais, Indovina (2002) considera que este constitui um fator importante de identificação, que conota os lugares, manifestado através de símbolos e, em segundo lugar, refere o espaço público como o lugar da palavra, como lugar de socialização, de encontro e também onde se manifestam grupos sociais, culturais e políticos que a população da cidade exprime.

Figura 6 . Plaza de Santo Domingo, Murcia, 2018. Foto autoria própia.

Esta abordagem permite compreender que a vivência livre e irrestrita dos seres humanos no ambiente do espaço público motiva a tolerância para com os outros, prazer na experiência urbana, respeito pelos bens comuns e compartilhados, e interesse na vida cívica e política. Como afirmam Carr, Francis, Rivlin e Stone (1993, p. 344) “em um espaço público bem projetado e bem administrado, a armadura da vida cotidiana pode ser parcialmente 41

removida, permitindo-nos ver os outros como pessoas inteiras. Ver pessoas diferentes de si mesmas respondendo à mesma situação de maneira semelhante cria um vínculo temporário”. O espaço público, se organizado adequadamente, oferece o potencial de comunhão social e, como resultado, aumenta nossa disposição em relação ao outro.

Essa necessidade de se apropriar do espaço público tem sido cada vez mais nítida e acarreta mudanças na relação do indivíduo com o lugar. Ocupar espaços inimagináveis na cidade, que antes eram evitados por medo ou pela impossibilidade de acesso do pedestre, retoma nas pessoas um sentimento de pertencimento, de vínculos pelo direito e pelo prazer de estarem juntas. É prazeroso poder usufruir com qualidade de espaços que são seus por direito, entre eles a rua, e que antes de serem sobrepostas por vias expressas e interesses imobiliários, foram por muito tempo muito utilizados. E essa maneira de uso, pela população, acaba se tornando a melhor forma de motivar ações, chamando a atenção de agentes maiores, que têm a capacidade de transformar essas intervenções temporárias em permanências.

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Figura 7 . Praça General Bezerril, Centro de Fortaleza, s.d. Igor de Melo.

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Pandemia covid-19 Contudo, a pandemia causada pelo virus Sars-CoV-2 colocou o mundo em isolamento social, obrigando-nos, enquanto sociedade, a repensar e reestruturar nossas relações. A redução do contato físico entre as pessoas e o aumento da necessidade do uso da inteligência artificial fortalecem a ideia de que os impactos da Covid-19 modificarão a forma como as pessoas interagem com o mundo ao redor.

O espaço da cidade, em meio a esta realidade, é visto cada vez mais como um lugar residual, não mais dotado por um lugar de criatividades e potencialidade, ocupado prioritariamente por trabalhadores precarizados que circulam entregando alimentos e realizando as conexões dos produtos e das pessoas com as outras ou com os lugares .

Ao mesmo tempo em que isola as pessoas e paralisa grande parte dos setores da economia, este cenário, por vezes, é contrastado pela realidade concreta nas formas em que a sociedade está exercendo para resistir, através de organização social de autogestão, baseado na solidariedade, criando outras formas de relação com o território e o espaço que apontam para perspectivas de relações horizontais, comunitárias e comuns, ou seja, relações muito menos submetidas a estruturas hierárquicas, que não respondem mais ao modo de organização predominantes do século XIX e do século XX.

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Figura 8 . Resgate da memória festiva em tempos de pandemia, Ronda, 2020. Jon Nazca.

Figura 9 . Resgate da memória festiva em tempos de pandemia, Ronda, 2020. Jon Nazca.

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A pandemia evidencia o poder de suscitar interrogações sobre a forma de viver em sociedade e de nos vermos menos individuais e mais como comunidade. Além disso, questiona de que forma se constrói paisagens para a vida e não mais paisagens para a renda, ou até mesmo revela a necessidade de novos meios e novos modos de revitalizar com outras formas que já não são mais os modelos modernistas.

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Arte, Movimento e Ocupações

3.

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Considera-se, na abordagem desta pesquisa, pensar a arte como uma forma de ação que evidencia os conflitos escondidos, como experiência questionadora de consensos estabelecidos, sobretudo manifestadora de tensões do espaço público. Esta que está por trás da cidade-imagem espetacular, ou ainda, a arte enquanto micro-resistência, conforme Fabiana Britto e Paola Jacques (2009).

Chantal Mouffe (2007, s.p.) faz uma proposta interessante ao pensar a arte como uma possível fonte mantenedora ou até mesmo criadora de tensões no espaço público, denominando de Arte Crítica: De acordo com a abordagem agonística, arte crítica é a arte que fomenta dissensos, que torna visível o que o consenso dominante tenta obscurecer e esquecer. Esta é constituída por uma série de práticas artísticas que buscam dar voz àqueles que foram silenciados pela estrutura da hegemonia existente.

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As ações artísticas críticas na cidade, que podem ser vistas tanto como “intervenções contra-hegemônicas”, na denominação de Mouffe, quanto como “micro-resistências urbanas”, na visão de Jacques, têm o objetivo de ocupar, se apropriar do espaço público para construir outras experiências sensíveis e, assim, conflitar essa imagem tranquilizadora e pacificada do espaço público que o espetáculo do consenso tenta criar.

O urbanismo enquanto campo disciplinar e prática profissional surge exatamente com o intuito de transformar as antigas cidades em metrópoles modernas, o que significava também transformar as antigas ruas de pedestres em grandes vias de circulação para automóveis, reduzindo as possibilidades da experiência física direta, através do andar das cidades.

No contexto da experimentação da cidade, Lynch (1997) foi um dos primeiros arquitetos urbanistas a perceber a mudança de comportamento das pessoas nas suas relações cotidianas com a arquitetura e a cidade. O simples ato de andar pela cidade pode assim se tornar uma crítica ao urbanismo enquanto disciplina prática de intervenção nas cidades. Essa crítica pode ser vista tantos nos textos quanto nas imagens produzidas por artistas a partir de suas experiências do andar pela cidade (JACQUES, 2004).

O livro Elogio aos errantes (2012) de Paola Berenstein Jacques, faz emergir uma outra história das cidades, uma que dá espaço aos que sentiram no corpo os caminhos e descaminhos da cidade e suas dificuldades e que tiveram instrumentos para transmitir suas experiências e achados. O livro, por sua vez, traz um breve histórico desses caminhos, estes podendo ser divididas em três 52

Figura 10 . Montagem das imagens retiradas do vídeo Quando o passo vira dança, Rio de Janeiro, 2002. Pedro Seiblitz.

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Figura 11 . Desenho de Flávio de Carvalho para a roupa “New Look”, Rio de Janeiro, s.d. Acervo: ALMANDRADE.

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momentos, que corresponderiam às diferentes críticas aos três momentos do urbanismo dito moderno: o período das flanâncias, de meados e final do século XIX até início do século XX, que criticava exatamente a primeira modernização das cidades; o das deambulações, dos anos 1910-30, que também fez parte das vanguardas modernas mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas idéias urbanísticas do início dos CIAMs (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna); e o das derivas, dos anos 1950-60, que criticou tanto os pressupostos básicos dos CIAMs quanto sua vulgarização no pós-guerra, o modernismo.

Ademais, a escritora Paola Berenstein Jacques complementa que essas idéias de “errâncias urbanas” se desenvolveram também no meio artístico após os situacionistas. O grupo neo-dadaísta Fluxus (Maciunas, Patterson, Filliou, Ono etc) também propôs experiências semelhantes, foi a época dos “happenings” no espaço público, no caso do Fluxus dos Free Flux-Tours, errâncias por Nova Iorque nos anos 1970. Dentro do contexto da arte contemporânea, vários artistas trabalharam no espaço público de forma crítica ou com um questionamento teórico. O denominador comum entre esses artistas, e suas ações urbanas, seria o fato de que eles vêem a cidade como campo de investigações artísticas aberto a novas possibilidades sensíveis, e assim, possibilitam outras maneiras de se analisar e estudar o espaço urbano através de suas obras ou experiências.

Diferentemente dessas abordagens, a deriva situacionista não pretendia ser vista como uma atividade propriamente artística, mas sim como uma técnica urbana para tentar desenvolver na prática a idéia de construção de situações através da psicogeografia.

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Figura 12 . Flávio de Carvalho desfilando pelas ruas de São Paulo a roupa “New Look”. Foto dominio comum

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No Brasil, tanto os artistas modernistas quanto os tropicalistas também tiveram algumas idéias semelhantes, principalmente as Experiências de Flávio de Carvalho, próximo aos surrealistas parisienses dos anos 1930, ou o Delirium Ambulatorium de Hélio Oiticica.

Por conseguinte, destaca-se no contexto latino americano, portanto, a documentação fotográfica Turista (1994) do arquiteto belga Francis Alys, na Cidade do México. A incessante observação o levou a se questionar sobre seu papel no contexto urbano, o quanto pertencia a ele ou como poderia participar de sua dinâmica. Assim, em meio às novas discussões de planejamento urbano da Cidade do México, paralelo ao interesse governamental em explorar o potencial turístico do centro urbano, em um claro processo gentrificador, o artista, nesta série, afirma e testa sua condição de estrangeiro disponibilizando seus serviços como turista ao lado de trabalhadores informais que oferecem os mais diversos serviços no exterior das grades da Catedral Metropolitana, no Zócalo, praça central da capital mexicana.

A escolha do artista registra expressões do comércio informal, a partir de um ponto de vista que, ao contrário de excluí-las do contexto urbano, procura resgatá-las como práticas da vida no centro da cidade. Essa opção por registrar o uso informal da rua não é totalmente casual e se repete ao longo do trabalho de Alÿs, em séries fotográficas que retratam a vida no centro da Cidade do México.

Para tanto, entende-se que a potência ativa da arte está justamente em encontrar movimentos que escapem às estratégias de mercado e possibilitam problematizar essas questões. O que chama atenção em Alÿs, portanto, 58

Figura 13 . O Turista, 1994. Francis Alys.

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é a forma que ele encontra de criar signos a partir de sua experiência, possibilitando reflexões críticas sobre aspectos das cidades contemporâneas, que parecem se tornar cada vez mais controladas.

O ser humano, como um ser relacional, envolve-se com o espaço através da sua percepção, do seu imaginário e dos seus movimentos. Este busca por diversas manifestações, estímulos, vontades, impulsos, desejos, inquietações, construindo a sua identidade. Este modo de pensar se baseia na experimentação existencial expressa na fenomenologia, estudos de Norberg-Schulz (2013).

Portanto, impulsionados por vontades, os cidadãos contemporâneos atualizam os projetos urbanos e a própria disciplina urbanística, através da prática, vivência e improvisações nos espaços. Segundo Jacques (2008), os urbanistas apontam usos possíveis para o espaço projetado, mas são aqueles que o experimentam no cotidiano que os atualizam. Além disso, a arquiteta aponta que a cidade não só deixa de ser cenário mas, mais do que isso, ela ganha corpo a partir do momento em que ela é praticada, se torna “outro” corpo. Dessa relação entre o corpo do cidadão e esse “outro corpo urbano” pode surgir uma outra forma de apreensão urbana e, consequentemente, de reflexão e de intervenção na cidade contemporânea.

Ademais, segundo a artista Carmen Morais (2015), a cidade, por sua vez, é fundamental no processo de desenvolvimento criativo, uma vez que passa a ser compreendida como um “espaço praticado”, que ultrapassa o elemento objetificado e alcança um ambiente rico em interesses e possibilidades.

Ou seja, para os artistas - ou até mesmo para os cidadãos 60

como um todo - a cidade deixa de ser um simples cenário no momento em que ela é vivida. E mais do que isso, no momento em que a cidade é experimentada, esta também se inscreve como ação perceptiva e, dessa forma, sobrevive e resiste no corpo de quem a pratica.

Práticas não-hegemônicas de ocupação do espaço público: coletivos urbanos de Fortaleza

Fazer apologia às práticas urbanas cotidianas significa, neste caso, valorizar o uso a e improvisação dos espaços através de seus praticantes ordinários, das pessoas que vivenciam e praticam a cidade de forma mais intensa e espontânea.

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FERREIRA, 2017, s.p.

A busca pela interação com o usuário é muito presente nos projetos realizados pelos coletivo urbanos. A ação coletiva, portanto, é caracterizada como arranjos descentralizados, organizados de forma horizontal, flexíveis e situacionais, ações autogeridas e , muitas vezes, transversais às ações governamentais. Büttner (2002) ressalta o importante papel que desempenha a intervenção artística no cotidiano.

Para assumir uma função pública, a arte deve ter como princípio básico e indispensável criar obras artísticas “com e para” um determinado lugar, descobrindo, destacando e valorizando temas e lugares.

Estes, por sua vez, são interessados em promover outras formas de deslocamentos e de experiência coletiva na cidade. Suas ações são ditadas pela apropriação livre, a criação e as experimentações. Ocupa o território 61

pelo deslocamento, por trajetos que distribuem nos espaços abertos e indefinidos. Sobretudo, essa ocupação espontânea revela a realidade fundamental do local e do seu entorno. O que as pessoas valorizam e o que temem.

De acordo com Ferreira (2017, s.p.): Essa experiência háptica do espaço público revela o que muitas vezes um projeto urbano ou arquitetônico não é capaz de prever, ou aquilo que escapa das projeções e planificações ópticas do projeto pensado na prancheta a partir de uma folha em branco. Evidencia toda incapacidade do modelo atual de projetar a cidade e deixa clara a necessidade de experimentar novas práticas que ajudem a reformular e revisar a disciplina como um todo.

Ademais, segundo Solnit (2009), as respostas “oficiais” tendem a arruinar tudo, tratando as pessoas como parte do problema a ser gerenciado, e não como parte inestimável da solução.

Dessa maneira, uma metrópole como Fortaleza, com milhares de espaços mal resolvidos, torna-se um enorme campo de experimentação para que esses lugares funcionam como interessantes plataformas para as pessoas atuarem de forma ativa, e que essas ações, por mais que sejam temporárias, possam acarretar grandes mudanças deixando marcas permanentes.

Esta pesquisa busca investigar algumas ações de Coletivos Urbanos que alcançam a escala do indivíduo e que ousam experimentar uma nova forma de enxergar e atuar no espaço urbano, especificamente no centro da cidade de Fortaleza.

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Tabela 1 . Pesquisa da atuação dos coletivos urbanos levantados e mapeados, 2020. Autoria propria

Coletivos

Acidum Project Coletivo Abarrua

Coletivo Abraço

Coletivo Avesso

Coletivo Pifarada Urbana

Coletivo Tértulia

Cia. Dita: Espetáculo “Fortaleza”

Modalidade

Como atua

Onde atua/ Estrutura necessária Espaços residuais, geralmente nas empenas cegas das edificações ou fachadas vazias

Perfil dos participantes/ colaboradores

Arte Urbana

Ações próprias ou colaborativas com outros artistas

Dramaturgia

Espetáculos de rua

Espaços públicos

Dramaturgos do Coletivo

“Placemaking”

Intervenção nos espaços públicos por meio de mobiliários pensados a partir dos desejos comunitários. Como também com encontros intencionados a debater a vivência urbana.

Relativo a dimensão do espaço e/ou das necessidades da comunidade

Estudantes de Arquitetura, profissionais e comunidade envolvida

Cultural

Com ações abertas, gratuitas e coletivas de bordado. Sempre bordando e conversando sobre os temas propostos.

Lugares com fluxo de pessoas: como praças, praia e a rua.

Artistas convidados

O perfil é majoritariamente feminino, entre 15 e 60 anos

Música

Encontros públicos para tocar e repassar ensinamentos tendo o pífano como protagonista

Parque Rio Branco

Quem tem vontade de aprender a tocar o pífano quanto aquele que já toca profissionalmente.

Ou quem toca algum instrumento de percussão

Festa/Música

Aos domingos, com festas ao som de black music, de caráter plural, diversa e gratuita

Espaços públicos

Público. À todos

Dramaturgia

Sobretudo a partir da relação entre o corpo dos artistas e as edificações

Teatro, com experimentações corporais nos espaços públicos

Dançarinos e colaboradores da Companhia

Acidum Project O Acidum é um projeto de coletivo de arte urbana, criado em 2006. É formado por um casal de artistas que buscam o experimentalismo em diferentes atuações. O coletivo atua em ações próprias ou colaborativas com outros artistas em projetos diversos, prioritariamente, com murais, graffiti, stencils, projetos áudio visuais ou exposições.

As ações e intervenções do coletivo se destacam nos espaços residuais, geralmente nas empenas cegas das edificações ou fachadas vazias. Dando novas possibilidades poéticas e artísticas de atuação, seja pela arquitetura ou explorando o símbolo dos lugares de atuação, criando uma nova relação entre a obra, espaço e o observador.

O coletivo realizou, no ano de 2019, em Fortaleza, o evento Além da Rua - Festival Internacional de Artes e Conexões, patrocinado pela Budweiser através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, por meio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), e tem o apoio da Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal do Turismo (Setfor).

O evento propôs um novo olhar e novas maneiras de viver as ruas da cidade a partir da arte urbana. O festival aconteceu no bairro Praia de Iracema, criou um circuito de arte urbana com pinturas de muros na rua dos Tabajaras e ocupou o entorno com uma programação gratuita com oficinas, shows, feira criativa, exposição e ações performáticas. Além disso, antes da abertura oficial do festival, a produção fez um calendário de visitas nas comunidades do Poço da Draga, Praia de Iracema, Serviluz e Pecém, no intuito de conhecer, fotografar, conversar e ouvir as sugestões dos moradores.

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Figura 14 . Interveção do coletivo Acidum Project no Mercado Central. Arquivo Acidum Project

Figura 15 . Interveção do coletivo Acidum Project na rua dos Tabajaras. Arquivo Acidum Project

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Coletivo Avesso O Coletivo Avesso iniciou em 2018. É formado por duas mulheres artistas-bordadeiras que buscam expressar a arte do bordado para além do seu uso tradicional, entendendo o bordado como um gesto artístico, político e poético.

O grupo tem objetivo de tecer um olhar além da técnica e do fazer artesanal, as ações do coletivo se configuraram como ocupações e intervenções no meio urbano da cidade de Fortaleza, principalmente nos lugares com fluxo de pessoas, como praças, praia e rua. As ações são iniciativas financiadas pelo coletivo e têm caráter aberto, gratuito e coletivo, intencionando o estar junto para produzir espaços de conversas em coletivo.

O perfil dos participantes nos encontros é majoritariamente feminino, entre 15 e 60 anos. Sempre bordando e conversando sobre os temas propostos.

O coletivo realizou, no ano de 2019, uma mostra visual para reconhecer e estimular a produção de arte têxtil.

O Borda - Festival Arte, Bordado e Experimentação, contou com o apoio cultural da Secretaria de Cultura de Fortaleza, através do VII Edital das Artes, além do apoio de instituições privadas e públicas. O festival teve como tema “Linhas da Cidade”, reuniu uma programação com oficinas, falas de artista, exposições, workshops e ações de intervenção urbana, e permitiu um espaço de convívio e intercâmbio entre artistas e pessoas interessadas pela arte do bordado.

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Figura 16 . Ação do Coletivo Avesso na praça da cidade de Fortaleza. Arquivo Coletivo Avesso

Figura 17 . Ação “Bordamar”, na praia do Poço da Draga.

Te Pinheiro

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Figura 18 . Ação do coletivo tertulia na praia do Poço da Draga. Arquivo Coletivo Tertulia

Figura 19 . Ação do coletivo tertulia na Praça General Tibúrcio. Arquivo Coletivo Tertulia

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Coletivo Tertúlia Black Vândala Criado em 2018, o Coletivo Tertúlia é composto por um grupo de sete DJ’s e um produtor cultural. A motivação do grupo vem da descontentação das formas majoritárias de ocupação no espaço público da cidade de Fortaleza, dependente de ações institucionais ou mercadológicas.

Dessa forma, o coletivo se expressa como uma forma inflexível a esse modelo de ocupação tradicional na cidade e do medo de ocupar, promovendo festas gratuitas e unindo as pessoas em prol de uma causa: a luta por uma Fortaleza de todas e todos. Seja a arte pela arte ou a arte como potencializadora de um discurso político.

O coletivo ocupa as ruas e os demais espaços públicos da cidade de Fortaleza com festas ao som de black music. Os encontros são realizados nas tarde de domingo, sempre divulgadas nas redes sociais do grupo e representam uma experiência áudio/sonora sem distinção de classes, cor e gênero. Com caráter plural, diversa e gratuita, as ações são iniciativas financiadas pelo coletivo, e os incentivos dos usuários são os mantenedores da próximas festas.

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Cia. Dita A Cia. Dita é um coletivo de pesquisa e produção artística, criado em 2006. O grupo se expressa por meio da dança e do teatro. Este, por sua vez, se destaca aqui pelo espetáculo de dança nomeado “Fortaleza”.

O espetáculo é o desdobramento de um projeto que se iniciou a partir do estudo e da leitura da cidade de Fortaleza.

Durante cinco anos, entre 2014 e 2019, a companhia, com a utilização da fotografia, mapeou e registrou 60 edificações históricas de Fortaleza que mantêm relação com a memória e a trajetória da cidade. Como forma e símbolo de ocupação, os bailarinos posaram nus em frente a 20 dos locais, relacionando seus corpos com os espaços.

A proposta era que o conjunto de fotos pudessem não só registrar o estado de conservação dos equipamentos, mas também servir como um convite para observar a arquitetura da Capital. Além disso, a experiência de posar nua diante das construções históricas também serviu para perceber fragilidades e potências que se transpuseram para o espetáculo. Foi a relação entre o corpo dos artistas e as edificações que impulsionaram o grupo a pensar um desdobramento cênico para o projeto fotográfico.

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Figura 20 .

Espetaculo “Fortaleza”, na calçada do Theatro José de Alencar.

Arquivo Cia. Dita

Figura 21 .

Espetaculo “Fortaleza”, na estação João Felipe.

Arquivo Cia. Dita

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Caminhos

4.

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As discussões à respeito das novas formas de se pensar a cidade não são recentes. De acordo com Ascher (2010), no decorrer do desenvolvimento do planejamento urbano destacam-se as tentativas de gerenciar o espaço público de maneira a criar sociabilidade e engajamento cívico. Após a década de cinquenta foram diversos os intelectuais e movimentos culturais que defenderam novas perspectivas de uso e de prospecção às cidades em oposição ao urbanismo modernista. Este, derivado do zoneamento da cidade funcional, apesar de resultar em uma cidade “ordenada” e “higienizada”, gerava espaços urbanos mortos socialmente. Segundo Ortegosa (2009), mesmo os três últimos congressos internacionais de arquitetura moderna na Europa em 1951, 53 e 56 já abordavam uma preocupação com uma cidade menos maquínica, mais humanizada e vivenciável, diferente dos anos anteriores destacando-se essa importante transformação do pensamento.

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Segundo o autor Flávio Villaça (1999), a história do planejamento urbano no Brasil é dividida em três períodos. O primeiro momento foi marcado pelos planos de melhoramento e embelezamento, herdeiros da forma urbana colonial. A segunda fase iniciada na década de 1930, que estende sua ideologia até hoje, possui uma visão de que os problemas que se manifestam nas cidades são causados pelo seu crescimento caótico e desorientado e, portanto, é indispensável para solucioná-los um planejamento segundo técnicas e métodos bem definidos.

Atualmente, embora recente, transita-se para o terceiro período, marcadamente a partir dos anos 90, funcionando como uma reação ao segundo. Começa-se aceitar que os problemas da cidade não devem ser diagnósticos técnicos, e sim observados como questões a serem enfrentadas e, assim, estudar possíveis soluções. Os planos deveriam ser feitos “de baixo para cima”, ou seja, seu surgimento seria através dos diálogos com a sociedade, depois elaborados e novamente debatidos, e não ao contrário.

A experimentação aparece como a maneira desejável de desencadear novas possibilidades, averiguando os resultados desse processo.

De acordo com Peixoto (2005, p. 420): Paralelamente aos projetos de desenvolvimento urbano, rigidamente estruturados, surgem territórios informais onde novas configurações espaciais e sociais ocorrem. Novos fenômenos urbanos criam espacialidades não-hegemônicas, de usos variados. Atividades econômicas e modos de ocupação dos espaços informais, aparentemente desregrados, mas que operam segundo outra lógica, baseada na auto-organização.

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Para o autor é preciso libertar a cidade das estruturas rígidas e tomá-la como uma rede dinâmica de relações.

Para tanto, as novas formas de se pensar a cidade contemporânea buscam incorporar o dinamismo e a sua complexidade, entender um pouco a respeito das suas ações e processos de “planejamento” que não seguem uma linha de raciocínio linear e finalista, mas estimula um pensamento mais sensível e aberto às possibilidades apontadas pelos usuários da cidade.

O espaço público frente ao planejamento urbano atual de Fortaleza

Ao longo da história urbana de Fortaleza observa-se que o espaço urbano da cidade foi objeto da sistematização de diretrizes e intervenções urbanísticas. A partir de perspectivas pautadas na atualidade, o Plano Diretor Participativo (PDPFor), vigente em Fortaleza, produto da revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU-FOR), aprovado no ano de 2009, prevê, desde a sua revisão, uma atuação democrática, incorporando a participação dos diferentes segmentos da sociedade em sua formulação, execução e acompanhamento, garantindo a participação popular e a descentralização das ações e processos de tomada de decisões públicas em assuntos de interesses sociais. Contudo, Brasil, Cavalcanti e Capasso (2017, p.18) consideram que: O PDPFor de 2009 ampliou a abrangência dos instrumentos, incluindo todos aqueles previstos pelo Estatuto da Cidade, entretanto mesmo durante a aprovação deste plano alguns instrumentos já começaram a ser desconstruídos ou inviabilizados. A gestão que o desenvolveu e aprovou não os implementou de forma a garantir seus ganhos na democratização do espaço urbano.

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Previsto de acordo com o Estatuto da Cidade (Lei Federal n. 10.257/2001), no § 3º do seu artigo 30, é determinante que, pelo menos, a cada dez anos, os planos diretores devem ser revistos. Visto isso, o documento teria que ter sido alterado no ano passado.

Em 2019, portanto, foi criado o Núcleo Gestor de Revisão do Plano Diretor Participativo de Fortaleza que tem como objetivo definir a metodologia de trabalho que visa possibilitar que as diversas necessidades dos segmentos sociais da Capital sejam discutidas para a construção de um Plano Diretor que contemple os interesses de todos.

Entretanto, devido ao período eleitoral e a pandemia do Covid-19, a apreciação da proposta tende a ocorrer apenas no ano de 2021, postergando para a próxima gestão.

Ademais, a administração atual da cidade de Fortaleza vem desenvolvendo, desde 2014, o Fortaleza 2040, um plano estratégico, que busca integrar o desenvolvimento físico-territorial ao desenvolvimento social e econômico, ao passo que busca articular a discussão da Cidade sob diversos olhares e setores, territórios e esferas de governo.

Baseado em dados fornecidos pela Prefeitura de Fortaleza (2020), a primeira etapa do Plano buscou fazer uma reflexão sobre a “Fortaleza Hoje”, envolvendo mais de 4.000 pessoas e 524 instituições representativas dos interesses dos bairros de Fortaleza mobilizadas por meio das Secretarias Regionais sob coordenação do Iplanfor.

A segunda fase do Plano buscou debater e definir “A Fortaleza que Queremos” para 2040, em que diversos segmentos da sociedade civil e organizada puderam dar sua opinião sobre a realidade da cidade hoje e da cidade que gostariam.

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O conceito, portanto, se aproxima ao terceiro período do planejamento urbano segundo Villaça. Esses fatos demonstram a tentativa da junção entre a sociedade e a gestão pública para fazer da cidade um espaço de maior qualidade. Entretanto, os instrumentos de cumprimento de participação popular constam falhas, ao ponto de não promoverem uma real democratização da gestão, visto que muitos são criados de forma desconectada, a maioria não deliberada e representam muito mais instrumentos informativos do que de tomada de decisão e construção coletiva.

Visto isso, as políticas e os projetos urbanos contemporâneos, principalmente partindo da lógica do planejamento estratégico, deve-se se atentar a intenção de se produzir uma imagem única, o que, de acordo com Arantes, Vainer e Maricato (2000), pode ser percebido como um pensamento hegemônico, único ou consensual.

Estas estratégias são mecanismos que buscam atenção na geopolítica das redes globalizadas de cidades turísticas e culturais. Acontece que a homogeneização urbana esconde as singularidades locais do espaço urbano. De acordo com Paola Berenstein Jacques (2009, s.p.): O processo de espetacularização urbana é um dos maiores responsáveis tanto pela negação dos conflitos e dissensos no espaço público contemporâneo quanto pelo empobrecimento das experiências corporais nestes espaços e, sobretudo, pela negação, eliminação ou ocultamento da vitalidade dos espaços mais populares das cidades, que buscam se tornar midiáticas e espetaculares.

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Dentro desta lógica exibicionista de criação de imagens, os espaços públicos contemporâneos, assim como a cultura, também são vistos como estratégicos para a construção e a promoção destas imagens, ou seja, são pensados enquanto peças publicitárias ou como cenários, para consumo imediato. Marilena Chauí (2007, p.550) é categórica: O fenômeno mais importante é a passagem do espaço público à condição de marketing, merchandising e midiatização (...). A peculiaridade pós-moderna – o gosto pelas imagens – se estabelece com a transformação das imagens em mercadorias, isto é, coloca-se uma imagem com finalidade de manipular o gosto e a opinião.

Por trás destas imagens midiáticas e espetaculares criadas e produzidas para o marketing urbano cidades espetaculares contemporâneas, existe uma outra cidade escondida, ocultada ou tomada opaca, o que Milton Santos (2006) denomina como espaços luminosos, pela sua consistência técnica e política, seriam os espaços mais suscetíveis de lidar com os interesses das maiores empresas, e os espaços opacos, por oposição, caracterizam a ausência.

Por todas essas estratégias de marketing que criam imagens urbanas pacificadas e consensuais, esta cidade opaca existe e resiste, e poderia ser vista de fato como uma forma de resistência ao processo de espetacularização.

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Figura 22 .

Manifestantes ocupam Praça Murilo Borges, s.d.

Marcos Adega/Fetamce Figura 23 . Crianças e jovens do MST tomam banho na piscina que ornamenta o Palácio da Abolição. José Leomar/Agência Diário

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Ações estratégicas

Dentro desta lógica espetacular de criação de imagens e construção de consensos, Harvey ( 2014, p.49) aponta: Há todo tipo de movimentos sociais urbanos em evidência buscando superar o isolamento e reconfigurar a cidade de modo que ela passe a apresentar uma imagem social diferente daquela que lhe foi dada pelos poderes dos empreiteiros (...) que só parece conceber o mundo em termos de negócios e empreendimentos. Até as administrações urbanas relativamente conservadoras estão procurando maneiras de empregar seus poderes para experimentar novas modalidades de produção do urbano e de democratizar a governança.

É importante ressaltar é que as ações municipais a serem destacadas são desdobramentos de apropriações já existentes. A ocupação por um grande número de transeuntes nesses espaços público da cidade é muito anterior. As pessoas, por meio do uso intenso destes espaços da cidade, conseguiram atrair a atenção da gestão para essas questões, que reconhecidas e apoiadas desencadearam uma abrangência e um significado muito maior.

O Projeto Cidade da Gente, em Fortaleza, é um exemplo.

A administração atual junto com o apoio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global e a participação de diversas secretarias realizou intervenções urbanísticas temporárias na Avenida Central, no bairro Cidade 2000, no ano de 2017, e no entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no ano de 2018. Este projeto tem como objetivo o exercício ao direito ao território.

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Figura 24 . Intervenção “Cidade da Gente”, na Avenida Central, no bairro Cidade 2000, s.d.

Rodrigo Capote/WRI Brasil Figura 25 . Intervenção “Cidade da Gente” no Dragão do Mar, s.d.

Thiago Gaspar dos Santos

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Figura 26 . Intervenção Projeto “Cidade da Gente” no Dragão do Mar, s.d. Arquivo publico Prefeitura de Fortaleza.

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Figura 27 . Pré-carnaval de rua no entorno do Mercado dos Pinhões, 2020. Camila Lima/SVM.

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Além disso, o carnaval de rua seguiu a mesma linha . O apoio da administração municipal evidencia uma melhor organização e divulgação, potencializando o crescimento.

As festas ocorrem em 10 polos carnavalescos espalhados pela cidade, em horários e dias diferentes, conectando uma multiplicidade de classes sociais, permitindo a descoberta de novas visões e lugares ainda desconhecidos pelos foliões (CARNAVAL, 2020) A virada cultural, também é outra forma de promover melhor uso dos espaços públicos da cidade. O evento, promovido pela Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), teve a primeira edição no ano de 2019, com a intenção de proporcionar quarenta horas ininterruptas de eventos culturais variados por todo o centro da cidade, distribuídos em nove espaços públicos (FEITOSA e ZARANZA, 2019) Portanto, a ação utilizada nesses programas difere do conhecido urbanismo tradicional. Essas novas maneiras de se pensar a cidade contemporânea buscam incorporar o dinamismo e a sua complexidade, entender um pouco a respeito das suas ações e processos de “planejamento”, que não seguem uma linha de raciocínio linear e finalista, mas estimula um pensamento mais sensível e aberto às possibilidades apontadas pelos usuários da cidade.

O Projeto Cidade da Gente, por exemplo, com seu caráter de experimentação como projeto piloto, segue totalmente a linha do chamado Urbanismo Temporário, defendido por Robert Temel (2006). Em que afirma que ocupações temporárias são realizadas como ferramentas de potencialização, revelando novas possibilidades e escolhas de diferentes caminhos antes da tomada de decisões.

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De acordo com a Prefeitura de Fortaleza (2018) , durante os 15 dias do projeto, foi disposto um totem eletrônico com um formulário para que qualquer pessoa pudesse avaliar a intervenção. A tecnologia foi desenvolvida pela Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão em parceria com a Universidade de Fortaleza e foi utilizada durante a primeira edição Cidade da Gente, realizada no bairro Cidade 2000. Por lá, 246 moradores avaliaram a intervenção e, destes, 230 classificaram como “muito boa” ou “boa”. Do total, 97% disseram que o pedestre deve ser priorizado na Cidade.

A base dessa formulação vem do Urbanismo Cotidiano (Everyday Urbanism) defendido por Margaret Crawford (1999), que afirma que a apropriação e a transformação pelos usuários são a melhor forma de acomodar as necessidades da vida cotidiana. É a partir dessas soluções que se conclui as mais necessidades e , consequentemente, a efetividade das escolhas feitas, que por possuírem caráter temporário e não fechado como a lógica anterior possam ser repensadas.

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Por uma nova interpretação

As novas discussões sobre o novo urbanismo que vem surgindo levam a diversas questões à respeito da função do arquiteto e urbanista na cidade contemporânea.

Defendendo uma linha mais articulada às ações do cidadão do que planejada formalmente, guiada pelos usuários e suas experimentações do que pelos planos oficiais. De acordo com Paola Jacques (2009, s.p.)

Explorar essas relações entre corpo e cidade, entre corpo humano e corpo urbano e entre corpo da arte e corpo político é determinante para a explicitação ou criação de tensões no espaço público.

É dessa relação entre o corpo físico do cidadão (ou do arquiteto-urbanista, que evidentemente não pode deixar de ser cidadão também) e esse “outro corpo urbano” que poderia surgir uma outra forma de apreensão da cidade.

Portanto, cabe aos arquitetos e urbanistas o desafio de propiciar uma espécie de destino aberto aos seus projetos para absorver essa nova dinâmica, criando oportunidades por meio de estruturas-suporte, considerando a sua temporalidade e impermanência, para que as pessoas, que deveriam ser a finalidade de qualquer proposta, sejam também responsáveis pelo seu destino. É preciso abrir espaço para as imprevisibilidades, ou seja, a não rigidez na definição dos usos dessas estruturas pressupõe a possibilidade de situações diversas e, assim prolongando a sua utilização/permanência no espaço.

89

Referências Projetuais

5.

33° Panorama da Arte Brasileira (MAM) Arquiteto: Grupo Sp Ano: 2013 Localização: Centro de São Paulo, Brasil O 33° Panorama de Arte Brasileira: Formas únicas da continuidade no espaço, instala-se, assim como as demais edições, como uma exposição de arte contemporânea organizada pelo MAM-SP. O tema desta edição toma como ponto de partida a falta de uma sede construída especificamente para abrigar o MAM São Paulo. Apesar de tomar como mote o edifício que abriga o museu, extravasa sobre diferentes temas sua reflexão: como a reabilitação da marquise do ibirapuera como patrimônio arquitetônico, a importância do panorama de arte brasileira e novas demandas expositivas de museus de arte contemporânea. Ademais, pautava seu debate em questões atuais e de diferentes esferas, 93

sobretudo colocava em evidência a arquitetura e o papel do arquiteto na sociedade.

O museu se divide em cinco pontos representativos do Centro de São Paulo, quer seja um edifício de importância histórica que se encontra vazio, uma esquina de intenso movimento pelos transeuntes ou uma empena dos edifícios. Como projeção desta ideia, propõem-se a ocupação residual no térreo do Edifício Esther (1), de 1936, como bilheteria com um índice remissivo da exposição urbana [Fig.32], o térreo do Edifício Guilherme Guinle (2), de 1944, como uma sala de exposição, a Galeria Nova Barão (3), de 1962, com uma ocupação do espaço da rua pela artista Dominique Gonzalez-Foester [Fig.30] e o desfile de Arto Lindsay; a esquina das ruas Dom José de Barros e Sete de Abril (4) recebe uma pintura do artista Federico Herrero em uma empena cega existente [Fig. 31], como também um projeto de um volume técnico [Fig. 28]; e, por último, o Edifício Itá (5), na Livraria Calil e na sua vitrine recebem a ocupação pelo artista Pablo Leon de La Barra com Leandro Nerefuh.

A escolha deste projeto se deu principalmente pelo seu caráter de dispersão das obras no centro, ocupação de uma área urbana do centro em seus espaços ocioso, conforme visto no projeto, seria também uma forma de popularização da arte. A ideia do museu disperso torna interessante na medida em que não depende do espaço físico, unicamente do seu volume técnico. Contudo, a administração das exposições e a unidade do Museu poderiam se tornar mais complicadas visto que envolveria outros espaços e entidades na responsabilidade de salvaguardar as obras em exposição.

94

Figura 28 . Projeto do volume técnico, 2013.

Grupo Sp.

95

Figura 29 . Implantação do Museu Difuso, 2013.

Grupo Sp.

Figura 30 . Ocupação do espaço da rua pela artista Dominique GonzalezFoester, 2013. Grupo Sp.

96

Figura 31 . Pintura do artista Federico Herrero em uma empena cega, 2013. Grupo Sp.

Figura 32 . Bilheteria com um índice remissivo da exposição urbana, 2013.

Grupo Sp.

97

Les MonumentalES - Place Du Panthéon Arquiteto: Collectif Etc Ano: 2018 Localização: Praça do Panthéon, Paris O projeto Les MonumentalES partiu de uma iniciativa da prefeitura da cidade de Paris, visando reconstruir sete praças emblemáticas da cidade, em que os pedestres se destacam, a fim de criar lugares para todos e amistosos.

O projeto buscou a multidisciplinaridade do planejamento na transição de espaços públicos para coletivos multidisciplinares, por meio de ações de coletivos urbanos.

Diante desse contexto, o Collectif Etc, atuou na praça do Pantheon partindo de uma permanência in situ, com a necessidade de experimentar os desafios do espaço por um tempo relativamente longo, permitindo a adaptação empírica a problemas que, de outra forma, permaneceriam despercebidos. O desenvolvimento do projeto foi dividida em quatro etapas, desde a observação, a construção de um protótipo e a instalação permanente.

Portanto, o projeto evidencia a integração da paisagem dura de granito, reutilização e a revalorização dos blocos de pedra e a multidisciplinaridade no desenvolvimento projetual, bem como a atuação desses atores numa escala mais aproximada com o local, partindo de um planejamento de baixo para cima e in situ, envolvendo as pessoas a garantir que são elas que assumem o lugar e fazem o lugar tornar delas.

98

Figura 33 . Vista lateral do Panthéon, com a implantação dos mobiliários do projeto Les MonumentalES, 2018.

Arquivo Collectif Etc.

Figura 34 . Uso dos mobiliários do projeto Les MonumentalES, 2018.

Arquivo Collectif Etc.

99

Figura 35 . Instalação do escritório in situ, 2018.

Arquivo Collectif Etc. Figura 36 . Perfomance coletivo de teatro, 2018.

Lucas Bonnel.

100

Figura 37 . Maquete da implantação, 2018.

Arquivo Collectif Etc.

101

Pavilhão 120 Portas Arquiteto: Pezo Von Ellrichshausen Architects Ano: 2014 Localização: Concepción, Chile O Pavilhão 120 Doors é uma estrutura de tubos de aço e portas de madeira padrão. As portas estão dispostas em 5 perímetros contínuos e consecutivos; o externo com quatro lados de dez portas cada e, dentro, lados de oito, seis, quatro e duas portas.

Esses cinco perímetros funcionam como uma seqüência progressiva de interioridade e profundidade do espaço.

Visto de fora, o perímetro externo é um bloco horizontal compacto. No interior o espaço é fechado lateralmente e abre para o céu e para o solo. Essa configuração estabelece uma série de caminhos ao longo de espaços estreitos, de seção vertical, que se dissolvem em um espaço central cúbico confinado no menor perímetro.

O que realmente buscávamos era uma forma de evidenciar o quão relativas e artificiais são as distinções de limites dentro de uma obra de arquitetura e, portanto, dentro de uma de arte.

Estamos interessados em explorar os pontos de transmissão, ou fricção, entre um lugar e outro.

102

- Pezo Von Ellrichshausen, 2014

Figura 38 . Vista de fora do Pavilhão 120 Portas, 2014. Socks.

Figura 39 . Perspectiva Axonometrica do Pavilhão 2014. Socks.

103

104

Figura 40 . Interação dos usuários com a estrutura dinâmica, 2014. Socks.

105

O centro de Fortaleza

6.

A área de estudo

De acordo com a observação das atuações dos coletivos urbanos e intervenções municipais abordadas durante a pesquisa, percebe-se que a região central da cidade de Fortaleza vem se destacando como alvo das novas formas de manifestações urbanísticas, retomando o seu valor de centralidade e representação da sociedade.

Ademais, mesmo sendo uma zona privilegiada devido a sua vida urbana e diversidade, com ampla oferta de emprego, comércio popular, transporte público e patrimônios históricos e culturais, o centro tem o seu potencial subutilizado.

109

De acordo com Santos (2002, p.85): Ao longo do seu processo, a cidade, organismo vivo, impõe solidariamente valores funcionais, mercantis e simbólicos às suas diversas frações.

Novos lugares são chamados a novas funções, velhos lugares se renovam inteiramente ou parcialmente, sendo arrasados ou conservando relíquias. A cada momento histórico, cada pedaço da cidade evolui diferentemente, o centro histórico sendo, por sua persistência como lugar central, o espaço por excelência das mudanças contínuas e às vezes brutais de valor.

O centro urbanos comporta diversas possibilidades, desde o sentido da reunião, da concentração de pessoas e das funções diversas. No entanto, com o crescimento espraiado da cidade, surgiram novas centralidades, configurando-se uma cidade polinucleada, processo que, apesar de não tirar do centro tradicional o seu papel de protagonista, ocasionou uma perda de atividades e de pessoas, desencadeando uma relativa desvalorização e menores investimentos públicos.

De acordo com Fernandes (2004), as causas da ruptura entre as classes de mais alta renda e o centro da cidade assemelham-se àquelas apontadas por Villaça (2001, p.

279): Não foram deficiências internas dos centro principais que determinaram seu abandono por parte das camadas de mais alta renda. Esse abandono (...) foi motivado pela fragilidade da vinculação mútua entre nossos centros e a diminuta classe que o sustenta. Tal exiguidade impediu que se formasse um círculo de classes média alta e mesmo alta, em torno do centro, sustentando-se e assegurando estabilidade especial mútua, tanto ao centro a essas classes

110

Figura 41 . Vista da Rua General Bezerril, desde a Praça General Tibúrcio, 2020. Autoria própria.

111

E continua: No Brasil, a ruptura dessa estabilidade foi facilitada pela novas condições de locomoção associadas à vulgarização do automovel e articuladas a interesses imobiliários desejosos de abrir novas frentes para seus empreendimentos e continuamente renovar o estoque construído.

Os espaços públicos do centro, bem como as praças, enfrentaram um processo de deterioração, com a perda da valorização imobiliária da região central. Alguns foram alvos intervenções viárias, o que gerou dificuldade de usufruto. (FERNANDES, 2004) Contudo, observa-se o retorno do aumento da taxa de crescimento da região central, aliado ao fortalecimento, como já observado, de ações eventuais que buscam reconquistar e prolongar o uso do espaço através de incentivos por parte de coletivos com intervenções temporárias que tentam criar uma ruptura positiva no cotidiano. E também do poder público, demonstrando que o centro vem passando por uma nova transformação, o que o torna uma grande potencialidade como área de investigação e experimentação.

Observa-se, portanto, no mapeamento realizado no mapa 1, a seguir, a atuação dos quatro coletivos urbanos tido como estudo de caso no bairro Centro.

112

Mapa 1 . Mapa da atuação dos coletivos no Centro de Fortaleza. Desenvolvido pela autoria.

Figura 42 .Imagem do espetaculo “Fortaleza”, na cadeia pública. Arquivo Cia. Dita Figura 43 .Imagem do Coletivo tértulia numa ação da Praça General Tibúrcio. Arquivo Coletivo Tértulia

[42]

mar

[1] 0

100 50

300 200

Legenda Quadras Bairro Centro Praças Praças com intervenções Edificios relevantes na paisagem Coletivo Acidum Project Coletivo Avesso Coletivo Tértulia Cia. Dita: “Fortaleza”

[43]

Visto isso, o mapa qualitativo das atuações dos coletivos, mostram resultados relacionais desses grupos com o espaço que atuam. Visto que as formas de intervenção dos coletivos variam da semelhança da modalidade com os usos permanentes e símbolos do lugar ou a não-relação desses, a partir do experimentalismo.

Ademais, essas informações, sobrepostas as observações e as análise do mapa de incidências das atuações dos coletivos permitiu entender quantitativamente quais são os espaços públicos que estão mais propensos às intervenções, bem como, o reconhecimento do território indicando as possibilidades de uso do espaço e contribuindo com a escolha dos pontos de investigação.

Delimitação da área de intervenção

Os usos temporários dos coletivos urbanos foram pontos de partidas para a delimitação da área de intervenção do projeto. Contudo, fez-se necessário ainda identificar as formas de usos e apropriações cotidianas presentes nesses lugares.

114

Mapa 2 . Mapa das áreas de intervenção.

Elaborado pela autora, sobre a base da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2010).

mar

Legenda Quadras Mar Praças

6

Edificios relevantes na paisagem

1

Calçada do Theatro José de Alencar e Praça Jose de Alencar

2 3

Praça do Ferreira

4 5

Travessa Crato

6

Praia do Poço da Draga

5

Praça General Tibúrcio Viaduto Mercado Central

4

1

3 2

0

100 50

300 200

115

Calçada do Theatro José de Alencar à Praça José de Alencar A calçada do Theatro José de Alencar, por muitas vezes, fez parte da extensão do palco principal do teatro, sendo lugar de diversos tipos de manifestações artísticas de grupos de artes cênicas e apresentações musicais. Essas manifestações movimentam o espaço durante o turno da manhã e noite, reunindo uma plateia, formada pelos transeuntes que por ali passam rotineiramente, bem como os demais que se deslocam de outros lugares da cidade para assistir ao evento. O lugar é um ponto nodal importante no Centro da cidade, devido a proximidade das instituições culturais, religiosas, bem como o intenso comércio. Conta com o metrô, e, após as obras, um mini terminal.rodoviário.

Figura 44 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Calçada do Theatro José de Alencar e a Praça José de Alencar. Elaborado pela autora.

116

Comercial Institucional Misto Vazio Subutilizado

Uso e Ocupação do Solo

Quadras Via Comercial Ponto de Ônibus Metrô Mini Terminal de Ônibus

Sistema Viário e Mobilidade

Quadras Área de Intervençaõ

Área de Intervenção

117

Figura 45 .Estátua José de Alencar, localizada na praça José de Alencar, s.d.

Desconhecido.

118

Figura 46 .Perspectiva do Theatro José de Alencar, 2020. Autoria própria.

Figura 47 .Evento musical na calçada do Theatro José de Alencar. Assessoria da Imprensa Secult.

119

Praça do Ferreira A Praça do Ferreira, conhecida popularmente como “Coração da Cidade” e pelo seu relógio, monumento situado no centro da praça, possui no seu entorno imediato o Cineteatro São Luiz e um intenso movimento diurno devido às ruas comerciais e os ambulantes. Durante à noite a praça abriga os moradores de rua. Ademais, a praça é palco para diversas manifestações artísticas de rua e culturais de danças e teatro, festas e shows, como por exemplo, a Virada Cultural 2019 e o Ceará Natal Luz. Disponibiliza também acesso gratuito à internet sem fio, pontos de táxi, posto policial e uma estação Bicicletar.

Figura 48 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Praça do Ferreira.

Elaborado pela autora.

120

Comercial Institucional Misto Vazio Lazer

Uso e Ocupação do Solo

Quadras Via Comercial Via Pedonal

Ponto de Ônibus

Sistema Viário e Mobilidade

Quadras Área de Intervençaõ

Área de Intervenção

121

122

Figura 49 .Relógio da Praça do Ferreira, 2020. Autoria propria.

123

Praça General Tibúrcio Conhecida popularmente como Praça dos Leões, o lugar é composto por enorme copas de árvores e bancos, possui no seu entorno o Museu do Ceará, a Igreja do Rosário dos Pretos e a Academia Cearense de Letras. Concentra eventualmente uma feira de livros, influenciada pelo seu entorno comercial, principalmente de livrarias. Tem sua utilização diversificada com o movimento diurno durante os dias da semana com o deslocamento e descanso das pessoas que trabalham por perto e nos finais de semana os bares da praça garantem a utilização com a promoção de festas. Infraestrutura: ponto de ônibus, museu, entidade literária, igreja.

Figura 50 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Praça do Ferreira.

Elaborado pela autora.

124

Comercial Institucional Misto Vazio Lazer Subutilizado Residencial

Uso e Ocupação do Solo

Quadras Via Comercial Via Pedonal

Ponto de Ônibus

Sistema Viário e Mobilidade

Quadras Área de Intervençaõ

Área de Intervenção

125

Figura 51 .Vista do centro da Praça General Tibúrcio, 2020.

Autoria própria.

Figura 52 .Vista da Praça General Tibúrcio, 2020. Autoria própria.

126

Figura 53 .Imagem aproximada do edificio que abriga o bar Lions, 2020. Autoria própria.

127

Travessa Crato A Travessa Crato , assim como as demais ruas do entorno imediato é majoritariamente de uso comercial, bem como especializadas na venda do artesanato nordestino. A via é movimentada pelos comerciantes locais, ambulantes e frequentadores do Bar Raimundo dos Queijos, que promove aos domingos roda de samba na calçada. Na travessa Crato, as modalidades dos usos temporárias se misturam aos usos cotidianos.

Figura 55 .Vista da Travessa Crato, 2020.

Autoria própria.

128

Figura 54 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Travessa Crato.

Elaborado pela autora.

Comercial Institucional Misto Lazer

Uso e Ocupação do Solo Quadras Via Comercial Via Pedonal

Ponto de Ônibus

Sistema Viário e Mobilidade

Quadras Área de Intervençaõ

Área de Intervenção

129

Viaduto Mercado Central O viaduto Mercado Central, no eixo leste-oeste, representa um elemento na paisagem urbana de transição de movimento, criando simbolicamente uma barreira visual na passagem do centro até a praia, no eixo norte-sul.

Diante esta transição, após o viaduto, antes de chegar na praia, o entorno é hostil, composto pelas altas fachadas de galpões - muitas vezes abandonados - e galerias com extensas fachadas cegas. Abaixo do viaduto encontra a presença de comerciante informal e ambulantes que não possuem cadastro para atuarem no espaço público. Estes, atuam diariamente durante o turno da manhã e, por vezes, de madrugada, na Feira da Madrugada.

130

Figura 57 .Vista para a Avenida Alberto Nepomuceno, sobre o viaduto, 2020. Autoria própria.

Figura 56 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno do Viaduto do Mercado Central.Elaborado pela autora.

Comercial Institucional Misto Vazio Lazer Subutilizado

Uso e Ocupação do Solo

Residencial

Quadras Via Comercial Via Arterial 1

Ponto de Ônibus

Sistema Viário e Mobilidade

Quadras Área de Intervençaõ

Área de Intervenção

131

Praia Poço da Draga A praia do Poço da Draga tem como principais referências no seu entorno imediato elementos que contribuíram com a narrativa litorânea da cidade: a Ponte Metálica, inaugurada em 1906 com o objetivo de ser o primeiro porto da capital; o Pavilhão Atlântico, equipamento cultural, que funcionava como lugar de espera no antigo porto e a Comunidade Poço da Draga, formada por pescadores e operários do antigo porto e que resiste há 113 anos. A praia é movimentada durante o seu turno diurno prioritariamente pelos moradores da comunidade e ambulantes, como também surfistas e frequentadores/ visitantes.

Figura 58 .Diagrama explodido do contexto urbano do entorno da Praia do Poço da Draga.Elaborado pela autora.

132

Institucional Misto Residencial Lazer Subutilizado

Uso e Ocupação do Solo

Quadras

Sistema Viário e Mobilidade

Quadras Área de Intervençaõ

Área de Intervenção

133

Figura 59 .Fot “meninos peix desde a Ponte 2019. Autoria p

Figura 60 .Fot Praia do Poço Draga, desde a Velha, 2019. A própria.

134

to dos xes”, e Velha, própria.

to da da a Ponte Autoria

135

Condicionantes físicos e ambientais

De acordo com Moura (2008) o clima da cidade de Fortaleza corresponde ao microclima da faixa costeira de clima tropical chuvoso, quente e úmido, com chuvas de verão e outono. A orientação solar acontece no eixo lesteoeste, com algumas variações durante o ano. Além disso, as correntes de vento prioritárias tem como orientação o sentido leste-oeste, com uma variação proveniente do sudeste. Ademais, vale ressaltar que estes condicionantes climáticos se aplicam a toda área de intervenção do projeto.

Quanto aos aspectos físicos do solo, especificamente do bairro central da cidade, percebe-se, de acordo com o mapa topográfico, uma maior acentuação das curvas de nível no entorno do litoral ou do recurso hídrico, como o Rio Pajeú e a lagoa do Parque da Criança.

136

Mapa 3 . Mapa com os condicionates ambientais.

Elaborado pela autora, sobre a base da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2010).

mar

Legenda Quadras Topografia Mar Praças Área de investigação

0

100 50

300 200

137

Legislação urbanística

De acordo com a Lei Complementar n. 062, de 02 de fevereiro de 2009, Plano Diretor Participativo de Fortaleza - PDPFOR, o bairro está dividido em duas macrozonas: Macrozona de Proteção Ambiental (ZPA 1 - Zona de Preservação Ambiental de Recursos Hídricos e ZPA 2 - Zona de Preservação Ambiental da Faixa de Praia) e Macrozona de Ocupação Urbana ( ZO - Zona de Orla, ZOP 1 - Zona de Ocupação Preferencial 1 e ZOP 2 - Zona de Ocupação Preferencial 2) É visto, portanto, que as áreas de intervenções situam-se em três dessas zonas citadas anteriormente. De acordo com o mapa do macrozoneamento, identifica a calçada do Theatro José de Alencar, a Praça José de Alencar, Praça do Ferreira, Praça General Tibúrcio, Travessa Crato e Praça Pedro II situados na ZOP1 - Zona de Ocupação Preferencial 1, O viaduto Mercado Central está situado na ZO - Zona de Orla (Trecho III) e, por fim, a praia do Poço da Draga está situado numa ZPA 2 - Zona de Preservação Ambiental da Faixa de Praia.

138

Mapa 4 . Mapa com zoenamento urbano.Elaborado pela autora, sobre a base da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2010).

mar

Legenda Quadras ZPA 2 ZO ZOP 1 ZAP 1

0

100 50

300 200

139

Ademais, é sabido que as Zonas Especiais compreendem áreas do território que exigem tratamento especial na definição de parâmetros reguladores de usos e ocupação do solo, sobrepondo-se ao zoneamento. Visto isso, de acordo com a Lei Complementar n. 062, de 02 de fevereiro de 2009, o bairro centro possui três zonas especiais ( ZEDUS CENTRO, ZEPH CENTRO E ZEIS), sendo apenas duas destas aplicada às áreas de intervenções.

Portanto, conforme o mapa das zonas especiais, as áreas de intervenções situam-se em: Calçada do Theatro José de Alencar e Praça José de Alencar na ZEDUS - Zonas Especiais de Dinamização Urbanística e Socioeconômica; a Praça José de Alencar, Praça do Ferreira, Praça General Tibúrcio, Travessa Crato e Praça Pedro II e o Viaduto Mercado Central na ZEPH CENTRO - Zona Especial de Preservação do Patrimônio Paisagístico, Histórico, Cultural e Arqueológico.

140

Mapa 5 . Mapa com zoenamento especial .Elaborado pela autora, sobre a base da Prefeitura Municipal de Fortaleza (2010).

mar

Legenda Quadras ZEDUS ZEPH CENTRO ZEIS

0

100 50

300 200

141

Para tanto, faz-se necessário discriminar as zonas especiais destacadas para melhor entendimento os territórios. Assim, segundo o Art. 52 da Lei Complementar n. 062, de 02 de fevereiro de 2009, as Zonas Especiais de Dinamização Urbanística e Socioeconômica (ZEDUS) são porções do território destinadas à implantação e/ou intensificação de atividades sociais e econômicas, com respeito à diversidade local, e visando ao atendimento do princípio da sustentabilidade.

Tendo como objetivos das Zonas Especiais de Dinamização Urbanística e Socioeconômica (ZEDUS): I - promover a requalificação urbanística e a dinamização socioeconômica; II - promover a utilização de terrenos ou glebas considerados não utilizados ou subutilizados para a instalação de atividades econômicas em áreas com condições adequadas de infraestrutura urbana e de mobilidade; III - evitar os conflitos de usos e incômodos de vizinhança; IV - elaborar planos e projetos urbanísticos de desenvolvimento socioeconômico, propondo usos e ocupações do solo e intervenções urbanísticas com o objetivo de melhorar as condições de mobilidade e acessibilidade da zona.

Segundo a LUOS, é determinado para essa zona que a taxa de ocupação (TO) seja de 60%, índice de aproveitamento máximo (IA) 4,0, altura máxima da edificação de 95 metros, ou seja, aproximadamente, 31 pavimentos.

142

Quanto ao Art. 55., as Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Paisagístico, Histórico, Cultural e Arqueológico (ZEPH) são áreas formadas por sítios, ruínas, conjuntos ou edifícios isolados de relevante expressão arquitetônica, artística, histórica, cultural, arqueológica ou paisagística, considerados representativos e significativos da memória arquitetônica, paisagística e urbanística do Município.

Tendo como objetivos das Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Paisagístico, Histórico, Cultural e Arqueológico (ZEPH): I - preservar, valorizar, monitorar e proteger o patrimônio histórico, cultural, arquitetônico, artístico, arqueológico ou paisagístico; II - incentivar o uso dessas áreas com atividades de turismo, lazer, cultura, educação, comércio e serviços; III - estimular o reconhecimento do valor cultural do patrimônio pelos cidadãos; Características socioeconômicas e culturais

Tendo em vista ainda a análise das áreas de intervenções, vale ressaltar, portanto, que de acordo com o Decreto n° 15.084, do livro de Tombamento Artístico, FLS. 017, de 25 de abril de 1991, a Praça General Tibúrcio, conhecida também como Praça dos Leões, localizada no cruzamento das ruas São Paulo e Sena Madureira, foi tombada pelo COEPA (Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado do Ceará), sendo considerada um patrimônio cultural para o Estado. Além disso, de acordo 143

com o Processo N° 650-T-62, Livro de Tombamento das Belas Artes, FLS 87, Inscrição n° 479, de 10 de agosto de 1987, o Theatro José de Alencar, localizado na rua Liberato Barroso, foi tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), como patrimônio da arte cênica cearense.

Ademais, buscou-se compreender sobre o Programa de Adoção de Praças da Prefeitura Municipal de Fortaleza, que permite o cidadão comum (CNPJ ou CPF) adotar uma praça ou uma área na cidade, efetivando a responsabilidade compartilhada na gestão dos espaços públicos. Dessa forma, a partir da análise do mapeamento dos espaços públicos adotados, como foco as áreas de intervenção, destaca-se a Praça do Ferreira e o Canteiro Central da Avenida Alberto Nepomuceno, localizado abaixo do Viaduto Mercado Central.

Esses dados, portanto, foram tomados como base legal para a interveção do projeto arquitetônico nos espaços públicos da cidade de Fortaleza, devendo-se atentar aos condicionantes presentes em cada área de intervenção.

144

Figura 61 .Foto “ O centro já está vivo”, 2020. Alice Dote.

145

A proposta de intervenção

7.

Diretrizes projetuais

O presente projeto é reflexo de inquietações, percepções, tensões e desejos acerca da ocupação não-hegemônica/ insurgente no espaço público da cidade de Fortaleza, ou seja, aquelas que se destacam como ocupações que não foram previstas no planejamento urbano formal da cidade.

A intervenção, portanto, procura manter uma relação com os espaços publicos da cidade e com as improvisações dos cidadãos.

As atuações temporários dos coletivos urbanos, bem como os usos e apropriações cotidianas presentes nos lugares e nos espaços públicos da cidade de Fortaleza, abordados nos capítulos anteriores, foram pontos de partidas para uma proposta que convenha ter característica de suporte ou de guia para as atividades que são desenvolvidas cotidianamente ou temporariamente pelos usuáriosinterventores.

149

A proposta em questão busca possibilitar o máximo de interações entre o que está definido - o espaço - e o que não está definido - as improvisações -, criando novas possibilidades espaciais para incentivar e dar suporte aos eventos culturais e interações cotidianas sociais nos espaços públicos do centro da cidade de Fortaleza.

Projetada para receber tanto o usuário singular e como o coletivo.

A intenção projetual é funcionar como alternativa processual de intervenção no espaço público, podendo ser aplicado das mais diversas formas quando compreendido a essência. Ainda não se pretende serem definitivas, mas abertas e mutáveis, que possam se modificar conforme as transformações da cidade e se relacionarem.

Por isso, tem-se a relevância de três definições norteadoras do projeto, quais sejam: Flexibilidade: com a utilização de características da arquitetura efêmera e dos mobiliários interativos.

Interatividade: estrutura animada e transformada por encontros e eventos, transformando a dinâmica e a paisagem do espaço.

Coletividade: desde a montagem, que necessita de um grupo, até sua utilização pelos próprios destinatários.

150

Processo de projeto

Pesquisa/Análise

Qualificação do projeto

02 > 06.2020

11.2020

Elaboração do projeto

Proposta de intervenção

08 > 11.2020

11 > 12.2020

O processo de projeto teve como partida o estudo e a análise dos diversos tipos de atuações dos coletivos urbanos. As diferentes formas que ocupam o espaço público, exigiu um estudo de funções que respondesse as necessidades não-hegemônicas dos usuários-interventores. para isso durante a etapa da elaboração do projeto, foi realizado a elaboração de croquis, para os estudos formais, pesquisa sobre caracteristicas especificas dos materiais, resultando em orientações com serralheiro.

Durante a etapa da elaboração do projeto, o croqui foi utilizado como processo de experimentação e estudo formal. Esta ferramenta de representação possibilitou o estudo de uma modulação coerente, de materiais e de situações possíveis.

151

Os primeiros croquis (fig. 62) já respondiam a tentativa do uso da arquitetura efêmera, com estruturas moduladas e interativas, assumindo multifuncionalidades, dependendo do seu encaixe, podendo ser coberta, banco e fechamento.

Contudo, a exequibilidade, a durabilidade e o manuseio da estrutura foram diretrizes importantes para o amadurecimento do projeto, desenvolvendo novos olhares de como responder às necessidades e ressignificação de usos.

Figura 62 .Evolução processual a partir de croquis I. Elaborado pela autora.

152

Figura 63 .Evolução processual a partir de croquis II. Elaborado pela autora.

153

154

Figura 64 .Evolução processual a partir de croquis III. Elaborado pela autora.

Figura 65 .Croquis de detalhamento das peças.

Elaborado pela autora.

Figura 66 .Estudo dos materiais e suas dimensões. Elaborado pela autora.

155

Programa de necessidades Após a análise acerca das atuações dos coletivos urbanos e dos lugares e espaços públicos do bairro Centro, os processos de transformações, fez-se necessário o desenvolvimento do programa de necessidades, que, por sua vez, buscou contribuir para o melhor acesso à cidade, e, por conseguinte, o usufruto pleno de seus espaços, ou seja, contribuir na busca pelo direito à cidade.

Estamos em um momento histórico em que flexibilidade, economia e clareza têm uma demanda maior do que nunca. Mais do que uma forma deslumbrante, buscou-se um espaço capaz de acomodar um programa de atividades em constante alternância.

Assim, baseado no estudo de funções de Boin (2016), foram propostos termos para fins de classificar as atividades contempladas nos lugares e espaços públicos já destacados, e que darão suporte de estudo para as possiveis situações do projeto:

156

Permanência A permanência das pessoas em diferentes horários e dias da semana garante a vitalidade dos lugares, como também a segurança urbana. Os mobiliários urbanos presentes no bairro Centro, quando identificados nos espaços públicos, revelam um caráter homogêneo e padronizado, independente do contexto que está inserido. A distribuição destes nos espaços é desagregadora e limitadora para os usuários.

O Wifi livre implantado pela Prefeitura de Fortaleza em diversos espaços públicos da cidade contribuiu para que muitas pessoas que utilizam esse sistema permaneçam nestes espaços por mais tempo.

Para tanto, faz necessário dar atenção na relação funcional entre o mobiliário urbano e o uso dado ao espaço aberto público que está inserido, prolongando essa permanência.

Expositivo A área central aparesenta uma grande exposição de serviço e eventos. Assim, o uso expositivo surge a partir da iniciativa de reconhcer essa potencialidade visual, de forma a concentrar essas informações e dar suporte à comunicação visual e às exposições.

157

Armazenagem Com a forte presença na região central do comércio informal, o uso da armazenagem surge para funcionar como um espaço em que as mercadorias poderiam ser guardadas temporáriamente, podendo funcionar também como suportes para as feiras que ocorrem frequentemente na Avenida Alberto Nepomuceno, como também Servidor Com a forte presença do comércio informal na região central da cidade de Fortaleza, o uso servidor surge a partir da intenção de formalizar os comerciantes e dar suporte.

Lúdico Em meio ao caos urbano a maneira lúdica de intervir na cidade se torna provavelmente a forma mais criativa de chamar a atenção para os problemas da mesma. Ocupar os lugares da cidade de formas diferentes da convencional nos permite criar vínculos com o lugar e assim, um sentimento de pertencimento e identidade.

158

O projeto

O presente projeto surge a partir do objetivo de dar suporte e incentivar às interações cotidianas sociais e aos eventos culturais nos espaços públicos do centro da cidade de Fortaleza.

Essas necessidades trazem à tona o caráter da adaptação pela industrialização, que é respondida no projeto com a escolha de um sistema construtivo modular que permita montagens e desmontagens, além da resistência às intempéries climpaticas e leveza: para isso, concluiu-se adequado o sistema de tubulares metálicos.

Porém, para essas estruturas se tornarem potencialidades, foi fundamental a junção entre a arquitetura e o design para a configuração de elementos que possibilitassem maior flexibilidade de uso. A flexibilidade só é permitida por se tratar de um sistema de montagem que pode adquirir diversas formas e se associar a diferentes elementos.

Dessa forma, o projeto parte da união da observação das carências e capacidades locais já observadas e em como poderiam ser incorporadas a essas estruturas para catalisar ainda mais a apropriação do espaço, como um suporte à vida cotidiana e eventos que ocorrem na cidade.

Tendo isso em vista, o projeto se apresenta como uma estrutura de carater efêmera e interativa, estruturada com perfis tubulares de aço e portas pivotantes - rotacionadas pelo seu eixo central -, com uma área total de 6,70 m².

159

A

1

3,35

1,65

A

3,35

Planta baixa A= 6,70 m² 0

+2,38m

160

0,5

2m

Figura 67 .Planta baixa do módulo.

Elaborado pela autora.

0,5

2m

0 0

0,5 0,5

2m 2m

0

0,5

2m

A

1

3,35

1,65

0

Planta baixa A= 6,70 m² Fachada 1

Figura 68 .Fachada módulo. Elaborado pela autora.

+2,38m

+0,00m

+0,08m

Corte AA

Figura 69 .Corte AA módulo. Elaborado pela autora.

161

As portas estão dispostas no perimetro do cubo, com duas folhas em cada face, totalizando um quantitativo de 8 folhas por módulo.

Cada porta é estruturada por uma moldura tubular de aço 30x50mm e outros elementos agregados que dão suporte aos fechamentos das duas faces da porta. Ademais, a estrutura dá a possibilidade de agregar diferentes materiais de fechamento em uma face, como visto na figura 63.

Tem-se em vista, portanto, que em uma face da porta é fixada uma folha de polipropileno, como regra, e na outra face móvel permite ao usuário-interventor a possibilidade de fixação de qualquer material, de acordo com a intenção e a vontade de uso.

A abertura da porta acontece pelo seu eixo central, com o suporte de pinos fixados na estrutura de base do módulos e encaixados na moldura da porta, com o auxilio da bucha tecnil, permitindo, assim, uma rotação mais flexivel. As portas conformam a situação de uso, dependendo da sua organização pode dispor de 5 situações possiveis, visto da figura 65, além dos elementos externos, que quando agregados ao módulo podem dar mais funções e possibilidades de uso.

162

Moldura Porta Pivotante com folha Polipropileno 2mm Fixa

Pinos encaixados na bucha tecnil

Moldura Intermediária Móvel Folha Fechamento Móvel (material da preferência) Moldura Externa Móvel

compensado

polipropileno

tela aramada

Figura 70 .Perspectiva explodida da porta.

Elaborado pela autora.

Moldura Porta Metalon 30X50mm

Barra Chata Externa Fixa Soldada Folha de Polipropileno Fixa

Perfil Vertical Tubular 50x50mm

Metalon 20x30mm Interna Móvel 0,01

0,05

tecido

0,05

0,03

0,02

Folha Fechamento Móvel Barra Chata Externa Móvel

Figura 71 .Detalhamento da estrutura da porta. Elaborado pela autora.

163

fechado

+

expositivo/passagem

lúdico

164

sala

servidor

Figura 72 .Situações possíveis do módulo. Elaborado pela autora.

Os estudos das funções vistos no programa de necessidades foram espacializados de forma direta e indireta nas diversas orientações das portas.

A estrutura fechada tem a capacidade de ser utilizada para as funções: expositiva, armazenagam e lúdica. As fachadas dão suporte a cenografia de fundo para apresentações, cinemas ao ar livre, guarda-volume temporários e, quando conectados a rede de energia pública, luminária urbana.

Já a estrutura expositiva se utiliza das funções permanência, expositiva e lúdica. A organização das portas cria corredores que tanto podem funcionar como passagem para os transeuntes, mudando a dinâmica do seu percurso, como suporte para exposição de arte, devido a sua organização espacial que se aproxima aos corredores de museu. Além disso, dá a possibilidade de abrigar-se debaixo da coberta.

A estrutura da sala tem a capacidade de ser utilizada para a função de permanência, tendo em vista a sua conformação para abrigar eventos mais duradouros, como palestras e eventos ao ar livre.

O lúdico assume a sua dinâmica devido a inexistência das orientações das portas, tendo isso como sentido para essa situação, fazendo que com os cidadãos apenas transite através.

Por fim, a estrutura do servidor tem a capacidade de ser utilizada para as funções de armazenagem e serviço. A orientação das portas a 90° e o uso da tela aramada dá suporte aos ambulantes do centro.

No entanto, ressalta-se que as situações não devem se restringir apenas a essas funções 165

A montagem Primeiramente, é necessário realizar a adaptação ao nível do terreno e aos tipos de materiais existentes - areia, grama, pavimentação, entre outros -, a partir do melhor posicionamento dos pés niveladores sextavados (1).

A partir disso, pode-se encaixar a estrutura da base e, em seguida, posicionar as chapas perfuradas do piso (2).

O terceiro passo consiste na montagem dos perfis verticais, os quais se encaixam na estrutura da base por pequenos montantes e depois parafusados (3).

Em paralelo à montagem da estrutura, ainda no chão, os painéis dobráveis da coberta devem ser encaixados à estrutura de topo. A inclinação dos painéis acontece por enxaixe (4).

Após a montagem da coberta, faz-se necessário a montagem da estrutura de topo com a coberta, os montantes da estrutura se encaixam aos perfis verticais e depois parafusados (5).

Então, posiciona os pinos pivotantes inferiores à estrutura de base, as molduras das portas e depois os pinos pivotantes superiores (6).

Por fim, como acabamento, as folhas móveis à moldura da porta, o material depende do uso e situação do módulo. A critério do usuário-interventor.

Figura 73 .Montagem do módulo. Elaborado pela autora.

166

1. Adaptação ao nivel do terreno

2. Posicionamento da base e do piso

3. Montagem dos perfis

4. Encaixe da coberta à estrutura de topo - inclinação à escolha do usuário

5. Montagem da estrutura de topo

6. Montagem das molduras das portas pivotan-

167

Estrutura Dobrável com fechamento de tecido de linho

Estrutura de Topo com Perfis Tubulares Horizontais 50x50mm Galvanizados à Fogo.

Perfis Verticais Tubulares 50x50mm Galvanizados à Fogo.

Piso de Chapa Perfurada

Pinos Pivotantes

Estrutura de base com Perfis Tubulares Horizontais 50x50mm Galvanizados à Fogo.

168

Pé Nivelador Sextavado

Moldura Porta Pivotante com folha Polipropileno 2mm Fixa Moldura Intermediária Móvel Folha Fechamento Móvel (material da preferência) Moldura Externa Móvel

Figura 74 .Perspecita explodida do módulo.

Elaborado pela autora.

169

Vida útil Dada a sua característica efêmera, a estrutura possui a capacidade de ser montada, transportada e desmontada, de forma rápida e dinâmica, possibilitando que o módulo atenda as demandas e as necessidades dos cidadãos.

Sobre as dimensões e os pesos da estrutura, este projeto teve como parâmetro o catálogo do Grupo Aço Cearense.

1

O aço desprotegido pode ser deteriorado devido a fatores ambientais como o ar e a umidade. Como solução, o processo de galvanização à fogo fortalece o aço, atribuindo ao material maior dureza e resistência. Especialmente àquelas peças que terão maior exposição, como na Praia do Poço da Draga.

Estrutura com perfis externos tubulares 50x50mm e perfis internos 30x30mm aprox. 39,600kg/un 4x

Desmonte

Pé Nivelador Sextavado 9x

Perfis Verticais Tubulares 50x50mm aprox. 6,600kg/un 9x

Chapa Perfurada aprox. 6,700kg/un 4x Pinos 16x

170

Porta Pivotante aprox. 12,000kg/un 8x

2 Transporte

3 Montagem

Cap. Volumétrica min.: 15m³

Figura 75 .Ilustração etapas vida útil da estrutura do módulo. Elaborado pela autora.

171

Do efêmero ao permanente A facilidade de adaptação da estrutura possibilita sua implantação em locais que já possuam mobiliários fixos, como as infraestruturas públicas, de forma a dar suporte para os usos de determinados espaços públicos.

Além disso, este trabalho também propõe a instalação de estruturas permanentes e independentes nos lugares e espaços públicos, elencados nos capitulos anteriores, de forma a dar suporte ao módulo e, consequentemente, aos eventos sociais que ali ocorrerem.

Vale ressaltar que a implantação dessas estruturas complementares deve ser compatível com a fluidez da circulação no espaço, levando-se em consideração à acessibilidade e, em razão da emergente necessidade, distanciamento social mínimo de 1 metro para conter a ploriferação de doenças virais.

172

Apoio Elemento de pedra esculpida, com diferentes alturas (45cm e 75cm), aumentando a variabilidade de uso. De assentos, de pequeno a maior altura, a mesas.

Jardineiras Promove o sombreamento e aumenta o conforto dos usuários.

Figura 76 .Ilustração implantação dos mobiliários complementares. Elaborado pela autora.

173

174

Figura 77 .Implantação do módulo na Praça General Tiburcio em situação de montagem. Elaborada por Juliana de Boni Fernandes.

175

176

Figura 78 .Implantação do módulo na Calçada do Theatro José de Alencar, em situação de expositor/passagem.

Elaborado por Juliana de Boni Fernandes.

177

178

Figura 79 .Implantação do módulo na Praça do Ferreira, situação servidor. Elaborado por Juliana de Boni Fernandes.

179

180

Figura 80 .Implantação do módulo na areia da Praia do Poço da Draga, como luminária urbana. Elaborado por Juliana de Boni Fernandes.

181

Conclusão

8.

Considerações finais

O presente trabalho buscou a experimentação da relação entre a arquitetura (projeto), o urbanismo (espaço público) e o corpo do cidadão.

Os lugares e os espaços públicos da cidade contemporânea são ambíguos, de articulação entre cotidiano, eventos, usuários, ações e, ao mesmo tempo, de distanciamento e ruptura da rotina, como locais de respiro. Ao projeto, buscou-se uma intervenção que, por meio do desenho arquitetônico, propusesse dar suporte, possibilidades e amplificar às ocupações não-hegemônicas do espaço público, em especial, os movimentos artísticos dos coletivos urbanos da cidade de Fortaleza.

185

O resultado é um volume cúbico, não apenas como representação arquetípica da arquitetura simples e pura, mas também como uma estrutura efêmera, com potencial para novos arranjos sociais e formas imaginativas, permitindo a experimentação de novas percepções possíveis do espaço e, consequentemente, da cidade. A arquitetura como suporte, que receba seu significado a partir da sua apropriação.

Assim, os arquitetos e urbanistas são agentes na criação de oportunidades, em propor espaços que possibilitem acompanhar as transformações e os movimentos da contemporaneidade, através de suportes de usos em definição. “(...) a importância do destino aberto do projeto urbano, em que o espaço físico está pensado de forma a criar oportunidades, por meio de suportes indefinidos, para que as pessoas, que deveriam ser a finalidade de todo e qualquer projeto, sejam as responsáveis pelo seu destino. O compromisso do arquiteto se junta ao da sociedade no intuito de promover a transformação do lugar.”

-

186

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